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1. O BATISMO
O apóstolo Paulo em sua epístola a Tito, escreve que a salvação nos foi
dado “mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo...” (Tt 3.5), ou
seja, mediante o Santo Sacramento do Santo Batismo. Neste capítulo queremos
analisar o Batismo como uma obra exclusiva de Deus, o seu proveito e a quem se
destina este meio da graça.
1
REHFELDT, Louis.C. Os Meios da Graça. Casa Publicadora Concórdia. Porto Alegre, 1933. p.2.
2
Ibidem. p.3.
3
Ibidem. p.3.
2
O Batismo é uma instituição divina, sendo uma dádiva de Cristo para a sua
igreja. Através das Sagradas Escrituras, podemos reconhecer que Cristo instituiu o
Batismo, pois há diversas evidências no Novo Testamento, através do que foi dito e
feito por Jesus, de que também o Batismo é uma prática agradável a Deus. Por isso
tem ocupado lugar de destaque na vida da igreja cristã desde os primórdios, com a
sua prática fundamentada na promessa de Jesus Cristo (Mt 28; Mc 10 e Jo 3). 5
A ordem divina de batizar requer sempre água como elemento visível que
deve ser empregado neste sacramento (Jo 3.23; At 8.36), e o uso é necessário para
que o Batismo seja válido. Isso se dá pelo fato de que a água e sua aplicação
constituem elementos essenciais dessa ordem sagrada. 6
Como se pode observar, no Batismo é necessário o uso da água como um
meio visível do sacramento, mas o “cerne da água é a palavra ou o mandamento de
Deus, e o nome de Deus, tesouro maior e mais nobre que céus e terra” 7. E Lutero
enfatiza quando diz que:
4
MUELLER, John Teodore. Dogmática Cristã. Traduzido por Martinho L.Hasse. 4ª edição. Porto
Alegre. Concórdia Editora. 2004. p.420.
5
Ibidem, p. 457.
6
Ibidem, p.454-9.
7
LUTERO, Martinho. Catecismo Menor. In: Livro de Concórdia : as confissões da Igreja Evangélica
Luterana. 6 ed. Tradução e notas de Arnaldo Schüler. São Leopoldo: Sinodal, Canoas: ULBRA, Porto
Alegre: Concórdia, 2006, p. 476.
8
Ibidem, p. 476.
3
Por que e para que foi instituído o Santo Batismo, isto é, qual o seu proveito,
o que dá e opera? Segundo a passagem de Mc 16.16 nas palavras do próprio
Cristo: “Quem crer e for batizado será salvo”, compreende-se que a força, a obra, o
9
MUELLER, John Teodore. Dogmática Cristã. Traduzido por Martinho L.Hasse. 4ª edição. Porto
Alegre. Concórdia Editora. 2004. p.459-460.
10
LUTERO, Martinho. Catecismo Menor. In: Livro de Concórdia : as confissões da Igreja Evangélica
Luterana. 6 ed. Tradução e notas de Arnaldo Schüler. São Leopoldo: Sinodal, Canoas: ULBRA, Porto
Alegre: Concórdia, 2006, p. 376.
11
LUTERO, Martinho. Anotações de Lutero sobre a Epístola de Paulo a Tito. In: Obras
Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal, Canoas: ULBRA, Porto Alegre: Concórdia, 2008. v. 10.
Interpretação do Novo Testamento – Gálatas – Tito. p. 635.
4
proveito, o fruto e o fim do Batismo é salvar, e ser salvo não significa outra coisa
que, liberto do pecado, da morte, do diabo, chegar ao reino de Cristo e com ele viver
eternamente.12
Lutero no Catecismo Menor responde a essa pergunta:
Segundo Lutero apud Warth, esse texto de Marcos é a base para a doutrina
do Batismo referente ao seu proveito, o que dá e opera. E continua dizendo que o
Batismo não é efetivo simplesmente por sua aplicação, mas é necessário que o
batizado creia. A promessa de Deus ligada ao Batismo mediante a Palavra torna o
Batismo efetivo, mas somente recebemos os benefícios através da fé em Jesus
Cristo.14
Sobre essa fé em Jesus, Schlink diz que “O Batismo é para ser recebido
pela fé em Jesus Cristo. Essa fé apóia-se no Evangelho de Jesus Cristo e é a
obediente aceitação desse Evangelho”15. Através desse Evangelho o próprio Jesus
Cristo chama o pecador à fé e informa ao mundo que ele se tornou sua propriedade,
e assim Cristo o chama para que se submeta a Ele como Senhor. 16
E também liga essa fé ao Batismo quando diz que:
12
LUTERO, Matinho. Catecismo Maior. In: Livro de Concórdia : as confissões da Igreja Evangélica
Luterana. 6 ed. Tradução e notas de Arnaldo Schüler. São Leopoldo: Sinodal, Canoas: ULBRA, Porto
Alegre: Concórdia, 2006, p. 477.
