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Campinas, 2016
S.P. – Brasil
Resumo
O presente trabalho realiza uma análise de uma determinada residência pela ótica
da Termodinâmica, no caso uma casa de classe média. Tomando-se como base tal ideia,
foi realizada uma aplicação para uma república com nove moradores, no qual estavam
disponíveis os dados de hábitos de consumo de energia bem como equipamentos
existentes. Foram testados os efeitos do uso de coletores solar para aquecer a água e
substituir o chuveiro elétrico, os efeitos de adição de placas fotovoltaicas, bem como os
efeitos da substituição das lâmpadas convencionais pelas lâmpadas do tipo LED, dentre
outros. Ressalta-se que além do consumo de energia (redução de custos mensais), usou-
se como métrica para avaliar a residência a eficiência exergética, a partir do qual foi
possível comparar os cenários sem melhoria e com melhoria em uma mesma base
termodinâmica, ou seja, capacidade de realizar trabalho. A introdução de fontes renováveis
de energia e dispositivos econômicos foi testada com a finalidade de comprovar a real
viabilidade de tornar uma residência sustentável e ao mesmo tempo economicamente
viável. Finalmente, foi possível avaliar o efeito dessas modificações no cenário nacional, ou
seja, o quanto implementações desse tipo, se aplicadas em larga escala, afetam a matriz
energética de consumo nacional. É importante salientar que o principal resultado do
trabalho foi mostrar que tornar uma residência sustentável é factível e economicamente
viável.
ii
ABSTRACT
The current work makes an analysis of a particular residence from the perspective
Thermodynamics in case of an average home. Taking this idea as a parameter, a study for
a shared house where nine girls live together was made because the energy consumption
habits and the equipments were available. The effects of using solar energy to heat water
and replace the electric shower were tested as well as the effects of adding photovoltaic
panels and replacing the conventional light bulbs for LED lamps. It is noteworthy that in
addition to the energy consumption (reduction of the monthly costs), the exergy efficiency
was used as a metric to study the residence. That made possible to compare the two
different scenarios (with and without improvements) under the same thermodynamic basis
i.e. capability to do work. The introduction of renewable energy sources and energy efficient
devices were tested in order to prove the real feasibility of making a sustainable residence
and at the same time economically viable. Finally, it was possible to evaluate the effect of
those changes on a national scenario i.e. how modifications of this type when applied in
large scale affect the national energy matrix. It is important to have in mind that the main
goal of the work was to show that making a sustainable residence is feasible and
economically viable.
iii
LISTA DE FIGURAS
iv
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1: Resumo das categorias e critérios para obtenção do Selo Casa Azul CAIXA na
classificação bronze.
Tabela 3.1: Consumo elétrico e de GLP, por tipo de equipamento doméstico.
Tabela 3.2: Histórico de consumo de energia elétrica pela república estudada.
Tabela 3.3: Valores atualizados do consumo elétrico e GLP para a residência estudada
(toe = tonelada de óleo equivalente).
Tabela 3.4: Eficiência energética e exergética dos dispositivos eletrônicos que mais
consomem energia em uma residência.
Tabela 3.5: Resumo da participação no consumo energético e eficiências dos
Tabela 3.6: Consumo referente ao chuveiro elétrico.
Tabela 3.7: Tempo médio que um chuveiro elétrico passa ligado por dia, por dia e por
moradora e consumo diário de água em litros.
Tabela 3.8: Consumo referente à iluminação.
Tabela 3.9: Consumo mensal médio de cada tipo de lâmpada
Tabela 3.10: Especificações das lâmpadas usadas para o estudo.
Tabela 3.11: Consumo mensal referente à geladeira.
Tabela 4.1: Especificação da lâmpada LED de 6,5 W usada para estudo da viabilidade.
Tabela 4.2: Tempo médio em que as lâmpadas ficam acesas em horas por dia.
Tabela 4.3: Consumo mensal de energia devido à iluminação após substituição de todos
os dispositivos por lâmpadas LED.
Tabela 4.4: Preços dos dispositivos que compõem o sistema fotovoltaico.
Tabela 4.5: Especificações após investimentos realizados.
v
NOMENCLATURA
vi
𝐺 Ganho por radiação solar, kWh/m².
𝐼 Índice de radiação, kWh/m².
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
LED Light Emitting Diode
NZEB Net Zero Energy Building
𝑁𝐵 Número de baterias necessárias em um sistema fotovoltaico.
𝑀 Número de módulos solares.
𝑆𝑆𝐹 Potência a ser fornecida pelo sistema fotovoltaico, kWh.
P lamp Potência da lâmpada, W.
𝑃𝑐𝑐 Potência média necessária do sistema fotovoltaico, kW PCC.
𝑊̇𝑉𝐶 Potência realizada sobre o volume de controle, kW.
PRI Prazo de Recuperação do Investimento.
𝑝0 Pressão no estado morto, kPa.
𝑅 Rendimento do sistema, %.
𝑄̇𝑉𝐶 Taxa de calor transferido na fronteira do volume de controle, kW.
𝑇0 Temperatura ambiente, ºC.
𝑇𝑓 Temperatura final da água, ºC.
𝑇𝑖 Temperatura inicial da água, ºC.
Toe Tonelada de Óleo equivalente
𝑊𝑒𝑓 Trabalho efetivamente realizado, kJ.
𝑉 Volume, m³.
VC Volume de Controle
vii
SUMÁRIO
Resumo ................................................................................................................................ ii
Nomenclatura...................................................................................................................... vi
Introdução ............................................................................................................................ 1
Lâmpadas......................................................................................................................... 18
Geladeira .......................................................................................................................... 21
viii
Aquecedor Solar de Água ........................................................................................ 24
Conclusões ........................................................................................................................ 45
Referências Bibliográficas................................................................................................ 46
ix
1. Introdução
2. Revisão Bibliográfica
A seguinte seção inclui algumas relações matemáticas assim como fonte de dados e
referências usadas nas análises energética e exergética. À vista disso, foram incluídas
algumas análises na literatura técnica e científica acerca do tópico de melhorias de
eficiências energéticas em residências.
