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Gestão da Qualidade

e Acreditação
1. Apresentando a Acreditação 4
Foco na Gestão da Qualidade 4
Processo de Acreditação Hospitalar 5
Acreditação como Método de Gestão 6
Corpo de Funcionários Habilitados 7

2. A Importância da Gestão da Qualidade


nas Organizações 9
Gestão da Qualidade em Saúde: Princípios e Práticas 11
A Qualidade na Área da Saúde 12
Aferição de Desempenho 16
Principais Aspectos Brasileiros de Certificação,
ISO 9000 17
Características 19

3. Acreditação em Saúde: Exigências e Necessidades 23


Organização Nacional de Acreditação (ONA) 26
Joint Comission 26
O Programa Nacional de Avaliação de Serviços
de Saúde 27
Avaliação do Serviço de Qualidade 28

4. Referências Bibliográficas 35

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GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

1. Apresentando a Acreditação

Fonte: Radcare1

O sucesso de um hospital que de-


tém certificações de qualidade,
como a acreditação, está fundamen-
são os principais fatores envolvidos
na melhoria da qualidade assisten-
cial e estes critérios para acreditação
talmente relacionado à sua capaci- hospitalar são capazes de nortear a
dade dar continuidade às melhores gestão da qualidade.
práticas na gestão assistencial e ad-
ministrativa. Aliás, gerir utilizando Foco na Gestão da Qualida-
ferramentas de gestão da qualidade de
é justamente o que a prepara a orga-
nização para conquistar certifica- As demandas por serviços de
ções. saúde vêm crescendo de forma acen-
São muitos os desafios enfren- tuada e as perspectivas futuras são
tados pela administração hospitalar de contínua expansão. Consequen-
ao buscar implementar um modelo temente crescem também os custos
de gestão voltado para a acreditação. das instituições para a sua manuten-
Existem diretrizes e requisitos que ção operacional e investimentos. Só

1 Retirado em https://blog.radcare.com.br/acreditacao-e-certificacao-hospitalar-conheca-as-princi-
pais/

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GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

que esses, por sua vez, quase nunca Processo de Acreditação Hos-
evoluem na mesma medida dos re- pitalar
cursos disponíveis.
Em meio a esse cenário, o ver- Um programa de acreditação
dadeiro desafio da gestão hospitalar tem como propósito padronizar pro-
é conseguir conquistar padrões de cessos que culminarão na melhoria
qualidade que são necessários não da qualidade assistencial percebida
somente para garantir um atendi- pelo paciente e demonstrada através
mento adequado como também para de evidências objetivas. Vale ressal-
proporcionar melhores condições tar que tanto a melhoria como a per-
competitivas e remuneração dife- cepção de progresso podem ser
renciada para a instituição. mensuradas através de indicadores.
É preciso salientar que as me- E vale ressaltar que tanto a melhoria
todologias a serem aplicadas para como a percepção de progresso po-
que o hospital tenha sucesso na im- dem, inclusive, ser mensuradas por
plementação de novos padrões e nas meio de indicadores.
melhorias dos processos devem es- Na prática, são as certificações
tar sempre alinhadas às necessida- e acreditações hospitalares que evi-
des particulares da instituição. O denciam, tanto para os pacientes
foco deve estar, portanto, na gestão quanto para os profissionais de saú-
da qualidade para levar à percepção de, que o hospital opera com práti-
de valor não apenas por parte dos cas (previamente definidas por ór-
pacientes, mas também por parte gãos internacionais ou nacionais)
dos próprios profissionais que voltadas para a garantia da seguran-
atuam no hospital. ça do paciente e dos resultados as-
O papel dessas metodologias é sistenciais. No Brasil, o processo,
operar mudanças de hábitos, pro- instrumentos e padrões de quali-
movendo a revisão de processos dade para certificação são estabele-
operacionais e minimizando vulne- cidos pela ONA - Organização Na-
rabilidades. Assim é possível trans- cional de Acreditação.
formar posturas e expectativas para A acreditação se trata, na ver-
que todo o contexto possa efetiva- dade, de um método avaliativo do
mente contribuir para a elevação da modelo de gestão cuja realização é
qualidade dos serviços assistenciais motivada por iniciativa da própria
oferecidos pelo hospital. instituição. Atenção: não é fiscaliza-

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GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

ção e tampouco licenciamento. É, na Acreditação como Método de


verdade, uma forma de avaliar e Gestão
atestar a qualidade da organização,
atribuindo credibilidade a ela. Encarar um programa de acre-
O processo de acreditação re- ditação como metodologia de gestão
quer que a instituição atenda pa- é uma perspectiva inteligente, afi-
drões de infraestrutura hospitalar e nal, não deixa de ser a implementa-
normas sanitárias, que tenha ele- ção e a manutenção de uma estraté-
vado nível de padronização de pro- gia baseada no consenso sobre a re-
cessos assistenciais, orientados pe- levância da produtividade profissio-
las melhores práticas e protocolos nal, o uso racionalizado dos recursos
clínicos, e que disponha de indica- e a necessária otimização dos resul-
dores de processos, continuamente tados da instituição de saúde.
monitorados, avaliados e melhora- A gestão da qualidade é essen-
dos ciclicamente. É necessário, por- cial para a melhoria contínua dos
tanto, que seja implementada uma processos, já que é ela quem garante
cultura organizacional de melhoria que padrões de excelência previa-
por meio de programas de capacita- mente definidos pelos órgãos de
ção e de educação continuada, anco- acreditação serão conquistados e
rados em soluções tecnológicas vol- mantidos pela organização de saúde.
tadas à garantia de eficiência na ges- No entanto, para que isso aconteça,
tão hospitalar. é preciso persistir, levando adiante
Tudo isso contribui para que o um processo educativo regular e am-
hospital conquiste e mantenha ele- plo, que envolva profissionais de to-
vados padrões de qualidade. E é o dos os setores, com participação di-
paciente o principal beneficiado nes- reta da presidência e diretoria da
se processo através do incremento instituição. É vital que os princípios
da segurança e da eficácia na execu- em questão estejam bem definidos e
ção dos procedimentos assistenciais. sejam do conhecimento de todos.
Um bom exemplo é a implementa- A acreditação é uma ferramen-
ção de uma checklist pré-cirúrgica ta que ajuda a identificar com mais
para que se verifique com o máximo clareza os objetivos, além de promo-
de cuidado o nome do paciente, o ver alterações em cada nível da ins-
preparo, o local da cirurgia etc a fim tituição. Assim, ter uma perfeita
de evitar qualquer tipo de falha. compreensão sobre o que funciona

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bem e o que pode ser melhorado é Contar com um corpo de fun-


absolutamente indiscutível. cionários plenamente envolvido não
é um mero detalhe. Como a análise
Corpo de Funcionários Habili- crítica dos processos tem comprova-
tados damente levado a melhorias de re-
sultados, não se pode esquecer que
Difundir, esclarecer e educar os modelos tradicionais de acredita-
sobre as melhores práticas é impor- ção avaliam a instituição como um
tante para que os profissionais assi- todo e não departamentos isolados.
milem e incorporem as novidades e A padronização e a racionali-
reconheçam a necessidade de buscar zação da força de trabalho precisa
a qualidade e conquistar certifica- ser uma conquista de todos. Para
ções. O essencial é, assim, que esses tanto, os objetivos a curto e longo
colaboradores estejam devidamente prazos devem ser frequentemente
convencidos e motivados a colabo- revisados.
rar, cientes da importância de obte- Quando o sistema passa a ser
rem sucesso na implementação dos operado por funcionários instruídos
novos processos. e plenamente capacitados, torna-se
Uma boa gestão da qualidade é um potente instrumento de gestão
dinâmica e sem interrupções, o que para enfrentar a complexidade da
implica na realização contínua de instituição de saúde.
atividades. É um processo que pro-
cura identificar falhas e oportunida-
des de melhoria nos processos e pro-
cedimentos, demandando para isso
persistentes revisões e atualizações.
É fundamental que todos os
profissionais, independentemente
de seu nível de hierarquia, sejam
participativos no processo. Com co-
laboradores habilitados participan-
do ativamente da gestão da qualida-
de, a instituição tem chances muito
maiores de conquistar padrões ele-
vados nos serviços assistenciais, al-
cançando dessa forma importantes
certificações.

