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Apostila CEREDIC-1
Apostila CEREDIC-1
DE PACIENTES COM
COMPROMETIMENTO
COGNITIVO
Equipe Multidisciplinar
O
s instrumentos de rastreio cognitivo e funcional servem para uma avaliação rápida e relativamente eficaz
de indivíduos com suspeita de declínio cognitivo. Devem ser de fácil utilização, exigindo poucos mate-
riais especiais, além de papel e caneta.
Na suspeita de declínio cognitivo a anamnese deve ser dirigida para se tentar determinar em quais atividades
o paciente teve comprometimento e/ou incapacidade, levando-se em consideração seu nível prévio (atividades
laborativas/funcionais e nível educacional).
Os instrumentos mais utilizados de avaliação cognitiva em nosso serviço é o Mini-Exame do Estado Mental,
a Bateria Breve de Rastreio Cognitivo para a avaliação cognitiva e para a avaliação instrumental funcional po-
dem ser aplicados o Questionário de Avaliação Funcional (Pfeffer et al., 1982) ou o Questionário de Mudança
Cognitiva (Damin et al., 2015). Para os casos mais graves podem ser utilizadas a escala de atividades básicas
de vida diária de Katz e para a avaliação cognitiva o Mini-Exame do Estado Mental grave.
Além destes, uma escala bastante útil para classificação do estágio do paciente é a escala FAST e/ou a Es-
cala de Deterioração Global.
Na ausência destes instrumentos à mão, a avaliação durante a consulta deve abranger os mesmos aspec-
tos. Dependendo da avaliação funcional poderemos classificar em demência (quando existe declínio da fun-
cionalidade) (Quadro 1) ou comprometimento cognitivo leve - CCL (quando existe dificuldades em atividades
instrumentais complexas, mas a funcionalidade de um modo geral está preservada) (Quadro 2).
É importante o diagnóstico de CCL, pois aumenta o risco para o desenvolvimento de demência e Doença de
Alzheimer, pois apresenta uma taxa de conversão para demência entre 10 a 15% ao ano. Porém, uma parcela
pode retornar à normalidade, com controle de fatores de risco vasculares, tratamento de depressão, alterações
metabólicas, hipovitaminoses, etc.
Nos casos de demência rapidamente progressiva (menor do que 2 anos de evolução do início a um quadro
moderado) encaminhar para serviço especializado.
FECHE
OS OLHOS
TABELA 2 • Distribuição dos escores na amostra total e por escolaridade (Brucki et al., 2003)
N Média Desvio-padrão Mediana
Grupo todo 433 24,63 3,72 25
Analfabetos 77 19,51 2,84 20
1 a 4 anos de escolaridade 211 24,76 2,96 25
5 a 8 anos de escolaridade 72 26,15 2,35 26
9 a 11 anos de escolaridade 47 27,74 1,81 28
> 11 anos de escolaridade 26 28,27 2,01 29
Percepção
correta ✓=
Nomeação
correta ✓=
Esconda as figuras e pergunte: “que figuras eu acabei de lhe mostrar”?
Memória
incidental ✓=
Mostre a figuras novamente durante 30 segundos dizendo: “olhe bem e procure memorizar estas figuras”
(se houver déficit visual importante, peça que memorize as palavras que você vai dizer;
diga os nomes dos objetos lentamente, um nome/segundo; fale a série toda duas vezes.)
Memória
imediata 1 ✓=
Mostre a figuras novamente durante 30 segundos dizendo: “olhe bem e procure memorizar estas figuras”
Memória
imediata 2 ✓=
Interferência (desenho do relógio e fluência verbal semântica)
“Que figuras eu lhe mostrei há 5 minutos?”
Se necessário, reforce, dizendo figuras desenhadas numa folha de papel plastificada.
Memória tardia
(5 Minutos) ✓=
Mostre a folha contendo as 20 figuras e diga: “aqui estão as figuras que eu lhe mostrei hoje
e outras figuras novas; quero que você me diga quais você já tinha visto há alguns minutos.”
Reconhecimento ✗ =
✓= CORRETAS ✗= INTRUSÕES
O escore mais adequado para diferenciar indivíduos normais de pacientes com Doença de Alzheimer inicial foi de
5 ou menos itens recordados na memória tardia.
Nos quadros graves, em geral, MEEM igual ou menor a 10, pode-se acompanhar o paciente através de
avaliação pelo MEEM grave. Outra forma é perguntar questões padrões, como dados autobiográficos, data de
nascimento, endereço, etc.
O MEEM grave (Quadro 5) tem escore total de 30 pontos, avalia conhecimento autobiográfico, função vi-
suoespacial, função executiva, tarefas simples de linguagem, fluência verbal animais e soletração. É um teste
interessante, pois é necessário somente lápis e papel, não exigindo materiais específicos. Os escores do MEEM
grave e MEEM correlacionam-se bem em pacientes que tiveram MEEM abaixo de 10 pontos, portanto, pacien-
tes graves; bem como com escalas funcionais (Sales et al., 2012).
ESCALAS FUNCIONAIS
As escalas funcionais podem ser divididas em atividades instrumentais e básicas de vida diária. As ativida-
des básicas estão comprometidas em fases mais avançadas da demência, pode ser utilizado o Índice de Katz
(Quadro 6). As atividades instrumentais já são afetadas nas fases iniciais e permitem fazer o diagnóstico de
demência, se houver comprometimento das mesmas.
Existem várias escalas, as que utilizamos de forma rotineira serão demonstradas aqui.
O Questionário de Atividades Funcionais (QAF) (Pfeffer et al., 1982) deve ser aplicado a um acompanhan-
te que tenha contato com o paciente. Escores de cinco pontos ou mais são indicativos de prejuízo funcional
compatível com demência. Deve-se levar em consideração o grau de comprometimento real se o indivíduo tiver
alterações visuais, ortopédicas ou reumatológicas que possam influenciar na funcionalidade. Tente estabelecer
o déficit relacionado à cognição.
O QAF aumenta o poder de acurácia diagnóstica quando em associação aos testes cognitivos breves e em
conjunto com o MEEM, mesmo entre indivíduos de baixa escolaridade e analfabetos em que às vezes o diag-
nóstico de comprometimento cognitivo pode ser mais difícil.
INDEPENDENTE • 6
DEPENDÊNCIA MODERADA • 4
TOTAL DE PONTOS ________ MUITO DEPENDENTE • 2 ou menos
TOTAL _______
QUADRO 7 • GDS
Uma escala mais rápida de avaliação de gravidade também desenvolvida por Reisberg é a escala FAST
(quadro 8) ”Escala de Estadiamento Funcional” desenvolvida por Reisberg (1986). A FAST é composta de sete
níveis funcionais que são distribuídos em ordem crescente de gravidade de acordo com a capacidade cognitiva
e funcional do paciente. n
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Suas causas são multifatoriais e diferentes em países desenvolvidos e em desenvolvimento, mas suas con-
sequências são igualmente importantes do ponto de vista social, médico e de políticas públicas.
Aumento da prevalência geral de doenças crônicas: mais frequentes neste grupo etário, modificando
o enfoque dos programas de saúde governamentais: da cura e sobrevivência, para o cuidado, o controle das
doenças, a melhora do estado funcional e do bem-estar.
O envelhecimento se caracteriza por mudanças biológicas, psicológicas, sociais e cognitivas que aumentam
a predisposição e vulnerabilidade a situações de incapacidade funcional de maneira diversa, de acordo com
todas as variáveis já mencionadas, fazendo do envelhecimento uma experiência bastante individual e heterogê-
nea, onde a idade cronológica é apenas um dos personagens envolvidos.
Uma avaliação geriátrica eficiente e completa, a custos razoáveis, torna-se cada vez mais premente. Seus
objetivos são o diagnóstico precoce de problemas de saúde e de condições de vida que abarcam questões
como moradia, suporte social, condições financeiras, além de aspectos físicos como mobilidade, cognição e
estado nutricional que comprometem ou preservam em graus distintos a capacidade funcional do sujeito que
envelhece. Além de identificar idosos em maior risco de agravos à saúde, a avaliação geriátrica ampla (AGA)
tem por objetivos guiar a seleção de intervenções quer sejam de prevenção, restauração, ou de reabilitação;
prever desfechos e monitorar os resultados das intervenções implementadas. Existem algumas evidências na
literatura de previsibilidade de institucionalização e mortalidade dos indivíduos com distúrbios nas dimensões
da AGA e pesquisas vem sendo desenvolvidas no sentido de avaliar o poder preditivo da AGA em desfechos
como funcionalidade de longo prazo após eventos agudos de saúde, por exemplo.
O modelo de atendimento à população mais idosa tem evoluído, e
conceitos de atendimento interdisciplinar, tais como Avaliação Geriátri- Diagrama 1
ca Ampla utiliza métodos de avaliação sistemática tem sido explorados Avaliação
e disseminam-se nas pesquisas gerontológicas e na prática clínica. Es-
ta se baseia no princípio do trabalho interdisciplinar e planejado, vi- Discussão
Interdisciplinar
sando um tratamento e acompanhamento de longo prazo. Diagrama 1
Plano
de
Tratamento
Os métodos habituais de se realizar uma avaliação funcional es-
truturada consistem na observação direta (testes de desempenho) e Implementação
por questionários, quer auto-aplicados ou concebidos para entrevistas
Monitoramento
face a face, sistematizados por meio de uma série de escalas que ava-
liam os principais componentes de cada dimensão. Tais escalas com- Revisão
põem o que se tem denominado “instrumentos de avaliação funcional”.
(Int
J
Clin
Pract,
2013)
AGA - dimensões: estado funcional, nutricional, mobilidade, condições sensoriais, cognição e humor,
suporte social e ambiente.
Diversos são os instrumentos encontrados na literatura e citaremos alguns dos mais utilizados em nosso meio:
Avaliação Cognitiva Mini Exame do Estado Mental
Depressão Escala de depressão geriátrica
Risco Nutricional e presença de desnutrição MAN
Avaliação de marcha e equilíbrio Escalas de Guralnik; Tinetti; Berg; Time up and Go test
Para avaliação funcional propriamente dita, a medida do desempenho em tarefas de vida diária, são utilizados
instrumentos que aferem a capacidade instrumental da vida diária como lidar com finanças, locomover-se com
condução própria ou não, administrar os próprios medicamentos e ser capaz de preparar uma refeição, por exem-
plo, e a escala de Lawton e Brody (1969) é uma das mais conhecidas. Tais habilidades refletem a magnitude da
autonomia do indivíduo, sua capacidade de gerir sua própria vida. Já no sentido de avaliar a independência funcio-
nal, utilizam-se escalas de atividades básicas da vida diária como a capacidade para vestir-se, alimentar-se, con-
tinência esfincteriana, locomoção e higiene íntima. Escalas como a de Katz (1970) e Barthel são bons exemplos.
A demência, como sua própria definição afirma, é um estado de alteração cognitiva grave o suficiente pa-
ra comprometer justamente a funcionalidade dos indivíduos, em um primeiro momento nos aspectos instru-
mentais comprometendo sua autonomia, para posteriormente e ao longo do tempo, prejudicar paulatina e
inexoravelmente a capacidade de manter a independência para atividades de vida diária. É parte integrante e
fundamental do diagnóstico da síndrome demencial a avaliação minuciosa das capacidades funcionais do indi-
víduo e escalas como as mencionadas são utilizadas, bem como outras que procuram aferir o prejuízo funcional
advindo especificamente do comprometimento cognitivo. n
Índice de Katz (Katz et al, 1970)
Escala deDE
ESCALA
ESCALA DELawton
LAWTON
LAWTON Índice de Katz (Katz et al, 1970)
É capaz de usar o telefone?
É capaz de usar o telefone?
• Sem auxílio 3
• Sem auxílio 3
• Com auxílio 2
• Com auxílio 2
• Não é capaz 1
• Não é capaz 1
É capaz de usar meios de transporte?
É capaz de usar meios de transporte?
• Sem auxílio 3
• Sem auxílio 3
• Com auxílio 2
• Com auxílio 2
• Não é capaz sem adaptações especiais 1
• Não é capaz sem adaptações especiais 1
É capaz de andar e fazer compras?
É capaz de andar e fazer compras?
• Sem auxílio 3
• Sem auxílio 3
• Com auxílio 2
• Com auxílio 2
• Não é capaz 1
• Não é capaz 1
É capaz de preparar a comida?
É capaz de preparar a comida?
• Sem auxílio 3
• Sem auxílio 3
• Com auxílio 2
• Com auxílio 2
• Não é capaz 1
• Não é capaz 1
É capaz de fazer tarefas domésticas?
É capaz de fazer tarefas domésticas?
• Sem auxílio 3
• Sem auxílio 3
• Com auxílio 2
• Com
É capazauxílio
de desenvolver trabalhos manuais? 2
ESCALA DE DEPRESSÃO GERIÁTRICA
• Não é capaz
• Não é capaz
1
1 Escala de depressão geriátrica
É capaz de desenvolver trabalhos manuais? DEdeYESAVAGE
Yesavage
• Sem auxílio 3
• Com auxílio 2 ITENS SIM NÃO
• Sem auxílio 3
• Não é capaz 1 Em geral, você está satisfeito com sua vida? 0 1
• Com auxílio 2
É capaz de lavar a própria roupa? Você abandonou várias de suas atividades ou interesses? 1 0
• Não é capaz 1
Você sente que sua vida está vazia? 1 0
Semde
• capaz
É auxílio
lavar a própria roupa? 3
Você se sente aborrecido(a) com freqüência? 1 0
• Com auxílio 2
• Sem auxílio 3 Você está de bom humor durante a maior parte do tempo? 0 1
• Não é capaz 1
• Com auxílio 2 Você teme que algo de ruim aconteça com você? 1 0
É capaz
• Não de tomar os remédios?
é capaz 1 Você se sente feliz durante a maior parte do tempo? 0 1
Você se sente desamparado(a) com freqüência? 1 0
Semde
• capaz
É auxílio,
tomar naos
dose e horário correto
remédios? 3
Você prefere ficar em casa a sair e fazer coisas novas? 1 0
• Com auxílio (se alguém o recorda ou prepara) 2
• Sem auxílio, na dose e horário correto 3 Você acha que apresenta mais problemas com a memória do que antes? 1 0
• Não é capaz 1
• Com auxílio (se alguém o recorda ou prepara) 2 Atualmente, você acha maravilhoso estar vivo(a)? 0 1
É capaz de lidar com o dinheiro?
• Não é capaz 1 Você considera inútil a forma em que se encontra agora? 1 0
É Semde
• capaz auxílio
lidar com o dinheiro? 3 Você se sente cheio de energia? 0 1
• Com auxílio 2 Você considera sem esperança a situação em que se encontra? 1 0
• Sem auxílio 3
• Não é capaz 1 Você considera que a maioria das pessoas está melhor do que você? 1 0
• Com auxílio 2
• Fonte: Lawton, E.M. Brody, 1969 apud Tàmmaro et al. 8-10
Não é capaz 1
Fonte: Lawton, E.M. Brody, 1969 apud Tàmmaro et al.8-10.
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
A avaliação neuropsicológica (ANP) pode ser definida como o estudo da expressão comportamental das disfun-
ções cerebrais, tendo como objetivo analisar os aspectos funcionais do cérebro através dos comportamentos
cognitivos, sensoriais, motores, emocionais e sociais do indivíduo. Pode ser utilizado para auxílio no diagnósti-
co, planejamento/cuidado com o paciente, reabilitação, pesquisas e questões jurídicas (Lezak et al.).
Avaliação Neuropsicológica
n anamnese detalhada com o paciente e familiares e/ou cuidadores para compreensão dos aspectos
da personalidade, do ambiente social/cultural.
n aplicação de testes padronizados para obter desempenho de determinada função cognitiva.
n interpretação dos dados obtidos.
Funções avaliadas
n Atenção
n Memória
n Funções executivas
n Capacidade visuoperceptiva
n Linguagem
n Praxias
ATENÇÃO
A ANP não dá, por si só, o diagnóstico.
Ela alia-se aos exames de neuroimagem
e laboratoriais. Um estudo que comparou
a acurácia da Ressonância Magnética
(RM), tomografia por emissão de pósitrons
(PET) e marcadores presentes no liquor
(proteínas beta-amilóide e tau) demostrou
a superioridade da ANP, que identificou
corretamente 84% dos pacientes com
comprometimento cognitivo leve (CCL)
e doença de Alzheimer (DA).
ENVELHECIMENTO NORMAL
O cérebro do idoso naturalmente apresenta modificações em seu volume e peso, na vascularização, na estrutu-
ra celular e molecular e na neurotransmissão. No envelhecimento normal é comum a diminuição da velocidade
de processamento de informações, sendo assim, o idoso requer mais tempo para aprender novas informações
e para lembrá-las. Ocorre também diminuição na eficácia dos sistemas frontais do cérebro, causando dificulda-
de de atenção, tornando-o mais distraído. Um dos grandes desafios é a diferenciação entre o envelhecimento
normal e o processo de demência.
MEMÓRIA
Geralmente a patologia é iniciada em regiões límbicas que subservem a memória episódica, o que causa o dé-
ficit de memória nos estágios iniciais da doença. As primeiras alterações neurofibrilares ocorrem geralmente em
estruturas mediais do lobo temporal (por exemplo: hipocampo e córtex entorinal), interrompendo a rede neural
que é necessária para a memória episódica. Há falhas de memória no início e subsequentemente em linguagem,
habilidade visuoespacial e praxias indicando a propagação da doença das regiões perihipocampal às áreas
associativas posteriores.
Em testes de lista de palavras, idosos normais tendem a recuperar mais as primeiras e as últimas palavras, já
os pacientes com DA recuperam melhor os dados mais recentes, ou seja, as últimas palavras ditas pelo exami-
nador (efeito de recência). Índices de esquecimento rápido tem importante utilidade na detecção precoce da DA.
Como pacientes ficam mais sensíveis à interferência devido à diminuição dos processos inibitórios é comum
a produção de erros e intrusões.
HABILIDADES VISUOESPACIAIS
Alterações na função visuoespacial estão presentes em tarefas visuoconstrutivas e tarefas que requerem habili-
dade e orientação visuoperceptual. Os déficits no processamento de informação visual e de atenção seletiva e
dividida são observados no decorrer do envelhecimento normal, mas são exacerbados em indivíduos com DA.
O teste do desenho do relógio é bastante utilizado na avaliação de pacientes com DA, pois ajuda a diferen-
ciar de idosos normais.
A DA também pode se apresentar inicialmente como atrofia cortical posterior (ACP). Apesar de preservadas
a memória, a linguagem, o julgamento e discernimento, os pacientes com a síndrome clínica de ACP geralmente
têm agnosia visual, apraxia de construção e apresentam algumas ou todas as características de síndrome de
Balint (ataxia óptica, apraxia do olhar e simultanagnosia).
Em 2011, recomendações para a avaliação cognitiva, comportamental e funcional foram publicadas por
especialistas do departamento científico de Neurologia Cognitiva e Envelhecimento da Academia Brasileira de
Neurologia (DC-NCE da ABN).
MEMÓRIA EPISÓDICA
Os pacientes com DH apresentam perda de memória leve a moderada que parece resultar de um déficit na ca-
pacidade de iniciar e realizar a recuperação das informações armazenadas. Em testes de lista de palavras, por
expemplo, pacientes com DH e DP tiveram desempenho semelhante com um padrão de déficit na recuperação
(ambos tinham codificação levemente deficitária, retenção normal ao longo do tempo e dificuldade em iniciar
estratégias de recuperação). Em geral, pacientes com DH tinham um déficit grave em evocação monstrando
melhora em testes de reconhecimento do que os pacientes com DP.
Pacientes com PSP apresentam redução nas taxas de aprendizado e comprometimento nas tarefas de evo-
cação e reconhecimento após intervalo.
HABILIDADES VISUOESPACIAIS
As habilidades visuoespaciais são muitas vezes afetadas no início do curso de DH e declina com a progressão
da doença.
No teste do relógio, pacientes DH tendem a fazer erros gráficos, visuoespaciais e de planejamento, enquanto
os pacientes com DA tendem a cometer erros conceituais (por exemplo, ausência de números e/ou ponteiros;
números e/ou ponteiros incorretos; ou escrevendo a hora), ou seja, o comprometimento exibido pelos pacientes
com DH parece ser uma manifestação dos déficits de planejamento e motores, já o comprometimento de pacien-
tes com DA refletem déficit no acesso ao conhecimento dos atributos, características e significado de um relógio.
