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DO ACORDO DE NÃO-PERSECUÇÃO PENAL (ART.

28-A, CPP):
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Of the criminal non-persecution agreement (art. 28-A, CPP): some initial considerations

Roberta Schaun
robertaschaun@gmail.com
Mestranda em Direito (FMP). Especialista em Ciências Penais e Direito Penal Empresarial (PUCRS)
e Direito Público (Verbo Jurídico). Advogada.

William de Quadros da Silva


william.quadros.silva@outlook.com
Mestre em Ciências Criminais (PUCRS). Especialista em Docência no Ensino Superior e Ciências
Penais (PUCRS). Advogado.

Resumo

A Lei nº. 13.964/19 modificou inúmeros dispositivos legais na legislação penal brasileira, com o obje-
tivo de aprimorar o combate ao crime organizado e a criminalidade grave. Ao mesmo tempo, foram
propostas medidas de racionalização e otimização da justiça criminal relativa a crimes não violentos e
de menor significado. Dessa forma, surgiu o acordo de não-persecução penal (ANPP), consistente em
um negócio jurídico firmado entre o Ministério Público e o acusado, de modo a extinguir a punibili-
dade dos crimes praticados, sem o ajuizamento de uma denúncia, desde que cumprida uma série de
obrigações. O acordo de não-persecução não é uma novidade no cenário jurídico brasileiro, pois ele
já tinha previsão, ainda que informal, na Resolução nº. 181/2017/CNMP e que influenciou a redação
do atual art. 28-A, CPP. O ANPP é mais um instrumento de justiça penal negocial presente no ordena-
mento jurídico brasileiro, acompanhando a tendência mundial de sua expansão, tal como a transação
penal, a suspensão condicional do processo e a delação premiada, além de servir como uma medida
de mitigação do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública incondicionada. O objetivo deste
texto é analisar a forma como se deu a construção deste instituto, fazendo-se algumas ponderações
iniciais, sem esgotar o tema, pois se trata de um assunto deveras recente e que demandará tempo para
sua correto entendimento e aplicação ao dia a dia forense. O artigo estrutura-se em três partes. No
primeiro, será abordado o histórico do ANPP; no segundo, serão feitas algumas considerações sobre
instrumentos de justiça penal negocial no direito comparado; por fim, o item final será destinado a
algumas considerações iniciais sobre o instituto. A pesquisa será descritiva-explicativa, com revisão
das propostas legislativas, e das exposições de motivos respectivas, que se transformaram na Lei nº
13.964/19 e revisão da literatura relativa aos temas abordados. Por se tratar de um tema ainda recente,
não existem resultados dignos de mensuração.
Palavras-chave: Lei nº. 13.964/2019. Acordo de não-persecução penal. Artigo 28-A, CPP. Justiça Pe-
nal Negocial.

Abstract

The Law nº. 13.964/19 modified numerous legal provisions in Brazilian criminal law, with the aim
of improving the fight against organized crime and serious crime. At the same time, measures were
proposed to rationalize and optimize criminal justice relating to non-violent and minor crimes. Thus,
the criminal non-prosecution agreement emerged (NCPA), consisting of a legal agreement between
the Public Prosecutor and the accused, in order to extinguish the punishment of the crimes commit-
ted, without filing a complaint, provided that a series of obligations are fulfilled. The non-persecution
agreement is not new in the Brazilian legal scenario, as it had already been provided, albeit informally,
in Resolution no. 181/2017/CNMP and which inspired the writing of the current art. 28-A, CPP. The
NCPA is yet another instrument of criminal business justice present in the Brazilian legal system,

Revista da Faculdade de Direito da FMP, Porto Alegre, v. 15, n. 1, p. 98-113, 2020. 98


Do acordo de não-persecução penal (art. 28-A, CPP): algumas considerações iniciais

following the worldwide trend of its expansion, such as the criminal transaction, the conditional sus-
pension of the process and the winning sentence, in addition to serving as a mitigation measure of the
principle mandatory unconditional public criminal action. The purpose of this text is to analyze the
way in which the construction of this institute took place, making some initial considerations, without
exhausting the theme, as it is a very recent subject that will require time for its correct understanding
and application in daily life forensic. The article is structured in three parts. In the first, the NCPA
history will be discussed; in the second, a study of bargaining in comparative law will be made; finally,
the final item will be destined to some initial considerations about the institute. The research will be
descriptive-explanatory, with a review of the legislative proposals, and of the respective explanatory
statements, which became Law No. 13.964 / 19 and a review of the literature on the topics covered. As
it is still a recent topic, there are no results worth measuring.
Keywords: Law nº. 13.964/2019. Criminal Non-Persecution Agreement. Article 28-A, CPP. Business
Criminal Justice

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Roberta Schaun e William de Quadros da Silva

1 Introdução

No dia 23 de janeiro de 2020, entrou em vigor a Lei nº. 13.964/19, também conhecida como “Pa-
cote Anticrime”, pois seu objetivo, conforme amplamente divulgado pela mídia, seria o de modificar
diversos dispositivos da legislação penal brasileira de modo a aprimorar o combate à criminalidade
organizada e crimes violentos.
Dentre as diversas alterações legislativas, cita-se a introdução do acordo de não persecução pe-
nal (ANPP) no direito brasileiro, previsto no art. 28-A, CPP. Trata-se, portanto, de uma inovação
processual, semelhante à transação penal, no sentido de ampliar as hipóteses de justiça negocial no
ordenamento jurídico brasileiro, acompanhando a tendência mundial de expansão, tema ainda em
maturação na literatura e na cultura nacional, visto que existem poucos institutos no país e, os existen-
tes, relacionam-se a crimes de menor potencial ofensivo, cujas penas não são privativas de liberdade.
Além disso, o ANPP também representa uma mitigação do princípio da ação penal pública incondi-
cionada, uma medida de política criminal que não mais encontra razão de ser na realidade brasileira
atual.
A proposta do artigo não é esgotar o tema, pois se trata de um assunto muito recente e que
demandará muito tempo para a sua maturação e compreensão pelos operadores do Direito, especial-
mente o Ministério Público e o Poder Judiciário, assim como da própria advocacia. Aqui, pretende-se
analisar como ocorreu a construção deste instituto processual e compreender a sua finalidade como
instrumento de política criminal, com breves ponderações iniciais. Para tanto, o presente artigo divi-
de-se em três etapas. Na primeira, é feito um estudo do histórico da Lei nº. 13.964/2019 e do acordo
de não persecução penal e sua origem administrativa; em um segundo momento, far-se-á uma sucinta
revisão de mecanismo de barganha e justiça negocial no direito comparado (Estados Unidos, Alema-
nha e Itália); por fim, retoma-se o exame do acordo de não persecução penal, mediante um estudo
mais crítico de sua proposta original e eventuais consequências no ordenamento jurídico brasileiro,
frente à expansão desses espaços de negociação penal, além de apresentar a percepção prévia de al-
guns operadores do Direito deste novel instituto que ainda não possui resultados concretos passíveis
de mensuração capazes de ilustrar as conclusões teóricas prévias.
Por se tratar de uma trabalho de cunho eminentemente descrito-explicativo, as técnicas de
pesquisa empregadas são a análise documental, relativa à revisão das propostas legislativas e ad-
ministrativas, e a revisão bibliográfica, de modo a efetuar um estudo crítico dos temas abordados,
especialmente os espaços de barganha.

