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Propostas

de correção
Unidade 6
Pág. 316

Consolida

a) V; b) F; c) F; d) V.
b) As grandes cidades não estavam preparadas para o fluxo migratório.
c) Vivia-se uma época de efervescência cultural.
Pág. 318

Consolida

1.1 (A) 1.2 (C) 1.3 (D)


Pág. 319

Ponto de partida

1.1 Os Urban Sketchers são desenhadores urbanos. Os seus desenhos têm como características, por
exemplo, a rapidez de execução, os traços simples, o armazenamento de memórias (cheiros,
temperaturas…).
Pág. 321

Educação literária

1. a) Deambulação pela cidade de Lisboa e registo poético das observações efetuadas; b) ao entardecer; c) a
cidade de Lisboa – as ruas, o rio Tejo, os boqueirões, os becos, o cais…
2. A cidade assemelha-se a uma prisão que sufoca o sujeito poético, enclausurado nas suas sinuosidades: «O
céu parece baixo e de neblina» (v. 5); «Semelham-se a gaiolas, com viveiros, / As edificações somente
emadeiradas» (vv. 13-14).
3.1 O itinerário pela cidade de Lisboa e a realidade que observa afetam duplamente o sujeito poético:
negativamente, causando-lhe incómodo e sofrimento, mas também positivamente, atraindo-o pela sua
multiplicidade e inspirando a sua escrita.
4. a) 2; b) 3; c) 1. 4.1 b).
5. As varinas são descritas como um todo, através do coletivo «cardume»; «negro», provavelmente porque
muitas seriam viúvas, vestindo-se de preto; no entanto, são alegres e fortes («galhofeiras» e «hercúleas» v.
35). O sujeito poético assume uma posição solidária para com esta personagem coletiva, visível na
exclamativa «Descalças!» (v. 41), realçando a sua pobreza, mostrando também as precárias condições de
habitação: «E apinham-se num bairro aonde miam gatas, / E o peixe podre gera os focos de infeção!» (vv.
43-44).
Pág. 321

6. O «ocidental» é o sujeito poético. Nesta primeira parte do poema é clara a atração do sujeito poético
pela vida citadina, que o inspira; o sentimento de clausura urbana e opressão, que o perturba; e o
sentimento de solidariedade perante os mais frágeis da sociedade.
7. a) Enumeração (gradativa) – destaca o desejo de evasão física do sujeito poético. b) Comparação –
sublinha a semelhança entre os edifícios emadeirados e as «gaiolas», no sentido de prisão. c) Uso expressivo
do adjetivo – enfatiza o estado sujo em que se encontram os calafates, após um dia de trabalho, mostrando
a dureza das suas tarefas. d) Metáfora – na canastra das varinas vão os peixes que servem de alimento aos
filhos, acentua-se a sua necessidade de trabalhar para os sustentar (os peixes são a própria vida / sustento
dos filhos); no entanto, o seu futuro adivinha-se trágico.
Pág. 322

Gramática

1. Clausura: «gaiolas», «viveiros», «emadeiradas». Náusea: «enjoa-me», «perturba», «incomoda». Evasão:


«os que se vão», «a cismar», «evoco».
1.1 Os campos lexicais aparecem naturalmente no texto, uma vez que correspondem aos sentimentos do
«eu» lírico durante o seu itinerário.
2. «nossas» e «me» destacam o caráter coletivo e pessoal de todo o poema: os espaços da cidade que são
de todos, com o deítico de 1.a pessoa do plural; por outro lado, as impressões que causam ao «eu» lírico,
enquanto indivíduo dessa comunidade, são expressas através do deítico de 1. a pessoa do singular.
2.1 «eu»: deítico pessoal; «verei»: deítico pessoal e temporal.
Pág. 322

Escrita

Sugestões de resposta:
• Introdução: A cidade de Lisboa é central na poesia de Cesário Verde, pois desperta no sujeito poético
sentimentos contraditórios, como são exemplo a paixão e a morbidez.
• Desenvolvimento: Trata-se de uma cidade sobrepovoada, os bairros parecem currais, com animais à solta
e com parca iluminação pública; analfabetismo; a doença dissemina-se pela população, sobretudo a
tuberculose; grandes contrastes sociais, que convivem num mundo de aparências; o republicanismo grassa;
Cesário Verde não se enquadra nesta sociedade.
• Conclusão: A poesia de Cesário Verde disseca essa Lisboa e expõe tudo aquilo que é visível, real,
inclusivamente as imagens desagradáveis, mostrando a cidade como lugar asfixiante e denunciando as
injustiças sociais.
Pág. 325

Educação literária

1.1 a) 3; b) 2; c) 1; d) 4; e) 6; f) 5; g) 9; h) 11; i) 7; j) 10; k) 8.


