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BRINCADEIRAS: DIFERENTES
INFÂNCIAS, CONTEXTOS
E INTERVENÇÕES
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Infâncias, Jogos, Brinquedos e Brincadeiras: cenários de
diversidade
• Intervenções com Jogos, Brinquedos e Brincadeiras:
cenário de diversas possibilidades e sistematizações
Objetivos de Aprendizagem
• Refletir sobre a constituição do brincar e das diferentes
infâncias na atualidade.
• Elencar diversas possibilidades de ações educativas com
jogos, brinquedos e brincadeiras.
unidade
V
INTRODUÇÃO
Infâncias, Jogos,
Brinquedos e Brincadeiras:
Cenários de Diversidade
Nesta etapa de nosso estudo, caro(a) aluno(a), ire- mentaliza como professores(as)/profissionais para
mos retratar uma parte do imenso universo que se atuar com essa linguagem, ela torna-se um funda-
pode encontrar na relação entre as configurações de mento do qual devemos nos aproximar para desen-
infância e cultura lúdica infantojuvenil. O brincar volvermos nossa ação educativa.
e o jogar não se encerram em uma experiência fe- Para alcançarmos o objetivo de tratar das dife-
chada e determinada, são múltiplos, mutáveis e sua rentes infâncias e seu brincar, utilizaremos como
riqueza está nessa diversidade de expressões. base três produções brasileiras sobre o brincar em
Essa proposta de estudo parte do princípio que realidades diversas. Todos os livros selecionados
os jogos, brinquedos e as brincadeiras são produ- para esta nossa contação fogem da lógica de caracte-
ções culturais, frutos de vários determinantes, como rizar os grupos sociais apenas por dados estatísticos
os fatores sociais, culturais, geográficos, econômicos ou oficiais dos locais e das crianças e avançam para
e históricos. Podemos aprender muito sobre os di- uma análise das características culturais e das con-
ferentes grupos sociais a partir da convivência com tradições e belezas de cada ambiente ou grupo social
seu brincar. Assim, essa aprendizagem nos instru- pesquisado.
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EDUCAÇÃO FÍSICA
Estas produções são: o livro Trama doce-amar- nal, e como afirmamos anteriormente, que resultam
ga: (exploração do) trabalho infantil e cultura lúdica em produções culturais múltiplas, e não temos, en-
de Maurício Roberto da Silva, lançado em 2003; o tão, uma única infância e um único brincar.
livro Brincar, brinquedos e brincadeiras: modos de Silva (2003) aponta que todas as formas de ex-
ser criança nos países de língua oficial portuguesa, de ploração do trabalho infantil podem prejudicar a vi-
2014, organizado por Catarina Tomás e Natália Fer- vência da cultura lúdica e, também, o direito à esco-
nandes; e o mais recente, lançado em 2017, Crianças larização da criança e do adolescente, resultando em
em Fronteiras: histórias, culturas e direitos, organi- problemas de constituição identitária. Essa realidade
zado por Verônica Regina Müller. Vamos conhecer de exploração do trabalho pode ser entendida como
mais sobre o mundo do brincar? um tempo furtado de chances e sonhos arruinados
O livro Trama doce-amarga: (exploração do) tra-
balho infantil e cultura lúdica, segundo Demartini et [...] que impõe às crianças possíveis sequelas
nutricionais (envelhecimento precoce, desnu-
al. (2003, p. 7), trata da criança
trição), cognitivas, psicossociais e culturais,
comprometendo de maneira marcante o pre-
[...] sujeita à exploração pelo capital, no trabalho, sente e o futuro das gerações (Silva, 2003, p. 28).
a que tem o lúdico subsumido de sua vida coti-
diana [...] a preocupação é com esse processo so-
negador/limitador do tempo livre para o lúdico”. Para Silva (2003), a exploração do trabalho infantil,
além do furto do lúdico na vida dessas crianças e ado-
Um livro que nos ensina sobre os meandros do cruel lescentes, promove um degradante processo de roubo
cotidiano de crianças trabalhadoras dos canaviais de do tempo de “[...] usufruto da cultura lúdica, a escola-
Pernambuco, no Brasil e, especialmente, da constitui- rização e a sociabilidade, como possibilidade de forta-
ção de sua cultura lúdica como espaço de resistência. lecimento das relações sociais lúdicas infantis” (Silva,
No cenário do trabalho inserido na lógica neoliberal, 2003, p. 209). Portanto, a exploração do trabalho infan-
temos, entre outras mazelas, o trabalho infantil, que é a til promove diversos procedimentos de alienação na
vida das crianças que trabalham na produção de cana.
[...] inclusão precoce e criminosa de crianças Sobre a ludicidade, o autor afirma que estes mo-
no mercado de trabalho, especialmente nos pa-
mentos de brincadeira entre as crianças e os adolescen-
íses de industrialização intermediária e subor-
dinada, como por exemplo, nos países asiáticos, tes trabalhadores não podem ser vistos como diversão,
latino americanos e outros, onde se vem dete- entretenimento ou possibilidade de afastar o sentimen-
riorando prematuramente a força humana de to de tédio, e sim como uma postura de resistência em
trabalho das crianças e jovens, mediante a ex- meio a um ambiente de tanto sofrimento e injustiça.
ploração invisível do trabalho e da informalida-
de do mundo do trabalho (SILVA, 2003, p. 25). A sociedade que se anuncia por meio do brincar
nesses terrenos adversos, baseia-se em valores
Esse contexto nos apresenta as diferentes infâncias lúdicos, tais como: a lentidão e a preguiça como
virtude, em detrimento da aceleração para a
que temos na sociedade e o criminoso contexto a
acumulação de capital; a liberdade; a criativi-
que muitas estão submetidas. Em consequência, te- dade; a gratuidade; a fantasia; o faz de conta e
mos diversas conformações dessa categoria geracio- outros valores estéticos (SILVA, 2003, p. 29).