2
𝑑𝐸𝑉𝐶 𝑉𝑒2 𝑉𝑠2
= ∑ 𝑚̇𝑒 (ℎ𝑒 + + 𝑔𝑧𝑒 ) − ∑ 𝑚̇𝑠 (ℎ𝑠 + + 𝑔𝑧𝑠 ) + 𝑄̇𝑉𝐶 − 𝑊̇𝑉𝐶 (1)
𝑑𝑡 2 2
𝑑𝐸𝑉𝐶
Nessa equação temos que corresponde à taxa temporal da variação de energia no
𝑑𝑡
volume de controle (VC), 𝑄̇𝑉𝐶 transferência de calor nas fronteiras do VC e 𝑊̇𝑉𝐶 potência
𝑉2
realizada sobre ou pelo VC. Os termos ∑ 𝑚̇ (ℎ + + 𝑔𝑧) referem-se ao fluxo de entalpia
2
𝑉2
(ℎ), energia cinética ( 2 ) e energia potencial gravitacional (𝑔𝑧) que entra (subscrito e) e que
𝑑𝑆𝑉𝐶 𝑄̇𝑉𝐶
= ∑ 𝑚̇𝑒 𝑠𝑒 − ∑ 𝑚̇𝑠 𝑠𝑠 + ∑ ̇
+ 𝑆𝑔𝑒𝑟 (2)
𝑑𝑡 𝑇
𝑑𝑆𝑉𝐶
Sendo a taxa temporal da variação de entropia no VC, 𝑄̇𝑉𝐶 a taxa de
𝑑𝑡
3
à Primeira Lei da Termodinâmica. Esse conceito, no entanto, não é o mais adequado para
descrever alguns aspectos importantes da utilização de recursos energéticos (MORAN, M.
e SHAPIRO, H., 2009).
O principal indicador é o uso primário de energia, que pode ser dividido em uso
energético para aquecimento de água, consumo por dispositivos eletrodomésticos, energia
usada para resfriamento ou aquecimento do ambiente, entre outros.
4
Nessa equação tem-se que a variação no tempo da exergia para esse volume de
𝑑 𝑑
controle é dada por𝑑𝑡 (𝐁) = 𝑑𝑡 (𝐸 + 𝑝0 𝑉 − 𝑇0 𝑆), a exergia associada ao calor transferido é
𝑇
𝐵𝑞𝑖 = ∑𝑖 𝑄𝑖 (1 − 𝑇0 ), o trabalho efetivamente realizado ou exergia pura denominada como
𝑖
𝑊𝑒𝑓 seguido pela exergia destruída ou trabalho destruído devido às irreversibilidades dado
5
É importante ressaltar que existe diferença ao se aplicar eficiência energética e
exergética. A primeira equação indica que energia é conservada independente da sua
qualidade ou capacidade de gerar trabalho. Já a segunda resulta em um melhor
entendimento de desempenho de um sistema por incluir o termo que leva em consideração
as irreversibilidades internas, além de comparar diferentes fontes de energia pela sua
capacidade de realização de trabalho (MOSQUIM et al., 2016).
Tabela 2.1: Resumo das categorias e critérios para obtenção do Selo Casa Azul CAIXA
na classificação bronze.
CATERGORIAS/CRITÉRIOS
1. QUALIDADE URBANA 4. CONSERVAÇÃO DE RECURSOS MATERIAIS
1.1 Qualidade de Entorno - Infraestrutura 4.1 Qualidade de Materiais e Componentes
1.2 Qualidade de Entorno - Impactos 4.2 Formas e Escoras Reutilizáveis
2. PROJETO E CONFORTO 4.3 Gestão de Resíduos de Construção e Demolição
2.1 Paisagismo 5. GESTÃO DA ÁGUA
2.2 Local para Coleta Seletiva 5.1 Medição Individualizada - Água
2.3 Equipamentos de Lazer, Sociais e Esportivos 5.2 Dispositivos Economizadores - Sistema de Descarga
2.4 Desempenho Térmico - Vedações 5.3 Áreas Permeáveis
2.5 Desempenho Térmico - Orientação ao Sol e Ventos 6. PRÁTICAS SOCIAIS
6.1 Educação para a Gestão de Resíduos de Construção e
3. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Demolição
3.1 Lâmpadas de Baixo Consumo 6.2 Educação Ambiental dos Empregados
3.2 Medição Individualizada - Gás 6.3 Orientação aos Moradores
6
do trabalho seria na categoria “Eficiência Energética”, introduzindo também uma análise
exergética para identificar perdas e ineficiências.
Essa é apenas uma das métricas de avaliação aplicadas hoje no Brasil. Duas outras
certificações ambientais também são aplicadas: o Aqua (Alta Qualidade Ambiental) e o
Leed (Leadership in Energy and Environmental Design). O primeiro foi desenvolvido no
Brasil a partir da certificação francesa Démarche HQE e o segundo é de origem
americana.
O processo Aqua conta com 14 categorias ou objetivos distribuídos em quatro bases
de ação: ecoconstrução, ecogestão, conforto e saúde. Já o sistema americano de
certificação Leed pontua soluções nos quesitos: espaço sustentável, localização, entorno,
eficiência no uso de água e de energia, qualidade do ar, uso de materiais, qualidade
ambiental interna, inovação e processos.
Não existem diferenças significativas no que diz respeito à definição de uma
residência sustentável. Todos visam, principalmente, a qualidade de vida do usuário e a
economia de água e energia, reduzindo o máximo possível do impacto ambiental.
Os aquecedores solares são uma proposta ao aquecimento de água com custo baixo
que evitariam maiores danos ao meio ambiente. São compostos basicamente por coletores
solares (placas) e um reservatório térmico (boiler) para armazenar a água aquecida.
