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O Brincar
O Brincar
Walter Benjamin
ipa, esconde-esconde, pique, passaraio, outros tempos estão presentes nas vidas das cri-
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BORBA, Angela Meyer. Doutora em Educação – Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF).
2
Em diferentes regiões, cidades e bairros, podemos encontrar diferentes denominações para as mesmas brincadeiras. Por
exemplo, amarelinha também pode ser macaca, academia, escada, sapata. 33
ou seja, em um ambiente estruturado a partir adultos, autores de seus processos de consti-
de valores, significados, atividades e artefatos tuição de conhecimentos, culturas e subjeti-
construídos e partilhados pelos sujeitos que ali vidades. Tendo em vista esses eixos,
vivem, incorpora a experiência social e cultu- perguntamos: quais são as principais dimen-
ral do brincar por meio das relações que esta- sões constitutivas do brincar? Que relações tem
belece com os outros – adultos e crianças. Mas o brincar com o desenvolvimento, a aprendi-
essa experiência não é simplesmente zagem, a cultura e os conhecimentos? Como
reproduzida, e sim recriada a partir do que a podemos incorporar a brincadeira no traba-
criança traz de novo, com o seu poder de ima- lho educativo, considerando-se todas as di-
ginar, criar, reinventar e produzir cultura. mensões que a constituem?
A criança encarna, dessa forma, uma possibi- Infância, brincadeira, desenvol-
lidade de mudança e de renovação da experi- vimento e aprendizagem
ência humana, que nós, adultos, muitas
vezes não somos capazes de perceber, A brincadeira é uma palavra estrei-
pois, ao olharmos para ela, quere- tamente associada à infância e às
mos ver a nossa própria infância crianças. Porém, ao menos nas
espelhada ou o futuro adulto que Que relações tem sociedades ocidentais, ainda é
se tornará. Reduzimos a crian- o brincar com o considerada irrelevante ou de
ça a nós mesmos ou àquilo que desenvolvimento, pouco valor do ponto de vis-
pensamos, esperamos ou dese- a aprendizagem, ta da educação formal, assu-
jamos, dela e para ela, vendo-a a cultura e os mindo freqüentemente a
como um ser incompleto e ima- significação de oposição ao tra-
conhecimentos?
turo e, ao mesmo tempo, eliminan- balho, tanto no contexto da es-
do-a da posição de o outro do adulto. cola quanto no cotidiano familiar.
Mas como podemos compreender a criança Nesse aspecto, a significativa produção te-
nas suas formas próprias de ser, pensar e agir? órica já acumulada afirmando a importância
Como vê-la como alguém que inquieta o nos- da brincadeira na constituição dos processos
so olhar, desloca nossos saberes e nos ajuda a de desenvolvimento e de aprendizagem não
enxergar o mundo e a nós mesmos? Como foi capaz de modificar as idéias e práticas que
podemos ajudar a criança a se constituir como reduzem o brincar a uma atividade à parte, pa-
sujeito no mundo? De que forma a compreen- ralela, de menor importância no contexto da
são sobre o significado do brincar na vida e na formação escolar da criança. Por outro lado,
constituição dos sujeitos situa o papel dos adul- podemos identificar hoje um discurso genera-
tos e da escola na relação com as crianças e os lizado em torno da “importância do brincar”,
adolescentes? presente não apenas na mídia e na publicida-
Nesse contexto, convidamos os professores a de produzidas para a infância, como também
refletirem conosco sobre essas questões tendo nos programas, propostas e práticas educativas
como eixo alguns pontos: a singularidade da institucionais. Nesse contexto, é importante
criança nas suas formas próprias de ser e de se indagarmos: nossas práticas têm conseguido
relacionar com o mundo; a função humaniza- incorporar o brincar como dimensão cultural
dora do brincar e o papel do diálogo entre do processo de constituição do conhecimen-
adultos e crianças; e a compreensão de que a to e da formação humana? Ou têm privilegia-
escola não se constitui apenas de alunos e pro- do o ensino das habilidades e dos conteúdos
34 fessores, mas de sujeitos plenos, crianças e básicos das ciências, desprezando a formação
cultural e a função humanizadora da escola? brincar de forma mais positiva, não como opo-
Na realidade, tanto a dimensão científica sição ao trabalho, mas como uma atividade que
quanto a dimensão cultural e artística deveri- se articula aos processos de aprender, se de-
am estar contempladas nas nossas práticas jun- senvolver e conhecer? Vejamos alguns cami-
to às crianças, mas para isso é preciso que as nhos nessa direção.