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JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS
Em toda essa cultura lúdica, constituída no contexto O brincar das crianças canavieiras, nessa ló-
investigado por Silva (2003), configuram-se diferen- gica, perversa de inserção precoce no trabalho,
tes possibilidades para essas manifestações culturais ocorre também nas pequenas oportunidades que
do brincar e jogar, que buscam a ruptura e a posição esta dinâmica permite. O autor traz, ainda, outros
de resistência frente aos ditames da desigualdade so- exemplos de estudos com crianças que têm uma
cial inerentes à realidade investigada. vida dura e injusta e que têm na expressão das brin-
O pesquisador elabora uma forte e contunden- cadeiras e jogos uma forma de resistência à vida a
te crítica ao capital e a programas assistencialistas e qual são submetidas.
paliativos diante da exploração do trabalho infantil, A degradante realidade das crianças trabalhadoras
trazendo o contexto dessa degradação humana na brincando em meio aos canaviais, segundo Silva (2003,
região do açúcar da Zona da Mata Pernambucana. p. 221), explicita aos que conhecem este contexto que,
Para estudar essa realidade, Silva (2003, p. 59) recor-
re ao diálogo junto às crianças e nesta convivência [...] o contraditório de tudo isso é que essas
crianças arranjem forças e elementos em meio
brincam, jogam, leem e escutam histórias, cantam,
à dor, ao constrangimento do trabalho forçado
realizam paródias e conversam sobre o lazer “[...] e ao despotismo dos patrões, mediante a ma-
dos adultos, sobre o folclore e a cultura naqueles rin- nifestação da alegria e do prazer do jogo como
cões”, estabelecendo-se uma relação profunda entre instrumentos de luta. De posse desses artifícios,
o pesquisador e as crianças. entre os liames da resistência e do conformis-
mo, as crianças manifestam seus impulsos lú-
No livro, o lúdico é tomado em seu potencial de
dicos nas brechas que permitem o gozo de uma
expressão de subversão frente às imposições cruéis liberdade ainda que passageira.
da sociedade capitalista, e a infância é compreendida
Esta capacidade de resistir das crianças e dos adoles-
[...] a partir de horizontes emancipatórios, que centes trabalhadores e o jogo imposto entre a neces-
leva em conta os direitos das crianças, a partir
sidade de brincar e a obrigação imposta no trabalho
da produção cultural que elaboram, ensejando
intervir ativamente no processo sociocultural compõem o cotidiano dessas infâncias. Este contexto
e político de construção de cidadanias (SILVA, impiedoso configura-se como uma realidade atroz
2003, p. 184). que necessita de uma profunda reestruturação social,
ainda mais se tomarmos como parâmetro o avanço
Assim, nessa produção, a cultura lúdica infantil nas discussões e leis que foram elaboradas no século
nos é apresentada com sua premissa alinhada à XX sobre o direito infantojuvenil, como também so-
participação social de crianças e adolescentes em bre o brincar.
direção à potencialização de sua identidade. O lú- A restrição aos direitos básicos dessas crianças
dico entendido como expressão crítica é apresen- também resvala no escasso lazer que têm à dispo-
tado como uma lógica que não corresponde às ca- sição na região canavieira. A região pesquisada ca-
racterísticas predominantes na atualidade que são rece de parques, praças e centros culturais, e o au-
orientadas pelo consumo, individualidade, volatili- tor aponta também a dificuldade de transporte e
dade e exploração. deslocamento da população rural como fatores que
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EDUCAÇÃO FÍSICA
impedem vivências amplas de lazer, haja vista que [...] apesar da miséria em que vivem, possuem
as atividades de lazer concentram-se, cada vez mais, humor, fazem festa, brincam de roda, inventam
histórias, causos e jogos, talvez para reinventar
nas grandes cidades, atreladas ao lazer-consumo.
essa vida cotidiana tão cruel, opressiva e vili-
Silva (2003) também aponta diversos fatores que pendiada, mas também vivida com luta, desejo
compõem o cenário de diferenciação entre o brincar e utopia (SILVA, 2003, p. 258).
de meninas - que desde novas têm mais tarefas no
âmbito doméstico -, e de meninos canavieiros. Configura-se um contexto em que se desenvolvem
Sobre os brinquedos, o brincar e o consumo, Silva especialmente jogos e brincadeiras tradicionais, pro-
(2003) nos relata que via nas crianças canavieiras - im- dução cultural da humanidade que existe e resiste na
pedidas de adquirir os brinquedos industrializados e vida das crianças canavieiras. Assim, com diversas
que são expostos na mídia - um potencial criativo e posições de contraposição a essa realidade, como a
de ressignificação desenvolvido em relação ao impro- elucidada por Silva (2003), no brincar das crianças,
viso dos brinquedos e do brincar, e nisto analisou al- a população luta por uma vida digna, lutam para a
gum viés positivo na composição de sua cultura lúdica. conquista de um tempo livre.
