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Reabilitação Cognitiva

Luciana de Oliveira Assis


Terapeuta Ocupacional
Doutoranda em Neurociências
Especialista em Gerontologia pela SBGG
Professora da Universidade FUMEC e da FCMMG
Reabilitação Cognitiva
.
 Introdução
 Abordagem remediativa
 Abordagem compensatória
 Evidências científicas
 Considerações finais
As intervenções cognitivas se referem a
qualquer intervenção não farmacológica
planejada para melhorar o funcionamento
cognitivo.

Li et al, 2011;
 Treino cognitivo: prática direcionada para
uma função cognitiva específica.
 Estimulação cognitiva: têm o objetivo de
melhorar o funcionamento cognitivo e social,
usando uma abordagem não específica.
 Reabilitação cognitiva: direcionada à
objetivos muitas vezes ligados a limitações
na vida diária.

Jean, 2010 ; Tardif and Simard, 2011;


Terapia de orientação para a realidade

Fornecer informações

de forma contínua e organizada, criando


estímulos ambientais que facilitem a
orientação

Bottino et al, 2002


Terapia de orientação para a realidade

Informações relacionadas ao:


- Tempo, como data e clima;
- Ambiente em que o indivíduo vive: cidade,
bairro, pessoas que frequentam sua casa,
mapas, notícias de jornal;
- Dados pessoais;
- Podem ser usadas gravações e filmagens,
entre outros recursos.
Terapia de orientação para a realidade

Baseada no respeito e resguardo das pessoas

tem sido usada para melhorar a função


cognitiva e diminuir o comportamento
confuso

Francés et al., 2003


Reabilitação Cognitiva
Definição:

“Processo de tratamento ou alívio dos


déficits cognitivos decorrentes de alguma
lesão neurológica, por meio do trabalho
conjunto entre um profissional do serviço de
saúde, a pessoa acometida, familiares e a
comunidade, de forma que o paciente e seus
familiares possam conviver, lidar, contornar,
reduzir ou superar essas deficiências.”

Wilson, 2011
Demências:
• Melhorar a qualidade de vida e permitir o
máximo desempenho funcional e autonomia do
paciente em cada fase da doença.
• Abordar em conjunto o paciente, a família e os
cuidadores, preparando-os para lidarem com
essa nova condição.
• Necessário trabalho interdisciplinar devido a
diversidade de sintomas (psicológicos,
cognitivos, comportamentais, físicos e sociais).
Machado, 2011
Estabelecimento do vínculo entre o
paciente e o terapeuta

Motivação
Prática centrada no cliente

Qual é o impacto da minha intervenção


na vida do cliente?
Clare and Woods, 2001
Andrade, 2008
Técnicas de reminiscências
Muito utilizada na população idosa,
especialmente com indivíduos com DA,
uma vez que esses pacientes,
geralmente, têm preservada a memória
de longo prazo, necessária para a
reminiscência;

De Vreese et al, 2001


Reabilitação Cognitiva

Técnicas de reminiscências

Aborda situações, fatos e temas conhecidos e


significativos para os pacientes.
 Lembranças da cidade natal, dos amigos;
 Sonhos e brincadeiras da infância;
 Comidas que gostavam;
 Lembranças sobre moda (cabelos e roupas);
Técnicas de reminiscências

Inversão de papéis
Melhora funções emocionais e sociais;
Maior engajamento em atividades

Motivação e vínculo terapeuta-paciente


Yamagami et al, 2007
Abrisqueta-gomez et al, 2006
Abordagens e métodos de intervenção:

Abordagem
remediativa
X
Abordagem
compensatória
Classificação Internacional de Funcionalidade - CIF

Cinco componentes:

1- Função corporal
Deficiência
ou doença
2- Estrutura do corpo

3- Atividade Inabilidade e
incapacidade
4- Participação social
Impacto sobre a
5- Ambiente incapacidade
CIF, 2003
Classificação Internacional de Funcionalidade - CIF

Cinco componentes:

1- Função corporal
Deficiência Abordagem
2- Estrutura do corpo ou doença remediativa

