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contra-o-mosquito-da-dengue-ensina-ciencias-
investigando

Publicado em NOVA ESCOLA 21 de Setembro | 2018

Na prática

Confira uma atividade


contra o mosquito da
dengue que ensina
ciências através da
investigação
Saiba como desenvolver essa proposta com os seus
alunos que é alinhada à BNCC

Trabalhar dois eixos temáticos, Matéria e Energia e Vida e


Evolução, com uma atividade só. A professora Gizele Gasparrini, do Colégio
Albert Sabin, de São Paulo, propôs aos seus alunos que pensassem em
armadilhas para o mosquito da dengue, um problema de saúde pública.
Nessa atividade, ela incentivou que os alunos pensassem nas soluções,
pesquisassem sobre o mosquito e elencassem os materiais para construir as
armadilhas.

Nas Ciências, a BNCC propõe que os professores promovam situações para


que as crianças e jovens:

1. Desenvolvam a capacidade de observar, perguntar, analisar demandas e


propor hipóteses.
2. Elaborem modelos e explicações.
3. Desenvolvam, divulguem e implementem soluções para resolver
problemas cotidianos utilizando conhecimentos científicos.

Mas como levar esta perspectiva de abordagem investigativa para o


planejamento das aulas?

Colocar o aluno como protagonista na construção dos conceitos é essencial.


Para isso, um dos desafios do docente é lidar com a própria ansiedade.

“Muitas vezes, a gente quer dar a resposta. Mas, ao invés disso,


precisamos pensar em quais questões podemos fazer ao
estudante para que ele mesmo encontre a resposta”, diz Gizele
Gasparrini, professora do Colégio Albert Sabin, de São Paulo.

Também é preciso estar atento ao caminho que o aluno está seguindo em


sua investigação para garantir que os objetivos de aprendizagens foram
cumpridos. A seguir, o passo a passo de um dos trabalhos desenvolvidos por
Gizele com as turmas do 8º ano:

Escolha um contexto

Vamos lá: a primeira sugestão é elaborar um contexto significativo para o


aprendizado e, assim aumentar as chances de garantir a atenção de crianças
e jovens.

Para trabalhar o aprendizado sobre circuitos elétricos, Gizele, por exemplo,


decidiu usar a disseminação da doença da dengue e propor aos alunos a
construção de armadilhas para eliminar os mosquitos transmissores da
doença. A escolha conversa com o contezto onde a escola está inserida, ja
que é em uma região com muitas árvores e lagos e, portanto, propensa a ter
insetos. Dessa maneira, a docente também contribuiu para ampliar o olhar
dos estudantes para o que ocorre ao redor deles.

Apresente o problema e instigue uma solução


Em sala, a primeira etapa é apresentar o problema.

A professora levou informações sobre a doença: notícias sobre a dengue


como problema de saúde pública com o aumento no número de casos nos
últimos anos. Ela também fez uma série de perguntas para avaliar os
conhecimentos prévios dos alunos, como:

Quem já ouviu falar sobre a doença?


Quem conhece alguém que foi infectado?
Como ela é transmitida?

Em meio a conversa, Gizele questionou como eles poderiam contribuir para


diminuir o número de casos de dengue. Com o problema colocado, a
discussão sobre como solucioná-lo foi encaminhada para que a resposta
fosse: eliminar os mosquitos. Como? Construindo armadilhas.

Chegue a uma solução


A ideia de fazer protótipos para capturar os mosquitos logo despertou a
curiosidade dos estudantes. Para ajuda-los a refletir sobre a proposta, novas
perguntas foram colocadas:

O que é uma armadilha?


Para que elas servem?
Quem pode dar exemplos de armadilhas?
Como será que elas são feitas?

O objetivo era que eles pensassem sobre a função de uma


armadilha e chegassem à conclusão de que um bom protótipo é
feito com base nas fragilidades do inseto.

O que torna o mosquito da dengue frágil? A conversa terminou com essa


pergunta no ar e um convite para que os alunos pesquisassem sobre o
assunto.

Pesquise o tema e incentive o debate


Saber realizar pesquisas qualificadas é fundamental no processo
investigativo. Ao professor cabe o papel de orientador, ajudando os
estudantes a desenvolver a capacidade de identificar fontes confiáveis,
comparar e avaliar informações. Trata-se de uma prática que pode ser
utilizada em vários momentos da atividade.

