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Sentidos 11, Unidade 6 – Cesário Verde, Cânticos do Realismo Cenários de Resposta

Páginas Domínio / texto Cenário de Resposta

1.
316 Compreensão a. Nascimento do poeta, a 25 de fevereiro, em Lisboa, na freguesia de Santa Maria Madalena.
do Oral
b. Refúgio da família em Linda-a-Pastora.
c. Morte de vários elementos da família do poeta devido à tuberculose.
d. Matrícula de Cesário Verde no curso superior de Letras.
e. 1880
f. Produção de frutas em Linda-a-Pastora, desde junho.
g. Morte de Cesário a 19 de junho, às 5 horas da manhã.
h. Aparecimento de vários necrológios elogiosos, em Lisboa e no Porto, e publicação de uma carta de Silva Pinto assumindo-se como editor da obra poética do
amigo.
i. 1887
1.
317 Expressão Oral a. Cesário Verde nasceu em Lisboa, em 1855; viveu só 31 anos, porque, no ano de 1886, ocorre a sua morte.
b. Fez a instrução primária e terá estudado línguas. Embora se tenha inscrito no curso superior de Letras em 1873, abandonou os estudos − desde os 17 anos,
trabalhou na loja do pai como correspondente comercial.
c. Os seus primeiros poemas são publicados no Diário de Notícias, dirigido por um antigo funcionário do pai.
d. Cesário, na sua poesia, dá conta do bulício citadino e centra a sua atenção em determinados grupos sociais.
e. Cesário, a par da escrita, continua a dedicar-se à atividade comercial, tendo mesmo viajado até Paris para encetar novos negócios.
f. A produção poética de Cesário não é bem acolhida, o que o leva a pensar em desistir.
g. Apesar do azedume que veio a lume aquando das suas primeiras publicações, após o falecimento de Cesário Verde, vários jornais publicitaram a sua morte
prematura e lamentaram a perda de um poeta promissor.
2.1
 Na imagem A pode verificar-se um conjunto de trabalhadores que, de cócoras, calcetam uma rua ou uma praça. São maioritariamente homens de
meia-idade, usam chapéus largos e empunham martelos e outras alfaias para cumprir a tarefa, que se percebe difícil. Integrando a centralidade da
imagem, são alvo de atenção/curiosidade por parte de alguns transeuntes. No entanto, é visível que são ignorados por duas senhoras, de classe social mais
elevada, que por eles passam.
 A imagem B é também representativa da classe operária – as varinas. A varina que surge em primeiro plano veste roupas típicas da época (saias e/ou
aventais compridos), mas está descalça. O fundo da imagem denuncia o local onde se encontra (porto de pesca), local de onde traz o peixe que irá,
possivelmente, vender na cidade, transportando-o numa canastra à cabeça.
 A imagem C representa uma rua da cidade de Lisboa (a rua Augusta nos inícios do séc. XX), com a arquitetura tipicamente pombalina. Destaca-se a
multidão que por ali deambula e vários candeeiros de iluminação pública. A imagem representa um aspeto significativo da poesia de Cesário – a
deambulação pelas ruas da cidade.
 A última imagem contrasta com as duas primeiras, uma vez que as figuras femininas pertencem a uma classe social mais elevada e ostentam vestidos
luxuosos e acessórios de moda em voga na época.
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2.2 Todas as imagens podem ser associadas ao conteúdo poético de alguns poemas de Cesário. Além disso, ilustram a época em que o autor viveu bem como
alguns tipos sociais (os calceteiros, as varinas) e espaços (ruas da cidade de Lisboa, …) descritos pelo poeta nos seus poemas. Por outro lado, as condições
árduas de trabalho da classe operária e o desprezo a que elas são votadas por parte de classes mais favorecidas estão igualmente retratadas nas imagens.