No subteste Cubos (WAIS-III), os pacientes com DA têm maior dificuldade em perceber o objeto como um
todo, já os pacientes com síndrome subcortical têm maior alentecimento e erros que envolvem detalhes, porém
têm maior percepção do objeto como um todo.
DEMÊNCIA E DEPRESSÃO
Um dos desafios da ANP é identificar se o comprometimento cognitivo é secundário à depressão, ou se o pa-
ciente desenvolveu uma síndrome depressiva associada a um quadro de demência.
Em relação à memória, na depressão sem demência existe pouca ou nenhuma diferença entre a recuperação
imediata e a tardia, mesmo que ambas estejam abaixo do esperado. O reconhecimento geralmente está intacto
e superior à recuperação tardia.
Durante a avaliação, os pacientes com depressão sem demência têm consciência de seus déficits, cometem
poucas intrusões, colaboram menos e é comum erros do tipo “não sei”.
Cabe lembrar que há diferentes perfis neuropsicológicos, nas formas iniciais de demência, que se perdem na
evolução dos quadros de perda cognitiva, com comprometimento generalizado. Na figura observamos exem-
plos de alguns perfis.
PERFIS COGNITIVOS
Perfil neuropsicológico precoce Perfil neuropsicológico precoce Perfil neuropsicológico precoce
da demência do tipo Alzheimer da Afasia Progressiva Primária11 da Demência Frontotemporal
(tipo amnéstico)11 Variante Comportamental11
Comprometimento
Grave
Comprometimento
Moderado
Comprometimento
Leve
Estágio Inicial
Estágio Tardio
Retirados e adaptados de: Weintraub S, Wicklund AH, e Salmon DP. The Neuropsychological Profile of Alzheimer Disease.
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M
udanças na linguagem e na deglutição podem surgir com o envelhecimento. Porém, em muitos casos, tor-
na-se difícil identificar se as queixas são inerentes ao processo de envelhecimento saudável ou se já indicam
um quadro inicial de comprometimento cognitivo.
A identificação destes sinais precocemente é de fundamental importância. Por exemplo, alguns casos de
comprometimento cognitivo leve podem permanecer estáveis ou até serem reversíveis. Mesmo na presença
de demências já estabelecidas, métodos terapêuticos utilizados para reabilitação têm se mostrado eficientes.
Mesulam (2013) acrescenta mais dois subtipos de APP: o subtipo anômico (semelhante ao logopênico,
porém a repetição está preservada) e o subtipo misto (apresenta agramatismo e dificuldades de compreensão
sintática desde a fase inicial da doença).
Teste de Boston Goodglass e Radanovic e Mansur, 2002 Avaliação abrangente dos aspectos formais da linguagem.
para Diagnóstico Kaplan, 1983 Radanovic et al., 2004 Dividido em 5 áreas: compreensão auditiva, expressão oral,
da Afasia Mansur et al., 2006 leitura, escrita e discurso.
Bateria Nespoulous Pagliarin et, 2014 Avaliação abrangente dos aspectos formais da linguagem.
Montreal- et al., 1986 Pagliarin et, 2015 Inclui tarefas de linguagem automática, compreensão auditiva
Toulouse de e escrita, emissão oral e escrita (discurso), ditado e cópia,
Avaliação da repetição, leitura, fluência verbal, nomeação, cálculo e habilidades
Linguagem aritméticas, manipulação de objeto, manipulação de objetos
e praxia não-verbal.
M1-Alpha Nespoulous Ortiz et al., 1993 Avaliação breve dos aspectos formais da linguagem.
et al., 1986 Garcia e Takayanagui, 2007 Versão reduzida da Bateria Montreal-Toulouse
Ortiz e Costa, 2011 de Avaliação da Linguagem.
MT Beta-86 Nespoulous Ishigaki et al., 2013 Avaliação breve dos aspectos formais da linguagem.
et al., 1986 Ortiz et al., 2006 Versão reduzida da Bateria Montreal-Toulouse
de Avaliação da Linguagem.
Western Kertesz, 2007 Neves et al, 2014 Avaliação abrangente dos aspectos formais da linguagem. As tarefas são
Aphasia Battery referentes à fala espontânea (conteúdo e fluência), compreensão auditivo-
verbal, comandos sequenciais, repetição, nomeação, leitura, escrita e
apraxia. O quociente de Afasia (QA) e o Quociente de Linguagem (QL)
informam sobre a gravidade do transtorno de linguagem.
Bateria Montreal Joanette Fonseca et al., 2008 Avaliação abrangente da comunicação. Examina aspectos formais e
de Avaliação da et al., 2004 pragmáticos da linguagem. Inclui tarefas de conversação, narrativa,
Comunicação interpretação de metáforas e atos de fala indiretos, fluência verbal,
(Bateria MAC) julgamento semântico, processamento de prosódia linguística e emocional.
Bateria Ferre et al., Casarin et al., 2014 Avaliação breve da comunicação. Examina os mesmo processos
MAC Breve* 2011 cognitivos da Bateria MAC, além de habilidades de leitura e escrita.
Bateria Arizona Bayles e Rüegg et al., 2006 Avaliação da interface da comunicação funcional com a cognição.
para Desordens da Tomoeda, 1993 Novaretti, 2009 Compreende 17 subtestes divididos em 5 construtos: estado mental,
Comunicação de Freitas, 2010 memória episódica, expressão linguística, compreensão linguística
Demência (ABCD) e construção visuoespacial.
Functional Fratalli et al., Carvalho et al.46 2008 Avaliação funcional da linguagem e comunicação.
assessment of 1995 Contém 46 questões divididas nos seguintes domínios:
communication (a) Comunicação Social, (b) Necessidades Básicas, (c) Leitura,
skills for adults Escrita e Conceitos Numéricos e (d) Planejamento Diário.
(ASHA- FACS) O questionário é aplicado aos cuidadores para identificar impactos
funcionais na comunicação e mudanças nas atividades de vida diária.
Bateria de Adlam et al., Carthery-Goulart et al., Avaliação abrangente da memória semântica. Inclui os sub-testes
Memória 2010 2013 de fluência verbal (critérios semântico e fonológico-literal),
Semântica de nomeação por confrontação e a partir de descrição, geração de definições,
Cambridge classificação de figuras de acordo com categorias.
Pyramid and Palm Howard e Patterson, Mansur et al., 2013 O emparelhamento semântico de figuras por meio do teste Camel
Trees test / Kissing
and Dancing Test 1992; Bak et al., 2003 Baradel et al., 2014 and Cactus Pictures também compõe a bateria de Cambridge.
Teste de Kaplan et al., Mansur et al., 2006 Avaliação da memória semântica, por meio da associação de substantivos
Nomeação 2001 Miotto et al., 2010 e verbos. Os estímulos são compostos por figuras e palavras.
de Boston Avaliação do reconhecimento da representação visual, acesso ao sistema
semântico, conhecimento semântico em si, e componentes fonético-
fonológicos. É composto por 60 figuras que variam quanto à frequência
do item. Existem versões reduzidas, com 15, 20 ou 30 itens.
Bateria de Nomeação Drucks e Spezzano et al., 2013 Avalia a capacidade de nomeação por confrontação visual de substantivos
de Verbos e Masterson, 2000 (diferentes categorias semânticas) e verbos (diferentes tipos de verbos de
Substantivos ação). É composto por 162 figuras de substantivos e 100 figuras de verbos.
Token Test (TT) De Renzi, Vignolo Paula et al., 2012 Avaliação do processamento sintático, por meio da compreensão
Carvalho et al., 2009 auditiva de sentenças. O TT é composto por ordens que aumentam
em complexidade para a correta manipulação de peças. Exige memória
operacional e processamentos executivos atencionais.
Fluência Verbal Brucki et al., 1997 / Brucki e Avaliação da capacidade de recuperação e produção de palavras de acordo
Rocha, 2004 / Radanovic et al.,
Semântica e 2007, 2009 / Senhorini et al., com os critérios semântico (animais, frutas) ou fonêmico (FAS), dentro de
2006 / Caramelli et al., 2007
Fonêmica Fichman et al., 2009 / Machado um período de tempo (geralmente um minuto). Também exige integridade
et al., 2009 / Passos et al., 2011 das funções executivas para organizar, recuperar e iniciar as respostas,
Araujo et al., 2014 / Jacinto et
al., 2014 / Bertola et al., 2014 monitorando respostas anteriores e inibindo respostas inadequadas.
Protocolo de Duffy, 2005 Martins e Ortiz, 2004 Avaliação do planejamento motor da fala. Contém tarefas para exame da apraxia
Apraxia de Fala não-verbal e da apraxia de fala (repetição de palavras, repetição de sentenças,
produção de séries automáticas, fala espontânea e leitura em voz alta).
Protocolo Drummond, 1993; Ortiz, 2006 Avaliação da execução motora da fala. Contém tarefas para o exame das
de Disartria Mayo, 1998; bases respiração, fonação, ressonância, articulação e prosódia, além de
Freed, 2000 avaliação estrutural dos órgãos fonoarticulatórios.
*Bateria Montreal de Avaliação da Comunicação Versão Abreviada FONTE: Adaptado de Parente et al., 2014.
1 • Aprendizagem sem erro: técnica na qual se usa instruções ou pistas para prevenir ou reduzir a chance dos
indivíduos errarem durante os ensaios de aprendizagem.
2 • Despistagem progressiva: as pistas ou alertas são gradualmente retirados à medida que os indivíduos aprendem.
3 • Recuperação espaçada: prevê a recuperação solicitada de um comportamento-alvo, em intervalos espaçados ou
com latência.
4 • Treinamento para habilidades de recuperação lexical e nomeação / Estimulação léxico-semântica: consiste
em exercícios e tarefas cujo objetivo é ampliar o processamento semântico-verbal. São utilizadas palavras escritas,
sentenças e histórias para interpretação exploradas em diferentes perspectivas.
5 • Atividades de leitura: estimulação da leitura individual ou em grupo em diferentes ambientes de cuidados.
6 • Terapia de orientação para a realidade: apresentação de informação sobre tempo, espaço e pessoas, estímulo
à aprendizagem e treino de memória com pistas verbais/visuais, as quais auxiliam o senso de controle e auto-
organização.
7 • Grupo de reminiscências: baseada na recordação e discussão, geralmente em grupo, de atividades passadas,
eventos, experiências usando materiais variados, tais como músicas, fotografias e outros suportes.
8 • Treino cognitivo computadorizado: possibilidade de dispor de ambiente adaptável para cada indivíduo e a
garantia de realização de treino em quantidade suficiente para promover o aprendizado de comportamentos
relevantes, tais como achar o caminho até a padaria, ou comprar itens específicos de uma lista.
9 • Estratégia das instruções verbais: auxílio para realização de tarefas do cotidiano como treino de uso de celular e
secretária eletrônica, entre outros.
10 • Estratégias de auto-monitoramento: pistas semânticas, ortográficas e fonológicas para facilitar o acesso lexical.
11 • Treino de script: treinamento de conversação em situações cotidianas, como por exemplo, conversar ao telefone,
agendar uma consulta médica, fazer compras.
12 • Facilitação da linguagem receptiva: treinamento com interlocutores para ensino de estratégias como falar mais
devagar, falar de frente para a pessoa e certificar-se de que o paciente está prestando atenção, usar gestos para
complementar a fala, dar uma informação por vez, utilizar estrutura gramatical simplificada e vocabulário frequente,
eliminar distrações durante conversações (por exemplo, desligar a TV).
13 • Abordagens linguísticas específicas para melhora do agramatismo (por exemplo, estimulação de verbos para a
produção de sentenças), apraxia de fala e habilidades fonológicas.
14 • Comunicação alternativa: emprego de material figurativo, para representar o repertório lexical e temático a ser
utilizado nas interações com o paciente. Pranchas com desenhos ou fotos de itens do vestuário, objetos da cozinha,
mobiliário, entre outros servem para designar referentes quando não é possível evocar a forma verbal.
15 • Programas de atenção a cuidadores: tem como foco principal o fornecimento de informações sobre as demências
e treino de técnicas de manejo dos pacientes.
3 • Avaliação da deglutição
Os principais passos da avaliação fonoaudiológica estão na figura 2.
FIGURA 2 • PASSOS DA AVALIÇÃO FONOAUDIOLÓGICA
1 • Anamnese: levantamento de informações sobre a alimentação e análise dos aspectos cognitivos associados
2 • Exame estrutural dos órgãos fonoarticulatórios
3 • Análise funcional da deglutição nas diferentes consistências alimentares
e identificação dos sinais clínicos sugestivos de broncoaspiração
4 • Averiguação da necessidade de realização de exames objetivos da deglutição
5 • Determinação da conduta baseada na gravidade da disfagia
FONTE: autoria própria.
REFERÊNCIA: Logemann, 1998.
E
m tese e genericamente, o enfermeiro assume responsabilidades que envolvem aspectos do cuidar integral-
mente, visando a promoção de saúde, prevenção de doenças, reabilitação e controle de processos agudos
ou crônicos de alguém que apresenta respostas humanas alteradas devido a doença física ou mental.
A conotação puramente assistencialista na formação deste profissional deu lugar, ao longo dos tempos,
a combinação de elementos que hoje fazem parte do universo de ações do enfermeiro em sua área de espe-
cialidade e hoje se fala em educação, assistência e pesquisa na prática da enfermagem. O conhecimento de
quatro áreas de especialidade são fundamentais para o exercício da profissão no contexto das doenças neu-
rodegenerativas cerebrais, ou demência, são elas: a neurologia, a geriatria, a psiquiatria e a gerontologia, em
virtude das especificidades das ações dirigidas a pacientes com idade igual ou superior a 60 anos, e a última,
pelo entendimento dos aspectos biopsicossociais que possibilitam a visão do ser como um todo, e não apenas
pelo dano apresentado em um único órgão ou sistema.
Assim sendo, a avaliação gerontológica global - AGG, permite ao profissional acessar problemas em vários
domínios e, a implementação de ações preventivas de novos agravos tornam-se possíveis, melhorando a qua-
lidade de vida de pessoas que apresentam doenças de alta morbidade, como, por exemplo, diabetes melitus,
hipertensão arterial , depressão, demência, entre outras. As ações preventivas podem reduzir não apenas a
sobrecarga individual e familiar como também a sobrecarga socioeconômica para o Estado.
Algumas atribuições de um enfermeiro geronto-geriátrico, listadas no quadro 1, são fundamentais para o di-
recionamento não só de suas ações como também de toda a equipe multidisciplinar. A AGG é uma ferramenta
poderosa e muito usada para avaliar a saúde geral e o bem-estar do adulto idoso. A principal ênfase está em
entender como o idoso funciona dentro do ambiente.
Algumas diretrizes norteiam o trabalho da enfermagem geronto geriátrica, e as principais podem ser vistas
no quadro 2.
Avaliação da saúde física • objetivo centrado na determinação da saúde geral e na aptidão do cliente idoso.
Avaliação do auto cuidado • aptidão atividades básicas de vida diária como banho, vestuário, alimentação, asseio,
continência, transferência.
Avaliação psicológica • subdividida em avaliação do funcionamento cognitivo (mental), e, do funcionamento afetivo (emocional)
Avaliação social • recursos econômicos : Suporte da comunidade (amigos, igreja, clubes, etc). Frequência e número de
contatos sociais (isolamento)
Neste sentido e independentemente do modelo teórico adotado pelos enfermeiros, é de extrema importância
considerar o papel de educador que este profissional exerce no que tange a promoção e prevenção da saúde
humana. É preciso que o conhecimento das áreas interrelacionadas – neurologia, geriatria, psiquiatria e geron-
tologia - sejam suficientemente amplos para que as tomadas de decisões sejam efetivas, e que em qualquer
Do ponto de vista de enfermagem em Neurociência, observa-se com o passar dos anos, avanços tanto no
que se refere a domínio de conhecimento, quanto ao desenvolvimento de estratégias facilitadoras no trato com
o paciente neurológico portador de diferentes injúrias e graus de dependência, o que possibilita a tomada de
decisões curativas, reabilitadoras ou paliativas.
É interessante dissertar, ainda que rapidamente, sobre o histórico da enfermagem em neurociência, como
também sobre o escopo do trabalho dessa especialidade e as diretrizes que norteiam as ações do enfermeiro
especialista.
Como aquele que recebe os cuidados de enfermagem em neurociência, entende-se o indivíduo com disfun-
ção do sistema nervoso, a família do indivíduo ou alguém próximo, a comunidade e sociedade em que o indiví-
duo vive. Quando estes três fatores são identificados, as diretrizes podem ser aplicadas para os vários níveis de
atenção, primária, secundária e terciária.
Fenômenos que são considerados consenso entre os enfermeiros especialistas são a comunicação, cons-
ciência e cognição, mobilidade, reflexos, sono e repouso, e para a identificação de disfunções em tais níveis
é preciso que os enfermeiros lancem mão de instrumentos elaborados por eles, de acordo com as realidades
econômico sociais das sociedades em que vivem, e que, principalmente, sirvam de modelo para a prática da
enfermagem na assistência e pesquisa ao paciente neurológico agudo ou crônico.
Vários centros de assistência e pesquisa têm criado seus protocolos de enfermagem padronizados, que
são considerados ferramentas úteis quando se pensa na organização de dados que possam permitir adequada
atenção ao paciente neurológico.
A NYU (New York University) vem há algumas décadas, realizando um trabalho sistematizado de assistência
ao idoso com diagnóstico de doença neurodegenerativa cerebral (demência), que se amplia para a família e a
comunidade por meio de suporte e educação. Ainda nos EUA, mais precisamente na Escola de Enfermagem da
Universidade de Washington em Seattle, trabalho desenvolvido por um grupo de profissionais liderados por uma
psicóloga clínica, tem mostrado que as iniciativas de programas de suporte às vitimas da doença de Alzheimer
e suas famílias constituem-se foco da atenção de profissionais especializados.
Apesar de a literatura ser rica em trabalhos que discutem suporte a pacientes com demência e seus cuida-
dores, há ainda muita dificuldade na comprovação da eficácia destes trabalhos, em função das diferenças me-
todológicas e, portanto, na falta de meta-análises que poderiam verificar a consistência dos resultados obtidos.
No Brasil, a primeira iniciativa surgiu no final da década de 90, quando foi elaborado o primeiro protocolo de
enfermagem específico para avaliação do paciente com demência e seu familiar/cuidador. (Ferretti CEL 1997).
Este protocolo foi elaborado seguindo diretrizes propostas pelo Conselho Federal de Enfermagm (COFEn)
e Conselho Estadual de Enfermagem (COREn) quanto a aplicabilidade da Sistematização da Assistência de
Enfermagem –SAE, tendo sido adotados como teoristas Dorothéa Orem – teoria do autocuidado, e Abrahão
Maslow – Teoria da hierarquização das necessidades Humanas Básicas.
No artigo 1º da Resolução COFEn nº 358/20098, que dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfer-
magem – SAE e a implementação do Processo de Enfermagem (PE) em ambientes públicos ou privados, lê-se
que o “PE deve ser realizado de modo deliberado e sistemático em todos os ambientes públicos ou privados
em que ocorre o cuidado profissional de enfermagem.”
Para a construção do protocolo de enfermagem em demência foram consideradas as propedêuticas neu-
rológica, psiquiátrica, geriátrica e gerontológica como ferramentas fundamentais além das diretrizes propostas
pela Academia Americana de Neurologia (AAN). O instrumento foi elaborado primariamente para ser utilizado na
coleta de dados de interesse para a enfermagem.
Mais tarde foi utilizado como instrumento de coleta de dados para a realização do primeiro estudo na Amé-
rica Latina que identificou fatores de risco para institucionalização precoce do portador de demência (Ferretti e
cols 2004).
A partir de então, foi implantado como instrumento de rotina no atendimento ao paciente ambulatorial de
uma unidade neurológica especializada em demência, na cidade de São Paulo, utilizado até os dias atuais e
servindo como modelo para outros serviços. Sem dúvida, é possível afirmar que os avanços da enfermagem
no Brasil na avaliação de pacientes com demência, são similares aos encontrados na America do Norte, basta
analisar os dois instrumentos que, para efeito de pesquisa em andamento, elaborou-se um quadro comparativo
das duas propostas: protocolo brasileiro X diretrizes da American Association of Neuroscience Nurses - AANN.
Quadro 3.
Família: Sobrecargas objetiva e subjetiva geradas pelos custos sociais diretos e indiretos.