13
Ibidem, p. 375-376.
14
WARTH, Martim C. Fé e Batismo em Lutero: a base exegética para a doutrina luterana da
regeneração batismal/ Martins Carlos Warth. Canoas: ULBRA, 2004. p.46.
15
SCHLINK, Edmund. The Doctrine of Baptism. Traduzido por Herbert J. A. Bouman. St. Louis:
Concordia, 1972. p.120-1.
16
Ibidem. p.121.
5
Schlink conclui dizendo que a fé não é obra do homem, pois não é o próprio
homem que efetua a salvação, mas é Deus, que em sua misericórdia alcança o
homem e lhe toma para dentro de sua atividade graciosa. A fé não é um ato
humano, assim como no Batismo o homem vem a um ato no qual ele mesmo não é
o ator, mas sim é um ato de Deus para nos salvar.18
Todo ser humano nasce com o pecado original: “Eu nasci na iniqüidade, em
pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5), e sem nenhuma capacidade de se
aproximar de Deus, ele precisa ser aproximado de Deus. Isso Deus faz através de
certos meios mediante os quais Ele concede a sua graça aos homens. E esses
meios vêm através da Palavra de Deus onde nos é apresentado Cristo, o opus Dei
(obra de Deus). Ele muda o nosso coração de modo que nós cremos e, por essa fé,
somos regenerados.19
E segundo Kolb nos apresenta:
17
SCHLINK, Edmund. The Doctrine of Baptism. Traduzido por Herbert J. A. Bouman. St. Louis:
Concordia, 1972. p.123. “If the Gospel is received by faith, it cannot be done without a desire for
Baptism. For the Gospel concerning Jesus Christ is also the call to Baptism in the name of Christ. In
the approach to Baptism the obedience of faith toward the Gospel is realized. At the same time faith in
the Christ and the approach to Baptism are not side by side without relation to each other.Just as faith
in the Gospel that is heard is faith in the Christ who confronts him in the Gospel, so also Baptism is to
be desired by faith in the saving activity of Christ through Baptism”.
18
Ibidem. p.124
19
WARTH, Martim C. Fé e Batismo em Lutero: a base exegética para a doutrina luterana da
regeneração batismal/ Martins Carlos Warth. Canoas: ULBRA, 2004. p.15.
20
KOLB, Robert. Comunicando o evangelho hoje. Tradução de Dieter Joel Jagnow. Porto Alegre –
RS: Editora Concórdia, 2009. p,172
6
livra o homem do mundo dominado pelo pecado, levando-o para dentro da nova
criação que Cristo traz.21
Como se pode ver, as Sagradas Escrituras ensinam que tanto adultos como
crianças devem ser batizados, não há exceções, pois conforme Rm 2.11 “Porque
para com Deus não há acepção de pessoas”.
Müller enfatiza que “com respeito aos adultos, devem ser batizados os que
crêem em Cristo e o confessam (At 2.41; 8.36-38) e as crianças serão batizadas se
forem trazidas a nós para o Batismo pelos pais ou por pessoas que tenham
autoridade paterna sobre as mesmas. (Mc 10.13-16)”. 22
Kolb afirma que muitas pessoas julgam difícil acreditar no Batismo infantil.
Ele menciona que o principal fator se dá pelo fato de que alguns cristãos de hoje não
acreditam que o nosso afastamento de Deus trouxe tanto estrago e ruína à condição
humana que até mesmo como crianças precisamos de intervenção salvadora de
Deus em nossas vidas. Até mesmo como adultos não podemos com base em nossa
própria razão ou força de vontade modificar a nossa vida. 23
E contrapõe dizendo que:
21
PIETZSCH, Paulo G. O Batismo na Perspectiva Litúrgica e Pastoral. In: Revista Igreja Luterana.
Volume 64, 2005/2. p.30.
22
MUELLER, John Teodore. Dogmática Cristã. Traduzido por Martinho L.Hasse. 4ª edição. Porto
Alegre. Concórdia Editora. 2004. p.466.
