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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA

Trabalho de Conclusão de Curso

Análise energética e exergética de uma residência:


implantação de métodos alternativos para redução das
perdas de energia

Autor: Luísa Moreira Filogônio


Orientador: Prof. Dr. Carlos EduardoKeutenedjianMady

Curso: Engenharia Mecânica

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Comissão de Graduação da


Faculdade de Engenharia Mecânica, como requisito para a obtenção do título de
Engenheira Mecânica.

Campinas, 2016
S.P. – Brasil
Resumo

O presente trabalho realiza uma análise de uma determinada residência pela ótica
da Termodinâmica, no caso uma casa de classe média. Tomando-se como base tal ideia,
foi realizada uma aplicação para uma república com nove moradores, no qual estavam
disponíveis os dados de hábitos de consumo de energia bem como equipamentos
existentes. Foram testados os efeitos do uso de coletores solar para aquecer a água e
substituir o chuveiro elétrico, os efeitos de adição de placas fotovoltaicas, bem como os
efeitos da substituição das lâmpadas convencionais pelas lâmpadas do tipo LED, dentre
outros. Ressalta-se que além do consumo de energia (redução de custos mensais), usou-
se como métrica para avaliar a residência a eficiência exergética, a partir do qual foi
possível comparar os cenários sem melhoria e com melhoria em uma mesma base
termodinâmica, ou seja, capacidade de realizar trabalho. A introdução de fontes renováveis
de energia e dispositivos econômicos foi testada com a finalidade de comprovar a real
viabilidade de tornar uma residência sustentável e ao mesmo tempo economicamente
viável. Finalmente, foi possível avaliar o efeito dessas modificações no cenário nacional, ou
seja, o quanto implementações desse tipo, se aplicadas em larga escala, afetam a matriz
energética de consumo nacional. É importante salientar que o principal resultado do
trabalho foi mostrar que tornar uma residência sustentável é factível e economicamente
viável.

Palavras Chave: Primeira Lei da Termodinâmica, Eficiência exergética, Residência


Sustentável.

ii
ABSTRACT

The current work makes an analysis of a particular residence from the perspective
Thermodynamics in case of an average home. Taking this idea as a parameter, a study for
a shared house where nine girls live together was made because the energy consumption
habits and the equipments were available. The effects of using solar energy to heat water
and replace the electric shower were tested as well as the effects of adding photovoltaic
panels and replacing the conventional light bulbs for LED lamps. It is noteworthy that in
addition to the energy consumption (reduction of the monthly costs), the exergy efficiency
was used as a metric to study the residence. That made possible to compare the two
different scenarios (with and without improvements) under the same thermodynamic basis
i.e. capability to do work. The introduction of renewable energy sources and energy efficient
devices were tested in order to prove the real feasibility of making a sustainable residence
and at the same time economically viable. Finally, it was possible to evaluate the effect of
those changes on a national scenario i.e. how modifications of this type when applied in
large scale affect the national energy matrix. It is important to have in mind that the main
goal of the work was to show that making a sustainable residence is feasible and
economically viable.

Keywords: First Law of Thermodynamics, Exergy Efficiency and Sustainable Houses.

iii
LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1: Esquema de um coletor solar.


Figura 2.2: Esquema de funcionamento de uma instalação fotovoltaica.
Figura 3.1: Modelo esquemático adaptado dos setores energéticos
Figura 3.2: Evolução do índice do consumo residencial de energia e Eletricidade, do
consumo das famílias e do número de domicílios (EPE – Empresa de Pesquisa Energética,
2014). Considera-se um consumo de 100% em 1990.
Figura 3.3: Histórico de consumo mensal.
Figura 4.1: Planta do telhado com os dimensionamentos.
Figura 4.2: Especificações Técnicas das placas solares da Yingli.
Figura 4.3: Dimensões do painel solar
Figura 4.4: Disposição dos painéis e do coletor solar no telhado da residência.
Figura 4.5: Fotografia da república pelo sistema gerado no EES.
Figura 4.6: Fotografia de uma residência média brasileira gerado pelo sistema no EES.
Figura 4.7: Matriz elétrica brasileira. EPE 2016.

iv
LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1: Resumo das categorias e critérios para obtenção do Selo Casa Azul CAIXA na
classificação bronze.
Tabela 3.1: Consumo elétrico e de GLP, por tipo de equipamento doméstico.
Tabela 3.2: Histórico de consumo de energia elétrica pela república estudada.
Tabela 3.3: Valores atualizados do consumo elétrico e GLP para a residência estudada
(toe = tonelada de óleo equivalente).
Tabela 3.4: Eficiência energética e exergética dos dispositivos eletrônicos que mais
consomem energia em uma residência.
Tabela 3.5: Resumo da participação no consumo energético e eficiências dos
Tabela 3.6: Consumo referente ao chuveiro elétrico.
Tabela 3.7: Tempo médio que um chuveiro elétrico passa ligado por dia, por dia e por
moradora e consumo diário de água em litros.
Tabela 3.8: Consumo referente à iluminação.
Tabela 3.9: Consumo mensal médio de cada tipo de lâmpada
Tabela 3.10: Especificações das lâmpadas usadas para o estudo.
Tabela 3.11: Consumo mensal referente à geladeira.
Tabela 4.1: Especificação da lâmpada LED de 6,5 W usada para estudo da viabilidade.
Tabela 4.2: Tempo médio em que as lâmpadas ficam acesas em horas por dia.
Tabela 4.3: Consumo mensal de energia devido à iluminação após substituição de todos
os dispositivos por lâmpadas LED.
Tabela 4.4: Preços dos dispositivos que compõem o sistema fotovoltaico.
Tabela 4.5: Especificações após investimentos realizados.

v
NOMENCLATURA

𝑆 Área do coletor solar, m².


𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 Área total de painéis solares, m².
𝑐á𝑔𝑢𝑎 Calor específico da água, kJ/(kg.K).
𝑄𝑐ℎ𝑢𝑣 Calor gerado pelo chuveiro para aquecer a água, kWh.
𝑄𝑖 Calor transferido, kWh.
𝐶𝑢 Capacidade útil da bateria do sistema fotovoltaico, Ah.
CPFL Companhia Paulista de Força e Luz
𝐸 Consumo médio diário durante o ano, kWh/dia.
𝐸𝑓𝑓 Eficiência do painel solar, %.
𝐸𝑉𝐶 Energia no volume de controle, kWh.
𝜂 Eficiência Energética, %.
Ψ Eficiência Exergética, %.
EPE Empresa de Pesquisa Energética
ℎ𝑠 Entalpia específica na saída do volume de controle, kW/kg
EES Engineering Equation Solver
𝑉𝑠2
Energia cinética, kJ.
2
𝑊𝑒𝑙 Energia elétrica fornecida pela rede, kWh.
𝑔𝑧𝑠 Energia potencial, kJ.
𝐻𝑒 Entalpia na entrada do volume de controle, kJ.
𝐻𝑠 Entalpia na saída do volume de controle, kJ.
𝑆𝑉𝐶 Entropia do Volume de Controle, kJ/K.
𝑠𝑒 Entropia específica na entrada do volume de controle, kJ/(kg.K).
𝑠𝑠 Entropia específica na saída do volume de controle, kJ/(kg.K).
𝑆𝑔𝑒𝑟 Entropia gerada, kW/K.
𝐵 Exergia, kJ.
𝐵𝑞𝑖 Exergia associada ao calor transferido, kJ.
𝐵𝑑𝑒𝑠𝑡 Exergia destruída, kJ.
𝑚̇𝑒 Fluxo de massa na entrada do volume de controle, kg/s.
𝑚̇𝑠 Fluxo de massa na entrada do volume de controle, kg/s.
Φ Fluxo luminoso, lm
GLP Gás Liquefeito de Petróleo

vi
𝐺 Ganho por radiação solar, kWh/m².
𝐼 Índice de radiação, kWh/m².
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
LED Light Emitting Diode
NZEB Net Zero Energy Building
𝑁𝐵 Número de baterias necessárias em um sistema fotovoltaico.
𝑀 Número de módulos solares.
𝑆𝑆𝐹 Potência a ser fornecida pelo sistema fotovoltaico, kWh.
P lamp Potência da lâmpada, W.
𝑃𝑐𝑐 Potência média necessária do sistema fotovoltaico, kW PCC.
𝑊̇𝑉𝐶 Potência realizada sobre o volume de controle, kW.
PRI Prazo de Recuperação do Investimento.
𝑝0 Pressão no estado morto, kPa.
𝑅 Rendimento do sistema, %.
𝑄̇𝑉𝐶 Taxa de calor transferido na fronteira do volume de controle, kW.
𝑇0 Temperatura ambiente, ºC.
𝑇𝑓 Temperatura final da água, ºC.
𝑇𝑖 Temperatura inicial da água, ºC.
Toe Tonelada de Óleo equivalente
𝑊𝑒𝑓 Trabalho efetivamente realizado, kJ.
𝑉 Volume, m³.
VC Volume de Controle

vii
SUMÁRIO
Resumo ................................................................................................................................ ii

Abstract ............................................................................................................................... iii

Lista de Figuras .................................................................................................................. iv

Lista de Tabelas ................................................................................................................... v

Nomenclatura...................................................................................................................... vi

Sumário ............................................................................................................................. viii

Introdução ............................................................................................................................ 1

Revisão Bibliográfica .......................................................................................................... 2

Primeira Lei da Termodinâmica .......................................................................................... 2

Entropia e Segunda Lei da Termodinâmica ....................................................................... 3

Análise Energética ............................................................................................................. 3

Análise Exergética ............................................................................................................. 4

Eficiência Energética e Exergética ..................................................................................... 5

Residências Sustentáveis .................................................................................................. 6

Melhorias Propostas ........................................................................................................... 7

Aquecedor Solar de Água .......................................................................................... 8

Painel Solar Fotovoltaico ........................................................................................... 9

Lâmpadas LED ........................................................................................................ 10

Análise Ambiental ............................................................................................................. 10

Materiais e Métodos .......................................................................................................... 11

Chuveiro Elétrico .............................................................................................................. 16

Lâmpadas......................................................................................................................... 18

Geladeira .......................................................................................................................... 21

Modelo Geral ................................................................................................................... 22

Resultados e Discussões ................................................................................................. 24

Dimensionamento do aquecedor solar e do sistema fotovoltaico ..................................... 24

viii
Aquecedor Solar de Água ........................................................................................ 24

Sistema Fotovoltaico ................................................................................................ 26

Análise Econômica dos Investimentos ............................................................................. 32

Instalação do Aquecedor Solar ................................................................................ 32

Substituição das Lâmpadas ..................................................................................... 33

Substituição dos Refrigeradores .............................................................................. 35

Instalação do Sistema Fotovoltaico .......................................................................... 36

Economia e Tempo de Amortização Total ............................................................... 37

Resultados do Modelo Elaborado .................................................................................... 38

Análise Energética e Exergética das melhorias ............................................................... 43

Conclusões ........................................................................................................................ 45

