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N ESTA SEMANA > DISCOS POR T U G U ESES / ENCAN TO, O NOVO RESTAU R AN T E D O CHEFE AVI LLE Z / M I N IG OLF U RBANO

Sónar Lisboa
Linhas cruzadas
Chega, finalmente, a Lisboa o festival
que nasceu em Barcelona, em 1994,
juntando música, novas tecnologias
e conversas sobre a contemporaneidade
7 ---------- M Ú S I CA

SÓNAR
PONTOS DE
ENCONTRO
Convém estudar com atenção o programa do
primeiro Sónar Lisboa. Espalhado pela cidade,
este festival vai muito para lá da música e
quer pôr-nos a pensar sobre os nossos tempos
(mas nós damos uma ajudinha na escolha
dos mais aguardados concertos e DJ sets)
— PO R PED RO D IAS D E ALM EI DA

E Enric Palau, 58 anos,


lembra-se bem da primeira edição do festival
Sónar que organizou, com mais dois parcei-
ros, em Barcelona, em 1994. A ideia era apos-
tar em músicas mais experimentais, com uma
grande atenção à cena da eletrónica de dança,
que então se afirmava em várias cidades, sem
perder de vista os avanços tecnológicos e a
TRAINING
VIRTUAL
DANCERS
Um espetáculo que
põe em comunicação
dois universos
aparentemente tão
díspares como a
Inteligência Artificial e os
sua relação com as artes e a criação. Tinham movimentos dos corpos
só dois espaços: um para a programação na dança. Os artistas
diurna e outro para a noturna (uma sepa- visuais da empresa
ração que, mesmo com muitos mais palcos Hamill Industries
e salas, continua a fazer parte da identidade (sediada em Barcelona),
a coreógrafa Kiani del
do festival), e a ambição foi logo a de fazer Valle e especialistas em
um “encontro internacional”. Depois de dois Inteligência Artificial
anos de preparação, Enric recorda o primeiro da universidade UPC
grande impacto: “A sensação de que juntáva- – Barcelona Tech
mos públicos de âmbitos diferentes; houve juntaram-se para criar
um coletivo de dança
uma mistura de um público mais académico e em que seres artificiais
interessado em artes experimentais e de van- aprendem com os
guarda com outro mais jovem, frequentador humanos – ou será o
de clubes, à procura de música eletrónica de contrário?
dança... Poderia parecer um choque, mas não, Hub Criativo do Beato,
foi muito orgânico e natural.” Já lá vão qua- Fábrica do Pão > sáb 9,
19h
se 30 anos e, com um sorriso, Enric lembra
D.R.

que não havia ainda telemóveis e a internet

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era uma espécie de mistério ultraminoritário. FLOATING


Mas, com a tecnologia RDSI [Rede Digital de POINTS
Serviços Integrados], conseguiram fazer uma O disco Promises (em
sessão que juntou três músicos a tocar em si- colaboração com o
multâneo: um em Barcelona, outro em Paris saxofonista Pharoah
Sanders e a Orquestra
e outro ainda em Roterdão. “Havia um delay Sinfónica de Londres)
de alguns segundos”, lembra. “Hoje, qualquer esteve em praticamente
pessoa com um telemóvel na mão e o Skype todas as listas dos melhores
ou o Teams consegue fazer isso facilmente!” do ano passado. Em
O Sónar cresceu, e muito. Com essa iden- Lisboa, Floating Points
tidade híbrida mas bem definida, chegou, já (nome artístico do inglês
Sam Shepherd) deve
neste século, a cidades como Bogotá, São apresentar um dos seus
Paulo, Buenos Aires, Tóquio, Hong Kong, DJ Sets sempre abertos a
Istambul e muitas mais (cerca de 50). Em música das mais diversas

DAN MEDHURST
2022, vai acontecer finalmente em Lisboa. proveniências geográficas.
Entre esta sexta, 8, e domingo, 10, espalha-se Coliseu dos Recreios >
por quatro espaços principais: o Hub Criativo sáb 9, 2h
do Beato (onde há exposições e instalações
e acontece o Sónar +D, com um programa
diurno de conferências sobre temas como
Inteligência Artificial e Algoritmos, Inter- ARCA
secções entre Arte, Ciência, Ecologia e Al- Em 2021, editou não um, não
terações Climáticas, Tecnologias Criativas e dois, não três, mas quatro
Economias Digitais), o Centro de Congressos álbuns, praticamente em
de Lisboa (ex-FIL), o Coliseu dos Recreios e simultâneo. A sua identidade
é difícil de definir, mas,
o Pavilhão Carlos Lopes (estes três espaços muitas vezes comparada
mais dedicados à programação musical, com com Björk (com quem
o Carlos Lopes a ter também uma ocupação colaborou), esta artista
diurna). de origem venezuelana é
Tudo começou com um email enviado uma das mais estimulantes
e influentes na cena
para Barcelona por João Menezes, em janeiro
atual das fronteiras entre
de 2020. Ainda não o sabia, mas o momento pop, eletrónica e (muita)
era péssimo, com uma pandemia mesmo a experimentação. A sua
chegar… Mesmo assim, o processo fez o seu atuação é uma das mais
caminho e vai concretizar-se, mais de dois esperadas deste Sónar, até
anos depois, na primeira edição do Sónar porque com Arca (aliás,
Alejandro; aliás, Alejandra)
Lisboa (há um acordo para que se repita nos nunca se sabe bem o que
próximos quatro anos). João trabalhou na esperar...
reabilitação dos bairros do Intendente e da Pavilhão Carlos Lopes
Mouraria, que foi uma das imagens de marca > 8 abr, 00h15
da presidência de António Costa na Câma-
D.R.

