Você está na página 1de 15

VAMOS FALAR A MESMA

LÍNGUA?
UMA ABORDAGEM PARA ENTRAR EM
ACORDO NA MANEIRA DE EDUCAR
AS CRIANÇAS

thais basile
FAMÍLIAS DIFERENTES

Quando nos tornamos pai ou mãe, nasce junto


com a criança a expectativa da mãe e pai
que queremos ser. Passamos horas pensando
em tudo que gostaríamos que ela aprendesse
conosco, características nossas que
gostaríamos que ela tivesse, quais virtudes
e valores gostaríamos de transmitir a ela.

À medida que essa criança vai crescendo,


costumam aparecer as discordâncias na
maneira de educar. Podemos pensar que
isso é somente uma questão de diferença
de opiniões, sem nos atentarmos que é em
grande parte a nossa experiência enquanto
filhos que vai moldar nossas crenças,
opiniões e ações diante da criança que
temos.  

"Todos aprendemos como ser


filhos de maneiras
diferentes, porque viemos de
famílias diferentes."
CAMINHOS CONHECIDOS

Quando pensamos em caminhos para educar,


facilmente nos vêm à cabeça os dois
extremos: autoritarismo e permissividade.

Não coincidentemente, é dentro desse


contexto que o conflito dos pais se
desenvolve. Normalmente um fica com a fama
de autoritário, enquanto o outro será
acusado de permissivo.

Não temos em nossa memória registros da


educação pelo caminho do meio, porque nós
mesmos fomos educados nesses dois extremos.
Castigos físicos, gritos, ameaças e
insultos em uma ponta e o "deixa pra lá" na
outra.

"O caminho do meio só vira uma


alternativa, quando as duas
partes estão dispostas a
questionar, com o coração
aberto, os extremos que viveram
na pele enquanto filhos."
LEALDADE INVISÍVEL

Se, por um lado, o autoritarismo não


permite uma relação de abertura emocional
e verdade com os pais, por outro lado, a
permissividade não permite que a criança
lide de uma maneira saudável com suas
frustrações e desejos.

Quando viramos adultos, reproduzimos de


maneira inconsciente as estratégias de
educação que nossos cuidadores utilizaram,
como que para nos sentirmos próximos deles,
ou numa tentativa de entender dores que
ainda temos em nós. É preciso ter em mente
que eles fizeram o melhor que podiam com a
consciência e informação que possuíam na
época, e nós também podemos fazer o nosso
melhor, tendo em mente o nosso melhor será
diferente do melhor deles.

"Nossas dores infantis podem nos


levar a utilizar inconscientemente
estratégias antigas de educação
com nossa criança."
UMA CONVERSA FRANCA

Por conta da importância que a educação das


crianças tem, é preciso deixar de lado a
vontade de convencer o outro a ir pelo nosso
caminho, porque quem se sente acuado tende a
atacar. É preciso conversar com o coração
aberto, com a intenção de entender o outro,
de ouvir, de se vulnerabilizar e assim
conseguir chegar num acordo que priorize a
criança.

A seguir, coloco sete estratégias para que


os cuidadores consigam falar a mesma língua
na educação da criança.

"O outro só se abre pra nos ouvir


quando se sente ouvido."
1- FALEM SOBRE O MEDO

Normalmente quando discordamos do outro


cuidador, temos medo que a criança fique
confusa com duas abordagens de educação
e que isso possa prejudicá-la. Sentimos
medo de não conseguir dar tudo que ela
precisa para se desenvolver emocionalmente
saudável, feliz e bem sucedida. Temos medo
que a criança cresça emocionalmente fraca,
que não saiba lidar com frustrações, que se
torne uma pessoa que não leva os outros em
conta, que não seja empática e assertiva.
Temos medo que a criança se sinta
insuficiente ou inadequada como talvez
nós mesmos tenhamos nos sentido na nossa
infância.

Quando agimos a partir do medo não dito,


ele se transforma em raiva e em acusações.
Conversem sobre seus medos.

"A criança precisa de cuidadores


dispostos a entenderem seus medos,
para aprender na prática
a entender os seus."
2- O GRANDE ACORDO

Vocês agora descobriram que seus medos lhes


mostram que têm os mesmos objetivos (educar
uma criança saudável emocionalmente e cheia
de habilidades de vida), mas apesar de
adotarem estratégias diferentes para chegar
nos mesmos objetivos, vocês podem tentar
entrar num acordo.

Descubram o que os dois acham essencial e


joguem às claras. O grande acordo pode
envolver nunca dar tapas e palmadas, e
sempre deixar o outro terminar de falar com
a criança, sem interrompê-lo ou corrigi-lo,
conversando privadamente depois, se
necessário.

Depois de entrarem em acordo sobre isso,


escrevam as condições essenciais num papel e
o deixe às vistas.
"A criança precisa de cuidadores
dispostos a entrarem em
acordo por ela."
3- COMPARTILHEM DADOS

Compartilhem informações seguras e
atualizadas, de fontes sérias, para
subsidiar as condições essenciais do seu
acordo. Abaixo, dois estudos que podem ser
usados pra essa finalidade:

Um dos maiores estudos sobre disciplina, que


envolveu mais de 160 mil crianças por 5
décadas, descobriu que quanto mais recebia
palmadas, maior a probabilidade da criança
exibir comportamentos anti-sociais e de
apresentar problemas de saúde mental no
futuro: DISPONÍVEL SOMENTE EM INGLÊS AQUI.

