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Viana e Lima 2010 Capital Humano e Crescimento Economico
Viana e Lima 2010 Capital Humano e Crescimento Economico
Giomar Viana*
Jandir Ferrera de Lima**
Recebido em 2/2/2010; revisado e aprovado em 28/4/2010; aceito em 17/6/2010
Resumo: Esse artigo faz uma revisão de literatura e analisa os principais elementos da teoria do capital humano,
principalmente sua influência no crescimento econômico. Para a teoria do capital humano, a educação torna as
pessoas mais produtivas, aumenta seus salários e influencia o progresso econômico. Além da análise dos possíveis
benefícios que a educação propicia ao sistema econômico e à sociedade como um todo, existem algumas restrições ou
situações que podem inibir seu pleno desempenho. Dentre elas, há o diferencial existente entre quantidade e qualidade
da educação, uma vez que, mesmo com um possível aumento contínuo da educação, ela pode não refletir um nível
qualitativo suficiente para dinamizar a produtividade e o progresso econômico e social da população.
Palavras-chaves: Capital humano. Desenvolvimento econômico. Educação.
Abstract: This paper reviews the literature and discusses the main elements of human capital theory, especially its
influence on economic growth. For the human capital theory, the education makes people more productive increasing
their salaries and influence on economic progress. Besides the analysis of the possible benefits that education brings to
the economic system and society as a whole, there are any restrictions or conditions that may inhibit their full
performance. Among them, there is a difference between quantity and quality of education, since, even with a possible
increase in continuous education; it may not reflect a sufficient quality to boost productivity and economic progress
and social aspects of population.
Key-words: Human capital. Economic development. Education.
Résumé: Cet article fait une revision de la littérature et discute les principaux éléments de la théorie du capital
humain, en particulier son influence sur la croissance économique. Pour la théorie du capital humain, l’éducation rend
les gens plus productifs, en augmentant leurs salaires en train de stimuler le progrès économique. Malgré les avantages
éventuels que l’éducation apporte au système économique et à la société dans son ensemble, il y a des restrictions ou
des conditions qui mai inhibent leur plein rendement. Parmi eux, il y a une différence entre la quantité et la qualité de
l’éducation, car même avec une augmentation possible de l’éducation continue, il faut une qualité suffisante pour
stimuler la productivité et le progrès économique et social de la population.
Mots-clés: Capital humain. Développement économique. Éducation.
Resumen: Este artículo revisa la literatura donde se analizan los principales elementos de la teoría del capital
humano, especialmente su influencia en el crecimiento económico. Para la teoría del capital humano, la educación
hace con que las personas sean más productivas, lo que aumenta sus ingresos y su influencia en el progreso
económico. Además del análisis de los posibles beneficios que la educación aporta al sistema económico y la sociedad
en su conjunto, existen restricciones o condiciones que pueden inhibir su desempeño. Entre ellos, hay una diferencia
entre la cantidad y calidad de la educación, ya que, incluso con un posible aumento de la formación continua, no
puede reflejar una calidad suficiente para impulsar la productividad y el progreso económico y social de la populación.
Palabras clave: Capital humano. Desarrollo econômico. Educación.
crescimento econômico (estoque dos fatores capital natural e capital construído existente
capital e trabalho). Nesse trabalho, o autor entre regiões e países.