2 Do acordo de não-persecução penal

O acordo de não persecução penal (ANPP) é um instrumento de justiça penal negocial intro-
duzido por meio da Lei nº. 13.964/19 no ordenamento jurídico brasileiro, estando previsto no art.
28-A, CPP. No entanto, a lei tratou de formalizar e legalizar uma proposta administrativa do Conselho
Nacional do Ministério Público, em resposta às críticas comumente recebidas pela doutrina.

2.1 Da resolução nº. 181/2017/CNMP

Antes mesmo do advento da Lei nº. 13.964/19, havia mecanismos informais, e de certa forma,
ilegais, de flexibilização da obrigatoriedade da ação penal nos crimes de ação pública incondiciona-
da. Em 2017, foi expedida a Resolução nº. 181/2017 pelo Conselho Nacional do Ministério Público
(CNMP) que, em seu art. 18, orientava as promotorias de justiça criminal a não denunciar os suspei-
tos de crimes cometidos sem violência ou grave ameaça, desde que tenham concordado em confessar
os delitos, de forma suficiente, bem como atender a uma série de obrigações. Trata-se de um contrato
estabelecido entre o suspeito e o Parquet e que seria incluso nos auto, cujo cumprimento implicaria
o pedido de arquivamento do expediente à autoridade judicial; seu inadimplemento, por sua vez,
ensejaria o ajuizamento da denúncia respectiva. Tratava-se acordo restrito às partes, sem qualquer
participação do Poder Judiciário a respeito das suas condições (BRASIL, 2017).

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Do acordo de não-persecução penal (art. 28-A, CPP): algumas considerações iniciais

Apesar da ausência de previsão legal, medidas que buscassem a redução do encarceramento fo-
ram bem vistas, bem como a mitigação o princípio da obrigatoriedade da ação penal incondicionada,
visto que, como é notório, inúmeros delitos não são apurados judicialmente, por razões diversas, esva-
ziando a política criminal que subjaz ao dito princípio, além de não se configurar como uma política
criminal racional e humana diante das características do cenário pátrio (DUCLERC, 2016, p. 190). No
entanto, as críticas feitas relacionam-se à manutenção da discricionariedade ministerial, pois o ofere-
cimento do acordo de não persecução era uma faculdade do Ministério Público, e não uma opção da
defesa, além da inexistência da previsão de recurso em caso de indeferimento, fosse ele administrativo
ou judicial (VASCONCELLOS, 2017).
Todavia, em 24 de janeiro de 2018, o art. 18 foi integralmente reformado por meio da edição da
Resolução nº. 183 do próprio CNMP, que aprimorou a redação anterior do artigo, introduzindo no-
vos elementos, porém, no sentido de redução das hipóteses de cabimento do acordo. Anteriormente,
qualquer delito cometido sem violência ou grave ameaça era passível de acordo, agora, apenas aqueles
com previsão de pena mínima inferior a 4 (quatro) anos. Algumas das críticas anteriores foram res-
pondidas, tais como a ausência de apreciação judicial; agora, o acordo será submetido à homologação
pelo Judiciário. Em caso de negativa, os autos seriam remetidos ao Procurador-Geral de Justiça para
oferecimento da denúncia, reformulação ou manutenção do acordo. A vítima, antes excluída comple-
tamente da relação, recebe uma cópia do acordo. Por fim, as disposições da Resolução não se aplicam
aos delitos militares.

2.2 Da lei nº. 13.964/2019 (“pacote anticrime”)

A Lei nº. 13.964/19 é fruto do Projeto de Lei nº. 10.372, proposto em 06 de junho de 2018, pelo
deputado federal José Rocha (PR/BA). Ele foi conhecido popularmente como “pacote anticrime”, visto
que seu objetivo original seria o de aperfeiçoar a legislação penal brasileira e incrementar o combate
a delitos como tráfico de drogas, milícia privada, hediondos e outros. O PL é fruto de um trabalho de
uma comissão de juristas que começou em outubro de 2017, sendo presidida pelo Min. Alexandre de
Moraes.
Diversas entidades de classe relacionadas ao Direito e à Segurança Pública participaram dos
debates. Segundo a exposição de motivos do PL, ao mesmo tempo em que se propunha o aperfeiçoa-
mento da criminalidade organizada, pretendeu-se otimizar a atuação do Poder Judiciário e abrandar
o caos penitenciário decorrente da criminalidade individual, quando dos casos de delitos cometidos
sem violência ou grave ameaça, pois estes delitos representariam cerca de 1/3 do total de apenados no
país, sendo o restante igualmente dividido entre acusados por tráfico de drogas e crimes violentos.
Logo, como forma de “desafogar” o sistema criminal, foi proposta a “oficialização” e “legalização” dos
acordos de não persecução penal já celebrados pelo Ministério Público (BRASIL, 2018).
Em fevereiro de 2019, o, então, Ministro da Justiça e Segurança Pública, e ex-juiz federal, Sergio
Moro, enviou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei nº. 889, cujo intuito era semelhante ao PL nº.
10372/2018.
Consta na exposição de motivos de sua proposta que sua principal finalidade era conferir maior
agilidade aos feitos penais, especialmente a imposição e cumprimento de penas e medidas sanciona-
tórias, de modo a adequar a legislação penal à realidade forense brasileira. No que tange ao acordo de
não persecução penal, o ex-ministro defendeu que a ampliação dos espaços de justiça penal negocial
era um tendência mundial e que não poderia ser desprezada, além de citar os resultados positivos
dos acordos de delação premiada celebrados na Operação Lava-Jato. Ademais, segundo ele, a obri-
gatoriedade da ação penal seria um instituto já superado e que não mais corresponderia à realidade
brasileira. Por fim, a homologação judicial seria um pré-requisito para conferir segurança jurídica do
acordo celebrado (BRASIL, 2019b).
O projeto do ex-Ministro da Justiça também previa um acordo quanto à sentença, porém, ele foi
rejeitado (CHEKER, 2020, p. 370).