Identificou, também, que os pais das crianças trabalha- Essas análises a respeito do enfrentamento da
doras desejavam implicitamente que seus filhos tives- vida cotidiana e do potencial lúdico nessas rela-
sem acesso aos brinquedos industrializados, apresen- ções, não excluem e nem pormenorizam, caro(a)
tando mais uma contradição inerente a essa realidade. aluno(a), o fato de que esta é uma realidade de-
sumana e que o trabalho infantil leva à consequ-
ências cruéis, como o envelhecimento precoce. As
crianças exploradas no trabalho que foram entre-
vistadas são submetidas a vastas horas de trabalho
em seu cotidiano, e contam sobre
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JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS
[...] apesar de suas insistentes e comoventes re- údo organizado por Tomás e Fernandes (2014) no
sistências lúdicas, de que são crianças privadas
livro Brincar, brinquedos e brincadeiras: modos de
de suas infâncias, assim como os jovens são cer-
ceados de suas juventudes (SILVA, 2003, p. 295). ser criança nos países de língua oficial portuguesa,
desvela categorias sobre o brincar que aproximam
O autor evidencia ainda que a questão da exploração e também distanciam essas culturas unidas pela lín-
do trabalho infantil está atrelada ao modo de produ- gua oficial de seus países e sobre a compreensão da
ção capitalista e que sua extinção não seria possível centralidade do brincar na vida das crianças.
dentro dessa forma de organização social. A resis- Vamos elucidar algumas características do brin-
tência que as crianças apresentaram no brincar é car das crianças do Brasil, Cabo Verde, Guiné Bis-
uma questão de sobrevivência, que desde pequenas sau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e
são obrigadas a lutar para obter. Timor Leste, que são países que falam a língua por-
tuguesa. Além da língua, o princípio que uniu os
SAIBA MAIS pesquisadores da infância que estudaram o brincar
dessas crianças foi a convicção de que elas
[...] o furto do lúdico atinge as crianças inde-
pendente de classes sociais, gênero e cultura. [...] tem formas próprias de interpretar o mun-
Assim, todo este processo é resultante do fato do, de agir, de pensar e de sentir, nas quais o
de que a sociedade burguesa instrumentaliza brincar assume uma centralidade inquestioná-
a cultura, priorizando a sua faceta produtiva vel, ainda que possa adotar diferentes facetas
e sua manifestação apenas como produto. decorrentes das ‘latitudes’ em que ocorre (TO-
Dessa maneira, a criança é desvalorizada, pois
MÁS; FERNANDES, 2014, p. 13).
não é vista como sujeito das relações sociais e
produtora de uma cultura infantil, mas como
mera consumidora dos produtos da Indústria Essa obra, estimado(a) aluno(a), está orientada por
Cultural. [...] é preciso mais uma vez ressaltar
que a morte do lúdico não significa a morte
um princípio que é muito caro para compreender-
do sujeito, considerando que este, provavel- mos o mundo em sua diversidade, na valorização
mente, procurará sempre ressignificar o tempo dessa amplitude de experiências: o princípio da
e o espaço para a vivência da cultura lúdica
em qualquer circunstância em que estejam
Epistemologia do Sul, desenvolvido pelo sociólogo
envolvidos. Quanto a isso basta ver as crian- português Boaventura de Souza Santos, que pro-
ças brincando em espaços hostis, como por põe a superação do modelo hegemônico de visão de
exemplo, nas favelas com esgotos a céu aberto.
mundo que tem o norte do globo terrestre como re-
Fonte: Silva (2003, p. 206–207). ferência, evidenciando assim que,
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EDUCAÇÃO FÍSICA
outras semelhantes. [...] para combater o des- refletir sobre o brincar nesses países, nos afastando
perdício da experiência para tornar visíveis as da pretensão de empregar a complexidade analítica
iniciativas e os movimentos alternativos e para
de cada produção que compõe o livro. Buscaremos,
lhes dar credibilidade, de pouco serve recorrer
à ciência social (SANTOS, 2010, p. 94). assim, pincelar a riqueza lúdica de cada um dos paí-
ses que falam oficialmente a língua portuguesa.
Essa busca por desvelar e conhecer outras experiên- Sobre o Brasil, Morelli et al. (2014) ressaltam
cias, no caso dessas obras que estamos estudando, que devido à imensa dimensão geográfica do país e à
coaduna com o princípio de estudarmos outras vi- diversidade de populações que formam uma grande
vências e nuances do brincar e do jogar, como no combinação cultural, há uma amplitude da cultura
que debatemos no livro de Silva (2003), tratando do lúdica de nosso país.
potencial de resistência da cultura lúdica das crian-
ças exploradas no trabalho. A forma, o conteúdo, o lugar, e o tempo de
brincar de cada cultura dentro do território
O livro de Tomás e Fernandes (2014, p. 13), so-
brasileiro, são por um lado muito próprios e
bre as crianças que falam a língua portuguesa, bus- por outro, mostram o híbrido entre o que era
ca superar a tendência hegemônica “[...] de olhar antes e o que foi assimilado nas inter-rela-
as crianças do Sul, a partir de temáticas constantes, ções étnicas e culturais em geral (MORELLI
como a exclusão e a vulnerabilidade”. Assim, a par- et al., 2014, p. 27).
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JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS
tamos as diferenças entre as infâncias e culturas Assim, esse olhar sobre o brincar das crianças ca-
lúdicas dentro do país, atreladas às desiguais con- bo-verdianas teve seu viés analítico baseado nas
dições socioeconômicas, e os fatores implicados consequências das desigualdades sociais e efeitos da
no processo de globalização às quais são submeti- globalização sobre a cultura lúdica infantil no país.
das as crianças cabo-verdianas. Outro país incluído no livro foi Guiné-Bissau.