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GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

2. A Importância da Gestão da Qualidade nas Orga-


nizações

Fonte: Medium2

O conceito de “Qualidade” pas-


sou a circular nos meios de co-
municação nos anos 80 e 90, levan-
padrão de excelência assistencial, a
partir da melhoria contínua da es-
trutura, dos processos e resultados.
do as empresas a transformarem-se, A melhoria sistemática da
visando o futuro; pela necessidade qualidade é uma ciência administra-
de sustentabilidade. De acordo o di- tiva orientada por fundamentos es-
cionário Aurélio, qualidade é a “pro- tatísticos, da engenharia, psicologia
priedade, atributo ou condição das e da experiência concreta que parte
coisas ou das pessoas que as distin- do pressuposto básico do pensa-
gue das outras e lhes determina a mento científico no aperfeiçoamen-
natureza. Dote, virtude”. to contínuo dos processos utilizados
Gestão da qualidade significa na realização do trabalho em todos
adotar programas desenvolvidos in- os níveis da organização.
ternamente ou segundo padrões ex- Deming, Juran e Crosby, apre-
ternos, capazes de comprovar um sentam quatro estágios de realização

2 Retirado em https://medium.com/

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dos objetivos da qualidade que po- de é repassado a toda empresa, sen-


dem ser sucessivos ou coexistentes. do acatado nas várias etapas por que
São eles: passa o produto, reduzindo a ocor-
A qualidade entendida como a rência de imperfeições. Na saúde,
excelência dos agentes e dos trata-se da implementação de estra-
meios com que trabalham: O tégias tanto para avaliar a qualidade
elevado nível de capacitação cientí- quanto para elaborar normas pa-
fica e tecnológica ou de reputação drões de conduta clínica através de
dos agentes é suficiente para definir programas locais ou nacionais. O
a qualidade dos bens e serviços que foco da atenção é o conjunto das ati-
produzem. vidades clínicas em sua abrangência
O controle departamentalisado ou eficácia.
da qualidade: Criação, por parte O controle da qualidade total,
das empresas de um controle inter- Melhoria Contínua da Quali-
no dos produtos, como atribuição de dade (gestão da qualidade por
um grupo de departamento especí- toda a empresa): A qualidade tor-
fico. O método de inspeção aplica-se na-se tarefa coletiva, objetivando o
a cada item produzido, evoluindo aprimoramento contínuo e a satisfa-
para técnicas de estatística que per- ção dos clientes. Este método é um
mitam a pesquisa por amostragem. esforço permanente de todos os
Nesta fase é imperativo o estabeleci- membros da organização para satis-
mento de normas especificas de fazer as necessidades e expectativas
qualidade, para avaliar o cumpri- do cliente. A motivação das pessoas
mento ou conformidade às especifi- envolvidas, atentas a um desempe-
cações técnicas adotadas pela em- nho melhor e pelo uso de incentivos
presa. Tem como aspecto negativo ao invés de inspeções e sanções é
atenção a maior atenção ao produto chave na busca da melhoria da qua-
do que o cliente lidade. A responsabilidade pela qua-
A garantia da qualidade: A de- lidade é diluída entre os dirigentes e
tecção preventiva de falhas ou defei- trabalhadores da unidade, ao mes-
tos dos produtos reduzindo os cus- mo tempo em que se adotam méto-
tos resultantes da detecção posterior dos participativos que permitem,
é a principal preocupação. Um com- aos diversos departamentos ou seto-
plexo conjunto de requerimentos es- res organizacionais, planejar, acom-
tabelecido por um departamento es- panhar e corrigir os rumos das ações
pecializado em garantia da qualida- pró-qualidade e solucionar os pro-

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GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

blemas oriundos do mau desempe- Gestão da Qualidade em


nho e da baixa produtividade. Os Saúde: Princípios e Práti-
executivos da empresa dão início ao
movimento de implantação que pas-
cas
sa a ser centrado no objetivo de ob-
tenção da qualidade, tanto na cultu- Há controvérsias na literatura
ra institucional como nos métodos sobre quando começaram as ativida-
concretos de trabalho. Uma ênfase des que tratavam da qualidade no
contundente nos aspectos da educa- cuidado à saúde. Algumas descri-
ção continuada do pessoal e estimu- ções que variam de 30 a 3.000 anos
lo a formação de times e círculos de atrás, mas certamente pode ser ao
qualidade, que estudam e propõem menos datada no início da história
soluções para determinados proce- registrada da medicina. Nos Estados
dimentos de trabalho bem defini- Unidos, a partir de iniciativas da
dos. O time da qualidade se capacita, corporação médica em 1910, origi-
para monitorar a produção e suas nou-se o processo de acreditação de
variações em condições diversas, em organizações de saúde. Foram reali-
termos de conhecimentos de estatís- zadas várias avaliações dos serviços
tica. hospitalares, que mostraram a ne-
Contudo diversos especialistas cessidade de um programa de pa-
em qualidade entendem que a busca dronização hospitalar.
eficiente da qualidade não é uma Em 1950, foi fundada a Joint
questão de inspeção, padrões, limia- Commission on Accreditation of
res; tampouco é uma série de deci- Hospitals (atualmente Joint Comis-
sões para admitir ou demitir um sion on Accreditation of Healthcare
funcionário, ou um médico, mas, ao Organi - zations - JCAHO - Comis-
contrário, é o esforço constante para são Conjunta de Acreditação de Or-
utilizar oportunidades de redução a ganizações de Assistência à Saúde)
complexidade obsoleta, desperdício que assumiu a responsabilidade pe-
de tempo e retrabalho permitindo lo programa de acreditação. Em
com o uso de uma metodologia de 1989, a Organização Mundial da Sa-
melhoria da qualidade o alcance de úde iniciou trabalho sobre a questão
novos níveis de eficiência, satisfação da qualidade da assistência hospita-
do paciente, segurança, resolubili- lar na América Latina.
dade clínica e lucratividade.