rotinas, as grades de horários, a organização Os estudos da psicologia baseados em uma vi-
dos conteúdos e das atividades abram espaço são histórica e social dos processos de desen-
para que possamos, junto com as crianças, brin- volvimento infantil apontam que o brincar é
car e produzir cultura. Muitas vezes nos senti- um importante processo psicológico, fonte de
mos aprisionados pelos horários e conteúdos desenvolvimento e aprendizagem. De acordo
rigidamente estabelecidos e não encontramos com Vygotsky (1987), um dos principais re-
espaço para a fruição, para o fazer estético ou presentantes dessa visão, o brincar é uma ati-
a brincadeira. Cabe então a pergunta: é possí- vidade humana criadora, na qual imaginação,
vel organizar nosso trabalho e a escola de ou- fantasia e realidade interagem na produção de
tra forma, de modo que esse espaço seja novas possibilidades de interpretação, de ex-
garantido? Que critérios estão em jogo quan- pressão e de ação pelas crianças, assim como
do significamos nosso tempo como ganho ou de novas formas de construir relações sociais
perdido? Vale a pena refletir sobre essas ques- com outros sujeitos, crianças e adultos. Tal
tões para vislumbrarmos formas de transfor- concepção se afasta da visão predominante da
mar nossa vida nas escolas, organizando-as brincadeira como atividade restrita à assimila-
como espaços nos quais aprendemos e vive- ção de códigos e papéis sociais e culturais, cuja
mos a experiência de sermos sujeitos cultu- função principal seria facilitar o processo de
rais e históricos! socialização da criança e a sua integração à
A brincadeira está entre as atividades sociedade. Ultrapassando essa idéia, o autor
freqüentemente avaliadas por nós como tem- compreende que, se por um lado a criança de
po perdido. Por que isso ocorre? Ora, essa vi- fato reproduz e representa o mundo por meio
são é fruto da idéia de que a brincadeira é uma das situações criadas nas atividades de brinca-
atividade oposta ao trabalho, sendo por isso deiras, por outro lado tal reprodução não se
menos importante, uma vez que não se vincu- faz passivamente, mas mediante um processo
la ao mundo produtivo, não gera resultados. E ativo de reinterpretação do mundo, que abre
é essa concepção que provoca a diminuição lugar para a invenção e a produção de novos
dos espaços e tempos do brincar à medida que significados, saberes e práticas.
avançam as séries/anos do ensino fundamen- Ao observarmos as crianças e os adolescentes
tal. Seu lugar e seu tempo vão se restringindo de nossas escolas brincando, podemos
à “hora do recreio”, assumindo contornos cada conhecê-los melhor, ultrapassando os muros
vez mais definidos e restritos em termos de da escola, pois uma parte de seus mundos e
horários, espaços e disciplina: não pode correr, experiências revela-se nas ações e significados
pular, jogar bola etc. Sua função fica reduzida que constroem nas suas brincadeiras. Isso por-
a proporcionar o relaxamento e a reposição que o processo do brincar referencia-se naqui-
de energias para o trabalho, este sim sério e lo que os sujeitos conhecem e vivenciam. Com
importante. Mas a brincadeira também é sé- base em suas experiências, os sujeitos
ria! E no trabalho muitas vezes brincamos e na reelaboram e reinterpretam situações de sua vida
brincadeira também trabalhamos! Diante des- cotidiana e as referências de seus contextos
sas considerações, será que podemos pensar o socioculturais, combinando e criando outras 35
realidades. Quando as crianças pequenas brin- (Benjamim, 1984). Vozes, gestos, narrativas e
cam de ser “outros” (pai, mãe, médico, mons- cenários criados e articulados pelas crianças
tro, fada, bruxa, ladrão, bêbado, polícia, etc.), configuram a dimensão imaginária, revelan-
refletem sobre suas relações com esses outros e do o complexo processo criador envolvido no
tomam consciência de si e do mundo, estabele- brincar.
cendo outras lógicas e fronteiras de significação É importante ressaltar que a brincadeira não é
da vida. O brincar envolve, portanto, comple- algo já dado na vida do ser humano, ou seja,
xos processos de articulação entre o já dado e o aprende-se a brincar, desde cedo, nas relações
novo, entre a experiência, a memória e a imagi- que os sujeitos estabelecem com os outros e
nação, entre a realidade e a fantasia. com a cultura. O brincar envolve múltiplas
A imaginação, constitutiva do brincar e do aprendizagens. Vamos tentar explicitar algu-
processo de humanização dos homens, é um mas delas.
importante processo psicológico, iniciado na Um primeiro aspecto que podemos apontar é
infância, que permite aos sujeitos se des- que o brincar não apenas requer mui-
prenderem das restrições impostas tas aprendizagens, mas constitui
pelo contexto imediato e um espaço de aprendizagem.
transformá-lo. Combinada Vygotsky (1987) afirma
com uma ação performativa A brincadeira não é que na brincadeira “a cri-
construída por gestos, algo já dado na vida ança se comporta além
movimentos, vozes, for-
do ser humano, ou do comportamento ha-
mas de dizer, roupas, ce- bitual de sua idade,
nários etc., a imaginação seja, aprende-se a
além de seu comporta-
estabelece o plano do brincar, desde cedo,
mento diário; no brin-
brincar, do fazer de con- nas relações que os quedo, é como se ela
ta, da criação de uma re- sujeitos estabelecem fosse maior do que ela é
alidade “fingida”. com os outros e com na realidade” (p.117).