A compreensão que se tem nesse contexto é de Sobre o contexto desse país, Otinta (2014) aponta
uma criança que necessita de muitos avanços nos índices da edu-
cação oferecida para as crianças e maior atenção aos
[...] situada dentro de uma cultura específica níveis de mortalidade infantil do país. Consideran-
resultante de influências africanas e europeias
do que a brincadeira na vida da criança é essencial
– heranças coloniais, como também norte-a-
mericana e brasileira via produtos de consumo e constrói suas relações com o mundo, destaca-se,
tais como filmes infantis e telenovelas (ELIAS; nessa cultura, um ditado:
LIMA, 2014, p. 56).
Como se diz no kriol Bissau-guineense: mininu
ku sibi brinka i ta sibi tchiu sempre. Isto quer
Uma infância que tem sua cultura lúdica constituída
dizer que é a brincar que mininu aprende o
nesse contexto de diversidade de influências media- que mais ninguém lhe pode ensinar (OTINTA,
da pelo contexto da desigualdade. 2014, p. 81).
As crianças cabo-verdianas que vivem em meio
a pobreza têm, na rua, um espaço para o brincar, Nessa análise é destacada a essência do brincar na in-
apesar da violência a que são expostas; por outro fância elencada na ludicidade, criatividade, ensino e
lado, as crianças que têm maior poder aquisitivo; aprendizagem. No brincar da infância do país, Otin-
brincam ou em espaços privados ou em ambientes ta (2014) afirma que a mininesa tem diversos meca-
públicos e são mais cuidadas pelos pais. Existe no nismos para perpetuar o brincar e ampliar sua cultu-
país, para as crianças mais ricas, a possibilidade ra lúdica, buscando sempre renová-lo e reinventá-lo.
de pagar para vivenciar experiências lúdicas com Sobre o brincar no Moçambique, Colonna e Antó-
uma tendência a mercantilizar essas relações. So- nio (2014) afirmam que este acontece muito frequen-
bre a escola das crianças cabo-verdianas, os auto- temente no espaço público, na rua, muito em função
res afirmam que: das altas temperaturas. Com os olhares voltados para o
espaço periférico da cidade de Maputo, constatam que
Não se encontram preparadas pedagogica- as brincadeiras são entre as crianças e, em geral, sem
mente de forma a utilizarem as brincadeiras
no processo de aprendizagem, uma vez que os
brinquedos. Afirmam que a constante atenção dada à
professores preocupam-se mais em ensinar o divulgação dos problemas sociais do país, que são sem
ler e escrever do que promover o lúdico, mes- dúvida urgentes, muitas vezes encobrem a possibilida-
mo em períodos destinados a tal. O fato do de fundamental de olhar outros elementos da cultura,
sistema escolar ser demasiado formal, contri-
como, por exemplo, a brincadeira, destacada no texto.
bui para a desvalorização da cultura da infân-
cia, o que limita a criatividade infantil (ELIAS; Além do brincar, os pesquisadores também ob-
LIMA, 2014, p. 67). servaram, no cotidiano das crianças, o tempo divi-
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EDUCAÇÃO FÍSICA
dido entre a escola e os trabalhos domésticos e, as- crianças à mercê de uma saga institucionaliza-
sim, brincam no entremeio e durante essas tarefas. da [...] ditada por condicionamentos de ordem
familiar, pela gestão de expectativas escolares e
Relatam também que nessa realidade não existem
consequente alargamento da oferta de serviços
construções próprias, como praças para o brincar e públicos potenciados, uns, e empurrados, ou-
jogar infantojuvenil; então, apropriam-se dos espa- tros, por e para essa nova realidade emergente
ços disponíveis. As crianças apresentam em seu dia (SILVA, 2014, p. 108).
a dia desde pequeninas um alto grau
Assim, sobre a cultura lúdica infantil portuguesa no
[...] de autonomia e liberdade, o que faz com que desenvolvimento do tempo, revelou um período em
os seus momentos lúdicos se desenvolvam prin-
que as crianças já tiveram mais autonomia em seu
cipalmente fora da supervisão e do controle dos
adultos. Esta ausência dos adultos é contrabalan- cotidiano e no seu brincar, tendo mais comando do
ceada por uma presença significativa de outras seu tempo e do espaço para isso. Na atualidade, re-
crianças, sendo que as meninas e meninos das velam uma intensa vigilância e institucionalização
periferias de Maputo brincam quase sempre em do brincar em sua dimensão temporal e espacial, e
grupos, que podem ser mais ou menos numero-
uma paulatina ausência das manifestações de brin-
sos (COLONNA; ANTÓNIO, 2014, p. 103).
cadeiras e brinquedos tradicionais (SILVA, 2014).
Nesse ambiente, apesar de prevalecerem as brincadei- Em São Tomé e Príncipe, a pesquisa foi ampla,
ras, jogos e brinquedos tradicionais, as crianças e ado- com crianças das comunidades urbanas, periféricas
lescentes mostraram-se abertas e dispostas a inovações e rurais, contemplando cerca de 800 crianças das
no desenvolvimento de suas brincadeiras, englobando duas ilhas. O cenário de pobreza atinge especial-
elementos que têm acesso, por exemplo, na televisão. mente as crianças e adolescentes, pois eles represen-
A respeito do brincar em Portugal, Silva (2014) tam mais da metade da população do país.