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GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

A busca da qualidade nos ser- res desta estratégia: direcionamento


viços de saúde no Brasil, possui para indicadores de resultados, com
aproximadamente 60 anos. Em 1941 ênfase nos resultados desfavoráveis
foi criada a Divisão de Organização relacionados aos serviços de saúde e
Hospitalar (DOH), vinculada ao Mi- à comunidade; estabelecimento de
nistério de Educação e Saúde da programa nacional de acreditação,
época, com os objetivos de cooperar, distinto daquele de regulação e con-
coordenar ou orientar os estudos e a cessão de alvarás de funcionamento;
solução dos problemas relacionados ênfase em ferramentas de qualida-
à assistência a doentes, deficientes de, isto é, estímulo à utilização de
físicos e desamparados. Foram rea- gerenciamento da qualidade na ad-
lizadas, nos anos seguintes, avalia- ministração em saúde; estabeleci-
ções dos serviços hospitalares, pu- mento de protocolos clínicos bási-
blicações de normas e portarias que cos, desenvolvidos segundo as prio-
normatizavam os meios necessários ridades identificadas, avaliação da
à implantação de um sistema capaz satisfação do usuário e o controle so-
de avaliar a qualidade da assistência cial.
à saúde. Na década de 90 surgiram Desde então a busca pela qua-
no Brasil iniciativas relacionadas à lidade tem se robustecido pela im-
acreditação hospitalar. Essas inicia- plementação de novas práticas im-
tivas tinham como intenção estimu- pulsionadas pelas exigências do
lar os hospitais a desenvolver pro- mercado e pela competitividade do
gramas de qualidade e não necessa- setor constituindo em fator determi-
riamente realizar a acreditação. nante para o crescimento das orga-
Em abril de 1992, a OPAS pro- nizações de saúde.
moveu em Brasília o primeiro semi-
nário nacional sobre acreditação, A Qualidade na Área da Saúde
com a participação de representan-
tes de diversas entidades nacionais Por muitos anos a atenção em
da área da saúde. O seminário con- saúde seguiu o seu percurso sem cri-
cluiu que o controle da qualidade térios. Hoje a qualidade dos ser viços
dos serviços de saúde era relevante e de saúde é questionável e muito dis-
oportuno, as ações de melhoria da cutida, se considerarmos a imprensa
qualidade na saúde passaram a ser escrita e falada. E nesse contexto
consideradas estratégicas. Foram atual os trabalhadores de saúde são
instituídos os princípios norteado- de fundamental importância, princi-

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GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

palmente no âmbito das suas ações, muito da vontade e sensibilização


intervenções e num processo de des- dos trabalhadores envolvidos nesse
construção e construção para uma processo.
sistemática de atendimento que leve Para trabalhadores de saúde a
em consideração a eficiência, a efeti- concepção de qualidade é abstrata,
vidade e a humanização. varia apresentando uma polissemia
Referente à qualidade de um na concepção (VUORI, 1991 apud
serviço de saúde repousa a ideia, de ARAUJO, 2008). Pela ótica dos tra-
que é o tratamento ofertado por um balhadores de saúde, a qualidade é
médico ou qualquer outro profissio- relatada de maneira similar quando
nal de saúde que presta cuidados. O deduzem que é qualidade de vida,
papel e a importância do profissio- responsabilização do trabalho, res-
nal de saúde na qualidade dos servi- peito ao cliente e deve ser buscada
ços são enfatizados quando relata para se oferecer a “excelência na
que a qualidade refere-se às práti- atenção”, dando aos sujeitos oportu-
cas, as posturas, os atos assistenciais nidade de escolha, sem violentar
e as relações interpessoais destes seus direitos e suas garantias.
com os clientes, além de oferecer Os usuários entendem como
uma atenção humanizada, equâni- oferta atendimento de boa qualida-
me, organizada e com responsabili- de o atendimento profissional de sa-
zação em favor dos sujeitos. E todos úde pelo nível de acolhimento hu-
esses requisitos são importantes pa- manizado, o tempo de espera para a
ra a transformação e construção de atenção, com a qual se interage com
uma saúde adequada, que depende o paciente.

Modelo De Avaliação Da Qualidade Em Serviços De Saúde

Fonte: adaptado de Dagger Sweney e Jhonson (2007)

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GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

“[...]fundamentação científica drões de assistência ofertados foi


da prática médica; ênfase a pre-
privilegiada em detrimento da revi-
venção; cooperação entre con-
sumidores e prestadores de ser- são de casos individuais. Os princí-
viços; tratamento integral do pios básicos do modelo industrial da
indivíduo; relação estreita e
contínua entre o médico e o pa-
de gestão da qualidade são proveito-
ciente; serviços médicos inte- samente aplicáveis na área da saúde:
grais e coordenados; coordena-  A produção é realizada através
ção entre assistência médica e de processos. Os procedimen-
serviços sociais e acessibilidade
da assistência a toda popula- tos realizados que transfor-
ção[...]” (LEE; JONES, 1933 mam “entradas” em “saídas”
apud ADAMI et al., 1995, p. 49). devem ser identificados, com-
preendidos e gerenciados. A
Em saúde, a definição de qua- observação do sistema de
lidade pode ser mais ou menos am- acordo com a visão de proces-
sos permite o melhor entendi-
pla dependendo do quão ampla é a
mento do funcionamento da
definição de saúde e da responsabi- organização, leva a definição
lidade da equipe clínica no seu aten- adequada de responsabilida-
dimento. Conforme a amplitude do des, a utilização eficiente de
deste conceito os trabalhadores da recursos, a prevenção e solu-
saúde ficam constantemente preo- ção de problemas, a elimina-
cupados quanto às propriedades, ção de atividades redundantes
e a identificação clara dos cli-
benefícios e malefícios dos serviços
entes e fornecedores.
prestados, implementam atividades  A teoria da qualidade é con-
de aferição e aperfeiçoamento, vi- centrada no cliente; deve ha-
sando melhor satisfazer os usuários ver sólida relação entre cliente
dos serviços. e fornecedor. Os médicos, en-
Partindo desse pressuposto, a fermeiros, funcionários são os
melhoria da qualidade acontece a clientes internos e os clientes
externos são os pacientes, as
partir do registro e da revisão dos
fontes pagadoras, outros mé-
processos de produção/prestação de dicos e demais compradores
serviços baseadas nos dados gerados de serviços.
pelos próprios processos. A proposta  Foco é no sistema e não na
é a melhoria contínua através de em- pessoa, a principal fonte de fa-
penho constante na redução do des- lhas de qualidade são os pro-
perdício, o retrabalho e a complexi- blemas no processo. Quando
examinados, os processos crí-
dade. A análise estatística de pa-
ticos de organizações, levam à

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GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

conclusão que principal fonte cessos previsíveis é parte im-


de distúrbios não se encontra portante do controle da quali-
nas pessoas, mas nos proces- dade. Os processos imprevisí-
sos. Raramente falha dos pro- veis tendem a ser inerente-
fissionais de saúde é única res- mente falhos e comprometem
ponsável pelo prejuízo de um a consistência da qualidade e
paciente atendido em uma or- excelência.
ganização de saúde; frequen-  O controle da qualidade con-
temente resulta de imperfei- centra-se nos processos vitais.
ções em interações complexas Nos serviços de saúde sobejam
entre indivíduos ou problemas dados úteis à melhoria da qua-
na relação da pessoa com tec- lidade.
nologias sofisticadas, produ-  A abordagem moderna à qua-
tos e sistemas organizacionais. lidade fundamenta-se no pen-
Portanto, e evidente que a samento científico e estatístico
prestação de serviços é sujeita e faz uso regular de determina-
a falhas fazendo-se necessá- das ferramentas estatísticas
rios o conhecimento e a orga- para compreender processos e
nização dos processos e siste- isolar causas de falhas e de va-
mas na busca da redução ou riação (fluxograma, diagrama
até da erradicação da ocorrên- de causa e efeito, gráfico de
cia de eventos adversos. controle, histogramas, diagra-
 A relação entre má qualidade mas de Pareto, boxpot e dia-
alto custo. Prevenir é preferí- grama de dispersão). O uso
vel a detectar e corrigir proble- destas estratégias e ferramen-
mas. Além do agravante da tas tem a eficiência facilitada
possibilidade de dano ao paci- devido à educação científica e
ente e da falta de confiabili- técnica que a maioria dos pro-
dade, os custos do desperdício, fissionais de saúde da área re-
do retrabalho e da complexi- cebe em seu treinamento.
dade excessiva são tão eleva-
dos na saúde como o são na in- É crucial a participação de to-
dústria. O gerenciamento da dos os funcionários, há necessidade
qualidade tem o propósito de
de motivação e de participação de
melhorar o processo para atin-
gir um alvo de qualidade ao in- todos. Médicos, cuja participação na
vés de corrigir resultados inde- busca da qualidade parece ser pe-
sejados. queno, devem entender, contribuir
 A chave para melhorar a quali- no processo, sabendo que estas
dade é entender a variabilida- ações não tem por objetivo fiscalizar
de do processo. Tornar os pro- ou regulamentar sua pratica clínica.