ra Municipal de Lisboa. “Fiquei com uma


ligação próxima à ideia de transformação
duma cidade que se questiona e revitaliza,
orgulhosa das suas heranças. Foi uma expe- THUNDERCAT
riência que permaneceu, que se entranhou”,
Fez o percurso pouco
conta à VISÃO. Agora, acredita que o Sónar habitual de passar de
vem ocupar um lugar novo numa Lisboa que baixista virtuoso tocando
já tem uma grande oferta cultural: “Temos, com outros músicos a
por exemplo, a Web Summit e muitos festi- frontman, com discografia e
vais, mas faltava um momento que juntasse concertos em nome próprio.
Desde o início da carreira na
tudo: tecnologia, criatividade e música.” O banda Suicidal Tendencies,
seu grande objetivo é, 28 anos após a es- muito mudou, e a lista dos
treia do Sónar em Barcelona, ter as mesmas músicos com os quais já
sensações que Enric teve ao ver uma grande tocou (Kamasi Washington,
mistura de públicos: “Que seja uma festa e Erykah Badu, Kendrick Lamar,
Childish Gambino e muitos
experiência marcante para todos, artistas e
outros) mostra bem o poder
músicos incluídos. Espero que desses cruza- do californiano Stephen
mentos até possam resultar projetos futuros.” Lee Bruner, mais conhecido
QUINN DUNZIELA

E é com um misto de excitação e orgulho como Thundercat, como


que fala do Sónar como “o primeiro grande baixista em diversos géneros.
festival pós-pandemia”, que vai acontecer Pavilhão Carlos Lopes, sex 8,
22h00
quase sem restrições. palmeida@visao.pt

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NINA KRAVIZ
Nasceu há 40 anos, na Sibéria, foi para Moscovo estudar
para ser dentista mas… acabou por se tornar uma DJ com
reconhecimento mundial. O seu percurso acompanhou, aliás, a
explosão para o grande público da música eletrónica de dança
popularizada por DJ que, sozinhos, se tornaram superstars.
Como cabeça de cartaz em pistas apinhadas ou em lugares
carismáticos, como a Torre Eiffel ou a Grande Muralha da China,

DMITRY ROLLINS
é a mulher mais bem-sucedida no universo da música techno.
Centro de Congressos de Lisboa > sáb 9, 4h30

DENGUE DENGUE
DENGUE
Por detrás das máscaras estão Felipe
Salmon e Rafael Pereira, uma dupla
sediada em Lima, no Peru. Dedicam-se
tanto à música como ao design. Nas
suas atuações, misturam-se ritmos
latino-americanos e psicadelismo;
vão da cúmbia ao dub ou da salsa
ao techno enquanto o diablo esfrega
um olho… Os seus dois discos mais
recentes, em que é mais claro o
interesse da dupla pelas raízes da
música do seu país (com claros ecos
africanos), têm a marca da lisboeta
Enchufada, a editora fundada em
2006 por Branko e Kalaf Ângelo (dois
ex-Buraka Som Sistema). A identidade
do Sónar, um festival que aposta em
noites longas, estará bem presente
aqui: os Dengue Dengue Dengue

HENDRIK KUSSIN
começam o seu espetáculo às 4h45,
convidando a danças hipnóticas pela
madrugada fora...
Pavilhão Carlos Lopes > sáb 9, 4h45
MARTA PINA

D.R.

NÍDIA EU.CLIDES
Os programadores do Sónar Lisboa tiveram a preocupação de se Nasceu em Cabo Verde, em 1996, mas cresceu em Portugal, sempre
sintonizar com o que se vai fazendo em Portugal, e isso é claro com uma paixão pela música. Depois de ter tocado com a banda
em vários momentos. Um dos projetos que mais os entusiasmou senegalesa Daara J Family e com Mayra Andrade, nos últimos anos
foi a editora Príncipe. E dentro desta música de dança eletrónica, tem-se afirmado como autor das suas próprias canções, em que os
sempre com um pé nos ritmos africanos, um dos nomes que se ecos da música do seu arquipélago se misturam com referências
têm destacado nos últimos anos é o de Nídia, de uma família com contemporâneas e uma eletrónica subtil e elegante. A atuação no
origens na Guiné-Bissau mas hoje uma verdadeira cidadã do Sónar acontece no momento em que se aguarda o seu álbum de
mundo, com atuações, e colaborações, um pouco por todo o lado. estreia, o que só aguça ainda mais a curiosidade.
Pavilhão Carlos Lopes > sex 8, 23h05 Pavilhão Carlos Lopes > dom 10, 17h

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7 ---------- CO O R D E N A DAS