318-319 Leitura 1.1 [B]


1.2 [A]
1.3 [C]
2.
a. artigo de opinião
b. ponto de vista
c. clara
d. argumentos
e. exemplos
f. valorativo

320-321 Educação Literária 1. Os acontecimentos situam-se no final da tarde, quando os sinos tocam as ave-marias, isto é, por volta das 18 h, correspondendo ao período do dia
apresentado no título.
“O sentimento dum
ocidental – 2. O “eu” confessa que o ambiente em que deambula desperta “um desejo absurdo de sofrer”. Sente-se enjoado e perturbado por tudo o que o circunda e pela
Avé-Marias” atmosfera pesada resultante da mistura das exalações da iluminação a gás com a neblina. É, por isso, evidente o incómodo gerado por um ambiente urbano
que o mura e onde as desigualdade sobressaem.
3. Habitualmente, o ar soturno, monótono e carregado de neblina surge associado ao espaço londrino. Ora, no momento em que o “eu” circula por Lisboa, esta
apresenta-se-lhe com essas características, justificando-se, assim, a associação estabelecida.
4. Os três aspetos que fazem parte da cidade percorrida e caracterizada pelo “eu” lírico são: as ruas, os prédios sepulcrais, que se assemelham a gaiolas, e o rio,
caracterizado como viscoso.
5. A dimensão épica é ativada pelo recurso à memória, tal como comprovam os versos que integram a sexta estrofe, onde claramente se vê a referência às
descobertas marítimas, à luta contra os mouros, à ação de Camões, um passado grandioso que o “eu” não verá jamais, como o próprio afirma.
6. O presente sufocante faz com que o narrador evoque um passado onde a originalidade, a simplicidade e a busca de novos espaços abertos dominaram. Foi
uma época áurea que o “eu” desejava de novo.
7. Tal como Camões passou por várias tormentas, entre as quais o naufrágio, também os filhos das varinas terão como destino a pesca, atividade onde muitos
pescadores, ainda hoje, perdem a vida.
8. A denúncia sociomoral resulta das críticas que aqui se evidenciam, suscitadas pela observação da vida luxuosa de alguns citadinos, que contrasta com a dos
pobres trabalhadores. Veja-se as três últimas estrofes, onde se destaca a vida de miséria das varinas, que se opõe à dos que podem frequentar os “hotéis da
moda”.
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9. O uso da 1.a pessoa gramatical ao nível dos pronomes pessoais e formas verbais, o emprego de vocabulário de conotação negativa na caracterização do
espaço e, ainda, o recurso aos pontos de exclamação, sugerem a emotividade do “eu” deambulante.
10. Modificador do nome apositivo – “viscoso”; sujeito – “o rio”.