Vygotsky (1987) defende
a cultura Isso porque a brincadeira,
que nesse novo plano de pen- na sua visão, cria uma zona de
samento, ação, expressão e comu- desenvolvimento proximal, per-
nicação, novos significados são mitindo que as ações da criança ultra-
elaborados, novos papéis sociais e ações sobre passem o desenvolvimento já alcançado
o mundo são desenhados, e novas regras e re- (desenvolvimento real), impulsionando-a a
lações entre os objetos e os sujeitos, e desses conquistar novas possibilidades de compreen-
entre si, são instituídas. são e de ação sobre o mundo.
É assim que cabos de vassoura tornam-se ca-
O brincar supõe também o aprendizado de uma
valos e com eles as crianças cavalgam para
forma particular de relação com o mundo
outros tempos e lugares; pedaços de pano trans-
marcada pelo distanciamento da realidade da
formam-se em capas e vestimentas de prínci-
pes e princesas; pedrinhas em comidinhas; vida comum, ainda que nela referenciada. As
cadeiras em trens; crianças em pais, professo- brincadeiras de imaginação/fantasia, por exem-
res, motoristas, monstros, super-heróis etc. A plo, exigem que seus participantes compreen-
“criança quer puxar uma coisa torna-se cava- dam que o que está se fazendo não é o que
lo, quer brincar com areia e torna-se padeiro, aparenta ser. Quando o adulto imita uma bru-
36 quer esconder-se e torna-se ladrão ou guarda” xa para uma criança, esta sabe que ele não é
uma bruxa, por isso pode experimentar, com Mariana, sentada em cima do
segurança, a tensão e o medo, e solucioná-los escorrega, olha para Isabela que está
fugindo ou prendendo a bruxa. Quando as embaixo:
crianças brincam de luta, é preciso que elas Eu tô presa!
saibam que aqueles gestos e movimentos cor- Isabela: Dá a carteira de identidade pra
porais “fingem” uma luta, não causando ma- ele! Abaixa-se e pega uma folha.
chucados uns nos outros. A brincadeira é um Mariana pega um objeto pequeno de
espaço de “mentirinha”, no qual os sujeitos têm borracha que está em cima do
o controle da situação. Justamente essa atitu- escorrega e mostra para João.
de não-literal permite que a brincadeira seja Mariana: Eu tenho, eu tenho!
desprovida das conseqüências que as mesmas João, olhando o objeto: Pode sair!
ações teriam na realidade imediata, abrindo Isabela dá a folha para João.
janelas para a incoerência, para a ultrapassa- João: É papel, é papel! E a deixa sair.
gem de limites, para as transgressões, para no- Se analisarmos esse fragmento, que corres-
vas experiências. ponde a um tipo de brincadeira altamente
Vejamos uma situação3 observada em uma es- apreciado por grande parte das crianças dessa
cola pública. Um grupo de meninos e meni- faixa etária, veremos quantos aspectos presen-
nas de cinco e seis anos brinca de polícia e tes envolvem aprendizagens variadas – cada
ladrão no parque da escola. Usam pás, gravetos criança se comporta de acordo com seu papel
e ancinhos como se fossem armas, empunhan- e com as idéias gerais que definem o universo
do-os, emitindo sons e fingindo atirar: Pou, simbólico da brincadeira: os policiais perse-
pou! Os papéis assumidos pelas crianças se di- guem e prendem enquanto os ladrões fogem e
videm entre policiais e ladrões e à medida que salvam os companheiros; ambos usam armas,
vão entrando e participando da brincadeira, transformando o significado de objetos que en-
as crianças escolhem: Eu sou ladrão, eu sou po- contram no parque; os gestos e as ações aju-
lícia! Muitas vezes é necessário negociar: Não, dam a significar os objetos e a construir a
alguém tem de ser polícia! Eu não vou ser! Eu narrativa da brincadeira. Estão em jogo tam-
sou, eu sou polícia! A brincadeira consiste na bém habilidades de correr, pular, subir, expres-
perseguição dos policiais aos ladrões. Esses úl- sar-se e comunicar-se, garantindo que todos
timos precisam correr muito para fugir. “Poli- compreendam que o que se faz ali é brincadei-
ciais” e “ladrões” sobem e descem escorregas, ra e não a realidade da vida comum. Elemen-
trepa-trepa, entram e saem da casinha, per- tos novos, como a carteira de identidade, são
correndo toda a extensão do parque. As ex- introduzidos na brincadeira e facilmente in-
pressões, gestos, movimentos e falas revelam corporados pelas crianças, o que podemos ob-
grande envolvimento e excitação das crian- servar pela coordenação de suas ações. Para
tanto, tais elementos se conectam com as re-
ças. Em alguns momentos, os policiais pren-
ferências socioculturais das crianças – o valor
dem um dos ladrões, segurando-o, fingindo dar
da carteira de identidade como documento
uma “gravata”, derrubando-o. Algum compa-
principal de identificação do cidadão –, possi-
nheiro aparece para salvá-lo. A um dado mo-
bilitando a construção de um significado co-
mento, João diz que prendeu Mariana na parte
mum partilhado no espaço do brincar.
de cima do escorrega.