23
KOLB, Robert. Comunicando o evangelho hoje. Tradução de Dieter Joel Jagnow. Porto Alegre –
RS: Editora Concórdia, 2009. p.178-9.
24
Ibidem. p.179.
7
porque aqueles aos quais os mistérios divinos foram confiados sabiam que toda
criatura humana é poluída pelo pecado, e que deve ser purificada com a água e o
Espírito. Por isso o corpo é chamado de um corpo pecaminoso e,
conseqüentemente, as crianças também necessitam da remissão dos pecados. 25
O que é decisivo para a prática do Batismo infantil conforme Schlink é a
convicção que:
25
PIETZSCH, Paulo G. O Batismo na Perspectiva Litúrgica e Pastoral. In: Revista Igreja Luterana.
Volume 64, 2005/2. p.31.
26
SCHLINK, Edmund. The Doctrine of Baptism. Traduzido por Herbert J. A. Bouman. St. Louis:
Concordia, 1972. p.143. [...]is the conviction that through Baptism God has mercy also on the children,
makes them Christ’s own, and transfers them by the Holy Spirit from the dominion of sin, death, and
devil into the life of the children of God. No matter how different the statements about the saving
activity of God through Baptism sound in detail, they are all concerned with the certainty of a onetime,
foundational act of God’s grace – an act which determines and embraces the entire subsquent life of
the baptized. Also in later times the practice of infant Baptism was primarily supported by this
certainty, and this certainty is rooted in the baptismal statements of the New Testament.
27
ROTTMANN, Johannes H. Batismo de Crianças. Porto Alegre, Concórdia Ltda, 1982. p.15.
28
Ibidem. p.46.
8
rogamos que Deus lhe dê a fé. Não é, porém, à vista disso que a batizamos, mas
unicamente porque Deus o ordenou”.29
Mesmo que as crianças ainda não possam testemunhar a sua fé em Jesus
Cristo para o mundo, Kolb argumenta que “Nosso relacionamento com Deus não
depende de nossa fé consciente e de nossos pensamentos piedosos. Ela depende
do poder sustentador de Deus”.30
Existe como argumento principal contra o Batismo infantil de que as crianças
pequenas não podem crer. Segundo as Escrituras, crianças podem ter fé, mesmo
que não seja uma fé refletiva (“fides reflexa”), isto é, uma fé que já pode raciocinar
ou tirar conclusões. A fé das crianças é uma fé real, uma fé atual (“fides actualis”),
uma fé que de fato e realmente agarra o objeto de fé, Jesus Cristo, seu Senhor e
Salvador, que apreende as promessas contidas no batismo, e por isso é uma fé que
salva, a única fé que salva.31
Kolb diz que as crianças não expressam uma fé da mesma forma em que os
adultos fazem, pois se sabe muito pouco sobre a força de vontade que elas têm.
Mas o problema da fé das crianças não pode ser resolvido por tentar alegar que a
relação das crianças com Deus é psicologicamente identificada com a dos adultos.
Pois é Deus que ordena o Batismo. Deus age no Batismo. Deus mata e faz viver no
batismo. Ele faz isso para adultos e crianças, pois Ele é o Senhor da morte e da
vida.32
Concluindo, quando batiza crianças, a igreja reconhece que o ser humano
nada pode fazer para ser salvo, mas que a salvação vem exclusivamente na
vontade salvadora de Deus por meio de Jesus Cristo e do poder do Espírito Santo, e
que essa vontade salvadora também se estende às crianças (Mc 10.13-16). 33
29
LUTERO, Matinho. Catecismo Maior. In: Livro de Concórdia : as confissões da Igreja Evangélica
Luterana. 6 ed. Tradução e notas de Arnaldo Schüler. São Leopoldo: Sinodal, Canoas: ULBRA, Porto
Alegre: Concórdia, 2006, p. 482.
30
KOLB, Robert. Comunicando o evangelho hoje. Tradução de Dieter Joel Jagnow. Porto Alegre –
RS: Editora Concórdia, 2009. p.179-180.
31
ROTTMANN, Johannes H. Batismo de Crianças. Porto Alegre, Concórdia Ltda, 1982. p.63-4.
32
KOLB, Robert. The Christian Faith. St. Louis: Concordia Publishing House. 1993. p.225
33
SCHLINK, Edmund. The Doctrine of Baptism. Traduzido por Herbert J. A. Bouman. St. Louis:
Concordia, 1972. p.158.