Fora
2h30.
das 20h30 às 22h30. ——Féri
—— Férias
Durante a visita, da Páscoa
percorre-se toda a
área exterior destes OCEANÁRIO
jardins do século XVII, DE LISBOA
com canteiros de buxo A partir desta
exuberantes e uma segunda, 11, o
importante coleção de Oceanário de Lisboa
azulejos, com destaque retoma o programa
para a fonte central, o Férias Debaixo de
lago dos cavaleiros, a Água. Até 18 deste
gruta-parnaso e a casa mês, as crianças
do fresco (reservas: dos 4 aos 12 anos
T. 21 778 2023). Os vão descobrir com
bilhetes custam 7 as lontras-marinhas
euros (acresce €3 com quem é o mais
audioguia). comilão e, com o
peixe-picasso, vão
revelar as cores que
—— Exposição inspiraram grandes
obras de arte, entre
MUSEU DO outras atividades,
CARAMULO
D.R.

como observação
Ricardo Santos, de animais,
O que há —— Livraria segundo o New York
Times, compradas
designer gráfico e
um apaixonado pelo
artes plásticas e
investigação (€40/dia,

de novo RARIDADES NA LELLO


Chama-se Gemma –
após a morte do seu
proprietário, Michael
automóvel e as suas
formas, é o artista
€150/4 dias, €180/5
dias).

para sair pedra preciosa, em


latim – a nova sala
Seidenberg, em 2019. convidado da nova
exposição no Museu do
——Restaurante
ou ficar da Livraria Lello, no
Porto, dedicada a —— Passeio
Caramulo – Fundação
Abel e João Lacerda.
MARLENE
em casa
livros raros, de luxo, Em The Colour of
primeiras edições ou JARDINS DO Motorsport contam-se “FINE-DINING”
manuscritos. Entre PALÁCIO FONTEIRA 70 desenhos, feitos a No novo restaurante
Puzzles, livros outros exemplares, A beleza dos jardins caneta, e ainda dois Marlene, paredes-
raros e um encontram-se as do Palácio Fronteira, automóveis: o icónico -meias com o Zunzum
primeiras edições em São Domingos Lancia 037, de 1982, Gastrobar, no Terminal
jardim aberto de Moby-Dick, ou, de Benfica, Lisboa, e o Reynard 903, de Cruzeiros de
ao anoitecer, The Whale (1851), explora-se ao cair de 1990, de Michael Lisboa, perto de Santa
na semana em de Herman Melville, da noite, numa série Schumacher. Ricardo Apolónia, a chefe
que os miúdos que pertenceu a Jim de passeios ao ar Santos já colaborou de cozinha Marlene
entram Morrison (vocalista livre, marcados para com marcas como a Vieira aposta no
dos The Doors); Pride todas as sextas-feiras Pagani, a Red Bull F1, a receituário português
de férias and Prejudice (1813), entre abril e junho, Racer e a Top Gear. modernizado, através
de Jane Austen, ou um de técnicas do
raríssimo exemplar de mundo, ali servido
Harry Potter and The em dois menus de
Philosopher’s Stone. Em degustação – um com
exposição está também 12 momentos e outro,
parte do espólio da mais curto, com sete
Coimbra Editora, momentos. Esta será
adquirido pela Lello em a base da ementa de
2021, e ainda algumas autor, marcada pelos
JORGE MAIO

obras da Brazenhead produtos de época


Books, “a última livraria e pela sazonalidade.
pirata de Nova Iorque”, “É uma proposta que