3
Situação retirada de: BORBA, A. M. Culturas da infância nos espaços-tempos do brincar: um estudo com crianças de 4-6 anos
em instituição pública de educação infantil. Tese de doutorado. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2005. 37
Se observarmos com cuidado diferentes e Sua apropriação se dá no próprio processo de
variadas situações de brincadeiras coletivas brincar. É brincando que aprendemos a brincar.
organizadas por crianças e adolescentes – É interagindo com os outros, observando-os e
como queimado, pique-bandeira, corda, elás- participando das brincadeiras que vamos nos
tico, jogos de imaginação (cenas domésticas, apropriando tanto dos processos básicos
personagens e enredos de novelas, contos de constitutivos do brincar, como dos modos par-
fadas, séries televisivas etc.), entre outras possi- ticulares de brincadeira, ou seja, das rotinas,
bilidades –, poderemos aprender muito sobre regras e universos simbólicos que caracterizam
as crianças e os processos de desenvolvimento e especificam os grupos sociais em que nos in-
e aprendizagem envolvidos em suas ações. Ob- serimos.
servemos com atenção suas falas, expressões e Um outro aspecto a ressaltar é que os modos
gestos enquanto brincam. Ficaremos impres- de comunicar característicos da brincadeira
sionados com seu investimento no planeja- constituem-se por novas regras e limites, dife-
mento e na organização das brincadeiras com rentes da comunicação habitual. Esses limites
a intenção de definir e de negociar papéis, tur- são definidos pelo compromisso com o reco-
nos de participação, cenários, regras, ações, nhecimento do brincar como uma outra reali-
significados e conflitos. É também surpreen- dade, uma nova ordem, seja no contexto dos
dente, principalmente nos jogos de imagina- jogos de faz-de-conta, em que as situações e
ção (faz-de-conta), a maneira como as crianças regras são estabelecidas pelos significados ima-
agem, diferente da habitual, modificando as ginados e criados nas interações entre as cri-
vozes, a entonação de suas falas, o vocabulá- anças, seja no plano dos jogos/brincadeiras com
rio, os gestos, os modos de andar etc.! Para ser regras pré-existentes (bola de gude, amareli-
monstro, Pedro não pode se comportar como nha, queimada etc.). É importante enfatizar
Pedro, e terá de andar, expressar-se, falar e agir que o modo de comunicar próprio do brincar
como monstro. No entanto, Pedro não deixa não se refere a um pensamento ilógico, mas a
de ser Pedro, apenas finge para convencer os um discurso organizado com lógica e caracte-
parceiros de que é um monstro “de men- rísticas próprias, o qual permite que as crian-
tirinha”. Parece que estamos diante de atores ças transponham espaços e tempos e transitem
de teatro, compromissados com a verdade da- entre os planos da imaginação e da fantasia,
quelas ações representadas! Quantos conhe- explorando suas contradições e possibilidades.
cimentos estão envolvidos nessas ações!
Assim, o plano informal das brincadeiras pos-
Essas observações levam-nos a perceber que a sibilita a construção e a ampliação de compe-
brincadeira requer o aprendizado de uma for- tências e conhecimentos nos planos da
ma específica de comunicação que estabelece cognição e das interações sociais, o que certa-
e controla esse universo simbólico e o espaço mente tem conseqüências na aquisição de co-
interativo em que novos significados estão sen- nhecimentos no plano da aprendizagem
do partilhados. Dito de outra forma, a apro- formal. A partir das considerações feitas até
priação dessa forma de comunicação é aqui, vale a pena refletir sobre as relações en-
condição para a construção das situações ima- tre aquilo que o brincar possibilita – tais como
ginadas (falas/diálogos dos personagens, nar- aprender a olhar as coisas de outras maneiras
rativas das ações e acontecimentos), bem atribuindo-lhes novos significados, a estabe-
como para a organização e o controle da brin- lecer novas relações entre os objetos físicos e
cadeira pelas crianças. Mas de que maneira se sociais, a coordenar as ações individuais com
38 constrói e se organiza esse modo de comunicar? as dos parceiros, a argumentar e a negociar, a
organizar novas realidades a partir de planos pelos sujeitos nos contextos históricos e soci-
imaginados, a regular as ações indivi- ais em que se inserem. Representa, dessa
duais e coletivas a partir de idéias e forma, um acervo comum sobre o
regras de universos simbólicos – qual os sujeitos desenvolvem
e o processo de constituição de atividades conjuntas. Por
conhecimentos pelas crian- Os processos de outro lado, o brincar é um
ças e pelos adolescentes. Os desenvolvimento dos pilares da constituição
processos de desenvolvi- e de aprendizagem de culturas da infância,
mento e de aprendizagem envolvidos no brincar são compreendidas como sig-
envolvidos no brincar são também constitutivos do nificações e formas de
também constitutivos do ação social específicas que
processo de apropriação
processo de apropriação de estruturam as relações das
conhecimentos! A possibili- de conhecimentos! crianças entre si, bem como
dade de imaginar, de ultrapas- os modos pelos quais interpre-
sar o já dado, de estabelecer novas tam, representam e agem sobre
relações, de inverter a ordem, de ar- o mundo. Essas duas perspectivas
ticular passado, presente e futuro potencializa configuram o brincar ao mesmo tempo como
nossas possibilidades de aprender sobre o mun- produto e prática cultural, ou seja, como
do em que vivemos! patrimônio cultural, fruto das ações humanas
Podemos afirmar, a partir dessas reflexões, que transmitidas de modo inter e intrageracional,
o brincar é um espaço de apropriação e cons- e como forma de ação que cria e transforma
tituição pelas crianças de conhecimentos e ha- significados sobre o mundo.
