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promover-a-iniciacao-cientifica-dos-alunos
Publicado em NOVA ESCOLA 01 de Agosto | 2023

Ciências

Estratégias para promover


a iniciação científica dos
alunos
Uso de metodologias ativas, conexão com o entorno,
trabalho colaborativo e organização de uma feira de
ciências estão entre as sugestões. Saiba mais
Linaldo Oliveira

Estimular a curiosidade dos alunos, explorar temas do interesse dos alunos e a


realidade local são aspectos importantes para desenvolver o letramento
científico nos Anos Finais. Foto: Getty Images
A experimentação é a base do desenvolvimento humano desde os primórdios.
Toda grande descoberta científica da história nasceu da curiosidade e da
capacidade crítica e analítica do ser humano, cuja visão científica, social e
política deve trabalhar em prol da melhoria da qualidade de vida e do
ambiente.
Uma Educação de qualidade deve ser aquela que estimula o desenvolvimento
acadêmico e prepara os estudantes para serem cidadãos participativos e
críticos. Assim, chegamos à pergunta central deste texto: como podemos
promover a iniciação científica na escola?
Despertar o interesse dos alunos para os engajar
Nas aulas de Ciências, a curiosidade dos alunos pelo mundo animal ou com as
experiências químicas são sempre grandes aliados para os engajar nas aulas.
Em minha experiência, percebi que o interesse é despertado pelo desejo de
compreender a causa, a explicação por trás de um fenômeno observado. É
gratificante ver a cabeça dos meus alunos repleta de questionamentos que
resplandecem em seus rostos.
O ponto de partida para promover a iniciação científica está nesse combo:
Estimular a curiosidade dos alunos.
Discutir temas relevantes e do interesse dos alunos.
Relacionar o trabalho com a realidade da comunidade local e o currículo.
Diversas metodologias ativas como o design thinking, STEAM (sigla em inglês de
Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática) e Aprendizagem Baseada
em Projetos são extremamente úteis na construção da visão analítica e crítica
dos alunos. Essas estratégias contribuem para o desenvolvimento criativo; as
etapas de prototipagem, ideação e organização; e resolução de problemas.
Três metodologias para promover a iniciação
científica
Percebi que meus alunos não são atraídos por resolução de atividades longas e
compostas de questões tradicionais. Mesmo com perguntas contextualizadas,
os exercícios não alcançavam o resultado desejado.
Por isso, quando decidi incorporar o processo de iniciação científica às minhas
aulas, busquei outras estratégias que auxiliassem alcançar os objetivos
previstos. Em meio aos estudos, descobri três metodologias aplicadas nos
mundos dos negócios que, quando aplicadas de forma conjunta, podem
promover a alfabetização científica dos alunos:
Brainstorming (também pode ser chamado de “tempestade de ideias”):
consiste em um passo a passo de ideação, no qual as equipes (os alunos)
levantam soluções criativas para problemas determinados;
Masterclass: metodologia construída, para promover a imersão dos
estudantes em uma temática específica, buscando estimular a capacidade de
tomada de decisão.
Hackathon : tem como objetivo principal a promoção do trabalho em grupos,
para alinhar todas as diferentes ideias para resolver determinado desafio em
um único plano de ação.
Protagonismo, criatividade e trabalho em equipe nas aulas de
ecologia
Comecei introduzindo questões socioambientais que atualmente são
extremamente discutidas como, por exemplo, a criação de planos de manejo
efetivos que envolvam comunidade e instituições federais em prol da produção
ambiental.
Após apresentar o conteúdo e explicar o passo a passo da atividade, os alunos
foram divididos em três grupos e receberam uma ficha com dados que
simulavam um caso ambiental envolvendo a exploração e conservação de
espécies ameaçadas da caatinga, por comunidades tradicionais que dependiam
da extração. A missão da turma era garantir a sobrevivência e preservação de
ambas as partes.
Você pode adaptar o desafio para qualquer outro tema previsto no seu
planejamento. O mais importante é que o problema englobe diversas esferas,
como aspectos sociais, ecológicos, políticos e econômicos, para garantir que os
alunos sejam estimulados a olhar para a questão sob várias perspectivas.
Eles tiveram 90 minutos – você pode adaptar o tempo a depender do tempo
disponível com a turma e do seu planejamento – para analisar o problema e
desenvolver um plano de ação adequado. Para tal, eles vivenciaram as três
metodologias apresentadas anteriormente.
Começaram com a fase masterclass para conhecer e analisar a situação
problema. Eles tinham acesso a materiais previamente separados de pesquisa
para aprofundar seus conhecimentos a respeito do tema.
Em seguida, durante o brainstorming, os alunos discutiram as possíveis
resoluções para o desafio apresentado. Nesse momento, eles precisam alinhar
as opiniões, selecionar as melhores ideias e descartar outras. Quando
concluíram essa parte, eles consolidaram o passo a passo do plano em um
mapa mental.
Posteriormente, cada grupo teve cinco minutos para apresentar as conclusões
para os colegas. Durante a socialização, os outros grupos tinham a
oportunidade de contestar as ideias e soluções levantadas. Gerou-se uma
discussão embasada em diferentes visões e interpretações dos alunos acerca
da mesma problemática.
O hackathon foi a última etapa, na qual os alunos tinham a missão de unificar
todos os planos. Essa é uma das fases que considero mais complexa do
processo de construção, pois envolve todos os alunos da sala cooperando para
uma resolução construída por todos.
Por fim, os alunos conseguiram montar um plano efetivo que manteve a
sobrevivência e exploração sustentável das espécies por parte das populações
tradicionais.