demonstra que um modelo de crescimento Becker (1993), da mesma forma, alega
econômico poderia ser dividido em capital, que o capital humano é um conjunto de ca-
trabalho e tecnologia, baseando-se na in- pacidades produtivas que uma pessoa pode
fluência da poupança, da depreciação e na adquirir, devido à acumulação de conheci-
variação populacional para explicar a varia- mentos gerais ou específicos, que podem ser
ção do crescimento da economia. Nessa li- utilizados na produção de riqueza. Assim,
nha, o crescimento econômico é determinado sua principal preocupação é decorrente de
por fatores exógenos, tais como o crescimento que os indivíduos tomam a decisão de investir
populacional e o progresso tecnológico. No em educação, levando em conta seus custos
entanto, mesmo a variável tecnologia fazen- e benefícios, atribuindo, entre estes melho-
do parte do modelo, tal elemento não é expli- res rendimentos, maior nível cultural e outros
cado no modelo, deixando uma lacuna para benefícios não-monetários. Desse modo, o
inserção de inúmeras pesquisas sobre a ori- nível de capital humano de uma população
gem do progresso tecnológico das nações. influencia o sistema econômico de diversas
Diante disso, inúmeros trabalhos surgiram, formas, com o aumento da produtividade,
com o intuito de justificar a existência do pro- dos lucros, do fornecimento de maiores co-
gresso técnico a partir do capital humano. nhecimentos e habilidades, e também por re-
Assim, o próximo tópico apresentará a rela- solver problemas e superar dificuldades re-
ção existente entre capital humano e cresci- gionais, contribuindo com a sociedade de for-
mento econômico. ma individual e coletiva.
Essa ideia também é defendida por
2 Capital humano e crescimento Hirschman (1961), ao afirmar que uma das
justificativas do crescimento ser desequilibra-
econômico
do se dá em função de um progresso desigual
em áreas específicas, tais como o setor educa-
O precursor da teoria do capital huma-
cional. Desse modo, o autor afirma que uma
no foi Mincer (1958), que indicou a existên-
das alternativas para minimizar as dispari-
cia de correlação entre o investimento para
dades regionais seria a realização de investi-
a formação das pessoas (trabalhadores) e a mentos que produzissem efeitos positivos ao
distribuição de renda pessoal. Para o autor, crescimento econômico, bem como no setor
era necessário decidir de forma individual e educacional, ou seja, no capital humano.
racional entre gastar tempo para obter novos Na contracorrente, alguns trabalhos
conhecimentos e aplicá-los posteriormente evidenciam que não há relação associativa
em atividades profissionais ou manter-se no entre capital humano e crescimento econô-
trabalho sem novas formas de treinamento mico, como, por exemplo, o trabalho empí-
e estudo de novos conhecimentos. Dessa for- rico desenvolvido por Pritchett (2001), que
ma, o autor conclui que a dispersão entre os considera não haver correlação entre tais
rendimentos pessoais estava associada ao variáveis. Essa afirmação é combatida a par-
volume de investimento efetuado em capital tir dos trabalhos efetuados por Lucas (1988),
humano, os quais impactariam na produti- Romer (1986, 1989), Mankiw, Romer e Weil
vidade e no crescimento da economia. (1992), Bergheim (2005), e estudos brasilei-
De acordo com Schultz (1964), a quali- ros, como os de Pereira (2001), Ferreira,
ficação e o aperfeiçoamento da população, Nakabashi e Santos (2003), Nakabashi e
advindos do investimento em educação, ele- Figueiredo (2008) e Kroth e Dias (2008), os
variam a produtividade dos trabalhadores e quais avaliam os diferentes canais em que o
os lucros dos capitalistas, impactando na capital humano afeta o nível e a taxa de cres-
economia como um todo. Diante disso, a in- cimento por trabalhador. Para Nakabashi e
clusão do capital humano nos modelos de Figueiredo (2008), a divergência entre alguns
crescimento econômico é uma questão chave autores está fundamentada em erros de
para se compreender a dinâmica da econo- especificação dos modelos e, até mesmo, em
mia no longo prazo, uma vez que, até então, relação aos seus dados, os quais podem ser
esse fenômeno era explicado somente pelo pouco consistentes ou de baixa qualidade.
