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BIOFEEDBACK

OBJECTIVOS

1. Introduzir o conceito de biofeedback aplicado a técnicas de relaxamento.

2. Avaliar os níveis de excitação através da medição da frequência cardíaca e da resposta


da condutância galvânica da pele.

INTRODUÇÃO

Recentemente tem-se assistido a um interesse renovado nas interações mente-corpo.


Existem muitos processos no organismo sobre os quais exercemos controlo voluntário. Por
exemplo, se pretendemos beber um copo de água, primeiro movemos o nosso corpo em
direção e para pegar no copo, após o que o enchemos com água, seguido do movimento deste
para a boca. Durante todo o processo estamos conscientes dos movimentos que estão sob o
nosso controlo voluntário. Contudo, assim que começamos a beber a água deixamos
normalmente de estar conscientes dos processos automáticos que se seguem (p. ex:
segregamos saliva; o nosso esófago realiza contracções rítmicas que movem a água em
direcção ao estômago; o nosso estômago começa a contrair-se; etc.).

Estes processos são regulados pelo sistema nervoso autónomo e não requerem um controlo
consciente (voluntário) do córtex cerebral. Os movimentos realizados pelos músculos para
bebermos água envolvem algum controlo voluntário (durante o qual o nosso encéfalo e o corpo
interagem num círculo entre o reforço sensorial do movimento e o encéfalo), mas geralmente
não existe nenhum círculo entre a nossa consciência e os processos involuntários regulados
pelo sistema nervoso autónomo.

O sistema nervoso autónomo (SNA) possui duas divisões reguladoras que podem afectar os
mesmos órgãos, por vezes com efeitos antagonistas:

a) Divisão simpática – respostas a curto prazo a stress agudo (resposta de luta-ou-fuga);


b) Divisão parassimpática – manutenção diária da homeostasia.

Por exemplo, ambas as divisões se encontram constantemente a regular a frequência


cardíaca, mas quando predomina a acção da divisão parassimpática a frequência cardíaca é
mais baixa, enquanto que quando predomina a acção da divisão simpática esta aumenta.

O termo feedback (retroacção) é definido como o meio através do qual parte do sinal de
saída de um sistema (ou circuito, em electrónica) é transferido para a entrada desse mesmo
sistema, com o objectivo de regular a saída do mesmo. Quando aplicado aos seres humanos,
este tipo de processos denomina-se biofeedback e, no caso anterior, permite completar o
círculo entre as funções autonómicas e a nossa consciência. O treino de biofeedback é um

Biofeedback: GSR 2
processo de aprendizagem durante o qual um indivíduo exerce controlo voluntário sobre os
processos fisiológicos controlados pelo sistema nervoso autónomo. O equipamento usado no
treino de biofeedback monitoriza parâmetros fisiológicos de forma não invasiva,
proporcionando feedback em tempo real dos mesmos. O indivíduo pode então usar o sinal
obtido para estimular a resposta desejada.

As técnicas de biofeedback têm sido utilizadas para ensinar a regular vários processos:
diminuir a frequência cardíaca, diminuir a pressão arterial, controlar dores de cabeça, assim
como gerir as respostas a situações de stress. Por exemplo, o treino de biofeedback tem-se
demonstrado eficaz no controlo efectivo da hipertensão.

No que respeita ao ensino de técnicas de gestão de stress, em termos fisiológicos, o treino


de relaxamento recorrendo a técnicas de biofeedback ensina o indivíduo a activar centros
específicos da divisão parassimpática do SNA, por exemplo, de forma a diminuir a frequência
cardíaca. Simultaneamente, o treino de biofeedback pode também ser usado para diminuir a
actividade da divisão simpática do SNA.

A resposta da condutância galvânica da pele (GSR) é uma variável tradicionalmente


associada com a actividade da divisão simpática do SNA. A GSR é afectada pela actividade
das glândulas sudoríparas e respostas da pele da superfície palmar da mão. Ao contrário do
coração, as glândulas sudoríparas são apenas activadas pela divisão simpática do SNA. Se
esta divisão do SNA se encontra mais activa, a actividade das glândulas sudoríparas aumenta,
o que provoca o aumento da GSR. Devido a esta associação, a GSR é tradicionalmente usada
como um índice de actividade simpática. Assim, quando um indivíduo se encontra calmo, a
GSR encontra-se diminuída.