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GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

A adesão é fundamental para o su- dos processos e apontam oportuni-


cesso das iniciativas. Formar equi- dades de melhoria quando compara-
pes multidisciplinares pode facilitar dos com o próprio serviços ou a refe-
a implementação de melhores pro- rências externas.
cessos de saúde. As interdependên- Planejamento: tem início no reco-
cias podem ser estudadas e debati- nhecimento do problema eu de-
das. Permite que sejam analisadas e manda melhoria. O mesmo é estuda-
discutidas as interdependências. do com o apoio da literatura dispo-
Administrar a qualidade im- nível. Em seguida se realiza a análise
plica em planejar, controlar e me- do processo, avaliando o pessoal, os
lhorar a qualidade. A instauração de procedimentos e equipamentos
estruturas que permitam conhecer a identificando o elemento do proces-
opinião do cliente e harmonizar o so que possa ser o responsável pelos
planejamento do serviço com suas resultados. Depois disso se planeja a
necessidades. intervenção
Avaliar sistematicamente a Implementação: inclui a aferição
percepção dos pacientes e o impacto e o registro do desempenho antes e
dos processos de tratamento no pro- depois da implementação da modifi-
gresso de sua saúde de vem ser parte cação. Essa avaliação precisa incluir
importante da avaliação dos serviços um indicador de resultado esperado
de saúde. e do suposto elemento do processo
Checagem: avaliação da nova pra-
Aferição de Desempenho tica atestando a melhoria ou não dos
resultados.
Determinados indicadores de
Ação: apontado resultado positivo
desempenho das organizações são
ocorre o aperfeiçoamento das práti-
usados na avaliação da qualidade da
cas clinicas tornando-os permanen-
assistência os pacientes. São infor-
tes
mações referentes às instalações
Segundo Berwick, (Quality
onde é realizado o atendimento, aos
Improvement Projects – QIP), os
processos e resultados. Devem ser
projetos de melhoria da qualidade,
aferições exatas, completas e de fácil
são projetos de curta duração, de pe-
compreensão e manuseio. As avalia-
quena escala, com reflexão intrín-
ções de desempenho permitem me-
seca do resultado/desfecho da ação.
dir a eficácia dos protocolos clínicos
Propicia autonomia a equipes assis-
adotados, a efetividade da execução
tenciais locais de analisar os compo-

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GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

nentes de seus processos, identificar lhores tem como consequência a


seus problemas, implementar suas queda dos custos totais.
soluções e monitorizar seus resulta-
dos. Demandam dados suficiente Principais Aspectos Brasi-
apenas para a tomada do próximo leiros de Certificação, ISO
passo, são mais úteis localmente, ca- 9000
da uma com suas condições especi-
ais, tem menor custo e mais eficien- Certificação é o processo de
tes que a pesquisa clássica. Também avaliação externa de cumprimento
são mais eficazes. de padrões e normas internas esta-
Esta metodologia é em extre- belecidas. Neste modelo, as organi-
mo adequada a melhoria dos resul- zações definem seus próprios pa-
tados, maior eficiência na utilização drões e as auditorias são realizadas
de recursos e possível redução de de acordo com eles. As normas têm
custos. Segundo Deming, essa forma por objetivo a melhoria dos proces-
inovadora de administrar é decisiva sos internos, capacitação dos cola-
para o crescimento da produtividade boradores, monitoramento do ambi-
e da lucratividade a longo prazo. Ini- ente de trabalho e verificação da sa-
cialmente a melhoria demanda in- tisfação dos clientes, colaboradores
vestimento de tempo, capital e expe- e fornecedores.
riência técnica por parte da adminis- A International Organization
tração. O aumento da qualidade, en- for Standardization (ISSO) é uma
tretanto, levará a maior capacidade organização não governamental
de se manter no mercado. fundada em 1947, em Genebra e que
A implantação de um amplo e está presente em mais de 160 países.
corajoso programa de qualidade traz Seu propósito é promover a norma-
entusiasmo, incrementa a motiva- tização de serviços e produtos com
ção e, consequentemente, aumenta foco na permanente melhoria do sis-
a produtividade. O objetivo princi- tema de gestão da qualidade. O ISO
pal é a melhoria dos processos e de- 9000, em sua extensão máxima,
sempenho, não necessariamente a abrange pontos referentes à garantia
redução de custos. Processos de me- da qualidade em projeto, desenvol-
lhoria focados na redução de custos vimento, produção, instalação e ser-
desviam a atenção da equipe da me- viços associados; visando a satisfa-
lhoria do processo, processos me- ção do cliente pela prevenção de in-

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GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

conformidades em todos os estágios As normas de ISO 9000 preco-


envolvidos no ciclo da qualidade da nizam organização com documenta-
empresa. ção acessível, ágil, equipamentos
A ISO série 9000 é um con- limpos e em bom estado.
junto de cinco normas (ISO 9000 a A empresa deve estar em audi-
ISO 9004). Estas normas foram ofi- toria permanente, sempre se auto
cializadas em 1987 mas, não podem avaliando. Este é um dos aspectos
ser consideradas normas revolucio- mais importantes, auditoria interna.
nárias, já que as mesmas se baseiam, Para detectar defeitos e promoção
principalmente nas normas britâni- de ações preventivas e corretivas
cas BS5750 e em outras normas já evitando recorrências. Implementar
existentes. um sistema de qualidade norteador
Qualquer tipo de empresa po- do profissional no exercício de sua
de ser utilizar, as normas ISO 9000, função. Assim, reúne as condições
seja ela grande ou pequena, de cará- de atendimento à demanda, sabe
ter industrial, prestadora de serviços “onde estão as coisas”, tem tudo do-
ou mesmo uma empresa governa- cumentado e, acima de tudo, tem
mental. Porém, as normas ISO série uma administração que está com-
9000 são normas que se referem prometida com a qualidade.
apenas ao sistema de gestão da qua- As normas ISO 9001, 9002 e
lidade de uma empresa, e não às es- 9003 são uteis em circunstancias
pecificações dos produtos ou servi- contratuais, para atestar que a em-
ços oferecidos. A certificação não presa fornecedora é administrada
significa que o produto certificado com qualidade. A aplicação das nor-
tem qualidade maior ou menor, so- mas parte dos seguintes princípios:
mente garante que todos os produ- As especificações dos produtos
tos e serviços certificados possuem e serviços são definidas por:
as mesmas características e padrão  Regulamentos do governo bra-
de qualidade. sileiro,
Na pratica a ISO certifica o  Normas internacionais,
processo, não o produto ou serviço.  Normas nacionais,
As normas ISO não conferem quali-  Normas da empresa.
dade superior a produtos e serviços,
somente garantem que produtos e Os requisitos especificados
serviços tenham sempre as mesmas nos sistemas da qualidade propostos
características. pelas normas ISO 9001, 9002 e

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GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