Becker (1993), por sua vez, afirma que 3 Capital humano e educação
o capital humano de um indivíduo é forma-
do pelos investimentos, com intuito de me- De acordo com Schultz (1964), o inves-
lhorar a sua habilidade produtiva e seu esto- timento básico no ser humano se dá por meio
que de conhecimentos adquiridos ao longo da educação. Segundo o autor, as pessoas
do tempo, especialmente pelo seu nível de valorizam as suas capacidades, tanto como
escolarização, de aprendizado, entre outros. produtores, quanto como consumidores, pelo
Dessa forma, o autor justifica a razão pela investimento que fazem em si mesmas. Sen-
qual esse capital é considerado como de cará- do a educação a melhor forma de se investir
ter humano, uma vez que o fato de ser huma- em capital humano, pois, enquanto o nível
no é devido à impossibilidade de separar do de bens de produção tem declinado em rela-
indivíduo o seu conhecimento, sua habilida- ção à renda, o capital humano tem aumenta-
de, saúde e outras formas que podem definir do. A caracterização da educação se dá por
esse tipo de capital. Entre os principais fato- meio do “ensino” e do “aprendizado”, sendo
res que integram o capital humano estão a que seu significado decorre da extração de
saúde, a migração e, de forma especial, a algo potencial ou latente de uma pessoa,
educação. Como exemplo, o autor refere-se aperfeiçoando-a, moral e mentalmente, a fim
aos diversos estudos e pesquisas empíricas de torná-la suscetível a escolhas individuais
quantitativas, que evidenciam a disparidade e sociais. Preparando-a para uma profissão,
de rendimento entre pessoas mais qualifica- por meio de instrução sistemática e exerci-
das e menos qualificadas, argumentando que tando-a na formação de habilidades.
a maioria dos estudos atribui ao capital hu- Diferente da educação, a instrução
mano a explicação de grande parte do cres- decorre de serviços educacionais ministrados
cimento econômico de longo prazo de al- em escolas primárias e secundárias, abran-
guns países ou regiões. gendo o esforço de aprender. Já a educação
Corroborando com os apontamentos é um conceito mais amplo, pois, além de pro-
de Schultz e Becker, Blaug (1975) reitera que duzir a instrução, ela progride nos conheci-
a economia da educação está atrelada não mentos, por meio da pesquisa. A instrução
somente aos problemas de custeio e finan- pode produzir e causar benefícios no pre-
ciamento das escolas, mas também a ques- sente ou no futuro, sendo que, no último caso,
tões como a migração dos trabalhadores, ela passa a ter característica de investimen-
estrutura da força de trabalho, treinamento to, afetando tanto as futuras despesas quanto
no próprio trabalho, formas de seleção e as futuras rendas, passando a assemelhar-
promoção dos empresários, distribuição da se a investimento em outros bens de produ-
renda pessoal e da perspectiva de crescimen- ção. Sempre que a instrução, associada com
to econômico. a educação, eleva as rendas futuras, há uma
Entre os indicadores mais utilizados ampliação da produtividade, considerando-
para se mensurar capital humano, estão a se como resultado do investimento em capi-
média de escolaridade por região e faixa tal humano (SCHULTZ, 1964). Blaug (1975)
etária, o percentual da população que possui também ressalta o impacto que a educação
o nível primário, secundário, médio ou supe- exerce sobre a economia, levando em conta
rior e o número de matrículas por categoria diversos fatores, tais como: a influência na
de estudo. A exemplo disso, podem-se citar composição e utilização na força de trabalho;
os trabalhos de Benhabid e Spiegel (1994) e a distribuição de renda pessoal e poupança;
Souza (1999), os quais mensuram a influên- e as formas e padrões de comércio internacio-
cia que o capital humano exerce sobre a ati- nal, influenciando nas expectativas do cresci-
vidade econômica, atribuindo-lhe um im- mento econômico.
portante papel na análise das diferenças Blaug (1975), assim como Schultz, bus-
entre países e regiões. O próximo tópico dis- ca mostrar os benefícios advindos da educa-
corre sobre a relação direta existente entre ção, tomando como exemplo a variação nos
capital humano e educação. rendimentos dos trabalhadores. Para ele, em
todas as economias, existem diferentes pro-
porções de remunerações entre indivíduos
da mesma idade com diferentes níveis de uma alternativa para a redução das desigual-
escolaridade. Mesmo diante dos possíveis dades econômicas.