322-323 Educação Literária 1. O título aponta para um período do dia em que é necessário recorrer à luz artificial e a uma maior vigilância, factos que são comprovados nos versos “A
espaços, iluminam-se os andares” (v. 9) e “Partem patrulhas de cavalaria” (v. 29).
“O sentimento dum
ocidental – 2. Logo no segundo verso da 1.a estrofe, o “eu” afirma que o “som mortifica” e na estrofe seguinte (v. 6) assume que se sente “mórbido” e que o coração lhe
Noite fechada” chora perante a visão das prisões, pois ele próprio se sente prisioneiro da cidade que retrata.
3. Por exemplo: “Duas igrejas, […], / Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero” (vv. 13-14); “Nelas esfumo um ermo inquisidor severo” (v. 15); Afrontam-me
[…] / os sinos de um tanger monástico e devoto.” (vv. 19-20) ou o facto de os quartéis já terem sido conventos (perpassa a ideia de continuidade de
opressão).
4. O contraste entre o passado e o presente concretiza-se, de forma visual, pela oposição entre a grandiosidade do passado épico português, presente na
monumental estátua de Camões “de proporções guerreiras” (v. 23) e a massa acumulada de “corpos enfezados” (v. 26) com que o “eu” se depara na sua
deambulação.
5.1 A liberdade, a igualdade e a justiça social são valores que o ser humano sempre procurou e desejou alcançar. Contudo, a opressão e as desigualdades
impõem-se na Lisboa oitocentista, tal como se percebe pela referência aos soldados e às “patrulhas” que se "derramam" pela capital, e que simbolizam a
opressão. Denota-se ainda notações alusivas às prisões e aos aljubes, locais onde os mais desfavorecidos iam parar. Assim, houve algumas transformações,
como documentam os versos: “O aljube, em que hoje estão velhinhas e crianças, / Bem raramente encerra uma mulher de ‘dom’!” (vv. 3-4); “Sombrios e
espectrais recolhem os soldados; / Inflama-se um palácio em face de um casebre.” (vv- 27-28); “Partem patrulhas de cavalaria / Dos arcos dos quartéis que
foram já conventos;” (vv. 29-30).
6. É o próprio “eu” poético que afirma “ E eu, de luneta de uma lente só, / Eu acho sempre assunto a quadros revoltados:” (vv. 41-42), o que permite
percecionar uma realidade antipoética, pelo menos em termos de tradição literária, a qual funciona como motivo inspirador de um poeta que só mais tarde
será considerado inovador.
7. “Chora-me o coração” (v. 8) – metáfora usada para sugerir a dor e o sofrimento que o espaço citadino provoca no “eu”. Em “E a lua lembra o circo e os jogos
malabares.” (v. 12) está presente uma comparação, que se expressa através do verbo “lembrar” e que aqui pode ser substituído por "parecer" ou “
assemelhar-se”.
8. É notório o diálogo interartístico entre estas duas realizações estéticas – literatura e pintura. O tempo e o espaço em “O sentimento dum ocidental” são
coincidentes na aguarela: (1) o fim da tarde, visível no timbre suave da luz de pôr do sol e na cor acinzentada da atmosfera e (2) a localização próxima do rio
Tejo/do cheiro a maresia. Tal como nos poemas, na aguarela são notórios os traços incertos e densos, de onde sobressai o contraste social, evidente na
solidez de construção da amurada e dos edifícios na margem quando comparada com a instabilidade da estacaria que suporta os modestos casebres. Fruto
deste contraste, Cesário evoca lamuriosamente em “Noite fechada” a “triste cidade”, por onde deambula, onde se inflama “um palácio em face de um
casebre”.
9. “que abateu no terramoto” – oração subordinada adjetiva relativa restritiva.
10. “lhes” retoma “as costureiras, as floristas”.
11. Empréstimo.
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324-325 Informar 1. O espaço privilegiado é a cidade, e o tempo a noite.


2. O poema é constituído por quatro secções com onze quadras cada uma, apresentando alguma simetria ao nível do tratamento do espaço e do tempo.
3. Tal como uma sinfonia, que remete para um todo harmónico e coerente, este poema, apesar de dividido em quatro partes, sugere o avançar progressivo e
melancólico da noite.
4. “O melancólico ‘desejo absurdo de sofrer’ despertado pelo anoitecer é justaposto com uma nostálgica evocação visionária do passado; a mórbida
exacerbação da angústia ao acender das luzes é justaposta com as alucinações febris de um presente fantasmagórico; […] finalmente, na escuridão total das
horas mortas, a evocação ansiosa de um futuro gerado pela própria noite […]”. (ll. 20-28)
5. Atendendo ao percurso efetuado pelo “eu” deambulante e aos diferentes períodos noturnos, pode, realmente, dizer-se que neste poema se acede a uma
visão global da cidade.

325 Compreensão/ Resposta de caráter pessoal. Contudo, sugere-se a abordagem dos seguintes tópicos:
Expressão Oral
− a temática da cidade e a deambulação do “eu” nesse espaço: “As ruas que a cidade tinha / Já eu percorrera.”
− as “coisas que deixam saudade”, sugerindo o passado também revisitado por Cesário Verde no espaço citadino.
− o abatimento, que sobressai quer na canção quer em “O sentimento dum ocidental”.