Referências Bibliográficas................................................................................................ 46

ix
1. Introdução

Pode-se afirmar que a energia é um recurso essencial à vida humana e o seu


desenvolvimento. Comparando-se a população atual com a dos séculos anteriores, bem
como o consumo de energia, nota-se a dependência da energia elétrica no padrão de
consumo da sociedade. No entanto, com o crescimento da população tornou-se necessário
buscar por fontes alternativas. Após a Revolução Industrial os combustíveis fósseis como o
carvão, o petróleo e o gás tomaram a liderança e passaram a ser utilizados em larga
escala. Isso trouxe diversas consequências para a sociedade, além de tornar de extrema
importância discussão sobre a poluição e emissão dos gases responsáveis pelo chamado
efeito estufa. A tarefa da sociedade é, portanto, buscar reverter essa situação.
A relação entre a questão ambiental e o desenvolvimento econômico deveria ter,
dessa forma, um grande papel nas políticas dos diferentes países. Por isso, as energias
renováveis já estão sendo incorporadas em alguns países ao planejamento energético de
larga escala. Contudo, não adianta apenas novos investimentos em fontes renováveis de
energia, tais alternativas devem ser aliadas ao uso racional e mais eficiente de energia.
Um exemplo de que é indispensável associar as mudanças técnicas com a mudança de
hábitos é o fato de que para produzir a mesma potência de um motor a diesel de
aproximadamente 130 cavalos (132,3 kW) seria necessária uma instalação fotovoltaica
com área igual a 130 m², considerando uma radiação solar diária média anual de 5,07
kW/m² e 20% de eficiência do painel solar, sendo esse o melhor dos cenários. Assim fica
evidente que a substituição sem conscientização e mudança de costumes não seria
possível em decorrência, principalmente, da alta demanda de área.
A proposta do presente trabalho é investigar a performance energética de uma
residência para qualificar e quantificar certas melhorias que podem ser introduzidas para
minimizar o consumo energético. Ademais, torna-se importante introduzir aqui o conceito
de análise exergética, que surge a partir de uma combinação da Primeira com a Segunda
Leis da Termodinâmica, pois a partir de estudos conclui-se que a análise energética nem
sempre fornece um indicador real de como o sistema chegaria perto do ideal (DINCER I,
ROSEN M., 2013).
A exergia quantifica o potencial de uso, representando o máximo trabalho teórico
possível de ser obtido a partir de um sistema até que ele atinja o equilíbrio com o meio
ambiente. A análise exergética compensa a incapacidade da análise energética de revelar
as perdas, sendo ideal para otimizar o uso dos recursos energéticos, pois torna possível a
1
determinação e quantificação das perdas em uma mesma base termodinâmica. Reduzir as
perdas exergéticas corresponde, portanto, a reduzir o consumo (MICHAELIS e JACKSON,
1998).
Posto tal cenário, no presente trabalho será realizada a análise energética de uma
determinada residência. Tal modelo é aplicado a uma república com nove moradores no
distrito de Barão Geraldo, Campinas devido à facilidade em obtenção de dados e
intervenções para melhorias. A intenção com a análise é levantar e tratar os dados
referentes ao consumo energético, identificando perdas e irreversibilidades. Feito isso,
serão testadas fontes de energia alternativas que reduziriam o consumo energético e
também as irreversibilidades. Como a casa estudada não reflete a realidade da maioria
das pessoas, por tratar-se de uma aplicação do modelo, i.e, um estudo de caso, a análise
foi estendia para uma residência de classe média, bem como o efeito na matriz energética
(emissões de CO2) com uma mudança nos padrões de consumo em escala nacional. Isso
pode ser feito por vias do desenvolvimento de um modelo no software EES – Engineering
Equation Solver (KLEIN, 2016), que servirá de auxílio para entender o efeito das alterações
nas residências padrões.

2. Revisão Bibliográfica

A seguinte seção inclui algumas relações matemáticas assim como fonte de dados e
referências usadas nas análises energética e exergética. À vista disso, foram incluídas
algumas análises na literatura técnica e científica acerca do tópico de melhorias de
eficiências energéticas em residências.

2.1. Primeira Lei da Termodinâmica

Um aspecto fundamental da energia é a de que ela se conserva e esse é o fundamento


da Primeira Lei da Termodinâmica. A Primeira Lei diz, portanto, que uma variação da
quantidade de energia contida no sistema é igual a quantidade líquida de energia
transferida para dentro da fronteira do sistema por transferência de calor menos a
quantidade líquida de energia transferida para fora através da fronteira do sistema por
trabalho (MORAN e SHAPIRO, 2002). Isso pode ser descrito pela seguinte equação:

2
𝑑𝐸𝑉𝐶 𝑉𝑒2 𝑉𝑠2
= ∑ 𝑚̇𝑒 (ℎ𝑒 + + 𝑔𝑧𝑒 ) − ∑ 𝑚̇𝑠 (ℎ𝑠 + + 𝑔𝑧𝑠 ) + 𝑄̇𝑉𝐶 − 𝑊̇𝑉𝐶 (1)
𝑑𝑡 2 2
𝑑𝐸𝑉𝐶
Nessa equação temos que corresponde à taxa temporal da variação de energia no
𝑑𝑡

volume de controle (VC), 𝑄̇𝑉𝐶 transferência de calor nas fronteiras do VC e 𝑊̇𝑉𝐶 potência
𝑉2
realizada sobre ou pelo VC. Os termos ∑ 𝑚̇ (ℎ + + 𝑔𝑧) referem-se ao fluxo de entalpia
2
𝑉2
(ℎ), energia cinética ( 2 ) e energia potencial gravitacional (𝑔𝑧) que entra (subscrito e) e que

sai (subscrito s) do VC (KOTAS,1995).

2.2. Entropia e a Segunda Lei da Termodinâmica

Existem diferentes enunciados para a Segunda Lei da Termodinâmica, sendo o da


Entropia o mais apropriado para o desenvolvimento do presente trabalho. A entropia pode,
assim como massa e energia, ser transferida através da fronteira do sistema. No entanto,
massa e energia não podem ser geradas como acontece com a entropia em sistemas na
presença de condições não ideais. A expressão que define o que foi dito é:

𝑑𝑆𝑉𝐶 𝑄̇𝑉𝐶
= ∑ 𝑚̇𝑒 𝑠𝑒 − ∑ 𝑚̇𝑠 𝑠𝑠 + ∑ ̇
+ 𝑆𝑔𝑒𝑟 (2)
𝑑𝑡 𝑇

𝑑𝑆𝑉𝐶
Sendo a taxa temporal da variação de entropia no VC, 𝑄̇𝑉𝐶 a taxa de
𝑑𝑡

transferência de calor nas fronteiras do VC, T temperatura na fronteira onde as


transferências de calor ocorrem, ∑ 𝑚̇𝑖 𝑠𝑖 representam os fluxos de entropia que cruzam a
̇
fronteira do VC e 𝑆𝑔𝑒𝑟 a entropia gerada (KOTAS,1995). Este último termo é sempre maior
ou igual a zero o que nos leva a concluir que é impossível para qualquer sistema operar de
uma forma que a entropia seja distruída (MORAN e SHAPIRO, 2002).

2.3. Análise Energética

O desempenho energético de uma residência pode ser considerado como a quantidade


de energia necessária para abastecer as necessidades dos moradores e manter o conforto
interno. Para tanto, é necessário realizar um “balanço energético” devido as perdas e
ganhos energéticos que acontecem nesse ambiente. Essa análise refere-se principalmente

3
à Primeira Lei da Termodinâmica. Esse conceito, no entanto, não é o mais adequado para
descrever alguns aspectos importantes da utilização de recursos energéticos (MORAN, M.
e SHAPIRO, H., 2009).
O principal indicador é o uso primário de energia, que pode ser dividido em uso
energético para aquecimento de água, consumo por dispositivos eletrodomésticos, energia
usada para resfriamento ou aquecimento do ambiente, entre outros.

2.4. Análise Exergética

A Termodinâmica permite descrever o comportamento, o desempenho e a eficiência de


um sistema em que ocorre a mudança de uma forma de energia em outra. A Primeira Lei
da Termodinâmica afirma o princípio de conservação de energia e a maioria das análises
termodinâmicas da atualidade baseia-se nessa lei. No entanto esse tipo de análise nem
sempre deixa claro o quão perto um processo se encontra de atingir o ideal (DINCER e
ROSEN, 2013).
Da combinação dos chamados “balanço de energia e de entropia”, ou seja, Primeira e
Segunda Leis da Termodinâmica chega-se ao dito “balanço de exergia”. A análise
exergética pode ser aplicada para determinar a localização, os tipos e a verdadeira
magnitude do desperdício de recursos energéticos (MORAN e SHAPIRO, 2002).
Tal análise destaca-se da Primeira Lei por tratar de uma grandeza física não
conservativa, portanto, pois trata-se de uma excelente ferramenta para analisar o impacto
ambiental dos recursos energéticos e é ideal para identificar a verdadeira ineficiência e
desperdícios (DINCER, 2002).
A exergia é definida como o máximo trabalho teórico que pode ser obtido pela interação
de um sistema com o ambiente até o equilíbrio entre os dois ser atingido (MORAN e
SHAPIRO, 2002). Denomina-se Estado de Referência Restrito quando o equilíbrio
mecânico e térmico for atingido entre sistema e ambiente. Caso ainda exista o equilíbrio
químico, dá-se o nome de Estado Morto, sendo que nessa situação a exergia é zero, pois
não há mais possibilidade de realização de trabalho. Temperatura, pressão e potencial
químico são chamados, nesse estado, de T0, P0 e µ0, respectivamente.
Para certo volume de controle a equação do balanço de exergia é dada por:
𝑑 𝑇0
(𝐸 + 𝑝0 𝑉 − 𝑇0 𝑆) = ∑ 𝑄𝑖 (1 − ) − 𝑊𝑒𝑓 − 𝑇0 𝑆𝑔𝑒𝑟 − (∑ 𝐻𝑠 − ∑ 𝐻𝑒 − 𝑇0 (∑ 𝑆𝑠 − ∑ 𝑆𝑒 )) (3)
𝑑𝑡 𝑖 𝑇𝑖 𝑠 𝑒 𝑠 𝑒

4
Nessa equação tem-se que a variação no tempo da exergia para esse volume de
𝑑 𝑑
controle é dada por𝑑𝑡 (𝐁) = 𝑑𝑡 (𝐸 + 𝑝0 𝑉 − 𝑇0 𝑆), a exergia associada ao calor transferido é
𝑇
𝐵𝑞𝑖 = ∑𝑖 𝑄𝑖 (1 − 𝑇0 ), o trabalho efetivamente realizado ou exergia pura denominada como
𝑖

𝑊𝑒𝑓 seguido pela exergia destruída ou trabalho destruído devido às irreversibilidades dado

por 𝐵𝑑𝑒𝑠𝑡 = 𝑇0 𝑆𝑔𝑒𝑟 . O último termo da equação (3) (∑𝑠 𝐻𝑠 − ∑𝑒 𝐻𝑒 − 𝑇0 (∑𝑠 𝑆𝑠 − ∑𝑒 𝑆𝑒 ))


corresponde à variação entre os fluxos de exergia na entrada e saída.

2.5. Eficiência energética e exergética

O termo eficiência é usado com frequência para medir a desempenho de um


equipamento ou processo. Muitas dessas expressões são baseadas em energia. A
eficiência energética é uma medida adimensional de desempenho de um equipamento
térmico. Ela pode ser definida como sendo:

𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑞𝑢𝑒 𝑠𝑎𝑖 𝑒𝑚 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜𝑠


𝜂= (4)
𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑎 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑞𝑢𝑒 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎

No entanto, somente essa definição não é suficiente para avaliar o desempenho do


sistema. Em uma residência comparam-se efeitos térmicos, efeitos de corrente elétrica,
efeitos dissipativos, dentre outros. Torna-se necessário comparar os diferentes tipos de
equipamentos em uma mesma base termodinâmica, ou seja, capacidade de realizar
trabalho, independente da natureza da transferência de energia. Para esse trabalho será
levada também em consideração a eficiência exergética. Assim, será possível comparar
diferentes soluções em uma mesma base, ou seja, capacidade de realização de trabalho.
Para tal, tem-se que a exergia que entra no sistema (ou fornecida) corresponde a
exergia que sai em produto (ou seja, exergia útil) mais a exergia perdida associada aos
desperdícios e a exergia destruída. Os dois últimos termos referem-se às perdas. Logo, a
eficiência exergética é dada por (DINCER e ROSEN, 2013):

𝐸𝑥𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑞𝑢𝑒 𝑠𝑎𝑖 𝑒𝑚 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜𝑠


Ψ= (5)
𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑒𝑥𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑞𝑢𝑒 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎

5
É importante ressaltar que existe diferença ao se aplicar eficiência energética e
exergética. A primeira equação indica que energia é conservada independente da sua
qualidade ou capacidade de gerar trabalho. Já a segunda resulta em um melhor
entendimento de desempenho de um sistema por incluir o termo que leva em consideração
as irreversibilidades internas, além de comparar diferentes fontes de energia pela sua
capacidade de realização de trabalho (MOSQUIM et al., 2016).

2.6. Residências Sustentáveis

Toda a geração de energia implica um impacto ambiental e, por isso, qualquer


economia de energia no setor residencial resulta em ganhos ambientais e economia de
recursos naturais. Existem diversos projetos habitacionais que visam a sustentabilidade e,
para reconhecer esses empreendimentos que aplicam soluções, existem selos de
classificação socioambiental. Um desses selos é o Selo Casa Azul CAIXA, que se aplica a
todos os tipos de projetos de empreendimentos habitacionais apresentados à CAIXA
(Caixa Econômica Federal 2010).