Primariamente, medidas de suporte a pacientes e cuidadores devem ser embasadas na identificação de quais
necessidades estão comprometidas no momento da avaliação inicial com vistas a resolução e/ou controle daque-
las já presentes e prevenção de outras por meio de orientações focadas e individualizadas. Todas as orientações
devem ser oriundas de dados objetivos e subjetivos, coletados pela anamnese e trazidos pelo familiar, numa visão
gerontológica, geriátrica, neurológica e psiquiátrica que passa pelo paciente, cuidador e ambiente.
E preciso que o enfermeiro tenha conhecimento suficiente para reconhecer os diferentes tipos de demência
e outras doenças de alta morbidade para intervir com segurança e eficiência por meio da aplicação da SAE.
Do mesmo modo, é necessário que medidas de prevenção de co-morbidades sejam implementadas seguindo
o esquema apresentado na figura 3.
INCLUSÃO NO PROGRAMA
VISITA DOMICILIÁRIA
Objetivos:
• Entendimento da dinâmica familiar
• Identificação dos problemas
• Maior conforto para pacientes e familiares
• Avaliação da segurança pessoal/ambiental
• Maior aderência às orientações de enfermagem e tratamento medicamentoso
Critérios de Inclusão:
• Baixa aderência às orientações de enfermagem
• Pacientes com dependência moderada/grave
• Idade avançada do cuidador
• Dificuldade no transporte
Suporte
• Programa de Suporte ao cuidador via telefone e
• Programa Visita Domiciliária
Educação em Saúde
• Programa de Educação em Demência e Assistência ao Cuidador
• Capacitação de profissionais da Rede de Atenção Primária
• Capacitação de cuidadores
Neste sentido e independentemente do modelo teórico adotado pelos enfermeiros, é de extrema importância
considerar o papel de educador que este profissional exerce no que tange a promoção e prevenção da saúde
humana. É preciso que o conhecimento das áreas inter-relacionadas – neurologia, geriatria, psiquiatria e geronto-
logia - sejam suficientemente amplos para que as tomadas de decisões sejam efetivas, e que em qualquer nível
de atenção à saúde – PRINCIPALMENTE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA - a enfermagem possa explorar seu universo
de conhecimentos, e desta forma, contribua para a redução das chamadas doenças crônicas não transmissíveis,
como também, para a instalação de co-morbidades que são responsáveis por pesados ônus às sociedades.
Em suma, a SAE propõe facilitar o trabalho do enfermeiro e padronizar as ações e não o diagnóstico ou
intervenções.
Pode ocorrer a necessidade de reinvestigação caso tenha havido alguma falha no estabelecimento do diag-
nóstico de enfermagem feito após o exame físico. Por esta razão, a anamnese deve ser feita com critério e aten-
ção, pois qualquer falha nesta fase dificultará para a reabilitação do paciente levando, muitas vezes, a reinício
de todo o processo,
Uma boa investigação clínica realizada na anamnese permite a identificação dos padrões de resposta hu-
mana alterados, e foca as ações da enfermagem nos problemas apresentados pelo paciente nos contextos
biopsicossociais.
Basicamente, as ações do enfermeiro estão centradas no Idoso, na família, no cuidador e na rede de suporte
o que permite uma atuação integrada por meio de relações interpessoais e os níveis de intervenção se apoiam
no tripé: cognição, capacidade funcional e comportamento.
E a família?
A família merece atenção em todas as fases evolutivas da demência. O impacto do diagnóstico traz grande
angústia e muitas dúvidas que devem ser esclarecidas por profissionais competentes.
As famílias sofrem com a falta de informação sobre a doença e sua evolução; têm dúvidas sobre o tratamento
farmacológico e expectativa dos efeitos da medicação prescrita; sobre como lidar com as dependências para
atividades de vida diária e atividades instrumentais de vida diária; sobre como lidar com as alterações de com-
portamento; nutrição/alimentação; dependência total; perda de peso; mutismo; dupla incontinência; inversão
de papéis; sentimentos de luto.
O enfermeiro deve avaliar todas as limitações apresentadas pelo paciente e também por seu cuidador, en-
tender a dinâmica da família para verificar sua funcionalidade ou disfuncionalidade e avaliar o ambiente para
identificação de riscos potenciais de acidentes e necessidade de adaptações ambientais.
Além disso, lembrar que as necessidades humanas básicas precisam ser respeitadas e observadas:
• Biológicas - controle e a prevenção de doenças;
• Psicológicas - afeto e bem estar
• Sociais - integração, lazer, parcerias
• Espirituais - respeito às crenças e valores, bem estar, presença da família.
Nas fases mais tardias, além da observação das necessidades humanas básicas, deve-se dar maior atenção
às medidas preventivas envolvidas com:
• Broncoaspiração (disfagia)
• Pneumonias (hipostática e de aspiração)
• Infecções do trato urinário (higiene; troca de fraldas)
• Úlceras por pressão (imobilidade, desnutrição)
• Atrofias (imobilidade)
Enfermeiros devem estar atentos para a utilização de estratégias que possam facilitar o dia a dia de pacien-
tes e cuidadores, e assim, sempre que necessário:
• Adaptar vestuário, dieta;
• Realizar troca de fraldas a cada 3h ou antes, se necessário;
• Realizar banho de chuveiro;
NUNCA!!!
• Deixar de mobilizar por mais de 1h30min
• Alimentar deitado
• Medicar por conta própria ou deixar de medicar o remédio prescrito
Apesar das inúmeras tarefas, com as quais o cuidador mais cedo ou mais tarde terá que se familiarizar,
evidências mostram que este não é o principal fator gerador de sofrimento emocional de quem cuida. Certa-
mente, a desagregação da estrutura familiar, quando, na maioria dos casos, apenas um único cuidador torna-se
responsável por uma infinidade de tarefas desconhecidas gera maior desgaste. Infelizmente, ainda se vê com
mais frequência esse tipo de arranjo o que, lamentavelmente, ocasiona grande sobrecarga física e emocional e
aumenta o risco de, este cuidador, também adoecer e, no futuro, tornar-se dependente do sistema de saúde.
O que fazer?
Busque ajuda de profissionais especializados e de associações, como a ABRAz- Associação Brasileira de
Alzheimer, doenças similares e idosos de alta dependência, por exemplo. Participe dos grupos de apoio e das
reuniões mensais, Você não está sozinho!!!
Verifique ainda onde existe na sua comunidade, Progamas de Educação e Suporte, trabalhe pela funciona-
lidade de sua família e, para isso, procure dialogar mais com a família e exponha suas dificuldades. Caso não
seja possível, procure conversar com um terapeuta familiar e peça sugestões de como agir.
Pense que idealmente, a família deve conversar sobre o problema e conscientizar-se que, a partir do diag-
nóstico medico, os esforços de todos devem estar concentrados na necessidade de adaptação de rotinas e
divisão de tarefas, no sentido de não sobrecarregar isoladamente ninguém. Consiga um tempo para você, e não
esqueça seus amigos, clube, igreja, ou qualquer outra atividade de lazer de sua preferência.
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É
amplamente sabido que o envelhecimento populacional tem ocasionado aumento na incidência e preva-
lência de casos de demência, particularmente da Doença de Alzheimer (DA), com todas as implicações
e consequências pessoais, sociais e econômicas próprias de doenças crônico-degenerativas e incapaci-
tantes. A atenção de pesquisadores de todo o mundo tem se voltado para formas de detecção e tratamento
cada vez mais precoces de quadros demenciais, tentando minimizar o impacto destas doenças na população.
Entretanto, a identificação de fases muito leves de demência representa um desafio à prática clínica.
Atualmente a definição mais amplamente aceita e utilizada na literatura é a de Comprometimento Cognitivo
Leve (ou Mild Cognitive Impairment). Embora inicialmente descrito como sendo relacionado a prejuízos específi-
cos na memória, o termo Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) atualmente refere-se a uma condição clínica
em que existe prejuízo em qualquer área da cognição, porém sem repercussão funcional significativa (e, portan-
to, sem critério para diagnóstico de demência). Os estudos com pacientes que se encaixam nessa definição têm
demonstrado tratar-se de uma fase intermediária, que representa um continuum de evolução entre a normalida-
de cognitiva e uma fase muito precoce das demências, especialmente da demência da Doença de Alzheimer.
Observa-se nos estudos de seguimento longitudinal que estes indivíduos têm risco maior de evolução para
demência (em torno de 10 a 15% ao ano) quando comparados a indivíduos sem comprometimento cognitivo
(Tabela 1).
Por outro lado, observa-se também que uma parcela destes pacientes permanece estável por muitos anos,
sem conversão para demência, ou ainda pode retornar à normalidade cognitiva, deixando de ter critérios para
essa síndrome. Por conta dessa heterogeneidade, consensos internacionais com especialistas procuraram es-
tabelecer critérios objetivos para o diagnóstico do CCL, tornando mais uniforme a sua definição, e possibilitan-
do o estudo mais adequado de suas características e de sua evolução.
Subtipos de CCL
Uma contribuição importante dos consensos sobre CCL foi a descrição e caracterização dos subtipos de
CCL. Essa classificação se baseia no entendimento de que, assim como a demência da Doença de Alzheimer,
outras demências neurodegenerativas possuem períodos prodrômicos, com déficits que se iniciam em domínios
cognitivos diferentes antes de se estabelecer um quadro demencial franco. Com isso, cada tipo de CCL pode se
correlacionar a uma diferente etiologia, com formas de evolução distintas e possivelmente tratamentos distintos.
Os subtipos de CCL são definidos de acordo com o prejuízo cognitivo encontrado (memória, funções execu-
tivas, atenção, linguagem, funções visuo-espaciais) e com o acometimento de um único domínio ou múltiplos
domínios cognitivos. Admite-se que as formas amnésticas, especialmente as que acometem múltiplos domí-
nios, são as que mais comumente se associam ao desenvolvimento da demência da Doença de Alzheimer,
enquanto as formas não amnésticas se relacionam mais comumente ao desenvolvimento de outras formas de
demência, como a demência vascular, a demência por corpos de Lewy e a demência fronto-temporal.
Cada subtipo de CCL é associado a diferentes possibilidades etiológicas. Notar que as etiologias não in-
cluem apenas quadros neurodegenerativos, mas também etiologias que são potencialmente reversíveis, o que
pode explicar a evolução favorável de alguns pacientes com CCL. (Figura 3).
Subtipo de CCL
Diagnóstico
Baseando-se nos conhecimentos crescentes sobre a fisiopatologia e a evolução da Doença Alzheimer novos
critérios foram propostos pela Alzheimer’s Association em associação com o National Institute on Aging norte-a-
mericano, para definir o diagnóstico de “Comprometimento Cognitivo Leve devido à Doença de Alzheimer” (CCL
devido à DA). Tais critérios dividem-se em critérios clínicos, para uso em ambientes de atendimento primário e
secundário (Tabela 3), e critérios de pesquisa, para uso em centros terciários especializados e ensaios clínicos.
n Habilidades visuo-espaciais
Segundo essas recomendações, o CCL devido à DA é entendido como uma fase sintomática pré-demência
da DA, definida por características clínicas, cognitivas e funcionais, assumindo-se que é possível identificar
indivíduos em que o processo fisiopatológico da DA seja a provável causa primária da disfunção cognitiva.
Ressalta-se que esse diagnóstico não pode ser feito por testes laboratoriais, mas requer julgamento clínico e
que, em indivíduos que preenchem tais critérios, outras etiologias possam coexistir.
Dois grupos de biomarcadores são disponíveis e valorizados para pesquisa clínica atualmente, os associa-
dos à proteína beta-amiloide (principal marcador fisiopatológico da DA) e os associados a neurodegeneração.
Tais marcadores da doença podem ser obtidos através da dosagem no líquido cefalorraquiano (LCR) ou através
de exames de imagem estrutural ou funcional mais sofisticados, como a Ressonância Magnética (RM), a es-
pectroscopia por emissão de foton único (SPECT), ou a tomografia computadorizada por emissão de pósitrons
(PET-CT) (Tabela 4).
De acordo com a presença desses biomarcadores, confere-se maior ou menor probabilidade diagnóstica (Tabela 5).
Abordagem clínica
Deve-se ter em mente que muitas das queixas de memória dos pacientes idosos não se devem a transtor-
nos cognitivos propriamente. Podem, sim, estar relacionadas a outros fatores, como déficits sensoriais que
prejudicam a aquisição de informações ou doenças psiquiátrica, como depressão e ansiedade, nas quais o
desempenho cognitivo se altera e a avaliação do problema pelo paciente fica comprometida, com tendência a
super-estimação. Não obstante, estas condições podem estar associadas ao CCL e embora mereçam ser con-
sideradas, não descartam a possibilidade e a necessidade de acompanhamento da queixa cognitiva.
Doenças sistêmicas e neurológicas potencialmente causadoras de prejuízos cognitivos devem ser avaliadas,
de acordo com a investigação habitual de causas reversíveis de acometimento cognitivo, e de acordo com os
antecedentes de cada paciente. Note-se que nos idosos, pela alta prevalência de co-morbidades, é comum
ocorrer associação de múltiplos fatores ocasionando déficits cognitivos. Condições clínicas não compensadas
adequadamente, principalmente se relacionadas a condições de baixo fluxo sanguíneo cerebral e/ou hipoxemia
(insuficiência cardíaca congestiva, arritmias, hipotensão postural, doença pulmonar obstrutiva crônica, apnéia
obstrutiva do sono, etc.), podem causar importantes prejuízos ao desempenho cognitivo.
Outra questão importante é a do efeito dos fármacos sobre a cognição, notadamente os de efeito anticoli-
nérgico (principalmente antidepressivos tríciclicos), os anticonvulsivantes, as drogas sedativas e o álcool, entre
várias outras.
Deve-se seguir estes pacientes, visto seu alto risco de conversão para demência.
Tratamento
Apesar de todos os esforços, ainda não há evidências claras de que qualquer intervenção farmacológica
possa prevenir ou retardar o início de demência, em pacientes com CCL. Resultados até o momento são incer-
tos e nenhum agente modificador de doença é aprovado ou recomendado para uso clínico.
Não obstante, é imperativo o tratamento de quaisquer causas reversíveis que possam estar implicadas na de-
terioração cognitiva. Além disso, recomenda-se fortemente o controle adequado de fatores de risco vascular visto
que podem contribuir para o declínio cognitivo ao longo da vida. Associadas a estes cuidados, a realização de
atividades de estímulo cognitivo e a adoção de hábitos saudáveis ao longo da vida, como alimentação equilibrada,
prática de atividade física regular e abandono de tabagismo e etilismo, funcionam como estratégias não farmaco-
lógicas interessantes na tentativa de reduzir o risco de declínio cognitivo e devem ser sempre estimuladas. n
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Nos últimos anos, tornou-se mais evidente que o processo patológico da doença de Alzheimer (DA) inicia-se
muitos anos, talvez décadas, antes que o quadro clínico transpareça. Ainda, antes que se manifeste a demência
propriamente dita, existe uma fase em que há declínio cognitivo, mas sem prejuízo funcional, denominada com-
prometimento cognitivo leve (CCL). Logo, existem três estágios da DA: pré-clinico, CCL da DA e demência da DA.
Este capítulo enfatizará a demência da DA.
Esta é fase denominada de demência leve e depende principalmente do acometimento da formação hipocam-
pal, dos núcleos colinérgicos basais, de estruturas paralímbicas como o cíngulo, especialmente em sua porção
posterior, giro parahipocampal, pólo temporal, córtex órbito frontal e também de áreas corticais mais recentes dos
neocórtices frontal dorso lateral e temporal. Nesta fase, os doentes podem valer-se de mecanismos de compen-
sação, de modo que as dificuldades podem passar despercebidas por observador menos atento. A demência é
considerada leve quando o doente é independente para a maioria das atividades cotidianas.
Com a evolução do processo patológico, manifestam-se transtornos de atenção, acentua-se a disfunção
executiva, ficam mais evidentes as alterações da linguagem com parafasias, surgem apraxias e dificuldades de
reconhecimento, principalmente visuais (agnosias visuais), evidenciando que as alterações já afetam as áreas
de associação multimodal situadas na encruzilhada temporo-parieto-occipital, nas áreas occipito-temporais (gi-
ros lingual e fusiforme) e que as alterações paralímbicas acentuaram-se ainda mais. Nesta fase denominada mo-
derada, as alterações do humor com depressão e do comportamento com irritabilidade, agitação e insônia são
frequentes. Na fase moderada, o paciente é independente para as atividades básicas (tais como cuidar de sua
higiene pessoal, vestir-se e alimentar-se sem ajuda), mas necessita de ajuda para cuidar de sua medicação, pa-
ra caminhar pela vizinhança, para fazer uma ligação telefônica e usar aparelhos eletrodomésticos, por exemplo.
Depois de cerca de cinco a oito anos de evolução, a demência torna-se grave, quando então o doente já
é dependente para a maioria das atividades básicas da vida cotidiana. O reconhecimento de pessoas menos
conhecidas é comprometido, assim como de locais, sendo frequentes episódios de agitação em que o doen-
te solicita para ir para a sua casa estando nela. Ainda é capaz de deambular, mas com o avanço da moléstia,
ocorrem, em sucessão, a perda do controle esfincteriano vesical, seguido de redução do discurso que vai se li-
mitando a poucas palavras por dia, dificuldade progressiva para deambular, incontinência fecal. Na fase termi-
nal, o paciente fica restrito ao leito, em mutismo, e mesmo a capacidade de manter-se sentado sem apoio é
perdida. Nesta fase, o processo patológico acomete praticamente todas as áreas corticais, embora poupe par-
cialmente as áreas primárias, como o córtex motor, o sensitivo, as áreas visuais e auditivas primárias.
Existem formas de início da demência da DA, em que a linguagem é mais comprometida com dificuldade de
nomeação (afasia progressiva primária logopênica) ou em que a predominam dificuldades de reconhecimen-
to visual ou espacial, denominada atrofia cortical posterior. Ainda, a demência da DA pode iniciar-se com alte-
rações comportamento, simulando demência frontotemporal. Essas formas menos comuns são predominantes
na fase pré-senil (entre 45 e 65 anos). A evolução subsequente é similar a da forma amnéstica.
TABELA 1 • Critérios clínicos para o diagnóstico de demência (Frota, Nitrini et al. 2011)
Demência é diagnosticada quando há sintomas cognitivos ou comportamentais que:
A. Interferem com a habilidade no trabalho ou em atividades usuais;
B. Representam declínio em relação a níveis prévios de funcionamento e desempenho;
C. Não são explicáveis por delirium ou doença psiquiátrica maior;
O comprometimento cognitivo é detectado e diagnosticado mediante combinação de:
A. Anamnese com paciente e informante que tenha conhecimento da história; e
B. Avaliação cognitiva objetiva, mediante exame breve do estado mental ou avaliação neuropsicológica. A avaliação
neuropsicológica deve ser realizada quando a anamnese e o exame cognitivo breve realizado pelo médico não forem
suficientes para permitir diagnóstico confiável.
Os comprometimentos cognitivos ou comportamentais afetam no mínimo dois dos seguintes domínios:
A. Memória, caracterizado por comprometimento da capacidade para adquirir ou evocar informações recentes, com
sintomas que incluem: repetição das mesmas perguntas ou assuntos, esquecimento de eventos, compromiss
os ou do lugar onde guardou seus pertences;
B. Funções executivas, caracterizado por comprometimento do raciocínio, da realização de tarefas complexas
e do julgamento, com sintomas tais como: compreensão pobre de situações de risco, redução da capacidade
para cuidar das finanças, de tomar decisões e de planejar atividades complexas ou seqüenciais;
C. Habilidades visuais-espaciais, com sintomas que incluem: incapacidade de reconhecer faces ou objetos comuns,
encontrar objetos no campo visual, dificuldade para manusear utensílios, para vestir-se, não explicáveis por deficiência
visual ou motora;
D. Linguagem (expressão, compreensão, leitura e escrita), com sintomas que incluem: dificuldade para encontrar
e/ou compreender palavras, erros ao falar e escrever, com trocas de palavras ou fonemas, não explicáveis
por déficit sensorial ou motor;
E. Personalidade ou comportamento, com sintomas que incluem alterações do humor, agitação, apatia, desinteresse,
isolamento social, perda de empatia, desinibição, comportamentos obsessivos, compulsivos ou socialmente inaceitáveis.
Avaliação neuropsicológica deve ser solicitada sempre que o médico não se sentir seguro com os resulta-
dos da sua avaliação cognitiva básica ou quando estiver em consideração tratamento de reabilitação cognitiva.