A absorção da radiação solar ocorre nas placas coletoras que possuem em seu interior
tubulações normalmente de cobre por onde a água circula. A água é aquecida, portanto,
por um processo de condução e direcionada para o reservatório. Esses reservatórios
devem ser bem isolados termicamente para que a água seja mantida aquecida.
A figura abaixo (Figura 2.1) representa um esquema de instalação e funcionamento de
um aquecedor solar. Pode-se considerar que em um sistema como esse a água é
aquecida até aproximadamente 60ºC (PEREIRA, DUARTE et al., 2003).
8
Figura 2.1: Esquema de um coletor solar. FONTE: SOLETROL
9
Figura 2.2: Esquema de funcionamento de uma instalação fotovoltaica.
Fonte: NEOSOLAR
Os diodos emissores de luz (LED) surgiram no início dos anos 60 e são dispositivos
semicondutores que tem como princípio de funcionamento a eletroluminescência, emitindo
luz através da combinação de elétrons e lacunas em um material sólido (SÁ JUNIOR,
2007).
No que diz respeito a sustentabilidade, esse tipo de lâmpada é preferencialmente
escolhido, pois apresenta baixo consumo de energia, alto nível de eficiência e elevada vida
útil (SILVIA SOUTO), chegando a durar mais de 25.000 horas de uso ininterrupto atingindo
até 45.000 horas de vida útil (PHILIPS, 2010). Para efeito de comparação é válido citar que
uma lâmpada fluorescente compacta possui vida útil de aproximadamente 10.000 horas
(LUZ, 2012).
10
Há um grande esforço atualmente no que diz respeito a aumentar o uso de LED na
iluminação residencial. No entanto, existem ainda muitas barreiras, sendo uma delas a
dificuldade de visualizar em curto prazo o ganho econômico e a eficiência energética. No
trabalho serão discutidos os ganhos financeiros com investimentos como esse.
3. Materiais e Métodos
Figura 3.1: Modelo esquemático adaptado dos setores energéticos. Baseado em Mosquim
et al. (2016)
12
Figura 3.2: Evolução do índice do consumo residencial de energia e Eletricidade, do
consumo das famílias e do número de domicílios (EPE – Empresa de Pesquisa Energética,
2014). Considera-se um consumo de 100% em 1990.
13
Tabela 3.1: Consumo elétrico e de GLP, por tipo de equipamento doméstico.
(toe refere-se à tonelada de óleo equivalente).
Aparelho Consumo por tipo de energia
Elétrica Combustível
% 10³ toe % 10³ toe
Geladeira 22 20,35 - -
Lava Roupa 1 0,93 - -
Ferro 3 2,78 - -
Som 3 2,78 - -
TV 1 9,25 - -
Ar Cond. 11 10,18 - -
Chuveiro 26 24,05 - -
Lâmpadas 19 17,58 - -
Freezer 5 4,63 - -
Fogão - - 100 18,34
14
Figura 3.3: Histórico de consumo mensal.
Fonte: CPFL
Conforme representado na Tabela 3.2 e na Figura 3.3, o maior consumo energético foi
de 406 kWh referente ao mês de maio, representando um gasto de R$ 278,32. Em
contraponto, o menor consumo foi de 186 kWh no mês de agosto. Em julho, o consumo
reduz significativamente, pois muitas das moradoras não permanecem durante o período
de férias na república, o que explica a redução do preço na conta de agosto, que reflete os
valores de consumo do mês anterior.
Na Tabela 3.1 foram listados diferentes dispositivos eletrônicos, sendo que nem todos
eles são encontrados na república em questão. Para o trabalho, portanto, a porcentagem
dos equipamentos que não existem na residência será igualmente dividida entre os demais
para que o total de consumo continue em 100%. A Tabela 3.3 abaixo apresenta os novos
valores calculados que serão utilizados no trabalho.
15
Tabela 3.3: Valores atualizados do consumo elétrico e GLP para a residência estudada.
(toe refere-se à tonelada de óleo equivalente).
Aparelho Consumo por tipo de energia
Elétrica Combustível
% 10³ toe % 10³ toe
Geladeira 25,17 23,28 - -
Lava Roupa 4,17 3,86 - -
Som 6,17 5,71 - -
TV 4,17 12,18 - -
Chuveiro 29,17 26,98 - -
Lâmpadas 22,17 20,51 - -
Fogão - - 100 18,34
Tabela 3.4: Eficiência energética e exergética dos dispositivos eletrônicos que mais
consomem energia em uma residência.
Eficiência Energética ƞ(%) Eficiência Exergética ψ(%)
Fluorescente 20 18,5
Tipo de
LED 90 81
lâmpada
Incandescente 5 4,5
Geladeira 60 7,5
Aquecimento elétrico de água 90 10,8
16
(2016), muitos autores tratam a eficiência energética de aparelhos de ar condicionado e
geladeiras como equivalentes a cem por centro, tais ponderações não são necessárias à
luz da exergia. Para o cálculo das eficiências energéticas e exergéticas da residência como
um todo é necessário ter conhecimento da participação no consumo de energia de cada
aparelho (Tabela 3.3) e suas eficiências (Tabela 3.4) e também da especificação dos
demais dispositivos eletrônicos (MOSQUIM, R. 2016). Portanto, visando facilitar o estudo,
esses dados foram resumidos na Tabela 3.5.
𝑇0
𝑄𝑐ℎ𝑢𝑣 (1 − )
𝑇𝑓
𝜓= (6)
𝑊𝑒𝑙
17
No qual, 𝑊𝑒𝑙 = 𝜂 ∙ 𝑄𝑐ℎ𝑢𝑣 e as temperaturas 𝑇𝑓 e 𝑇0 devem ser definidos em Kelvin.