Tabela 2.1: Resumo das categorias e critérios para obtenção do Selo Casa Azul CAIXA
na classificação bronze.
CATERGORIAS/CRITÉRIOS
1. QUALIDADE URBANA 4. CONSERVAÇÃO DE RECURSOS MATERIAIS
1.1 Qualidade de Entorno - Infraestrutura 4.1 Qualidade de Materiais e Componentes
1.2 Qualidade de Entorno - Impactos 4.2 Formas e Escoras Reutilizáveis
2. PROJETO E CONFORTO 4.3 Gestão de Resíduos de Construção e Demolição
2.1 Paisagismo 5. GESTÃO DA ÁGUA
2.2 Local para Coleta Seletiva 5.1 Medição Individualizada - Água
2.3 Equipamentos de Lazer, Sociais e Esportivos 5.2 Dispositivos Economizadores - Sistema de Descarga
2.4 Desempenho Térmico - Vedações 5.3 Áreas Permeáveis
2.5 Desempenho Térmico - Orientação ao Sol e Ventos 6. PRÁTICAS SOCIAIS
6.1 Educação para a Gestão de Resíduos de Construção e
3. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Demolição
3.1 Lâmpadas de Baixo Consumo 6.2 Educação Ambiental dos Empregados
3.2 Medição Individualizada - Gás 6.3 Orientação aos Moradores

O nível “bronze” do selo é obtido após verificar o atendimento aos critérios


obrigatórios listados na Tabela 2.1 acima. Esses são alguns dos critérios que segundo a
CAIXA são essenciais para que uma residência seja denominada sustentável. O enfoque

6
do trabalho seria na categoria “Eficiência Energética”, introduzindo também uma análise
exergética para identificar perdas e ineficiências.
Essa é apenas uma das métricas de avaliação aplicadas hoje no Brasil. Duas outras
certificações ambientais também são aplicadas: o Aqua (Alta Qualidade Ambiental) e o
Leed (Leadership in Energy and Environmental Design). O primeiro foi desenvolvido no
Brasil a partir da certificação francesa Démarche HQE e o segundo é de origem
americana.
O processo Aqua conta com 14 categorias ou objetivos distribuídos em quatro bases
de ação: ecoconstrução, ecogestão, conforto e saúde. Já o sistema americano de
certificação Leed pontua soluções nos quesitos: espaço sustentável, localização, entorno,
eficiência no uso de água e de energia, qualidade do ar, uso de materiais, qualidade
ambiental interna, inovação e processos.
Não existem diferenças significativas no que diz respeito à definição de uma
residência sustentável. Todos visam, principalmente, a qualidade de vida do usuário e a
economia de água e energia, reduzindo o máximo possível do impacto ambiental.

2.7. Melhorias propostas

O setor residencial é uma das prioridades no que diz respeito à implantação de


medidas que aumentem a eficiência energética devido ao fato de ser um dos grandes
consumidores de energia final no mundo.
O conceito de Net Zero Energy Building (NZEB) é citado em muitos artigos como o
reforçando a importância de se investir em casas e edifícios. NZEB é definido como um
edifício de alta eficiência energética, chegando ao ponto do consumo de energia primária
ser igual ou menor a energia produzida por fontes renováveis (HERNANDEZ e KENNY,
2010). Para chegar até esse conceito, o edifício deve dispor de diferentes tecnologias que
corroborem para o aumento da eficiência.
Ribeiro, Dao e Silva (2016) usaram esse conceito para escrever o artigo que estuda a
diminuição da demanda energética e a produção própria de energia renovável em edifícios
na Finlândia, comparando também com Portugal. Entretanto, a situação no continente
europeu é diferente da brasileira, pois lá a maior demanda energética é direcionada para o
aquecimento de ambientes (ou seja, demanda térmica).
Existem outros trabalhos que tratam desse tema de forma diferente e combinam análise
energética e exergética para avaliar o consumo residencial. Assim é possível qualificar de
7
melhor forma o comportamento e o consumo energético em uma moradia. Torío, Angelotti
e Schmidt (2009) descrevem bem a importância desse tipo de estudo em seu trabalho
sobre análise exergética de sistemas de climatização baseados em energia renovável.
No entanto, não existem muitos trabalhos que tratam das análises energética e
exergética no setor residencial brasileiro. Quando o assunto é sustentabilidade em
residências, destacam-se os estudos voltados para a construção civil (destacando-se a
economia de insumos materiais), sem analisar com detalhes os aspectos de consumo
primário de energia. À vista disso, pode-se afirmar que a minoria dos projetos na
construção civil leva em conta o comportamento energético e o uso racional da energia nas
edificações. Em outras palavras, vê-se muitos estudos direcionados ao setor produtivo de
construção, porém sem maiores detalhes acerca do consumo de energia. Além disso, a
maioria dos trabalhos, agora voltados ao desempenho energético, explora esse setor no
hemisfério norte, o que não representaria de forma ideal o mercado brasileiro devido a
diferente realidade climática, principalmente quando no que diz respeito à radiação solar.

2.7.1. Aquecedor solar de água

Os aquecedores solares são uma proposta ao aquecimento de água com custo baixo
que evitariam maiores danos ao meio ambiente. São compostos basicamente por coletores
solares (placas) e um reservatório térmico (boiler) para armazenar a água aquecida.
A absorção da radiação solar ocorre nas placas coletoras que possuem em seu interior
tubulações normalmente de cobre por onde a água circula. A água é aquecida, portanto,
por um processo de condução e direcionada para o reservatório. Esses reservatórios
devem ser bem isolados termicamente para que a água seja mantida aquecida.
A figura abaixo (Figura 2.1) representa um esquema de instalação e funcionamento de
um aquecedor solar. Pode-se considerar que em um sistema como esse a água é
aquecida até aproximadamente 60ºC (PEREIRA, DUARTE et al., 2003).

8
Figura 2.1: Esquema de um coletor solar. FONTE: SOLETROL

2.7.2. Painel solar fotovoltaico

A geração de energia elétrica convencional é centralizada e distante do centro de


consumo. Isso faz com que existam perdas devido à distribuição. A geração distribuída por
tecnologia fotovoltaica se apresenta como uma boa alternativa para esse problema com
inúmeras vantagens em relação ao cenário do setor elétrico atual, principalmente pelo fato
de tratar-se de uma fonte inesgotável e não poluente de energia. No último ano tem sido
bastante discutido na imprensa acerca deste tópico e incentivos para o uso de tais painéis,
porém ainda não há uma regulamentação acerca desse tópico e possíveis incentivos
fiscais para quem usá-los.
O sistema fotovoltaico é composto por placas solares que transformam a radiação solar
em energia elétrica. É necessário um inversor de corrente contínua em corrente alternada,
pois é esta será usada na residência para o funcionamento de todos os dispositivos
elétricos. O sistema deve contar também com baterias que armazenam a energia
produzida para que esta seja usada em momentos de baixa radiação solar.

9
Figura 2.2: Esquema de funcionamento de uma instalação fotovoltaica.
Fonte: NEOSOLAR

O número de painéis solares e o dimensionamento da instalação fotovoltaica devem


ser feitos com base no consumo energético da residência e o investimento disponível,
levando-se sempre em conta a irradiação solar da região.

2.7.3. Lâmpadas LED

Os diodos emissores de luz (LED) surgiram no início dos anos 60 e são dispositivos
semicondutores que tem como princípio de funcionamento a eletroluminescência, emitindo
luz através da combinação de elétrons e lacunas em um material sólido (SÁ JUNIOR,
2007).
No que diz respeito a sustentabilidade, esse tipo de lâmpada é preferencialmente
escolhido, pois apresenta baixo consumo de energia, alto nível de eficiência e elevada vida
útil (SILVIA SOUTO), chegando a durar mais de 25.000 horas de uso ininterrupto atingindo
até 45.000 horas de vida útil (PHILIPS, 2010). Para efeito de comparação é válido citar que
uma lâmpada fluorescente compacta possui vida útil de aproximadamente 10.000 horas
(LUZ, 2012).

10
Há um grande esforço atualmente no que diz respeito a aumentar o uso de LED na
iluminação residencial. No entanto, existem ainda muitas barreiras, sendo uma delas a
dificuldade de visualizar em curto prazo o ganho econômico e a eficiência energética. No
trabalho serão discutidos os ganhos financeiros com investimentos como esse.

2.8. Análise Ambiental

A comunidade internacional vem se unindo no sentido de reduzir o uso dos recursos


naturais e as emissões de gases estufa em função do consumo e produção energética. Um
exemplo disso são restrições, por vias de taxas, nas emissões de CO 2 em plataformas de
petróleo na Noruega, criando-se a necessidade de se reinjetar esse gás no poço o petróleo
(Cuchivague, 2015).
Portanto, para complementar a discussão é importante dar lugar também para uma
análise ambiental. A matriz energética brasileira é predominantemente hidráulica e existe
uma grande utilização no país de biomassa que fazem com que o Brasil apresente uma
baixa taxa de emissão de CO2 por utilização de fontes energéticas quando comparado com
a média mundial.
Na literatura existem diferentes estudos sobre o CO2 emitido no setor residencial, mas
principalmente naquele referente à construção civil. Sérgio Tavares e Roberto Lamberts
(2014) escreveram um trabalho que trata o fato de os materiais de construção civil serem
um dos principais causadores de emissão de gases estufa.
O presente trabalho, no entanto, tratará desse tema no âmbito da produção energética.
Avaliando o ciclo de vida da energia desde o momento em que ela é produzida até após o
seu consumo na residência é possível estudar os impactos ambientais relacionados a
emissão de gases estufa no setor residencial.

3. Materiais e Métodos

O diagrama de fluxo energético e exergético em termos das entradas de energia e


exergia, produtos e perdas é muito útil para distinguir os equipamentos com alta e
equipamentos com baixa eficiência. A Figura 3.1 representa esquematicamente esse
diagrama, no caso específico para uma sociedade, podendo ser aplicado ao Brasil, ou ao
Estado de São Paulo, por exemplo. No presente texto, pretende-se dar destaque para as
perdas que acontecem dentro do setor residencial, pois esse setor é o foco desse trabalho.
11
Deve-se, ainda, destacar que os processos mais ineficientes da residência estão
associados à diferença de temperatura, ou seja, processos térmicos.

Figura 3.1: Modelo esquemático adaptado dos setores energéticos. Baseado em Mosquim
et al. (2016)

O setor residencial brasileiro tem importante participação no consumo de energia no


Brasil, principalmente no que diz respeito a energia elétrica. Em 2000, o setor residencial
era responsável por 13% da demanda energética do país. Em 2012, nota-se uma redução
na participação relativa, passando esse percentual a ser 10%. No entanto, o setor
residencial continuou ocupando a quarta posição de maior demanda. Em valores absolutos
o incremento foi de 1,3% ao ano.
A Figura 3.2 ilustra as tendências do consumo de energia e eletricidade no setor
residencial brasileiro, o panorama do consumo das famílias e do aumento do número de
domicílios, entre 1990 e 2012.

12
Figura 3.2: Evolução do índice do consumo residencial de energia e Eletricidade, do
consumo das famílias e do número de domicílios (EPE – Empresa de Pesquisa Energética,
2014). Considera-se um consumo de 100% em 1990.

Ao analisar o gráfico, conclui-se que o consumo residencial de eletricidade aumentou


mais do que o número de famílias e domicílios, ou seja, as pessoas consomem hoje
(extrapolando o gráfico para 2016) mais energia do que nas décadas anteriores, e a
tendência continua sendo essa. Isso justifica a importância de um estudo como esse, pois
a geração de energia elétrica tem uma relação íntima com a emissão de gases
responsáveis pelo efeito estufa (análise da geração de eletricidade a partir de recursos
naturais mostrada na Figura 3.1).
Alguns aparelhos eletrodomésticos se destacam no que diz respeito ao consumo
energético, ou seja, representam a maior parte do consumo energético do setor
residencial. A Tabela 3.1 apresenta em resumo o consumo desses aparelhos, bem como
as porcentagens que esse consumo representa do total. Os dados são referentes à
pesquisa da Eletrobrás de 2007.