O exame físico permitira verificar a presença de alterações que favorecem outros diagnósticos diferenciais,
como hipertensão arterial, arritmia cardíaca, sinais de insuficiência renal, respiratória ou hepática. O exame neu-
rológico que podemos adjetivar como “somático”, não costuma demonstrar anormalidades no paciente com
demência da DA. O valor de certos sinais, como exaltação dos reflexos axiais da face, é pequeno, de forma que
o exame neurológico se presta para excluir outros diagnósticos.
Os exames de neuroimagem estrutural utilizados na avaliação de pacientes com DA são a tomografia com-
putadorizada de crânio e a ressonância magnética de encéfalo. A tomografia do crânio presta-se principalmen-
te para afastar outras causas de demência, mas o melhor exame é a ressonância magnética (RM) do encéfalo
que pode mostrar alterações estruturais encontradas na DA. Os achados característicos são de atrofia cortical
difusa mas com predomínio de redução volumétrica das estruturais mesiais temporais, especialmente dos hi-
pocampos.
Exames de neuroimagem funcional (perfusão cerebral [SPECT] e metabolismo cerebral [FDG-PET]) são parti-
cularmente úteis no diagnóstico diferencial com outras doenças neurodegenerativas. O déficit metabólico (e de
perfusão) comumente observado na DA afeta o córtex de associação temporoparietal posterior bilateral, cíngu-
lo posterior e pré-cúneo..
Atualmente já está disponível em alguns países, o uso de traçadores para detecção de deposição de pro-
teína amilóide β utilizando PET, em que são utilizados isótopos radioativos de Carbono ou Flúor. No Brasil está
disponível para pesquisa, mas em breve deverá fazer parte do arsenal diagnóstico.
O exame do LCR deve ser solicitado para excluir outras causas de demência, particularmente em indivídu-
os mais jovens e nos casos de demência rapidamente progressiva. Na suspeita de DA, o encontro da denomi-
nada “assinatura patológica” da DA que se caracteriza por: 1) diminuição da concentração de proteína amilóide
β 1-42; e 2) aumento da concentracão de proteína tau total e tau-fosforilada pode auxiliar no diagnóstico.
Outro fármaco preconizado para o tratamento da DA nas fase moderada ou grave é a memantina, que atua
modulando a transmissão glutamatérgica. É um antagonista não-competitivo de afinidade moderada dos recep-
tores NMDA (N-metil-d-aspartato) de glutamato. A memantina está associada a diminuição da excitotoxicida-
de neuronal induzida pelo glutamato e mediada pelo cálcio. A meia-vida é de 60 a 80 horas e sua metaboliza-
ção hepática é mínima. A administração deve ser iniciada com 5 mg ao dia e a dose aumentada em 5 mg/dia a
cada semana até atingir 20 mg ao dia, divididos em duas tomadas. Geralmente é utilizada em associação com
inibidor da acetilcolinesterase. Seus principais efeitos colaterais da memantina são: agitação, insônia, diarréia,
incontinência urinária, cefaléia, ou alucinações, mas em geral é bem tolerada.
Outros fármacos propostos para o tratamento dos distúrbios cognitivos e que não têm eficácia definitiva-
mente comprovada incluem acetil-L-carnitina, ginkgo biloba, citicolina, estrógenos e inibidores de canais de
cálcio. Um composto nutricional, Souvenaid® mostrou-se eficaz em doentes com DA leve, mas o efeito não foi
comprovado em pacientes que faziam uso concomitante de inibidor da acetilcolinesterase ou memantina.
Ao lado do tratamento farmacológico a abordagem terapêutica não farmacológica tem sido proposta, nas
fases leve e moderada. Os métodos incluem a Terapia de Orientação para a Realidade, Terapia de Reminis-
cências, Terapias Cognitivo-funcionais combinadas com técnicas de Recuperação Espaçada da Informação e
Aprendizagem sem erro. Esses métodos propõem o aprendizado com base em habilidades ainda preservadas
de sistemas implícitos de memória declarativa. Os cuidadores participam do processo como co-terapeutas e
são figuras centrais, na medida em que o paciente torna-se mais dependente.
Atividade física, terapia ocupacional, musicoterapia também podem ser utilizadas em associação ao trata-
mento medicamentoso.
Para maiores informações veja o site de Dementia & Neuropsychologia – suplemento de 2011 – com as Recomenda-
ções em Diagnóstico e Tratamento da Doença de Alzheimer e Demência Vascular: www.demneuropsy.com.br. n
Definição
O
conceito de demência pode ser definido como uma síndrome caracterizada por perda de mais de uma
função cognitiva (atenção complexa, função executiva, aprendizado e memória, linguagem, função per-
ceptomotora e cognição social, de acordo com a divisão do “The Diagnostic and Statistical Manual of
Mental Disorders, Fifth Edition – DSM-5) associado à alterações de comportamento (depressão, ansiedade,
apatia, agitação, psicose, etc). Porém, é o declínio da funcionalidade secundários as primeiras (cognição e com-
portamento) que define uma síndrome demencial. Portanto, a palavra “demência” deve sempre remeter à alte-
rações cognitivas, comportamentais e declínio funcional. Como dito anteriormente, demência é uma síndrome,
um conjunto de sinais e sintomas que pode ter várias etiologias. Nos casos das demências, existem etiologias
degenerativas (e.g. doença de Alzhimer, degeneração lobar frontotemporal, demênca cor corpos de Lewy, etc) e
não degenerativas (e.g. vascular, traumática, infecciosa ou inflamatórias, intoxicações, hidrocefalia, etc).
Este texto focará nas demências vasculares, uma forma comum de doença de etiologia não degenerativa
que frequentemente afeta idosos com fatores de risco para doenças cardiovasculares, causando lesões ce-
rebrais e declínio cognitivo. Além disso, cada vez se entende melhor o sinergismo entre lesões vasculares em
pequenos vasos e patologia de doenças degenerativas para diminuir a resiliência cerebral, deixando mais fácil
ou tornando mais precoce o declínio cognitivo.
A demência vascular (DV) pode ser definida como uma síndrome demencial causada causado pelo acúmulo
de doença cerebrovascular (DCV) no encéfalo, causando sintomas nas três principais esferas que caracterizam
demência (cognição, comportamento e funcionalidade). Porém com a necessidade de diagnóstico precoce e
avanço nos métodos de imagem, um novo conceito foi necessário para englobar todos os casos. Este conceito
foi o “comprometimento cognitivo vascular - (CCV)”, que engloba casos com alterações cognitivas e/ou com-
portamentais, mas sem alteração funcional, semelhante ao conceito de comprometimento cognitivo leve (CCL).
Assim admite-se a possibilidade de um comprometimento cognitivo leve vascular (CCLv). Outro avanço nesta
área é o reconhecimento de casos com doença mista, ou seja, sinais e sintomas de mais de uma patologia que
explicariam o quadro. Um exemplo comum é a doença de Alzheimer (DA) e a DV, causando uma demência mis-
ta. Existe uma forte interação entre DA e doença cerebrovascular (DCV) de modo a quando conjuntas provocam
déficit cognitivo mais intenso que quando separadas. Estudos de neuropatologia mostram que uma parcela
grande dos casos de demência tem patologia vascular associada, mesmo sem as características clinicas da DV.
Epidemiologia
A DV é a principal causa de demência não degenerativa, sendo que alguns estudos mostram a DV como
segunda causa mais importante entre todas as demências, principalmente na faixa etária senil. A prevalência
global é estimada em15-20%, sendo de 2% na população de 65-70 de idade e de 20-40% na de acima de 80
anos de idade. É mais comum em homens que em mulheres, provavelmente pelo maior risco cerebrovascular
nos primeiros.
Em relação ao CCV, a prevalência provavelmente deve ser maior que a da DV, porém pela dificuldade de
definição e relativo pouco tempo de existência, não existe uma estimativa formal. Estudos mostram que 41% e
21% dos indivíduos apresentam CCV e DV após um evento vascular agudo, respectivamente.
Critérios diagnósticos
Existem vários critérios diagnósticos para DV (DSM-IV, CID-10-CDP, CADDTC, NINDS-AIREN) porém, é con-
senso entre eles o desenvolvimento de comprometimento cognitivo em múltiplos domínios (memória e aprendi-
zado, atenção complexa, funções executivas, cognição social, linguagem, funções perceptomotoras), que de-
O Escore Isquêmico de Hachinski (tabela 1) pode ser usado para ajudar no diagnóstico de DV. O critério do
NINDS-AIREN (National Institute of Neurological Disorders and Stroke and Association Internationale pour la
Recherché et l’Enseignement en Neurosciences) é mostrado na tabela 2.
Investigação diagnóstica
De acordo com as recomendações do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Academia
Brasileira de Neurologia, a neuroimagem estrutural deve ser usada na avaliação de todos os pacientes com sus-
peita de demência vascular. A ressonância magnética deve ser utilizada preferencialmente, por permitir maior
resolução espacial e visualização mais detalhada pela diversidade das sequências de aquisição. A tomografia
computadorizada pode ser usada para identificar lesões vasculares variadas, na impossibilidade de utilizar a
resonância magnética.
A atrofia hipocampal, mais comumente encontrada na DA, deve ser avaliada em todos os pacientes, visando
estabelecer um diagnóstico de DV pura ou associada à DA.
A avaliação neurovascular pode ser útil no esclarecimento clínico e para determinadas intervenções terapêu-
ticas. Ainda, os seguintes exames laboratoriais são geralmente propostos na primeira avaliação de pacientes
com suspeita de DV, como potencial causa de comprometimento cognitivo ou como comorbidade (hemograma,
VHS, eletrólitos, glicose, testes de função renal e hepática, e TSH). Os exames que representam fatores de risco
vascular também devem ser solicitados de rotina. Testes mais detalhados podem frequentemente ser necessá-
rios, como dosagem de vitamina B12 e testes sorológicos para sífilis, HIV, entre outros, em casos selecionados.
Tratamento
O tratamento da DV é baseado em redução dos fatores de risco vascular, principalmente redução da pressão
arterial, redução do colesterol, controle glicêmico, cessação do tabagismo, introdução de exercício físico, uso
de terapias antitrombóticas e, em casos selecionados, intervenções vasculares.
O uso de medicações usadas no tratamento da doença de Alzheimer (drogas anticolinesterásicas e meman-
tina) algumas vezes são justificadas, principalmente no subtipo subcortical e em casos de patologia mista. n
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A demência com corpos de Lewy é considerada a segunda causa mais frequente de demência degenerativa,
ficando atrás da Doença de Alzheimer.
A dificuldade diagnóstica mais frequente é sua distinção com Doença de Parkinson com demência (DPD), al-
guns autores acham ser um espectro da mesma doença. A definição mais usada diz respeito ao tempo de parkin-
sonismo, em que na DCL está presente dentro de um ano do quadro de demência, diferente da DPD, em que a al-
teração motora precede em anos o quadro cognitivo, Apesar desse ponto de corte arbitrário para as diferenciar, os
achados clínicos, patológicos e neuroquímicos na DCL e DPD durante a vida e à autópsia podem não ser distintos.
Em estudos neuropatológicos a DCL aparece com uma frequência de 15 a 20% de todas as autópsias em
idosos sendo que a prevalência aumenta após os 65 anos. Em estudos populacionais a prevalência de DCL
varia de 0 a 30,5% dentre os quadros de demência e entre 0 a 5% levando-se em consideração a população.
Caracteriza-se pelo acúmulo da alfa-sinucleína intraneuronal, fazendo portanto, parte das sinucleinopatias,
juntamente com a doença de Parkinson e a atrofia multissistêmica.
Mais recentemente foram publicados resultados do terceiro encontro para o consenso diagnóstico com
algumas modificações e agregação de exames complementares no diagnóstico (Quadro 1). O diagnóstico es-
tabelecido é de provável ou possível. A característica central – demência - é essencial para o diagnóstico de
provável ou possível. O perfil cognitivo mescla características corticais e subcorticais. Predominam desde o iní-
cio, déficits de atenção, funções executivas e funções viso-espaciais. A memória pode estar comprometida de
modo mais leve, nos casos iniciais. Comparando-se à Doença de Alzheimer, observamos relativa preservação
da nomeação por confrontação, evocação de informações a curto e médio prazos e reconhecimento. Existe
uma diminuição significativa da fluência verbal, da percepção visual e em tarefas executivas. Considera-se con-
veniente o período de um ano entre o início da demência e o parkinsonismo para o diagnóstico de DCL.
Duas características nucleares são suficientes para o diagnóstico de provável e uma somente para possí-
vel. As características sugestivas permitem o diagnóstico de provável: se uma ou mais estão presentes junto a
uma ou mais característica nuclear. Para possível, basta uma ou mais característica sugestiva, mesmo que na
ausência de característica nuclear.
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A
s doenças neurodegenerativas possuem em comum o fato de ser resultado do acúmulo de elementos anor-
mais no sistema nervoso central (SNC), usualmente atribuindo-se essa culpa às proteínas cuja conformação
está alterada. Ainda de mais importância do que o tipo de proteína patológica é a localização em que a
mesma se deposita no SNC ao longo da história natural da doença, produzindo diferentes quadros clínicos. Um
mesmo agregado proteico que se acumula no córtex frontotemporal determina uma apresentação clínica diferente
daquela associada ao depósito predominante às occipitoparietais. Entre estas proteínas temos duas importantes
envolvidas nestes quadros de parkinsonismo e alteração cognitiva.
Doença de Parkinson
Pode-se dizer que a Doença de Parkinson é o protótipo motor desse grupo nosológico que, em variadas com-
binações, produzem alentecimento de movimentos (bradicinesia), rigidez plástica e tremor de repouso; além de
comprometimento na estabilidade postural e marcha. A forma de manifestação desses sintomas e a resposta ao
uso de levodopa são bons parâmetros para tentar iniciar o desenho diagnóstico de eventuais alterações cognitivas
e neuropsiquiátricas que possam suceder ou anteceder os sintomas motores.
Critérios de suporte
• Crítica e dramáticas resposta a terapia de reposição dopaminérgica. Durante tratamento inicial paciente retorna a níveis normais ou
próximos do normal. Caso melhora inicial não pôde ser documentada, se aceita como definição a melhora evidente com o aumento das
doses ou piora com sua redução que possam ser verificadas objetivamente (UPDRS III) ou subjetivamente (informante de confiança).
• Presença de discinesia induzida por levodopa.
• Tremor de repouso de um membro no exame atual ou documentado previamente.
• Presença de hiposmia ou denervação simpática na cintilografia com MIB.
Critérios de exclusão absolutos
• Anormalidades cerebelares inequívocas (marcha cerebelar, ataxia apendicular, anormalidades cerebelares oculomotoras).
• Paresia do olhar vertical para baixo ou lentificação seletiva das sácades verticais para baixo.
• Diagnóstico provável de Afasia Progressiva Primária (APP) ou variante comportamental da Demência Frontotemporal (DFT).
• Sinais Parkinsonianos restritos aos membros inferiores por 3 anos ou mais.
• Tratamento prévio por tempo e dose suficientes com bloqueador dopaminérgico que justifique o diagnóstico de Parkinsonismo
medicamentoso.
• Ausência de resposta observável ao tratamento com levodopa em doses altas apesar de fases moderadas de doença.
Sinais de alarme
• Rápida progressão de comprometimento de marcha, levando ao uso de cadeira de rodas nos primeiros 5 anos.
• Anterocollis desproporcional ou distonia de mão ou pé nos primeiros 10 anos.
• Ausência de qualquer sintoma não-motor apesar de 5 anos de doença estabelecida.
• Sinais de liberação piramidal sem explicação plausível detectável.
• Parkinsonismo bilateral simétrico, com relato pelo paciente e/ou cuidador de início bilateral de sintomas,
sem lateralização, percebido também ao exame.
n Comprometimento em pelo menos 2 testes, quando uma bateria que não contemple os 5 domínios
Alguns fatores aumentam o risco do surgimento de demência na DP, tais como idade mais elevada, Parkinsonismo
com sintomas motores mais graves, comprometimento cognitivo leve no princípio, início da doença além dos 60 anos e
maior tempo de doença. O paciente deve ser questionado quanto a sua percepção do surgimento de queixas cogniti-
vas, bem como seus cuidadores, podendo ser submetido a escalas mais direcionadas para seu perfil de demência, co-
mo o Montreal Cognitive Assesment (MoCA) e Adenbrooke´s Cognitive Examination Revised (ACE-R). Ademais, pode-se
lançar mão de avaliação neuropsicológica (ANPS) para maior aprofundamento dos domínios estudados.
O uso de exames complementares pode ser útil, com os seguintes achados possíveis:
Neuroimagem na DDP
RESSONÂNCIA Atrofia mais perceptível nas regiões medial temporal, lobos frontais e lobos temporais quando comparados a
MAGNÉTICA controles. Lobo temporal medial preservado pode falar mais a favor de DL no contexto adequado.
PET-FDG Maior comprometimento de córtex visual quando comparamos a casos de DA, por exemplo, podendo aumentar a
predição de progressão para DPP quando o lobo occipital esta acometido.
SPECT Fluxo com mesma interpretação do PET
escolha na maioria dos casos, em doses que podem variar desde 12.5 mg a 25 mg no início.
Aumento gradativo e lento a depender da necessidade
n CLOZAPINA: deve ser feita monitorização com hemograma semanalmente, pelo risco de
agranulocitose nos primeiros meses. Bom potencial antipsicótico e menor efeito sedativo.
n OLANZAPINA e RISPERIDONA: podem ser utilizados, mas possuem maior potencial de piora motora.
Comentários finais
Os quadros Parkinsonianos degenerativos possuem grande variedade de sinais e sintomas neurológicos que
somam queixas motoras e cognitivas. A compreensão da forma de apresentação e cronologia dessas manifes-
tações é determinante para o diagnóstico preciso e, por consequência, um bom manejo medicamentoso e não
farmacológico.
Assim, a investigação diagnóstica bem construída parte de uma anamnese detalhada quanto a ordem dos
achados clínicos, ritmo de instalação e evolução; sem deixar de salientar o passado mórbido que tenha eventual
importância diferencial, como uso prévio de neurolépticos e histórico vascular. Passada tal etapa é preciso realizar
exame neurológico objetivo, que possa delinear as manifestações motoras a serem ligadas com o desempenho
cognitivo e perfil neuropsiquiátrico do paciente em questão.
Ademais, com exames complementares bem indicados e um bom acompanhamento evolutivo que permita a
observação dos sintomas e da resposta ao uso de medicações como a LD, cria-se melhor entendimento do caso
e diagnósticos mais apurados.
Lançar mão das noções gerais discutidas e sugeridas nesse capítulo podem construir um bom manejo desses
indivíduos e promover melhor qualidade de vida para eles e seus cuidadores. n
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Definição
Demências potencialmente reversíveis (DPR) podem ser definidas como demências que são parcial ou com-
pletamente revertidas espontaneamente ou após tratamento específico.
Prevalência
A prevalência de DPR varia bastante, entre 0 a 30%, de acordo com os diferentes estudos. A maior parte
destes, entretanto, não reportam dados de seguimento comprovando real reversão da síndrome demencial com
o tratamento da condição subjacente.
Grandes meta-análises foram realizadas com o intuito de verificar a prevalência das DPR e de sua rever-
sibilidade, encontrando taxas significativamente menores do que se supunha (em torno de 10% de reversão
completa e 20% de reversão parcial), sendo estas taxas cada vez menores nos estudos mais recentes e com
populações mais idosas (em torno de 1%).
De acordo com essas revisões da literatura, as condições mais frequentemente relacionadas a alterações
cognitivas e que mais responderam à intervenção para reversão do quadro demencial foram: efeitos deleté-
rios de fármacos (28%), depressão (26%) anormalidades metabólicas (15,5%), hidrocefalia de pressão normal
(10,7%), hematoma subdural (5,8%), neoplasias (4%) entre outras causas (9,7%).
Em nosso meio, estudo realizado em ambulatório especializado encontrou entre 275 pacientes com
demência, 22 casos de DPR (8%), sendo que destes 2 tiveram recuperação completa e 10 recuperação parcial.
ÁLCOOL • os efeitos deletérios do álcool sobre a cognição ocorrem por diversos mecanismos. Existem efeitos
lesivos diretos sobre os neurônios, nas substâncias cinzenta e branca, por alterações mitocondriais e aumento
do estresse oxidativo, além de redução de fatores neurotróficos. O álcool pode causar prejuízos cognitivos
transitórios (reversíveis) ou permanentes, e o tipo de acometimento é bastante heterogêneo. A forma clássica
da Encefalopatia de Wernicke encontrada entre os alcoólatras, corresponde à carência nutricional aguda de
vitamina B1 (tiamina) e é reversível com tratamento precoce. Na ausência do tratamento ou na reposição tardia
dessa deficiência, desenvolve-se a Síndrome de Korsakoff, com chance muito reduzida de reversão e risco de
declínio cognitivo continuado e progressivo. Outra forma prevalente entre alcoólatras, a pelagra, corresponde à
carência de vitamina B3 (niacina) e pode ser lembrada como “os 3 Ds”: dermatite, diarréia e demência.