Pág. 326

Educação literária

2. «Num recinto público e vulgar», com «exíguas pimenteiras», atual, ergue-se uma estátua (de Camões)
épica e gloriosa que evoca uma época áurea da nação. Há assim uma discrepância ao nível do tempo – um
passado ilustre e um presente trivial. Por outro lado, o monumento contrasta com o espaço físico e humano
de degradação que vem sendo descrito (prisões, doenças…).
3. A partir da observação do real, «corpos enfezados», ativa-se a imaginação hiperbólica do «eu» lírico,
evocando epidemias como o «Cólera» e a «Febre».
4. Hipérbole: «E eu desconfio, até, de um aneurisma» (v. 5), enfatiza o estado doentio/mórbido do sujeito
poético. Dupla adjetivação: «Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero» (v. 14), agudiza a crítica ao clero,
relacionando-o com a ideia de morte.

Gramática

a) «Que mortifica» – oração subordinada adjetiva relativa restritiva; «e deixa umas loucuras mansas!» –
oração coordenada copulativa. b) «que me avives» – oração subordinada substantiva completiva.
Pág. 326

Oralidade

1.1 Descrição sucinta das imagens: tapeçarias de Almada Negreiros, feitas com base nos painéis que se
encontram atualmente na Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos e na Gare Marítima de Alcântara.
Apresentam- -nos instantâneos da vida quotidiana. Nas imagens da esquerda e do centro, um barco a vapor
(símbolo do progresso) repleto de pessoas a bordo; em primeiro plano, vê-se, respetivamente, uma escada
de embarque a ser içada por uma grua e andaimes de madeira no cais. Na imagem da direita, representa-se,
em primeiro plano, um barco com pescadores e a sua família; ao fundo, vê-se um barco a vapor e,
observando toda a cena, um casal numa vivenda à beira-mar.
• Relação entre o documento e a poesia de Cesário: relação de semelhança com a poética de Cesário Verde;
por exemplo, espaço: junto ao cais, ao rio, as construções emadeiradas; personagens: heterogéneas, ricos e
pobres; temáticas: clausura, evasão, estratificação social vincada…
• Comentário crítico: resposta pessoal.
Sugestão: O bulício citadino e a multiplicidade social são motivos artísticos preponderantes na obra de
Cesário e de Almada Negreiros.
Pág. 327

Consolida

1. a) F; b) V; c) F; d) V; e) F; f) V.
a) A observação é feita através de sucessivos planos fragmentados.
c) Os quadros vão-se apresentando de forma dinâmica.
e) O sujeito lírico não se limita a relatar aquilo que observa, trata «poeticamente» o que vê.
Pág. 328

Ponto de Partida

1. a) Elementos positivos: «o campo, as árvores, as flores, jarros e perpétuos amores…».


b) Elementos negativos: «as pegas e os pederastas que passam, ratos de esgoto, mafiosos convictos…».
c) Atitude perante o que rodeia o sujeito: «finjo nem reparar», «gosto de aparências», «sem moralizar».
Pág. 329

Educação Literária

1. Na última estrofe da segunda parte, o sujeito lírico tinha entrado num bar; nesta primeira frase informa
que saiu, retomando a sua deambulação. É usada a técnica que, em cinema, se chama travelling.
2. Por exemplo: «noite», «pesa», «esmaga», «arrastam-se as impuras», «moles hospitais», «um sopro que
arrepia», «Cercam-me» são expressões que refletem um estado de espírito de esmagamento face à
realidade captada (clausura, doença e morte).
3. a) «[…] Eu penso / Ver círios laterais, […] / Em uma catedral de um comprimento imenso» (vv. 5-8); b) «E
lembram-me, ao chorar doente dos pianos, / As freiras que os jejuns matavam de histerismo» (vv. 11-12); c)
«Tornam-se mausoléus […]» (v. 40).
4. Destacam-se pela positiva os elementos do povo que trabalham numa cutilaria e numa padaria, pela sua
função honesta e saudável na sociedade.
Pág. 330

