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Bajour Cecilia Ouvir Nas Entrelinhas
Bajour Cecilia Ouvir Nas Entrelinhas
entrelinhas
O valor da escuta nas
práticas de leitura
illa Bajour
pulo do gáto
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gata letrado
í Bajour, Cecília
í Ouvir nas entrelinhas: O valor da escuta nas práticas de
leitura / Cecília Bajour; tradução dc* Alexandre Morales
• São Paulo: Lditora Pulo do Cato, vou. j
I !
I isbn 97tt-05-64V74-av 4
1. Iláhitos dc leitura 2. Leitores s Ijeilura - Estudo e
j ensino 4. Livros r* leitura 5. Promoção da leitura 1. Titulo ;
j u-04725 cuo-028 |
t 1
ó Irrecusável convile
por João Luís Ceccantini
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Ouvir nas entrelinhas:
o valor da escuta nas práticas
de leitura*
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de Edura^o dc BrigoU f p^L,
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r Escrita (Asdcctura) — Bogotá.
6 & outubro d f 2003
.. quando o silêncio já era de confiança,
inteninha na música, passava entre os sojis
cotno um gato com seu grande rabo preto
e os deixava repletos de intenções."
O SILÊ N C IO , FELISBERTO HERNÁNDEZ
7 Dahl, Roald. Cuentos en verso para ninos perversos [Revolting Rhymes, 1982].
Trad. de Miguel Azaola. Buenos Aires: Alfaguara, 2008. (Col. Especiales
Álbum); Perrault, Charles. La Caperuáta Roja. Ilustrações de Leticia Gotli
bowski. Buenos Aires: Eclipse, 2006. (Col. Libros-Álbum dei Eclipse);
Pescetti, Luis. Caperuáta Roja (tal como se lo contaron a Jorge). Ilustrações de
0 'Kif. Buenos Aires: Alfaguara, 1996. (Col. Infantil).
50 Perrault e dos irmãos Grimm para cotejar, ap reciar e
reconhecer junto com as crianças as tran sfo rm ações
paródicas e as releituras do escrito q u e certas ilu s
trações ensejam.
Uma delas, Eleonora, fundam entou o p ro cesso de
escolha deste modo:
10 Ibídem.
A ênfase na capacidade de construir sentidos de
todos os leitores, e não na carência, na diferença e nos
limites, m anifestou-se com força numa oficina de leitura
realizada por dois mediadores, Roberto e Mariel, com
um grupo de jovens e adultos portadores de diversas
patologias mentais e motoras em um centro de reabi
litação e estimulação. A proposta consistia em explorar
o gênero "conto m aravilhoso" como via para trazer à
tona relações de intertextualidade em contos populares
e em diversas versões contemporâneas. Em seu traba
lho de final de curso, Roberto começou a se pergun
tar se era p o ssível "p en sar em um a oficina de leitura
para pessoas q ue não estão alfabetizadas e que em
virtud e de su as capacidades intelectuais reduzidas
jam ais p o d erão chegar a se alfabetizar".11 A ideia de
Graciela M on tes de q u e "não existem analfabetos de
significação: som os tod os construtores de sentido"12
13 Patte, Geneviève. Si nos dejaran Iccr: los ninos y las bibliotecas [Se nos
deixarem ler: as crianças e a biblioteca]. Trad. de Silvia Castrillón. Bogotá:
Cerlal/Prolectura/Kapelusz, 1984. (Col. Lectura y Educación).]
O tem po todo, pelos seus com entários, verbalizações 55
m ínim as ou atitudes (buscar, encontrar, mostrar, assina
lar), nós, coordenadores, percebem os que eles conhecem
as histórias das quais estam os falando, para além dos
livros que as contêm . E todos eles, a seu m odo e com
suas possib ilid ad es tão particulares, nos fazem saber
disso a cada instante. Penso que dessa form a consegui
mos encontrar u m a m aneira de dialogar sobre livros
e sobre literatura, possibilitando que cada intervenção
individual ajudasse e enriquecesse essa construção cul
tural do im aginário que estamos fazendo em conjunto .14
15 Wolf, Ema. "EI senor Lanari". In: Los imposibles lOs impossíveis]. Ilus
trações dc Jorge Sanzol. Buenos Aires: Sudam ericana, 1988. (Col. Pan
Elaula).
O seguinte fragmento do registro da conversa de 57
Karina sobre o conto mostra como a incógnita se
desdobra em razão da falta de certezas a respeito do
paradeiro do personagem quando se desteceu.
17 Ibidem.
Falo de uma escuta alimentada com teorias, já que
para reconhecer, apreciar c potencializar os achados
construtivos se torna produtivo o m anejo de alguns
saberes teóricos por parte do mediador. Não me refiro
à teorizarão como uso de terminologias ou discursos
específicos da teoria literária ou da retórica da imagem
como etiquetas "corretas" de achados interpretativos.
A leitura de um poema, por exemplo, se for apenas
uma via para detectar, isolar, dissecar e m encionar
hipérboles, sinestesias, antíteses, m eloním ias etc., dei
xa de fora a poesia e os leitores.
lí possível falar dos textos de forma profunda e
crítica sem fazê-lo "em jargão". No entanto, essa visão
não subestima os modos particulares que cada teo
ria lem para designar os procedimentos das diversas
artes. Ao contrário, uma escuta sensível, que valorize
os modos pelos quais cada leitor se refere ao conta
to com metáforas, perspectivas inusitadas, alterações
temporais, elipses etc., pode ser uma situação para
que essas descobertas sejam colocadas em diálogo
com algumas denominações técnicas. Trata-se de uma
maneira de transmitir culturas e pôr à disposição sabe-
/ • , .vê
res técnicos sobre a arte que não pretende ser "a ver-
cJade" acerca dos textos. A teoria é m obilizada a partir
daquilo que os leitores dizem sobre os textos, e não
de an tem ão: q u a n d o e la p reced e a leitura, condicio
na e fecha sen tid os.
M ariela, o u tra p ro fe ss o ra in te re ssa d a em desa
fiar a si m esm a e aos leitores com textos belos e sem
concessões, e d esejo sa de "ficar d isp o n ível de corpo
e alm a para escutar", refletiu so b re essas questões ao
escrever su a e x p e riê n c ia de leitu ra de p o esia com
jovens entre 13 a 20 an o s de idade. Seu projeto foi
realizado em u m centro co m u n itário q u e organiza
atividades cultu rais e recreativas e oferece alm oço e
jantar para "ad olescentes em risco social" no sul da
região m etrop olitan a da p ro vín cia de Buenos Aires,
em um bairro b astan te m arcad o p ela exclusão. Veja
mos um fragm en to do registro de um encontro em
que propôs a leitura de u m p o em a q u e escapasse ao
con vencional nas leitu ras do gên ero nessas idades.