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Roberta Schaun e William de Quadros da Silva

O PL nº. 889/2019 foi anexo ao PL nº. 10.372/2018 e, em 04 de dezembro de 2019, por maioria
significativa dos membros da Câmara dos Deputados (408 votos favoráveis), foi aprovada a nova le-
gislação, tornando-se a Lei nº. 13.964/2019 e que foi publicada no dia 24 de dezembro, com previsão
de entrada em vigor dentro de 30 (trinta) dias, isto é: 23 de janeiro de 2020 (BRASIL, 2019a).
O acordo de não persecução penal encontra-se disciplinado no art. 28-A do Código de Processo
Penal e seu teor é quase idêntico à redação da versão atualizada do art. 18 da Resolução nº. 181/2017/
CNMP, mas com sutis mudanças, com o objetivo de ampliar as hipóteses de cabimento do acordo e
afastar alguns requisitos impeditivos.
Uma sutil, mas relevante alteração feita pela Lei nº. 13.964/2019 relaciona-se ao descumprimento
do acordo: com a sua rescisão, ocorre a interrupção da prescrição em relação aos crimes investigados
que se encontrava suspensa desde a homologação, sem maiores prejuízos à persecução penal (FER-
REIRA, 2020, p. 320).

2.3 Transação penal e o acordo de não-persecução penal: algumas sutis distinções

Um pequeno, mas importante item, merece destaque, pois pode passar despercebido mediante
uma leitura rápida.
Inicialmente, a Resolução nº. 181/2017/CNMP exigia que o investigado confessasse formal e
detalhadamente a prática do crime, indicando as respectivas provas do seu cometimento, contudo,
em 2018, após o advento da Resolução nº. 183, a exigência passou a ser de uma confissão formal e cir-
cunstancial, sem a necessidade da comprovação do referido delito, diferentemente do que ocorre em
relação à colaboração premiada (ALEXANDRE WUNDERLICH ADVOGADOS, 2020, p. 8).
O art. 28-A conta com essa redação agora. Isso implica que o acordo de não persecução penal
é uma forma de admissão da culpa, ainda que destituída de todo o acervo probatório capaz de uma
sentença condenatória, porém, não irá pesar para fins de reincidência, eis que não irá constar nos res-
pectivos antecedentes criminais. O acordo difere da transação penal, pois ele exige a assunção de culpa
e confissão do investigado, ao contrário da transação penal. O art. 28-A impõe esse ato processual e
que servirá como prova da materialidade delitiva para quaisquer fins, diversamente da transação, nos
termos do art. 76, Lei nº. 9099/95 (BRASIL, 1995).
A confissão formal poderia ser utilizada na hipótese do acordo ser rescindido? Novamente, a lei
é silente, portanto, o adequado seria a ratificação judicial do ato, para servir como prova acusatória
(ALEXANDRE WUNDERLICH ADVOGADOS, 2020, p. 6).
Tanto o acordo quanto a transação penal não servem para a configuração da reincidência, deman-
dam homologação judicial para que se proceda a um juízo de proporcionalidade e adequação. Havendo
recusa judicial, o feito será remetido à PGJ, sendo igual o procedimento caso não seja ofertada a transação
penal, pois, conforme entendimento pacífico da jurisprudência pátria, constitui-se em direito público-
subjetivo do acusado, não podendo o Ministério Público deixar de propor, se preenchidos os requisitos
legais (LOPES JÚNIOR, 2010b, p. 243-244); contudo, no tocante ao acordo de não persecução penal,
por se tratar de um instituto recente, não existe um posicionamento da doutrina e/ou da jurisprudência.
Quanto ao posicionamento do Ministério Público, também existem divergências. E, por se tra-
tar de um ato de competência exclusiva do órgão ministerial, caberá ao superior hierárquico o exame
da legitimidade dessa recusa, que deverá ser fundamentada (ALEXANDRE WUNDERLICH ADVO-
GADOS, 2020, p. 9-11; SOUZA, 2020, p. 251). Logo, para não haver conflitos, bem como conceder
mais segurança ao investigado e aos membros, espera-se a adoção de uma política una e institucional
pelo Parquet estadual e federal quanto às hipóteses para a sua não celebração, com motivos objetivos
(ABRAAO, LOURINHO, 2020, p. 341), de modo a priorizar os casos relevantes.
O oferecimento de transação penal é uma etapa prévia à denúncia no rito dos juizados especiais
criminais, podendo configurar a nulidade do processo em caso de não-oferecimento, contudo, com
relação ao acordo de não persecução penal, a pergunta diz respeito aos processos em tramitação. Sim,
pois se trata de uma norma de dupla natureza (penal e processual penal) e, por consequência, mais be-
néfica ao réu, logo, pode retroagir (LOPES JÚNIOR; JOSITA, 2020, MAZLOUM; MAZLOUM, 2020).

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Outra importante questão a ser decidida é o limite temporal para a celebração do acordo, ante
a ausência de disciplina legal, nos processos já em curso. Não existe um entendimento por parte do
próprio Ministério Público, havendo divergências entre os órgãos estaduais e federal. Existe uma linha
que defende o oferecimento da denúncia, indicando a ausência de interesse ministerial/impossibili-
dade jurídica, semelhante ao caso alemão, quando o processo se torna público; outra linha considera
a sentença, pois é a etapa processual em que a culpa restaria parcialmente formada, com o arbitra-
mento da pena ao caso concreto (ALEXANDRE WUNDERLICH ADVOGADOS, 2020, p. 4-5). Igual
raciocínio pode ser feito se o acusado fizer jus ao acordo ao longo da instrução, ou mesmo depois de
proferida a sentença (FARACO NETO; LOPES, 2020, p. 24).
O acordo de não persecução penal, na ótica de Bruno Calabrich, não é um meio de defesa do acu-
sado a ser utilizado de forma estratégica, portanto, compete-lhe requerer ao juízo o exame a respeito da
possibilidade de sua celebração quando surgir a oportunidade ou for o momento de sua manifestação
processual, sob pena de preclusão do direito (CALABRICH, 2020, p. 358). De qualquer forma, a decisão
sobre a celebração do acordo fica a critério do Ministério Público, como já referido anteriormente.
A homologação do acordo de não persecução penal deverá ser feita em audiência, nos moldes
da transação penal (SOUZA, 2020, p. 254).
Desse modo, poderia a defesa requerer ao juízo que o órgão acusatório se manifeste a respeito da
possibilidade do acordo antes de dar prosseguimento ao feito. De qualquer forma, é preciso esperar o
posicionamento a ser adotado por nossas Cortes Superiores a respeito da matéria.