Educação Literária

5. Perante o sopro de vida oriundo dos elementos do povo, o poeta almeja produzir um livro esplêndido em
que reproduza e analise o real – «E eu, que medito um livro que exacerbe, / Quisera que o real e a análise
mo dessem» (vv. 17-18); «Com versos magistrais, salubres e sinceros» (v. 22).
6. É caracterizada como sendo feminina, falsa, manipuladora e perigosa – «Que grande cobra, a lúbrica
pessoa, / Que espartilhada escolhe uns xales com debuxo! / Sua excelência atrai, magnética, entre luxo» (vv.
25-27).
7. a) «Ver» (v. 6), «olha» (v. 20), «pintar» (v. 21); b) «Pesa» (v. 1), «esmaga» (v. 1), «arrepia» (v. 4); c)
«exala-se» (v. 15), d) «regouga» (v. 39).
8. Dupla adjetivação: «salutar e honesto», sublinha o caráter positivo, relacionado com os elementos do
povo. Sinestesia: «quente», «cheiro», fusão de sentidos, apelando às perceções/sensações, o que confere
maior vivacidade e realismo ao cenário que se descreve.
Pág. 330

9. Este poema é constituído por quadras, cujo primeiro verso é decassílabo, seguido de alexandrinos – «E/
sai/o. A/ noi/te/ pe/sa, es/ma/ga./ Nos/» (dez sílabas) e «Pa/ssei/os/ de/ la/je/do a/rras/tam/-se as/ im/pu/
ras» (doze sílabas). Apresenta rima interpolada e emparelhada.
10. Relação de semelhança. Toda a matéria do real (o salutar e o podre) é digno de ser poetizado, sem juízos
de valor, «sem moralizar». Esta atitude de Cesário Verde torna-o único e vanguardista no seu tempo.

Gramática

1. Coesão gramatical referencial.


1.1 Referentes: 1.o «que» – «eu», 2. o «que» – «um livro» e «mo» = «me» – eu + «o» – «livro».

Escrita

Sugestões:
• Camões, nas suas reflexões, lamenta o desprezo dado às artes, devido à ignorância cultural dos
portugueses de então.
• Volvidos três séculos, Cesário Verde apresenta a situação do professor de latim, que pede esmola,
denunciando a sua vida precária e o menosprezo por aqueles que se dedicam à cultura.
• Há uma relação de semelhança entre os dois tempos e também com a atualidade, em que os artistas se
debatem para serem reconhecidos e para sobreviverem com o seu trabalho cultural ou intelectual.
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Consolida

1. a) «Pelas vitrines olha um ratoneiro imberbe.» (v. 20) b) «Longas descidas! Não poder pintar / Com versos
magistrais, salubres e sinceros, / A esguia difusão dos vossos reverberos, / E a vosa palidez romântica e
lunar!» (vv. 21-24) c) Utilização abundante e expressiva do adjetivo («Um cheiro salutar e honesto a pão no
forno», v. 16) e do advérbio («Um forjador maneja um malho, rubramente», v. 14).
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Educação literária

1. O título justifica-se, uma vez que já é de madrugada e a cidade está adormecida. Intensifica-se o
sentimento de náusea, doença e morte, daí «Horas mortas».
2.1 O silêncio e a escuridão que percorrem a cidade permitem ao eu poético estar mais atento aos apelos
sensitivos. Por outro lado, esses estímulos (reais ou imaginados) mantêm-no «vivo», enquanto leva a cabo o
seu périplo pela cidade. Exemplos de estímulos auditivos: «Um parafuso cai nas lajes» (v. 6); «As notas
pastoris de uma longínqua flauta» (v. 12); estímulos visuais: «lágrimas de luz» (v. 3); «quimera azul» (v. 4);
estímulos olfativos: «E nestes nebulosos corredores / Nauseiamme, surgindo, os ventres das tabernas» (vv.
29-30).
3. Algumas imagens citadinas apresentam-se metamorfoseadas, surreais, como evidenciam os seguintes
exemplos – «Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras» (v. 3), «E os olhos dum caleche espantam-me,
sangrentos» (v. 8), «Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas» (v. 30).
Pág. 333