325 Escrita
Resposta de caráter pessoal. Contudo, sugere-se a abordagem dos seguinte tópico:
O aluno pode selecionar como argumentos o facto de o conhecimento do passado potenciar ou explicar o presente, permitir a correção do que de errado foi
feito ou ajudar a construir a identidade de um povo. Este conhecimento pode ainda possibilitar a perceção de atitudes e de conteúdos abordados por
diferentes manifestações artísticas.

326-327 Educação Literária 1.1 A crítica social é evidenciada na alusão irónica a determinadas figuras humanas, como é o caso das “impuras”, das “burguesinhas do catolicismo” (numa
alusão clara aos falsos fiéis), da “lúbrica pessoa” e da “velha, de bandós”.
“O sentimento dum
ocidental – Ao gás” 2.1 A antirreligiosidade é visível na segunda estrofe, onde existe uma clara associação entre o comércio e a igreja (o narrador, em jeito de alucinação, pensa
estar numa imensa catedral profana), e em versos como “As burguesinhas do catolicismo / Resvalam pelo chão minado pelos canos;” (vv. 9-10), “As freiras
que os jejuns matavam de histerismo.” (v. 12).
3. Os grupos sociais que são alvo da atenção do narrador pertencem à classe operária, como é o caso do forjador e do padeiro. Estes, emblemáticos de vigor,
de honestidade e de saúde, são apresentados em claro contraste com as impuras ou as burguesinhas do catolicismo. Também os mais desprotegidos, como o
“homenzinho idoso”, seu antigo professor de latim, lhe merecem especial atenção.
4. O narrador serve-se da visão, da audição, do olfato e do tato, sensações evidenciadas nas seguintes expressões: “Um forjador maneja um malho,
rubramente” (v. 14) – o manejar do malho produz barulho e faíscas, daí a referência à cor rubra; “E de uma padaria exala-se, inda quente, / Um cheiro salutar
e honesto a pão no forno.” (vv. 15-16) – onde está a notação do cheiro mas também do calor emanado pelo pão quente, o que ilustra a sinestesia.
5.1 Essa sugestão é dada na penúltima estrofe, já que se percebe que a cidade está prestes a ser abandonada à sua escuridão, “as armações fulgentes” (v. 40)
transformam-se em “mausoléus” com o apagar das luzes, e só o grito do cauteleiro e o lamento de um mendigo quebram o silêncio da noite.
5.2 A referência ao velho professor de latim, que se transformou num pedinte, vem confirmar a visão crítica da cidade, onde as injustiças e a solidão proliferam,
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apesar do bulício que aí reina. É mais uma confirmação de que a cidade confina, aprisiona, é um inferno ou um mundo de fantasmas de que urge fugir.
6.
a. “exacerbe” (v. 17)
b. “quisera” (v. 18)
c. “dessem” (v. 18)