3- Atividade
Inabilidade e
4- Participação social incapacidade
Abordagem
Impacto sobre a compensatória
5- Ambiente
incapacidade
Abordagem remediativa:
A partir da identificação de domínios
cognitivos deficitários busca-se a
restauração da capacidades cognitiva
na esperança de que esses ganhos se
traduzam em melhorias nas atividades
relacionadas.
Andrade, 2008
Abordagem remediativa

Treino cognitivo:
- Treino de atenção e memória
- Treino de face-nome

Andrade, 2011
Abordagem remediativa:
“O treinamento repetitivo ativa, mais
consistentemente, os mesmos grupos de
neurônios da rede danificada, permitindo
uma reconectividade mais rápida e mais
eficiente.”
Sohlberg e Mateer, 2009
Técnicas:

• Aprendizagem sem erro


• A aprendizagem de um procedimento é baseada no
fortalecimento da emissão de uma resposta dentro de uma
gama de respostas possíveis.
• Se a memória explícita estiver prejudicada o acesso às
tentativas prévias em que as respostas incorretas foram
corrigidas fica impossibilitado.
• Quando a resposta errada é repetida, o erro é fortalecido e
compete com a resposta correta, dificultando a aprendizagem.
• Consiste em minimizar a ocorrência de erros e enganos
durante a fase de aprendizagem, propiciando o sucesso na
execução da tarefa.
Técnicas:

• Pistas eliminadas
• Fornecer pistas e eliminá-las gradativamente favorecendo
a emissão da resposta correta.

• Pareamento de estímulos
• O envolvimento de múltiplos sistemas sensoriais na
aquisição da informação está associado ao aumento da
evocação tardia.
Técnicas:

• Recuperação espaçada
• Cobrar informações do paciente repetidamente por um
tempo curto, mas com gradual aumento do intervalo de
tempo entre uma evocação e outra (5, 10, 20, 40, 60, 120s).
• Entre cada intervalo é apresentada uma tarefa distratora,
geralmente verbal.
• O recobramento bem sucedido após intervalo de uma hora
parece indicar que a informação foi armazenada na memória
de longo prazo.
Reabilitação Cognitiva

Técnicas:
Técnicas:
• Aprendizagem sem erro
• Recuperação espaçada
• Pistas eliminadas

Efetivas para aprendizado ou reaprendizado


de conhecimentos específicos e relevantes em
DA e não há diferença significante entre elas.
Abordagem remediativa:

DESAFIO:
Transferência das atitudes e estratégias
para a vida prática.

Sohlberg e Mateer, 2009


Classificação Internacional de Funcionalidade - CIF

Cinco componentes:
1- Função corporal
Deficiência Abordagem
ou doença remediativa
2- Estrutura do corpo

3- Atividade Inabilidade e
incapacidade
4- Participação social Abordagem
Impacto sobre a compensatória
5- Ambiente incapacidade
Abordagem compensatória:
Foca-se nas capacidades que estão
preservadas para desenvolver métodos
compensatórios para as funções
deficitárias.

Wheatley, 1990
Abordagem compensatória:
Idosos envolvidos em várias atividades
e em contato com outras pessoas se
tornam mais satisfeitos e são melhor
adaptados do que aqueles menos ativos.
A atividade em idosos com demências
pode manter ou aumentar funções.

Thelander et al, 2008


Abordagem compensatória:
A intervenção deve:
- Aumentar a auto-eficácia;
- Combater as ameaças à auto-estima;
- Ajudar a pessoa a fazer o melhor uso
possível dos recursos individuais.

Clare and Woods, 2001


Abordagem compensatória:
- Reorganização de hábitos e rotinas;
- Aprendizado de estratégias internas;
- Uso de auxílios externos de memória;
-Modificação do contexto das atividades;

Andrade, 2008
Reduzir os requerimentos sobre a memória
e demais funções cognitivas, evitando ou
contornando situações de dificuldade.