Considerando para a residência estudada o consumo do chuveiro elétrico como sendo
29,17 % do consumo total, chega-se aos dados indicados na Tabela 3.6. O chuveiro
elétrico corresponde, portanto, a um consumo médio mensal de 91,84 kWh.
Consumo devido
Mês Consumo total (kWh) ao chuveiro
elétrico (kWh)
Janeiro 319 93,05
Fevereiro 269 78,47
Março 346 100,93
Abril 365 106,47
Maio 406 118,43
Junho 303 88,39
Julho 300 87,51
Agosto 186 54,26
Setembro 304 88,68
Outubro 371 108,22
Novembro 318 92,76
Dezembro 291 84,88
Média 315 91,84
Observa-se que cada moradora toma em média um banho de 4 minutos e meio por dia.
Esse valor é abaixo da média brasileira, onde as pessoas costumam tomar banhos mais
demorados e com uma frequência maior que uma vez ao dia, não retratando, portanto, a
realidade da maioria dos brasileiros. Os primeiros cálculos e análises serão feitos a partir
desses dados. No entanto, o objetivo vai além e busca mostrar que até mesmo no pior dos
casos as substituições ainda seriam válidas.
3.2. Lâmpadas
19
Tabela 3.8: Consumo referente à iluminação
Consumo devido
Mês Consumo total (kWh) à iluminação
(kWh)
Janeiro 319 70,72
Fevereiro 269 59,64
Março 346 76,71
Abril 365 80,92
Maio 406 90,01
Junho 303 67,18
Julho 300 66,51
Agosto 186 41,24
Setembro 304 67,40
Outubro 371 82,25
Novembro 318 70,50
Dezembro 291 64,51
Média 315 70,28
20
Tabela 3.9: Consumo mensal médio de cada tipo de lâmpada
Φ
𝜂= (7)
P lamp ∙ 100
21
Onde P lamp é a potência da lâmpada determinada nas especificações técnicas desse
componente. As eficiências dos diferentes tipos de lâmpada já foram definidas na Tabela
3.4 e a partir desses valores será possível obter o fluxo luminoso de cada dispositivo.
Esse fluxo luminoso obtido será usado mais a frente no estudo para mostrar que a
eficiência interfere no número de lâmpadas necessárias para iluminar um ambiente e
consequentemente no consumo energético da residência.
3.3. Geladeira
22
Tabela 3.11: Consumo mensal referente à geladeira
Consumo devido
Mês Consumo total (kWh) ao uso da
geladeira(kWh)
Janeiro 319 80,29
Fevereiro 269 67,71
Março 346 87,09
Abril 365 91,87
Maio 406 102,19
Junho 303 76,27
Julho 300 75,51
Agosto 186 46,82
Setembro 304 76,52
Outubro 371 93,38
Novembro 318 80,04
Dezembro 291 73,24
Média 317 79,79
A modelagem descrita nos itens anteriores considerou uma residência nada tradicional
por tratar-se de uma república onde moram nove pessoas juntas, sendo que aos finais de
semana e nas férias esse número se reduz consideravelmente. Sendo assim, o estudo
dessa residência será apenas um exemplo para uma análise mais abrangente que servirá
para qualquer condição. Para tanto, é necessário definir alguns parâmetros de entrada
23
variáveis como, por exemplo, número de moradores da residência ou potência máxima do
painel solar.
É importante lembrar que até o momento nenhum hábito dos moradores foi alterado,
mantiveram-se durante todo o estudo os costumes de cada indivíduo. Essa premissa será
mantida inicialmente para desenvolver a análise do modelo geral, já que o intuito é mostrar
a importância de investimentos como os descritos anteriormente independentes de se
pregar a mudança de costumes. No entanto, será possível perceber com o
dimensionamento dos sistemas que o investimento para tornar a residência mais
sustentável é bem alto e com um tempo de retorno igualmente alto, sendo que muitas
vezes ainda existe a carência de área para instalação de painéis fotovoltaicos que supram
a demanda total da residência. Assim, fica claro que o ideal é a combinação da mudança
de hábitos com a introdução de tecnologias mais eficientes e com fontes renováveis.
Como a intenção dessa modelagem é abranger todos os casos, busca-se tornar
possível a simulação de situações em que os costumes dos habitantes também se alterem,
tanto para pior quanto para melhor. A partir disso, será possível analisar de forma realista a
situação de uma residência qualquer.
Para dar continuidade à modelagem algumas hipóteses devem ser assumidas e as
variáveis de entrada e saídas devem ser determinadas. Nesse sistema será considerado,
por exemplo, a eficiência do inversor de freqüência do sistema fotovoltaico (R) como sendo
igual a 95% e o mês como sendo composto por 30 dias. Para uma primeira análise, serão
assumidos alguns valores de forma a restringir as variáveis do sistema e tornar a análise
mais global. Essas hipóteses referem-se aos valores do poder calorífico da água (cágua=
4,186 kJ/kg.K), massa específica da água (ρágua= 998 kg/m³), fluxo luminoso e potência dos
diferentes tipos de lâmpada (Tabela 3.10), tempo médio em horas que cada lâmpada fica
acessa por dia (tlamp=5 h/dia), potência do chuveiro (Pchuv=4,5 kW) e eficiência do coletor
solar (ef=0,55).
A autonomia do sistema fotovoltaico, ou seja, o quanto as baterias aguentariam sem
serem recarregadas pelo sistema fotovoltaico foi igualmente fixada, como os demais
parâmetros listados. Seu valor foi estabelecido como sendo igual à 0,5, o que significa que
o projeto agüentaria metade do dia na ausência de qualquer radiação solar.