2.4 Da ação declaratória de inconstitucionalidade (adi) nº. 6.305/df

Tão logo a Lei nº 13.964/19 tenha entrado em vigor no dia 23 de janeiro de 2020, foram ajuiza-
das, quase que em sequência, quatro ações declaratórias de inconstitucionalidade (ADI), tendo como
foco principal a figura do juízo de garantias. As ações foram ajuizadas por dois partidos políticos (Po-
demos e Partido Social Liberal – PSL) e três entidades de classe (Associação Nacional dos Membros
do Ministério Público – CONAMP e Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB e Associação dos
Juízes Federais do Brasil – Ajufe). Apenas a ADI nº 6.305, de autoria do CONAMP, tem como objeto
o art. 28-A e o acordo de não persecução penal.
Em breve síntese da inicial, a entidade aduz que cabe ao Ministério Público a determinação de
todos os termos do acordo, especialmente aqueles relacionados à prestação de serviços comunitários
e prestação pecuniária, além do local de sua execução, e não o juízo da execução (art. 28-A, III e IV),
eis que o acordo não versa sobre uma pena judicial propriamente dita, mas obrigações de um contrato
estabelecido entre as partes. Ademais, trata-se de um poder-dever destinado ao Parquet como forma
de não exercício de sua função acusatória e constitucionalmente estabelecida. Também há insurgência
quanto aos limites da homologação judicial, pois o mérito do acordo feito não poderia ser objeto de
apreciação pelo Judiciário, mas apenas as questões formais, como prevê a norma contida no art. 28-A,
§§ 5º a 7º. Ao final, requerem a concessão de liminar para suspender os respectivos dispositivos legais
(BRASIL, 2020b).
A decisão proferida pelo Min. Dias Toffoli na Medida Cautelar na ADI nº 6.298/DF não faz
qualquer menção ao acordo de não-persecução penal, mas tão somente ao juízo de garantias. O rela-
tor das quatro ações é o Min. Luiz Fux que, ao apreciar a matéria, não concedeu a liminar pleiteada,
aos seguintes argumentos: a) inexistência de fumus boni iuris; b) a medida prevista no art. 28-A, § 5º,
pode ser interpretada como um sistema de “freios e contrapesos”; c) o juízo irá se limitar a não homo-
logar o acordo e não redigir seus termos, prerrogativa essa exclusiva do Ministério Público. A decisão
foi proferida na Medida Cautelar na ADI nº. 6.299/DF (BRASIL, 2020a).

3 Da barganha no direito comparado

A realização de acordos entre as partes no processo penal já uma realidade no Brasil. O ANPP é
apenas mais um exemplo da expansão mundial, pois essas medidas não mais se limitam aos países de
tradição jurídica common law, sendo os Estados Unidos da América seu exemplo mais ilustrativo. Na

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Europa, países de tradição jurídica civil law, como a Alemanha e a Itália também passaram a prever
formas de acordo processual penal, cada qual mais adequado as suas realidades e culturas jurídicas.
O modelo norte-americano é único no mundo, pelo que se sabe. O ANPP brasileiro, por sua vez, é o
produto da influência de vários instrumentos de barganha.

3.1 Estados Unidos da América

Os institutos de justiça penal negocial originaram-se nos Estados Unidos da América, tendo
como justificativa aliviar a sobrecarga do Poder Judiciário e, com o tempo, difundiram-se mundo
afora, vindo a influenciar os rígidos sistemas jurídicos de tradição civil law, como o Brasil, Alemanha
e Itália (GIACOMOLLI, 2016b, 317). No Velho Continente, destaca-se a Recomendação nº. 18 do
Conselho da Europa, que busca incentivar a doção de medidas consensuais de resolução de conflitos
penais em detrimento a um processo judicial tradicional (SOUZA, 2020, p. 235).
Não é possível se fazer uma exposição de todas as características da barganha no processo pe-
nal norte-americano, contudo, a título meramente ilustrativo, de modo a contextualizar o presente
artigo, pode-se afirmar que não existem limites aos acordos. As partes dispunham de total autonomia
e independência para formular os termos de sua proposta, não havendo restrição quanto à natureza
dos delitos imputados aos acusados, bem como ao quantum de pena. Trata-se de um exemplo de
observância máxima do princípio da oportunidade processual penal, em oposição ao princípio da
obrigatoriedade, e que não ocorre em outros ordenamentos jurídicos, nos quais a lei impunha limites
formais e materiais aos acordos (princípio da legalidade), determinando o que pode ser ou não objeto
de negociação, além de exigir, por sua vez, a respectiva homologação legal para que surta efeitos (VAS-
CONCELLOS, 2015, p. 34-42).
Nos Estados Unidos, por exemplo, uma pessoa pode cumprir uma pena desde que confesse um
delito e concorde com a promotoria o tempo de prisão, pois há a presunção da observância de seus direi-
tos e garantias fundamentais, se representada por um advogado. A confissão, por sua vez, não implica,
necessariamente, a admissão da culpa penal para outros fins, o que apenas demonstra o quão complexo
é o sistema de plea bargain estadunidense, visto que, em outros ordenamentos, é vedado o cumprimento
de pena sem um mínimo de justa causa processual previamente averiguado. Logo, a proposta de não
persecução penal é deveras comum nos Estados Unidos, não estando restrita a um rol de crimes, como
ocorre no Brasil. As sanções, em caso de descumprimento, igualmente são acordadas entre as partes.
Por tal razão, cerca de 10% (dez por cento) dos casos criminais vão a julgamento, incluindo hipóteses de
crimes graves, como estupros, homicídios, sequestros e afins. (GIACOMOLLI, 2016b, 318-319).
Aqui, a eficiência penal é sinônimo de condenações, de punição, não havendo uma maior
preocupação com um modelo de reparação de danos (VASCONCELLOS, 2015), diferentemente dos
objetivos do instituto brasileiro, que se preocupou em reintroduzir a vítima no processo penal, antes
um mero objeto, um meio de prova e agora de titular de direitos que merecem tutela, um tema que
tem sido objeto de recentes debates na doutrina processual penal (GIACOMOLLI, 2016a; SOUZA,
2020, p. 240).

3.2 Alemanha

Na Alemanha, o instituto da barganha processual penal e medidas correlatas ainda é recente,


tendo em vista a cultura jurídica do país.
Durante a fase de investigação preliminar, é possível que as partes possam acordar a respeito da
suspensão do processo, sem a necessidade de homologação judicial, mas desde que atendidos os requi-
sitos legais, tais como a ausência de interesse público à persecução penal oficial, quando a culpabilidade
for ínfima ou a pena mínima cominada for inferior a 1 (um) ano (GIACOMOLLI, 2016b, p. 323).
Os acordos são fruto de uma série de condições fáticas, por exemplo: dificuldades probatórias
para se obter uma condenação; o aumento da complexidade dos casos criminais; aprimoramento da
defesa técnica e, especialmente, a sobrecarga do sistema judiciário devido ao expansionismo penal e a
criminalização de condutas, antes, atípicas (VASCONCELLOS; MOELLER, 2016, p. 16-17).

