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Poesia dos heterónimos Fernando Pessoa

E D U C AÇ ÃO L I T E R ÁR I A| E S C R I T A EXPOSIÇÃO SOBRE UM TEMA

1. Lê o poema VII de “O Guardador de Rebanhos”, de Alberto Caeiro.

Da minha aldeia vejo quanto da terra


se pode ver do universo
VII

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do universo…


Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura…

5 Nas cidades a vida é mais pequena


Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
10
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

CAEIRO, Alberto, Op. cit., p. 34.

2. Redige uma exposição sobre o poema (130-170 palavras), abordando os seguintes


aspetos:
a. oposição entre a “aldeia” e a “cidade”;
b. importância do ato de ver;
c. recursos expressivos relevantes;
d. traços da poética de Caeiro.

Nota: Exercício elaborado com base na Prova Escrita de Português A, 1999 (1.ª Fase, 1.ª Chamada).

GRAMÁTICA

1. Mostra como se concretizam no poema os seguintes tipos de coesão textual:


a. coesão gramatical interfrásica;
b. coesão lexical.

2. Classifica as orações presentes nos seguintes versos:


a. “Porque eu sou do tamanho do que vejo” (v.3);
b. “Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.” (vv.5-6)
c. “Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu” (vv.7-8) .

ENC12COP © Porto Editora


Poesia dos heterónimos Fernando Pessoa

SOLUÇÕES|SUGESTÕESMETODOLÓGICAS
“Da minha aldeia vejo…” (p. 12)

Educação Literária | Escrita


1. Sugestão
A leitura do poema poderá ser complementada com a recriação televisiva do mesmo (disponível na internet, consult. a 10-
01-2016)

2. a. Aldeia (“minha aldeia”) – lugar de eleição (na medida em que permite ao sujeito o grau máximo de visibilidade do
“quanto da terra se pode ver do universo”, v. 1); supera o estatuto de povoação diminuta, tornando-se “tão grande como
outra terra qualquer” (v. 2); propicia a abertura para o infinito; Cidade – revela-se limitativa, pois “as grandes casas”
enclausuram o olhar, ocultam-lhe o céu e afastam-no da natureza (vv. 7-8); tem um efeito de fechamento e afasta a vista. b.
Visão como modo de conhecimento privilegiado, que permite percecionar a dimensão física limitada do sujeito (vv. 3-4) e
que determina a configuração do mundo e do próprio ser. c. Uso expressivo do adjetivo (recorrendo ao grau comparativo),
com o intuito de caracterizar a “aldeia” por referência a outros espaços, realçando- -se o nível idêntico de grandeza entre a
aldeia e “outra terra qualquer” (“tão grande”) e minimizando-se a vida na cidade para valorizar a vida na aldeia (“mais
pequena”); conjugação da metáfora com a personificação de “casas” (“fecham”, “Escondem”, “empurram”, “tiram”), para
sublinhar a atrofia do ver como efeito do ambiente citadino. d. Apologia da visão como valor essencial; relação e harmonia
com a natureza; aparente simplicidade do discurso poético, visível na linguagem corrente.
Nota: Tópicos de correção do exercício elaborados com base nos Critérios de Classificação da Prova Escrita de Português A, 1999 (1.ª
Fase, 1.ª chamada).

Gramática
1. a. Coesão assegurada pela presença de conectores que ligam: frases – “Por isso”, v. 2; orações – “como”, v. 2; “Porque”,
vv. 3, 9, 10; “E”, vv. 4, 10; “[mais]… que”, vv. 4-5. b. Reiteração (“aldeia”, “tamanho”, “casa(s)”, “ver”, “tornam-nos”);
substituição por antónimos (“grande”/ ”pequena”) e por holónimos (“aldeia”/”terra”/ ”universo”) e merónimos (“aldeia” /
“casa”, “outeiro”).
2. a. “Porque eu sou do tamanho” – oração subordinada adverbial causal; “do que vejo” – oração subordinada substantiva
relativa. b. “Nas cidades a vida é mais pequena” – oração subordinante; “Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro” –
oração subordinada adverbial comparativa. c. “Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave, / Escondem o
horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu” – orações coordenadas copulativas assindéticas.

ENC12COP © Porto Editora

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