CAUSAS PSIQUIÁTRICAS: depressão é a condição psiquiátrica que mais frequentemente causa prejuízo cog-
nitivo reversível, tornando muitas vezes difícil o diagnóstico diferencial com demências degenerativas (e por
esse motivo por muito tempo foi denominada como “pseudo-demência”). Importante ressaltar que estudos
Roteiro diagnóstico
Na anamnese, é importante levar em consideração alguns aspectos durante a investigação de síndromes
demenciais. Um tempo curto de aparecimento dos sintomas, instalação mais abrupta e menor gravidade do
comprometimento são características que falam a favor de uma causa potencialmente reversível.
É importante também na anamnese estar atento ao histórico de comorbidades clínicas, uso de medicamen-
tos potencialmente deletérios, uso de álcool, antecedente de quedas com traumatismo crânio-encefálico e
presença de prejuízos sensoriais (visão/ audição).
O exame físico e neurológico deve ser minucioso, buscando sinais que possam caracterizar doenças sistê-
micas ou acometimento neurológico focal.
Outro ponto importante é a avaliação do estado cognitivo, atentando para a possibilidade de delirium. Nesta
condição, frequentemente associada a causas agudas reversíveis, apesar das intensas alterações cognitivas o diag-
nóstico de demência não deve ser estabelecido até que o quadro confusional seja revertido e o paciente reavaliado.
A caracterização do comprometimento cognitivo, dos domínios afetados, e a intensidade das alterações
tem particular relevância pois, além de auxiliar no diagnóstico, permite melhor apreciação dos resultados dos
tratamentos e da real reversão do prejuízo cognitivo.
Dada a grande diversidade de causas, não existe um padrão único de apresentação clínica das demências poten-
cialmente reversíveis, podendo haver sinais e sintomas clínicos dependendo da doença de base ou ainda sinais e sin-
tomas neurológicos focais. Algumas características do comprometimento cognitivo, no entanto, são mais associadas
a quadros reversíveis, como a predominância de déficits de atenção e funções executivas sobre os déficits de memória
tardia, a presença de lentificação e alterações comportamentais proeminentes, como apatia, indiferença e depressão.
Uma regra mnemônica em língua inglesa com a sigla DEMENTIA (figura 1) ajuda a organizar as possibilida-
des principais de causas reversíveis de demência a serem investigadas.
INVESTIGAÇÃO DIAGNÓSTICA
Não há consenso na literatura sobre quais são os exames necessários na investigação de causas reversíveis,
sendo necessário definir custo-benefício e risco-benefício de cada investigação (figura 2).
Exames laboratoriais: A maioria das sociedades de especialistas recomenda a realização de baterias de exa-
mes laboratoriais gerais, incluindo especialmente dosagem de incluindo obrigatoriamente dosagem de vitamina
B12 e função tireoideana. Acrescenta-se ainda, dependendo do local de origem do paciente ou da suspeita
clínica, a investigação de causas infecciosas.
Exames de imagem: é mandatória a realização de exame de neuroimagem estrutural na investigação etiológica de
síndromes demenciais, especialmente quando se suspeita de causas reversíveis. Mesmo em locais com menor dispo-
nibilidade de recursos para realização de exames mais sofisticados como a Ressonância Magnética, uma Tomografia
Computadorizada de crânio pode detectar causas importantes de declínio cognitivo como a presença de tumores pri-
mários ou metastáticos do SNC, hematomas, hidrocefalia, ou mesmo alterações vasculares mais significativas.
Outros exames: Em casos selecionados, outros exames podem ser importantes na investigação etiológica. O
exame do LCR por exemplo, é geralmente indicado quando se trata de demência de instalação na faixa pré-senil
(abaixo dos 65 anos), demência rapidamente progressivas em que se suspeita fortemente de causas infecciosas
ou imunomediadas, ou na suspeita de Hidrocefalia de Pressão Normal, para realização do “tap-test” (avaliação
de cognição e marcha pré e pós punção liquórica).
• Hemograma completo
Figura 2
• Função tireoideana
Exames habituais
• Função renal
para investigação
• Função hepática
de déficit
• Glicemia
cognitivo
• Dosagem de vitamina B12 e ácido fólico
• Sorologia para sífilis e HIV
• Exame radiológico estrutural (Tomografia Computadorizada ou Ressonância Magnética)
TRATAMENTO
A correção precoce do fator reversível, embora recomendável, pode não ocasionar melhora cognitiva signifi-
cativa (embora maioria dos estudos não reporte dados de acompanhamento pós tratamento).
Tendo em vista a grande prevalência de comorbidades coexistindo com demências de causas degenera-
tivas, principalmente entre os mais idosos, é possível que mais de um fator potencialmente reversível esteja
presente em um mesmo paciente. Muitas vezes, embora ganhos cognitivos e funcionais mensuráveis possam
ser pequenos, o tratamento de condições reversíveis pode ocasionar melhora em desfechos clínicos relevantes
sendo, portanto, sempre preconizado. n
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Demência frontotemporal
Introdução
A primeira descrição de variante comportamental da Demência Frontotemporal (vcDFT) é atribuída a Arnold
Pick, que em 1904 publicou um relato de caso de uma paciente de 41 anos que desenvolveu um quadro de-
mencial, em que predominavam manifestações comportamentais como estereotipias, embotamento do afeto e
perda de motivação.
A vcDFT é considerada a segunda causa mais frequente de demência em pacientes com idade de início
inferior a 65 anos (em algumas casuísticas apresentando prevalência similar à da doença de Alzheimer nesse
grupo etário). Estima-se que a prevalência de vcDFT seja de 15-22 casos por 100.000 habitantes, e a incidência
de 2,7-4 casos por 100.000 habitantes/ano.
A idade de início dos sintomas é variável, em geral entre 45 e 65 anos, mas pode variar entre a terceira e nona
décadas de vida. A doença parece ocorrer um pouco mais frequentemente em homens do que em mulheres.
Quadro clínico
A vcDFT é caracterizada por quadro comportamental insidioso e progressivo, com mudanças na persona-
lidade e no comportamento social. Além das mudanças comportamentais observa-se declínio cognitivo, par-
ticularmente no funcionamento executivo. E eventualmente ao quadro clínico podem se associar distúrbio de
linguagem, sintomas extrapiramidais (particularmente parkinsonismo) e/ou doença do neurônio motor.
A apresentação clínica varia bastante entre pacientes, e os sintomas comportamentais podem incluir apatia,
desinibição, embotamento afetivo, perda de crítica (insight), perda de modos e decoro social, comportamentos
estereotipados e perseverativos, e/ou mudanças no comportamento alimentar.
Os pacientes podem começar a fazer coisas inapropriadas em público (como comentar em voz alta sobre a
aparência física de um desconhecido, ou mesmo tirar a roupa em público), realizar compras em excesso sem se
preocupar com as consequências, ou até mesmo praticar pequenos delitos, como roubar produtos de uma loja.
A apatia pode levar o paciente a deixar de ir ao trabalho, parar de ir a eventos sociais ou então parar de cuidar
de sua aparência. Os pacientes podem se tornar emocionalmente distantes e agir como se não importassem
com pessoas próximas (como não ir visitar um parente internado em hospital para assistir um jogo de futebol).
Comportamentos como checar compulsivamente se as portas estão trancadas, passar a levar objetos (até
lixo) para casa em excesso, falar sempre as mesmas frases, ou então desenvolver hábito de batucar o tempo
todo em objetos são exemplos de comportamentos compulsivos, estereotipados ou repetitivos que podem
aparecer na doença.
A mudança nos hábitos alimentares frequentemente é caracterizada por preferência maior por doces, mas os
pacientes podem ter mudanças nas preferências e passar a comer sempre os mesmos alimentos.
Inflexibilidade mental, como exigir que a família sempre jante nos mesmos horários, e hiperreligiosidade são
outros sintomas que podem aparecer na vcDFT.
Apesar da riqueza de manifestações neuropsiquiátricas, sintomas psicóticos como delírios ou alucinações
são relativamente infrequentes na vcDFT, e ocorrem em menos de 20% dos pacientes.
As queixas cognitivas podem ser menos proeminentes no início, porém ocorre declínio cognitivo com déficits
em tarefas frontais/funções executivas, e preservação relativa de memória episódica e das funções visuoespaciais.
Associação entre vcDFT e doença do neurônio motor – particularmente esclerose lateral amiotrófica (ELA)
- ocorre em cerca de 15% dos casos de vcDFT, e parkinsonismo é observado em 10-20% dos pacientes. A
sobrevida dos pacientes após início dos sintomas é na média entre 6 a 9 anos.
Os diagnósticos diferenciais mais importantes para a vcDFT são a doença de Alzheimer (particularmente de
início precoce, em que as alterações de comportamento e de linguagem podem ser importantes) e doenças
psiquiátricas, como depressão, transtorno afetivo bipolar, ou esquizofrenia.
Investigação
Os critérios diagnósticos são úteis para guiar a anamnese dos sintomas neuropsiquiátricos apresentados
pelos pacientes. Alguns sintomas como perda de empatia, embotamento afetivo, ou mudanças nos hábitos ali-
mentares podem não ser espontaneamente relatados por familiares. O uso de questionários como o Inventário
Comportamental Frontal (Frontal Behavioral Inventory, disponível em gncc.com.br/testes-cognitivos), também
podem ajudar na avaliação.
Como cerca de 10-20% dos pacientes com vcDFT tem história familiar positiva, com padrão de herança
autossômico dominante, é importante investigar o histórico familiar.
No acompanhamento de pacientes com vcDFT, é importante também ficar atento ao aparecimento de sin-
tomas ou sinais sugestivos de doença do neurônio motor, como fraqueza, fasciculações, ou atrofia muscular.
Pacientes com vcDFT podem ter sintomas de manejo difícil, e por vezes o diagnóstico não é fácil de ser es-
tabelecido. Nesses casos, os pacientes devem ser encaminhados para avaliação neurológica e/ou para centros
de referência em transtornos cognitivos.
Tratamento
Não existem tratamentos específicos para a vcDFT e, portanto, o manejo dos pacientes deve focar no tra-
tamento de sintomas comportamentais. Existem evidências de que há déficit serotoninérgico em pacientes
com vcDFT e por isso inibidores da receptação da serotonina são utilizados com frequência para o tratamento
de sintomas neuropsiquiátricos, como sintomas depressivos, irritabilidade, compulsões, agressividade, impul-
sividade, entre outros. Agitação intensa, particularmente se acompanhada de agressividade, pode requerer o
uso de neurolépticos atípicos. Cabe ressaltar que o uso de neurolépticos está relacionado a efeitos adversos
potencialmente graves, como aumento de mortalidade (por eventos cardiovasculares ou infecciosos), e por isso,
neurolépticos devem ser utilizados com cuidado e pelo menor tempo possível.
Inibidores da acetilcolinesterase podem piorar agitação em alguns pacientes e portanto não são rotineira-
mente recomendados. Os estudos com memantina não mostraram benefício para pacientes com vcDFT.
Quadro clínico
O quadro clínico da APP varia conforme a variante, por isso cada variante será apresentada separadamente.
É importante ressaltar que frequentemente os pacientes com APP (ou seus familiares) apresentam na consulta
uma queixa de “esquecimento”. Mas diferentemente do esquecimento da doença de Alzheimer, em que tipi-
camente os pacientes se esquecem de informações recentes e se tornam repetitivos, os pacientes com APP
apresentam “esquecimentos” de palavras, com dificuldade para nomear objetos e se expressar. Distúrbio de
linguagem pode acontecer na doença de Alzheimer, mas caracteristicamente ocorre nas fases mais avançadas
da doença, enquanto que nas APPs, problemas com a linguagem aparecem logo no início dos sintomas. Como
o comprometimento é isolado da linguagem nas fases iniciais das APPs (nos primeiros dois ou três anos), os
pacientes muitas vezes conseguem manter certa funcionalidade para atividades de vida diária a despeito de ter
desempenho ruim em testes cognitivos (como no Mini Exame do Estado Mental, que é um teste cujo desempe-
nho depende muito da preservação da linguagem).
Variante Semântica da Afasia Progressiva Primária • A vsAPP é uma síndrome clínica caracterizada por
distúrbio de linguagem fluente, com perda progressiva do conhecimento de palavras (levando a anomia e difi-
culdade de compreensão de palavras). Em pacientes com a vsAPP, a queixa mais frequentemente apresentada
é a de “esquecimento”, mas uma anamnese mais cuidadosa permite verificar que o esquecimento é específico
para o conceito dos objetos (algo que chamamos de memória semântica). Assim, os pacientes com a variante
semântica frequentemente perguntam coisas como “o que é um alicate?”, pois perderam o conceito de o que
é um alicate, ou então deixam de nomear os objetos pelos nomes corretos e passam a utilizar palavras mais
genéricas como “coisa” ou “negócio”.
Os pacientes podem tem dificuldade de reconhecer objetos (particularmente itens pouco frequentes ou com
os quais estão menos familiarizados), além de apresentar parafasias semânticas e dislexia/disgrafia de superfí-
Variante não fluente ou agramática da Afasia Progressiva Primária • A vnfAPP é caracterizada por fala es-
pontânea não fluente, com presença de agramatismo, parafasias fonêmicas e anomia. Agramatismo é caracterizado
por simplificação nas formas gramaticais, com presença de erros e omissões gramaticais (como falta de conjuga-
ção de verbos, ou erros na concordância de números ou gênero). Os sintomas podem se iniciar com redução na
produção de palavras, redução do comprimento de frases e dificuldades na compreensão de frases sintaticamente
complexas (como frases em que o sujeito não está no início da frase – na frase “O homem foi perseguido pelo carro”,
por exemplo, os pacientes com vnfAPP podem ter dificuldade para saber que o sujeito é o carro, e não o homem).
Alguns pacientes apresentam dificuldade no planejamento articulatório das palavras, denominada apraxia
da fala, e na avaliação neuropsicológica podem apresentam também sinais de disfunção executiva e déficits
em memória operacional. Apesar das dificuldades de linguagem, os pacientes podem manter a funcionalidade
e independência por alguns anos.
Com a progressão da doença, podem se associar às dificuldades de linguagem quadro extrapiramidal com-
patível com paralisia supranuclear progressiva ou síndrome corticobasal, ou ainda mudanças comportamentais
como vistas na vcDFT. O início dos sintomas é, de modo geral, mais tardio do que na vcDFT, com idade média
de início de 63 anos, e a evolução clínica parece ser mais longa que na vcDFT.
Variante logopênica da Afasia Progressiva Primária • A vlAPP é a variante que foi descrita mais recente-
mente (2004), e tem a peculiaridade de ser considerada uma apresentação atípica da doença de Alzheimer já
que a maioria dos pacientes com vlAPP tem no exame neuropatológico achados típicos da doença de Alzheimer
A principal característica do distúrbio de linguagem observado na vlAPP é a dificuldade em encontrar palavras, que
leva a pausas na fala. Dificuldade na repetição de frases também é outra característica marcante, que acredita-se estar
associada a comprometimento da memória operacional verbal. Com a progressão da doença, ocorre declínio na ex-
pressão, e pode haver dificuldade de compreensão de palavras. E posteriormente, outros domínios cognitivos podem
ser comprometidos, e o paciente pode evoluir para um quadro de demência similar ao da doença de Alzheimer.
Diagnóstico
Pelos critérios diagnósticos de Gorno-Tempini e colaboradores, o diagnóstico de APP deve ser feito em duas
etapas. Em primeiro lugar deve-se firmar um diagnóstico de APP, baseando-se nos critérios de inclusão e exclu-
são mostrados na Tabela 2. A segunda etapa consiste no diagnóstico da variante da APP, que deve se basear
nos critérios mostrados nas Tabelas: 3 para vsAPP, 4 para vnfAPP, e 5 para vlAPP.
Investigação
Nos casos em que houver suspeita de APP devido ao comprometimento isolado da linguagem, ou quando
houver declínio das habilidades linguísticas desproporcional ao dos outros domínios cognitivos (como memória
episódica, habilidades visuoespaciais e/ou funções executivas), deve-se encaminhar o paciente para realização
de avaliação neuropsicológica. Se houver disponibilidade, uma avaliação de linguagem com fonoaudiólogo
Tratamento
Infelizmente não existe até o momento tratamento medicamentoso específico para as APPs, de modo que o
tratamento tem como objetivo o manejo de sintomas que aparecem no curso da doença. A reabilitação cogni-
tiva com ênfase na linguagem, realizada por neuropsicólogos ou fonoaudiólogos, pode auxiliar os pacientes na
comunicação e atividades diárias. Acompanhamento com terapeutas ocupacionais, e com fisioterapeutas (caso
apareçam sintomas motores como parkinsonismo), também podem ser benéficos aos pacientes.
Sintomas neuropsiquiátricos como depressão, ansiedade, agitação, agressividade, distúrbio do sono, entre
outros, podem aparecer no curso da APP. O uso de antidepressivos (particularmente os inibidores da recapta-
ção da serotonina) pode auxiliar em alguns desses sintomas, e eventualmente o uso de neurolépticos pode ser
necessário. Costuma-se dar preferência aos neurolépticos atípicos, pela menor incidência de efeitos colaterais
parkinsonianos.
Não existem evidências conclusivas que o uso de inibidores da acetilcolinesterase ou da memantina são
benéficos no tratamento das variantes da APP. No entanto, como frequentemente os pacientes com a vlAPP
apresentam diagnóstico neuropatológico de doença de Alzheimer no exame post mortem, pode-se tentar uti-
lizar inibidores da acetilcolinesterase em pacientes com vlAPP (com a ressalva de que não foram realizados
estudos que avaliaram a eficácia dessas medicações na vlAPP). n
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Introdução
Parkinsonismo é definido pela ocorrência de bradicinesia associada a outras manifestações como rigidez,
tremor de repouso e/ou instabilidade postural, e pode ter diversas causas. Uma das causas mais frequentes é
o parkinsonismo induzido por medicações, como neurolépticos e alguns bloqueadores do canal de cálcio, co-
mo a flunarizina. Dentre os parkinsonismos associados a doenças neurodegenerativas, a doença de Parkinson
(Capítulo 10) é a causa mais frequente.
Neste capítulo sobre demências com parkinsonismo, vamos falar sobre a degeneração corticobasal (DCB) e
a paralisia supranuclear progressiva (PSP). Essas duas doenças são classificadas como parkinsonismos “atípi-
cos”, em contraposição ao conceito de parkinsonismo “típico”, representado pela doença de Parkinson. Dentro
do grupo dos parkinsonismo atípicos, também estão incluídas a demência com corpúsculos de Lewy (Capítulo
9) e a atrofia de múltiplos sistemas. A atrofia de múltiplos sistemas é uma doença rara, caracterizada por sin-
tomas como: disautonomia, sintomas cerebelares, parkinsonismo, e sinais de liberação piramidal. Sintomas
cognitivos podem ocorrer na atrofia de múltiplos sistemas, mas não são características centrais da doença, e
por isso a atrofia de múltiplos sistemas não será abordada neste capítulo.
É importante lembrar que parkinsonismo pode aparecer em outras doenças neurodegenerativas, não apenas
como efeito colateral do uso de neurolépticos usados para tratamento de sintomas comportamentais, mas também
pode aparecer espontaneamente. Parkinsonismo pode aparecer, por exemplo, nas fases mais tardias da doença de
Alzheimer e da variante comportamental da demência frontotemporal. O parkinsonismo também pode ocorrer na
demência vascular subcortical, e é caracteristicamente um parkinsonismo que predomina em membros inferiores.
Degeneração corticobasal
Introdução
A síndrome da DCB (chamada por alguns de síndrome corticobasal) foi descrita em 1968 por Rebeiz e cola-
boradores, como uma forma de parkinsonismo assimétrico, com apraxia, e outros sintomas corticais e relacio-
nados aos núcleos da base, como afasia e distonia. A descrição inicial relatou que as habilidades mentais esta-
riam relativamente preservadas na DCB, mas nas últimas décadas, a existência de comprometimento cognitivo
na DCB foi sendo melhor caracterizada e atualmente é característica central da síndrome.
A prevalência da DCB é de cerca de 5-7 pacientes a cada 100.000 habitantes, e a doença acomete de ma-
neira similar homens e mulheres.