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Do acordo de não-persecução penal (art. 28-A, CPP): algumas considerações iniciais

A legislação processual penal germânica foi alterada em 2009, com o objetivo de formalizar uma
prática informal que já era comum no dia a dia forense: os acordos entre o Ministério Público e a de-
fesa, com a respectiva homologação judicial e que tinham como objeto a fixação da pena máxima a ser
arbitrada na sentença, mas não exatamente o seu quantum, cujo cálculo ficava a critério do juiz e que
deveria cumprir o que fora acordado entre a acusação e a defesa. Com o tempo, esses acordos, antes a
exceção, passaram a ser a regra, chegando a serem firmados em, até mesmo, 50% (cinquenta por cen-
to) dos casos, e que geralmente envolviam, especialmente, delitos penais econômicos e criminalidade
organizada (VASCONCELLOS; MOELLER, 2016, p. 20-22).
Os acordos alemães eram apenas informais e ilegais, mas praticamente secretos, sem o conhe-
cimento do público, apenas das partes envolvidas. Foi a partir de uma “denúncia anônima” que eles
deixaram de ser clandestinos, tornando-se objeto de franco debate doutrinário e jurisprudencial
(CHEKER, 2020, p. 370).
No entender do Tribunal Constitucional Alemão, esses acordos ilegais não seriam nulos, desde
que respeitados os direitos e garantias constitucionais dos acusados, bem como os demais postulados
do ordenamento jurídico pátrio. Em suma: um acordo ilegal, sem demonstração de prejuízo, seria
constitucional (GIACOMOLLI, 2016b, 232-324). Em outras palavras, trata-se de estabelecer as pre-
missas mínimas de um devido processo penal consensual constitucional (CUNHA, 2020, p. 297).
O recebimento da denúncia é o limite processual para que as partes possam acordar entre si,
visto que, após esse marco, a persecução penal se torna pública, impondo ao juiz a sua condução,
reduzindo substancialmente os espaços de livre atuação entre o Ministério Público e a defesa (VAS-
CONCELLOS; MOELLER, 2016, p. 16-17).
E, de forma semelhante a outros países de tradição civil law, o acordo não pode implicar a ad-
missão de culpa pelo acusado, sem uma respectiva sentença condenatória, devidamente fundada com
um lastro probatório suficiente, tal como corre com o plea bargain norte-americano. A confissão é um
ato processual com outras consequências jurídicas (VASCONCELLOS; MOELLER, 2016, p. 17-18).
Após 2009, são características do acordo (absprachen) na Alemanha: a) confissão do acusado; b)
limitação à sentença; c) determinação dos limites máximos e mínimos da pena; d) a voluntariedade do
acusado e do Ministério Público, com homologação judicial; e) os efeitos da sentença condenatória;
f) o juiz pode não homologar se considerar a pena insuficiente ou excessiva (GIACOMOLLI, 2016b,
324).

3.3 Itália

Inicialmente, cabe destacar que o atual código de processo penal italiano data de 1988, sendo
o resultado de um longo debate, com o objetivo de adequar a legislação processual penal nacional à
Constituição de 1947. O atual código revogou completamente o anterior (Código Rocco), de 1930,
de inspiração napoleônica e que serviu de modelo ao código de processo penal brasileiro de 1941.
Procurou-se substituir o modelo inquisitorial por um acusatório (VASCONCELLOS; CAPPARELLI,
2015, p. 437-438).
A transição não foi pacífica, pois ainda subsistia uma forte resistência cultural por parte do
Poder Judiciário que defendia a antiga legislação, de modo que o novo código foi objeto de diversas
ações no qual se discutiu a constitucionalidade de seus dispositivos, visto a redução de seus poderes,
conferindo maior liberdade às partes na condução do processo. Esses debates resultaram na positi-
vação, junto à Carta Política italiana, dos princípios orientadores da novel legislação, por exemplo: o
sistema acusatório, a imparcialidade judicial (VASCONCELLOS; CAPPARELLI, 2015, p. 437-443)
Uma das principais e mais inovadoras alterações do novo código dizia respeito à possibilidade
de acordos (ou consenso) (patteggiamento) no processo penal, medida já introduza anteriormente na
legislação e agora reforçada, e que poderia ter por objeto a pena ou o rito processual. A justificativa
para essa mudança legislativa também fora de ordem econômica: conferir maior eficácia ao sistema de
justiça criminal, com primazia aos crimes complexos e violentos, mas sem deixar de dar uma resposta
estatal aos delitos menores, além de reduzir o encarceramento. Também foi debatida a conveniência
do princípio da ação penal pública incondicionada (GIACOMOLLI, 2016b, p. 322).

Revista da Faculdade de Direito da FMP, Porto Alegre, v. 15, n. 1, p. 105-113, 2020. 105
Roberta Schaun e William de Quadros da Silva

Em qualquer uma das previsões legais, exige-se a participação do acusado: a) seja para aceitar a
pena imposta nos delitos de menor gravidade e julgados sumariamente; b) seja para estabelecer o rito
processual, abreviando-se o processo, ainda que com discordância do órgão julgador, pois se trata de
direito público subjetivo do acusado; c) seja para negociar a pena a ser imposta, a pedido da defesa
e em concordância do órgão acusatório, a delitos com pena máxima de 5 (cinco) anos. O Ministério
Público não pode se negar ao pleito defensivo sem justificativa, pois também se trata de um direito
público subjetivo do acusado. O pattegiamento é uma medida prevista como forma de encerrar o
processo, após a instrução, por isso, a participação do Poder Judiciário, caso constate que a recusa
ministerial é ilegítima, não podendo ele também negar o pedido defensivo, sob pena de quebra da
imparcialidade judicial, como já determinou a Corte Constitucional Italiana. No mesmo sentido, A
Corte julgou constitucional o exame de proporcionalidade dos termos do pattegiamento, isto é, se
pena proposta seria por demais elevada ou baixa, podendo adequar os termos ao caso concreto. O
Judiciário fica incumbido do exame formal e material do acordo estabelecido, não havendo qualquer
violação à imparcialidade (VASCONCELLOS; CAPPARELLI, 2015, p. 445-447).
O acordo quanto ao rito é formalizado após a audiência preliminar de oferecimento e recebi-
mento da denúncia e que encerra a fase pré-processual. Havendo acordo quanto ao rito, o processo
será julgado com base no acervo probatório produzido até então, não podendo as partes alegar cercea-
mento de seu direito de produzir novas provas, caso o resultado seja-lhe desfavorável (GIACOMOLLI,
2016b, p. 322).
Na doutrina italiana, ainda existe forte resistência aos modelos de justiça negocial, pois, ela
não possuiria conformidade constitucional e à cultura processual do país, visto que não caberia ao
processo penal legitimar a punição estatal, mas sim controla-la, ser um instrumento de resistência
(VASCONCELLOS; CAPARELLI, 2015, p. 450-451).