analisa esse brincar no tempo, destacando a mu- As brincadeiras das crianças santonenses foram
dança da rotina das crianças portuguesas e a di- caracterizadas por ocorrer antes e depois do tem-
minuição do tempo livre dessa população durante po escolar e, frequentemente, nos deslocamentos e
décadas. Para a realização dessa análise, o autor de- também durante o tempo escolar. Crianças também
dica-se a estudar quatro gerações de dez famílias a brincam entre e durante as tarefas domésticas, como
respeito de seu brincar. deveres pessoais do cotidiano, por exemplo:
O cenário português revela a transformação da
vida das crianças, onde parte de um cotidiano [...] as meninas fazem bobô mina (ato de levar o
bebê nas costas com o auxílio de um pano, mui-
to usual nos países africanos) com as bonecas
[...] muito igual (escola uma parte do dia e o
quando vão lavar roupa (BARRA, 2014, p. 139).
para ser vivido informalmente, entremeado
pela catequese e ou os escuteiros ao fim de se-
mana e o tempo de aprovisionamento pessoal), Sobre os espaços, as crianças brincam na escola e
as duas décadas que findam e iniciam a recen- também nos espaços públicos. Apresentam brinca-
te passagem de milênio conhecem a paulatina deiras vigorosas fisicamente e gostam muito de jogar,
cassação do tempo verdadeiramente livre das
especialmente bola, e de brincadeiras de faz de con-
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JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS
ta. Os brinquedos estão presentes, mas não de forma na fronteira da Cordilheira dos Andes, na região do
central ou contundente para o brincar, sendo alguns Maule, e do Brasil e Paraguai na região fronteiriça en-
industrializados - os mais comuns, como bicicletas, tre as cidades de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero.
bolas, bonecas - ou construídos pelas crianças. A obra busca caracterizar a infância distancian-
No Timor Leste, Oliveira et al. (2014) desvelam a do-se da lógica de que são, em geral, [...] mostradas
cultura lúdica timorense a partir do estudo das me- características estáticas, inteiras, inflexíveis, localiza-
mórias das brincadeiras no ambiente escolar. O Ti- das em um e somente um lugar físico ou subjetivo”
mor-Leste é um país que se tornou independente em (MÜLLER, 2017, p. 17). Partindo dessa possibilida-
1999 e que tem a população jovem em sua maioria, de de expandir o olhar sobre a infância, a obra busca
um alto grau de analfabetismo adulto e uma carac- elucidar “[...] diferentes latitudes e longitudes para
terística multilinguística, a última por influenciar no a ampliação da navegação nas infâncias do mundo”
processo educacional, pois os professores precisam (MÜLLER, 2017, p. 17).
dominar diversas línguas. Sobre a região de fronteira do Chile, Torres e
Acerca do brincar, devido ao pouco acesso aos Lara (2017) trazem relatos sobre a infância em esco-
brinquedos industrializados, predominam os brinque- las de fronteira na Cordilheira dos Andes, na região
dos produzidos e criados pelas crianças timorenses. do Maule, consideradas escolas rurais. A cultura lú-
Destaca-se, também, a transmissão de diversas brinca- dica nesse contexto escolar evidencia que ela é muito
deiras entre as crianças e adultos preservadas pela tra- influenciada pelas condições naturais do ambiente,
dição oral do local. Os autores ainda apresentam um cercado pelo perigo iminente da erupção do vulcão
repertório de brincadeiras características, do país pre- e por períodos intensos de neve, neblina e fortíssi-
servado pela cultura local em meio ao intenso contato mos ventos; assim, o brincar adapta-se e acomoda-
que tiveram com diversas outras culturas, que também -se nessa intensa realidade natural.
influenciaram a composição da cultura lúdica. O brincar e jogar nesse contexto foram retra-
Todo esse contexto apresentado no livro organi- tados com ausência de materiais desportivos e as
zado por Tomás e Fernandes (2014) traz à tona o crianças brincam com os elementos da natureza dis-
valor da brincadeira, jogos e brinquedos na cultu- poníveis, por exemplo: pedaços de madeira e mate-
ra infantil e na constituição da identidade de tantos riais recicláveis, interagindo fortemente com a natu-
países. A cultura lúdica permeada pela diversidade reza local. Em seu tempo livre costumam observar
de características fica explícita nessa obra, como um a natureza, pássaros e correm e brincam entre eles.
direito infantojuvenil fundamental. Nessa realidade,
Vamos, agora, nos aventurar por outro olhar so-
bre a infância e a cultura lúdica e a vida nas fronteiras [...] a criatividade e imaginação resultam ser
os principais recursos para as atividades de re-
entre países, que é o foco do livro Crianças em Fron-
creação, aproveitando tudo que lhes oferece a
teiras: histórias, culturas e direitos, organizado por Ve- natureza e os recursos de resíduos (TORRES;
rônica Regina Müller (2017). Vamos tratar do Chile LARA, 2017, p. 34, tradução minha)1.
1 “[...] la creatividad e imaginación resultan ser los principales recursos para las actividades de recreación aprovechando todo lo que les ofrece la natureza y los
recursos de desecho introducidos” (TORRES; LARA, 2017, p. 34).
