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Leis de velocidade

APRESENTAÇÃO

O estudo cinético de reações auxilia na determinação de como as espécies químicas reagem.


Essa área fornece informações valiosas sobre o mecanismo de diversas reações, bem como a lei
de velocidade de muitas transformações químicas, por meio da obtenção de um conjunto de
equações diferenciais associadas entre si que ajudam a determinar a velocidade de cada etapa de
uma reação química.

Essa determinação possibilita e elaboração de um projeto de reator com as características


adequadas para a produção de determinado composto ou, ainda, melhorar o funcionamento de
algum reator que já esteja em operação, para que este opere fornecendo melhores rendimentos.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai ve como ocorre a determinação das leis de
velocidade, tanto para a reação global quanto para o consumo/formação de cada um dos
componentes da reação. Além disso, também vão ser abordadas a ordem de reação e as
características que esses sistemas apresentam. Por fim, vão ser estudadas as reações reversíveis e
compostas, buscando mostrar um pouco mais a determinação das leis de velocidade em sistemas
mais complexos.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Identificar as velocidades de reação e as reações relativas.


• Expor a ordem de reação e as leis de velocidade.
• Analisar reações reversíveis e a constante da velocidade das reações.

DESAFIO

A amônia é um dos compostos mais importantes produzidos pela indústria química, uma vez
que é utilizada como matéria-prima em
um grande número de processos. Entre as suas principais aplicações podemos destacar a síntese
de fertilizantes, os polímeros, o ácido nítrico, os produtos de limpeza, entre outros. Sua
produção industrial ocorre pelo processo Haber-Bosch, em que são misturados os gases
nitrogênio e hidrogênio.

Dessa forma, a compreensão da cinética química na formação desse composto é crucial para que
a planta industrial seja bem planejada e o processo de obtenção da amônia seja otimizado. Nesse
sentido, observe a situação a seguir.

Sendo assim, como o engenheiro químico responsável você deve:

a) descrever a equação balanceada de formação da amônia;

b) indicar a lei de velocidade dessa reação balanceada;

c) determinar a velocidade de consumo dos reagentes e produto no intervalo de tempo de 3h.

INFOGRÁFICO

A temperatura é um importante fator para o aumento da velocidade nas reações químicas. Com
o aumento da temperatura, ocorre o aumento da velocidade de reação, uma vez que as moléculas
ganham mais energia cinética. Esse aumento na energia do sistema leva a um aumento na
frequência das colisões, acelerando assim a velocidade das reações. Sabendo dessa relação entre
a velocidade e a temperatura, o químico sueco Svante Arrhenius desenvolveu uma relação
matemática que correlaciona essas variáveis.

Confira, no Infográfico a seguir, uma relação matemática e a sua abrangência entre o aumento
da temperatura com a constante de velocidade de reação (k), de forma independente da
concentração dos reagentes. A equação apresentada é conhecida como equação de Arrhenius,
uma importante ferramenta para a determinação de parâmetros reacionais em transformações
elementares e compostas.
CONTEÚDO DO LIVRO

Os maiores insumos químicos produzidos globalmente são sintetizados dentro de reatores


contínuos ou descontínuos. Para a produção adequada desses reagentes, é necessário que
conhecer os aspectos relacionados à cinética química das reações.

Dentro desse contexto, destaca-se o estudo para a obtenção das leis de velocidade, que fornecem
uma relação matemática entre a velocidade de uma reação e a concentração dos seus
componentes. Uma vez estabelecida a lei de velocidade de uma reação, ela permite uma melhor
projeção nos equipamentos necessários para a produção dos compostos de interesse, em maior
rendimento e menor custo.

No capítulo Leis de velocidade, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, conheça os


conceitos relacionados à obtenção de equações que descrevem a velocidade e a ordem de
reações químicas em sistemas homogêneos. Além disso, veja como obter as leis de velocidade
em sistemas reversíveis e compostos.

Boa leitura.
CINÉTICA
E PROJETO
DE REATORES
HOMOGÊNEOS
Leis de velocidade
Lucas Loss Baldassari

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Identificar as velocidades de reação e as reações relativas.