Educação literária

4. Deseja a eternidade e alcançar a perfeição (poética) das coisas – «Se eu não morresse, nunca! E
eternamente / Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!» (vv. 13-14).
5. O poeta evoca o passado épico dos Descobrimentos – «E as frotas dos avós, e os nómadas ardentes» (v.
22), – e projeta-o num futuro de nova glória coletiva – «Nós vamos explorar todos os continentes / E pelas
vastidões aquáticas seguir!» (vv. 23-24).
6. Por exemplo: uso da 1.a pessoa do plural, apelando a um «nós» nacional; frases exclamativas e uso das
interjeições, conferindo um tom emotivo e exortativo – «Ó nossos filhos!» (v. 17), «Ah!» (v. 21), «E pelas
vastidões aquáticas seguir!» (v. 24); uso de recursos expressivos – metáfora, por exemplo: «Ó nossos filhos!
Que de sonhos ágeis, / Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!» (vv. 17-18)…
Pág. 334

Educação literária

7. A alteração deve-se à clausura da cidade («[…] no vale escuro das muralhas», v. 26), às amarras que o
mundo urbano impõe ao homem moderno, causando-lhe sofrimento («Julgo avistar, na treva, as folhas das
navalhas / E os gritos de socorro ouvir, estrangulados», vv. 27-28). Os «prédios sepulcrais» matam qualquer
tentativa de ato heroico, «os emparedados» apenas podem ansiar por «amplos horizontes», mas neste
momento vivem em «marés de fel», num «sinistro mar».
8. a) Personificação; b) comparação; c) enumeração; d) hipérbole; e) uso expressivo do adjetivo; f) uso
expressivo do advérbio.
8.1 O uso expressivo do advérbio coloca a impressão pictórica (a cor) em primeiro lugar, seguida do objeto
em si, «os cães»; esta é uma técnica típica do Impressionismo.
9. A nível individual, cada português sente-se orgulhoso por fazer parte de um povo que foi capaz de dar
«novos mundos ao mundo», proeza evocada no poema. A nível coletivo, a obra inspira- -nos para a
realização de novos feitos, igualáveis aos dos nossos «avós», como no poema se aspira. Para isso, não
devemos ficar «emparedados», mas buscar «novas vastidões aquáticas».
Pág. 334

Gramática

a) Complemento direto; b) complemento do nome; c) modificador do grupo verbal; d) modificador restritivo


do nome.

Oralidade

Sugestão de tópicos:
• Descrição: vídeo da composição poética musicada «Eu esperei», de Tiago Bettencourt.
• Semelhanças: em ambos os poemas a ideia de desalento, perante a realidade – «o sujo não se quis
limpar», «terra seca de não semear»; observação atenta do real – «como se eu não fosse olhar»; atitude de
espera por um futuro melhor – «eu esperei»…
• Diferenças: enquanto em «Horas mortas» triunfa a individualização e o desânimo, na canção, vence a
ideia de que o coletivo conseguirá, se se esforçar, ultrapassar as dificuldades, isto é, exorta-se à mudança
«Acorda Portugal!».
• Apesar da distância temporal, ambos os poemas tratam temáticas afins: análise do país e dos seus aspetos
negativos, a inércia dos portugueses… As resoluções são diferentes: em Cesário, acaba-se em disforia; em
Bettencourt, em euforia, com apelo à mudança.
Pág. 335

Consolida

1. Características épicas: poema longo, narrativo, a importância de pertencer a um coletivo nacional (a


«epopeia moderna possível»). Subversão às características épicas: no presente «morto-vivo» de Portugal, o
sonho épico coletivo só pode ser evocado (do passado) ou projetado (no futuro).
Pág. 336