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EDUCAÇÃO FÍSICA
As crianças acabam tendo uma proximidade com a [...] proporcionar elos de integração, de forma
concomitante podem circunscrever ou produ-
natureza e uma relação positiva e harmoniosa com
zir segregação na distribuição de populações ou
esse contexto educativo. de atividades dentro das sociedades (NUNES et
No livro também é relatado sobre o brincar das al., 2017, p. 111).
crianças moradoras na fronteira entre Brasil, na ci-
dade de Ponta Porã, e Paraguai, na cidade de Pedro No contexto escolar, é possível observar essas carac-
Juan Caballero. Os autores nos contam sobre esse terísticas das fronteiras não só quando as crianças
aspecto cultural, especialmente a partir das especi- brincam e cantam em guarani, mas também relatam
ficidades de uma região fronteiriça e a da inserção brincadeiras paraguaias, realizadas na língua portu-
das crianças paraguaias nas escolas brasileiras e seu guesa, por exemplo, Voté, em português é pé na lata
brincar (NUNES et al., 2017). e Kañy, esconde-esconde. As brincadeiras no recreio
Os autores partem do entendimento de que as foram identificadas, nessa escola de fronteira, com
fronteiras podem ser compreendidas como esta- predominância das brincadeiras e jogos da cultura
belecimento de limites entre culturas, e estas não brasileira. Apesar de frequentarem essa escola um
são contínuas e lineares. Assim, as fronteiras têm a número maior de crianças paraguaias, é a cultura
possibilidade de brasileira que predomina no espaço.
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JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS
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EDUCAÇÃO FÍSICA
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JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS
Vamos, aqui, ilustrar experiências de ações educati- um bairro com crianças e adolescentes; criação de
vas com a linguagem dos jogos, brinquedos e brin- brinquedos com adultos na universidade para ação
cadeiras com diferentes grupos sociais, objetivos e educativa com crianças e uma caça aos pássaros com
temas. Essas possibilidades são apenas indicações crianças pequenas em uma escola.
de que podemos, junto com nossos(as) alunos(as), Todas essas ações educativas têm como funda-
criar e recriar para vivenciarmos a cultura lúdica de mento para a sua realização o entendimento de que
múltiplas formas. somos pessoas em constante processo de aprendiza-
Ilustramos experiências de uma corrida orienta- gem e que a ludicidade, apesar de, em nossa cultura,
da em uma instituição de contraturno escolar com ser vivenciada mais na infância, pode e precisa ser
adolescentes; uma caça ao tesouro pelo espaço de potencializada nas diversas gerações. Outra questão
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EDUCAÇÃO FÍSICA
importante é que as regras são mutáveis e devem ser que passaram pelos pontos indicados no mapa. Na
assim, se pretendemos que a atividade seja vivencia- experiência educativa contada aqui, as atividades
da a partir do viés da participação social. desenvolvidas foram:
Assim, vamos ilustrar algumas práticas que não a. Ponto 1: fazer uma pirâmide humana com
são fechadas em si, metodologicamente, mas que es- todo o grupo;
peramos que gerem aprendizagens e novas vivências b. Ponto 2: realizar a atividade “nó humano”,
de jogos, brinquedos e brincadeiras. que consiste em um círculo no qual todos
devem dar as mãos entre si aleatoriamente,
• Corrida de Orientação: não podendo dar as mãos só para seu colega
direto da esquerda ou da direita (única regra
Nessa ação educativa objetivamos desenvolver, com inicial). A partir daí tem-se um nó humano
os adolescentes de uma instituição de contraturno e o grupo deve voltar a ser um círculo linear
escolar, uma corrida orientada, com diversos desa- sem soltar as mãos;
fios e jogos cooperativos, visando realizar atividades c. Ponto 3: em um emaranhado de letras e ob-
de integração e coletivas. Durante as semanas que jetos grandes recortados, os participantes de-
antecederam a corrida de orientação, os adolescen- vem encontrar as letras e montar o nome da
equipe no chão o mais rápido possível com
tes decidiram o nome de suas equipes, gritos para
todos os integrantes de mãos dadas;
a torcida e comemoração das provas, customizaram
d. Ponto 4: realizar a atividade “navegar”: com os
camisetas que seriam utilizadas no dia do evento e participantes um ao lado do outro e em cima
aprenderam sobre a dinâmica da atividade em si. de cadeiras ou bancos, o educador deve desa-
Na corrida de orientação, os alunos cumprem fiar o grupo a atravessar o “mar” para chegar a
uma determinada trilha, passando por pontos de uma “ilha” (lado oposto ao local onde os ado-
controle indicados em um mapa montado previa- lescentes estavam dispostos) que tem muitas
mente. O percurso de uma atividade de orienta- coisas boas. Eles devem cumprir essa tarefa
todos juntos e, principalmente, sem descer
ção indica os pontos do terreno em que os(as) alu-
das cadeiras. Algumas dificuldades foram co-
nos(as) devem passar e a equipe decide os caminhos locadas como um participante vendado e dois
para chegar até os pontos marcados no mapa dis- integrantes em completo silêncio;
ponível para a equipe. Em nossa experiência, os(as) e. Ponto 5: o grupo todo deve atravessar um
educadores(as) foram previamente conhecer o local “gaveteiro”, feito de barbante entre duas árvo-
da atividade e escolheram os pontos que os grupos res, com diversos tamanhos de passagem. O
passariam e cumpririam as brincadeiras no desen- grupo deve montar estratégias para que to-
volvimento da corrida, fizeram o mapa do local e dos atravessem os buracos sem que diferentes
participantes passem duas vezes pela mesma
marcaram os cinco pontos escolhidos.
abertura.