>> Expor a ordem de reação e as leis de velocidade.
>> Analisar reações reversíveis e a constante da velocidade das reações.

Introdução
Cinética química é a área responsável por estudar a velocidade das reações. Para
isso, diversos parâmetros são analisados, como a temperatura, a pressão, a con-
centração e estequiometria de reagentes e o volume. Do ponto de vista industrial,
o engenheiro químico deve compreender a cinética das reações químicas, pois ela
permite planejar a produção de determinado composto e calcular as dimensões
necessárias de reatores e outros equipamentos. É necessário conhecer a velo-
cidade das reações globais e elementares, o que é possível com a determinação
das leis de velocidade.
Neste capítulo, você vai estudar os conceitos básicos sobre a cinética das rea-
ções, com foco na obtenção das leis de velocidade de reações em fase homogênea.
Além disso, vai conhecer o desenvolvimento das leis de velocidade para reações
de primeira e segunda ordem, bem como reações de ordem zero, também serão
abordados. Por fim, vai conferir o desenvolvimento das leis de velocidade para
reações reversíveis e compostas.

Cinética química: leis de velocidade


As leis de velocidade das reações estão inseridas em um contexto de cinética
química em que são estudados diversos parâmetros relacionados à taxa de
2 Leis de velocidade

consumo de reagentes e formação de produtos. Esse tópico é especialmente


importante quando se realiza um balanço de energia ou massa em um reator
químico em que a reação é considerada e as transformações são representadas
pelas taxas de reações (SCHMAL, 2017).
Conforme descrito por Schmal (2017), num sistema aberto faz-se o balanço
molar em relação a cada um dos componentes de uma reação química do tipo:

O sistema pode ser representado pela Figura 1.

Figura 1. Balanço molar entre reagentes e produtos em um reator.


Fonte: Adaptada de Schmal (2017).

Para um sistema homogêneo fechado, ou seja, com pressão e temperatura


constantes, a velocidade de reação (r) pode ser definida como:

(1)
Leis de velocidade 3

onde V é o volume da mistura reacional, ξ é o grau de avanço da reação


(ou seja, o quanto os reagentes já foram consumidos e transformados em
produto), e t é o tempo.

Um sistema em fase homogênea é aquele em que os reagentes estão


dissolvidos na mesma fase ou têm o mesmo estado físico, sendo
solúveis mutuamente. As reações homogêneas ocorrem normalmente
em fases gasosas ou líquidas. Um exemplo dessas reações é o craqueamento
do gás etano para a obtenção dos gases eteno e hidrogênio.

A velocidade da reação do componente A (rA), caso esteja ocorrendo uma


única reação, é obtida pela relação entre a variação do número de mols
desse componente pelo intervalo de tempo no qual ocorreu a variação da
sua composição e pelo volume do reator. Com isso, chegamos na seguinte
equação (SILVEIRA, 2015):

(2)

onde nA indica o número de mols de A consumidos ou produzidos, V o volume


de reagentes, e t o tempo.
Na grande maioria dos casos, em um sistema homogêneo, o volume da
reação não varia ao longo do tempo, permitindo utilizar a equação de con-
centração molar para reescrever as equações da velocidade:

(3)

A taxa de formação dos produtos (ou a taxa de consumo dos reagentes) é


expressa pela velocidade da reação. Nesses casos, é observado o consumo
de mols de reagentes por unidade de volume, representando a variação do
número de mols de produtos ou reagentes por unidade de tempo e volume.
Assim, tomando como base um sistema em fase homogênea, a unidade uti-
lizada é a de mols/L · h (onde L = litro e h = hora). Outra definição importante
4 Leis de velocidade

é a representação de rs, que é a taxa de formação de um produto s ou (–rA), a


taxa de desaparecimento do reagente A (SCHMAL, 2017).
Para um sistema homogêneo:

(4)

Além disso, em um grande número de casos, é necessária a avaliação


das quantidades da mistura reacional após um determinado período de
tempo da reação. Devido a isso, é mais conveniente expressar a veloci-
dade de consumo ou formação de um componente com sua conversão
fracional (X), que está relacionada ao número de mols de cada composto
(SILVEIRA, 2015).