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Dentro
tem muito que ver —— Puzzles
com a minha viagem
profissional pela FILMES DE CULTO
gastronomia”, resume É para quem gosta de
a chefe de cozinha. puzzles e de cinema a
coleção Filmes de Culto
HENRIQUE SÁ da Clementoni. Cada
PESSOA A NORTE puzzle tem 500 peças
O chefe de cozinha e são bastante originais,
Henrique Sá Pessoa é dizemos nós. À escolha,
agora o responsável encontram-se, entre
pelo universo outros, os cartazes de
gastronómico do Regresso ao Futuro
Vinha Boutique Hotel, (1985), de Robert
em Vila Nova de Gaia. Zemeckis, O Grande
Da esplanada ao Lebowsky (1998), dos
bar, passando pelo irmãos Coen, The Blues
restaurante, há novos Brothers (1980), de quem viveu por dentro Cleese, Terry Gilliam, encontram-se sortidos
menus de degustação John Landis, Tubarão a Revolução dos Cra- Eric Idle, Terry Jones de dim sum (bolinhos
(a partir de €35), (1975), de Steven vos. O primeiro episódio e Michael Palin. O recheados, cozidos
onde constam, por Spielberg, ou Os teve como convidado programa, pautado pelo a vapor ou fritos,
exemplo, o lombo Goonies (1985), o cardeal-patriarca nonsense, mudou tudo: uma especialidade
de atum, ratatouille, de Richard Donner. de Lisboa, D. Manuel a estrutura da comédia, cantonesa), pad thai
coulis de pimento; o E até a caixa é original, Clemente, seguindo- as convenções, o gosto, de camarão, satay de
cabrito assado, migas a lembrar as cassetes -se Basílio Horta. Mas mantendo-se, até à frango e bao de pato à
de batata e grelos, jus de VHS. haverá mais histórias atualidade, imune ao Pequim.
de tomilho, e o pudim para ouvir, entre elas desgaste do tempo, a
Abade de Priscos, da jornalista e escritora fronteiras e gerações.
sorbet de citrinos, Maria Antónia Palla, do —— Caixa-
vinho do Porto. poeta e histórico socia- -surpresa
lista Manuel Alegre e do ——Restaurante
ex-PCP Carlos Brito. O LIVROS NO CORREIO
—— Espetáculo podcast assinala o início BOA-BAO EM CASA Sara Amado não
das comemorações dos A cozinha pan-asiática esconde o prazer
TEATRO MUSICAL 50 anos do 25 de Abril do restaurante Boa- de escolher
O Festival Hans Otte: de 1974. Bao, em Lisboa e no criteriosamente cada
Sound of Sounds Porto, pode agora ser livro enviado aos seus
chega esta semana saboreada em casa, subscritores. A arquiteta
ao fim com a peça —— Podcast —— Televisão através da Glovo. A dá aulas de desenho
de teatro musical carta é variada, com e trabalha em projetos
J-CHOES J’ai Faim. 25 DE ABRIL NA “MONTY PYTHON: receitas autênticas de cenografia, mas
O espetáculo, cheio PRIMEIRA PESSOA OS MALUCOS DO originárias de países tem um blogue desde
de humor poético e O novo podcast Ave- CIRCO” como Tailândia, China, 2009, o Prateleira
lúdico, tem música nida da Liberdade, da Estrearam-se há Laos, Japão, Malásia, de Baixo, e foi lá que
de John Cage, Erik Renascença, preten- 50 anos na BBC, Coreia e Taiwan. nasceu o Pacote, que
Satie e Hans Otte de dar a conhecer mas continuam a Entre as sugestões, implica uma seleção
e conta com três os testemunhos dos influenciar comediantes personalizada de
atores-pianistas: protagonistas e espec- contemporâneos. livros infantis e juvenis.
Margaret Leng Tan, tadores privilegiados Os Monty Python A assinatura mensal
Joana Gama e Ingo da Revolução de Abril. regressam à RTP2 nesta custa €30 e inclui dois
Ahmels. A estreia Num registo informal, quinta, 7, com a série livros, escolhidos de
acontece nesta sempre às quartas- cómica Os Malucos do acordo com a idade
sexta, 8, no Teatro -feiras, numa conversa Circo (Flying Circus, e os interesses da
Viriato, em Viseu, moderada por Maria no original), que deu criança. Até domingo,
seguindo depois para João Costa, ouvem-se a conhecer o grupo 10, ainda vai a tempo de
o Goethe-Institut, em histórias contadas na de seis humoristas: subscrever o Pacote de
D.R.

Lisboa, a 11 de abril. primeira pessoa de Graham Chapman, John Primavera.

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7 ---------- M Ú S I CA

GUIMARÃES

Westway Lab
De regresso ao habitat natural
O festival regressa ao formato presencial
com mais de 20 concertos em diversos
espaços emblemáticos de Guimarães GUARDA, SETÚBAL,
PORTALEGRE E ÍLHAVO

Emily Jane White

D
epois de duas edições atí- Taqbir também fazem parte do cartaz
picas, sem público presen- do primeiro dia. No sábado, duran- A cantautora norte-americana
te, o Westway LAB volta a te a tarde, haverá o habitual rotei- vem apresentar Alluvion,
Guimarães para transfor- ro urbano ao som da música, nos álbum de “dor pessoal e
mar a cidade numa capital da música, já tradicionais City Showcases, que coletiva sobre a perda
com um vasto cartaz que além de este ano contam com as atuações humana e do nosso mundo
mais de duas dezenas de concertos de Angélica Salvi (Museu de Alber- natural”, feito no início da
contará também com a apresenta- to Sampaio), Jorge da Rocha e Tiago pandemia em parceria com
ção de projetos de criação próprios Sousa (Convívio Associação Cultu- o produtor Anton Patzner.
e algumas conferências direcionadas ral), y.azz x b-mywingz e St. James A artista californiana teve
para os profissionais da indústria Park ( Oub’Lá), Siricaia e Trees Up concertos agendados em
musical. A programação musical terá North (Ramada 1930) e Misia Fur- Portugal relativos ao álbum
como epicentro o Centro Cultural tak (São Mamede CAE). Pela noite, a anterior, Immanent Fire, mas
Vila Flor (CCVF), onde existirão três ação regressa ao CCVF, num variado foram cancelados, pelo que
palcos (Palco, Pátio e Box), a que serão com Noiserv, as releituras da é de esperar que alguns
se juntam ainda cinco localizações música tradicional de A Cantadei- desses temas sejam também
emblemáticas do centro urbano de ra e do projeto Bandua, o novo folk incluídos no alinhamento.
Guimarães. O arranque, nesta sexta, estónio das Duo Ruut, o Surma Trio
8, à noite, cabe aos Sensible Soccers, e, para acabar em grande, o ensemb- Teatro Municipal da Guarda > 7
que apresentam o disco Manoel, le do baterista e produtor Fred, que abr, qui 21h30 > Casa da Cultura
de Setúbal > 8 abr, sex 21h30
dedicado a Manoel de Oliveira, em vem apresentar o último trabalho em > CAE de Portalegre > 9 abr,
formato cine-concerto. Seguem-se nome próprio, Series Vol.1 – Madlib, sáb 21h30 > Teatro Vista Alegre,
outros nomes nacionais como Rui no qual jazz e hip-hop caminham Ílhavo > 10 abr, dom 16h
Reininho, Fumo Ninja, Club Makum- lado a lado. — Miguel Judas
ba (novo projeto de Tó Trips) e Bateu
Matou; a cantora, compositora, atriz Centro Cultural Vila Flor > Av. Afonso
e artista visual maiorquina de sangue Henriques, 701, Guimarães > T. 253 424 700 PORTO
macedónio e andaluz Maika Mako- > 8-9 abr, sex-sáb 21h30, 15h e 21h30 > €15
vski ou a banda punk marroquina a €25 (passe)
Bodega
Em nome + La Paloma
de Oliveira
O concerto dos A parceria entre a SON
Sensible Soccers Estrella Galicia e o M.OU.CO
inclui a projeção dos vai prolongar-se até julho,
filmes Douro, Faina
sempre com uma noite mensal
Fluvial e O Pintor
e a Cidade dedicada “a alguma da mais
interessante e inovadora
música contemporânea”. Os
primeiros a subirem ao palco
do novo espaço portuense
para este renovado ciclo
são os nova-iorquinos pós-
punk Bodega, que vêm
acompanhados da noise-pop
dos madrilenos La Paloma para
uma noite de rock à antiga.
VERA MARMELO