Os demais parâmetros variáveis para testes serão as entradas do sistema em questão,
definidas como irradiação solar do local (I), área total (Atotal) da residência disponível para
instalação de aquecedores ou painéis solares, área do módulo solar (Amódulo) definida nas
especificações do produto, a potência máxima do painel escolhido (Pm), o número de
24
consumidores (n), temperatura inicial (𝑇𝑖 ) e final (𝑇𝑓 ) da água a ser utilizado no banho, a
vazão do chuveiro (vazão), o consumo dos eletrodomésticos (Celetrod) e a área total da
residência que deve ser iluminada (Ailum). Os resultados serão as saídas do programa, ou
seja, o consumo total da residência (Ctotal), a área ocupada pelo coletor solar (S), bem
como a energia produzida apenas pelo sistema fotovoltaico (Eger) no mês e o consumo
energético necessário da rede elétrica.
A idéia do modelo é que seja possível simular diferentes situações. Para tanto, será
possível determinar, por exemplo, a porcentagem de lâmpada de cada modelo, a forma de
aquecimento da água do chuveiro ou a porcentagem de participação da energia gerada
pelo sistema fotovoltaico. Para o estudo de caso da república considerou-se que apenas
95% da energia gerada pelo sistema fotovoltaico (Eger) foi usada para suprir o consumo
energético da casa. É importante estabelecer uma margem como essa para garantir que
nenhum erro no processo de cálculos irá interferir na modelagem do sistema de forma a
subdimensioná-lo e isso será também considerado no modelo geral para garantir energia
elétrica suficiente para o consumo da residência.
Como resultado, busca-se encontrar o consumo total da residência (Ctotal), o quanto de
energia da rede elétrica (Celet) é necessário e qual será a economia ou retorno financeiro
de um investimento como esse.
4. Resultados e Discussões
Para dimensionar um sistema de aquecimento solar alguns fatores como radiação solar
média do local de instalação, e a orientação dos painéis devem ser levados em conta.
Além disso, é de extrema importância o dimensionamento correto do boiler que será
responsável por armazenar a água aquecida para evitar desperdícios e reduzir perdas.
Convencionalmente utiliza-se um reservatório com um volume de aproximadamente o
dobro do volume de água quente a ser consumido em um dia, sendo que a temperatura da
água é considerada em torno de 60 ºC.A partir da Tabela 3.6 conclui-se, portanto, que o
boiler desse coletor solar deve ser de no mínimo 489,82 litros. Considerando que exista
25
uma margem de erro será usado para o presente trabalho a capacidade adotada equivale
a 500 L.
O cálculo da área necessária de coletor solar é feita a partir das fórmulas abaixo:
𝑄
𝑆= (9)
𝐼. 𝜂
26
portanto, ser contabilizada para análise do investimento e do tempo de recuperação do
capital.
27
O sistema fotovoltaico é composto basicamente por um inversor de corrente, baterias
de armazenamento de carga e painéis solares. Esses três componentes podem ser
dimensionados com base nos dados de consumo diário de energia, que no caso estudado
é de 10,6 kWh/dia.
A bateria será o primeiro dispositivo a ser dimensionado. Como mencionado, o conjunto
deve gerar no mínimo 10,6 kWh por dia, que corresponde a média mensal de consumo no
ano de 2015 dividida pelo número de dias do mês. Utiliza-se aqui 95 % para a eficiência do
inversor, que também será especificado no decorrer desse estudo. O valor de potência a
ser gerado diariamente pelo sistema fotovoltaico na entrada do inversor será, portanto, o
consumo diário de energia dividido pela eficiência do inversor:
10,5
𝑆𝑆𝐹 = = 11,05 𝑘𝑊ℎ
0,95
11.050 × 0,5
𝐶𝑢 = = 460,4 𝐴ℎ
12
A bateria escolhida para o trabalho é a estacionária da marca Moura Clean que suporta
105 Ah. O número de baterias necessárias em paralelo será, portanto:
460,4
𝑁𝐵 = = 4,4
105
28
baterias que o valor realmente encontrado com o cálculo, o sistema aguentaria um total de
um pouco mais que 13 horas e 30 minutos.
Para o cálculo da potência gerada pelos painéis são necessários dados de radiação
solar incidente da região e o consumo médio diário. Em Campinas, a radiação média anual
diária é de 5,07 kWh/m² como visto no item 3.2 e o consumo energético a ser suprido pelo
painel solar é de 5,25 kWh por dia, correspondente a metade da média de consumo diário.
Assim, tem-se que:
𝐸 ⁄𝐺
𝑃𝑐𝑐 = (10)
𝑅
No qual:
𝑃𝑐𝑐 é a potência média necessária (𝑘𝑊𝑝𝑐𝑐 );
𝐸é o consumo médio diário durante o ano (kWh/dia);
𝐺 é o ganho por radiação solar e
R é o rendimento do sistema (%)
O rendimento do sistema está relacionado ao inversor, considera-se então R=95%.
5,25⁄
5,07
𝑃𝑐𝑐 = = 1,10 𝑘𝑊𝑝𝑐𝑐
0,95
𝑃𝑐𝑐
𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = (11)
𝐸𝑓𝑓
No qual:
𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = Área de painéis (m²)
𝑃𝑐𝑐 = Potência média necessária ( 𝑘𝑊𝑝𝑐𝑐 )
𝐸𝑓𝑓 = Eficiência do painel (%)
Esse valor é obtido com base no consumo energético da residência sem nenhuma
alteração. A partir do momento que as alterações forem feitas e o consumo como um todo
da casa diminuir, o sistema fotovoltaico será provavelmente capaz de gerar mais da
metade da energia necessária. Resultados como esses serão analisados através do
modelo desenvolvido no EES e apresentado em uma das próximas seções.