(5)

onde, nA é o número de mols de A, e n0A é o número de mols inicial de A.


Substituindo na Equação 2, temos que:

(6)

Reações cujos compostos são gases também podem ocorrer de maneira


isométrica, mediante a utilização de um reator de batelada de volume
fixo. Quando isso ocorre, a velocidade de consumo dos reagentes pode
ser expressa pelo termo de pressão parcial do componente correspon-
dente (SILVEIRA, 2015). Sabendo que a equação de gases ideais é PV = nRT,
temos que:

(7)

Substituindo nA na Equação 2, obtemos:

(8)
Leis de velocidade 5

De modo geral, para uma dada reação química aA + bB → rR + sS (a, b,
c e d são os coeficientes estequiométricos dos reagentes e produtos), as
velocidades de consumo dos reagentes A e B e de formação dos produtos
C e D são dadas pela equação a seguir:+ sS (a, b, c e d são os coeficientes
estequiométricos dos reagentes e produtos), as velocidades de consumo
dos reagentes A e B e de formação dos produtos C e D são dadas pela
equação a seguir:

(9)

Além disso, a velocidade da reação é dependente da temperatura


e da composição dos componentes. A equação da velocidade pode ser
descrita como o produto de uma constante de velocidade de reação
função da temperatura (k) e uma função das concentrações dos com-
ponentes da reação(f1), conforme mostra a equação a seguir (BADINO
JUNIOR; CRUZ, 2012):

(10)

A Equação 10 revela que a concentração de um dado componente é, em


geral, diretamente proporcional à velocidade da reação.

É comum encontrar na literatura a atribuição de valores negativos


para a velocidade de consumo dos reagentes e valores positivos
para a formação dos produtos. No entanto, por convenção, ambos os valores
de velocidade para consumo e formação de compostos são positivos.

Profissionais da engenharia química devem ser capazes de identificar


parâmetros de velocidade de reações, pois isso é crucial na indústria
química, uma vez que, mediante a sua definição, é possível projetar o
reator para uma dada reação química (OLIVEIRA, 2017). A velocidade de
consumo dos reagentes e a consequente formação de produtos podem ser
observadas graficamente. Para uma dada reação na qual A é transformado
em B (A → B), tem-se uma diminuição na quantidade molar do reagente A
com o passar do tempo e um aumento no número de mols de B, conforme
mostra a Figura 2.
6 Leis de velocidade

Figura 2. Formação de produtos e consumo de reagentes em uma reação química.


Fonte: Adaptada de Oliveira (2017).

Na Figura 2, a quantidade inicial do reagente A (NA0) é 1 (representando


100% da soma do número de mols dos componentes presentes no reator),
enquanto o número de mols do produto B é zero. Com o passar do tempo, em
um volume definido, a taxa molar de B começa a aumentar, e a de A começa
a diminuir. Quando as duas curvas se interceptam, temos dentro do reator
uma quantidade equimolar de A e B, mas, com o passar do tempo, aumenta
a quantidade de B e diminui a de A (OLIVEIRA, 2017).
Confira a seguir como as velocidades podem ser medidas (SILVEIRA,
2015).

„„ Médias: fornecem informações limitadas para projetar reatores.


„„ Iniciais: especialmente importantes em reações que envolvem inúme-
ras etapas e apresentam informação sobre a formação de produtos
secundários.
„„ Instantânea: fornece a velocidade real de uma reação química em
um dado instante, sendo esta a mais adequada para se analisar ou
projetar um reator.

De acordo com Wright (2004), as velocidades de reação podem ser clas-


sificadas conforme o tempo necessário para que consumam os materiais de
partida e formem os produtos. Por exemplo, reações ácido-base de neutra-
Leis de velocidade 7

lização costumam ser extremamente rápidas, como a reação entre cátions


hidrônios (H3O+) com ânions hidroxila (HO–), ou muito lentas, podendo levar
anos para se completarem, como no caso da conversão de diamante em
grafite. O Quadro 1 apresenta algumas classificações e os respectivos tempos
de reação para as reações químicas.