Dica extra para o momento da atividade


A sala fica bastante agitada com a efervescência de criatividade. No
começo, eles podem ficar tensos em relação ao tempo. Eu costumo
preparar playlists com músicas escolhidas por eles para que possam
ouvir durante todo o processo. Além de ajudar na concentração, a
música alivia o clima de tensão e ajuda a relaxar os alunos.
Planejamento para criar uma feira de ciências na
escola
Organizar feiras de ciências desde 2019 também foi um passo importante para
promover a iniciação científica nos Anos Finais. Esse tipo de trabalho possibilita
que os alunos coloquem em prática habilidades e talentos diferentes – além de
conectar toda escola. Também é uma ótima oportunidade para promover
projetos interdisciplinares.
No início do ano, eu apresento aos alunos a temática geral da feira e quais as
questões norteadoras dos trabalhos – geralmente, associada a questões das
realidade da comunidade. Nesse momento, trago a identidade visual do evento
e ideias para a construção do espaço. Essa é a forma que encontrei para
engajar os alunos e alimentar o desejo de participar do processo.
Em seguida, os alunos dividem-se em equipes e têm liberdade para escolher o
tipo de projeto que irão desenvolver. Eles têm cerca de oito meses para colocar
em prática as ideias. Durante esse período, convido profissionais de diversas
áreas que possam contribuir com a formação dos alunos e com as pesquisas.
Nas três edições da feira, os alunos desenvolveram projetos ligados à
sustentabilidade, etnoecologia, desenvolvimento de produtos e empresas
sustentáveis, além da divulgação científica pelas redes sociais.
Os resultados vão muito além das aprendizagens curriculares, os trabalhos
impactaram a vida dos estudantes. No ano passado, durante os dias de
montagem do espaço, diversos ex-alunos vieram auxiliar voluntariamente.
Fiquei extremamente emocionado e perguntei o porquê de estarem ali. Um
deles me respondeu: “essa feira foi uma das melhores experiências da minha
vida. Ela me transformou, então, quero ajudar a transformar também a de
outros.”
Foi uma injeção de motivação ver o significado daquela iniciativa. Desse
sentimento, veio o trabalho que estou desenvolvendo neste ano com meus
alunos.
Programa de iniciação científica na escola
Assim nasceu o Ciência na Veia, o primeiro programa de iniciação científica da
EMEF Iraci Rodrigues de Farias Melo e o primeiro do Estado da Paraíba para os
Anos Finais do Ensino Fundamental. O grupo, que conta com 17 participantes,
tem como missão “estimular por meio do letramento científico o
desenvolvimento de mentes criativas e transformadoras.”
Contamos com o apoio do Instituto Alpargatas, por meio do laboratório de
inovação e sustentabilidade educacional implantado na escola no final do ano
de 2021.
O programa tem duas atividades principais: a feira de ciências e a mentoria
voluntária de ex-alunos. Esses mentores – hoje temos 16 – recebem uma
formação de liderança e metodologia científica para que estejam preparados
para orientar os projetos dos estudantes do 9º ano. Após saírem da escola, eles
têm a oportunidade de continuar a pesquisa.
As principais áreas de pesquisa são robótica, cultura e metaverso. Atualmente,
tem equipes pesquisando sobre etnoecologia, caça, botânica, medicina
tradicional de comunidades indígenas, agricultura e educação inclusiva (com
foco no atendimento de crianças com Transtorno do Espectro Autista).
Já vemos a transformação acontecendo. Estamos mais conectados com o nosso
entorno e influenciando a comunidade local de forma efetiva. O estímulo ao
desenvolvimento científico trouxe conquistas para o futuro dos alunos: hoje
somos a escola da região com maior taxa de aprovação no Instituto Federal da
Paraíba (IFPB).
Tudo isso por meio de um ensino contextualizado e significativo, que estimula o
protagonismo e que forma alunos comprometidos com o dever social e
científico. Agora é sua vez!
Linaldo Oliveira
Linaldo Oliveira é mestre em Ecologia e Conservação, professor da EMEF Iraci
Rodrigues de Farias Melo, em Mogeiro (PB). É tetracampeão do Prêmio
Educador Nota 10 do Instituto Alpargatas e foi vencedor e Educador do Ano da
24° edição do Prêmio Educador Nota 10, de 2021.

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