Nesses pontos, os educadores, visando o objeti-
vo geral da atividade, de ser uma vivência coletiva Assim, a equipe que passar por cada ponto da ativi-
e integradora, escolheram desafios e jogos que en- dade e cumpri-las, todos integrantes receberão uma
volvessem os grupos de adolescentes. Cumprir essas marcação no braço, como, por exemplo, uma cor de
provas e atividades serviu para que se comprovasse tinta (apropriada para pintura na pele) para cada
159
JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS
ponto. Assim, ao final, cada equipe poderá compro- Há várias formas de realizar a atividade de caça
var que cumpriu todas as provas, passou por todos ao tesouro, por exemplo: a cada pista encontrada,
os pontos e que todos os integrantes participaram. o grupo receber um pedaço de uma história ou de
Caro(a) aluno(a), no desenvolvimento dessa ati- uma figura; realizar uma atividade ou perguntas que
vidade, ressaltamos algumas questões a serem obser- devem ser respondidas.
vadas pelos(as) educadores(as): estes devem conhe- Na vivência relatada aqui, dividimos os grupos
cer bem o local em que será desenvolvida a corrida previamente e cada grupo escolheu um direito para
antes do evento e reproduzir o mapa com exatidão; sua equipe representar, como, por exemplo, saúde,
cada equipe, na largada, deve ser direcionada a um educação, lazer e moradia. Com as equipes dividi-
ponto diferente do mapa; o número de participantes das e identificadas por fitas coloridas amarradas no
deve ser checado durante a prova, para que a equipe pulso e um educador responsável por cada equipe
permaneça unida até o final; cada equipe deve ter (esse acompanhamento foi feito devido ao fato de
um mapa com trajetos diferentes e que passem pelos que andamos pelo bairro e atravessamos algumas
mesmos pontos. A prova é vencida pela equipe que ruas), estas deveriam realizar o caça ao tesouro e, ao
cumprir todo o percurso, seguindo as regras esta- fim, montar um quebra-cabeça.
belecidas e em menor tempo. Sugerimos que, de al- Desta forma, antecipadamente, foram escondi-
guma forma, a premiação seja desfrutada de forma das as pistas da caça ao tesouro, que levavam à leitu-
coletiva, no nosso caso, realizamos um grande pi- ra de um direito, por exemplo, à pista sobre o direito
quenique com todos os participantes, batemos pal- à educação, que estava escondida nas imediações da
mas e entregamos um livro para cada integrante da escola do bairro. Quando a equipe localizava a pista
equipe vencedora. na escola, ela tinha como conteúdo o direito à saúde,
Essa atividade pode ser realizada de inúmeras for- que levava à unidade básica de saúde do bairro, e as-
mas, com a entrega de um cartão-ponto para a equi- sim sucessivamente. Ao final, com todas as pistas em
pe marcar em cada ponto do mapa ou, ainda, se tiver mãos, a equipe deveria montar um quebra-cabeça
disponível, bússolas para orientação das equipes. com o nome do Estatuto da Criança e do Adoles-
cente e com um desenho representativo dos direitos
• Caça ao tesouro:
infantojuvenis.
Essa experiência ocorreu em um projeto de exten- Esse quebra-cabeça foi montado pelas equipes
são universitária que tem o brincar como principal em um encontro anterior do projeto, em que elas
conteúdo e que desenvolve suas atividades em uma desenharam a respeito dos direitos do estatuto em
praça pública. Nesse projeto, participam crianças e uma cartolina que, posteriormente, foi plastificada e
adolescentes. A temática desenvolvida pelos educa- recortada pelos(as) educadores(as), visando a mon-
dores na ocasião foi sobre o Estatuto da Criança e tar o quebra-cabeça.
do Adolescente, assim, esta foi também a temática A equipe vencedora deveria cumprir as etapas da
do caça ao tesouro que ocorreu no bairro em que as caça ao tesouro em menor tempo e montar o quebra-
atividades do projeto ocorrem, no qual as crianças e -cabeça e, assim, receber o baú com o tesouro, que
adolescentes moram. eram bombons para todos os integrantes da atividade.
160
EDUCAÇÃO FÍSICA
161
JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS
162
conclusão geral
C
aro(a) aluno(a), nesta unidade, tratamos de diferentes infâncias, diver-
sas culturas lúdicas e distintas experiências educativas com os jogos,
brincadeiras e brinquedos. Destacamos aqui o potencial de resistência
do lúdico; da ocorrência deste em diferentes culturas; da superação da
concepção de um ideal de infância e de cultura lúdica; e a possibilidade de recriar
ações sistematizadas com jogos, brinquedos e brincadeiras, buscando ampliar o
repertório de atividades educativas.
Essas proposições partem da concepção de que os jogos, brinquedos e brin-
cadeiras precisam ser analisados e trabalhados partindo de sua constituição his-
tórica e social. Reiteramos que não existe uma forma homogênea de vivenciar
a cultura lúdica - esta afirmação visa a suplantar a visão linear de existir uma
maneira correta de brincar -, e que esta deve ser perseguida e implementada na
educação, como se este fosse o grande objetivo da educação com os jogos, brin-
quedos e brincadeiras.
Desta forma, não existe uma cultura infantojuvenil e um brincar global e úni-
co, como buscamos explicitar no texto com as múltiplas vivências e experiências
relacionadas ao brincar. Desse modo, por que teríamos uma única maneira de
trabalhar nos espaços educativos utilizando essa linguagem? Tomás e Fernandes
(2014, p. 16) afirmam que é urgente “[...] o fato de estas ideias terem necessaria-
mente de ser analisadas criticamente e ser contextualizadas a partir das especifi-
cidades culturais nas quais a infância acontece”.
O que temos, na realidade, são princípios que orientam a prática educativa e
que precisam ser introjetadas pelos(as) educadores(as), como o respeito à cultura
do grupo em que se trabalha e o profundo sentido de ser um(a) educador(a) e
pesquisador(a). As experiências e análises sobre cultura lúdica relatadas são fru-
tos de um intenso processo de pesquisa e estudo no que se refere ao papel dos(as)
adultos(as) nessa relação educativa com o brincar. Assim, elas nos preenchem de
ideias para novas possibilidades de atuação.