Uma publicação importante da associação


americana de pediatria, que também orienta
os pais sobre os problemas dos gritos e
violências verbais: DISPONÍVEL SOMENTE EM
INGLÊS AQUI.
"A criança precisa de cuidadores
dispostos a reavaliarem as
próprias crenças
por ela."
4- PEÇA AJUDA

Quando começamos o processo de entender


nossa maneira de educar e o quanto isso
impacta a criança, queremos logo que o outro
cuidador consiga ter as mesmas descobertas
que nós. Ou, se por outro lado, ainda
estamos inseguros sobre se o caminho que
escolhemos é o melhor, buscamos a aprovação
do outro a todo custo, para que nós mesmos
nos sintamos mais seguros sobre nossa
maneira de educar.
Nos dois casos, é preciso SE VULNERABILIZAR.
Fale de si, de tudo que já aprendeu, do
quanto ainda precisa aprender e de como
precisa da ajuda do outro cuidador. Isso
pode ajudar a outra pessoa a se abrir para
esse processo também.

"A criança precisa de cuidadores


dispostos a se apoiarem
mutuamente."
5- FALEM SOBRE MACHISMO

O machismo ensina diariamente os homens que


eles não podem entrar em contato com seu
mundo interno, com seus medos, porque serão
taxados de fracos. O problema disso é que as
emoções são impulsionadoras de ações, e o
medo não dito pode virar agressividade ou
autoritarismo. 

É preciso que saibamos separar autoridade de


autoritarismo. A autoridade vem do respeito
e da admiração, enquanto o autoritarismo vem
do medo. Não queremos que nossas crianças
tenham medo de nós, por isso é preciso
aprender na prática maneiras de ter
autoridade sem apelar para a agressividade
verbal ou física.

"A criança precisa de


cuidadores dispostos a aprender
maneiras de se comunicar que não a
faça sentir medo deles."
6- BUSQUEM JUNTOS

A educação pelo caminho do meio é uma


novidade muito grande, já que muitos de nós
não a vivemos na pele. Quando nos deparamos
com desafios de comportamento das nossas
crianças, muitas vezes nossa reação
"automática" é de explosão, afastamento ou
de não conseguir fazer nada, e é preciso
aprender maneiras de lidar que não
prejudiquem a saúde mental da criança e que
ensinem empatia, respeito e autorregulação
emocional a ela.

Sugestão para iniciar: meu curso em áudio


com 30 aulas curtas e muito potentes pra
ouvirem juntos, ou cada um no seu tempo:

SAIBA MAIS AQUI


"A criança precisa de
cuidadores dispostos a buscar novos
caminhos."
7- RECONHEÇA

Quando o outro cuidador mostrar sinais de


que está aberto a entrar em acordo, a
entender melhor seu mundo interno ou a
reavaliar posturas e conseguir minimamente
fazer isso na prática, reconheça seus
esforços! Mas não a partir de uma postura
manipulatória (vou elogiar para que a pessoa
faça mais disso), e sim a partir de um
desejo genuíno de encorajar e de aprenderem
juntos.

Esta postura gera conexão entre os


cuidadores e refletirá positivamente na
educação da criança.

"A criança precisa de


cuidadores dispostos a serem gentis
com a evolução deles mesmos e do
outro."
A AUTORRESPONSABILIDADE

É preciso que saibamos que, mesmo com todas


as tentativas de acordo, ele pode não
acontecer. A criança logo vai entender, à
sua maneira, quais os pontos fortes e fracos
da maneira de educar de cada cuidador. Cada
cuidador tem sua própria relação com a
criança, o caminho é trabalhar no teu
próprio aperfeiçoamento.

A criança também precisa entender que não é


a responsável pelo comportamento do outro,
que não "provocou" nada, apenas que aquele
cuidador ainda não trabalhou em si tudo que
poderia trabalhar e ainda não aprendeu tudo
que poderia aprender. É importante deixar
claro que podemos e devemos impedir
agressões, e isso não é "tirar a autoridade
do outro", é proteger a integridade da
criança.

"A criança precisa saber que o


adulto é responsável por suas
ações, não ela."
A POSTURA APRENDIZ

Crianças não precisam de pais perfeitos e


que nunca erram, isso é uma ilusão. Elas
precisam de pais que tenham o que chamo de
POSTURA DE APRENDIZ. Na prática, isso
equivale a reconhecer que ninguém tem todas
as respostas, mas que podem evoluir juntos.

A postura aprendiz se interessa por


movimento e não pelo ponto de chegada, a
postura aprendiz reconhece os esforços em
vez dos resultados, a busca em vez do
sucesso absoluto. A postura aprendiz busca
apoio, informação e parceria. Se trata de
aprender a tratar a si com mais lucidez,
compaixão e cuidado, para poder ter mais
lucidez, compaixão e cuidado com a criança
que tem.

"A criança precisa de


cuidadores que se colocam a serviço
da vida e da transformação e se
perdoem pelos erros,
aprendendo com
eles."
SOBRE A AUTORA

Thais Basile é mãe da Lorena, psicanalista,


escritora, educadora parental pela Positive
Discipline Association (EUA) e especializada em
Psicopedagogia Institucional. Trabalhou com
pesquisa e análise comportamental para
multinacionais por mais de quinze anos. Quando
começou a questionar sua própria forma de
educar, iniciou o projeto Educação Para a Paz,
com o intuito de levar o autoconhecimento, a
autoevolução e a propagação de relações mais
harmônicas e verdadeiras entre as pessoas,
utilizando a comunicação não violenta, teorias
de aprendizagem e fundamentos da psicanálise.
Já trabalhou diretamente com mais de 2 mil
famílias e conta com mais de
400 mil pessoas em suas redes.
Hoje realiza palestras em
todo o Brasil e é colunista
do portal da Revista
Vida Simples.

@EDUCAÇÃO PARA A PAZ


EDUCAÇÃO PARA A PAZ POR THAIS BASILE
EDUCAÇÃO PARA A PAZ

Você também pode gostar