Leitura

1. a) Relato de viagem: Variedade de temas – descrição de Lisboa: «Por todas as descrições de Lisboa com
que me deparei, formara para mim próprio uma imagem desta cidade, mas a realidade foi bem outra, mais
luminosa e bela» (ll. 1-2), «Pouco mais adiante estende-se a larga Rua do Ouro. Aí estão os ourives em lojas
umas atrás das outras […]. Por esta rua se vai à maior praça da cidade, a Praça do Comércio» (ll. 20-21); o
viajante reflete e opina sobre ideias preconcebidas acerca do estado da cidade: «– Onde estão as ruas sujas
que vira descritas, as carcaças abandonadas, os cães ferozes» (ll. 3-4).
b) Dimensões narrativas: «Nada disso vi» (ll. 5-6), «A ópera esteve fechada enquanto permaneci em Lisboa»
(ll. 17-18) e descritiva: «As ruas são agora largas e limpas; as casas confortáveis» (ll. 7-8).
c) Uso da 1.a pessoa: «formara para mim próprio» (l. 1), como expressão de vivências pessoais.
2. Os sentidos concorrem para uma maior vivacidade descritiva. Através do apelo aos sentidos, o leitor tem
a sensação de estar no espaço descrito, ao reconhecer as cores, os cheiros, os gostos: a visão: «azulejos
brilhantes de desenhos azuis sobre branco» (ll. 8-9); o olfato: «As árvores em flor desprendem um perfume
bastante forte» (ll. 12-13); o paladar: «gelados de baunilha» (l. 14); a audição: «aí se ouvem concertos» (l.
12)…
3. Duas semelhanças: o objeto que se descreve é o mesmo – a cidade de Lisboa. Podemos também afirmar
que nos dois textos se deambula por vários locais da capital, fazendo-se observações e reflexões sobre os
mesmos.
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Ponto de partida

1.1 Relação de semelhança: as «cristalizações» são multifacetadas e, apesar de possuírem várias faces,
formam um todo, tal como o aglomerado de casas no quadro.
Pág. 339

Educação Literária

1. O sujeito poético narra um passeio pela cidade, relatando tudo aquilo que vai vendo. Com este poema
pretende- -se «cristalizar» todos os «quadros» observados e todas as sensações experienciadas; isto é, fixar,
através da poesia, o real e as sensações por ele despertadas.
2. O espaço é a cidade – «Vê-se a cidade» (v. 39), «nestes sítios suburbanos» (v. 90); o tempo é o inverno –
«dezembro» (v. 89). O tempo transforma o espaço e o espaço reflete o tempo, dando-lhe formas próprias.
Exemplos: «Faz frio. Mas, depois d’uns dias de aguaceiros, / Vibra uma imensa claridade crua» (vv. 1-2); «E
as poças d’água, como um chão vidrento, / Refletem a molhada casaria» (vv. 9-10); «E nesse rude mês, que
não consente as flores, / Fundeiam, como a esquadra em fria paz, / As árvores despidas. Sóbrias cores!» (vv.
31-33) e «E os charcos brilham tanto que eu diria / Ter ante mim lagoas de brilhantes!» (vv. 44-45).
3. O cariz narrativo do poema confirma-se através da existência de categorias típicas do texto narrativo
(ação – conta-se uma história, contextualizada no espaço e no tempo, em que se movimentam as
personagens). O sujeito lírico interrompe a sua narração para descrever os «quadros» que encontra (por
exemplo, o aparecimento da «atrizita») ou as personagens com que se cruza (por exemplo, as varinas, os
calceteiros…).
4.1 As sensações são o meio pelo qual o eu lírico capta a realidade e são também elas que o enlevam para
além dessa mesma realidade, através da imaginação: «Disseminadas, gritam as peixeiras; / Luzem, aquecem
na manhã bonita» (vv. 12-13) e «Os ares, o caminho, a luz reagem; / Cheira-me a fogo, a sílex, a ferragem; /
Sabe-me a campo, a lenha, a agricultura.» (vv. 53-55).
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Educação Literária