29
Retornando ao dimensionamento do sistema fotovoltaico, estima-se uma eficiência
de 15 % dos módulos, que é considerada relativamente alta. Para esse cálculo será usado
a potência média de 1,1 kWp encontrada anteriormente. Assim:
1,1
𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = = 7,33 𝑚²
0,15
30
Figura 4.3: Dimensões do painel solar
Dividindo-se a área necessária de painéis de 8,67 m² calculada pela dimensão do
módulo da Yingli Solar obtém-se o número de módulos necessários para suprir a demanda
energética da residência. Logo:
7,33
𝑀1 = = 4,5
1,63
O valor de M para ambas as formas de cálculo deve ser inteiro de modo que ainda
seja capaz de suprir a demanda energética. Logo, o arredondamento deve ser feito para a
unidade acima. Conclui-se que ao menos 5 painéis solares especificados com 250 Wp
31
devem compor o sistema fotovoltaico. Os métodos usados apresentaram uma pequena
diferença na unidade decimal, o que não alterou o resultado final.
O inversor de corrente elétrica também deve ser dimensionado e sua escolha também
se baseia no valor de potência máxima a ser consumido pela residência. Como essa
potência é de 1,1 kWp, o dispositivo escolhido pode operar na faixa de potência até 2,0
kW. O inversor Fronius Galvo 2.000W é, portanto, adequado para a residência estudada.
Em suas especificações está definida sua eficiência como 95 % como já utilizado para o
cálculo do número de baterias necessárias e para o funcionamento do sistema como
todo.Feito isso, os três dispositivos estão dimensionados.
Como já mencionado, o telhado possui irregularidades e a área calculada anteriormente
não pode ser simplesmente alocada para instalação dos painéis. Outra informação que se
deve ter em mente é que aproximadamente 8 m² do telhado já serão necessários para
montagem do coletor solar para aquecer a água. Levando em consideração os fatos
mencionados, uma ilustração da disposição dos módulos e do coletor solar foi elaborada
(Figura 4.4) para melhorar entendimento do sistema idealizado.
A partir da Figura 4.4 é mais fácil perceber que um sistema fotovoltaico totalmente
autônomo não seria inviável devido à indisponibilidade de espaço físico para instalação
dos demais módulos fotovoltaicos.
Nos próximos itens serão discutidos os benefícios econômicos de investimentos
como esse.
32
4.2. Análise Econômica dos Investimentos
5.404,60
𝑃𝑅𝐼𝑐𝑜𝑙𝑒𝑡𝑜𝑟 𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 = = 123 𝑚𝑒𝑠𝑒𝑠 = 10,3 𝑎𝑛𝑜𝑠
43,83
Tabela 4.1: Especificação da lâmpada LED de 6,5 W usada para estudo da viabilidade.
Tipo de lâmpada LED
Marca Philips
Modelo Bulbo
Potência [W] 9,0
Fluxo Luminoso[lm] 806
Tensão [V] 100-240
Vida Mediana [horas] 15.000
Preço médio por unidade [R$] R$15,00
Fonte: Philips (2016)
34
O cálculo da energia consumida por essas lâmpadas deve ser feito a partir do tempo
médio diário em que as lâmpadas ficam acessas na república. Considerando-se que não
houve mudança no hábito dos moradores após a troca, tem-se que não há variação no
valor desse tempo. O tempo médio que uma lâmpada fica acesso no mês, considerando
que cada mês tem trinta dias, é calculado a partir de uma média ponderada da quantidade
de horas que cada lâmpada fica acesa por dia, pois as lâmpadas incandescentes
consomem quatro vezes mais energia que as lâmpadas fluorescentes. Têm-se, assim, os
dados que serão usados para calcular o consumo energético das lâmpadas LED.
Tabela 4.2: Tempo médio em que as lâmpadas ficam acesas em horas por dia.
Tempo que uma lâmpada
Mês
fica acesa (h/dia)
Janeiro 4,75
Fevereiro 4,00
Março 5,15
Abril 5,43
Maio 6,04
Junho 4,51
Julho 4,46
Agosto 2,77
Setembro 4,52
Outubro 5,52
Novembro 4,73
Dezembro 4,33
Média 4,69
35
Tabela 4.3: Consumo mensal de energia devido à iluminação após substituição de
todos os dispositivos por lâmpadas LED.
Consumo total da
Mês
iluminação por LEDs (kWh)
Janeiro 23,07
Fevereiro 19,46
Março 25,03
Abril 26,40
Maio 29,37
Junho 21,92
Julho 21,70
Agosto 13,45
Setembro 21,99
Outubro 26,83
Novembro 23,00
Dezembro 21,05
Média 22,77
Considerando-se que cada unidade dessa lâmpada LED especificada custa R$15,00,
sendo necessário um total de 18 lâmpadas, o gasto inicial com os dispositivos de
iluminação é de R$270,00. Percebe-se aqui que o prazo de recuperação desse dispositivo
é bem rápido, sendo até mesmo menor que um ano. Em meses, o tempo de retorno do
investimento será:
270
𝑃𝑅𝐼𝑙â𝑚𝑝𝑎𝑑𝑎𝑠 = = 12 𝑚𝑒𝑠𝑒𝑠
22,44
36
as exigências dos consumidores. Nesse contexto, destaca-se no Brasil o Programa Selo
PROCEL, que tem como objetivo informar os consumidores sobre o desempenho
energético dos equipamentos elétricos que existe desde 1995.
Como descrito na seção 3.4, a geladeira Electrolux RE28 tem bom desempenho
energético, portanto apenas o refrigerador Consul 280L será substituído. A partir da lista do
INMETRO, opta-se pelo refrigerador Esmaltec ROC35, que satisfaz as necessidades da
república em tamanho e apresenta um consumo de energia de 21,9 kWh/mês como
registrado em suas especificações técnicas.
Dessa forma, o novo consumo energético referente ao uso dos refrigeradores seria em
média de 45,6 kWh/mês. Esse valor representa uma redução de 42,45 % do valor anterior,
representando uma economia de 33,64 kWh por mês.