bilidades no âmbito da linguagem, da Constituindo um saber e um conjunto de prá-
cognição, dos valores e da sociabilidade. E que ticas partilhadas pelas crianças, o brincar está
esses conhecimentos se tecem nas narrativas estreitamente associado à sua formação como
do dia-a-dia, constituindo os sujeitos e a base sujeitos culturais e à constituição de culturas
para muitas aprendizagens e situações em que em espaços e tempos nos quais convivem co-
são necessários o distanciamento da realidade tidianamente. Esse saber, base comum sobre a
cotidiana, o pensar sobre o mundo e o qual as crianças desenvolvem coletivamente
interpretá-lo de novas formas, bem como o de- suas brincadeiras, é composto de elementos ex-
senvolvimento conjunto de ações coordena- teriores e interi ores às comunidades infantis.
das em torno de um fio condutor comum. Externamente, pode ter como fontes a cultu-
ra televisiva, o mercado de brinquedos, a edu-
Brincadeira, cultura e
cação dos adultos e as suas representações
conhecimento: a função huma-
sobre a brincadeira e a infância, além das prá-
nizadora da escola
ticas culturais transmitidas por outras crianças
Vamos refletir agora sobre as relações entre o e adultos. Internamente, compõe-se de atitu-
brincar, a cultura e o conhecimento na exis- des coletivas e elementos culturais particula-
tência humana e, mais particularmente, na res (regras, modos de falar e de fazer, valores,
experiência da infância. técnicas, artefatos etc.) gerados nas práticas e
Por um lado, podemos dizer que a brincadeira é reinterpretações dos elementos externos. Exis-
um fenômeno da cultura, uma vez que se con- te assim uma dinâmica entre universalidade e
figura como um conjunto de práticas, conheci- diversidade que se traduz em permanências e
mentos e artefatos construídos e acumulados transformações, configurando o brincar como 39
uma complexa experiência cultural que simul- desafiar os limites da realidade cotidiana. A
taneamente une e especifica os grupos sociais. idéia de liberdade está associada, entretanto,
não à ausência de regras, mas à criação de for-
Pintores, poetas, escritores, cineastas,
mas de expressão e de ação e à definição de
teatrólogos costumam utilizar o tema da infân-
novos planos de significação que implicam
cia e dos brinquedos e brincadeiras em suas
novas formas de compreender o mundo e a si
obras, ofecerendo-nos, por meio do olhar ar-
mesmo.
tístico, interpretações sensíveis.
Pipas colorindo os céus. Crianças e adultos,
- O bom da pipa não é mostrar aos
outros, é sentir individualmente a pipa, em todas as regiões do Brasil e em várias par-
dando ao céu o recado da gente. tes do mundo “empinam” esse brinquedo, com
- Que recado? Explique isso direito! modos variados de confeccioná-lo, praticá-lo,
João olhou-me com delicado desprezo. significá-lo e com ele estabelecer relações so-
- Pensei que não precisasse. Você solta ciais. Universalidade e pluralidade são suas
o bichinho e solta-se a si mesmo. Ela é marcas, e de muitos outros brinquedos e brin-
sua liberdade, o seu eu, girando por aí, cadeiras, como a amarelinha. Domínio da ex-
dispensado de todas as limitações. periência humana e ao mesmo tempo
(Carlos Drummond de Andrade apud especificidade de grupos sociais.
Carvalho, Ana M.A. e Pontes,
Pega-pega, pira, picula. Pique-cola, pique-bai-
Fernando A.R.)
xo, pique-alto, pique-estátua, pique-fruta. Dife-
Drummond expressa o sentimento de liberda- rentes denominações e variações para uma
de e desprendimento promovido pela brinca- brincadeira cuja estrutura básica é a persegui-
deira. Brincar seria “soltar-se a si mesmo”, ção e a fuga, ou seja, há um pegador que corre
desprender-se da realidade imediata e de seus atrás dos demais tentando alcançá-los. A brin-
limites, voar, lançar-se ao céu, mas ao mesmo cadeira percorre três etapas básicas: a partir da
tempo diríamos que é possuir o controle do formação do grupo, a escolha do “pegador”; o
vôo nas mãos, segurando e movimentando a
desenvolvimento do jogo por meio de tenta-
linha da pipa e regendo o “eu” por meio dos
tivas de pegar e do revezamento de pegadores;
contornos dessa nova dimensão da realidade.
e a finalização.
Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês Um repertório de brincadeiras, cujos esquemas
A noiva do caubói era você além das básicos ou rotinas são partilhados pelas crian-
outras três ças, compõe a cultura lúdica infantil, ou seja,
Eu enfrentava os batalhões, os alemães o conjunto de experiências que permite às cri-
e seus canhões anças brincar juntas (Brougère, 2002, 2004).
Guardava o meu bodoque e ensaiava o Esses esquemas, contudo, não são estáticos,
rock para as matinês mas transpostos e transformados de um con-
(João e Maria – Chico Buarque) texto para o outro. Nesse sentido, são influen-
A liberdade no brincar se configura no inver- ciados tanto pelo contexto físico do ambiente,
ter a ordem, virar o mundo de ponta-cabeça, a partir dos recursos naturais e materiais dis-
fazer o que parece impossível, transitar em di- poníveis, como também pelo contexto simbó-
ferentes tempos – passado, presente e futuro – lico, ou seja, pelos significados pré-existentes
Agora eu era o herói... Rodar até cair, ficar tonto e partilhados pelo grupo de crianças. Desse
40 de tanto correr, ser rei, caubói, ladrão, polícia, modo, ambientes escolares organizados para a
brincadeira, compostos de mobiliário e obje- e disputas. Nesse contexto, as crianças esta-
tos vinculados à vida doméstica, suscitam belecem laços de sociabilidade e constro-
brincadeiras de papéis familiares; rios, em sentimentos e atitudes de
mares, lama e areia geram brinca- solidariedade e de amizade.
deiras de nadar, pular, fazer cas- A brincadeira é É importante demarcar que no
telos; personagens de novela brincar as crianças vão se cons-
um lugar de
conhecidos pelas crianças cri- tituindo como agentes de sua
am brincadeiras de papéis e construção de
experiência social, organizan-
cenas domésticas; super-heróis culturas fundado
do com autonomia suas ações
tematizam piques e brincadei- nas interações e interações, elaborando pla-
ras de perseguição. sociais entre as nos e formas de ações conjun-
Todos esses elementos externos crianças tas, criando regras de
ao jogo, localizados na escola, na fa- convivência social e de participação
mília, no bairro ou na mídia televisiva, nas brincadeiras. Nesse processo, insti-
entre outros espaços propiciadores de experi- tuem coletivamente uma ordem social que rege
ências sociais e culturais, são reinterpretados as relações entre pares e se afirmam como au-
pelas crianças e articulados às suas experiênci- toras de suas práticas sociais e culturais.
as lúdicas. A partir daí, geram-se novos modos
Brincar com o outro, portanto, é uma experi-
de brincar. A televisão, por exemplo, é um ele-
ência de cultura e um complexo processo
mento externo de grande influência hoje, mas
interativo e reflexivo que envolve a constru-
é preciso salientar que suas imagens e repre-
ção de habilidades, conhecimentos e valores
sentações não são simplesmente imitadas pe-
sobre o mundo. O brincar contém o mundo e
las crianças, mas recriadas a partir de suas
ao mesmo tempo contribui para expressá-lo,
práticas lúdicas. Assim, podemos ver os bo-
pensá-lo e recriá-lo. Dessa forma, amplia os co-
necos Power Rangers - personagens de uma
nhecimentos da criança sobre si mesma e so-
série televisiva - lutando e usando seus pode-
bre a realidade ao seu redor.
res nas mãos das crianças, mas também co-
mendo, dormindo, brincando com bonecas As reflexões que desenvolvemos até aqui nos
Barbie, etc. Para que se abram e se ampliem levam a perguntar: como temos significado e
as possibilidades de criação no brincar é im- compartilhado com as crianças e os adolescen-
prescindível, contudo, que as crianças te- tes suas experiências de brincadeiras? O espa-
nham acesso a espaços coletivos de ço do brincar nas nossas escolas é apenas
brincadeira e a experiências de cultura. passatempo e liberação-reposição de energias
para alimentar o trabalho? Ou é uma forma de
A brincadeira é um lugar de construção de
interpretar, agir e nos relacionar com o mun-
culturas fundado nas interações sociais entre
do e com os outros, vivenciada como experi-
as crianças. É também suporte da sociabili-
ência que nos humaniza, levando-nos à
dade. O desejo de brincar com o outro, de
apropriação de conhecimentos, valores e sig-
estar e fazer coisas com o outro, é a principal
nificados, com imaginação, humor,
razão que leva as crianças a se engajarem em
grupos de pares. Para brincar juntas, necessi- criatividade, paixão e prazer?