Habilidades Demandas
existentes

Wilson, 2011; Mello e Abreu, 2000


AMBIENTE X DEFICIÊNCIA

Deficiência de Planejamento

Ex. Incapaz de escolher suas roupas na hora de se vestir


Organizar o guarda-roupa
E se mesmo com o guarda roupas organizado a
pessoa for incapaz de escolher?
Separar as roupas previamente
Cartões de orientação dos passos para se vestir
AMBIENTE X DEFICIÊNCIA
Distúrbios de julgamento

Ex. Usa os objetos de forma inapropriada


Reorganização da residência, removendo objetos
cortantes e perigosos de locais acessíveis.
AMBIENTE X DEFICIÊNCIA
Desorientação espacial

Ex. Se perde em casa


Identificar aposentos
Identificar
aposentos
Abordagem compensatória

capacitam pessoas com grave deficiência


intelectual ou portadoras de deterioração
progressiva

reduzindo a
FRUSTRAÇÃO e a
CONFUSÃO
Abordagem
remediativa
X
Abordagem
compensatória
Essas abordagens não são excludentes
Diferentes estudos de revisão têm
apontado que intervenções baseadas
na cognição parecem oferecer a
possibilidade de manter ou melhorar a
função cognitiva e, talvez, impedir ou
retardar desfechos negativos do CCL.

Andrade e Radhakrishnan, 2009; Demey e Allegri, 2010;


Stott e Spector, 2010; Li et al, 2011, Martin et al, 2011
Reabilitação cognitiva combinada com
tratamento medicamentoso :

- Potencialmente útil para estabilizar ou


melhorar o desempenho cognitivo,
emocional e funcional de pacientes com
doença de Alzheimer leve a moderado.
Desafios
- Tamanho e seleção da amostra
- Ausência de grupo controle
- Tempo de intervenção
- Padronização da intervenção
18 pacientes com CCL e 10 pacientes com DA leve
submetidos a um programa de reabilitação cognitiva
por 4 semanas.

Os pacientes com demência leve apresentaram um aumento não


significativo na memória verbal, mas nenhuma outra alteração.
Pacientes com CCL apresentaram melhorias significativas sobre as
AVDs, humor, memória episódica verbal e não verbal.
Cochrane Database Syst Rev. 2012, Feb 15

Avaliar a eficácia e o impacto da estimulação cognitiva voltada para


melhorar a cognição de para pessoas com demências.
- 15 Estudos Clínicos Randomizados de estimulação cognitiva

 Houve evidência consistente em vários ensaios de que os


programas de estimulação cognitiva beneficiam a cognição em
pessoas com demência leve a moderada acima de quaisquer efeitos
da medicação.
 A maioria dos ensaios eram de qualidade variável com amostras
pequenas e detalhes limitados do método de randomização.
 Mais pesquisas devem olhar para os potenciais benefícios dos
programas de estimulação cognitiva a longo prazo e o seu
significado clínico.
Cochrane Database Syst Rev. 2013, Jun 5 [Epub ahead of print]

Avaliar a eficácia e o impacto do treino cognitivo e da reabilitação


cognitiva para pessoas com DA ou demência vascular, leve a moderada
a curto, médio e longo prazo.
- 11 Estudos Clínicos Randomizados de treino cognitivo
- 1 Estudo Clínico Randomizado de reabilitação cognitiva

 Nenhuma evidência para a eficácia do treinamento cognitivo para


melhorar o funcionamento cognitivo, humor ou AVD, porém a
qualidade dos estudos foi geralmente baixa.
 Benefícios da reabilitação cognitiva individual para melhorar o
desempenho nas AVD em pessoas com DA leve.
 Mais estudos de alta qualidade são necessários para estabelecer a
eficácia dessas intervenções.
Reabilitação Cognitiva

Considerações finais
As abordagens neste campo têm de ser
flexíveis e responder às mudanças na
condição da pessoa. A eficácia a curto
prazo pode ser um resultado adequado.
A intervenção farmacológica não elimina
a necessidade de reabilitação cognitiva.
Profa. Luciana de Oliveira Assis
lucianaoassis@yahoo.com.br

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