A GSR tem sido utilizada como uma medida das respostas simpáticas e emocionais, porém,
a sua relação com o nível de actividade simpática é complexa. As respostas GSR encontram-
se desfasadas cerca de 1-3 segundos, para além de não serem sempre consistentes quando é
aplicado um mesmo estímulo. Por outro lado, factores externos como a temperatura e a
humidade, assim como factores internos como o uso de medicação, podem afectar a GSR.

Neste trabalho, o sinal de biofeedback será apresentado no ecrã como um gráfico de barras
que sobem e descem, de acordo com as alterações da frequência cardíaca e da GSR,
permitindo ao indivíduo em estudo tornar-se consciente dos mesmos. O indivíduo irá tentar
alterar os valores obtidos sem realizar qualquer actividade física e deverá ser capaz de
observar que a frequência cardíaca e o nível de excitação (GSR) são independentes.

Biofeedback: GSR 2
MATERIAIS

1. Computador com o software Biopac Student Lab 3.7.3.

2. Unidade de aquisição de dados Biopac MP35/6 e respectivos cabos de ligação à corrente e


à porta USB do computador.

3. Cabos para eléctrodos Biopac SS2L e SS57L.

4. Eléctrodos de vinil EL503 (3 por indivíduo) e eléctrodos com gel isotónico para GSR EL507
(2 por indivíduo).

5. Álcool, algodão e fita adesiva.

PROCEDIMENTO

A. LIGAÇÃO DO EQUIPAMENTO

Para facilitar todo o procedimento o indivíduo


em estudo poderá ser ajudado por um auxiliar.

1. Ligue o computador e a unidade de


aquisição de dados Biopac MP35/6 à sua
porta USB.

2. Assegure-se que a unidade Biopac MP35 Cabo


se encontra desligada da corrente e ligue os SS2L
Cabo
SS57L
cabos para eléctrodos da seguinte forma
(Figura 1):
a) Cabo SS57L ao canal 1 (CH1);

b) Cabo SS2L ao canal 2 (CH2).

3. Ligue a unidade de aquisição de dados Figura 1 - Biopac MP5 e cabos.


MP35 à corrente.

4. O indivíduo em estudo não deverá ter realizado exercício durante os últimos 60 minutos.

5. Coloque 3 eléctrodos EL503 como indicado na Figura 2.1 e 2 eléctrodos SS507 nas
extremidades dos dedos indicador e médio da mão esquerda (Figura 3).

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NOTAS: Limpe a área da pele onde pretende colocar os eléctrodos cuidadosamente com
álcool. Os eléctrodos devem estar no mínimo 5 minutos na pele antes de iniciar a calibração.

Antebraço direito
(superior/ ao pulso) Antebraço direito
(branco)

Tornozelo direito
Tornozelo
Tornozelo direito esquerdo
Tornozelo esquerdo (preto) (vermelho)

Figura 2.1 - Colocação eléctrodos EL503. Figura 2.2 - Ligação do cabo SS2L.

6. Ligue os cabos SS2L e SS57L aos eléctrodos, seguindo o código de cores indicado na
Figura 2.2 ou como apresentado na Figura 3, respectivamente.

NOTAS: Para a obtenção de um bom sinal da GSR, é essencial que o indivíduo não tenha
as mãos com demasiado suor (não muito, mas o
suficiente para impedir que as mãos se encontrem
completamente macias ou frias). Caso tenha lavado as
mãos antes da realização do trabalho ou tenha
permanecido numa sala fria, será necessário fazer algo
para activar as glândulas sudoríparas antes de iniciar a Figura 3 - Cabo SS57L.

calibração ou registo de dados. Caso o trabalho seja iniciado com as mãos frias, a escala da
GSR encontrar-se-á diminuída e o sinal ficará facilmente saturado à medida que as mãos
aquecem durante a realização do trabalho.