tam construir e manter um espaço interativo Mas sabemos verdadeiramente o que é brin-
de ações coordenadas, o que envolve a parti- car e de que e como nossas crianças e adoles-
lha de objetos, espaços, valores, conhecimen- centes brincam? Pensar sobre a função
tos e significados e a negociação de conflitos humanizadora da brincadeira nos provoca 41
inquietações quanto à organização da escola e entre pares se observarmos: que assuntos es-
do trabalho pedagógico. Como podemos tão em jogo quando brincam? Como se orga-
transformá-los de forma que deixem a brinca- nizam em grupos? Que critérios e valores
deira fruir? Nos provoca também a redescobrir perpassam a escolha/seleção dos parceiros
em nós mesmos o gosto e o prazer do fazer (amizade, alianças, hierarquias, preconceitos,
lúdico e das brincadeiras, levando-nos a bus- relações de poder, etc.)? Que conhecimen-
car em nossas experiências de infância, em lei- tos as crianças e os adolescentes revelam?
turas e por meio de um olhar atento às Quais são as regras que regem as relações en-
diferentes práticas culturais de brincadeira que tre pares?
identificam os grupos sociais, fontes para a Essas observações e o que podemos aprender
ampliação do nosso repertório e das nossas com elas contribuem para a nossa aproxima-
formas de ação lúdica sobre o mundo. Afi- ção cultural com as crianças e para compreen-
nal, brincar é uma experiência de cultura im- dermos melhor a importância do brincar nas
portante não apenas nos primeiros anos da suas vidas. Certamente ficará mais claro para
infância, mas durante todo o percurso de vida nós que o brincar é uma atividade humana
de qualquer ser humano, portanto, também significativa, por meio da qual os sujeitos se
deve ser garantida em todos os anos do ensi- compreendem como sujeitos culturais e huma-
no fundamental e etapas subseqüentes da nos, membros de um grupo social e que, como
nossa formação! tal, constitui um direito a ser assegurado na
Uma excelente fonte de conhecimentos so- vida do homem. E o que dirá na vida das cri-
bre o brincar e sobre as crianças e os adoles- anças, em que esse tipo de atividade ocupa um
centes é observá-los brincando. Penetrar nos lugar central, sendo uma de suas principais
seus jogos e brincadeiras contribui, por um formas de ação sobre o mundo! Perceberemos
lado, para colhermos informações importan- também, com mais profundidade, que a esco-
tes para a organização dos espaços-tempos es- la, como espaço de encontro das crianças e
colares e das práticas pedagógicas de forma que dos adolescentes com seus pares e adultos e
possam garantir e incentivar o brincar. Por com o mundo que os cerca, assume o papel
outro lado, ajuda na criação de possibilidades fundamental de garantir em seus espaços o di-
de interações e diálogos com as crianças, uma reito de brincar. Além disso, ao situarmos nos-
vez que propicia a compreensão de suas lógi- sas observações no contexto da
cas e formas próprias de pensar, sentir e fazer e contemporaneidade, veremos que esse papel
de seus processos de constituição de suas iden- cresce em importância na medida em que a
tidades individuais e culturas de pares. Medi- infância vem sendo marcada pela diminuição
ante nossas observações, podemos dos espaços públicos de brincadeira, pela falta
compreender melhor a dinâmica do brincar, de tempo para o lazer, pelo isolamento, sendo
perguntando-nos: de que as crianças e os ado- a escola muitas vezes o principal universo de
lescentes brincam? Que temas e objetos/brin- construção de sociabilidade.
quedos estão envolvidos? Que brincadeiras se Vamos refletir agora sobre as práticas que nos
repetem cotidianamente? Que regras organi- aproximam e, ao mesmo tempo, sobre aquelas
zam as brincadeiras? Em que espaços e duran- que nos afastam das concepções sobre a brin-
te quanto tempo brincam? Como se escolhem cadeira que discutimos até aqui. O brincar é
e se distribuem os participantes? Que papéis sugerido em muitas propostas e práticas peda-
são assumidos por eles? Aprenderemos muito gógicas com crianças e adolescentes como um
42 também sobre as suas vidas e suas relações pretexto ou instrumento para o ensino de
conteúdos. Como exemplo, temos atividades, constituem formas interes-
músicas para memorizar informa- santes de aprender brincando ou
ções, jogos de operações matemá- de brincar aprendendo. Quantos
ticas, jogos de correspondência Ao planejarmos de nós lembramos das muitas
entre imagens e palavras escri- atividades lúdicas, descobertas que fizemos por
tas, entre outros. Mas quando é importante meio de jogos e atividades
compreendidos apenas como perguntar: a que lúdicas? Se incorporarmos de
recursos, perdem o sentido de forma mais efetiva a
fins e a quem estão
brincadeira e, muitas vezes, até ludicidade nas nossas práticas,
servindo? estaremos potencializando as
mesmo o seu caráter lúdico, assu-
mindo muito mais a função de trei- possibilidades de aprender e o in-
nar e sistematizar conhecimentos, uma vestimento e o prazer das crianças e dos
vez que são usados com o objetivo principal adolescentes no processo de conhecer. E com
de atingir resultados preestabelecidos. É pre- certeza descobriremos também novas formas
ciso compreender que o jogo como recurso de ensinar e de aprender com as crianças e os
didático não contém os requisitos básicos que adolescentes!