Quadro 1. Correlação entre tipos de reação e seus tempos para a conversão


completa

Tipo de reação Conversão completa Meia-vida

Muito rápida Microssegundos ou 10 –12 a 10 –6 segundos


menos

Rápida Segundos 10 –6 a 1 segundo

Moderada Minutos ou horas 1 a 3 segundos

Lenta Semanas 103 a 106 segundos

Muito lenta Semanas ou anos > 106 segundos

Fonte: Adaptado de Silveira (2015).

Ordens de reação e as leis de velocidade


Outra importante capacitação que profissionais da engenharia química deve
ter é a análise e a composição de projeto em que estejam envolvidas rea-
ções químicas, sabendo identificar as leis de velocidade. Isso porque, ao
conhecermos a lei cinética e as constantes de velocidade de uma reação,
podemos prever as velocidades em diferentes condições operacionais de
temperatura e concentração. Além disso, é possível obter informações sobre
o mecanismo das reações com as leis de velocidade, o que possibilita um
maior conhecimento sobre o sistema que está sendo planejado. Por fim, é
possível separar os termos que dependem da concentração daqueles que
dependem da temperatura (SILVEIRA, 2015).
Para reações elementares, a lei cinética pode ser obtida a partir da equa-
ção química e, se as reações forem irreversíveis (o produto não se decom-
põe para os reagentes), as velocidades podem ser expressas em função do
consumo dos reagentes ou formação dos produtos (SILVEIRA, 2015). Para a
reação aA + bB → cC, a velocidade da reação é dada pela seguinte equação:
8 Leis de velocidade

(11)

onde k, kA , kB e kC são as constantes de velocidade, e C é a concentração de


cada componente elevado no seu coeficiente estequiométrico. Dessa forma,
substituindo essas equações na Equação 9 temos:

(12)

No estudo da cinética das reações químicas, a ordem de reação


representa uma relação matemática entre a velocidade de reação
e a concentração dos reagentes.

A ordem global de uma reação química é dada pela soma dos coefi-
cientes estequiométricos dos reagentes. Já a ordem específica de cada
reagente é dada pelo seu coeficiente estequiométrico. Confira os dois
exemplos a seguir:

Exemplo 1
aA + bB → cC → cC

„„ ordem da reação global = a + b

Exemplo 2
2CO(g) + O2(g) → 2CO2(g)

„„ lei de velocidade: r = k [CO]2 [O2]


„„ ordem de reação do CO = 2
„„ ordem de reação do O2 = 1
„„ ordem de reação global: 2 + 1 = 3
Leis de velocidade 9

Reações de ordem zero


Uma reação de ordem zero é aquela em que as velocidades independem da
concentração de reagentes. A equação da velocidade depende exclusivamente
da constante de velocidade. Para a seguinte equação A → B:

(13)

a expressão para o consumo de A será:

(14)

e a expressão para a formação de B será:

(15)

Com isso, sabemos que kA = kB = k


A equação para uma reação de ordem zero revela que a velocidade da
reação não depende da variação da concentração dos reagentes ao longo do
tempo; esta permanecerá constante ao longo do consumo de A, como mostra
a Figura 3 (SILVEIRA, 2015).

Figura 3. Reação de ordem zero.


Fonte: Adaptada de Silveira (2015).
10 Leis de velocidade

Por fim, ressalta-se a equação de ordem zero integrada, a qual é obtida


pela integração da equação de velocidade:

(16)

Integrando a Equação 16 da condição inicial (t = 0, CA = CA0) até o tempo t,


em que a concentração de A é CA , tem-se:

(17)

Reações de primeira ordem


Reações de primeira ordem são aquelas em que a velocidade da reação varia
linearmente com a concentração dos reagentes. Para a seguinte equação
A→B0, temos que:, temos que:

(18)

(19)

(20)

Neste caso, também temos que k = kA = kB.


Nas reações de primeira ordem, a velocidade aumenta de maneira propor-
cional ao aumento da concentração dos reagentes. Assim, caso a concentração
de um reagente seja triplicada, a velocidade da reação aumentará três vezes
(SILVEIRA, 2015). A Figura 4 apresenta o gráfico que correlaciona a velocidade
com a concentração, evidenciando que essas variáveis estão correlacionadas
em uma escala linear.
Leis de velocidade 11

Figura 4. Reação de primeira ordem.