9003 são complementares (não al- Características


ternativos) aos requisitos técnicos
especificados para os produtos e ser- A série ISO 9000 possui uma
viços. série de características, são algumas
A aplicação das normas ISO delas:
9000 ocorre na organização da em- Participação da alta adminis-
presa, principalmente nas ativida- tração: Em muitas empresas o
des que influenciam diretamente a compromisso da qualidade está res-
qualidade e as exigências de proce- trito ao “chão de fábrica” sob a res-
dimentos escritos para as atividades ponsabilidade de uma chefia ou de-
tais como: partamento especifico, sem respon-
 Análise de contrato, sabilizar a cúpula da empresa no que
 Controle de documentos, tange à qualidade. A ISO 9000 as
 Controle de produto não con- obriga participar do Sistema da
forme, Qualidade.
 Ação corretiva, Realimentação do sistema: a
 Registro de qualidade, ISO 9000 exige o aperfeiçoamento
 Treinamento. constante do Sistema da Qualidade
por meio de ações corretivas de pro-
Atualmente muitas empresas
blemas detectados por Auditorias
estão utilizando as normas ISO série
internas.
9000 e muitos países já as adotaram
Formalização do sistema: a ISO
como normas nacionais, entre eles o
9000 exige que as ações do Sistema
Brasil. Empresas que adotam os re-
da Qualidade sejam documentadas
gulamentos da ISO 9000 gozam de
como forma de fundamentá-lo em
maior credibilidade no mercado, A
bases sólidas e passíveis de verifica-
empresa que adota as normas ISO
ção.
série 9000 e dispõe de documenta-
Esquematicamente a formali-
ção que comprobatória, demonstra
zação da documentação obedece a
qualidade administrativa e, por isto
seguinte hierarquia:
mesmo, garante qualidade de seus
 Nível 1. Manual da qualidade;
produtos e serviços. Os indicadores
 Nível 2. Procedimentos;
de melhoria, frutos das normas ISO  Nível 3. Instruções;
9000, trazem uma e quem deve fa-  Nível 4. Registros.
zer”. Ações preventivas são desen-
volvidas rotineiramente, visando re- O Sistema da Qualidade é re-
duzir as ações corretivas decorrentes gistrado no Manual da Qualidade
de inspeção e fiscalização.

19
GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

que descreve o Sistema da empresa, conceitos da qualidade; oferece dire-


seu compromisso com a Qualidade trizes para a escolha, uso e aplicação
sua política, princípios e responsabi- das demais normas da série, serão
lidades, entre outras coisas. O ma- utilizadas para o gerenciamento da
nual da Qualidade por sua vez se re- qualidade e a garantia da qualidade.
porta aos Procedimentos que são o ISO 9004: oferece diretrizes de im-
detalhamento de pontos específicos plantação e implementação do sis-
do Sistema, como aquisição mate- tema da qualidade: fatores técnicos,
rial, processo de produção ou treina- administrativos e humanos que in-
mento. Os assuntos não esgotados terferem diretamente na qualidade
em Procedimentos, são esclarecidos de produtos ou serviços; aprimora-
em Instruções. As instruções descre- mento da qualidade; - modelo de de-
vem de partes específicas de um pro- senvolvimento e implementação do
cedimento. As instruções e os proce- sistema da qualidade e para a deli-
dimentos comprovam atividades mitação que cada elemento desse
descritas em registros tais como pla- sistema pode ser aplicado.
nilhas de teste, relatórios de inspe- ISO 9001: garantia da qualidade
ção ou ordens de compras. em projetos/desenvolvimento, pro-
São dois os tipos de normas dução, instalação e assistência téc-
ISO: guias (diretrizes) ou modelos nica. É a mais abrangente, compre-
de conformidade para garantia da endendo todos os processos da em-
qualidade. presa.
 Normas do tipo “guia” – ISO ISO 9002: garantia da qualidade
9000 e 9004 são conjuntos de na produção, instalação e assistên-
recomendações relacionadas cia técnica;
ao estabelecimento de um sis- ISO 9003: garantia da qualidade
tema da qualidade eficaz, vi-
na inspeção e ensaio final. É o mais
sando certificar a organização
em um dos modelos de confor- simples.
midade; A escolha do modelo adequado
 Normas do tipo “modelo de submete-se a fatores como: o grau
conformidade” - ISO 9001, de parceria com o cliente, a econo-
9002 e 9003 Normas que de- mia, a complexidade e maturidade
verão ser cumpridas para que do projeto, complexidade do proces-
a organização seja certificada.
so produtivo, as características do
produto ou serviço, dentre outros.
Normas guia:
As normas ISO não se pren-
ISO 9000: explicam diferenças e
dem a um produto ou um setor em
inter-relações entre os principais

20
GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

particular, mas tratam da avaliação pelo Serviço de Vigilância Epidemi-


do processo produtivo como um ológica da Secretaria de Estado da
todo, qualquer que seja ele, são ge- Saúde.
néricas. Elas foram denominadas Hoje existe um movimento em
série ISO 9000. torno de outros meios de certifica-
O termo Certificação de um ção e acreditação nos diversos seg-
Sistema de Gestão da Qualidade, por mentos da saúde, principalmente
muito tempo foi entendida como nos hospitais, sendo o Sistema de
uma Norma burocrática, com exi- Qualidade da Norma ISO 9000 o
gência documental que muitas vezes mais adotado por sua aplicação de
não agregava valor sob o ponto de caráter parcial, técnica e orientado-
vista da organização. ra.
O fato de os requisitos da Nor-
ma de Certificação serem gerais e
aplicáveis a qualquer tipo de seg-
mento, desde indústrias a laborató-
rios clínicos, dificulta a interpreta-
ção e entendimento das exigências
para Certificação.
Atualmente o padrão da qua-
lidade, é a norma NBR ISO 9001.
CQH - Compromisso com a Quali-
dade Hospitalar. O CQH é um sis-
tema de informações que busca a
avaliar a qualidade do atendimento
médico-hospitalar, a partir do regis-
tro, da análise de dados, da aferição
da adequação dos serviços em con-
formidade com as suas normas e cri-
térios. Inspirado nos trabalhos da
Comissão conjunta de Acreditação
de Organização de Saúde (CCOS),
dos EUA, resultou de ampla discus-
são entre diversos entes ligados ao
atendimento médico hospitalar no
Estado de São Paulo, promovida

21
GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

3. Acreditação em Saúde: Exigências e Necessida-


des

Fonte: Qualidade para Saúde3

A creditação é o procedimento
da avaliação dos recursos orga-
nizacionais, “voluntário”, periódico
como um todo. Acreditação é um
método de avaliação externa da
“Qualidade” dos serviços de saúde.
e reservado, que visa a garantia da Difundida em países de língua in-
qualidade da assistência com base glesa, antecedeu o movimento do
em padrões previamente aceitos. O gerenciamento da “Qualidade To-
processo de acreditação tem início tal”. Seu desenvolvimento se con-
com uma análise de qualidade e de funde com aquele dos serviços de sa-
procedimentos baseada em padrões úde nos Estados Unidos, exemplo
internacionalmente legitimados, ge- mais conhecido e divulgado dessa
rando um conjunto de orientações vertente da “Qualidade”.
para a organização, visando à me- Seu desenvolvimento dentro e
lhoria do seu desempenho. para a realidade da saúde, envolveu,
Na acreditação, não são avali- sobretudo, a corporação médica.
ados os setores e (ou) departamen- Tudo isso tende a atenuar as resis-
tos isoladamente, mas a organização tências observadas no setor para a