7. Inicie o programa Biopac Student Lab e escolha a Lição 14 (L14-Biofbk-1).

8. Quando solicitado escreva o seu nome. Os dados recolhidos ficarão guardados numa pasta
do computador com esse nome.

B. REALIZAÇÃO DA CALIBRAÇÃO

O procedimento de calibração estabelece os parâmetros internos da unidade MP35 e tem um


papel fundamental para a obtenção de resultados consistentes. Proceda cuidadosamente
como descrito de seguida.

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1. Sente-se e permaneça calmo, enquanto ventila normalmente.

2. Prima Calibrate (de seguida Yes e OK).


3. Após o “beep” (4’’ após o início), inspire e expire profundamente, apenas uma vez.

NOTA: Durante a ventilação profunda não deve provocar uma tensão muito elevada nos
músculos respiratórios, já que neste caso pode haver um ruído excessivo provocado pela
actividade EMG dos mesmos.
4. Espere que o processo de calibração esteja terminado (20’’).

5. Verifique os dados obtidos durante a calibração. Caso se assemelhem aos da Figura 4 pode
continuar o procedimento, caso contrário repita a calibração (Redo Calibration).

Figura 4 - Resultado padrão da calibração.

NOTA: Se o registo da frequência cardíaca apresentar grandes flutuações (20 BPM ou


mais) durante o intervalo 4-20 segundos, é provável que os artefactos EMG excessivos
durante a inspiração e expiração profundas tenham provocado uma perda do registo da
frequência cardíaca. Neste caso repita a calibração, durante a qual não deve ventilar tão
profundamente.

C. RECOLHA DE DADOS

Leia atentamente todo o procedimento antes de iniciar a recolha de dados. Este trabalho
requer que o individuo se concentre no ecrã onde são apresentados os valores da frequência
cardíaca (FC) e dos níveis de excitação (GSR), de forma a tentar alterá-los sem realizar
actividade física. A FC e a GSR são independentes, pelo que deverá ser capaz de alterar um
ou outro ou até mesmo os dois parâmetros.

1. Prepare-se para recolher os dados.

2. Prima Record.

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A FC (à esquerda) e a GSR (à direita) serão apresentados como um gráfico de barras
(Figura 5), cuja barra se eleva ou desce, quando os valores aumentam ou diminuem,
respectivamente. O registo de dados continua ininterruptamente até que prima Stop ou o
tempo máximo de registo tenha sido atingido.

Frequência
Cardíaca GSR

Figura 5 - Frequência cardíaca e GSR.

NOTA: Os limites máximo e mínimo do gráfico de barras são estabelecidos pela calibração.
Numa situação normal, as barras devem encontrar-se aproximadamente no centro. Caso as
barras comecem para além do nível médio, deverá considerar a possibilidade de repetir a
calibração.

3. Durante os primeiros 90 segundos tente relaxar de forma a que ambas as barras desçam.
Dicas para relaxar:
a) Relaxe a sua postura.
b) Ventile pausadamente.
c) Imagine-se num ambiente calmo, quente e relaxante (ex: a sua praia preferida).

d) Sorria.
e) Feche os olhos.

4. Após os primeiros 90 segundos deverá tentar elevar as barras, ou seja, o seu nível de
excitação.
NOTA: Insira marcador temporal ao fim de 90 segundos para indicar que se encontra agora
a tentar aumentar os níveis de excitação. Para tal, prima na tecla F9 ao fim de 90 segundos.

Dicas para aumentar níveis de excitação:


a) Pense numa situação stressante ou desagradável.

b) Ventile rapidamente.

5. Prima o botão Stop assim que tenha conseguido observar as alterações pretendidas.

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A partir deste momento o ecrã muda para o ambiente standard com 3 canais: ECG, FC e
GSR. Se todo o procedimento decorreu normalmente e os seus dados se assemelham aos
da Figura 6, poderá avançar para o passo n.º 6.

Figura 6 - Exemplo de dados obtidos.