Fonte: Adaptada de Silveira (2015).

Além disso, ressalta-se a equação de primeira ordem integrada, a qual é


obtida pela integração da equação de velocidade:

(21)

Integrando a Equação 21 da condição inicial (t = 0, CA = CA0) até o tempo t,


em que a concentração de A é CA , tem-se:

(22)

Por fim, é importante ressaltar o tempo de meia-vida (t1/2), que é o período


necessário para a conversão de 50% do material de partida em produto.
Para uma reação de primeira ordem, podemos chegar em uma relação
envolvendo a constante de velocidade com o t1/2. Para isso, deve-se assu-
mir que t = t1/2, a concentração de C A é C A0/2. Substituindo esses valores na
Equação 22, temos que:

(23)
12 Leis de velocidade

Reações de segunda ordem


Considerando uma reação de segunda ordem do tipo 2A → B, podemos deduzir
a equação geral de velocidade de uma maneira similar à realizada para as
reações anteriores. Dessa forma, temos que: B, podemos deduzir a equação
geral de velocidade de uma maneira similar à realizada para as reações
anteriores. Dessa forma, temos que:

(24)

(25)

(26)

Comparando as equações 24 a 26, é possível verificar que a relação entre


as constantes de velocidade entre as espécies é a seguinte:

kA = 2kB = 2k
Podemos concluir que, para reações de segunda ordem, as velocidades
variam com o quadrado da concentração do reagente A. Caso a concentração
do reagente seja triplicada, isso resultará em um aumento na velocidade
da reação em nove vezes (SILVEIRA, 2015). A Figura 5 apresenta o gráfico
que correlaciona a velocidade com a concentração, evidenciando que essas
variáveis estão correlacionadas em uma escala quadrática.

Figura 5. Reação de segunda ordem.


Fonte: Adaptada de Silveira (2015).
Leis de velocidade 13

Além disso, ressalta-se a equação de segunda ordem integrada, a qual é


obtida pela integração da equação de velocidade:

(27)

Integrando a Equação 27 da condição inicial (t = 0, CA = CA0) até o tempo t,


em que a concentração de A é CA , tem-se:

(28)

As constantes de velocidade k apresentam unidades diferentes de acordo


com a ordem da reação:

„„ ordem zero: k: (mol/L · h)


„„ primeira ordem: k: (h–1)
„„ segunda ordem: k: (L/mol · h)

Reações reversíveis e compostas e suas leis


de velocidade
Reações reversíveis são aquelas cujo reagente é consumido dando origem
a um produto, e esse produto pode se decompor dando origem ao reagente
da reação. Com isso, é uma reação composta por duas etapas elementares: a
de formação do produto e a de formação do reagente. Uma das maneiras de
identificar esse tipo de reação é com a seta de reação, que apresenta duas
setas para ambos os lados, como na reação:

A B
A velocidade resultante da reação (consumo de um reagente ou formação
de um produto) é o obtida pela soma entre a reação direta e a inversa (SIL-
VEIRA, 2015). Essa situação é representada pela seguinte equação, na qual
um reagente j está sendo consumido ou um produto j está sendo formado:

(29)
14 Leis de velocidade

onde vj é o número estequiométrico, e k1 e k2 são as constantes de velocidade


da reação direta e inversa. Na Equação 29, o primeiro termo se refere ao
somatório da velocidade de consumo dos reagentes, e o segundo ao soma-
tório da velocidade de formação dos reagentes pela reação indireta. Vamos
analisar a seguinte reação:

Sabendo que todos os coeficientes estequiométricos são iguais a 1 e que


vA = –1 e vC = +1, utilizando a Equação 29 podemos chegar nas leis de velocidade
para A e C, as quais são:

(30)

(31)