13
Tabela 3.1: Consumo elétrico e de GLP, por tipo de equipamento doméstico.
(toe refere-se à tonelada de óleo equivalente).
Aparelho Consumo por tipo de energia
Elétrica Combustível
% 10³ toe % 10³ toe
Geladeira 22 20,35 - -
Lava Roupa 1 0,93 - -
Ferro 3 2,78 - -
Som 3 2,78 - -
TV 1 9,25 - -
Ar Cond. 11 10,18 - -
Chuveiro 26 24,05 - -
Lâmpadas 19 17,58 - -
Freezer 5 4,63 - -
Fogão - - 100 18,34

Para dar continuidade é importante especificar um pouco mais da residência escolhida.


Trata-se, portanto, de uma residência estudantil situada no distrito de Barão Geraldo,
Campinas. São no total 9 moradoras distribuídas em 5 quartos. Os dados de consumo de
energia do ano de 2015 foram coletados pela Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL)e
foram resumidos na Tabela 3.2 e esquematizados na Figura 3.3.

Tabela 3.2: Histórico de consumo de energia elétrica pela república estudada.


CONSUMO REFERENTE AO ANO DE 2015
Mês Consumo (kWh) Valor pago Preço médio por kWh
Janeiro 319 R$154,68 0,485
Fevereiro 269 R$138,24 0,514
Março 346 R$173,04 0,500
Abril 365 R$234,18 0,642
Maio 406 R$278,32 0,686
Junho 303 R$216,11 0,713
Julho 300 R$211,76 0,706
Agosto 186 R$107,35 0,577
Setembro 304 R$209,94 0,691
Outubro 371 R$251,56 0,678
Novembro 318 R$215,61 0,678
Dezembro 291 R$194,10 0,667
.

14
Figura 3.3: Histórico de consumo mensal.
Fonte: CPFL

Conforme representado na Tabela 3.2 e na Figura 3.3, o maior consumo energético foi
de 406 kWh referente ao mês de maio, representando um gasto de R$ 278,32. Em
contraponto, o menor consumo foi de 186 kWh no mês de agosto. Em julho, o consumo
reduz significativamente, pois muitas das moradoras não permanecem durante o período
de férias na república, o que explica a redução do preço na conta de agosto, que reflete os
valores de consumo do mês anterior.
Na Tabela 3.1 foram listados diferentes dispositivos eletrônicos, sendo que nem todos
eles são encontrados na república em questão. Para o trabalho, portanto, a porcentagem
dos equipamentos que não existem na residência será igualmente dividida entre os demais
para que o total de consumo continue em 100%. A Tabela 3.3 abaixo apresenta os novos
valores calculados que serão utilizados no trabalho.

15
Tabela 3.3: Valores atualizados do consumo elétrico e GLP para a residência estudada.
(toe refere-se à tonelada de óleo equivalente).
Aparelho Consumo por tipo de energia
Elétrica Combustível
% 10³ toe % 10³ toe
Geladeira 25,17 23,28 - -
Lava Roupa 4,17 3,86 - -
Som 6,17 5,71 - -
TV 4,17 12,18 - -
Chuveiro 29,17 26,98 - -
Lâmpadas 22,17 20,51 - -
Fogão - - 100 18,34

Outra informação sobre os dispositivos eletrônicos de extrema importância para


continuação desse trabalho é sua eficiência, tanto energética quanto exergética. Os
valores encontrados na literatura (UTLUA e HEPBASLI, 2005; SAIDUR et al., 2007) para
tais eficiências são apresentados na Tabela 3.4. Para as lâmpadas LED não foi encontrada
na literatura nenhuma referência à sua eficiência exergética. No entanto, percebe-se que a
diferença entre a eficiência energética e a exergética das lâmpadas no geral seguem um
padrão, onde esta última apresenta uma redução em torno de 10% em relação à primeira.
Sendo assim, para as lâmpadas LED será considera uma eficiência exergética de 81 %.

Tabela 3.4: Eficiência energética e exergética dos dispositivos eletrônicos que mais
consomem energia em uma residência.
Eficiência Energética ƞ(%) Eficiência Exergética ψ(%)
Fluorescente 20 18,5
Tipo de
LED 90 81
lâmpada
Incandescente 5 4,5
Geladeira 60 7,5
Aquecimento elétrico de água 90 10,8

Analisando os dados acima, percebe-se a importância de se analisar ambas as


eficiências, afinal, tratam-se de valores consideravelmente diferentes. À vista deste fato,
nota-se que enquanto existe a necessidade de se definir um coeficiente de desempenho
para sistemas de refrigeração (COP), a eficiência exergética não precisa de uma nova
definição, por levar em conta a qualidade num processo de conversão de energia. Mesmo
para geladeira ψ (%) será menor do que a unidade. Como discutido em Mosquim et al.

16
(2016), muitos autores tratam a eficiência energética de aparelhos de ar condicionado e
geladeiras como equivalentes a cem por centro, tais ponderações não são necessárias à
luz da exergia. Para o cálculo das eficiências energéticas e exergéticas da residência como
um todo é necessário ter conhecimento da participação no consumo de energia de cada
aparelho (Tabela 3.3) e suas eficiências (Tabela 3.4) e também da especificação dos
demais dispositivos eletrônicos (MOSQUIM, R. 2016). Portanto, visando facilitar o estudo,
esses dados foram resumidos na Tabela 3.5.

Tabela 3.5: Resumo da participação no consumo energético e eficiências dos dispositivos


Eficiência
Participação no Eficiência
Exergética
Aparelho consumo energético Energética ƞ
ψ
% % %
Geladeira 25,17 60 7,5
Demais dispositivos eletrônicos 14,51 80 80
Chuveiro 29,17 90 10,8
Fluorescente 20 18,5
Lâmpadas LED 22,17 90
Incandescente 5 4,5

3.1. Chuveiro Elétrico

O maior consumo de energia elétrica em uso residencial está direcionado para o


aquecimento de água. Como visto na Tabela 3.1, o chuveiro elétrico corresponde em
média a 26 % do consumo de energia elétrica em uma residência, sendo assim o
dispositivo mais impactante na análise energética. A utilização do chuveiro acontece
durante todo o dia, mas concentra-se em determinados períodos, como por exemplo, entre
7 e 8 horas e entre 18 e 19 horas.
O calor para aquecer a água do chuveiro é obtido através da geração de calor 𝑄𝑐ℎ𝑢𝑣 a
uma temperatura constante 𝑇𝑓 , tendo como fonte a energia elétrica. Para esse processo,
sabe-se que a eficiência energética é 𝜂 = 90% e a exergética é dada por:

𝑇0
𝑄𝑐ℎ𝑢𝑣 (1 − )
𝑇𝑓
𝜓= (6)
𝑊𝑒𝑙

17
No qual, 𝑊𝑒𝑙 = 𝜂 ∙ 𝑄𝑐ℎ𝑢𝑣 e as temperaturas 𝑇𝑓 e 𝑇0 devem ser definidos em Kelvin.
Considerando para a residência estudada o consumo do chuveiro elétrico como sendo
29,17 % do consumo total, chega-se aos dados indicados na Tabela 3.6. O chuveiro
elétrico corresponde, portanto, a um consumo médio mensal de 91,84 kWh.

Tabela 3.6: Consumo referente ao chuveiro elétrico

Consumo devido
Mês Consumo total (kWh) ao chuveiro
elétrico (kWh)
Janeiro 319 93,05
Fevereiro 269 78,47
Março 346 100,93
Abril 365 106,47
Maio 406 118,43
Junho 303 88,39
Julho 300 87,51
Agosto 186 54,26
Setembro 304 88,68
Outubro 371 108,22
Novembro 318 92,76
Dezembro 291 84,88
Média 315 91,84

O chuveiro elétrico é um aparelho composto por uma resistência elétrica imersa em um


recipiente no qual circula água. O aquecimento elétrico é feito automaticamente ao se abrir
o registro de uso, sendo que a resistência é acionada por pressão da própria água. A
resistência aquece por efeito Joule e transmite calor para água, elevando sua temperatura
(WILHEIM, 1984). A eficiência energética desse processo é relativamente alto, mas sua
eficiência exergética é bem menor (Tabela 3.4) por tratar-se de um processo térmico.
A república estudada contém três chuveiros elétricos da marca Lorenzetti com 4500W
de potência. Para descobrir quanto tempo o chuveiro passa ligado diariamente, deve-se
dividir o consumo mensal pelo número de dias do mês (considera-se cada mês com 30
dias), multiplicar por 60 para obter o resultado em minutos por dia e, por último, dividir o
resultado pela potência do chuveiro. Considera-se uma vazão confortável para banho de 6
L/min (de SOUZA et al.). A partir do número de minutos por dia que o chuveiro passa
ligado e a vazão do mesmo foi feito também o cálculo do consumo diário de água em litros,
que será base para o dimensionamento do sistema do coletor solar. Os resultados estão
dispostos na Tabela 3.7.
18
Tabela 3.7: Tempo médio que um chuveiro elétrico passa ligado por dia, por dia e
por moradora e consumo diário de água em litros.

Mês min/dia min/(dia*moradora) L/dia

Janeiro 41,36 4,6 248,16


Fevereiro 34,88 3,88 209,28
Março 44,86 4,98 269,16
Abril 47,32 5,26 283,92
Maio 52,64 5,85 315,84
Junho 39,28 4,36 235,68
Julho 38,89 4,32 233,34
Agosto 24,12 2,68 144,72
Setembro 39,41 4,38 236,46
Outubro 48,1 5,34 288,6
Novembro 41,23 4,58 247,38
Dezembro 37,72 4,19 226,32
Média 40,82 4,54 244,91

Observa-se que cada moradora toma em média um banho de 4 minutos e meio por dia.
Esse valor é abaixo da média brasileira, onde as pessoas costumam tomar banhos mais
demorados e com uma frequência maior que uma vez ao dia, não retratando, portanto, a
realidade da maioria dos brasileiros. Os primeiros cálculos e análises serão feitos a partir
desses dados. No entanto, o objetivo vai além e busca mostrar que até mesmo no pior dos
casos as substituições ainda seriam válidas.

3.2. Lâmpadas

A iluminação atual da residência é composta de dois diferentes tipos de lâmpadas:


incandescentes e fluorescentes. No total de 18 lâmpadas, 3 são incandescentese 15
fluorescentes. Como descrito na Tabela 3.3, considerou-se como 22,17 % o consumo de
energia elétrica devido a iluminação. Dessa forma, a média da quantidade de energia
consumida por conta da iluminação da residência no mês é 69,80 kWh. Os valores
mensais de consumo de elétrico estão indicados na Tabela 3.8.

19
Tabela 3.8: Consumo referente à iluminação
Consumo devido
Mês Consumo total (kWh) à iluminação
(kWh)
Janeiro 319 70,72
Fevereiro 269 59,64
Março 346 76,71
Abril 365 80,92
Maio 406 90,01
Junho 303 67,18
Julho 300 66,51
Agosto 186 41,24
Setembro 304 67,40
Outubro 371 82,25
Novembro 318 70,50
Dezembro 291 64,51
Média 315 70,28

As lâmpadas incandescentes têm 40 W de potência e as lâmpadas fluorescentes 25 W


segundo especificações. Comparando a potência das duas lâmpadas, para 100 % do
consumo, tem-se que o primeiro tipo de lâmpada consome 62,5 % de energia enquanto o
segundo consome 37,5 %. Para obter o consumo correspondente a cada modelo de
lâmpada é necessário dividir o consumo total pela quantidade de cada lâmpada na casa
multiplicada a sua respectiva porcentagem na participação do consumo total de energia
referente à iluminação (Tabela 3.8). Os resultados obtidos através desses cálculos estão
dispostos na Tabela 3.9.