Quadro clínico
O início dos sintomas da DCB em geral ocorre entre os 50 e 70 anos de idade (média de 63 anos), e a sobre-
vida média após o aparecimento dos sintomas é de 7 anos.
Uma das características mais marcantes da DCB é a assimetria dos sintomas (ou seja, um dos lados do
corpo do paciente é mais comprometido que o outro) e a queixa inicial mais frequente em pacientes com DCB
é de que não conseguem usar um dos braços (como se o braço tivesse se tornado inútil). Essa dificuldade para
usar o braço para fazer atividades do cotidiano pode ser causada por rigidez e/ou bradicinesia (do parkinso-
nismo), por apraxia, ou ainda por distonia. O parkinsonismo da DCB ocorre em mais de 80% dos pacientes, é
tipicamente assimétrico, em geral não vem acompanhado de tremores, e melhora pouco ou nada com uso de
levodopa. Apraxia é definida como incapacidade de realizar atos motores que aprendemos durante a vida, como
dar tchau, usar uma chave para abrir uma fechadura, ou abotoar uma camisa, entre outros, e ocorre em cerca
de 70% dos pacientes com DCB. A apraxia não ocorre por fraqueza muscular, por perda de coordenação ou por
perda de sensibilidade, mas por lesão das estruturas dos lobos parietais e/ou frontais, e pode ser testada pedin-
do-se que os pacientes realizem gestos com as mãos, como acenar, prestar continência, demonstrar como se
abre um cadeado com uma chave (sem utilizar objetos reais), ou ainda copiar gestos manuais do examinador.
Distonia é caracterizada pela contração involuntária de músculos que causam posturas anormais. Na CBD, a
distonia pode se manifestar, por exemplo, fazendo com que o paciente fique com o punho fechado e não consi-
ga mais abri-lo (ou sinta muita dor ao tentar fazer isso). A distonia ocorre em 20-40% dos pacientes com DCB.
Diagnóstico
Os critérios diagnósticos mais recentes para DCB foram publicados por Armstrong e colaboradores
em 2013, e estão na Tabela 1. Esses critérios permitem um diagnóstico de DCB provável ou possível. A DCB
possível é diagnosticada quando o paciente apresenta um quadro simétrico e tem apenas um sintoma de cada
grupo (A e B da Tabela 1).
Investigação
Além da anamnese e exame físico, os exames de neuroimagem podem auxiliar no diagnóstico de DCB. A
atrofia observada na tomografia computadorizada ou na ressonância magnética predomina nos lobos parietais e
é caracteristicamente assimétrica. Em geral se observa maior atrofia no hemisfério cerebral contralateral ao lado
do corpo mais acometido do paciente. Ou seja, se um paciente tem apraxia e/ou parkinsonismo mais graves em
hemicorpo direito, a atrofia geralmente é maior no hemisfério esquerdo do cérebro. Quando o paciente apresenta
comprometimento mais importante da linguagem, observamos que a atrofia é mais pronunciada no hemisfério
esquerdo (que é dominante para a linguagem na maior parte das pessoas). Os estudos de neuroimagem funcio-
nal como a cintilografia de perfusão cerebral (SPECT cerebral) podem as vezes auxiliar no diagnóstico, mostran-
do hipoperfusão de predomínio parietal, particularmente quando a atrofia é duvidosa na neuroimagem estrutural.
O diagnóstico de DCB por vezes é desafiador, pois é uma doença pouco frequente que não é amplamente
conhecida. Apesar de ser doença rara, um diagnóstico correto de DCB tem implicações importantes sobre o
manejo dos pacientes. Por isso, na suspeita de DCB (seja pelas características cognitivas ou pelo achado de um
parkinsonismo atípico), o paciente deve ser encaminhado para avaliação com neurologista, que tem treinamento
para identificar os sinais e sintomas mais característicos da DCB (e mostrados na Tabela 1). O acompanhamento
de pacientes com DCB idealmente requer seguimento com equipe multidisciplinar, como será discutido adiante,
e caso esse tipo de estrutura seja disponível, isso deve ser levado em conta ao se encaminhar um paciente para
avaliação especializada.
Diagnóstico
Os critérios diagnósticos da PSP ainda utilizados atualmente foram publicados em 1996 por Litvan e colabo-
radores. Esses critérios admitem diagnóstico de PSP possível ou provável. A PSP possível é caracterizada por
curso insidioso e progressivo, início dos sintomas após os 40 anos de idade, e ausência das características de
exclusão (Tabela 2), acompanhados de uma das duas possibilidades: ou a presença de paralisia supranuclear
do olhar vertical (para cima ou para baixo), ou alentecimento de sacadas verticais e instabilidade postural proe-
minente com quedas no primeiro ano da doença. PSP provável é diagnosticada quando o paciente apresenta
tanto paralisia supranuclear do olhar vertical quanto instabilidade postural proeminente com quedas no primeiro
ano da doença. Estudos mais recentes, no entanto, mostraram que pacientes com PSP confirmada neuropato-
logicamente podem apresentar paralisia do olhar vertical e/ou quedas apenas tardiamente (ou eventualmente
não apresentar esses sintomas), e por isso a utilidade desses critérios na prática clínica é questionada por al-
guns autores.
Investigação
Na investigação de um caso suspeito de PSP, a ressonância magnética de encéfalo é o exame complementar
que mais pode auxiliar no diagnóstico. O achado típico é o de atrofia do mesencéfalo, e a redução do diâmetro
anteroposterior do mesencéfalo dá ao tronco encefálico um aspecto que lembra um beija-flor ou um pinguim
(por isso chamados de sinal do pinguim ou sinal do beija-flor), em um corte sagital mediano. A atrofia de mesen-
céfalo tem alta sensibilidade e especificidade para diagnóstico de PSP nos estudos publicados, mas na prática
clínica nem sempre é de fácil reconhecimento.
Assim como na suspeita de CBS, em um caso que se suspeita de PSP, o paciente deve ser encaminhado
para avaliação com neurologista, preferencialmente que atenda em serviço de saúde que disponibilize acompa-
nhamento multidisciplinar.
Tratamento
Não existem tratamentos específicos que possam modificar a evolução da doença, de modo que o tratamen-
to é sintomático. O acompanhamento com uma equipe multidisciplinar, que inclui neurologista, fisioterapeuta,
fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional é importante para o manejo dos sintomas da doença.
O tratamento medicamentoso para o parkinsonismo é limitado, tendo em vista que o parkinsonismo da PSP
tipicamente responde pouco ou nada ao uso de levodopa. Mas não é por isso que um teste terapêutico com le-
vodopa não possa ser tentado. A resposta ao uso de levodopa pode auxiliar no diagnóstico diferencial. Caso o
Referências Bibliográficas
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Introdução
Estimativas indicam que mais da metade dos portadores de Doença de Alzheimer estão nas fases moderada
e grave da doença, sendo 31% na fase moderada e 21% na fase avançada, e que noventa por cento dos pa-
cientes institucionalizados estão nestas mesmas condições.
O período médio de sobrevida após o diagnóstico da demência da Doença de Alzheimer é de 6 anos em alguns
estudos e dez em outros, variando de 1 a 16 anos sendo um terço deste período vivido nas fases avançadas.
Dados Norte-Americanos apontam que o contingente de portadores de DA no ano 2000 era de cerca
de 4,5 milhões de pessoas e são esperados em torno de 13 milhões para o ano 2050.
Dado o inevitável declínio cognitivo e funcional da demência diante dos conhecimentos atuais clínicos, ge-
riatras, neurologistas e psiquiatras enfrentam não somente o desafio de melhor conduzir esta longa e prevalente
fase da doença, como de comunicar com eficiência e responsabilidade suas expectativas terapêuticas de curto,
médio e longo prazo aos pacientes e/ou seus cuidadores.
Apesar destes dados de relevância inquestionável, a maioria dos estudos para o desenvolvimento de novos fár-
macos, para o melhor conhecimento de medidas não-farmacológicas de abordagem dos sintomas, bem como es-
tudos epidemiológicos que dêem conta de averiguar fatores que interferem na história natural da doença, formas
de abordar o fim de vida, além de outras questões como nutrição e linguagem são bastante escassos na literatura.
O curso da DA e de outras demências progressivas pode ser visto como a perda gradual da independência
e autonomia de seu portador e a fase avançada pode ser reconhecida quando o indivíduo requer cuidado inte-
gral e assistência para realizar suas atividades básicas da vida diária, tais como banhar-se, vestir-se, fazer sua
higiene pessoal e deambular.
Nesta fase também são muito comuns diferentes sintomas comportamentais, que muito diminuem a qualidade de vida
de pacientes e cuidadores e estão entre os principais motivos do estresse destes e da institucionalização dos pacientes.
Algumas escalas avaliam cognição, enquanto que outras o estado funcional e outras ainda, fazem avaliação
de gravidade global.
O instrumento de avaliação cognitiva mais amplamente utilizado, tanto na prática, como nos ensaios clínicos
é o MEEM ( Mini exame dos Estado Mental, Folstein e Folstein, 1974) e pontuações entre 11 e 17 sugerem fase
moderada da doença e pontuações iguais ou menores que 10 indicam fase avançada.
O MEEM sofre o chamado efeito solo para os pacientes muito graves e novos instrumentos
foram desenvolvidos com o objetivo de melhor acompanhar estes doentes.
Recomenda-se que os pacientes sejam avaliados quanto à cognição, comportamento, funcionalidade, con-
dição clínica e nutricional. Além disso, orientações quanto à prevenção de quedas e estresse do cuidador estão
enfatizadas.
As expectativas do tratamento devem ser realisticamente apresentadas e discutidas com ele, bem como
devem ser abordados os temas concernentes ao fim de vida e os planos feitos baseados em decisões do
próprio paciente quando existirem e/ou de seu cuidador, em consonância com a legislação vigente e a melhor
consciência profissional da equipe.
Muitos são os desafios em relação a prover o melhor cuidado a estes doentes e seus familiares e muitas
são as dúvidas ainda não esclarecidas pela literatura médica; os esforços devem se concentrar em utilizar as
melhores evidências disponíveis no momento e a elaboração de estudos bem desenhados a fim de esclarecer
com evidências científicas claras as dúvidas remanescentes.
a. Alguma coisa sempre pode ser feita: É fato conhecido que intervenções relativamente simples podem ter um impacto
grande nos sintomas e na funcionalidade do paciente. Por exemplo, diminuir a dose de uma medicação ou mudar o horário de
administração pode melhorar sintomas comportamentais ou cognitivos. Identificar estas oportunidades faz parte do cuidado ao
dementado grave.
b. O diagnóstico importa: A avaliação inicial deve sempre ser abrangente, mesmo quando realizada em fases avançadas da doença.
Como e quando os sintomas começaram? Qual o padrão de mudanças comportamentais, cognitivas e funcionais? Qual foi a resposta
prévia à terapia? Qual o diagnóstico específico da demência? As respostas para estas indagações influenciam o manejo do paciente.
c. A incapacidade apresentada pelo paciente é multifatorial: Comorbidades clínicas, déficits sensoriais, efeitos colaterais de
medicações, estressores ambientais, variáveis do cuidador e a etiologia do declínio cognitivo atuam conjuntamente sobre os
déficits cognitivos, funcionais e comportamentais na demência.
d. Portadores de demência têm habilidades residuais: É comum que se ignore que as funções que ainda estão preservadas sejam
tão importante quanto aquelas que foram perdidas. A capacidade de caminhar, alimentar-se independentemente ou responder a
estímulos sociais ainda está preservada? Um plano de cuidado deve ser implementado a fim de que a autonomia e a qualidade de
vida do paciente sejam otimizadas.
e. Emoções e necessidades do paciente não devem ser desprezadas: Mesmo em fases avançadas da demência, a capacidade
de transmitir e perceber emoções está frequentemente mantida, fenômeno conhecido como preservação afetiva. Valorizar o estado
emocional do paciente e de seus familiares pode facilitar a aderência ao tratamento.
f. O paciente e a família são uma unidade: A família é uma fonte preciosa de informações sobre o histórico de saúde, a
personalidade e as características do paciente. Além disso, tem papel fundamental no monitoramento e aplicação da intervenção
planejada.
Revisão recente da Cochrane sobre o uso de anticolinsterásico na DA sugere que os efeitos observados em
portadores de demência avançada são semelhantes aos observados em dementados leves e moderados.
Portanto, o uso de anticolinesterásicos deve ser recomendado também nas fases avançadas da demência,
embora os benefícios sejam modestos e não há evidência de que o uso de anticolinesterásicos adie a
institucionalização dos pacientes com demência avançada.
A memantina também é uma opção para a melhora da cognição em pacientes com demência avançada.
Quatro estudos randomizados com memantina utilizaram pacientes com DA moderada e grave já utilizando
Donepezila e houve melhora adicional quando os dois fármacos foram utilizados em associação.
Há evidências que o uso da memantina melhore a cognição, a funcionalidade e sintomas comportamentais como
agitação e agressividade. De forma, que seria necessário tratar seis pacientes com memantina para melhora ou
estabilização de medidas gerais em um paciente.
Existem poucos dados que mostrem o momento mais adequado para parar o tratamento com anticolineste-
rásico ou memantina. Os estudos citados incluíram pacientes com escores no Mini exame do estado mental de
até 3 a 5, embora pacientes com escores menores do que estes também possam se beneficiar do tratamento.
Desta forma, o tratamento deve ser usado até que os benefícios clínicos não possam mais ser avaliados.
Além da melhora ou da estabilidade do quadro, mesmo taxas mais lentas de declínio podem ser vistas como
um aspecto positivo do tratamento. Desta forma, antes e após a introdução de nova intervenção, seja ela farma-
cológica ou não, deve-se testar objetivamente a funcionalidade e a cognição do paciente. Se a taxa de declínio
for mais rápida do que o esperado a medicação deve descontinuada. Neste caso, sintomas de abstinência,
piora da cognição e do prognóstico podem ocorrer. Desta forma, deve-se monitorar atentamente o paciente
após a retirada destas medicações .
Manejo Nutricional
A manutenção de um estado nutricional adequado nos portadores de demência avançada cumpre importan-
te papel na qualidade de vida e prevenção de complicações nesta fase da doença.
Além disso, estes pacientes apresentam recusa alimentar, total ou parcial dependência para comer, maior
tempo consumido nas refeições e, por fim, dificuldade em abrir a boca para receber o alimento.
Tais fatores associados concorrem para a progressiva desnutrição, desidratação e perda de peso, o que
aflige tanto a equipe de saúde quanto a família. Tabela 2
Diante deste quadro, parece atraente e lógica a ideia de prover nutrientes e líquidos de forma passiva, atra-
vés de sondas nasoenterais ou gastrostomia percutânea, no sentido de prevenir infecções, úlceras por pressão,
aspirações, melhorar o estado funcional e prolongar a vida destes doentes.
Os dados disponíveis na literatura a esse respeito são ainda de qualidade inferior à desejada e limitam-se na
grande parte das vezes a estudos observacionais e em pacientes institucionalizados apenas.
Por outro lado, são neglicenciados fatores que podem agravar a disfagia e a pneumonia aspirativa como
medicações sedativas, a diminuição da saliva, edentação e má higiene oral (Figura 2).
ATENÇÃO! Medidas que melhoram o ambiente onde são ofertadas as refeições, posicionamento do paciente,
tempo disponível para o cuidador oferecer a comida, consistência do alimento e dos líquidos e os suplementos
podem contribuir significativamente para uma nutrição adequada nos portadores de demência avançada.
Manter as melhores condições para a alimentação oral dos pacientes, cuidados de higiene oral e orientação aos
cuidadores são, a qualquer tempo, medidas indispensáveis para a boa prática médica no manejo nutricional na
demência avançada.
Acreditamos que a atenção à nutrição do paciente dementado deva ser prática desde o início do quadro e estu-
dos prospectivos, com grupos de pacientes mais homogêneos e com adequados grupos-controle são necessários
para a elucidação deste tema tão importante para pacientes, seus familiares e cuidadores e equipe de saúde. n
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Apesar de sua relevância, a depressão é uma doença de difícil mensuração, especialmente em estudos
epidemiológicos. Particularmente na população idosa, os quadros depressivos têm características clínicas
peculiares.
Nessa faixa etária há uma diminuição da resposta emocional, acarretando um predomínio de sintomas
como diminuição do sono, perda de prazer nas atividades habituais, ruminações sobre o passado e perda de
energia para atividades habituais, o que torna a apresentação dos quadros de depressão dos idosos diferen-
tes em relação aos adultos jovens.
Definição
O estado confusional agudo ou síndrome mental orgânica, também conhecido como delirium, é uma síndro-
me neuropsiquiátrica com oscilação da consciência caracterizado por déficit global da atenção, início abrupto,
curso flutuante e alterações do ciclo sono vigília . Esse distúrbio da consciência resulta em comprometimento
agudo das funções cognitivas superiores como também de distúrbios do comportamento.
A perda neuronal e a menor concentração de neurotransmissores cerebrais (principalmente, acetilcolina e dopa-
mina), resultantes das alterações fisiológicas do envelhecimento, explicam porque os idosos são mais susceptíveis
ao delirium. Essas alterações resultam em menor reserva fisiológica durante alterações metabólicas ou infecciosas.
Epidemiologia
A incidência de delirium tem sido melhor estudada em ambiente hospitalar. Estatísticas americanas demos-
tram que aproximadamente 10% a 16% dos pacientes da emergência estão com quadro confusional agudo
e entre os pacientes hospitalizados 14% a 56% desenvolvem delirium . Em Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
a incidência é mais elevada , principalmente entre os idosos , com até 82% de prevalência. Em idosos da co-
munidade a prevalência varia de 0,4 a 13,6 %. Dois terços dos casos de delirium ocorrem em pacientes com
demência, Pacientes com delirium têm maior risco de desenvolver demência dentro do ano seguinte e também
apresentam duas vezes maior risco de mortalidade e morbidade .
Fatores de Risco
O inicio do quadro confusional é justificado pela complexa interação entre um paciente vulnerável - com
fatores de risco predisponentes (Tabela 1) e a exposição a fatores precipitantes (Tabela 2) .
Diagnóstico
Os critérios diagnósticos da Síndrome confusional Aguda / Delirium segundo o DSM5 encontram-se abaixo.
Tratamento
Uma vez instalado, o passo mais importante no tratamento do delirium é a identificação e tratamento da
causa desencadeante. Ao mesmo tempo, devem ser tomadas medidas que visem alívio dos sintomas, suporte
clínico e prevenção de complicações.
Medidas de suporte e preventivas:
• proteção de vias aéreas e manutenção de saturação de oxigênio adequada
• hidratação e nutrição
• mobilização e posicionamento adequados
• prevenção de trombose venosa profunda e de úlceras de pressão
• evitar constipação
• evitar medicações anti-colinérgicas
Medidas ambientais ou manejo não farmacológico:
• manter ambiente calmo e confortável
• luminosidade apropriada durante o dia e ambiente escuro e silencioso durante a noite (estimulando melhora
do ciclo sono-vigília).
• evitar procedimentos durante a noite, tentando não interromper o sono
• uso de calendários e relógios para melhorar a orientação
• estimular a deambulação e movimentação durante o dia
• evitar trocas de ambiente
• eliminar ruídos inesperados e/ou irritantes (como alarmes)
• analgesia regular
• presença de familiares e amigos
• evitar uso de contenções físicas
O uso de medicações no tratamento de delirium deve ser o mínimo necessário para aliviar o desconforto de
pacientes extremamente agitados ou com alucinações. As medicações sedativas devem ser revistas regular-
mente e descontinuadas assim que possível. Deve-se sempre ter em mente que todas as medicações sedativas
podem causar delirium, principalmente as com efeitos anticolinérgicos.
Até o momento a droga de escolha para o tratamento de delirium é o haloperidol, por ser a medicação com
maior experiência clínica, poucos efeitos anticolinérgicos e poucos metabólitos ativos. O haloperidol pode ser
administrado por via oral ou intramuscular. Deve ser iniciado com doses de 1-2 mg, repetindo, se necessário a
cada 2-4 horas. Os efeitos colaterais mais importantes relacionados ao haloperidol são sintomas extra-pirami-
dais e prolongamento do intervalo QT no eletrocardiograma.
Os antipsicóticos atípicos como risperidona, olanzapina e quetiapina têm sido cada vez mais utilizados no tratamen-
to de idosos com delirium, uma vez que apresentam menos efeitos colaterais motores. Benzodiazepínicos devem ser
evitados, sendo reservados para pacientes nos quais o delirium deva-se à abstinência de sedativos ou álcool.