M.Ou.Co. > R. de Frei Heitor


Pinto, 65, Porto > T. 22 766 7790
> 12 abr, ter 21h > €13

96 VISÃO 7 ABRIL 2022


7 ---------- E X P O S I Ç Õ ES

Lápis azul
Os censores
cortavam tudo o
que perturbasse
o respeito, e
“passaram-se”
particularmente
com José Vilhena

JOSÉ CARLOS CARVALHO


LISBOA

Proibido por Inconveniente


Recordar as várias censuras
e o respeitinho que era tão bonito
Como ter a noção do que é a liberdade,
pela sua negação, através de materiais do
Arquivo Ephemera marcados pela ditadura

A
lgumas frases podem ser lidas ainda podia escrever Zeca Afonso, escrevia-se Osnofa
do lado de fora, na montra do edifício Acez, e Karl Marx era Carlos Marques”, exem-
que durante tantos anos foi a sede do plifica, “mas o que pusesse em causa a hierar-
jornal Diário de Notícias. E é assim que quia do País... Tudo o que perturbava a hierar-
se apanham os desprevenidos que passam pelo quia e o respeito fazia tocar as tais campainhas.”
número 266 da Avenida da Liberdade, perto do É por essa razão que os censores são parti-
Marquês de Pombal, quase como no tempo da cularmente violentos com autores como José
outra senhora se apanhava quem punha em cau- Vilhena, acredita Pacheco Pereira. “O despacho
sa a relação com as autoridades. que temos na exposição é um despacho furio-
São “frases relevantes”, nota José Pacheco so; percebemos que os censores passam-se. É o
Pereira, o homem que está à frente do Arquivo melhor exemplo desta Censura do respeitinho.”
Ephemera e por detrás da exposição Proibi- Livros e os despachos sobre eles, cortes da
do por Inconveniente. Frases que demonstram Censura nos periódicos, a Censura na publici-
como a Censura, em Portugal, era para lá da dade, nos filmes e nas músicas – há de tudo um
política. “Entre a Oposição havia a tese de que a pouco nesta exposição comissariada por Júlia
Censura eram uns coronéis pouco cultos, mas Leitão de Barros e Carlos Simões Nuno e inseri-
eles tinham campainhas na cabeça que toca- da no Festival Abril em Lisboa. Material mais do
vam sobretudo quando era algo inconveniente”, que o suficiente para se perceber que se cortava
lembra o historiador, ele próprio censurado em sistematicamente tudo o que gerasse comoção.
várias ocasiões. “A Censura era de tudo o que “Era uma espécie de campânula sobre o País”,
punha em causa as relações com as autoridades, compara Pacheco Pereira. “A ideia era de um
fosse o que fosse.” país que não se emocionava.” — Rosa Ruela
Tudo o que representava desrespeito, na
verdade. “Isso os censores faziam muito bem. Edifício Diário de Notícias > Av. Liberdade, 266, Lisboa
Era fácil enganá-los no plano político – não se > até 27 abr, seg-dom 11h-18h > grátis