20
Tabela 3.9: Consumo mensal médio de cada tipo de lâmpada

Mês Lâmpada Lâmpada


incandescente (kWh) fluorescente (kWh)
Janeiro 5,89 3,54
Fevereiro 4,97 2,98
Março 6,39 3,84
Abril 6,74 4,05
Maio 7,50 4,50
Junho 5,60 3,36
Julho 5,54 3,33
Agosto 3,44 2,06
Setembro 5,62 3,37
Outubro 6,85 4,11
Novembro 5,88 3,53
Dezembro 5,38 3,23
Média 5,82 3,49

As lâmpadas incandescentes eram amplamente utilizadas na iluminação residencial,


mas foram substituídas pelas lâmpadas fluorescentes devido sua baixíssima eficiência
energética (Tabela 3.4). Essa foi uma alternativa encontrada naquela época para reduzir o
consumo de energia elétrica, mas atualmente já existem alternativas melhores. Os diodos
emissores de luz (LEDs), por exemplo, apresentam maior eficiência e maior vida útil
quando comparados às lâmpadas fluorescentes (CERVI et al., 2005). Este tipo de lâmpada
será, portanto, proposto nesse trabalho como alternativa aos dispositivos de iluminação
menos econômicos que são utilizados hoje na república.
Para as lâmpadas, outra definição importante é a de fluxo luminoso (Φ) dado em
lúmens (lm) e iluminância medida em lux (lx). O primeiro conceito diz respeito à quantidade
de luz que uma determinada lâmpada produz e o segundo faz a relação entre o fluxo
luminoso que incide em uma superfície e sua área.
A eficiência energética de uma lâmpada é, portanto, a razão entre o fluxo emitido pela
fonte de luz e a potência elétrica consumida no processo. Logo:

Φ
𝜂= (7)
P lamp ∙ 100

21
Onde P lamp é a potência da lâmpada determinada nas especificações técnicas desse
componente. As eficiências dos diferentes tipos de lâmpada já foram definidas na Tabela
3.4 e a partir desses valores será possível obter o fluxo luminoso de cada dispositivo.

Tabela 3.10: Especificações das lâmpadas usadas para o estudo.


Potência Fluxo
Lâmpada Eficiência
(W) Luminoso (lm)
Incandescente 5% 40 200
Fluorescente 20% 25 500
LED 90% 9 810

Esse fluxo luminoso obtido será usado mais a frente no estudo para mostrar que a
eficiência interfere no número de lâmpadas necessárias para iluminar um ambiente e
consequentemente no consumo energético da residência.

3.3. Geladeira

Para atender a importantes usos como conservação de alimentos e de bebidas, os


refrigeradores são também grandes consumidores de energia elétrica no setor doméstico.
Considerando a relevância de sua utilização, é de grande interesse conhecer o real
consumo dos refrigeradores e promover o uso eficiente de energia. Devido à evolução
tecnológica o desempenho dos equipamentos já melhorou significativamente no que diz
respeito, por exemplo, à vedação térmica e ao compressor. Estima-se uma redução do
consumo unitário na ordem de 47 % nos últimos 20 anos (PROCEL, 2006). Esses
equipamentos, contudo, ainda participam com mais de 25 % da demanda residencial de
energia.
Seguindo a mesma lógica aplicada para o cálculo da energia elétrica média mensal
consumida pelos dispositivos eletrônicos descritos acima, determinou-se o consumo
elétrico mensal referente ao uso da geladeira. O percentual usado para o cálculo foi de
25,17 %, o que resultou em uma média mensal de consumo de 79,24 kWh.

22
Tabela 3.11: Consumo mensal referente à geladeira
Consumo devido
Mês Consumo total (kWh) ao uso da
geladeira(kWh)
Janeiro 319 80,29
Fevereiro 269 67,71
Março 346 87,09
Abril 365 91,87
Maio 406 102,19
Junho 303 76,27
Julho 300 75,51
Agosto 186 46,82
Setembro 304 76,52
Outubro 371 93,38
Novembro 318 80,04
Dezembro 291 73,24
Média 317 79,79

Dois refrigeradores são mantidos em uso na residência estudada. Um deles é do


modelo RE28 da Electrolux e o outro é especificado por 280L da Consul. O primeiro
refrigerador citado trata-se de um modelo mais recente que consume em média
23,7kWh/mês de energia como descrito nas especificações técnicas encontradas no seu
manual de instrução. Esse é um dos refrigeradores com maior eficiência energética
segundo o Programa Brasileiro de Etiquetagem do INMETRO.
Por tratar-se de um modelo mais antigo, não foi possível encontrar o manual técnico da
geladeira Consul. Considera-se aqui, portanto, que esse refrigerador consome o valor
encontrado na Tabela 3.11 subtraído da quantidade de energia consumida pelo primeiro
refrigerador já descrito. Percebe-se que o consumo referente a esse dispositivo é, portanto,
consideravelmente maior.

3.4. Modelo Geral

A modelagem descrita nos itens anteriores considerou uma residência nada tradicional
por tratar-se de uma república onde moram nove pessoas juntas, sendo que aos finais de
semana e nas férias esse número se reduz consideravelmente. Sendo assim, o estudo
dessa residência será apenas um exemplo para uma análise mais abrangente que servirá
para qualquer condição. Para tanto, é necessário definir alguns parâmetros de entrada

23
variáveis como, por exemplo, número de moradores da residência ou potência máxima do
painel solar.
É importante lembrar que até o momento nenhum hábito dos moradores foi alterado,
mantiveram-se durante todo o estudo os costumes de cada indivíduo. Essa premissa será
mantida inicialmente para desenvolver a análise do modelo geral, já que o intuito é mostrar
a importância de investimentos como os descritos anteriormente independentes de se
pregar a mudança de costumes. No entanto, será possível perceber com o
dimensionamento dos sistemas que o investimento para tornar a residência mais
sustentável é bem alto e com um tempo de retorno igualmente alto, sendo que muitas
vezes ainda existe a carência de área para instalação de painéis fotovoltaicos que supram
a demanda total da residência. Assim, fica claro que o ideal é a combinação da mudança
de hábitos com a introdução de tecnologias mais eficientes e com fontes renováveis.
Como a intenção dessa modelagem é abranger todos os casos, busca-se tornar
possível a simulação de situações em que os costumes dos habitantes também se alterem,
tanto para pior quanto para melhor. A partir disso, será possível analisar de forma realista a
situação de uma residência qualquer.
Para dar continuidade à modelagem algumas hipóteses devem ser assumidas e as
variáveis de entrada e saídas devem ser determinadas. Nesse sistema será considerado,
por exemplo, a eficiência do inversor de freqüência do sistema fotovoltaico (R) como sendo
igual a 95% e o mês como sendo composto por 30 dias. Para uma primeira análise, serão
assumidos alguns valores de forma a restringir as variáveis do sistema e tornar a análise
mais global. Essas hipóteses referem-se aos valores do poder calorífico da água (cágua=
4,186 kJ/kg.K), massa específica da água (ρágua= 998 kg/m³), fluxo luminoso e potência dos
diferentes tipos de lâmpada (Tabela 3.10), tempo médio em horas que cada lâmpada fica
acessa por dia (tlamp=5 h/dia), potência do chuveiro (Pchuv=4,5 kW) e eficiência do coletor
solar (ef=0,55).
A autonomia do sistema fotovoltaico, ou seja, o quanto as baterias aguentariam sem
serem recarregadas pelo sistema fotovoltaico foi igualmente fixada, como os demais
parâmetros listados. Seu valor foi estabelecido como sendo igual à 0,5, o que significa que
o projeto agüentaria metade do dia na ausência de qualquer radiação solar.
Os demais parâmetros variáveis para testes serão as entradas do sistema em questão,
definidas como irradiação solar do local (I), área total (Atotal) da residência disponível para
instalação de aquecedores ou painéis solares, área do módulo solar (Amódulo) definida nas
especificações do produto, a potência máxima do painel escolhido (Pm), o número de
24
consumidores (n), temperatura inicial (𝑇𝑖 ) e final (𝑇𝑓 ) da água a ser utilizado no banho, a
vazão do chuveiro (vazão), o consumo dos eletrodomésticos (Celetrod) e a área total da
residência que deve ser iluminada (Ailum). Os resultados serão as saídas do programa, ou
seja, o consumo total da residência (Ctotal), a área ocupada pelo coletor solar (S), bem
como a energia produzida apenas pelo sistema fotovoltaico (Eger) no mês e o consumo
energético necessário da rede elétrica.
A idéia do modelo é que seja possível simular diferentes situações. Para tanto, será
possível determinar, por exemplo, a porcentagem de lâmpada de cada modelo, a forma de
aquecimento da água do chuveiro ou a porcentagem de participação da energia gerada
pelo sistema fotovoltaico. Para o estudo de caso da república considerou-se que apenas
95% da energia gerada pelo sistema fotovoltaico (Eger) foi usada para suprir o consumo
energético da casa. É importante estabelecer uma margem como essa para garantir que
nenhum erro no processo de cálculos irá interferir na modelagem do sistema de forma a
subdimensioná-lo e isso será também considerado no modelo geral para garantir energia
elétrica suficiente para o consumo da residência.
Como resultado, busca-se encontrar o consumo total da residência (Ctotal), o quanto de
energia da rede elétrica (Celet) é necessário e qual será a economia ou retorno financeiro
de um investimento como esse.

4. Resultados e Discussões

4.1. Dimensionamento do aquecedor solar e do sistema fotovoltaico

4.1.1. Aquecedor solar de água

Para dimensionar um sistema de aquecimento solar alguns fatores como radiação solar
média do local de instalação, e a orientação dos painéis devem ser levados em conta.
Além disso, é de extrema importância o dimensionamento correto do boiler que será
responsável por armazenar a água aquecida para evitar desperdícios e reduzir perdas.
Convencionalmente utiliza-se um reservatório com um volume de aproximadamente o
dobro do volume de água quente a ser consumido em um dia, sendo que a temperatura da
água é considerada em torno de 60 ºC.A partir da Tabela 3.6 conclui-se, portanto, que o
boiler desse coletor solar deve ser de no mínimo 489,82 litros. Considerando que exista

25
uma margem de erro será usado para o presente trabalho a capacidade adotada equivale
a 500 L.
O cálculo da área necessária de coletor solar é feita a partir das fórmulas abaixo:

𝑄 = 𝑚. 𝑐á𝑔𝑢𝑎 . (𝑇𝑓 − 𝑇𝑖 ) (8)

𝑄
𝑆= (9)
𝐼. 𝜂

Sendo 𝑄 a quantidade de calor em kJ necessária para aquecer a água até a


temperatura final 𝑇𝑓 , 𝑚 a massa de água a ser aquecida em kg, 𝑐á𝑔𝑢𝑎 o calor específico da
água em KJ/kg.K,𝑇𝑖 a temperatura inicial da água, 𝐼 o índice de radiação da cidade de
Campinas e 𝜂 o rendimento do coletor solar.
A densidade da água varia de acordo com a temperatura do ambiente. Campinas
apresenta temperatura média de 20,7°C e, por isso, considera-se que a densidade média
anual da água é 998 kg/m³ (MORAN e SHAPIRO, 2002), valor que será usado para o
cálculo da massa de água. O calor específico da água é 4,186 kJ/kg.K e a temperatura
final de aquecimento da água considera no presente trabalho é de 60°C. Para a
temperatura inicial da água será considerado o valor da temperatura média do ano de 2015
de 22,4°C segundo o Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas a
Agricultura (Cepagri) da Unicamp. Além disso, é importante salientar que a radiação média
anual diária da região é de 5,07 kWh/m² e a eficiência para esse coletor solar será de 55%,
valor base para a eficiência térmica dos coletores comercializados no mercado nacional
(GUERRA e VARELLA, 2014).
Utilizando-se dos dados da Tabela 3.6 e das Funções (8) e (9) obtém-se a área
necessária para aquecer 500 litros de água. Associando as duas fórmulas obtém-se
S=7,80m², que seria a área mínima necessária para suprir a demanda da residência.
É importante ressaltar que há dias em que o aquecimento solar não é possível devido a
baixa radiação solar. Em situações como essa é preciso que exista uma alternativa para o
coletor solar. Assim, o ideal é ter também a possibilidade de aquecimento da água por gás,
que é a alternativa simples para o uso de um aquecedor. Uma outra alternativa também
possível seria o uso de resistores no boiler. A instalação de um sistema como esse deve,

26
portanto, ser contabilizada para análise do investimento e do tempo de recuperação do
capital.

4.1.2. Sistema fotovoltaico

A tecnologia fotovoltaica é um método de produção de energia cuja geração não produz


gases estufa ou outros poluentes, ou seja, sustentável. As células solares, componentes
dos painéis, são normalmente de silício cristalino ou silício amorfo. Em muitos casos
instalem-se painéis solares para atender parcialmente a demanda de energia da
residência. Um tema recente é a inserção da geração distribuída, mas a discussão e o que
sabe-se a respeito ainda é muito incipiente no Brasil. Alguns sistemas solares fotovoltaicos
já têm sido utilizados de forma integrada à rede elétrica pública, com distintas
configurações. No entanto, o foco inicial do trabalho não é desenvolver um sistema
fotovoltaico autônomo, não sendo necessário no momento um maior aprofundamento
nessa questão.