A economia mensal em reais será feita, portanto, multiplicando-se os valores de
referência pela quantidade de energia poupada em um mês. Logo:
𝐸𝑐𝑜𝑛𝑜𝑚𝑖𝑎𝑚é𝑑𝑖𝑎 𝑚ê𝑠 = 0,30171 × 33,64 + 0,17548 × 33,64 = 𝑅$16,05 (7)
Para o futuro cálculo do tempo de recuperação do investimento, considera-se o custo
do novo refrigerador como sendo de R$998,00, encontrado no site do Walmart. Logo, o
tempo de retorno é igual à divisão do valor do refrigerador pelo valor da economia média
referente à substituição do aparelho em um ano. Assim:
998,00
𝑃𝑅𝐼 = = 5,2 𝑎𝑛𝑜𝑠
192,63
37
Tabela 4.4: Preços dos dispositivos que compõem o sistema fotovoltaico
Dimensionamento Sistema Fotovoltaico
Dispostivo Quantidade Preço/ unid.
Bateria 5 R$ 519,00 R$ 2.595,00
Módulo 5 R$ 889,00 R$ 4.445,00
Inversor 1 R$ 8.490,00 R$ 8.490,00
TOTAL R$ 15.530,00
Para calcular o tempo necessário para recuperar esse investimento é importante ter em
mente que a cada mês metade da energia consumida será suprida pelo sistema
fotovoltaico. Sendo a média no ano de consumo mensal de energia elétrica de 315 kWh, a
economia é equivalente a 157,5 kWh. Essa quantidade de energia corresponde à R$ 75,15
mensais seguindo os valores da tarifa da CPFL já definidos no item 4.1 (vide cálculo
abaixo).
𝐸𝑐𝑜𝑛𝑜𝑚𝑖𝑎𝑚é𝑑𝑖𝑎 𝑚ê𝑠 = 0,30171 × 157,5 + 0,17548 × 157,5 = 𝑅$75,15
Esse seria, portanto, o retorno mensal somente com a instalação do sistema
fotovoltaico, que resulta em um tempo de retorno do investimento igual a:
15.530,00
𝑃𝑅𝐼𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎 𝑓𝑜𝑡𝑜𝑣𝑜𝑙𝑡𝑎𝑖𝑐𝑜 = = 206 𝑚𝑒𝑠𝑒𝑠 = 17,2 𝑎𝑛𝑜𝑠
75,15
Concluindo:
38
22.202,60
𝑃𝑅𝐼𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = = 141 𝑚𝑒𝑠𝑒𝑠 = 11,7 𝑎𝑛𝑜𝑠
157,47
39
A intenção com esse modelo era se aproximar da realidade da república. No entanto,
algumas alterações foram feitas para generalizar o problema. Para os eletrodomésticos,
considerou-se o consumo total como sendo igual a 110 kWh e para a iluminação, foi
calculado o número de lâmpadas necessárias com base na área total a ser iluminada. Em
decorrência disso, o número de lâmpadas necessárias é consideravelmente maior que a
quantidade presente atualmente na residência.
A diferença mais considerável entre as duas diferentes formas de análise e que faz com
que o PRI seja de quase um ano de diferença é o fato de os cálculos de dimensionamento
e investimentos realizados fora do programa basearem-se no consumo energético da
residência total antes de qualquer alteração. Como esse consumo era bem maior que o
valor após a troca, por exemplo, das lâmpadas e do chuveiro elétrico, os resultados
acabam sendo reflexo de um sistema sobredimensionado, resultando em mais energia
produzida do que consumida.
Por isso, nesse modelo, não seria necessário consumir mais energia da rede, já que o
sistema fotovoltaico seria capaz de suprir toda a demanda interna depois de reduzir o
consumo devido ao chuveiro elétrico, à iluminação e aos eletrodomésticos. Isso explica o
valor negativo para a energia elétrica da rede (Celet). Caso fosse considerado o consumo
médio inicial da casa de 315 kWh, a energia gerada pelos painéis representaria apenas
metade desse consumo. Outra diferença é o número de baterias necessárias para
sustentar, como descrito, o consumo por metade do dia. Nessa situação simulada pelo
EES o número de baterias para o sistema fotovoltaico é menor, pois o consumo energético
já considerando todas as alterações é notavelmente menor.
No caso em que é produzida mais energia elétrica pelo sistema fotovoltaico do que
consumida, o consumidor precisaria pagar apenas a tarifa mínima da conta de luz e o
bônus energético gerado em um mês poderia ser abatido da fatura em meses futuros
dentro de um prazo de até 18 meses, caso esse cliente consuma energia da rede em
algum momento dentro desse intervalo. Decorrido esse período, essa pacote de energia
extra venceria, sem possibilidade de retorno financeiro. Ainda não existe a possibilidade de
vender esse saldo energético devido ao fato de o setor elétrico tratar-se de uma esfera
muito regulada e a venda envolver diferentes regulamentações e impostos.
Para trazer um segundo cenário do sistema que sirva para a maioria das famílias
brasileiras é preciso saber quantas pessoas compõe em média um lar brasileiro. De acordo
com o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 2010,
40
cada lar brasileiro tem 3,3 moradores em média. Dentre os serviços públicos existentes, a
iluminação elétrica está presente em quase todos os domicílios brasileiros (97,8%).
Nessa segunda simulação também serão feitas algumas hipóteses para adequar mais
o modelo a realidade do país. O total de painéis fotovoltaicos instalados não dependerá
mais da área total disponível, será fixado a quantidade de 2 painéis por residência. A área
da residência a ser iluminada, ou seja, o tamanho da casa será de 80 m², o que irá diminuir
o número de lâmpadas necessárias para iluminar adequadamente toda a casa.
Algumas outras considerações como o tempo médio de banho de cada pessoa como
sendo igual à 10 minutos (dentro da média nacional, com pessoas habitando diariamente a
residência, ao contrário da república) e o fato de que será entendido que existe a
possibilidade de substituir por completo o chuveiro elétrico, ou seja, toda área necessária
de coletor solar será satisfeita serão adotadas. Com um total de 3,3 moradores e banho
médio de 10 minutos por pessoa em um dia, o volume total do reservatório de água passa
a ser de 400 litros, o que diminui o investimento em R$ 200,00.