3 Retirado em https://qualidadeparasaude.com.br/ferramentas-da-qualidade/

23
GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

adoção de métodos de avaliação. O cretos adaptados à realidade brasi-


modelo de acreditação marca a me- leira; o caminho para melhoria con-
dicina americana tentando assegu- tínua.
rar a excelência dos procedimentos A acreditação passou a ser vis-
médicos e garantir a segurança das ta como elemento estratégico para
ações de saúde, respondendo, assim, desencadear e apoiar iniciativas de
com a prestação Gestão de qualida- qualidade nos serviços de saúde.
de em saúde: melhorando assistên- Pretendia-se assim, contribuir para
cia ao cliente de serviços com quali- “uma progressiva mudança plane-
dade para uma sociedade organiza- jada de hábitos, de maneira a provo-
da e consciente de seus direitos. car nos profissionais de todos os ní-
O impacto dos modelos de veis e serviços um novo estímulo pa-
avaliação não incide somente sobre ra avaliar as debilidades e forças da
a qualidade do atendimento ao paci- instituição, com o estabelecimento
ente, mas também atingem todas as de metas claras e mobilização cons-
partes envolvidas no Sistema de Sa- tante para o aprimoramento dos ob-
úde, como: médicos, outros profissi- jetivos, a fim de se garantir a quali-
onais da área, fornecedores, investi- dade da atenção médica”
dores e a comunidade em geral. O A partir de 1990 apareceram
processo de acreditação propõe a no Brasil iniciativas relacionadas à
participação voluntária das institui- acreditação hospitalar. Essas inicia-
ções, estimulando-as a um compor- tivas tinham como intenção estimu-
tamento de procura da melhoria lar os hospitais a desenvolver pro-
contínua da Qualidade, criando e gramas de qualidade e não necessa-
desenvolvendo a integração com a riamente realizar a acreditação.
sociedade, estimulando a cidadania. Apesar das várias propostas, o siste-
Sua caraterística é eminente- ma de avaliação acabou restringin-
mente educativa, direcionada a me- do-se ao credenciamento de hospi-
lhoria contínua, sem finalidade de tais para venda de serviços ao Insti-
fiscalização ou controle oficial. As tuto Nacional de Previdência Social
principais vantagens da acreditação (INPS). A década de 1980-89 foi
são: segurança para os pacientes e marcada pela crise da Previdência
profissionais; qualidade da assistên- Social. Neste período também ocor-
cia; construção de equipe e melhoria reu uma descentralização do modelo
contínua; útil instrumento de geren- de assistência à saúde, com a im-
ciamento; critérios e objetivos con- plantação do SUDS (Sistema Unifi-

24
GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

cado e Descentralizado de Saúde). de 1998. Em agosto de 1999, a Orga-


Surgiu a necessidade de se criar ins- nização Nacional de Acreditação
trumentos gerenciais que possibili- (ONA), órgão credenciador das ins-
tassem a avaliação dos serviços ofe- tituições acreditadoras, foi constitu-
recidos. ído juridicamente. A ONA é respon-
Em abril de 1992, a OPAS pro- sável pelo estabelecimento de pa-
moveu em Brasília o primeiro semi- drões e pelo monitoramento do pro-
nário nacional sobre acreditação, cesso de acreditação realizado pelas
com a participação de representan- instituições acreditadoras visando
tes de diversas entidades nacionais assegurar aos cidadãos brasileiros
da área da saúde. O manual de acre- qualidade na assistência à saúde em
ditação da OPAS foi apresentado du- todas as organizações prestadoras
rante este seminário e diferentes de serviços do país.
propostas a respeito do modelo de De acordo com Bonato: estu-
acreditação apropriado para o país dar a qualidade na área da saúde en-
foram discutidas. globa, além de um elenco de técni-
Em 1995, a Federação Brasi- cas, um universo mais extenso de
leira de Hospitais lançou o Instituto ações como projeto social, cujos ele-
Brasileiro de Acreditação (IN- mentos principais para seu desen-
BRAH). Em 1996, o Programa Bra- volvimento são aqueles que atuam e
sileiro de Qualidade e Produtividade exercem seu papel nessa cadeia,
- PBQP estabeleceu a Avaliação e considerando a pluralidade das mu-
Certificação de Serviços de Saúde danças e das diferentes lógicas. As-
como sendo um projeto estratégico sim, o conjunto de práticas e ações
do Ministério da Saúde, prioridade desenvolvidas pelos sujeitos são ali-
para o biênio 97/98. Em 1997, o Mi- cerçadas sobre uma base histórica
nistério da Saúde iniciou um projeto pessoal, social e autônoma ainda
chamado Acreditação Hospitalar. que incentivada pela instituição.
Em parceria com grupos nacionais O novo padrão determina dos
que já realizavam projetos pioneiras profissionais, posturas que demons-
de acreditação, foi desenvolvido um trem uma internalização de valores e
sistema de acreditação nacional. Em revisão de conceitos, que pela coope-
1997, o PACQS transformou-se no ração das pessoas e da organização
Consórcio Brasileiro de Acreditação construirão um novo cenário das re-
(CBA). O Programa Brasileiro de lações e do processo de trabalho. Pa-
Acreditação propriamente dito foi ganini, Novaes, observam que “o
oficialmente lançado em novembro processo de acreditação, no Brasil,

25
GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

começa a tornar-se possível no início Os principais programas de


dos anos noventa, com a publicação acreditação difundidos no Brasil
da ‘Acreditação de Hospitais para são:
América e Caribe’”.
Foi firmado, em 1990, um con- Organização Nacional de
vênio entre a (OPAS) Organização Acreditação (ONA)
PanAmericana de Saúde e a Federa-
ção Latino-Americana de Hospitais A Organização Nacional de
para produção de um manual de Acreditação é a organização que pro-
“Padrões de Acreditação para Amé- move um processo de acreditação de
rica Latina”, estruturado em pa- serviços de saúde, edita o Manual
drões e níveis “mínimos” a serem Brasileiro de Acreditação de Organi-
atingidos. Em 1992, foi realizado, zações Prestadoras de Serviços de
em Brasília, o primeiro seminário Saúde e as Normas para o Processo
nacional de acreditação, com a par- de Avaliação de Organizações Pres-
ticipação de representantes de di- tadoras de Serviços de Saúde, não
versas entidades nacionais da área governamental sem fins lucrativos.
da saúde, sendo apresentado o “Ma- São 3 os níveis de graduação
nual de Acreditação”. para a acreditação da ONA onde são
Segundo análise do COREN vistos a qualificação da estrutura no
(Conselho Nacional de Enferma- primeiro nível, da estrutura e dos
gem), os processos de “Acreditação processos, no segundo e da estrutu-
Hospitalar” vêm aumentando no ra, processos e resultados, cumulati-
Brasil. Isso ocorre por duas razões: a vamente, no terceiro. Para se chegar
primeira, pela disseminação do Ma- ao terceiro nível os níveis anteriores
nual da Organização de Acreditação devem ter sido satisfeitos.
- ONA (Organização Nacional de Semelhantemente o PNASS, o
Acreditação), que serve como base Manual Brasileiro de Acreditação
para obtenção do título e detalha os explicita padrões que devem ser al-
processos administrativos e seus cançados pelas organizações avalia-
atributos mínimos - liderança, ad- das e fornece escalas para mesurar o
ministração, garantia de qualidade, grau de aderência a cada padrão.
organização da assistência, atenção
ao paciente/cliente e diagnósticos - Joint Comission
para o bom funcionamento de em
um estabelecimento assistencial de O programa de acreditação da
saúde. Joint Comission constitui-se no