Figura 4.1: Planta do telhado com os dimensionamentos.

A Figura 4.1 mostra o dimensionamento do telhado da residência estudada. É


importante ressaltar que nem toda a área do telhado poderá ser preenchida com painéis
fotovoltaicos,sendo preciso considerar também o espaço ocupado pelos coletores solares.
A área total do telhado é de 85 m² e dessa área 8 m² já será destinada a instalação dos
coletores, o que diminui a disponibilidade para a instalação do sistema fotovoltaico. É
importante salientar que o telhado não é plano e suas irregularidades indisponibilizam boa
parte da área existente.

27
O sistema fotovoltaico é composto basicamente por um inversor de corrente, baterias
de armazenamento de carga e painéis solares. Esses três componentes podem ser
dimensionados com base nos dados de consumo diário de energia, que no caso estudado
é de 10,6 kWh/dia.
A bateria será o primeiro dispositivo a ser dimensionado. Como mencionado, o conjunto
deve gerar no mínimo 10,6 kWh por dia, que corresponde a média mensal de consumo no
ano de 2015 dividida pelo número de dias do mês. Utiliza-se aqui 95 % para a eficiência do
inversor, que também será especificado no decorrer desse estudo. O valor de potência a
ser gerado diariamente pelo sistema fotovoltaico na entrada do inversor será, portanto, o
consumo diário de energia dividido pela eficiência do inversor:

10,5
𝑆𝑆𝐹 = = 11,05 𝑘𝑊ℎ
0,95

Onde 𝑆𝑆𝐹 é a potência a ser fornecida pelo sistema fotovoltaico.


O projeto não será totalmente autônomo tanto por viabilidade econômica quanto por
falta de estrutura apropriada para atender a demanda da residência como um todo. Assim,
a autonomia considerada será de 12 horas, ou seja, as baterias são capazes de suprir por
esse tempo a falta de energia gerada. Para tanto, a potência fornecida pelo sistema (𝑆𝑆𝐹 )
deve ser multiplicado por um fator igual a 0,5.
A capacidade útil da bateria, para 12 horas de autonomia e sabendo que o sistema
opera com 12 Vcc, é de:

11.050 × 0,5
𝐶𝑢 = = 460,4 𝐴ℎ
12

A bateria escolhida para o trabalho é a estacionária da marca Moura Clean que suporta
105 Ah. O número de baterias necessárias em paralelo será, portanto:
460,4
𝑁𝐵 = = 4,4
105

Nessa situação, portanto, o número de baterias ideal corresponde ao maior inteiro, ou


seja, cinco baterias devem ser adquiridas. Nota-se aqui que, com um número maior de

28
baterias que o valor realmente encontrado com o cálculo, o sistema aguentaria um total de
um pouco mais que 13 horas e 30 minutos.
Para o cálculo da potência gerada pelos painéis são necessários dados de radiação
solar incidente da região e o consumo médio diário. Em Campinas, a radiação média anual
diária é de 5,07 kWh/m² como visto no item 3.2 e o consumo energético a ser suprido pelo
painel solar é de 5,25 kWh por dia, correspondente a metade da média de consumo diário.
Assim, tem-se que:

𝐸 ⁄𝐺
𝑃𝑐𝑐 = (10)
𝑅
No qual:
𝑃𝑐𝑐 é a potência média necessária (𝑘𝑊𝑝𝑐𝑐 );
𝐸é o consumo médio diário durante o ano (kWh/dia);
𝐺 é o ganho por radiação solar e
R é o rendimento do sistema (%)
O rendimento do sistema está relacionado ao inversor, considera-se então R=95%.

5,25⁄
5,07
𝑃𝑐𝑐 = = 1,10 𝑘𝑊𝑝𝑐𝑐
0,95

A área necessária será calculada com o auxílio da equação abaixo:

𝑃𝑐𝑐
𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = (11)
𝐸𝑓𝑓
No qual:
𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = Área de painéis (m²)
𝑃𝑐𝑐 = Potência média necessária ( 𝑘𝑊𝑝𝑐𝑐 )
𝐸𝑓𝑓 = Eficiência do painel (%)
Esse valor é obtido com base no consumo energético da residência sem nenhuma
alteração. A partir do momento que as alterações forem feitas e o consumo como um todo
da casa diminuir, o sistema fotovoltaico será provavelmente capaz de gerar mais da
metade da energia necessária. Resultados como esses serão analisados através do
modelo desenvolvido no EES e apresentado em uma das próximas seções.

29
Retornando ao dimensionamento do sistema fotovoltaico, estima-se uma eficiência
de 15 % dos módulos, que é considerada relativamente alta. Para esse cálculo será usado
a potência média de 1,1 kWp encontrada anteriormente. Assim:

1,1
𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = = 7,33 𝑚²
0,15

A oferta de painéis fotovoltaicos encontrados comercialmente é muito alta e a


escolha adequada da potência dos painéis influenciará diretamente no número necessário
de módulos para suprir a demanda de energia. Os módulos escolhidos para dar
continuidade aos cálculos foram os distribuídos pela Yingli Solar de 250 Wp. As
especificações desses painéis podem ser vistas na Figura 4.2.

Figura 4.2: Especificações Técnicas das placas solares da Yingli.

Para calcular o número total de módulos necessários no sistema fotovoltaico que


está sendo modelado, é preciso conhecer as dimensões do painel solar escolhido. É
importante dar uma atenção especial a isso, pois os módulos são os únicos dispositivos
que serão instalados no telhado e demandam área disponível.
A Figura 4.3 traz em detalhamento as dimensões do painel solar escolhido para ser
instalado na residência. Observa-se que esse dispositivo possui uma área total de 1,63 m².

30
Figura 4.3: Dimensões do painel solar
Dividindo-se a área necessária de painéis de 8,67 m² calculada pela dimensão do
módulo da Yingli Solar obtém-se o número de módulos necessários para suprir a demanda
energética da residência. Logo:

7,33
𝑀1 = = 4,5
1,63

Sendo 𝑀1 o número de módulos.


Essa é apenas uma das formas encontradas na literatura de dimensionar o sistema.
Outra possibilidade seria utilizar a demanda de potência média da residência de 1,1 kWp e
as especificações de potência do painel para calcular o número de módulos necessários.
Nesse caso, sabe-se que a máxima potência do painel é de 250 Wp.
Ao dividir o valor da potência instalada necessária pela máxima potência do módulo
obtém-se o número de painéis necessários para suprir o consumo energético residencial.
Assim:
1100
𝑀2 = = 4,4
250

O valor de M para ambas as formas de cálculo deve ser inteiro de modo que ainda
seja capaz de suprir a demanda energética. Logo, o arredondamento deve ser feito para a
unidade acima. Conclui-se que ao menos 5 painéis solares especificados com 250 Wp

31
devem compor o sistema fotovoltaico. Os métodos usados apresentaram uma pequena
diferença na unidade decimal, o que não alterou o resultado final.
O inversor de corrente elétrica também deve ser dimensionado e sua escolha também
se baseia no valor de potência máxima a ser consumido pela residência. Como essa
potência é de 1,1 kWp, o dispositivo escolhido pode operar na faixa de potência até 2,0
kW. O inversor Fronius Galvo 2.000W é, portanto, adequado para a residência estudada.
Em suas especificações está definida sua eficiência como 95 % como já utilizado para o
cálculo do número de baterias necessárias e para o funcionamento do sistema como
todo.Feito isso, os três dispositivos estão dimensionados.
Como já mencionado, o telhado possui irregularidades e a área calculada anteriormente
não pode ser simplesmente alocada para instalação dos painéis. Outra informação que se
deve ter em mente é que aproximadamente 8 m² do telhado já serão necessários para
montagem do coletor solar para aquecer a água. Levando em consideração os fatos
mencionados, uma ilustração da disposição dos módulos e do coletor solar foi elaborada
(Figura 4.4) para melhorar entendimento do sistema idealizado.

Figura 4.4: Disposição dos painéis e do coletor solar no telhado da residência.

A partir da Figura 4.4 é mais fácil perceber que um sistema fotovoltaico totalmente
autônomo não seria inviável devido à indisponibilidade de espaço físico para instalação
dos demais módulos fotovoltaicos.
Nos próximos itens serão discutidos os benefícios econômicos de investimentos
como esse.

32
4.2. Análise Econômica dos Investimentos

Para entender melhor se um investimento é viável, é importante introduzir aqui o


conceito de Prazo de Recuperação do Investimento (PRI) ou Payback. PRI é o período de
tempo necessário para que as entradas de caixa do projeto se igualem ao valor investido,
pois durante o período de investimento o proprietário se priva da posse do bem, além de
correr o risco de não recuperá-lo. Nesse trabalho, o PRI é utilizado para julgar a
atratividade relativa das opções de investimento.
A amortização corresponde à parcela da prestação que é descontada do valor
principal. Para o cálculo da amortização dos investimentos, considera-se aqui o pior dos
casos, ou seja, tarifa elétrica em bandeira vermelha para todos os meses do ano. Essa
bandeira representa ativação de usinas térmicas em alta demanda e conta com uma tarifa
elétrica de 301,71 R$/MWh, segundo a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) que
tem a concessão dos serviços de energia elétrica na cidade de Campinas. Também se
deve adicionar à conta de luz a tarifa de uso do sistema de distribuição (TUSD) residencial,
que é nesse caso de 175,48 R$/MWh.

4.2.1. Instalação do aquecedor solar

O investimento no coletor solar baseia-se na compra dos coletores e do boiler, onde


a água será reservada. No item 3.2 do presente trabalho dimensionou-se a área
necessária de coletores e o tamanho do reservatório para atender a demanda de energia
elétrica usada no aquecimento de água. Essa análise foi feita com base no consumo
energético em função do chuveiro elétrico descrito no item 3.1.
Assim, sabe-se que o boiler deverá armazenar 500 litros de água e a área dos
coletores devem somar aproximadamente 8 m². Os coletores serão placas de 2 m² cada,
sendo necessário, portanto, a compra de ao menos 4 deles. As placas coletoras são os da
marca Titan Ouro Fino e custam R$ 696,90 cada, totalizando o investimento em R$
2.787,60. Sendo o reservatório boiler da marca Termomax com capacidade para 500 litros,
adiciona-se ao custo do investimento a quantia de R$ 1.518,00. Logo, o investimento do
coletor solar como todo se resume a R$ 4.305,60.
Como já citado anteriormente, é preciso instalar um aquecedor de água a gás como
alternativa ao coletor solar nos dias em que a radiação solar não é suficiente para manter
alta a temperatura da água. Um equipamento como esse da marca Lorenzetti adiciona ao
33
investimento o valor de R$ 1.099,00. Considerando esses dois investimentos para o
projeto, chega-se ao custo de R$ 5.404,60.
Com a instalação desses novos equipamentos não existiria mais a parcela de
consumo de energia elétrica referente ao chuveiro elétrico. Portanto, 91,84 kWh em média
por mês seriam poupados. Em reais, essa economia representa:
𝐸𝑐𝑜𝑛𝑜𝑚𝑖𝑎𝑚é𝑑𝑖𝑎 𝑚ê𝑠 = 0,30171 × 91,84 + 0,17548 × 91,84 = 𝑅$ 43,83
A partir desse valor será calculado o tempo de PRI:

5.404,60
𝑃𝑅𝐼𝑐𝑜𝑙𝑒𝑡𝑜𝑟 𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 = = 123 𝑚𝑒𝑠𝑒𝑠 = 10,3 𝑎𝑛𝑜𝑠
43,83

O tempo de retorno aqui necessário é acima da média quando comparado àqueles


apresentados pelas empresas que realizam o serviço de instalação de aquecedores solar.
Muito provavelmente essas empresas não levam em consideração a necessidade, por
exemplo, de instalar aquecedores a gás para que o aquecimento da água seja totalmente
independente da energia elétrica. Além disso, é possível que o cálculo feito por eles leve
em consideração o melhor dos casos, sem que seja feita uma análise verdadeira da
variação de radiação solar da região ou do tamanho do reservatório de água necessário.
Fazendo isso, esses fornecedores conseguem divulgar os coletores solar de uma melhor
forma, apresentando um tempo de retorno consideravelmente menor que o verdadeiro.

4.2.2. Substituição das lâmpadas

Neste trabalho, considerou-se a substituição de todas as lâmpadas da residência por


lâmpadas LED especificadas na Tabela 4.1.