Os resultados desse novo modelo podem ser vistos na Figura 4.6 abaixo.
Figura 4.6: Fotografia de uma residência média brasileira gerado pelo sistema no EES.
41
108,6 kWh. Desse valor, 68,64 kWh são gerados pelo sistema fotovoltaico e o restante
corresponde simplesmente ao que se economizou ao trocar todas as lâmpadas para LED e
os eletrodomésticos (no caso a geladeira) para o modelo mais econômico no mercado.
Chegou-se a esse valor com base na análise anterior feita da república, considerando que,
percentualmente, a economia ao implantar essas melhorias seria a mesma nos dois casos.
O consumo total dessa residência passa a ser 130 kWh no mês e é preciso retirar da
rede elétrica apenas 61,39 kWh, pois o restante é suprido pelos painéis fotovoltaicos. O
tempo de retorno do investimento é consideravelmente maior devido ao fato de serem
instaladas apenas duas placas fotovoltaicas, sendo que o componente mais caro de um
sistema fotovoltaico é o inversor de freqüência.
Para entender o impacto de uma economia como essa, o resultado será multiplicado
pelo número total de residências brasileiras de forma a analisar quão grande seria a
economia em um aspecto nacional. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua (PNAD, 2012), o número de domicílios brasileiros atingiu o número de
62,8 milhões. Ao multiplicar esse número por 108,6 kWh, que representa a economia
mensal de energia elétrica, obtém-se um total de 6.780 GWh de energia economizada por
mês no Brasil.
Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) o consumo mensal de energia
elétrica na rede é de 37.000 GWh. Apenas nas residências, o consumo atinge em média
10.000 GWh por mês. Sendo assim, considerando que todas as residências
economizassem o mesmo tanto de energia elétrica com os investimentos sugeridos, seria
possível reduzir 18,3% do consumo médio mensal brasileiro de energia elétrica e 67,8 %
do consumo médio mensal de energia das residências.
Seguindo esse mesmo raciocínio, outra análise que pode ser feita para entender o
impacto de um resultado como esse é o quanto essa economia minimizaria de emissão de
dióxido de carbono (CO2). Para tanto, torna-se fundamental conhecer a matriz energética
brasileira e entender qual a porcentagem de energia produzida provém de combustíveis
fósseis. A Figura 4.7 representa a matriz elétrica brasileira do ano de 2015 e traz as
porcentagens da participação de cada setor no total. No ano de 2015, 75,5% da energia
elétrica produzida no país era devido a participação das fontes renováveis.
42
Figura 4.7: Matriz elétrica brasileira. EPE 2016.
43
mundos para reverter a situação ambiental atual e conseguir suprir a demanda energética
em crescimento sem poluir mais o meio ambiente seria, portanto, conciliar o investimentos
em fontes renováveis e tecnologias mais eficientes com melhoria dos hábitos e
conscientização da população quanto ao consumo de energia.
Estudar quantos equipamentos de ar condicionado poderiam ser instalados na
residência é uma abordagem diferente que também ajuda a entender o impacto das
alterações propostas. Para garantir o conforto térmico dos moradores, muitas residências
contam com eletrodomésticos voltados para a climatização de ambientes. No entanto,
esses aparelhos levam ao consequente aumento do consumo de energia.
Para calcular qual o consumo de energia de um ar condicionado é preciso saber quanto
tempo por dia o equipamento ficará ligado, o número de dias no mês que ele irá trabalhar e
sua capacidade térmica, normalmente fornecida em BTU/h. Aqui será considerado um
dispositivo de 7.000 BTU/h, ou seja, aproximadamente 900 W de potência que opera 15
dias no mês durante 8 horas. Sendo assim, é possível obter um consumo total no mês de
108 kWh por ar condicionado instalado. Como a economia mensal desse segundo modelo
foi de 108,6 kWh conclui-se, portanto, que o consumo energético decorrente das
mudanças realizadas na residência seria suficiente apenas a instalação de um aparelho
em toda a casa.
Esta seção será direcionada a apresentar uma análise energética e exergética das
mudanças realizadas na república, ou seja, as eficiências antes e depois das mudanças
realizadas. O intuito com isso é mostrar em nível termodinâmico o que os investimentos
em novas tecnologias trazem de proveitoso.
As eficiências energética e exergética são obtidas a partir da média ponderada das
eficiências dos dispositivos individualmente multiplicada pela sua participação no consumo
da residência. Considerou-se para as contas das eficiências antes de qualquer alteração
no modelo os dados dispostos encontrados na Tabela 3.5. Assim:
𝜂 = 56,3 %
44
Ψ = [(0,2517 × 0,075) + (0,1451 × 0,80) + (0,2917 × 0,108) + (0,2217 × 0,625 × 0,185)
+ (0,2217 × 0,375 × 0,045)] = 0,1958
Ψ = 19,6 %
O valor para eficiência exergética do aquecedor solar foi obtido a partir da equação
𝜂 = [(0,4070 × 0,71) + (0,2346 × 0,80) + (0,3584 × 0,90)] = 0,7996
𝜂 = 79,96 %
Ψ = 52,07 %
45
Com as alterações, portanto, é possível tornar a residência como um todo bem mais
eficiente tanto no âmbito energético quanto no exergético.
Apesar de a participação do chuveiro por aquecedor solar no cálculo da eficiência da
casa não ser considerada, calculou-se o seu valor com base na temperatura ambiente
considerada para o problema (T 0=25ºC) e a temperatura final que a água atinge ao ser
aquecida nos coletores (Tf=60ºC). Como pode ser visto na Tabela 4.5, a eficiência
exergética do chuveiro chegou a atingir o valor de 26,4 % por utilizar o sol como fonte para
o aquecimento.
5. Conclusões
6. Referências bibliográficas
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