26
GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

mais procurado e prestigiado na  Reduzir os riscos a saúde dos


área hospitalar e, apesar da acredi- pacientes resultantes de que-
tação não ser obrigatória, há grande das.
incentivo para que aconteça. São
abordados três setores: funções de O Programa Nacional de Ava-
cuidado ao paciente como avaliação, liação de Serviços de Saúde
educação do paciente e da família;
O sistema de avaliação im-
funções da organização como lide-
plantado pelo SUS como instrumen-
rança, prevenção e controle de infec-
to de apoio a gestão é o Programa
ção, e componentes estruturais es-
Nacional de Avaliação de Serviços de
senciais como direção, administra-
Saúde (PNASS). De acordo com o
ção, equipe médica e de enferma-
site do órgão “A avaliação em saúde
gem, e uso de medicação.
tem como pressuposto a avaliação
A Joint Comission Internatio-
da eficiência, eficácia e efetividade
nal é uma organização americana li-
das estruturas, processos e resulta-
dera processos de acreditação em 80
dos relacionados ao risco, acesso e
países e no Brasil possui diversas
satisfação dos cidadãos frente aos
instituições acreditadas. Seus crité-
serviços públicos de saúde na busca
rios são semelhantes ao PNASS e a
da resolubilidade e qualidade.”
ONA, porem tem um enfoque mais
O Roteiro de Padrões de Con-
centrado na segurança do paciente,
formidade é o instrumento principal
tanto que estabelece como objetivos
do programa, que é constituído de
do processo de acreditação hospita-
132 padrões. Os Padrões são situa-
lar, entre outros:
ções que indicam risco ou qualidade
 Identificação correta dos paci-
do serviço divididos em padrões im-
entes;
 Implementar uma comunica- prescindíveis, necessários ou reco-
ção eficiente; mendáveis. Os padrões imprescindí-
 Implementar a segurança na veis estão relacionados a normatiza-
administração de medicações ções existentes e o não cumprimento
de alto risco; assegurar o local destes acarreta riscos à saúde. Os
correto, o procedimento cor- padrões consistem em questionários
reto e a cirurgia correta para o de auto avaliação que são respondi-
paciente correto;
dos pelo próprio serviço que está
 Reduzir os riscos a saúde dos
pacientes provenientes de in- sendo avaliado e depois validados
fecções por equipes avaliadores.
 Hospitalares;

27
GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

Como exemplo relacionamos  O estabelecimento mede e


abaixo os cinco padrões mais cum- avalia a satisfação e o desem-
pridos e os cinco menos cumpridos penho dos trabalhadores.
pelos hospitais avaliados.
A Avaliação segue com o le-
 Unidade de terapia intensiva
instalada em local exclusivo e vantamento de indicadores de ocu-
de acesso restrito; pação de leito, tempo de permanên-
 Unidade possui, para uso ex- cia e mortalidade, e com a pesquisa
clusivo, carro de parada ou o de satisfação do paciente e dos tra-
equivalente em equipamentos balhadores nos serviços de saúde.
e medicamentos, além de mo-
nitorização cardiovascular e
respiratória; Avaliação do Serviço de
 Unidade controla a qualidade Qualidade
da água utilizada na diálise
através da análise microbioló- A medição do serviço de quali-
gica e físico-química; dade na gestão hospitalar tem que
 Unidade adota precauções pa- estar baseada em um conceito pro-
drão para evitar infecção cru- priamente dito para ser assegurada.
zada de hepatite (B e C) e HIV;
Segundo Roeder (2008), o conceito
 São realizadas as trocas diárias
de roupas, ou substituição de de qualidade em instituições hospi-
compressas e campos, para talares se apresenta em quatro vi-
cada paciente, sempre que ne- sões particulares de qualidade: o de-
cessário. sejo do paciente de ser tratado com
respeito e interesse; a busca, pelo
Padrões menos cumpridos: médico, de tecnologias especializa-
 Existe Comitê Transfusional; das mais avançadas para o trata-
 Existe Comissão de Revisão de mento dos pacientes, aprimorando,
Prontuários formalmente assim, seus conhecimentos; a busca,
constituída com regimento in-
pelo conselho administrativo, em ter
terno e registro das reuniões
periódicas em ata; os melhores serviços e profissionais
 A unidade tem implantado o da área de saúde para um atendi-
plano de gerenciamento da mento eficaz; e a oferta, pelo admi-
qualidade do ar interior clima- nistrador, de melhores serviços e
tizado; profissionais da área de saúde, o me-
 Realizam ações de farmacovi- lhor atendimento médico hospitalar
gilância; numa avaliação contínua dos servi-

28
GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

ços prestados para a implementação como o crescimento na competivi-


de um programa de melhoria conti- dade no mercado desta área, iniciou-
nuada através da educação. se a Avaliação da Qualidade na Saú-
Podemos concluir, então, que de.
a qualidade no serviço de saúde hos- Buscando a garantia e segu-
pitalar tem como definição assistir o rança dessa qualidade de assistência
cliente dentro das suas necessidades prestada ao cliente no âmbito hospi-
de saúde e satisfazê-lo, promovendo talar desde 1970, o Ministério da Sa-
condições tecnológicas aos profissi- úde desenvolve o tema Qualidade e
onais da área de saúde e assegu- Avaliação Hospitalar, partindo, a
rando ao administrador um gerenci- princípio, da publicação de Normas
amento através dos processos de e Portarias, como o objetivo de regu-
avaliação contínua do serviço pres- lamentar essa atividade. Atualmen-
tado. te, trabalha na implantação de um
Porém, a situação atual vem sistema eficaz e capaz de controlar a
mostrando que a assistência na rede assistência de saúde no Brasil. Para
hospitalar, com qualidade de ser- a Organização Mundial da Saúde
viço, tem trazido discussões sobre os (OMS), a partir de 1989, a Acredita-
custos elevados do atendimento mé- ção passou a ser elemento estraté-
dico e sobre o consumidor que, cada gico para o desenvolvimento da qua-
vez mais, se volta para a defesa de lidade na América Latina. Segundo
seus direitos aos serviços de saúde, Novaes e Paganini (1994), a acredi-
tendo suas reivindicações ampara- tação é o procedimento de avaliação
das pelas leis. Alguns estudos já di- dos recursos institucionais, voluntá-
zem que a satisfação do cliente está rios, periódicos, reservados e sigilo-
mais em ser tratado como um indi- sos, que tende a garantir a qualidade
víduo do que o seu restabelecimento da assistência através de padrões
propriamente dito, pois, hoje, o con- previamente aceitos. Os padrões po-
sumidor está mais direcionado para dem ser mínimos (definindo o piso
os cuidados personalizados, estabe- ou a base) ou mais elaborados e exi-
lecendo padrões como conforto e gentes, definindo diferentes níveis
privacidade, do que a qualidade téc- de satisfação e qualificação como
nica. (ROEDER, 2008). complementos.
A evolução dos serviços de Isso confirma a importância
qualidade na gestão hospitalar e as da acreditação na avaliação do servi-
mudanças nas exigências de satisfa- ço de qualidade que é oferecido pela
ção do cliente a esse serviço bem instituição e o fato de ser realizada