Tabela 4.1: Especificação da lâmpada LED de 6,5 W usada para estudo da viabilidade.
Tipo de lâmpada LED
Marca Philips
Modelo Bulbo
Potência [W] 9,0
Fluxo Luminoso[lm] 806
Tensão [V] 100-240
Vida Mediana [horas] 15.000
Preço médio por unidade [R$] R$15,00
Fonte: Philips (2016)

34
O cálculo da energia consumida por essas lâmpadas deve ser feito a partir do tempo
médio diário em que as lâmpadas ficam acessas na república. Considerando-se que não
houve mudança no hábito dos moradores após a troca, tem-se que não há variação no
valor desse tempo. O tempo médio que uma lâmpada fica acesso no mês, considerando
que cada mês tem trinta dias, é calculado a partir de uma média ponderada da quantidade
de horas que cada lâmpada fica acesa por dia, pois as lâmpadas incandescentes
consomem quatro vezes mais energia que as lâmpadas fluorescentes. Têm-se, assim, os
dados que serão usados para calcular o consumo energético das lâmpadas LED.

Tabela 4.2: Tempo médio em que as lâmpadas ficam acesas em horas por dia.
Tempo que uma lâmpada
Mês
fica acesa (h/dia)
Janeiro 4,75
Fevereiro 4,00
Março 5,15
Abril 5,43
Maio 6,04
Junho 4,51
Julho 4,46
Agosto 2,77
Setembro 4,52
Outubro 5,52
Novembro 4,73
Dezembro 4,33
Média 4,69

O consumo mensal das 18 lâmpadas LEDs é a multiplicação do número de horas


por dia que cada lâmpada fica acesa, o número de dias no mês, a potência especificada na
Tabela 4.1 e a quantidade total desses dispositivos.

35
Tabela 4.3: Consumo mensal de energia devido à iluminação após substituição de
todos os dispositivos por lâmpadas LED.

Consumo total da
Mês
iluminação por LEDs (kWh)

Janeiro 23,07
Fevereiro 19,46
Março 25,03
Abril 26,40
Maio 29,37
Junho 21,92
Julho 21,70
Agosto 13,45
Setembro 21,99
Outubro 26,83
Novembro 23,00
Dezembro 21,05
Média 22,77

A redução do consumo de energia corresponde à 67,4%, ou seja, 47,03 kWh em média


por mês são economizados com a substituição dos dispositivos de iluminação utilizados
atualmente. Em reais:

𝐸𝑐𝑜𝑛𝑜𝑚𝑖𝑎𝑚é𝑑𝑖𝑎 𝑚ê𝑠 = 0,30171 × 47,03 + 0,17548 × 47,03 = 𝑅$22,44 (6)

Considerando-se que cada unidade dessa lâmpada LED especificada custa R$15,00,
sendo necessário um total de 18 lâmpadas, o gasto inicial com os dispositivos de
iluminação é de R$270,00. Percebe-se aqui que o prazo de recuperação desse dispositivo
é bem rápido, sendo até mesmo menor que um ano. Em meses, o tempo de retorno do
investimento será:

270
𝑃𝑅𝐼𝑙â𝑚𝑝𝑎𝑑𝑎𝑠 = = 12 𝑚𝑒𝑠𝑒𝑠
22,44

4.2.3. Substituição dos refrigeradores

O consumo dos refrigeradores tem diminuído consideravelmente com o passar do


tempo devido à evolução tecnológica e também ao interesse dos fabricantes em atender

36
as exigências dos consumidores. Nesse contexto, destaca-se no Brasil o Programa Selo
PROCEL, que tem como objetivo informar os consumidores sobre o desempenho
energético dos equipamentos elétricos que existe desde 1995.
Como descrito na seção 3.4, a geladeira Electrolux RE28 tem bom desempenho
energético, portanto apenas o refrigerador Consul 280L será substituído. A partir da lista do
INMETRO, opta-se pelo refrigerador Esmaltec ROC35, que satisfaz as necessidades da
república em tamanho e apresenta um consumo de energia de 21,9 kWh/mês como
registrado em suas especificações técnicas.
Dessa forma, o novo consumo energético referente ao uso dos refrigeradores seria em
média de 45,6 kWh/mês. Esse valor representa uma redução de 42,45 % do valor anterior,
representando uma economia de 33,64 kWh por mês.
A economia mensal em reais será feita, portanto, multiplicando-se os valores de
referência pela quantidade de energia poupada em um mês. Logo:
𝐸𝑐𝑜𝑛𝑜𝑚𝑖𝑎𝑚é𝑑𝑖𝑎 𝑚ê𝑠 = 0,30171 × 33,64 + 0,17548 × 33,64 = 𝑅$16,05 (7)
Para o futuro cálculo do tempo de recuperação do investimento, considera-se o custo
do novo refrigerador como sendo de R$998,00, encontrado no site do Walmart. Logo, o
tempo de retorno é igual à divisão do valor do refrigerador pelo valor da economia média
referente à substituição do aparelho em um ano. Assim:

998,00
𝑃𝑅𝐼 = = 5,2 𝑎𝑛𝑜𝑠
192,63

4.2.4. Instalação do sistema fotovoltaico

O custo de investimento do sistema fotovoltaico inclui os custos dos módulos


propriamente ditos, a bateria e o inversor de carga. O dimensionamento desses
dispositivos foi realizado no item 3.5 e estão resumidos na tabela abaixo:

37
Tabela 4.4: Preços dos dispositivos que compõem o sistema fotovoltaico
Dimensionamento Sistema Fotovoltaico
Dispostivo Quantidade Preço/ unid.
Bateria 5 R$ 519,00 R$ 2.595,00
Módulo 5 R$ 889,00 R$ 4.445,00
Inversor 1 R$ 8.490,00 R$ 8.490,00
TOTAL R$ 15.530,00

Para calcular o tempo necessário para recuperar esse investimento é importante ter em
mente que a cada mês metade da energia consumida será suprida pelo sistema
fotovoltaico. Sendo a média no ano de consumo mensal de energia elétrica de 315 kWh, a
economia é equivalente a 157,5 kWh. Essa quantidade de energia corresponde à R$ 75,15
mensais seguindo os valores da tarifa da CPFL já definidos no item 4.1 (vide cálculo
abaixo).
𝐸𝑐𝑜𝑛𝑜𝑚𝑖𝑎𝑚é𝑑𝑖𝑎 𝑚ê𝑠 = 0,30171 × 157,5 + 0,17548 × 157,5 = 𝑅$75,15
Esse seria, portanto, o retorno mensal somente com a instalação do sistema
fotovoltaico, que resulta em um tempo de retorno do investimento igual a:
15.530,00
𝑃𝑅𝐼𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎 𝑓𝑜𝑡𝑜𝑣𝑜𝑙𝑡𝑎𝑖𝑐𝑜 = = 206 𝑚𝑒𝑠𝑒𝑠 = 17,2 𝑎𝑛𝑜𝑠
75,15

4.2.5. Economia e tempo de amortização total

Os cálculos de tempo de pagamento do investimento feitos nos itens anteriores foram


considerando cada alteração individualmente, ou seja, não foi avaliado o investimento
como um todo. Aqui será calculado, portanto, o tempo de retorno de todas as inovações
em conjunto.
Assim, a economia total de energia mensal devido a todas as mudanças é:

𝐸𝑐𝑜𝑛𝑜𝑚𝑖𝑎𝑚é𝑑𝑖𝑎 𝑚ê𝑠 = 𝑅$75,15 + 𝑅$16,05 + 𝑅$22,44 + 𝑅$ 43,83 = 𝑅$157,47

Sendo o investimento total de:

𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = 𝑅$15.530,00 + 𝑅$998,00 + 𝑅$270,00 + 𝑅$5.404,60 = 𝑅$22.202,60

Concluindo:

38
22.202,60
𝑃𝑅𝐼𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = = 141 𝑚𝑒𝑠𝑒𝑠 = 11,7 𝑎𝑛𝑜𝑠
157,47

Todas as alterações aqui sugeridas totalizariam, portanto, R$ 22.202,60 de


investimento que seria recuperado após aproximadamente 11 anos e 8 meses.

4.3. Resultados do modelo elaborado

Nesta seção serão apresentados os resultados do modelo para estudo do consumo


energético de residências gerado no programa EES. A primeira fotografia do modelo irá
trazer os resultados alcançados ao analisar a residência estudada onde moram 9 pessoas
e as melhorias propostas. As demais fotografias trazidas irão apresentar resultados
variados decorrentes de alterações do modelo inicial. A intenção com isso é conseguir
comparar diferentes realidade para, assim, avaliar de forma assertiva os investimentos.
As equações usadas para modelar a residência foram as mesmas dispostas no
decorrer deste trabalho. Dessa forma, o resultado obtido foi apresentado na Figura 4.5.

Figura 4.5: Fotografia da república pelo sistema gerado no EES.

39
A intenção com esse modelo era se aproximar da realidade da república. No entanto,
algumas alterações foram feitas para generalizar o problema. Para os eletrodomésticos,
considerou-se o consumo total como sendo igual a 110 kWh e para a iluminação, foi
calculado o número de lâmpadas necessárias com base na área total a ser iluminada. Em
decorrência disso, o número de lâmpadas necessárias é consideravelmente maior que a
quantidade presente atualmente na residência.
A diferença mais considerável entre as duas diferentes formas de análise e que faz com
que o PRI seja de quase um ano de diferença é o fato de os cálculos de dimensionamento
e investimentos realizados fora do programa basearem-se no consumo energético da
residência total antes de qualquer alteração. Como esse consumo era bem maior que o
valor após a troca, por exemplo, das lâmpadas e do chuveiro elétrico, os resultados
acabam sendo reflexo de um sistema sobredimensionado, resultando em mais energia
produzida do que consumida.
Por isso, nesse modelo, não seria necessário consumir mais energia da rede, já que o
sistema fotovoltaico seria capaz de suprir toda a demanda interna depois de reduzir o
consumo devido ao chuveiro elétrico, à iluminação e aos eletrodomésticos. Isso explica o
valor negativo para a energia elétrica da rede (Celet). Caso fosse considerado o consumo
médio inicial da casa de 315 kWh, a energia gerada pelos painéis representaria apenas
metade desse consumo. Outra diferença é o número de baterias necessárias para
sustentar, como descrito, o consumo por metade do dia. Nessa situação simulada pelo
EES o número de baterias para o sistema fotovoltaico é menor, pois o consumo energético
já considerando todas as alterações é notavelmente menor.
No caso em que é produzida mais energia elétrica pelo sistema fotovoltaico do que
consumida, o consumidor precisaria pagar apenas a tarifa mínima da conta de luz e o
bônus energético gerado em um mês poderia ser abatido da fatura em meses futuros
dentro de um prazo de até 18 meses, caso esse cliente consuma energia da rede em
algum momento dentro desse intervalo. Decorrido esse período, essa pacote de energia
extra venceria, sem possibilidade de retorno financeiro. Ainda não existe a possibilidade de
vender esse saldo energético devido ao fato de o setor elétrico tratar-se de uma esfera
muito regulada e a venda envolver diferentes regulamentações e impostos.
Para trazer um segundo cenário do sistema que sirva para a maioria das famílias
brasileiras é preciso saber quantas pessoas compõe em média um lar brasileiro. De acordo
com o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 2010,

40
cada lar brasileiro tem 3,3 moradores em média. Dentre os serviços públicos existentes, a
iluminação elétrica está presente em quase todos os domicílios brasileiros (97,8%).
Nessa segunda simulação também serão feitas algumas hipóteses para adequar mais
o modelo a realidade do país. O total de painéis fotovoltaicos instalados não dependerá
mais da área total disponível, será fixado a quantidade de 2 painéis por residência. A área
da residência a ser iluminada, ou seja, o tamanho da casa será de 80 m², o que irá diminuir
o número de lâmpadas necessárias para iluminar adequadamente toda a casa.
Algumas outras considerações como o tempo médio de banho de cada pessoa como
sendo igual à 10 minutos (dentro da média nacional, com pessoas habitando diariamente a
residência, ao contrário da república) e o fato de que será entendido que existe a
possibilidade de substituir por completo o chuveiro elétrico, ou seja, toda área necessária
de coletor solar será satisfeita serão adotadas. Com um total de 3,3 moradores e banho
médio de 10 minutos por pessoa em um dia, o volume total do reservatório de água passa
a ser de 400 litros, o que diminui o investimento em R$ 200,00.
Os resultados desse novo modelo podem ser vistos na Figura 4.6 abaixo.