Considerações finais
Delirium é uma síndrome comum entre indivíduos idosos, com impacto negativo no prognóstico e na morbi-
mortalidade dos pacientes acometidos. Ainda é pouco diagnosticado apesar de apresentar critérios diagnósti-
cos bem estabelecidos e da existência de avaliações estruturadas para a sua pesquisa. A prevenção é a melhor
estratégia para reduzir sua frequência e complicações. n
INTRODUÇÃO
O intuito desse capítulo é lembrar que pessoas com transtornos psiquiátricos envelhecem e muitas vezes
suas patologias permanecem durante toda a vida. Muitos dos transtornos psiquiátricos são crônicos e não
necessariamente vão melhorar ou piorar com a idade, mas permanecem mesmo no idoso. Temos que sempre
procurar na história do paciente por diagnóstico(s) anteriores durante a vida ou por sintomas pregressos que
não foram diagnosticados durante a vida.
Muitos desses transtornos podem interferir / modificar a apresentação clínica e o tratamento das demências
em idosos. Quando esses não são identificados o tratamento dos déficits cognitivos pode ficar comprometido
e muito difícil de ser feito de modo adequado.
Podemos pontuar, entre muitos outros, alguns transtornos específicos, que serão discutidos abaixo, de mo-
do mais informativo do que educativo (pois para tal necessitaríamos de um livro todo para cada um) que são:
1. Transtorno do desenvolvimento: retardo mental, aprendizado escolar e linguagem
2. Transtorno ou traços de personalidade
3. Transtornos de Humor
4. Transtornos Psicóticos
5. Outros
DISCUSSÃO
1. Transtorno do desenvolvimento: retardo mental, aprendizado escolar e linguagem
Deve-se sempre pesquisar com os familiares ou amigos a possibilidade da existência de um transtorno do
desenvolvimento em um idoso que estamos avaliando. É evidente que a existência, por exemplo de um retardo
mental, mesmo que leve, que por vezes passa até desapercebido ou relativamente adaptado durante toda a
vida, pode interferir muito no momento de se fazer uma avaliação cognitiva. Até mesmo os tratamentos medi-
camentosos podem ter de ser modificados pois, sabemos que alguns desses transtornos de desenvolvimento
apresentam, com frequência, efeito paradoxal à algumas medicações.
O QUE É ?
Personalidade • É A ORGANIZAÇÃO DINÂMICA DOS TRAÇOS NO INTERIOR DO EU, FORMADOS A PARTIR DOS
GENES PARTICULARES QUE HERDAMOS, DAS EXISTÊNCIAS SINGULARES QUE SUPORTAMOS E DAS PERCEPÇÕES
INDIVIDUAIS QUE TEMOS DO MUNDO, CAPAZES DE TORNAR CADA INDIVÍDUO ÚNICO EM SUA MANEIRA DE SER E
DE DESEMPENHAR O SEU PAPEL SOCIAL.
Traços de Personalidade • Os traços de personalidade são padrões persistentes no modo de perceber
a realidade, relacionar-se consigo próprio e com os outros e, sobretudo, de pensar.
Transtornos de Personalidade • Quando as características pessoais (traços) são inflexíveis, rígidos
e mal-adaptativos para uma vida harmônica, causando prejuízo social e ocupacional ou sofrimento significativo
na pessoa e naqueles que a rodeiam constituem um Transtorno da Personalidade.
3. Transtornos de Humor
Os transtornos depressivos são amplamente discutidos em outro capítulo, neste vamos nos ater em discutir
brevemente o transtorno afetivo bipolar (TAB).
Os critérios diagnósticos dos TAB são amplos e por vezes complexos para os não psiquiatras. O mais impor-
tante é ser capaz de identificar se um paciente se enquadra no espectro bipolar, tanto atual como na historia
pregressa. Essa diferenciação, principalmente com depressão, é fundamental pois modifica muito as medica-
ções do paciente, como, por exemplo, em evitar os antidepressivos em pacientes com TAB.
Diferentemente dos transtornos depressivos, principalmente os mais leve, os TAB devem ser encaminhados
para tratamento com psiquiatras.
Na tabela abaixo resume-se os tópicos mais importantes que precisam ser lembrados no momento de tratar
pacientes com Demência na Doença de Alzheimer (DDA) com história prévia de TAB:
4. Transtornos Psicóticos
A patologia principal dos transtornos psicóticos durante o ciclo de vida é a esquizofrenia, transtorno esse
crônico, sem tratamento curativo e que necessita de tratamento medicamentoso durante toda a vida.
Os pacientes com esquizofrenia podem ter uma expectativa de vida um pouco menor do que indivíduos
sem a patologia e sabidamente desenvolvem mais déficits cognitivos, por esse motivo inicialmente foi também
nomeada de demência precoces.
Sempre que o clínico identificar um paciente com esquizofrenia, esse deve ser encaminhado para tratamento
com um psiquiatra.
Conclusão
Todos os profissionais de saúde devem ter conhecimentos básicos de psiquiatria para que consigam ter me-
lhor relação com os pacientes e tratá-los de maneira mais adequada.
Com os pacientes idosos isso não é diferente, porém além da avaliação psíquica atual, precisamos ser capa-
zes também de interpretar como esse individuo foi durante toda sua vida, com patologias diagnosticadas ou não.
Lembrem-se: Não é porque o paciente envelheceu que sua patologia psiquiátrica “desapareceu” ou, princi-
palmente, sua personalidade mudou ! Estas vão continuar a atuar no comportamento do indíviduo. n
Introdução
Os sintomas comportamentais são “muito ruins” para o paciente e seus cuidadores, levam à piora nas ativi-
dades de vida diária e qualidade de vida institucionalização precoce maior sobrecarga dos cuidadores e até dez
mil dólares por ano em custos adicionais com os cuidados adicionais.
Os distúrbios comportamentais nas demências se apresentam como uma síndrome muito heterogênea, na
qual devemos fazer avaliação de sintomas e tratamento focado nesses sintomas e não tratar todos os pacientes
como se fossem iguais.
Os pacientes devem receber doses individualizadas, com início e modificações segundo a resposta clínica,
levando-se em conta a tolerabilidade do paciente e medicações já utilizadas pata outras co-morbidades.
Lembre-se: o tratamento medicamentoso deve se basear na medicação certa para o sintoma certo, observe o
estágio da doença, começando com doses pequenas e aumento progressivo e lento, até atingir o controle do
sintoma alvo.
Medicamentos
1. Antipsicóticos
Desde 2004 tem-se clara evidências de que os antipsicóticos aumentam o risco de mortalidade nas demên-
cias, por esse motivo devem ser evitados, sempre que possível. Tem clara utilização sempre que temos sinto-
mas psicóticos importantes, nos quais os benefícios superam os riscos.
Os antipsicóticos mostram benefício no tratamento de curto prazo (até 12 semanas) para agressão em
pacientes com doença de Alzheimer (DA), sempre avaliando os benefícios comparados ao custo de efeitos co-
laterais graves. As evidências são menos consistentes para o tratamento de longo prazo, assim sendo o uso a
longo prazo não é aconselhável, a não ser em circunstâncias excepcionais.
3. Antidepressivos
Os antidepressivos podem ser utilizados para controle de agitação e irritabilidade nas demências. Deve-se
considerar o perfil de efeitos colaterais e interações medicamentosas. Os mais utilizados são o citalopram, ser-
tralina, trazodona com bons resultados.
5. Memantina
Existem diversos estudos demonstrando eficácia da memantina na redução de sintomas comportamentais
em pacientes com DA, em agitação e agressividade, principalmente.
Recomendações
• as medidas não farmacológicas devem ser iniciadas em primeiro lugar
• o início precoce de IChE pode protelar o aparecimento de distúrbios do comportamento na progressão da DA
• a memantina é eficaz em quadros de agitação e irritabilidade enquanto os IChE são eficazes na depressão,
apatia e comportamento motor aberrante
• na presença de distúrbios do comportamento, a terapia com inibidores das colinesterases (IChE) e memantina
deve preceder a introdução de psicotrópicos
• o uso de IChE permite o uso de doses menores de psicotrópicos por um período mais curto, minimizando os
riscos associados a esses agentes
• a descontinuação de IChE está associada a deterioração do comportamento
Conclusões
Na Doença de Alzheimer:
• usar anticolinesterásicos em todas as fases
• usar memantina nos casos moderados e graves
• utilizar doses terapêuticas
• medidas não farmacológicas SEMPRE
• demais medidas (antidepressivos, anticonvulsivantes, antipsicóticos) no momento certo e com indicação precisa) n
Fatores Causais
As causas são multifatoriais, e os profissionais precisam estar alertas para as informações trazidas pelos
familiares que podem explicar causas que podem estar relacionadas ao cuidador, a personalidade de ambos, a
história prévia de vida e todo tipo de conflito prévio e atual à doença.
Primariamente a avaliação dos SCPD deve ser direta e apoiada por informação colateral, além do familiar ou-
vir amigos e serviçais. Instrumentos de medida como, por exemplo, o Inventário Neuropsiquiátrico, costumam
ser usados nos centros de avaliação e pesquisa bem como em consultórios de especialistas para, em entrevista
com o cuidador, conhecer a frequência e a gravidade das alterações apresentadas.
Este instrumento, utilizado por pesquisadores em todo o mundo, contempla doze domínios que, se presen-
tes, orientam as ações da equipe nos manejos farmacológicos e não farmacológicos. São eles: delírio, alucina-
ções, agitação/agressividade, depressão, ansiedade, euforia, apatia/indiferença, desinibição, irritabilidade/labi-
lidade, comportamento motor aberrante, distúrbios do sono, alterações do apetite. Além disso, avalia também
a sobrecarga que estes comportamentos causam, permitindo ações de suporte ao cuidador.
Esses comportamentos podem ser abordados por meio de programas psicoeducativos que oferecem infor-
mações sobre envelhecimento normal e patológico, demência, sinais de alerta, possibilidades de tratamento
farmacológico, manejos não farmacológicos diários com diferentes graus de dependência do paciente e tam-
bém do seu cuidador.
Do ponto de vista prático os comportamentos mais comuns são abordados como se segue:
DELÍRIOS
Os mais comuns são os de roubo e de falso reconhecimento. Quando o paciente acusa seu cuidador
de tê-lo roubado e quando não reconhece sua casa e, pede para ir embora.
Para ambos, as orientações são simples. No caso do delírio de roubo, o cuidador deve se prontificar
a procurar o objeto “roubado” juntamente com o paciente até encontrá-lo, e no caso de querer ir embora,
a melhor estratégia é: “nós já vamos, você está pronto?”
“apenas preciso que me ajude com a organização da cozinha para que possamos ir”.
Se a pessoa estiver calma, é possível dar uma volta e, ao retornar, dizer: “pronto chegamos na sua casa”.
AGITAÇÃO/AGRESSIVIDADE
Estas são as alterações comportamentais mais difíceis de serem toleradas pelos cuidadores e a abordagem requer
avaliação ampla nos domínios biopsicossocial. Evitar o confronto direto com o paciente, desviar o foco da atenção
da situação. O profissional de saúde deve tentar determinar junto a família quais as circunstâncias associadas aos
sintomas, para tratar de modo adequado, bem como se estes sintomas apresentam perigo para o próprio paciente
ou para a família, nestes casos intervenção farmacológica é necessária.
A principal estratégia é, após avaliar se houve ou há algum problema em um dos três domínios acima para
tentar resolver a causa do sintoma comportamental.
O médico deverá ser contatado se presença dos sinais citados para tratamento de eventuais problemas
como, por exemplo, infecções respiratórias, urinárias, fecaloma, desidratação, entre outras.
• O cuidador jamais deverá, nestes momentos, discutir com o paciente sobre o que ele está falando ou fazendo;
• o paciente agitado/agressivo apresenta estas características por todo o dia e não apenas em momentos pontuais,
como o momento do banho. É preciso adaptar a rotina do banho para que ele (a) o aceite sem grandes problemas.
Uma boa alternativa para isso é colocar um aparelho de som no banheiro e, quando for estimular o banho naquele
paciente que recusa esta atividade, colocar sua música preferida para que seja ouvida durante o banho;
• evitar insistir que o paciente realize uma atividade que ele não queira fazer, tentar em outro momento e pensar
que a habilidade dele para fazer determinada tarefa pode ter sido perdida parcialmente ou totalmente.
As informações sobre como lidar no dia a dia com alguém que tem demência são indispensáveis para que
tanto o paciente quanto seu cuidador primário, familiares, amigos, possam manter a qualidade de vida, é possí-
vel usar estratégias de enfrentamento caso a caso que, de fato, auxiliam e muito nos manejos diários.
- Todo comportamento alterado deve ser informado e discutido com o médico responsável. Muitas vezes a
terapia combinada – medicamento + manejos não farmacológicos – podem ser necessários naquele paciente
que apresenta alterações com muita frequência e gravidade.
ANSIEDADE
Evitar informações prévias ao paciente sobre uma viagem, visita, casamento, que ele (a) irá. Essa é uma situação
geradora de grande ansiedade. Providencie tudo antes e deixe para falar no dia do passeio ou compromisso
quando for auxiliá-lo no banho/vestuário, etc. Do mesmo modo, quando for sair, o cuidador não deve dizer que
horas retornará, apenas dizer “vou sair e volto assim que puder”.
EUFORIA
Nestes casos, a pessoa apresenta-se inquieta e não consegue relaxar. Talvez o estabelecimento de uma rotina de
atividades possa ser útil. Por exemplo: despertar, tomar café da manhã, tomar banho, caminhar e, aproveitar para
tomar um banho de sol; auxiliar em alguma atividade simples como, molhar as plantas, lavar utensílios domésticos
de plástico, secar, ler (mesmo que o jornal esteja de cabeça para baixo) o “hábito” permanece e o cuidador não
deve questionar o paciente.
APATIA
Tentar estimular as atividades preferidas da pessoa e, para isso, sempre usar comunicação alegre e de
cumplicidade, fazendo a pessoa entender que o cuidador está ali para auxiliar, inclusive, no término da atividade.
Além disso, dar sempre o reforço positivo.
DESINIBIÇÃO
Esta é uma alteração que também traz grandes transtornos para a o cuidador direto e a família como um todo.
Todos devem ser informados sobre os possíveis comportamentos inadequados que a pessoa pode apresentar,
inclusive as crianças. Oferecer carinho, abraçar a pessoa, segurar sua mão, são exemplos de manifestações de
afeto que podem reduzir comportamentos como, tirar a roupa em público, falar palavrões, manipular genitais, etc.
Evitar rompantes, gritos, repreensões verbais agressivas e apesar de ser uma situação de gerenciamento mais
complicado, o cuidador deve procurar com carinho e firmeza, conduzir a pessoa para outro ambiente e distraí-lo
(a) com outros assuntos, quando houver um comportamento desinibido.
IRRITABILIDADE
Em geral, ocorre quando a pessoa é contrariada, e assim, a pessoa, na medida do possível o cuidador deve distrair
o paciente com outro assunto que não o deixe irritado.
ALTERAÇÕES DO APETITE
Podem ocorrer substituições, quando a pessoa não quer aceitar as refeições convencionais e opta por pequenos
lanchinhos, doces e todo tipo de guloseima. Esse comportamento facilmente leva a desnutrição, pois alimentar
não é o mesmo que nutrir.
Nestes casos, é interessante que o cuidador faça preparações nutritivas, com aparência chamativa, colorida,
para que o paciente se sinta motivado a comer.
Atualmente, todas as orientações não farmacológicas são consideradas medidas de tratamento inicial. A
ênfase destas ações está principalmente relacionada ao diagnóstico de uma doença de alta morbidade para a
qual ainda não há tratamento modificador da sua história natural, e sim tratamento de alentecimento da progres-
são pelo uso de medicações específicas. Drogas comportamentais, sempre que possível, são evitadas dado os
efeitos colaterais nem sempre positivos para o paciente idoso.
As intervenções não farmacológicas raramente são utilizadas solitariamente, e o que está sendo mais preco-
nizadas entre os especialistas são as abordagens multicomponentes em que as equipes trabalham em conjunto.
Contudo, também é preconizado que sempre antes de intervir, especificar:
FATORES DESENCADEANTES
ANTECEDENTES CONSEQUÊNCIAS
do inglês
ABC Approach
Antecedents • Behavior • Consequence
O sucesso do tratamento não farmacológico dos BPSD está na parceria com um elemento chave: o Cuida-
dor. Não basta ensinar como lidar com uma ou outra alteração de comportamento, é preciso olhar e valorizar
esta pessoa, humanizando o cuidado, respeitando sua história e firmando um vínculo de confiança, possível por
meio da formação de grupos de trabalho e comunicação efetiva profissional-cuidador sempre que necessário.
As intervenções devem ser planejadas de modo que possam ser facilmente aprendidas e implementadas
pelo cuidador.
Intervenções direcionadas, de baixa tecnologia e de baixo custo têm grande chance de serem efetivas,
uma vez que frequentemente poderão ser implementadas pelo cuidador.
Alguns modelos americanos e europeus discutem a importância das abordagens não farmacológicas e afir-
mam sua utilidade para o enfrentamento dos BPSD.
A literatura especializada cita algumas propostas que podem gerar resultados interessantes como terapia com-
portamental, terapia de orientação para a realidade, arteterapia, terapia luminosa, entre outras. Porém, a eficácia
destas estratégias ainda carece de estudos metodologicamente similares para comparação de seus resultados.
No Brasil, um “protocolo de Enfermagem em Demência” foi construído especificamente com base nas pro-
pedêuticas neurológica, geriátrica, psiquiátrica e gerontológica contemplando assim instrumentos de medida
nestas especialidades com vistas identificação precoce das alterações apresentadas e, assim, propor interven-
ções com foco preventivo. Anexo 1.
Associações
Hoje, melhor que no passado, avançamos muito naquilo que se pode fazer por alguém com diagnos-
tico de demência. Algumas associações dentro e fora do Brasil: AAN • American Academy of Neurology;
AA • Alzheimer´s Association, IPA • International Psychogeriatrics Association; NIH • National Institute of Health;
ABRAz • Associação Brasileira de Alzheimer, doenças similares e idosos de alta dependência, trabalham para me-
lhorar a capacidade de enfrentamento do cuidador por meio de informações que têm o objetivo de melhorar o co-
nhecimento e a qualidade de vida de todas as pessoas envolvidas com os cuidados com demência. Algumas abor-
dagens das diretrizes da IPA, como as que constam nos “Guide for specialists and Guide for nurses” estão no quadro.
Intervenções recreacionais • Musicoterapia arte terapia; nos manejos da agitação, ansiedade, alucinação auditiva
e padrão de sono e repouso.
Oferecimento da dieta • Fracionamento da dieta; no manejo da voracidade, inapetência, prevenção de broncoaspiração.
Aspectos sensoriais • Evitar privação sensorial prevenindo agitação, agressividade e alucinações.
Higiene do Sono • Medidas de higiene do sono, fototerapia, atividade física leve para melhorar padrão de sono
e repouso e manejar agitação.
Estabelecimento de rotinas • Para evitar exacerbações das alterações de comportamento.
Adaptação ambiental • Para segurança do paciente e remoção de estímulos estressores, por meio de manejos para redução de
perambulação e alucinações.
O Brasil, inspirado também oferece programas de educação e suporte a exemplo dos modelos de univer-
sidades de países desenvolvidos aos cuidadores de pacientes com demência. Apesar disso, ainda carece de
programas públicos mais amplos e abrangentes em território nacional que atendam diariamente e especifica-
mente o portador de demência e sua família, com atividades próprias às fases evolutivas da doença propostas
por especialistas na área.
O trabalho atual está embasado em estudos atualizados de manejos não farmacológicos com demência como:
Intervenção Descrição
Psicoeducativa • Inclui um programa estruturado que provê informações sobre a doença, recursos e serviços
a sobre como expandir a habilidade de resposta eficaz aos sintomas da doença.
• Inclui atividades que envolvem palestras, discussões e entrega de materiais impressos produzidos por
profissionais treinados.
Suporte • Foca na construção de suporte entre os participantes e criação de um espaço em que
os problema, os resultados e os sentimentos dem relação ao cuidar possam ser discutidos.
• Reuniões de grupos com interesses similares.
• Intervenções que dão a oportunidade de mudar estratégias que podem ser mais efetivas.
Finalizando
Apesar dos avanços conquistados nas últimas décadas relacionados às abordagens não farmacológicas
possíveis, na prevenção e controle das alterações de comportamento, pessoas que trabalham com demência
continuam seus estudos e pesquisas que permitam o aprimoramento de suas intervenções.