98 VISÃO 7 ABRIL 2022


7 ---------- T E AT R O

LISBOA COIMBRA

As Bacantes Abril Dança


em Coimbra
O lugar ao delírio O regresso do festival de
Cinco anos depois da estreia, a versão de dança a Coimbra conta com
As Bacantes transposta para dança por Marlene a estreia de Neve, peça de
Monteiro Freitas regressa ao D. Maria II Né Barros que integra a
série Paisagens, Máquinas
e Animais, iniciada em 2019.
A paisagem coberta por um
manto branco apela a uma
natureza temporária, cíclica,
finita e homogénea. “Parece
que criamos uma camada,
aparentemente igual, mas
que tem muitas dimensões
subterrâneas”, explica a
coreógrafa, uma exploradora
dos corpos “movimentantes”
ao longo do seu percurso.
Outras disciplinas foram
convocadas no espetáculo
(apresentado neste sábado,
9): a música, do compositor
Carlos Guedes tocada ao vivo
pela flautista Cristina Ioan;
o cinema de Filipe Martins,
LAURENT PHILIPPE

com imagens projetadas a


fazer ligações com viagens;
e a arquitetura do coletivo
FAHR 021.3, que assina a

A
cenografia. Pelos palcos do
intensidade, a pujança, o des- No nível de cima, sobre fundo branco, Abril Dança em Coimbra vão
controlo dos ritmos africa- destacam-se vários tubos dos tripés, passar ainda Soulèvement,
nos, misturados com mo- finos, alguns bancos, alguns instru- de Tatiana Julien (dia 20);
vimentos contemporâneos, mentos de percussão – quais pequenas Pantera, de Clara Andermatt
são organizados e amestrados numa flores metálicas a emergir na tela de (dia 22); e, em antestreia,
espécie de caixa de música com figu- um teatro de sombras. As personagens Portrait of a Dancer as
rinhas mecânicas que dançam como parecem araras, a cirandar pelo espaço Velvet, de Hugo Calhim e
se fossem personagens de um filme de sem rumo. Junto à boca de cena, pas- Joana von Mayer Trindade
Jacques Tati. O que torna os espetá- sam os músicos, na obscuridade, a tocar (dia 28), entre outros. — J.L.
culos da coreógrafa Marlene Monteiro trompete. Vem depois o silêncio, ouve-
Freitas quase irrespiráveis – e também -se apenas um murmurar ao longe. Teatro Académico Gil Vicente
geniais. Estreado neste mesmo Teatro As personagens começam então a e Convento São Francisco
> T. 239 855 636 > até 30 abr
Nacional D. Maria II em 2017, Bacan- movimentar-se como se fossem seres > €6 a €10
tes, Prelúdio Para uma Purga sobe, programados, marionetas sem vonta-
de novo, ao palco da Sala Garrett nos de própria – movimentos repetidos,
próximos dias 13 e 14. cadenciados. Neste trabalho da co-
Baseada na tragédia de Eurípides As reógrafa cabo-verdiana e portuguesa,
Bacantes, que conta a história do jovem premiada na Bienal de Veneza de 2018,
Dionísio a quem é recusada a condição o poder dos contrastes é essencial: es-
de divindade pelo facto de não acredita- sas marionetas começam a descarrilar,
rem que a sua mãe engravidou de Zeus a descontrolar-se. A fusão de sonori-
(ele jura, por isso, vingança sobre Tebas dades, do jazz às mornas, de Ravel a
munido de um exército de bacantes), Stravinsky, funciona como gatilho que
esta coreografia começa com sons de apela à revolta, ao delírio e à transmu-
apitos como música de fundo, a dar a tação. — Cláudia Marques Santos
toada. Duas tiras amarelas atravessam
o soalho negro de um lado ao outro; Teatro Nacional D. Maria II > Pç. D. Pedro IV,
como se fossem passadeiras – de linha Lisboa > T. 21 325 0800 > 13-14 abr, qua-qui
de montagem, de processo, de trabalho. 19h > €9-€16

100 VISÃO 7 ABRIL 2022


7 ---------- CI N E M A

Flee – A Fuga Quando Neva


na Anatólia
O mundo é um talibã O turco Ferit Karahan fez um
filme de temática e contexto
Um filme de animação para adultos, retrato infantojuvenil em que a
de um refugiado afegão na Dinamarca, infância não tem espaço para
que teve duas nomeações para os Oscars acontecer. Não são apenas as
terras da belíssima Anatólia
que gelam no inverno, há