5. A personagem coletiva é o «povo», constituída por vários subgrupos: «calceteiros» (v. 3), «valadores» (v.
34), «peixeiras» (v. 12). Representa a vitalidade, a força trabalhadora e a presença do campo na cidade –
«Em pé e perna, dando aos rins que a marcha agita, / Disseminadas, gritam as peixeiras; / Luzem, aquecem
na manhã bonita, / Uns barracões de gente pobrezita» (vv. 11-14); «Homens de carga! Assim as bestas vão
curvadas! / Que vida tão custosa!» (vv. 61-62) e «Os filhos das lezírias, dos montados: / Os das planícies,
altos, aprumados; / Os das montanhas» (vv. 83-85). Este «povo» simboliza a própria nação e os valores
inerentes ao «ser português», algo que é visível na descrição transfigurada do seu traje: «No pano cru
rasgado das camisas / Uma bandeira penso que transluz!» (vv. 66-67) .
5.1 Na descrição do «povo», o sujeito lírico mostra-se solidário com o seu sofrimento e lamenta o árduo
trabalho a que está sujeito – «Que vida tão custosa! Que diabo!» (v. 62); ao passo que a «atrizita» é descrita
de uma forma irónica e pejorativa – «O demonico arrisca-se, atravessa / Covas, entulhos, lamaçais,
depressa, / Com seus pezinhos rápidos, de cabra!» (vv. 98-100).
6. A deambulação pelas ruas da cidade e consequente observação/ descrição é ponto de partida para ativar
a imaginação do sujeito poético – por exemplo: «E os charcos brilham tanto que eu diria / Ter ante mim
lagoas de brilhantes!» (vv. 44-45) e «No pano cru rasgado das camisas / Uma bandeira penso que transluz!»
(vv. 66-67). Assim, o real sofre uma transfiguração poética, operada pela imaginação.
Pág. 340

Educação Literária

7. A importância dos sentidos e da técnica pictórica impressionista («Lavo, refresco, limpo os meus
sentidos», v. 48); recursos expressivos abundantes, como, por exemplo, a sinestesia («E tangem-me,
excitados, sacudidos, / O tato, a vista, o ouvido, o gosto, o olfato!», vv. 49-50) e o uso expressivo do adjetivo
(«Eles, bovinos, másculos, ossudos», v. 92).
8. É constituído por quintilhas, sendo o 1.o verso alexandrino e os restantes decassilábicos; rima abaab,
havendo rima emparelhada e rima interpolada.

Gramática

1. a) F; b) F; c) V; d) V.
1.1 a) Coesão interfrásica; b) o referente é «rapagões».
2. a) 4; b) 1; c) 2; d) 3.
Pág. 341

Educação Literária

1. O poema tem um caráter narrativo, com referências claras a: espaço (campo) – «um granzoal» (v. 7), «em
cima d’uns penhascos» (v. 9); tempo – no título, «De tarde»; «Pouco depois […] inda o sol se via» (vv. 9-10);
personagens – «burguesas» (v. 1), «tu» (v. 5), «Nós» (v. 10); ação – um «pic-nic» (v. 1), «descendo do
burrico, / Foste colher […] / Um ramalhete rubro de papoulas» (vv. 5-8); «Nós acampámos […] / E houve
talhadas de melão […]» (vv. 10-11). Há ainda o predomínio do pretérito perfeito, o mais adequado para a
narração de uma história que, neste caso, reside no espaço da memória.
2. A «aguarela» ganha dinamismo através do apelo, mais ou menos direto, aos sentidos – visão – «granzoal
azul de grão-de-bico / Um ramalhete rubro de papoulas» (vv. 6-8); os verbos de movimento conferem
dinamismo e visualismo à ação; também são convocados o olfato e o paladar – «talhadas de melão,
damascos» (v. 11); tato – «pão de ló molhado em malvasia» (v. 12).
3. O recurso expressivo é a comparação – «Dos teus dois seios como duas rolas» (v. 14) –, que permite a
transfiguração do real: nos seios, o sujeito poético vê pombas, simbolizando a pureza e a castidade da
«burguesa». A partir do real, opera-se a transfiguração poética.

Gramática

1. «tu» e «foste».
Pág. 342

Ponto de Partida

• Características do bairro do amor: local em que todos são bem recebidos, pois é alegre e foi feito por
gente que já sofreu com a solidão;
• o tempo passa devagar, há harmonia e ternura entre os seus habitantes;
• não existe crime nem doença. Nesse bairro, as pessoas contam umas com as outras para desabafar e
quebrar o seu isolamento.
Pág. 344

1.1 (D) 1.2 (C) 1.3 (A) 1.4 (B) 1.5 (D) 1.6 (C) 1.7 (A)
2. «Subitamente, – que visão de artista!» (v. 31); «À luz do sol, o intenso colorista» (v. 33); «Boiam aromas,
fumos de cozinha» (v. 36); «Sobem padeiros, claros de farinha» (v. 38); «E às portas, uma ou outra
campainha / Toca, frenética, de vez em quando.» (vv. 39-40)
2.1 Todas estas perceções sensoriais (visuais, olfativas e auditivas) inspiram o sujeito poético no sentido de
transfigurar poeticamente a realidade, como se pode confirmar pelos versos «Subitamente, – que visão de
artista! – / Se eu transformasse os simples vegetais, / À luz do sol, o intenso colorista, / Num ser humano
que se mova e exista» (vv. 31-34).
Pág. 345