configuram uma atividade como brincadei- Mas como planejar essas atividades? Um bom
ra: ser livre, espontâneo, não ter hora começo é nos perguntarmos: Conhecemos
marcada, nem resultados prévios e determi- bem nossas crianças ou adolescentes? Sabemos
nados. Isso não significa que não possamos do que gostam ou não de fazer, de seus inte-
utilizar a ludicidade na aprendizagem, medi- resses, de suas práticas? Sabemos ouvi-los? Cri-
ante jogos e situações lúdicas que propiciem amos espaços para que eles também nos
a reflexão sobre conceitos matemáticos, conheçam? A abertura de portas para o en-
lingüísticos ou científicos. Podemos e deve- contro e a proximidade cultural com as crian-
mos, mas é preciso colocá-la no real espaço ças e os adolescentes é fundamental para
que ocupa no mundo infantil, e que não é o organizarmos atividades que estejam em mai-
da experiência da brincadeira como cultura. or sintonia com seus interesses e necessidades.
Constituem apenas diferentes modos de en- Ao planejarmos atividades lúdicas, é impor-
sinar e aprender que, ao incorporarem a tante perguntar: a que fins e a quem estão ser-
ludicidade, podem propiciar novas e interes- vindo? Como estão sendo apresentadas?
santes relações e interações entre as crianças Permitem a escuta das vozes das crianças?
e destas com os conhecimentos. Como posso me posicionar junto a elas de
Existem inúmeras possibilidades de incorpo- modo que promova uma experiência lúdica?
rar a ludicidade na aprendizagem, mas para que O que se quer é apenas uma animação ou a
uma atividade pedagógica seja lúdica é impor- intenção é possibilitar uma experiência em que
tante que permita a fruição, a decisão, a esco- se estabeleçam novas e diversas relações com
lha, as descobertas, as perguntas e as soluções os conhecimentos?
por parte das crianças e dos adolescentes, do É importante demarcar que o eixo principal
contrário, será compreendida apenas como em torno do qual o brincar deve ser incorpo-
mais um exercício. No processo de alfabetiza- rado em nossas práticas é o seu significado
ção, por exemplo, os trava-línguas, jogos de como experiência de cultura. Isso exige a ga-
rima, lotos com palavras, jogos da memória, rantia de tempos e espaços para que as própri-
palavras cruzadas, língua do pê e outras lín- as crianças e os adolescentes criem e
guas que podem ser inventadas, entre outras desenvolvam suas brincadeiras, não apenas em 43
locais e horários destinados pela escola a essas relacionar com os outros. Percebendo as ali-
atividades (como os pátios e parques para a anças, amizades, hierarquias e relações de po-
recreação), mas também nos espaços das salas der entre pares. Estabelecendo pontes, com
de aula, por meio da invenção de diferentes base nessas observações, entre o que se apren-
formas de brincar com os conhecimentos. Mas de no brincar e em outras atividades, fornecen-
de que maneira podemos assegurar nas nossas do para as crianças a possibilidade de
práticas escolares que o brincar seja vivido enriquecerem-nas mutuamente. Centrando a
como experiência de cultura? Vamos pensar ação pedagógica no diálogo com as crianças e
juntos alguns caminhos. os adolescentes, trocando saberes e experiênci-
Organizando rotinas que propiciem as, trazendo a dimensão da imaginação
a iniciativa, a autonomia e as e da criação para a prática cotidia-
interações entre crianças. Cri- na de ensinar e aprender.
ando espaços em que a vida O eixo principal Enfim, é preciso deixar que
pulse, onde se construam em torno do qual o as crianças e os adolescen-
ações conjuntas, amizades brincar deve ser tes brinquem, é preciso
sejam feitas e criem-se cul- incorporado em aprender com eles a rir, a
turas. Colocando à dispo- inverter a ordem, a repre-
sição das crianças materiais
nossas práticas é o sentar, a imitar, a sonhar e
e objetos para descobertas, seu significado a imaginar. E no encontro
ressignificações, transgres- como experiência com eles, incorporando a di-
sões. Compartilhando brinca- de cultura. mensão humana do brincar, da
deiras com as crianças, sendo poesia e da arte, construir o per-
cúmplice, parceiro, apoiando-as, res- curso da ampliação e da afirmação de
peitando-as e contribuindo para ampliar seu conhecimentos sobre o mundo. Dessa forma,
repertório. Observando-as para melhor abriremos o caminho para que nós, adultos e
conhecê-las, compreendendo seus universos crianças, possamos nos reconhecer como su-
e referências culturais, seus modos próprios jeitos e atores sociais plenos, fazedores da nos-
de sentir, pensar e agir, suas formas de se sa história e do mundo que nos cerca.
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