328-329 Educação Literária 1.1 A viagem noturna do narrador levou-o até ao momento da escuridão mais profunda, momento em que todas as luzes já se apagaram, restando apenas a
que é libertada pelos astros, isto é, uma luz natural, contudo, escassa, porque a poluição faz com que os astros fiquem com “olheiras”.
“O sentimento dum
ocidental – Horas 2. O desejo de transmigrar resulta da necessidade de se libertar, de fugir de um espaço geográfico que é uma espécie de prisão fantasmagórica que lhe retira a
mortas” liberdade e o amor e do qual o poeta tem de se afastar.
3. A ânsia de liberdade inscreve-se nos domínios espacial e temporal, uma vez que no presente claustrofóbico da cidade surge o desejo de, no futuro, “explorar
todos os continentes / E pelas vastidões aquáticas seguir!” (vv. 23-24), ou seja, a opressão, a solidão, o confinamento e a morte, associados à cidade, devem
ser substituídos por uma maior nitidez, pela libertação e pelo amor possível noutro espaço, aqui representados metaforicamente pelas “vastidões
aquáticas”.
4. É na sexta estrofe que se evidencia a esperança num futuro que poderá inspirar-se num passado longínquo.
5. A dimensão épica está presente na referência às frotas dos avós e à exploração de novos continentes através do mar, como se pode ler na sexta estrofe.
6. Os citadinos vivem emparedados, envoltos num ambiente nebuloso, “Sem árvores” (v. 26), o que acentua a sensação claustrofóbica que vitima o “eu” que aí
vive e sofre do mesmo mal que os outros habitantes, tal como se percebe em “Mas se vivemos, os emparedados” (v. 25). Assim, o emprego da 1. a pessoa do
plural evidencia uma vivência comum à dos outros habitantes da cidade.
7. A nível temático, em todos os poemas sobressai o retrato disfórico da cidade, feito por um sujeito poético que percorre as ruas, numa viagem noturna, que
começa às 18 horas e que termina noite dentro. Nesse deambular, surgem evocações do passado ou projeções futuras que contrastam com a realidade
vivenciada. Estilisticamente também se veem simetrias; cada uma das quatro secções do poema apresenta onze quadras, o mesmo tipo de métrica
(decassílabos e dodecassílabos) e rima (interpolada e emparelhada).

329 Escrita O aluno poderá contemplar os seguintes aspetos:


– a representação disfórica da cidade, desde o fim do dia até altas horas da noite;
– o espaço percorrido numa atitude de deambulação mas também de captação através dos sentidos;
– a necessidade de fuga como geradora da transfiguração, pelo recurso à imaginação;
– a evocação do passado para estabelecer simetrias com o presente.

330-331 Informar 1.1 [C]


1.2 [B]
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1.3 [D]
1.4 [B]
2.1
a. V
b. V
c. F

332-333 Educação Literária 1.1 A ação inicia-se às dez horas da manhã e localiza-se num espaço urbano, tal como sugere o próprio título e a referência, na primeira estrofe, à “larga rua
macadamizada”.
“Num bairro
moderno” 1.2 As personagens focalizadas são uma hortaliceira, um criado, os padeiros e o pequerrucho que rega a trepadeira.
1.2.1 A personagem que assume maior relevo, dada a atenção e admiração que conquista ao “eu” poético, é a vendedora de hortaliça.
2.
a. Da 1.a até à 3.a estrofe.
b. Da 4.a à 16.a estrofe.
c. Inicia na 7.a estrofe e na 8.a é interrompida; na 9.a é novamente retomada, estendendo-se até à 12.a estrofe.
d. 16.a estrofe.
e. Ocorre na 13.a estrofe, onde se constata que o sol estaria alto, o que indicia a passagem do tempo, impondo-se o real até ao fim.
3.1 Como se percebe pela leitura do poema, há uma invasão simbólica da cidade pelo campo que está representado no cabaz, que lembra “um retalho de
horta”, e extensivamente pode ler-se como representação dos valores que se associam ao campo. Por outro lado, o “eu”, que aqui assume o estatuto de um
narrador burguês, enquanto vagueia, vai comentando o que observa naquele espaço, dando conta das casas apalaçadas e dos seus interiores, reveladores da
vida luxuosa dos seus moradores, que contrasta com a presença da hortaliceira que, tal como se depreende, é de um estatuto social inferior ao do sujeito
poético, dado que este afirma “Eu acerquei-me d’ela, sem desprezo” (v. 66).
4. Os vários tipos sociais são percecionados através da descrição do bairro moderno e do criado que representa aqueles que serve e que têm um estatuto social
superior ao da hortaliceira. Repare-se que o sujeito poético, mesmo pertencendo à classe burguesa, identifica-se com os mais desfavorecidos, porque
também trabalha; daí que recorrentemente faça a distinção entre pobres e ricos, conotados com os camponeses e os citadinos, respetivamente.
5. O sujeito poético assume a intenção de um repórter que vai captando e comentando as situações com que se depara, deixando, todavia, escapar a sua ironia
crítica em relação aos citadinos e a sua preferência pela classe trabalhadora. Tem também um papel artístico e criativo, atendendo a que transfigura a
realidade pela imaginação.
6. O “eu” serve-se de quase todas as sensações, desde as visual e tátil (v. 4), passando pelas olfativa e auditiva (vv. 36-40) e ainda pela gustativa (vv. 51-54).
7.
a. “Como um retalho de horta aglomerada” (v. 19);
b. “esgadelhada, feia” (v. 24);
c. “E os nabos – ossos nus” (v. 49);
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d. “As forças, a alegria, a plenitude” (v. 73);