NOTA: O registo obtido poderá variar significativamente entre indivíduos e torna-se difícil
generalizar os resultados obtidos. Provavelmente conseguiu manipular as suas respostas
fisiológicas. Este tipo de controlo pode requerer alguma prática, já que muitos de nós não
estão habituados a pensar que temos controlo sobre parâmetros como a frequência
cardíaca ou o nível de actividade do sistema nervoso.
Os dados encontrar-se-ão incorrectos se:

a) A FC flutuar excessivamente, indicando que os eléctrodos se poderão ter soltado.


b) A GSR sai fora da sua região de registo, indicando que os eléctrodos poderão não ter
um bom contacto.
Neste caso, deverá proceder a um novo registo de dados premindo o botão Redo (o que
apagará todos os dados obtidos) e repetindo os passos 2 a 5.

6. Prima o botão Done.

7. Remova cuidadosamente os cabos dos eléctrodos, retire-os da pele e remova o excesso de


gel com algodão embebido em álcool (ou água).
Os eléctrodos podem deixar uma ligeira marca circular na pele durante algumas horas, mas
este processo é perfeitamente normal.

Biofeedback: GSR 2
BIOFEEDBACK

D. ANÁLISE DE DADOS

1. A designação dos canais (CH) é a seguinte:


a) CH41 corresponde à FC;

b) CH 42 corresponde à GSR.

3. Ajuste o ecrã de forma a obter uma visualização óptima do intervalo de dados relativos à
situação de relaxamento, usando as ferramentas: Display ! Autoscale waveforms /
horizontal, Barras scroll horizontal / vertical, Zoom / Zoom previous (Menu Display).

Figura 7 - Canais 41 e 42.

4. As caixas de medição encontram-se na parte superior do ecrã acima do indicador de


marcação temporal. Cada caixa possui três secções: n.º do canal, tipo de medição e
resultado. As duas primeiras secções são menus do tipo pull-down activados quando se
prime o rato sobre as mesmas. Ajuste as caixas de medição da seguinte forma:

a) Canal 41 – Mean;
b) Canal 41 – Stddev;

c) Canal 42 – Mean;
d) Canal 42 – Stddev.
e) Canal SC - Min

5. Meça os valores médios e o desvio padrão da GSR e da FC do período basal (situado entre
os marcadores “início do período basal” e “relaxamento”) e registe na tabela 1 do relatório.
6. Selecione o período correspondente ao relaxamento, recolhendo os valores médios, os
desvios-padrão e o valor mínimo da GSR e da FC. Registe os valores na tabela 1 do
relatório.

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7. Selecione o período correspondente à excitação, recolhendo os valores médios, os desvios-
padrão e o valor máximo (ajustando a última caixa para Max) da GSR e da FC. Registe os
valores na tabela 1 do relatório.

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RELATÓRIO “Biofeedback”

Nomes: _____________________________________________________________________

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Turno: _____________
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I. RESULTADOS

Tabela 1 – Valores da FC e da GSR.

CONDIÇÃO

Basal (10’’) “Relaxamento” “Excitação”

PARÂMETRO Média ± dp Valor mínimo Média ± dp Valor máximo Média ± dp

FC (bpm)

GSR
(∆μsiemens)

II. PERGUNTAS

1) Enumere as principais características funcionais do SNA.

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2) Qual é o principal papel da divisão simpática? E da divisão parassimpática?

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3) Em que tipo de situações é que a atividade simpática é mais predominante? E a


parassimpática?

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4) Qual o efeito direto das duas divisões referidas nos seguintes parâmetros fisiológicos?

Parâmetro fisiológico D. Simpática D. Parassimpática

Frequência cardíaca

Frequência ventilatória

Atividade do sist. digestivo

Sudorese

5) É possível controlar conscientemente a atividade do SNA? Justifique.

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6) Qual a vantagem de aprender a controlar voluntariamente a atividade do SNA?

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6) O que entende por treino de biofeedback?

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6) Qual é a principal vantagem do treino por biofeedback?

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7) Dê dois exemplos em que poderia aplicar o treino por biofeedback.

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8) Na experiência realizada porque não se utilizou apenas o registo da GSR?

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9) O indivíduo avaliado conseguiu atingir os objetivos propostos? Justifique.

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