No contexto de reações reversíveis, é importante estudar as reações


compostas, em que mais de uma etapa elementar ocorre para a formação de
um determinado composto. No estudo de reações compostas, também existe
a presença de inúmeras constantes de velocidade, uma para cada etapa. A
análise de reações compostas é feita pela identificação de cada uma das
reações elementares, resultando em diversas equações cinéticas, uma para
cada componente (SILVEIRA, 2015).
Um dado componente de uma reação composta pode ser formado ou con-
sumido em mais de uma etapa, ou formado em apenas uma etapa e consumido
em várias, entre outras situações. Para determinar a velocidade de consumo
ou formação de um composto, é necessário obter uma velocidade resultante
(ou velocidade líquida). Essa velocidade considera todas as vezes em que um
componente é formado ou consumido e, segundo Silveira (2015), baseia-se
no princípio da independência (as reações ou etapas são autônomas). Isso
significa que cada etapa em que um composto está envolvido é analisada
de maneira isolada, não sendo a velocidade da etapa individual afetada por
nenhuma outra na qual o componente está presente.
A obtenção da velocidade de reação de um determinado composto j, por
exemplo, é obtida pelo somatório de todas as participações do mesmo no con-
junto de reações elementares. Considerando que j está presente em três etapas
elementares, sua velocidade é dada pela soma individual de cada uma delas:

(32)

(33)
Leis de velocidade 15

onde a velocidade de formação de j recebe o valor positivo, e a velocidade


do seu consumo, um valor negativo.

Exemplo 1
Confira como são feitas as equações cinéticas das seguintes reações
compostas:

„„
„„
„„
„„

onde k1, k2, k3, k4 e k5 são as constantes de velocidade da reação de uma


das etapas do sistema reacional. Inicialmente, são obtidas as expressões da
lei de velocidade de cada uma das etapas:

Etapa 1

r1 = k1 · C2A
Substituindo na equação geral R = vr:
R1A/–2 = R1B = r1
Considerando as leis de velocidade:
(–R1A) = 2k1 · C 2A e R1B = k1· C 2A (Equações para o consumo de A e formação de B)

Etapa 2

r2 = k2·CB
R2B/–1 = R2A/2 = r2
(–R2B) = k2 · CB e R2A = 2k2 · CB (Equações para o consumo de B e formação de A)

Etapa 3

r3 = k3 · CB · CC
R3B/–1 = R3C/–1 = R3D/1 = r3
(–R3B) = (-R3C) = R3D = k3.CB.CC (Equações para o consumo de B e C e formação de D)

Etapa 4

r4 = k4 · CD
R4D/–1 = R4A/1 = R4B/1 = r4
(–R4D) = (R4A) = R4B = k4 · CD (Equações para o consumo de D e formação de A e B)
16 Leis de velocidade

Etapa 5

r5 = k5 · CD
R5D/–1 = R5E/2 = r5
(–R5D) = k5 · CD e R5E = 2k5 · CD (Equações para o consumo de D e formação de E)

Velocidade resultante para formação de A (R A)

RA = R1A + R2A + R3A + R4A + R5A

onde R3A = R5A = 0, pois A não está envolvido nas etapas 3 e 5:

R1A + R2A + R4A = RA = –2k1 · CA2 + 2k2 · CB + k4CD

Note que o reagente A é consumido na etapa 1 e, por isso, sua velocidade


está com sinal negativo. Já nas etapas 2 e 4, ele é formado e, por isso, sua
velocidade está com sinal positivo.

Velocidade resultante para formação de B (RB)

RB = R1B + R2B + R3B + R4B + R5B

onde R5B = 0, pois B não está envolvido na etapa 5.

R1B + R2B + R3B + R4B = RB = k1 · CA2 – k2 · CB – k3 · CB · CC + k4CD

O reagente B é consumido nas etapas 2 e 3, o que faz sua velocidade estar


com sinal negativo. Já nas etapas 1 e 4, ele é formado, o que faz sua velocidade
estar com sinal positivo.

Velocidade resultante para formação de C (RC)

RC = R1C + R2C + R3C + R4C + R5C

onde R1C = R2C = R4C + R5C = 0, pois C não está envolvido nas etapas 1, 2, 4 e 5.

R3C = RC = – k3 · CB · CC
O reagente C é consumido na etapa 3, resultando na velocidade com sinal
negativo.

Velocidade resultante para formação de D (RD)

RD = R1D + R2D + R3D + R4D + R5D

onde R1D = R2D = 0, pois D não está envolvido nas etapas 1 e 2.