F
uma frieza generalizada do
lee, a primeira longa de ani- vel violência, com ecos nas atuais si- ambiente e do espaço em
mação do dinamarquês Jonas tuações dos refugiados – não tanto os volta, dominados por uma
Poher Rasmussen, realiza- da onda ucraniana (que não sofreram moralidade intransigente e
dor habituado a trabalhar em este tipo de pressão religiosa e social), caduca que não permite um
imagem real, alcançou o feito raro de mas da vaga do Médio Oriente e, con- desenvolvimento psíquico
acumular duas nomeações para os cretamente, da Síria. caloroso.
Oscars: melhor filme de animação e O caminho percorrido por Amin No imaginário português,
melhor filme estrangeiro. Na verdade, foi violento e tortuoso, com mortes quando falamos nos ambientes
ainda poderia concorrer à categoria de e muita corrupção. Incluiu uma pas- austeros dos internatos,
melhor documentário, pois é também sagem miserável pela Rússia, onde os vem-nos logo à memória
disso que se trata. polícias inspiram mais receio do que Manhã Submersa, filme de
O filme envereda pelo estilo bio- os ladrões, e pelos negócios sem fron- Lauro António a partir do
gráfico e diarístico, contando a his- teiras com os traficantes de pessoas, romance, muito autobiográfico,
tória de um refugiado. É um registo que sujeitam os migrantes a condições de Vergílio Ferreira. Em
comum no cinema de animação e infra-humanas de vida, acenando com Quando Neva na Anatólia, há
em novelas gráficas, que tem como a miragem de uma futura libertação. elementos próximos, mas o
referência mais popular e marcan- Não sendo totalmente inovadora, paradigma da austeridade é
te Persépolis, da iraniana Marjane Flee é uma animação para adultos que elevado a um novo patamar,
Satrapi. Em Persépolis juntava-se consegue furar os circuitos e pre- revelando um pensamento de
à frágil condição de refugiado do conceitos de género. Esteticamente índole militar que confunde
Médio Oriente, o tema da condição é muito interessante, propondo uma amor com disciplina.
feminina num país em que os direi- linguagem mais livre que se liber- O ambiente sobressai, mas,
tos das mulheres são atropelados; em ta dos estilos estereotipados e algo à boa maneira turca, o
Flee o mesmo acontece, mas devido estagnados da Disney/Pixar. Não será filme foca-se num episódio
à homossexualidade da personagem. o melhor filme que passou no festival concreto, particularmente
Como é dito no filme, o afegão Amin é Monstra (onde se estreou em Por- grave e frio, de uma criança em
gay num país em que a homossexuali- tugal), mas é seguramente das mais risco de vida por hipotermia.
dade oficialmente não existe, ao ponto interessantes animações a chegar à Mas no meio do drama e da
de nem sequer haver uma palavra exibição comercial nas salas portu- bruteza Karahan encontra
para a designar. guesas. — Manuel Halpern espaço para deliciosos
A história de Amin, namorado do detalhes naturalistas, por vezes
realizador, passa por uma inacreditá- De Jonas Poher Rasmussen > 89 min até caricatos, só ao alcance de
um cinema com vida dentro.
Apesar da sua carreira ainda
ser curta, Ferit Karahan faz jus
à tradição de grande cinema
turco, na linha de Nuri Bilge
Ceylan, entre outros. Um
realizador que, acreditamos,
‘Flee’ ainda vai dar muito que falar.
Documentário em
M.H.
forma de animação,
este filme revela
a violência na vida De Ferit Karahan, com Samet
dos refugiados Yildiz, Ekin Koç, Mahir Ipek,
que chegam Melih Selcuk > 85 min
à Europa
D.R.

7 ABRIL 2022 VISÃO 101


7 ---------- T
??E L E V I S ÃO

Especial Documentários:
Para Além da Música
De ouvidos bem abertos
Ícones musicais, histórias de bastidores e sonoridades
diferentes em seis documentários para ver às sextas
no TVCine Edition

Sonho americano
O documentário
de Spike Lee,
David Byrne’s
American Utopia,
em volta do último
disco e da série
de concertos do
líder dos Talking
Heads, integra
o ciclo

D.R.

S
e há indústria rica em diversidade é, abr) ouve-se a partir do olhar de Vasco Viana e
seguramente, a da música. Os séculos Rita Maia. Vencedor do prémio IndieMusic no
avançam e a música reinventa-se, atuali- IndieLisboa de 2019, trata-se de uma incur-
za-se, volta atrás para andar para a fren- são aos subúrbios de Lisboa através da vida de
te. Tudo isso se faz com os artistas consagrados, músicos de diferentes gerações e origens, de
mas também com os emergentes, criadores de Angola a São Tomé, de Cabo Verde à Guiné-Bis-
novos estilos. Estes seis documentários, que o sau, com complexas lutas de identidade.
canal TVCine Edition vai exibir, são também Nem a pandemia parou o antigo líder dos
obras de outra arte, o cinema. Talking Heads, numa aclamada parceria com o
A abrir, Oscar Peterson: Black + White (8 abr) realizador Spike Lee. David Byrne’s American
apresenta o virtuoso pianista de jazz canadiano Utopia (6 mai), vencedor de dois Emmy, acom-
(1925-2007), num “docu-concerto”, de Barry panha o espetáculo da Broadway que surgiu
Avrich, estreado no Festival Internacional de depois de um álbum e de uma tournée. Além das
Cinema de Toronto de 2021. A realizadora So- atuações, com 11 músicos, cantores e dançari-
phie Cunningham centra Look Away (15 abr) na nos de todo o mundo, há breves monólogos que
indústria do rock e em como esta permitiu uma permitem a David Byrne falar de temas sociopo-
cultura de assédio e de abusos sexuais, apresen- líticos. Por fim, a merecida homenagem, assinada
tando alegações contra Steven Tyler, dos Aeros- por Frank Marshall, ao trio britânico dos irmãos
mith, e Axl Rose, dos Guns N’ Roses. Gibb em Bee Gees: How Can You Mend a Broken
Em português, o realizador Bruno de Almei- Heart (13 mai). A ascensão, as dificuldades e o
da (Cabaret Maxime) constrói Fado Cama- êxito de uma carreira com mais de mil canções,
né (22 abr), a partir de entrevistas do fadista, 20 delas premiadas com Emmy. Mais revival
em que fala da eterna procura de “aprender a é difícil. — Sónia Calheiros
sentir”, mas também aqui regista a gravação do
álbum Sempre de Mim. A Batida de Lisboa (29 TVCine Edition > 8 abr-13 mai, sex 22h