e. “brancuras quentes” (v. 4);
f. “uma ou outra campainha / Toca, frenética, de vez em quando.” (vv. 39-40).

334-336 Educação Literária 1. O “eu” observa os calceteiros a calçar a rua, o primeiro espaço observado por onde passava. Este espaço vai-se alargando e estende-se ao casario (“E as
poças d’água, como um chão vidrento / Refletem a molhada casaria.”– vv. 9-10). O espaço alarga-se ainda mais, surgindo a referência concreta à cidade em
“Cristalizações”
“Vê-se a cidade, mercantil, contente” (v. 39). Conclui-se, assim, que o espaço focalizado é o citadino.
2. O tempo é invernoso (frio, chuvoso, rude mês), surgindo a referência concreta ao mês de dezembro na antepenúltima estrofe.
3.1 A classe operária, simbolizada nos pedreiros, contrasta com a atrizita. Esta surge quando o “eu” revela pena dos trabalhadores, que executavam as tarefas
assemelhando-se a animais de carga – “Homens de carga! Assim as bestas vão curvadas! / Que vida tão custosa! Que diabo!” (vv. 61-62). A figura, “fina de
feições” (v. 86), opõe-se aos duros pedreiros. De um lado, coloca-se o luxo pretendido e a fragilidade da mulher citadina e, do outro, a brutalidade e o
esforço dos “bovinos, másculos, ossudos” trabalhadores (v. 92).
4.1 No último verso da terceira estrofe e no primeiro da quarta, o sujeito poético anota algumas marcas de ruralidade, dando conta de uns quintalórios,
lamentando não se ouvirem aves “nem o choro d’uma nora!” (v. 16).
4.2 Percebe-se uma certa rejeição do poeta em relação a alguns aspetos da cidade e, em contraste, o seu amor ao campo, nos versos 54 e 55.
5.
a. Na 14.a estrofe, os verbos ganham uma dimensão conotativa ao serem utilizados em contextos inabituais (a bandeira transluz, os listrões de vinho lançam
divisas e os suspensórios traçam uma cruz). Também os adjetivos ganham contornos inovadores ao serem usados com uma carga semântica
simultaneamente objetiva e subjetiva para caracterizar a mesma realidade, como se vê, respetivamente, nos versos 2 e 39. Quanto ao advérbio, a seleção
reflete uma preocupação de transmitir com rigor a ação expressa (ver versos 24 e 93).
b. Há uma convergência de sentidos para captar e sentir a realidade e é o próprio “eu” que o afirma nos versos 48 a 50.
c. Cesário tem preferência por estrofes de 4 ou 5 versos (neste caso a quintilha), geralmente longos (decassílabos ou dodecassílabos), sendo que, neste
poema, o 1.o verso de cada estrofe tem 12 sílabas métricas e os restantes dez. A rima é cruzada, emparelhada e interpolada, segundo o esquema rimático
abaab.
6. A imagem representa trabalhadores que partem pedras para macadamizar as ruas, trabalho árduo e custoso, semelhante àquele que está a ser desenvolvido
pelos homens de carga referidos no poema.
7.
a. Síncope e crase.
b. Sonorização.
c. Síncope e crase.
d. Síncope e nasalação.
8. “me” – complemento direto; “a atrizita” – sujeito; “que hoje pinto” – modificador do nome restritivo.