4 Da barganha no processo penal brasileiro: considerações sobre o acordo de não-persecução


penal

Compreendidos os motivos da introdução do acordo de não persecução penal no Brasil e de


um breve contato com institutos similares no direito comparado, é possível, agora, se tecer algumas
considerações sobre o modelo brasileiro de acordo, muito mais amplo do que a transação penal, an-
teriormente referida.

4.1 Do acordo de não-persecução penal: algumas reflexões à luz do ordenamento jurídico


brasileiro

O acordo de não persecução penal não se trata de figura completamente inédita no ordenamen-
to jurídico pátrio; representa mais uma forma de justiça negocial e barganha no processo penal, indo
ao encontro da tendência mundial de redução da judicialização da resolução dos feitos criminais e
otimização da própria justiça penal (BRANSALISE, 2019, p. 223). Neste sentido, no Brasil, além da
já citada transação penal, prevista na Lei nº. 9.099/95, pode ser mencionado o acordo de colaboração
premiada (Lei nº. 12.850/13), um verdadeiro contrato entre a acusação e a defesa a respeito dos fa-
tos em investigação, havendo a estipulação de deveres e direitos mútuos, com a previsão da redução
de pena, ou mesmo a extinção da punibilidade, ao final do processo, para o acusado colaborador. A
distinção reside na participação do juízo (DE-LORENZI, 2019). Portanto, não se pode mais alegar
qualquer óbice quanto à constitucionalidade da medida, dentre eles, eventual ofensa ao devido pro-
cesso legal, visto que a justiça negocial é um gênero, sendo o acordo uma de suas espécies, como a
transação penal (CUNHA, 2020, p. 294).
Tanto a transação penal quanto a colaboração premiada possuíam disciplina legal, com previsão
mínima dos prêmios e das obrigações a serem assumidas pelo réu, bem como a participação do juízo
na homologação das cláusulas estipuladas, o que não ocorria em relação ao acordo de não-persecução
penal celebrado com base na Resolução nº. 181/2017/CNMP. A possibilidade de rejeição das cláusulas
tolhia a voluntariedade das partes, com o risco da pena cominada ser idêntica às obrigações propostas,

Revista da Faculdade de Direito da FMP, Porto Alegre, v. 15, n. 1, p. 106-113, 2020. 106
Do acordo de não-persecução penal (art. 28-A, CPP): algumas considerações iniciais

mas com a diferença do reconhecimento da culpa penal, além da possibilidade da vítima ajuizar uma
ação penal privada subsidiária da pública em razão da inércia ministerial, visto que o acordo, ainda
que não oficial, representaria a mitigação da obrigatoriedade do exercício da ação penal incondicio-
nada. Ademais, prova da autonomia das partes dizia respeito à faculdade do acordo ser exclusiva do
Parquet e não um direito do acusado (GARCIA, 2018).
Sobre o acordo de não persecução, um antecedente histórico não pode ser igualmente despreza-
do, para que se possa compreender, globalmente, toda a matéria e as questões subjacentes relacionadas.
A Resolução nº. 181/2017/CNMP, que revogou a Resolução nº. 13/2006, foi aprovada após o
Supremo Tribunal Federal ter declarado a constitucionalidade dos procedimentos de investigação
criminal (PICs), presididos exclusivamente pelo Ministério Público e não pela autoridade policial. A
Corte, no entanto, estipulou que esses procedimentos deveriam possuir limites, até mesmo para sal-
vaguardar os direitos dos investigados. Dessa forma, encerrada a investigação, poderia o Ministério
Público fazer um acordo com o suspeito, com vistas à reparação dos danos causados e concentrar os
esforços dos órgãos de persecução penal no combate à criminalidade grave, organizada e outros fatos
de maior relevância social.
A proposta de acordo foi formulada com base nas diretrizes do direito alemão acima estudado.
Todavia, em que pese ter havido prévia deliberação junto aos MPs de cada estado, algumas entidades
se insurgiram contra a Resolução. Judicialmente, ela foi objetivo das ADI nº. 5.790/DF, de autoria da
AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) e ADI nº. 5.793/DF, proposta pela Ordem dos Advo-
gados do Brasil. Ambas as ações estão sob relatoria do Min. Ricardo Lewandowski e sem previsão de
pauta pelo Pleno. Uma das causas de pedir foi a alegação da exclusividade da União em legislar so-
bre matéria de direito processual e não podendo uma norma de âmbito administrativo (ANDRADE;
BRANDALISE, 2017, p. 243-244).
No entender de Mauro Andrade e Rodrigo Brandalise, o acordo de não persecução penal en-
volve duas questões complementares e conflitantes entre si. Ao mesmo tempo em que o Parquet é o
titular da ação penal, não cabe a ele violar os direitos das vítimas de verem processados seus agressores,
situação que pode ser contornada por meio da ação penal privada subsidiária. Quanto à titularida-
de da ação penal, adimplidas as obrigações estipuladas, o interesse de agir restaria superado, pois a
condenação pleiteada pelo Estado já teria sido cumprida indiretamente, visto que a ordem jurídico-
constitucional fora restabelecida. Todavia, uma pena não pode ser objeto de acordo, mas sim decorrer
de de uma sentença judicial. No tocante à ação penal manejada pelas vítimas, ela não é cabível quando
o órgão acusatório opina pelo arquivamento do inquérito, seja por ausência de indícios de autoria e/
ou materialidade; no entanto, não é o que se sucede com o acordo de não persecução, pois ele exigia
a admissão de culpa e comprovação do crime, portanto, o não ajuizamento da denúncia implicava
inércia ministerial passível ser corrigida por meio da ação penal privada (ANDRADE; BRANDALISE,
2017, p. 253-256).
Tais considerações, por sua vez, podem estar esvaziadas, diante da introdução do acordo no
código de processo penal. Estaria superado o óbice da competência legislativa, eis que foi criado por
meio de uma lei ordinária; seus requisitos foram disciplinados legalmente, limitando-se eventual es-
paço de discricionariedade ministerial, ante a possibilidade de revisão judicial para homologação de
seus termos. Por fim, adimplidas as condições, o efeito jurídico é a extinção da punibilidade e não
o arquivamento do inquérito, fazendo coisa julgada material e não formal, o que impossibilita que a
vítima possa ajuizar uma ação própria, ante a inércia ministerial.
Além das questões acima trazidas, novamente é feita a invocação aos princípios da titularidade
da ação penal, da defesa do sistema acusatório e da eficiência da justiça criminal com o intuito de se
justificar o acordo de não-persecução penal. Por ser o dominus litis, caberia ao Ministério Público
decidir a respeito da conveniência ou não do ajuizamento da ação penal (SOUZA, 2020, p. 243).
A eficiência da justiça criminal é o objetivo principal da justiça negocial, desde que ela fora
introduzida no ordenamento jurídico norte-americano e difundiu-se gradualmente pelo redor do
globo. Eficiência no sentido de se destinar recursos ao enfrentamento dos crimes graves e de reper-
cussão social; despesas de recursos humanos, materiais e de tempo da própria justiça criminal, antes
desperdiçado com delitos de menor complexidade. A mitigação da obrigatoriedade da ação penal fez