A principal arma para se lidar com as inúmeras mudanças nas áreas da cognição, função e comportamento
afetadas progressivamente no curso da demência ainda é a informação.
Um trabalho quase artesanal executado com conhecimento, dedicação e muito amor por gente que cuida
de gente e que pensa no atendimento humanizado analisando caso a caso com respeito e individualidade. Essa
é uma realidade em alguns centros no Brasil e, certamente, meta para todos os estados da União. n
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May–June 2012 Vol. 25 No. 3.
COMPORTAMENTO
Personalidade prévia à instalação da Síndrome Demencial:
Inventário Neuropsiquiátrico Breve - INP
Introdução
O idoso tende a se queixar mais sobre problemas e dificuldades de memória. Porém, uma grande parte destes
idosos apresenta desempenho normal ou dentro do esperado em testes de memória e em outros domínios cog-
nitivos, sendo considerados como queixadores subjetivos de memória (“subjective memory complainers”). Vários
fatores estão relacionados às queixas subjetivas de dificuldade de memória, como sintomas depressivos leves,
ansiedade, alterações neurosensoriais (audição, visão), necessidade de manter o mesmo nível de desempenho de
quando era mais jovem e doenças clínicas ( Boyle et al., 2008; Petersen et al., 2011; Winblad et al., 2004).
Atualmente, o termo “Comprometimento Cognitivo Leve” (CCL, do inglês Mild Cognitive Impairment) tem sido o
mais usado na literatura para definir o estado de transição entre o envelhecimento normal e os quadros demenciais.
Um aspecto importante do conceito de CCL é a necessidade da ausência de prejuízo funcional em atividades
de vida diária decorrentes das dificuldades e queixas cognitivas apresentadas pelo paciente. A avaliação da capa-
cidade de realizar atividades diárias (AVDs) é parte fundamental da avaliação do impacto das queixas e alterações
cognitivas no idoso (Rozzini et al., 2007).
As atividades básicas de vida diária (ABVDs) incluem atividades com menor demanda cognitiva, de mais fácil
execução e geralmente associadas à capacidade de autocuidado (Miotto, 2008). Exemplos de ABVDs são se ali-
mentar, se vestir, cuidar da higiene pessoal.
As atividades instrumentais de vida diária (AIVDs) incluem atividades mais complexas e de maior demanda cogni-
tiva. Exemplos de AIVDs são cozinhar, cuidar dos afazeres domésticos, fazer compras, cuidar de assuntos financei-
ros e administrar adequadamente sua medicação (Pereira et al., 2010a, 2010b). A evidência de que um idoso esteja
apresentando dificuldades persistentes em realizar AIVDs e que estas dificuldades sejam secundárias às suas quei-
xas e dificuldades cognitivas pode ser um sinal inicial do surgimento de um quadro demencial (Rozzini et al., 2007).
Idosos diagnosticados como CCL apresentam um maior risco de desenvolver quadros demenciais, principal-
mente a doença de Alzheimer (DA), por volta de 10% ao ano. Porém, esta taxa de progressão é variável e depende
de uma série de fatores como a idade do paciente (quanto mais idoso, maior o risco), o nível de escolaridade
(quanto menor a escolaridade, menor o risco), a intensidade dos déficits cognitivos na avaliação inicial, dentre
outros. Vale ressaltar que o diagnóstico de CCL não indica que o idoso irá invariavelmente desenvolver um quadro
demencial no futuro. Muitos idosos classificados como CCL não apresentam evidência de deterioração cognitiva
mesmo após longos períodos de acompanhamento (p.ex. 5 anos), podendo permanecer estáveis como CCL ou
retornarem à cognição normal.
Neste aspecto da manutenção do desempenho de memória ou sua otimização, temos como importante aliada
a intervenção de estimulação cognitiva, ou, treino cognitivo (Petersen, 2011).
Caso o idoso não se adapte a este recurso pode-se usar o jornal, neste caso o idoso deve prestar atenção
às datas presentes no jornal e não apenas às noticias. Assim, quando abrir o jornal o idoso deverá ser orientado
a olhar primeiramente a data do dia e posteriormente pode prosseguir com sua atenção às manchetes. Sempre
que possível, durante a leitura das notícias do jornal, estimulá-lo a olhar a data para poder fixá-la, realizando estes
passos todos os dias é possível que em poucas semanas o idoso esteja lembrando as datas corretamente.
Manutenção da atenção
Outra habilidade cognitiva que pode ser trabalhada no idoso diagnosticado com CCL é a atenção. A atenção
pode ser entendida, dentro do processo de memorização, como importante fonte para o armazenamento de informa-
ção, uma vez que a primeira etapa do processo de memorização é a atenção. O estímulo à atenção pode ser visual,
auditiva, tátil, olfativa e gustativa. As duas primeiras são as que mais se modificam na velhice, ambas podendo se
alentecer, mas podendo ser melhoradas com exercícios durante a estimulação cognitiva (Verhaeghen et al., 2013).
A atenção visual, requisitada para guardar cenas de um filme, lugares novos e detalhes de fotos e pessoas, sofre
decréscimo ao longo do processo de envelhecimento e está presente com frequência em idosos com CCL. A tendên-
cia é se atentar a ideias e observar imagens de modo geral, e não específico; desta forma acaba-se por perder certos
detalhes, muitas vezes essenciais para se entender o contexto de uma determinada situação. A atenção auditiva, im-
portante para o armazenamento de informações adquiridas durante uma conversa, para guardar um recado, entender
um discurso, também pode ser melhorada com exercícios específicos, como por exemplo, ouvir uma música.
Atenção visual (exemplos): caça palavras, busca Atenção auditiva (exemplos): ouvir uma música.
de imagens específicas em uma folha repleta de Neste caso, se a música for conhecida o objetivo é
figuras com formas e cores diferentes e jogos de sete contar quantas vezes apareceu determinada palavra,
erros. Todos esses exercícios podem ser realizados se a música é desconhecida o objetivo torna se
individualmente e devem ser começados pelo grau entender o sentido da música, quem está cantando ou
de dificuldade mais simples até o mais complexo. qual pode ser o nome da canção com base no refrão.
Para perda de O idoso deve tentar guardar tudo sempre no lugar destinado, assim quando o idoso
objetos: estratégia esquece onde colocou determinado objeto a pergunta correta não é: ‘Onde coloquei
de arrumação as minhas chaves?’ e sim: ‘Aonde geralmente eu coloco minhas chaves’.
pode ser uma delas. Se as chaves estiverem no local escolhido ele só terá de ir até o local e as encontrará.
Para lembrar Associar o nome da pessoa que acabou de conhecer a uma frase que rime ou a algo/
nomes de pessoas: alguém muito conhecido, por exemplo, “Alcino a Alcino tem um sino na boca” ou
fazer associações “Joana a Joana D’arc”, “Dagmar aquela lembra o mar”. A associação pode ser diferente
(por exemplo, dependendo da pessoa. Um idoso pode associar o nome Maria a um comercial de
face-nome) televisão mais antigo onde a frase ‘Maria sai da lata’ era muito marcante, pessoas
que não assistiram a este comercial e são religiosas podem associar Maria a mãe de
Jesus ou criar outras associações que lhe façam sentido. O importante desta estratégia
é que faça sentido para quem a utiliza, depende então de um esforço pessoal.
Embora o exemplo seja bastante caricaturizado, é extremamente útil para que o idoso possa perceber que este
tipo de associação funciona muito bem. Para verificar se o idoso compreendeu a técnica e sabe aplicá-la, elabore
uma lista com nomes e características. Desta vez, utilize características da profissão das pessoas. Inicie com no-
mes simples, de fácil associação para que o idoso possa ganhar confiança e não desista de aprender a técnica.
João • padeiro
Agenor • secretário
Priscila • nadadora
Paula • professora
Com os dados acima, como exemplo, peça para que ele realize associações entre os nomes e profissões.
Possivelmente surgirá algo semelhante a isso:
João • padeiro = João faz pão. João Pão. Logo, João é padeiro
Agenor • secretário = Agenor agenda coisas. Agenor agendador. O agendador é o Agenor. O agenor é secretário.
Priscila • nadadora = Priscila adora piscina. Priscila Piscina. A Priscila é nadadora.
Paula • professora = A Paula dá aula. Quem dá aula é Paula. A Paula é professora.
IMPORTANTE: Ressalta-se novamente que a associação é algo muito pessoal. A associação que a pessoa criar deve
fazer sentido unicamente a ela. O terapeuta não deve questionar o modo com o qual o idoso realiza suas associações,
pois quem deve entender o significado da associação é o idoso, visto que é ele quem irá se beneficiar do processo.
Caso a associação criada pelo idoso soe estranha ao terapeuta, este deve questioná-lo do motivo pelo qual ele escolheu
esta associação. Se houver algum sentido, não interfira. Este sentido pode tanto ser pessoal, como por exemplo,
o nome de um cachorro de sua infância, ou algo relacionado ao contexto histórico da pessoa, como algum som
que havia em determinada propaganda do rádio, cujo produto tinha o mesmo nome da pessoa alvo da associação.
Uma outra questão diz respeito ao fato de que muitas vezes o idoso pode apresentar dificuldades de retenção
de informações durante uma leitura. Neste caso uma das estratégias mnemônicas que pode ser utilizada é a téc-
nica do grifo (ver em Yassuda et al., 2006).
Retenção de Comece com textos pequenos de jornal ou revista e aumente gradativamente até livros e
informações periódicos mais complexos. Nesta estratégia o idoso deve ler o texto pela primeira vez buscando
durante entender a ideia central (idosos com CCL não mostram grande dificuldade para entender a ideia
uma leitura: central do texto). Em seguida ele deve ler o texto novamente grifando as ideias principais
técnica (frases inteiras não devem ser grifadas) e depois escrever todas as palavras que grifou em
do grifo um papel ou ao lado do próprio texto. Ressalta-se a importância de escrever apenas as palavras
grifadas e na ordem em que aparecem no texto. Logo após, o idoso apenas olhando para
as palavras que copiou deve tentar lembrar os detalhes do texto. Com o passar do tempo
as palavras grifadas tendem a diminuir e a lembrança para detalhes do texto aumentar.
Memorização: técnica de Explique ao idoso que a estratégia consiste em agrupar itens semelhantes
categorização (extremamente entre si, de modo a facilitar a memorização.
útil para memorização O treino da categorização é bastante simples, pois solicita-se ao idoso
de itens para compra em que ele, primeiramente, agrupe em categorias os itens presentes em uma lista
supermercados, lojas e etc.) de supermercados e nomeie estas categorias criadas por eles.
Por exemplo:
• Leite
• Shampoo
• Café Podem ser caracterizados em:
• Arroz LÍQUIDOS SÓLIDOS HIGIENE
• Pão Café Arroz Shampoo
• Sabonete Leite Pão Sabonete
Neste contexto, observa-se que as dificuldades cognitivas em idosos com CCL são heterogêneas e para cada
uma delas é possível utilizar estratégias mnemônicas ou recursos externos que minimizem estes déficits. É importante
que profissionais da saúde e a família estejam atentos às queixas de memória dos idosos e que busquem auxilio o
mais breve possível, principalmente se notar que os esquecimentos, interferem sutilmente na realização de atividades
cotidianas, como pagar contas, conferir troco, resolver problemas e anotar recados, por exemplo (Oliveira et al., 2013).
Posteriormente, alie a atividade de simulação de troco com a técnica de categorização, e peça que os idosos
organizem alguns itens de uma lista em categorias e tentem memorizá-los. Após memorizados, peça que procu-
rem os produtos da lista em um outra lista, com muito mais itens e com os respectivos preços. Se possível, ao
invés de utilizar uma segunda lista, monte um mini-mercado com embalagens de produtos vazios, certificando-se
sempre de que tenha à disposição todos os itens que estejam na lista a ser memorizada e vários outros itens que
atuarão como distratores. Peça que eles peguem os itens, confiram o valor e efetue o pagamento – com recolhi-
mento de troco (Lima-Silva et al., 2011).
Atividade Fluência verbal categoria animais e frutas. Peça para que o idoso diga o maior número de animais
de ou frutas que comecem com as letras “F”, “A” ou “S”. É possível também restringir as categorias,
linguagem como “animais que existem na fazenda”, e etc.
Os estudos sobre treino de memória em idosos com Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) são recentes e
observam manutenção ou melhora da capacidade ao nível normal por tempo variável. A mudança no desempe-
nho cognitivo conseguida a partir do treino vem sendo associada a mudanças neurobiológicas, como alterações
em exame de ressonância funcional e em potencial evocado.
Considerações finais
Estudos envolvendo a estimulação cognitiva em idosos com Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) vêm
mostrando melhora em bem estar subjetivo, satisfação geral com a vida, diminuição de crenças negativas em re-
lação à memória e aceitação de dificuldades apresentadas. Assim como melhor desempenho em testes cognitivos
e funcionais após o treino, sendo que a melhora parece ser especifica para a habilidade treinada.
Os idosos com CCL parecem melhorar o desempenho nos testes e nas atividades de vida diária, mantendo
sua condição ou melhorando-a. Assim sendo, é importante que profissionais da saúde e familiares se atentem às
queixas de memória dos idosos e que procurem auxiliá-los na reorganização do estilo de vida, com a inserção de
práticas de exercícios intelectuais e desafios cognitivos, para que melhores resultados sejam alcançados, assim
como medidas preventivas de declínio de memória significativo. n
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E
mbora o manejo clínico de pacientes com demência exija grande cuidado e habilidade, este é um tema
ainda pouco abordado na literatura médica. Enquanto cresce o interesse sobre aspectos do diagnóstico
das demências, seu tratamento medicamentoso e o manejo de sintomas comportamentais, o tratamento
das diferentes comorbidades frequentemente presentes nestes pacientes é pouco relatado. Um dos motivos é
a habitual exclusão de indivíduos com demência dos ensaios clínicos sobre tratamento destas condições. Ou-
tro motivo é a grande heterogeneidade de condições que acomete os indivíduos, tornando mais difícil a obten-
ção de evidências científicas e padronizações de conduta para cada situação clínica.
Comorbidades na demência
Um dos aspectos que pode ser avaliado é a carga de comorbidades e doenças crônicas que acomete indi-
víduos com e sem demência, e o impacto que as mesmas proporcionam. Embora já se tenha questionado se
indivíduos com demência seriam mais saudáveis que aqueles sem esta condição, estudos de grandes casuísti-
cas, tanto em atendimento primário quanto especializado mostram que indivíduos com demência possuem tan-
tas ou mais comorbidades que indivíduos sem demência. Outro aspecto relevante é que o aumento da carga de
comorbidades se acompanha de aumento da gravidade do distúrbio cognitivo. Isso faz supor que o tratamento
adequado das comorbidades pode potencialmente ter impacto na melhora da cognição.
Estudo do sistema de saúde norte-americano apontou que o diagnóstico de demência se acompanha de
maior número de doenças crônicas por pacientes, aumento de 3 vezes nos gastos médios anuais, com 3 vezes
mais hospitalizações por condições agudas (traumas, infecção, úlceras de pressão ou falência no tratamento de
doenças crônicas), além de maior mortalidade em um ano.
A presença de demência tem também impacto no prognóstico das comorbidades, como pode ser evidencia-
do em estudos mostrando maior mortalidade em pacientes com demência hospitalizados por Insuficiência Car-
díaca ou Infarto Agudo do Miocárdio. Ainda, demência foi caracterizada como importante preditor independente
de mortalidade em estudo longitudinal realizado em nosso meio. Por outro lado, a presença de doenças crôni-
cas tem impacto na evolução do declínio cognitivo e na sobrevida de pacientes com demência.
O manejo de comorbidades na demência carrega diversos desafios. Há problemas relacionados ao diagnós-
tico (pela dificuldade de relato/ reconhecimento de sintomas e maior risco de procedimentos diagnósticos) e ao
tratamento (menor capacidade de decisão, necessidade de substituto responsável, menor aderência, dificulda-
de na administração de medicamentos e no relato de eventos adversos).
As condutas e decisões sobre o diagnóstico e manejo das comorbidades nestes pacientes devem sempre con-
siderar os potenciais benefícios, não deixando de oferecer ou realizar determinados procedimentos ou tratamen-
tos que podem ser úteis. Mas há também que se considerar os riscos de intervenções diagnósticas e terapêuticas
invasivas, além do maior risco de iatrogenias e reações adversas a medicamentos. Dentro deste enfoque, deve-se
considerar ainda que determinados tratamentos ou rastreamentos devem ser reservados para aqueles com sufi-
ciente expectativa de vida para obter benefício. Outro ponto importante a se considerar é a gravidade da demên-
cia, visto que em fases avançadas há mudança no enfoque de medidas diagnósticas e terapêuticas, com o cuida-
do voltado gradualmente para alívio de sintomas, metas menos rígidas de controle e priorização de medidas não
farmacológicas, sempre levando em conta os desejos e expectativas do paciente e de sua família.
COMORBIDADES DA DEMÊNCIA
Outro aspecto a ser avaliado é o das comorbidades/ condições que
frequentemente acompanham a evolução da demência. São elas:
• Quedas
• Imobilidade
• Dor
• Distúrbios nutricionais
• Infecções
QUEDAS • Demência é reconhecidamente um fator de risco para quedas. Diversos são os motivos que propi-
ciam o idoso com demência a cair, levando a consequências graves como fraturas (principalmente de fêmur),
imobilidade e maior risco de institucionalização e morte. Idosos com demência tem dificuldade de adaptação a
ambientes novos, desorientação espacial, alterações de marcha e equilíbrio, além de alteração do julgamento e
do reconhecimento de perigos e de suas próprias limitações.
Ações importantes de prevenção visam corrigir fatores de risco modificáveis, frequentemente presentes nes-
tes pacientes (Tabela 1).
IMOBILIDADE • Pacientes com demência de diversas etiologias frequentemente apresentam ao longo de sua
evolução problemas motores, apraxias e instabilidade de marcha. Aliados a esses fatores, o medo de cair e o
menor estímulo para realização de atividades físicas propicia o desenvolvimento de níveis crescentes de imo-
bilismo, de tal forma que 50% dos pacientes com demência tornam-se incapazes de deambular independen-
temente em torno de 7 a 8 anos.
As complicações da imobilidade são várias e graves, seu desenvolvimento é rápido, porém sua reversão
(nem sempre possível) é bastante difícil e demorada (Tabela 2). Por esse motivo, sua prevenção é fundamental,
evitando que o paciente fique acamado por longos períodos e corrigindo outras possíveis causas como des-
compensação de doenças cardio- respiratórias, fraqueza muscular, rigidez, dor, desequilíbrio e alteração da
marcha, depressão e ansiedade.
DOR • frequentemente subdiagnosticada e subtratada, principalmente nas fases mais graves da demência, a
dor pode estar presente por diversos motivos e ser causa de inúmeras complicações como distúrbio do sono,
emagrecimento, desnutrição, depressão, confusão mental, agitação e diminuição da mobilidade.
A falta de diagnóstico adequado relaciona-se em parte à dificuldade de expressão verbal da dor, bem como
da descrição precisa de suas características. Para sua detecção adequada, faz-se imprescindível uma avalia-
ção sistemática da dor, valorizando não só as queixas verbalizadas pelos pacientes, mas os comportamentos
não verbais possivelmente relacionados a dor, como agitação, agressividade, irritabilidade, vocalização negati-
va, ou expressão de dor, tristeza ou medo.
DISTÚRBIOS NUTRICIONAIS • os mais frequentes problemas nutricionais em pacientes com demência são re-
lacionados à hidratação e à perda de peso/ desnutrição. O idoso com demência está mais exposto ao risco de
sub-hidratação ou desidratação, com consequente maior risco de hipotensão ortostática, úlceras de pressão,
constipação, infecção urinária e piora cognitiva.
INFECÇÕES • principalmente em idosos com demência avançada existe maior predisposição a infecções re-
lacionada a imobilidade, presença de incontinências, aspiração e possível prejuízo de função imunológica se-
cundário a desnutrição.
Em vários estudos, pneumonia é a causa mais frequente de óbito nesses pacientes. Diversas ações preven-
tivas podem ser implementadas, visando diminuir a sua ocorrência. (Tabela 4).
n Avaliação odontológica
n Higiene oral
Portanto, o manejo clínico de paciente com demência demanda uma abordagem complexa, ponderada e in-
dividualizada, considerando doenças associadas e fármacos em uso, risco de eventos adversos e complica-
ções, além de aspectos relevantes como expectativa e qualidade de vida e suporte social. n
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