R3D + R4D + R5D = RD = k3 · CB · CC - k4CD – k5CD


Leis de velocidade 17

O reagente D é consumido nas etapas 4 e 5 e, por isso, sua velocidade está


com sinal negativo. Já na etapa 3, ele é formado e, por isso, sua velocidade
está com sinal positivo.

Velocidade resultante para formação de E (RE)

RE = R1E + R2E + R3E + R4E + R5E

onde R1E = R2E = R3E = R4E 0, pois E não está envolvido nas etapas 1, 2, 3 e 4.

R5E = RE = 2k5CD
O reagente E é formado na etapa 5 e, por isso, sua velocidade está com
sinal positivo.

Referências
BADINO JUNIOR, A. C.; CRUZ, A. J. G. Reatores químicos e bioquímicos: um texto intro-
dutório. São Carlos: UFSCar, 2012.
OLIVEIRA, N. M. B. Fundamentos de cinética e introdução ao cálculo de reatores. Londrina:
Editora e Distribuidora Educacional, 2017.
SCHMAL, M. Cinética e reatores: aplicação na engenharia química. 3. ed. Rio de Janeiro:
Synergia, 2017.
SILVEIRA, B. I. Cinética química das reações homogêneas. 2. ed. São Paulo: Blucher, 2015.
WRIGHT, M. R. An introduction to chemical kinetics. West Sussex: John Wiley & Sons, 2004.

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DICA DO PROFESSOR

Muitas reações químicas têm sua velocidade determinada pelos dados experimentais. Nesses
casos, a evolução de uma reação pode ser acompanhada por meio de medidas da concentração
de algum componente ou de alguma propriedade física do sistema.Após a obtenção dos dados
experimentais, estes podem ser tratados por diferentes métodos, tais como o diferencial, o
integral e o das meias-vidas.

Nesta Dica do Professor, veja como é feita a determinação da velocidade de reação pelo método
diferencial.

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EXERCÍCIOS

1) Para uma reação não elementar, a velocidade de uma reação química está diretamente
relacionada com a concentração de seus componentes, sendo possível prever a ordem da
reação mediante avaliação da influência da concentração que certos componentes têm na
lei de velocidade. A seguinte tabela apresenta as alterações na velocidade das reações
quando ocorre a alteração na concentração dos reagentes:
Sabendo que a reação estudada ocorre em mais de uma etapa para a formação dos
produtos, determine a sua lei de velocidade.

A) V = k×[A]2×[B]3×[C].

B) V = k×[A]2×[B]×[C]3.

C) V = k×[A]4×[B]3×[C]8.

D) V = k×[A]×[B]×[C].

E) V = k×[A]×[B]2×[C]3.

2) Na cinética química, uma reação de segunda ordem é aquela cuja velocidade varia
conforme o quadrado da concentração do reagente. Sabendo disso, determine as
velocidades de reação, consumo de A e formação de B da reação de segunda ordem
do tipo 2A → B, em que são dados os valores da constante de velocidade k (kA =
1,65×10-3L/mol×s) e de CA = 0,25mol/L.
A) (–RA) = 1,0312×10-4mol/L×s e RB = 0,5156×10-4mol/L×s.

B) (–RA) = 0,5156×10-4mol/L×s e RB = 1,0312×10-4mol/L×s.

C) (–RA) = 1,0312×10-5mol/L×s e RB = 0,5156×10-5mol/L×s.

D) (–RA) = 1,357×10-4mol/L×s e RB = 0,6856×10-4mol/L×s.

E) (–RA) = 0,6856×10-4mol/L×s e RB = 1,357×10-4mol/L×s.

3) As reações químicas podem ser classificadas conforme as suas características de


reatividade.

Reações de combustão, por exemplo, são irreversíveis e formam como produto gás
carbônico e água. As reações __________ são aquelas que existe um equilíbrio na
formação de produtos pelos reagentes e a síntese de reagentes pelos produtos. Com
isso, é uma reação constituída por duas reações ____________. Já nas reações
___________ ocorre mais de uma etapa elementar para a formação de um
determinado composto, existindo diversas constantes de velocidade, uma para cada
componente.

Leia as alternativas e assinale a que preenche as lacunas de forma correta.