Revista da Faculdade de Direito da FMP, Porto Alegre, v. 15, n. 1, p. 107-113, 2020. 107
Roberta Schaun e William de Quadros da Silva

com que o Poder Judiciário, por sua vez, fosse o protagonista do sistema criminal, pois, não concor-
dando com o pedido de arquivamento, os autos seriam remetidos para que outro agente ministerial
fosse incumbido da persecução penal, além de que, apenas a sentença criminal oficial seria capaz de
atender a todos os interesses em jogo.
Contudo, a partir da Constituição Federal de 1988, o Ministério Público assumiu o protago-
nismo que se espera dele na administração da justiça criminal, junto aos órgãos de polícia e, não por
menos, dos acusados, eis que não compete ao Poder Judiciário a implantação de políticas de segurança
pública. Assim, caberia ao Parquet, diante do caso concreto, averiguar a conveniência do processo pe-
nal diante de um quadro maior de oportunidades, pois, novamente, com a novel Magna Carta, restaria
afastado o ideal punitivo-inquisitorial da antiga legislação. E, no que tange à eficiência da justiça cri-
minal, a vítima, igualmente, não estaria desemparada, pois a reparação do dano sofrido seria um dos
pré-requisitos para a celebração do acordo. Nesta esteira, à luz da justiça restaurativa, os acordos de
não-persecução evitam o encarceramento indevido, uma das causas do incremento da criminalidade
violenta: a superlotação prisional. Materialmente, o acordo é benéfico a todos os envolvidos (SOUZA;
CUNHA).
A situação ilustrada acima seria (aparentemente) contraditória. Por meio do acordo de não
persecução penal, busca-se combater a superlotação carcerária e, ao mesmo tempo, procede-se à re-
paração do dano (GODOY; MACHADO; DELMANTO, 2020). A meta de eficiência da justiça penal
seria alcançada, aprisionamento, sua principal expressão simbólica (MENDES, 2017).
Questões de direito penal também influenciam os mecanismos de justiça negocial como o acor-
do de não persecução penal. Partindo-se das teorias de merecimento da pena, muitas vezes a sanção
abstratamente prevista é desproporcional à lesão ao bem jurídico, sanção agravada tramitação do
processo judicial, cujo fim seria inócuo frente à proposta original. Não se trata de reconhecer a atipi-
cidade da conduta por bagatela, mas sim a insignificância do crime concreto diante de todo o sistema
penal, podendo-se fazer uso de medidas legais mais céleres e proporcionais (DE LORENZI, 2015, p.
241-245); medidas essas que compõem as obrigações do acordo de não persecução penal.
Não se pode olvidar que a proporcionalidade entre pena e delito é um postulado constitucio-
nal. Portanto, é imperioso se questionar se a sanção abstratamente cominada (pena de reclusão, por
exemplo) é proporcional ao crime cometido, isto é, há respeito aos subprincípios da adequação, ne-
cessidade e proporcionalidade em sentido estrito no caso concreto, na esteira da lição de Robert Alexy
(2008, p. 93-103)?
Mais uma vez, percebe-se que as regras, tidas como imutáveis, atendem às políticas criminais da
época de sua edição, portanto, pergunta-se se todos os delitos de ação penal pública incondicionada,
hoje, relacionam-se a bens jurídicos de relevante expressão social ou que envolvem vítimas especiais
bem como outras razões (BOSCHI, 2010, p. 129)? Certamente a resposta é não. Portanto, urge um
novo modelo de processo penal adequado à realidade contemporânea.

4.2 Barganha e justiça negocial no Brasil e o acordo de não-persecução penal

Conforme mencionado anteriormente, trata-se de uma tendência mundial, independentemente


da tradição jurídica (common law ou civil law) a introdução de institutos processais de justiça nego-
cial, inclusive, com inventivo de organismos internacionais. Sua finalidade pode ser resumida a dois
itens: ampliar a eficiência do sistema criminal, mediante uma redução de danos ao acusado, pois, se-
gundo a lógica tradicional, a tramitação de um processo criminal é prejudicial a todos os envolvidos
(SOUZA, 2020, p. 241): custo ao Estado, diante das despesas de recursos humanos e materiais em to-
dos os órgãos de persecução penal; custoso ao Estado, pois tais recursos poderiam ser empregados no
combate à criminalidade organizada, aprimoramento das agências de segurança pública etc; custoso
ao acusado, pois, enquanto perdurar o processo penal, ele mantém a pecha de réu, estando com sua
vida presa a uma indeterminação jurídica, ainda que se trate de um réu confesso e que queira respon-
der pelos seus crimes, pondo fim a este fato em sua vida.

Revista da Faculdade de Direito da FMP, Porto Alegre, v. 15, n. 1, p. 108-113, 2020. 108
Do acordo de não-persecução penal (art. 28-A, CPP): algumas considerações iniciais