3. a) «melancia»; b) «repolhos»; c) «azeitonas»; d) «nabos»; e) «cachos d’uvas»; f) «ginja»; g) «tomate»; h)


«cenouras»; i) «abóboras carneiras».
4. Os tipos sociais que percorrem o poema são, por um lado, a classe burguesa, cuja extensão é o «criado»,
e que se adivinha habitar no «bairro moderno» («Como é saudável ter o seu conchego, / E a sua vida fácil!»,
vv. 11-12); por outro lado, aparece a «rapariga» e os «padeiros», trabalhadores explorados pelos mais
abastados. Este contraste não só expõe a crítica social, como também evidencia a posição solidária do «eu»
lírico em relação aos mais frágeis (materializada na ajuda que dá à vendedeira).
5. a) Sinestesia; b) hipérbole; c) metáfora; d) uso expressivo do adjetivo.
5.1 O uso expressivo do adjetivo destaca a subnutrição da vendedeira, acusando a sua debilidade física e
social.
Pág. 346

Gramática

a) F – coesão gramatical lexical (reiteração); b) F – modificador restritivo do nome; c) V; d) F – dois


complementos do nome; e) F – oração subordinada adverbial causal; f) V.

Sugestões de resposta
Escrita

• Trata-se de um cartoon em que uma figura masculina alta e forte vem a sair da casa de ópera La Scala,
com a sua bengala e ar poderoso. As escadas constituem «apartamentos» para gente literalmente mais
pequena.
• Sendo as escadas transformadas em «bairros», podemos entender que simbolizam locais de habitação
frágeis e com poucas condições. Por outro lado, a diferença de tamanhos entre as pessoas, o animal das
escadas e o do homem que sobre eles avança também denota desigualdade social, estratificação social bem
marcada.
• Relação de semelhança: contrastes sociais, presença do campo na cidade, os ricos que «espezinham» os
pobres, a transfiguração do real…
• Resposta pessoal: por exemplo, a temática intemporal da diferença entre ricos e pobres; as difíceis
condições de habitação que permanecem uma realidade para muitos…
Pág. 347

Consolida

1. a) … um papel fundamental na poética de Cesário Verde.


b) … no que diz respeito a «pintar»/ captar todos os elementos percetivos da realidade.
c) … travelling.
d) … uma «intervenção subjetiva e transfiguradora (fugas imaginativas no espaço e no tempo, imaginação
pictórica, quase “surrealista”[…])».
Pág. 348

Sugestões de resposta:

• A vida atual de rotina: no trabalho, na escola, nos transportes… deixa-nos «presos» e leva-nos a reagir
automática e condicionadamente aos impulsos do quotidiano.
• Importância de fugir à rotina: desfrutar da vida – fazermos aquilo de que realmente gostamos, por
exemplo através de um passatempo, de desporto, voluntariado, ou simplesmente não fazer nada…
• Desfrutar da companhia de quem mais gostamos, por exemplo, fazer um fim de semana em família ou
com os amigos, partilhar as refeições em convívio, usufruir de férias repartidas…
• Para manter o equilíbrio mental, o amor à vida e aos outros, devemos quebrar a rotina e lembrarmo-nos
daquilo que é essencial à nossa felicidade.
Pág. 352

Ficha formativa

1. A figura feminina é considerada «bela, frágil, assustada» (v. 2), com «semblante grego» (v. 34); feliz e
fresca («O teu corpo que pulsa, alegre e brando, / Na fresquidão dos linhos matinais», vv. 15-16);
«imaculada» (v. 20) e «natural» (v. 25); «branca, esbelta e fina» (v. 38); amada pela família («A tua boa mãe,
que te ama tanto», v. 31), destoando do ambiente da cidade («De repente, paraste embaraçada / Ao pé
dum numeroso ajuntamento», vv. 43-44). Opostamente, a autocaracterização inicial do eu lírico assume
contornos negativos: considera- -se «feio» (v. 1), «triste» (v. 22), frequenta um café «devasso» (v. 5), onde
bebe «absinto». No entanto, possui duas qualidades importantes para entendermos a sua atitude de
solidariedade perante o «tu»: é «sólido, leal» (v. 1).
2. Perante a observação de um quadro quotidiano, a imaginação do eu lírico opera uma transformação
poética do real. É visível essa transfiguração poética em «Julguei ver, com a vista de poeta, / Uma pombinha
tímida e quieta / Num bando ameaçador de corvos pretos» (vv. 46-48).
Pág. 353