337 Educação Literária 1. A 1.a quadra funciona como introdução, apresentando um acontecimento que ocorrera no passado (“houve”), e que se perpetua na memória do “eu” como
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“De tarde” se observasse um quadro.


2. Verifica-se a existência de alguns elementos narrativos, como o espaço (campestre); o tempo (de tarde); a ação (o piquenique); e as personagens (burguesas,
o tu e o nós).

3. Parte do “granzoal”, o campo vasto, prossegue para o cimo dos penhascos, centra-se nos alimentos dispostos para o piquenique e detém-se no ramalhete de
papoulas sobre os seios.
4. O sujeito poético serve-se da visão (azul, rubro), do gosto (melão, damascos, pão de ló) e do tato (molhado).
5. Composição constituída por quatro quadras, com rima cruzada e versos decassílabos. A musicalidade resulta da aliteração, em /g/ e /r/, por exemplo.

337 Escrita
Sugestão de tópicos para produção da apreciação crítica:
Introdução
Apresentação sucinta do objeto em análise, com indicação do autor, do título, do ano de produção e do tema em apreço convocado pelo título e pela própria
imagem.
Desenvolvimento
• Apresentação de outros dados relevantes para a análise (princípios do século XX e os movimentos realista e impressionista).
• Emissão de opinião (através de um discurso valorativo) relativamente ao modo como a realidade é ali captada, o recurso às cores, ao traço da pintura, à
postura/semblante da personagem, …
• Articulação entre a imagem e o poema “De tarde”, de forma justificada.
Conclusão
Tomada de posição sobre as técnicas do artista e emissão de uma opinião sobre as sensações despertadas pelo quadro e pelo poema.

338 Informar 1. A poesia de Cesário ocupa-se do dia a dia, de tipos sociais menos apreciados, ainda que também saiba ultrapassar o real captado no quotidiano.
1.1 A informação parentética constitui uma explicação da afirmação imediatamente anterior, mostrando que as figuras humanas focalizadas pelo “eu” não
constituíam motivo poético para os poetas da época.
2. O que distingue a poesia de Cesário relativamente à que até então era cultivada reside, antes de mais, na capacidade que este teve de reinterpretar e assim
ultrapassar os cânones artísticos da sua época.
3.1 A afirmação pode ser comprovada pelos seguintes segmentos textuais: “Cesário emprestará [...] o ponto de vista de um observador transeunte que se
exprime através de um lirismo anti-declamatório”. (ll. 15-19); “A sua obra atesta a presença de um sujeito lírico que deambula pelo mundo urbano da
civilização industrial” (ll. 22-23) e “um Cesário que revoluciona a poesia portuguesa com um timbre e intensidade raros no Portugal do século XIX.” (ll. 26-27)

339 Informar 1. A associação resulta do facto de na poesia de Cesário se verificar que a subjetividade dá lugar à objetividade, o recurso à observação concreta e ao
comentário social, tal como acontece na prosa realista da época.
2. A organização dominante é a de uma narrativa de passeios dados ao acaso e em que o observador, inserido num ambiente mutável e diversificado, regista
aquilo que vê.
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3. Cesário, na sua poesia, socorre-se de alguns recursos expressivos, como o assíndeto, acentuando o valor de adjetivos e de nomes no contexto em que
surgem − pelo recurso ao assíndeto, o poeta justapõe perceções, reflexões, comentários e gradações de um “eu” que integra um mundo onde diferentes
forças se interrelacionam; faz uso também da gradação e da ironia.
4. O método poético do autor assenta numa estrutura deambulatória, que reflete o movimento do observador solitário e justapõe nos poemas as perceções e
as realidades observadas, que parecem ser aleatórias e dissociadas.

341 VERIFICAR 1.1 [B]


1.2 [A]
1.3 [A]
1.4 [C]
1.5 [D]
2
a. V
b. F – Centra-se na realidade citadina, onde está inserido.
c. V
d. V
e. F – Privilegia os versos longos e a regularidade estrófica e métrica.

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