29
GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

através de solicitação feita pelo pró- mesmo, a importância em estar


prio diretor da instituição, por deci- acreditado adquire o status de insti-
são voluntária. Ao longo desse pro- tuição que merece a confiança da
cesso, o planejamento da avaliação sua comunidade. Por esta razão, a
será baseado nas características do “Qualidade” de saúde passa a garan-
hospital informadas no impresso da tir o crescimento da atuação no mer-
solicitação da avaliação. Nesse mo- cado competitivo, porém sem estar à
mento, os avaliadores observarão a mercê dos interesses específicos das
conformidade da estrutura, dos pro- instituições. (BONATO, 2001).
cessos e dos resultados obtidos pela Isto posto, podemos afirmar
instituição em comparação com os que a acreditação, dentro do con-
padrões do manual. No decorrer texto de avaliação do serviço de qua-
desse processo, essa avaliação se ba- lidade que está sendo realizado na
seará em entrevistas com pacientes administração hospitalar, vem não
e familiares, entrevistas com funcio- só garantir a qualidade desse ser-
nários do hospital, reuniões e obser- viço, como também reforçar a im-
vações diretas por meio de visitas portância da “Qualidade” no geren-
aos diversos setores do hospital, in- ciamento hospitalar. Esse fato con-
cluindo os prontuários dos pacien- tribui para assegurar a eficácia do
tes. Desde 1998, foi constituído o atendimento que está sendo pres-
Consórcio Brasileiro de Acreditação tado ao paciente e traz às institui-
de Sistemas e Serviços de Saúde. ções condições de manterem-se no
(CBA), tendo como missão “Contri- mercado competitivo atual.
buir para a melhoria da qualidade do Os instrumentos de avaliação
cuidado aos pacientes nos hospitais devem passar a incluir os resultados
e demais serviços de saúde no País alcançados em benefícios para a sa-
por meio de um processo de acredi- úde dos pacientes seus questioná-
tação”. (BONATO, 2001). rios de avaliação. O SUS envia cor-
Ao ser aprovado nessa avalia- respondência a seus beneficiários
ção, o hospital recebe o certificado para confirmação de atendimentos
de “Hospital Acreditado”, demons- realizados. Poderia avaliar os resul-
trando que há conformidade com o tados do atendimento realizado após
manual de padrões dessa metodolo- determinados períodos de tempo.
gia. Segundo a Organização Nacio- As equipes de saúde da famí-
nal de Acreditação (ONA), acreditar lia, poderiam realizar levantamen-
significa “conceder reputação a; tor- tos constituindo se em boa fonte de
nar digno de confiança”. Por isso

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GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

dados sobre os resultados dos trata- traz benefício para o paciente, que
mentos realizados em seus pacientes na maioria das vezes deseja a cirur-
que passassem por internações ou gia, chegando em alguns casos a au-
tratamentos em hospitais da rede mentar de peso para se qualificar
pública. para a mesma.
Os resultados coletados deve- O bom prestador do tratamen-
riam publicados pelos avaliadores, to de obesidade mórbida vai oferecer
inicialmente, apenas para conheci- o tratamento adequado para os seus
mento dos serviços avaliados. Isso pacientes direcionando para as ci-
estimularia um movimento de ques- rurgias somente os que, de fato, pre-
tionamento sobre a metodologia uti- cisam fazê-la e apoiando-os por pelo
lizada e os resultados alcançados, menos dois anos após a realização
com muitos prestadores de serviços do tratamento. Os outros serão dire-
de saúde apresentando justificativas cionados a tratamentos convencio-
para seu mal desempenho em algu- nais. A avaliação do sistema deve
ma avaliação. quantificar os pacientes que conti-
Essa iniciativa necessita ser nuam dentro da faixa normal de pe-
apoiada e as justificativas analisadas so e sem passar por problemas de sa-
com profundidade. As justificativas úde relacionados ao emagrecimen-
que forem validadas devem ser con- to, tenham estes sofrido a cirurgia
sideradas como ajustes de riscos que ou o tratamento conservador de die-
tornarão sistema de avaliação mais tas e exercício. O melhor prestador é
eficiente. Os ajustes dos riscos auto- o que consistentemente tenha paci-
maticamente levaram a avaliação a entes em melhores condições ao lon-
ser feita por condições específicas de go dos anos.
saúde e tratadas em cada prestador. Ajustados os riscos, o sistema
Exemplificando com o trata- deve ser aplicado periodicamente,
mento para obesidade mórbida, o em intervalos que assegurem ao
prestador mais eficiente deve levar prestador tempo para fazer os ajus-
os pacientes a restabelecer o peso tes antes de uma nova avaliação.
normal e continuar assim ao longo Agora os resultados seriam
de anos, não semanas ou meses. publicados para conhecimento de
Este tratamento pode ou não incluir toda a comunidade envolvida, inclu-
a cirurgia bariátrica. Avaliar apenas sive os pacientes e contratantes de
o resultado da citada cirurgia ou serviço fornecendo a ambos uma po-
contratá-la por um custo menor ou derosa ferramenta de escolha. Os
realizar mutirões de cirurgias, não pacientes que agora, teriam como

31
GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

escolher o melhor para si. Os contra- modo se avalia mais completamente


tantes poderiam usar a ferramenta a qualidade do serviço dispensado.
para avaliar se devem ou não reno- É imperativo o aprofunda-
var os contratos com esse ou aquele mento das avaliações existentes nos
prestador. Caso as avaliações este- resultados obtidos pelos pacientes.
jam sendo feitas por condição de sa- Tal aprofundamento trará benefí-
úde, os contratos podem ser renova- cios consideráveis e melhorias na
dos apenas para os tratamentos avaliação dos serviços prestados, se
onde os prestadores tenham melho- os prestadores de serviço de saúde
res resultados. Para operadores com avaliados forem notificados de seus
rede própria, como é o caso do SUS, resultados e mais pacientes forem
apontar os locais onde é necessária a direcionados aos que obtiveram me-
intervenção, no caso de resultados lhores resultados, criando se uma
abaixo da média. rotina de melhoria na qualidade da
Para os prestadores de serviço prestação do serviço.
de saúde com melhores resultados, o Na atual situação do mercado
prêmio seria o direcionamento de de saúde, tendo em vista a literatura
mais pacientes. Recebendo de mais acerca da qualidade e as experiên-
pacientes estes serviços poderiam cias vivenciadas nas unidades de sa-
melhorar a remuneração financeira, úde, observamos um serviço que
especializar o pessoal envolvido e vem se ampliando não só pela tecno-
suas instalações para o atendimento logia da medicina como também pe-
de mais pacientes de uma dada con- las mudanças de valores dos clientes
dição de saúde, criando um círculo assistidos.
virtuoso. Apesar das dificuldades en-
Os métodos de avaliação utili- frentadas nos processos de implan-
zados atualmente são muito adequa- tação devido a cultura arraigada e as
dos para a avaliação das estruturas e resistências à mudança, pode-se
dos processos de prestação de ser- afirmar que a Qualidade do Serviço
viço de saúde, porém, abordam so- traz uma interferência na Gestão dos
bre os resultados em forma de indi- serviços de Saúde.
cadores de qualidade ou de satisfa- A questão da qualidade mercê
ção do cliente. É importante consi- hoje especial atenção da gerencia,
derar os resultados obtidos pelos pa- pois, a mesma é capaz de garantir ou
cientes após o recebimento do trata- por em risco o seu espaço no mer-
mento ou atenção recebida. Desse cado competitivo. É preciso assistir,

32
GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

de fato o cliente, buscando satisfazer


às suas necessidades superando
suas expectativas segunda a sua per-
cepção de qualidade.
A busca pela qualidade é tam-
bém um incentivo para o aprimora-
mento profissional e institucional,
promovendo o crescimento da ex-
pertise e colocando-o a pari passu
com as instituições de assistência a
saúde do primeiro mundo garantin-
do seus serviços de saúde por meio
da acreditação.

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34
34
35
GESTÃO DA QUALIDADE E ACREDITAÇÃO

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