Figura 4.6: Fotografia de uma residência média brasileira gerado pelo sistema no EES.

Considerando a substituição das lâmpadas e dos eletrodomésticos por equipamentos


mais eficientes, e o fato de que toda a energia gerada pelo sistema fotovoltaico será
consumida pela própria residência, a economia total de energia (Eco) atinge um valor de

41
108,6 kWh. Desse valor, 68,64 kWh são gerados pelo sistema fotovoltaico e o restante
corresponde simplesmente ao que se economizou ao trocar todas as lâmpadas para LED e
os eletrodomésticos (no caso a geladeira) para o modelo mais econômico no mercado.
Chegou-se a esse valor com base na análise anterior feita da república, considerando que,
percentualmente, a economia ao implantar essas melhorias seria a mesma nos dois casos.
O consumo total dessa residência passa a ser 130 kWh no mês e é preciso retirar da
rede elétrica apenas 61,39 kWh, pois o restante é suprido pelos painéis fotovoltaicos. O
tempo de retorno do investimento é consideravelmente maior devido ao fato de serem
instaladas apenas duas placas fotovoltaicas, sendo que o componente mais caro de um
sistema fotovoltaico é o inversor de freqüência.
Para entender o impacto de uma economia como essa, o resultado será multiplicado
pelo número total de residências brasileiras de forma a analisar quão grande seria a
economia em um aspecto nacional. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua (PNAD, 2012), o número de domicílios brasileiros atingiu o número de
62,8 milhões. Ao multiplicar esse número por 108,6 kWh, que representa a economia
mensal de energia elétrica, obtém-se um total de 6.780 GWh de energia economizada por
mês no Brasil.
Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) o consumo mensal de energia
elétrica na rede é de 37.000 GWh. Apenas nas residências, o consumo atinge em média
10.000 GWh por mês. Sendo assim, considerando que todas as residências
economizassem o mesmo tanto de energia elétrica com os investimentos sugeridos, seria
possível reduzir 18,3% do consumo médio mensal brasileiro de energia elétrica e 67,8 %
do consumo médio mensal de energia das residências.
Seguindo esse mesmo raciocínio, outra análise que pode ser feita para entender o
impacto de um resultado como esse é o quanto essa economia minimizaria de emissão de
dióxido de carbono (CO2). Para tanto, torna-se fundamental conhecer a matriz energética
brasileira e entender qual a porcentagem de energia produzida provém de combustíveis
fósseis. A Figura 4.7 representa a matriz elétrica brasileira do ano de 2015 e traz as
porcentagens da participação de cada setor no total. No ano de 2015, 75,5% da energia
elétrica produzida no país era devido a participação das fontes renováveis.

42
Figura 4.7: Matriz elétrica brasileira. EPE 2016.

Os demais 24,5 % provêm de diferentes fontes energéticas, sendo que 22,2%


representam fontes responsáveis pela emissão de CO2 como gás natural, carvão, petróleo
e derivados. Sabe-se que a economia mensal de energia seria de 6.780 GWh caso todas
os domicílios brasileiros adotassem as mudanças propostas em prol da sustentabilidade, o
que resulta em uma diminuição anual de 81,36 TWh. Esse valor representa 13,2 % da
oferta total de energia no Brasil no ano de 2015 segundo a Empresa de Pesquisa
Energética (EPE), restando assim apenas 10% de fontes energéticas poluidoras.
Em termos de toneladas de CO2 emitidas por tonelada equivalente de petróleo, o
indicador do Brasil ficou em 1,59 em 2014. Nesse mesmo ano, 16,4% da emissão de CO2
no país provinha da geração de energia elétrica (Ministério de Minas e Energia, 2015), ou
seja, 0,26 tCO2/tep, valor que corresponde aos 22,2 % da oferta anual mencionado
anteriormente. Dessa forma, após as alterações propostas a emissão de CO2 passaria a
ser de 0,12 tCO2/tep no ano.
Considerando apenas as melhorias aqui descritas já seria possível uma redução
significativa da emissão dos gases responsáveis pelo chamado efeito estufa. O melhor dos

43
mundos para reverter a situação ambiental atual e conseguir suprir a demanda energética
em crescimento sem poluir mais o meio ambiente seria, portanto, conciliar o investimentos
em fontes renováveis e tecnologias mais eficientes com melhoria dos hábitos e
conscientização da população quanto ao consumo de energia.
Estudar quantos equipamentos de ar condicionado poderiam ser instalados na
residência é uma abordagem diferente que também ajuda a entender o impacto das
alterações propostas. Para garantir o conforto térmico dos moradores, muitas residências
contam com eletrodomésticos voltados para a climatização de ambientes. No entanto,
esses aparelhos levam ao consequente aumento do consumo de energia.
Para calcular qual o consumo de energia de um ar condicionado é preciso saber quanto
tempo por dia o equipamento ficará ligado, o número de dias no mês que ele irá trabalhar e
sua capacidade térmica, normalmente fornecida em BTU/h. Aqui será considerado um
dispositivo de 7.000 BTU/h, ou seja, aproximadamente 900 W de potência que opera 15
dias no mês durante 8 horas. Sendo assim, é possível obter um consumo total no mês de
108 kWh por ar condicionado instalado. Como a economia mensal desse segundo modelo
foi de 108,6 kWh conclui-se, portanto, que o consumo energético decorrente das
mudanças realizadas na residência seria suficiente apenas a instalação de um aparelho
em toda a casa.

4.4. Análise energética e exergética das melhorias

Esta seção será direcionada a apresentar uma análise energética e exergética das
mudanças realizadas na república, ou seja, as eficiências antes e depois das mudanças
realizadas. O intuito com isso é mostrar em nível termodinâmico o que os investimentos
em novas tecnologias trazem de proveitoso.
As eficiências energética e exergética são obtidas a partir da média ponderada das
eficiências dos dispositivos individualmente multiplicada pela sua participação no consumo
da residência. Considerou-se para as contas das eficiências antes de qualquer alteração
no modelo os dados dispostos encontrados na Tabela 3.5. Assim:

𝜂 = [(0,2517 × 0,60) + (0,1451 × 0,80) + (0,2917 × 0,90) + (0,2217 × 0,625 × 0,20)


+ (0,2217 × 0,375 × 0,05)] = 0,5626

𝜂 = 56,3 %

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Ψ = [(0,2517 × 0,075) + (0,1451 × 0,80) + (0,2917 × 0,108) + (0,2217 × 0,625 × 0,185)
+ (0,2217 × 0,375 × 0,045)] = 0,1958

Ψ = 19,6 %

A eficiência energética é maior do que a eficiência exergética. Esse é um resultado


esperado já que os utensílios domésticos normalmente não apresentam um bom gradiente
de temperatura entre o ambiente e o uso final, o que diminui o fator de Carnot que compõe
a expressão 6 da exergia. Dessa forma, o chuveiro elétrico é um dos dispositivos que mais
contribui para essa considerável diferença. Isso faz com que seja importante a análise
após implementação do sistema de aquecimento solar.
Após os investimentos e alterações realizadas na casa, a distribuição de eficiências e
consumos se altera. A grande diferença reside no fato de o chuveiro não fazer mais parte
do cálculo da eficiência global da casa por tratar-se de um dispositivo que conta com o
aquecimento solar. Sendo assim, sua participação no consumo energético anterior de
29,17 % será dividida entre os demais dispositivos sendo computados nessa etapa
mantendo a relação de proporcionalidade entre eles. A Tabela 4.5 traz os novos dados que
serão utilizados para o cálculo das novas eficiências energéticas e exergéticas.

Tabela 4.5: Especificações após investimentos realizados.


Eficiência
Participação no Eficiência
Exergética
Aparelho consumo energético Energética ƞ
ψ
% % %
Geladeira 40,70 71 10,5
Demais dispositivos eletrônicos 23,46 80 80
Chuveiro (Aquecedor Solar) 0 90 26,4
Lâmpadas LED 35,84 90 81

O valor para eficiência exergética do aquecedor solar foi obtido a partir da equação
𝜂 = [(0,4070 × 0,71) + (0,2346 × 0,80) + (0,3584 × 0,90)] = 0,7996

𝜂 = 79,96 %

Ψ = [(0,4070 × 0,105) + (0,2346 × 0,80) + (0,3584 × 0,81)] = 0,5207

Ψ = 52,07 %

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Com as alterações, portanto, é possível tornar a residência como um todo bem mais
eficiente tanto no âmbito energético quanto no exergético.
Apesar de a participação do chuveiro por aquecedor solar no cálculo da eficiência da
casa não ser considerada, calculou-se o seu valor com base na temperatura ambiente
considerada para o problema (T 0=25ºC) e a temperatura final que a água atinge ao ser
aquecida nos coletores (Tf=60ºC). Como pode ser visto na Tabela 4.5, a eficiência
exergética do chuveiro chegou a atingir o valor de 26,4 % por utilizar o sol como fonte para
o aquecimento.

5. Conclusões

A energia é um bem vital, sendo essencial para o desenvolvimento da população.


No entanto, os padrões atuais de recursos energéticos e de uso de energia se mostram
prejudiciais para o bem-estar de longo prazo da humanidade. O uso atual e a grande
dependência de combustíveis fósseis levam à degradação dos meios ambientes locais,
regionais e globais. Acredita-se, contudo, que há diferentes soluções sustentáveis para
esse problema energético enfrentado mundialmente.
O objetivo do presente trabalho foi apresentar uma solução em uma escala micro
que, se replicada, poderia trazer diversos ganhos. Como mencionado, o setor residencial
tem forte participação no consumo energético mundial, mas também apresenta um dos
maiores potenciais de melhoria adotando-se muitas vezes simplesmente práticas de
eficiência energética, como utilização de lâmpadas econômicas.
Estudou-se, portanto, uma república com nove moradoras que destoa do que seria
uma residência normal brasileira. A situação em questão era atípica, mas a partir dela foi
possível desenvolver uma análise de consumo e melhorias potenciais, como a instalação
de painéis fotovoltaicos e coletores solar, além da substituição de lâmpadas e geladeiras
por dispositivos com melhor eficiência energética. Para entender melhor o investimento, foi
de extrema importância calcular também o tempo de retorno do investimento.
Realizando-se todas as alterações na república conclui-se que o tempo de retorno
de investimento de um sistema que no final seria capaz de alimentar toda a demanda de
energia elétrica da casa foi de 11,7 anos. Foi desenvolvido um sistema no EES para que
fosse possível visualizar melhor o impacto das mudanças propostas e chegou-se a
conclusão que com todas as alterações propostas seria possível suprir toda a demanda
interna de energia com o sistema fotovoltaico.
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A partir desse sistema desenvolvido, um novo cenário foi proposto para avaliar as
propostas em um cenário que representasse um padrão da população brasileira. A nova
simulação trouxe, portanto, os resultados para uma residência com a média de 3,3
habitantes, 80 m² a serem iluminados, aquecedor solar instalado para suprir toda a
demanda de aquecimento de água e dois módulos solares. A economia mensal foi, assim,
em torno de 108 kWh o que seria suficiente 13,2 % do consumo energético brasileiro. Essa
redução poderia diminuir a produção de energia através de recursos fósseis, acarretando
na redução da produção de CO2 de 0,26 para 0,12 tCO2/tep por ano.
Além disso, realizou-se uma análise energética e exergética da casa, antes e depois
das melhorias. Avaliou-se, dessa forma, o impacto termodinâmico das alterações e conclui-
se existe uma melhora significativa possível, principalmente na eficiência exergética, que
representa a verdadeira capacidade de realização de trabalho, ou seja, o verdadeiro
potencial de uso dos equipamentos.
Conclui-se, dessa forma, que existe um grande potencial de melhoria no consumo
energético das residências brasileiras, sendo possível, inclusive, reduzir mais da metade
da emissão de CO2, que é atualmente uma das grandes polêmicas discutida quando o
assunto é aquecimento global. O mercado de energia renovável vem crescendo a cada
dia, mas isso não é suficiente para reduzir os impactos ambientais já existentes. É
importante ter em mente a necessidade de conciliar essas fontes limpas com o uso de
equipamentos mais eficientes e hábitos econômicos para que a mudança seja realmente
efetiva.

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