benefícios futuros advindos de um maior Existe, ao longo do tempo, uma forte
nível de educação, é importante ressaltar seu conexão entre investimento em capital hu-
custo para adquiri-la. Segundo Schultz mano e o valor econômico do homem, uma
(1964), esse custo é o custo de oportunidade, vez que, quanto mais investimentos em edu-
ou seja, o custo de deixar de ser remunerado cação, maior a tendência de elasticidade de
por um período de tempo, além do seu pró- sua produtividade, refletindo em maiores
prio custo com a educação, para buscar no- rendimentos, maior eficiência, influencian-
vos conhecimentos e aumentar suas chances do na dinâmica e no desempenho do cresci-
de obter melhores resultados/rendimentos mento econômico nacional. O capital huma-
no futuro. Ainda é importante considerar no permite ao trabalhador obter rendimentos
que esse futuro é incerto, uma vez que não e melhorar sua condição de vida.
se consegue obter precisão em sua previsão. Além disso, Schultz (1987) afirma que
A educação é considerada de duas for- aumentos nas aptidões adquiridas pelas pes-
mas distintas: consumo, num primeiro mo- soas no mundo inteiro e avanços em conheci-
mento, pois, a curto prazo, sempre demanda- mentos úteis detêm a chave da futura produ-
rá gastos para sua execução; e investimento, tividade econômica, bem como de suas con-
num segundo momento, devido à possibili- tribuições ao bem-estar humano. Assim, o
dade de elevar as rendas futuras dos estudan- investimento em capital humano determina
tes, resultando em crescimento econômico. as futuras perspectivas da humanidade, sen-
Diante disso, pode-se compreender a do que os fatores decisivos de produção para
importância que o investimento em capital a melhoria do bem-estar das pessoas pobres
humano, especificamente na educação, exer- são os avanços em seus conhecimentos. In-
ce sobre a atividade econômica. Melhorando vestimentos na assistência à infância, expe-
seu nível de produtividade, amenizando as riência no lar e no trabalho, na aquisição de
discrepâncias salariais, reduzindo as desi- informações e aptidões por meio do ensino
gualdades econômicas e impactando no sis- escolar, investimentos na saúde e na educa-
tema econômico como um todo. ção melhoram significativamente as perspec-
O próximo tópico discorre brevemen- tivas econômicas e o bem-estar das pessoas
te sobre alguns apontamentos levantados por pobres, impactando numa melhor condição
Schultz, em relação ao valor econômico da de vida para toda a população.
educação. Para Schultz (1987), para que ocorra
a dinâmica do desenvolvimento econômico,
3.1O Valor econômico da educação faz-se necessária a existência de aptidões
humanas, pois uma economia dinâmica só
Para Schultz (1973), a investigação do pode ser lançada e sustentada por meio do
valor econômico da educação revela partes esforço humano, a partir de todos os níveis
suplementares importantes do processo da sociais que apresentem tanto as aprendiza-
acumulação do capital e crescimento, influ- gens convencionais, quanto aptidões mais
enciando na sua mensuração e na possibili- aperfeiçoadas, decifrando problemas e elimi-
dade de planejamento dos países para o seu nando erros de novos processos.
progresso econômico. Para analisar essa A partir do pressuposto de que o capi-
questão, faz-se necessário entender se há al- tal humano é representado pelo nível de edu-
gum benefício de crescimento aos países cação de uma sociedade, influenciando di-
oriundos do investimento na educação. Nos reta ou indiretamente no crescimento eco-
estudos de Schultz (1973), são identificadas nômico de uma região, também se pode di-
pesquisas que demonstram indícios de forte mensionar seus benefícios ou externalidades
associação entre nível de educação e aumen- gerados para a sua população. A educação
to nos rendimentos individuais e nacionais. é vista não somente como um determinante
Esse nível de associação é a chave para equi- do crescimento e progresso econômico, mas
librar a distribuição da renda pessoal. Dessa também como um dinamizador de externali-
forma, o investimento em educação seria dades positivas para a sociedade, pois ala-
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