Nesta proposta, divididos em grupos, os jovens recolheram informações e


primeiro debateram entre si. “Em geral, rende mais quando a conversa é
entre poucos. Eles ficam mais à vontade e todos falam e se entendem
melhor”, conta Gizele. Depois, eles apresentam o que encontram para um
debate coletivo.

Os alunos, na turma de Gizelem descobriram que quem pica os seres


humanos é a fêmea do mosquito e, portanto, é preciso atraí-las para a
armadilha. A professora instigou que eles pensassem em todos os fatores
que poderiam ajudar na construção do protótipo:

Como o mosquito é atraído? Pela água, pela luz e pelo suor do


mamífero.
Do que ele se alimenta? A fêmea não se alimenta de sangue e é
herbívora, come néctar de frutas, por exemplo.
Quando o sangue humano entra na equação? Na hora de maturar os
ovos.

Depois, Gizele colocou como tarefa pensar em como utilizar todos os dados
reunidos para montar as armadilhas. O único pedido foi para eles fossem
criativos e irem além do uso de garrafa pet, tule e água, como os protótipos
encontrados facilmente na internet. “A percepção que tenho é de que a
discussão coletiva é importante para instigá-los. Em geral, eles se dão conta
que todos têm informações parecidas e, portanto, a chance de fazerem algo
igual é grande. O desafio se torna maior porque, para se diferenciarem,
precisam pensar em algo diferente”, diz a docente.
Planeje
Nesta etapa, o docente acompanha e orienta a elaboração das estratégias.

Gizele sugeriu aos alunos listar todas as fragilidades do mosquito para que a
armadilha funcionasse. Por exemplo: o melhor é atrair a fêmea quando ela
quiser comer ou no momento em que vai por os ovos? Com uma estratégia
inicial escolhida, os grupos começaram a planejar como construir os
protótipos.

Eles deveriam:

Fazer um desenho da armadilha


Indicar o objetivo da armadilha
Levantar os materiais necessários.

Construa o conhecimento
O desenvolvimento e teste das soluções é o momento central da atividade
e permite que o docente trabalhe os conteúdos previstos.

No caso das armadilhas, a professora pôde abordar com os alunos alguns dos
conteúdos que estão nas unidades Matéria e Energia e Vida e Evolução da
Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Assim, ela foi apresentando e
discutindo os conhecimentos que eles precisavam para executar o que
haviam planejado.

A ideia de utilizar circuitos elétricos surgiu naturalmente em vários


grupos. Gizele, então, debateu sobre o que é circuito elétrico, o que
é um circuito aberto e um fechado, quais os componentes do
circuito, como montá-los e quais materiais conduzem eletricidade.

Um grupo, por exemplo, utilizou luz de led para atrair o mosquito e optou
por colocar uma redinha, confeccionada com arame, ligada a um circuito
baseado em choque. Outro resolveu recriar adesivos encontrados no
mercado, fizeram uma versão com fita dupla face que atrai o inseto pela cor e
faz com que ele grude. Como a pesquisa feita pelos estudantes havia
mostrado que, além da cor, o mosquito pode ser atraído pelo odor de mel,
eles colocaram uma solução com este material embaixo do adesivo.

Os materiais podem ser adaptados para a realidade de cada instituição. Dá


para utilizar sucata e materiais reciclados, fazer rodízio para o uso de pilhas
etc.

Apresente os resultados
Também faz parte do processo investigativo aprender a apresentar os
resultados da investigação e debater sobre eles. Assim, concluídas as
armadilhas, os grupos foram convidados a mostrar e explicar aos colegas o
que construíram, compartilhando os conhecimentos adquiridos.

Faça a avaliação
Durante todas as etapas da atividade, a professora avaliou a aprendizagem
dos alunos – tanto individualmente quanto no grupo. Ela verificou os
conhecimentos sobre circuitos obtidos durante o percurso para planejar e
montar as armadilhas e também comprometimento, inovação e execução da
proposta. Todas essas informações foram utilizadas para planejar os
conteúdos que precisam ser retomados ou confirmar em quais pontos é
possível avançar. “Nós refletimos a cada aula sobre o que precisa ser
melhorado com as turmas”, conclui Gizele.
Habilidades e competências desenvolvidas
(EF08CI02) Construir circuitos elétricos com pilha/bateria, fios e
lâmpada ou outros dispositivos e compará-los a circuitos elétricos
residenciais.

Competências gerais: Pensamento científico, crítico e criativo; empatia e cooperação


e comunicação.

Fotos: Arquivo pessoal.

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