163
atividades de estudo
164
LEITURA
COMPLEMENTAR
165
LEITURA
COMPLEMENTAR
nal. Apesar das diferenças essenciais entre as diversas plo, uma revisão recente dos conceitos psicanalíticos e
orientações, sedimentadas na história da disciplina, as construtivistas sobre o jogo simbólico, postula que, ao
perspectivas psicológicas do imaginário infantil possuem contrário da ideia de uma diferença radical entre o jogo
um elemento comum, que é aliás inerente à própria da criança e o jogo do adulto, por imaturidade infantil, o
concepção moderna da infância: o imaginário infantil é que existe é um princípio de transposição imaginária do
concebido como a expressão de um déficit - as crianças real, que é comum a todas as gerações e se exprime, por
imaginam o mundo porque carecem de um pensamento exemplo, na experiência emocional das narrativas literá-
objetivo ou porque estão imperfeitamente formados os rias ou cinematográficas tanto quanto nas brincadeiras
seus laços racionais com a realidade. Esta ideia do déficit das crianças, constituindo assim uma “capacidade estri-
é inerente à negatividade na definição da criança, que tamente humana” (Harris, 2002), mas que é radicalizada
constitui um pressuposto epistêmico na construção so- pelas crianças. É, portanto, da ordem da diferença e não
cial da infância pela modernidade: criança é o que não do déficit que falamos, quando falamos do imaginário in-
fala (infans), o que não tem luz (o a-luno), o que não fantil, por relação com o dos adultos.
trabalha, o que não tem direitos políticos, o que não é Mas é numa vertente sociológica e antropológica que
imputável, o que não tem responsabilidade parental ou essa diferença pode fazer mais sentido. O imaginário in-
judicial, o que carece de razão, etc. fantil é inerente ao processo de formação e desenvolvi-
Sublinhamos que a negatividade definitória da infância mento da personalidade e racionalidade de cada criança
assenta numa base ideológica que é resultante do pro- concreta, mas isso acontece no contexto social e cultural
cesso de reflexividade moderna, e tem suporte no dis- que fornece as condições e as possibilidades desse pro-
curso científico e pericial. cesso. As condições sociais e culturais são heterogéneas,
A Psicologia tem sido a disciplina hegemônica na inter- mas incidem perante uma condição infantil comum: a de
pretação das formas de racionalidade e comportamento uma geração desprovida de condições autônomas de so-
das crianças. Recentemente, a revisão das bases episte- brevivência e de crescimento e que está sob o controlo
mológicas da disciplina tem vindo, porém, a contrariar as da geração adulta. A condição comum da infância tem a
concepções do déficit que atrás assinalamos. Por exem- sua dimensão simbólica nas culturas da infância.
166
EDUCAÇÃO FÍSICA
167
JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS
Site direcionado a um projeto de difusão, pesquisa e contato com a cultura lúdica em diversos locais,
nele estão disponíveis materiais, vídeos e brincadeiras interessantes para a formação do(a) professor(a)
/profissional.
Disponível em: <http://territoriodobrincar.com.br/o-projeto/>. Acesso em: 28 jun. 2017.
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referências
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NANDES, N. Brincar, brinquedos e brincadeiras: Scritta, 1992.
169
gabarito
170
EDUCAÇÃO FÍSICA
conclusão geral
Prezado(a) aluno(a), nesta caminhada que realiza- Neste material, priorizamos a compreensão da
mos juntos(as) entre as inúmeras reflexões e estu- cultura lúdica a partir de seu potencial de expressão,
dos a respeito do conteúdo de Jogos, Brinquedos e assim, não só buscamos estabelecer reflexões com o
Brincadeiras, muitas possibilidades de configuração contexto social e histórico em que as crianças e ado-
da ação educativa com essa linguagem foram deline- lescentes estão incluídas, como também seu brincar
adas. Este foi o principal objetivo na elaboração des- e jogar. Buscamos isso por meio de pesquisas e estu-
te material: fornecer a você, futuro(a) professor(a)/ dos que contribuíram para a conceituação, reflexão
profissional de Educação Física, subsídios teórico- sobre a prática pedagógica na área, a constituição
-práticos para enriquecer sua atuação profissional. histórica dos jogos, brinquedos e brincadeiras e as
O brinquedo, o jogo e a brincadeira configu- diversas possibilidades de realizar ações educativas
ram-se, além de um conteúdo essencial na Educa- com essas linguagens.
ção Física, como uma expressão da vida humana, Desejo que o estudo deste livro colabore com a
que é vivenciada com mais intensidade na infância. formação de você, caro(a) aluno(a), no sentido de
Essas linguagens são a principal produção infanto- que a ação educativa com os jogos, brinquedos e
juvenil e uma necessidade inerente a esta categoria brincadeiras supere a noção de ocupação do “tem-
geracional. Reivindicamos que ela seja preservada, po livre” infantojuvenil, tão praticada pelo mundo
estimulada e reconhecida desta forma, não apenas adulto. Almejo que a ação educativa se estabeleça
nos espaços comumente chamados de educativos, em direção à ressignificação dessa linguagem e à
mas por toda a sociedade. Oportunizar o brincar emancipação social das crianças e adolescentes com
e o jogar são direitos das crianças e adolescentes quem se trabalha, considerando sempre que elas são
reconhecidos em lei. produtoras de cultura: a cultura lúdica.
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