No Brasil, o cenário não é diferente dos países que adotaram instrumentos de justiça negocial,
visto que o sistema de justiça criminal convencional (desenhado em outro tempo) não tem sido capaz de
atender às suas finalidades originais (sociais e jurídicas) na sociedade hodierna (SOUZA, 2020, p. 234).
A diferença em cada ordenamento jurídico é o leque de mecanismos de justiça negocial e como
cada país disciplina as possibilidades de barganha, consoante sua cultura jurídica. Problemas ocorrem
quando um país copia um mecanismo existente no estrangeiro, sem atentar às peculiaridades de seu
sistema interno, os denominados “transplantes” ou “importações” processuais (VASCONCELLOS,
2020b, p. 3), sem considerar, igualmente, seus aspectos negativos (TABOSA, 2020, p. 279).
No Brasil, no entanto, ainda é tímido o uso da justiça negocial, muito em razão de incompati-
bilidades culturais e normativas (VASCONCELLOS, 2020b, p. 163), pois ela exige uma nova postura
dos atores envolvidos, uma nova filosofia a respeito da natureza do processo penal em uma sociedade
democrática; que conceda maior poder às partes, com menos intervenção estatal na resolução dos
conflitos judiciais, sendo essa uma das diferenças entre as tradições anglo-saxã e românico-germânica
(MARQUES, 2020, p. 9). E, como bem pontuado por Antonio Scarance Fernandes (2005, p. 187-188),
até mesmo o consenso processual penal é fortemente regrado pela lei nos países de tradição civil law,
onde vige o princípio da obrigatoriedade, que estipula o seu cabimento e limites dos termos do acordo,
ao contrário do que se sucede nos países de tradição common law, caracterizados pela oportunidade,
onde o regramento é mínimo.
Desconsiderando-se os casos relativos à colaboração premiada e suas recompensas, bem como
os acordos de leniência, somente os delitos de pequeno potencial ofensivo de competência dos juizados
especiais criminais possibilitavam a “troca” da pena por medidas capazes de evitar o processamento
formal. A suspensão condicional do processo, por sua vez, era um fato posterior à denúncia, isto é,
quando já reconhecida a justa causa processual penal. Ambos os institutos tinham pouca efetividade
em virtude do reduzido número de delitos nos quais era possível a sua aplicação (delitos punidos
com pena privativa de liberdade de até dois anos ou com pena mínima de um ano, respectivamente).
Também pode-se mencionar a possibilidade da introdução de mecanismos semelhantes aos existentes
na Itália, de modo que o acordo envolva o próprio rito processual, a fim de abreviá-lo (VASCONCEL-
LOS, 2020a, p. 253).
Agora, por meio do art. 28-A, permite-se que delitos cometidos sem violência ou grave ameaça,
cuja pena mínima seja inferior a 4 (quatro) anos de reclusão, em regra, sejam resolvidos de forma
consensual, “desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime”. Tais delitos
representam um número significativo de tipos no universo da legislação penal pátria (VASCONCEL-
LOS, 2020a, p. 253). Contudo, no Brasil, ainda na vigência da Lei nº. 9.099/95, o controle judicial da
transação penal e suspensão do processo era praticamente inexistente, isto é, o acusado encontrava-
se em uma espécie de contrato de adesão, sem possibilidade de negociar com o Ministério Público
condições melhores, então, espera-se que essa má experiência não se repita quanto ao acordo de não
persecução penal (MARQUES, 2020, p. 10).
Essa característica justiça “negocial”, entretanto, não é exclusiva do sistema brasileiro, mas sim
um elemento patogênico da sociedade contemporânea e replicado nos processos judiciais (GIACO-
MOLLI, 2016a, p. 333-335). Havendo negativa por parte da defesa, o processo seguia seu rumo. O
medo de uma condenação indevida, pautada pela inexistência de provas, diante da notória ausência
de justa causa nos juizados especiais criminais (LOPES JÚNIOR, 2010a, p. 368-369), era a motivação
para o aceite inconteste dos termos da transação penal.
A gestão do medo é uma das tarefas da advocacia criminal no processo penal. Se o processo
penal for um jogo (CALAMANDREI, 2002), cabe às partes a escolha das estratégias que melhor aten-
dam aos seus interesses. Essa estratégia deve basear-se nos elementos concretos, jurídicos e fáticos, e
demais variáveis relativas a cada causa, sendo o conhecimento da autoridade sentenciante a princi-
pal delas, visto ser temerário apostar na sorte e na boa vontade alheia (GIACOMOLLI, 2015). Logo,
diante de um cenário de incertezas, opta-se racionalmente pela escolha menos prejudicial, qual seja:
o acordo judicial para redução de danos.
Os crimes graves, violentos, hediondos, com elevadas penas ainda restariam fora de qualquer
mecanismo de barganha judicial, devendo ser apurados por meio do processo penal convencional, no

Revista da Faculdade de Direito da FMP, Porto Alegre, v. 15, n. 1, p. 109-113, 2020. 109
Roberta Schaun e William de Quadros da Silva

qual haverá a defesa dos direitos e garantias fundamentais dos acusados, possibilitando-se um amplo
espaço de produção e discussão probatória. Contudo, já existem propostas de ampliação das possi-
bilidades de barganha para crimes com pena máxima de até 8 (oito) anos (GIACOMOLLI, 2016b, p.
335), ou seja, que cumpririam sua reprimenda no regime semiaberto e não no fechado. Esse é o limite
de qualquer atividade legislativa e jurisdicional em um Estado Democrático de Direito: a defesa, em
última instância, dos direitos e garantias fundamentais dos acusados (STRECK; OLIVEIRA, 2012, p.
104). A questão é: esses direitos são duros, como diamantes, intransigíveis ou, como decidiu o Tribu-
nal Constitucional Alemão, maleáveis, adaptáveis? Apenas o tempo dirá a resposta...

5 Conclusão

Por motivos de política criminal e questões puramente pragmáticas, pautadas na busca de efi-
ciência e redução de custos, os Estados Unidos passaram a adotar medidas de barganha e justiça penal
negocial. Ao longo do tempo, outros países começaram a prever institutos semelhantes, mas não idên-
ticos aos originais norte-americanos, consoante as peculiaridades de sua cultura jurídica e demandas
do sistema criminal.
No Brasil, pode-se dizer que a transação penal e a suspensão condicional do processo, intro-
duzidas por meio da Lei dos Juizados Especiais Criminais, buscaram dar maior efetividade à justiça
criminal, priorizando métodos de resolução de conflitos mais adequados aos crimes de menor poten-
cial ofensivo e que, muitas vezes, sequer seriam merecedores de uma sanção penal tradicional, pois
as respectivas penas não seriam privativas de liberdade, mas exigiam uma resposta estatal, ante sua
natureza jurídica.
A busca de aumento da eficiência da justiça criminal brasileira, priorizando-se a criminalidade
grave e a alocação de recursos humanos e materiais fez com que o Conselho Nacional do Ministério
Público tivesse a ideia de propor a seus membros que não processassem os delitos de menor impor-
tância, de modo a dotar medidas despenalizadoras, mas que, igualmente, tivessem um fim educativo e
reparador. Apesar das críticas formais à época, o embrião da proposta se manteve e veio a dar contor-
nos ao atual art. 28-A do Código de Processo Penal, que introduziu o acordo de não-persecução penal.
As críticas de outrora foram superadas na novel legislação; foram ampliadas as hipóteses de acordo,
reduziu-se o arbítrio ministerial e protegeu-se os direitos do acusado diante de eventual inconformi-
dade da vítima, figura processual igualmente tutelada e que não restou desamparada.
Por se tratar de uma substancial modificação legislativa, é preciso tempo para que se possa
compreender seus impactos na cultura inquisitorial brasileira, isto é, quais serão os termos dos acor-
dos propostos pelo Ministério Público e, por sua vez, o grau de respeito do Poder Judiciário a esses
termos, homologando-se os acordos efetuados. Ademais, a própria advocacia precisará se reinventar
e se adaptar, ante o abrandamento de sua natureza combativa; a resistência, o confronto dará lugar ao
consenso.
A expansão dos mecanismos de barganha e justiça penal negocial são uma realidade, não é pos-
sível se voltar ao cenário anterior. Portanto, resta ao mundo jurídico se adaptar a estes novos tempos
para que haja o seu aprimoramento, sem desrespeito aos direitos de todos os envolvidos.

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