A) Elementares, químicas, compostas.

B) Reversíveis, não elementares, elementares.

C) Reversíveis, elementares, compostas.

D) Compostas, elementares, reversíveis.

E) Reversíveis, não elementares, compostas.


4) A ordem global das reações químicas nos auxiliam a entender como a velocidade de
uma reação está relacionada com os coeficientes estequiométricos de seus
componentes. A seguir estão descritas diferentes equações químicas elementares:

2H2O2 → 2H2O + O2 (Eq. 1)

2H2 + 2NO →N2 + 2H2O (Eq. 2)

2NO + Br2 →2NOBr (Eq. 3)

Sobre essas reações são feitas as seguintes afirmativas. Marque (V) para as
verdadeiras e (F) para as falsas.

A ordem global para a reação da Equação 2 é 4, e sua lei de velocidade pode ser dada
pela seguinte equação: V = k×[H2]2×[NO]2.

() Na Equação 1, a ordem global de reação é 3, e a ordem de reação para o reagente


H2O2 é 2.

Na reação da Equação 3, a ordem de velocidade global da reação é 3, e as ordens de


reação para os reagentes NO e Br2 são, respectivamente, 2 e 1.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

A) F, V, V.

B) F, F, V.

C) V, F, F.

D) V, F, V.

E) V, V, F.

5) As reações de primeira, segunda e ordem zero apresentam diferentes características quanto


à correlação da concentração dos reagentes e à velocidade das reações. Os gráficos a seguir
mostram as relações entre velocidade de consumo para um dado reagente A e a sua
concentração.

Correlacione os gráficos com a ordem de reação e assinale a alternativa correta.

A) Gráfico 1: ordem de reação 1. Gráfico 2: ordem de reação 0. Gráfico 3: ordem de reação 2.

B) Gráfico 1: ordem de reação 2. Gráfico 2: ordem de reação 0. Gráfico 3: ordem de reação 1.

C) Gráfico 1: ordem de reação 1. Gráfico 2: ordem de reação 2. Gráfico 3: ordem de reação 0.

D) Gráfico 1: ordem de reação 2. Gráfico 2: ordem de reação 1. Gráfico 3: ordem de reação 0.

E) Gráfico 1: ordem de reação 0. Gráfico 2: ordem de reação 1. Gráfico 3: ordem de reação 2.


NA PRÁTICA

Reações elementares levam a formação do produto em apenas uma etapa. Para esse tipo de
reação, a ordem de velocidade pode ser obtida a partir da equação química cujos coeficientes
estequiométricos fazem parte da relação entre a concentração e a velocidade. Quando a reação
estudada não é elementar, ou seja, leva a formação do composto de interesse em mais de uma
etapa, a lei de velocidade da reação deve ser obtida mediante análise da etapa lenta, que é a
determinante para a velocidade desta.

Veja, Na Prática a seguir, como o engenheiro Marcelo utilizou seus conhecimentos sobre
cinética química para obter a lei de velocidade de uma reação não elementar a partir de dados
experimentais.
SAIBA +

Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:

Química: lei da velocidade

Confira esta interessante videoaula sobre as leis de velocidade, explicada pelo professor Thiago,
do canal Explica Mais. Ele aborda a obtenção da lei de velocidade por meio da correlação entre
a concentração de reagentes de uma reação química e a sua influência na velocidade da
transformação química estudada.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Concepções sobre cinética química: a influência da temperatura e da superfície de contato

Neste artigo, leia a influência de importantes parâmetros reacionais sobre a cinética das reações.
Veja com mais detalhes que o aumento da temperatura conduz ao aumento da colisão entre
moléculas, aumentando a energia cinética do sistema, acelerando as reações e facilitando a
formação de produtos.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Cinética química: velocidade média

Neste vídeo, confira a obtenção da velocidade média em transformações químicas. Esse tipo de
abordagem é importante quando é observada uma variação na concentração dos reagentes com o
passar do tempo, sendo estes consumidos em diferentes taxas.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Projetos de processos químicos industriais

Estude as leis de velocidade neste interessante livro, que reforça os conceitos mais importantes
de cinética química e apresenta exemplos de como esse tópico é estudado na indústria.

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