3. A figura feminina exerce um efeito positivo e regenerador sobre o eu lírico, que se fortalece, desejando
proteger «a débil»: «Quero estimar- -te, sempre, recatada» (v. 3). Deixa de beber, já que se sente
«prestante, bom, saudável» (v. 12). Há circularidade do poema, dado que tanto o início como o término
mencionam o emissor e o destinatário da mensagem poética. Sob a influência benéfica do elemento
feminino, o eu sai revigorado, autocaracterizando-se como «hábil, prático, viril» (v. 52).
Pág. 353

Sugestões de resposta:

4. Trata-se de um relato de viagem e apresenta as seguintes características:


• Variedade de temas: relata a experiência de visitar vários países, fazendo inter-rail («As três semanas que
passámos de comboio pela Europa não podiam ter passado mais rápido. É nestas alturas que a expressão “o
tempo passa a correr” faz o maior sentido», ll. 10-14; «Destes dias, levamos o melhor e o pior de cada sítio
por onde passámos», ll. 22-23).
• Predomínio da 1.a pessoa do plural: denotando um narrador autodiegético, que conta a sua vivência e
aquilo que testemunhou – «Do interrail, só por si, trazemos a melhor das viagens das nossas vidas e a
vontade de repetir tudo outra vez. E ainda a saudade» (ll. 52-55).
• Dimensão narrativa: abundância de nomes – «Viena» (l. 36), «Praga» (l. 37), «Cracóvia» (l. 41); e
descritiva: abundância de adjetivos – «bom» (l. 1); «longas» (ll. 5-6); «pobre» (l. 25). 5. No quarto parágrafo,
mencionam-se os vários locais por onde viajaram e o que trouxeram na bagagem como recordação. Para
enfatizar a quantidade de locais e lembranças específicas de cada um, recorre-se a construções sintáticas
paralelas, que se iniciam pelo nome da cidade visitada, seguida daquilo que mais os impressionou – «De
Bucareste, trouxemos facilmente o medo de uma cidade pobre, com os piores condutores da Europa e com
mais cães abandonados nas ruas cinzentas e desertas à noite» (ll. 24-28); «De Berlim, trazemos a vergonha
na história, que não é assim tão longínqua, e a capacidade soberba de mostrar ao exterior o que de melhor
se faz e o que melhor tem a cidade» (ll. 47-51).
Pág. 354

Grupo II

1.1 (A) 1.2 (B) 1.3 (D) 1.4 (B) 1.5 (D) 1.6 (A)
2.1 a) Deítico temporal; b) deítico pessoal.
2.2 Complemento oblíquo.
Pág. 355

Grupo III

Sugestão de resposta:
• Introdução: Há várias formas de aprender: na escola – através da leitura, no contacto social e também
quando viajamos.
• Desenvolvimento: O próprio ato de viajar desenvolve capacidades de organização e promove a autonomia
(exemplos: a preparação dos itens que precisamos de levar connosco, o planeamento da viagem e dos locais
a visitar). – O contacto com outros locais dentro do nosso país leva-nos a conhecer elementos culturais e
sociais desconhecidos da nossa própria cultura, como, por exemplo, tradições e costumes de regiões
diferentes do país. – Viajar para outros países permite-nos descobrir novos elementos culturais in loco
(exemplos: monumentos, eventos culturais, gastronomia…) e entrar em contacto com línguas diferentes,
sabendo que a melhor forma de aprender uma língua é interagindo com os seus falantes.
• Conclusão: As viagens enriquecem-nos e abrem-nos novos horizontes. Não só ficamos a conhecer outros
povos, línguas e culturas, como temos a oportunidade de adquirir um novo olhar sobre nós próprios e sobre
a nossa identidade cultural.

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