102 VISÃO 7 ABRIL 2022


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7 ---------- D I SCO S

Fado, jazz e tudo


Cinco discos portugueses recentes de artistas que souberam
encontrar a sua voz própria – mesmo quando não cantam

Amélias
Amélia Muge

Como aconteceu na sua estreia


discográfica, o título do novo álbum de
Amélia Muge volta a jogar com o nome
da autora. Em 1992, editou Múgica e
agora chegou às lojas Amélias. O uso
do plural, percebe-se rapidamente,
não é fortuito. Desde os primeiros

Tudo Recomeça segundos, encontramos Amélia Muge


em várias polifonias, canções entoadas
a várias vozes – com a particularidade
Aldina Duarte de todas essas vozes, ora sobrepostas,
ora em volteios livres, serem da mesma
pessoa: Amélia Muge, claro. Chegados
ao fim dos 13 temas, temos a convicção
Com um álbum acabado de editar (Roubados) e uma digres- de que este é um álbum feito com
são marcada, Aldina Duarte viu a pandemia interromper-lhe os tempo, rigor e muito prazer. A grande
planos. Quando, meses depois, regressou aos palcos, percebeu maioria das letras e composições é da
que algo tinha mudado. Os fados que sempre cantara haviam- autoria da própria Amélia Muge, mas
-se tornado outros. “Já não contavam as mesmas histórias e isso há outro protagonista no resultado
mudou tudo: o ritmo, a sonoridade, as palavras, a poesia...”, conta final deste Amélias, gravado em tempo
a fadista. “Pensava conhecer estes fados de trás para a frente e de de confinamentos e distâncias sociais
repente tudo me parecia tão desconhecido que até me sentia mal obrigatórias (o que explica, só em parte,
fisicamente.” Um dia, em palco, decidiu ouvir bem cada uma das a criativa e produtiva conversa entre as
palavras que cantava e começou a sentir “uma gratidão enorme” várias vozes de uma mesma artista, que
por aquelas pessoas de máscara ali à sua frente, apenas para a sempre gostou destes jogos polifónicos):
ouvirem. “Percebi que me tinha acontecido algo que já ouvira a António José Martins (Trovante, Gaiteiros
fadistas mais velhos: apesar de os fados serem os mesmos, eles de Lisboa...), responsável pelos arranjos
vão-se transformando noutra coisa à medida que o tempo passa.” e por muitos e inventivos efeitos e
Decidiu, então, colocar-se à prova, reinterpretando em disco, apontamentos sonoros. O registo das
acompanhada à viola e à guitarra portuguesa, alguns dos fados canções é de um grande lirismo, às
vezes acrescentado de humor e de
tradicionais que sempre cantou ao vivo, mas agora sob esta nova
um surrealismo que faz pensar na mais
perspetiva, quase catártica. Dá o exemplo de Estação das Cerejas,
livre das heranças de José Afonso. Um
com letra de João Monge, que sempre interpretou como “uma
exemplo? Este verso no tema Versão
história de amor” e foi agora transformado “numa canção de Condensada do Nascimento dos
esperança na vida só por si”. A abrir o disco, o inédito Ela, de Ma- Desertos: “Esta é a história de Belzebu,
nel Cruz (Ornatos Violeta), é a exceção que confirma uma regra quando ele um dia se constipou...”
de Aldina: total fidelidade ao fado tradicional, mesmo quando a Amélia Muge tem uma voz própria na
partir dele cria algo completamente novo. “Ela não aprende a ser música popular portuguesa atual. Neste
outra, é só isso, sempre foi”, canta. — Miguel Judas caso, várias.— P.D.A.

104 VISÃO 7 ABRIL 2022


Jangada Estação #60
Mário Laginha Guitolão Trio

Já há 15 anos que Mário Depois de já ter colocado o


Laginha (piano), Bernardo “guitolão” em diálogo com o
Moreira (contrabaixo) contrabaixo de Carlos Barretto,
e Alexandre Frazão num álbum editado em 2015,
(bateria) tocam lado a lado
enquanto trio, num trabalho
Chá Lá Lá António Eustáquio regressa
com Estação #60, e esse
materializado em dois álbuns, Miguel Araújo instrumento criado pelo mestre
Espaço (2007) e Mongrel Gilberto Grácio, a pedido de
(2010), mas acima de tudo Já lá vão dez anos desde que uma canção Carlos Paredes, surge agora
em muitos quilómetros de acompanhado pelo violino
chamada Os Maridos das Outras começou
estrada e horas de palco. de André Gaio Pereira e o
a passar na rádio, elevando o então quase
Costumam apresentar-se acordeão de Fábio Palma.
como amigos que fazem
anónimo guitarrista dos Azeitonas, Miguel O mais recente cordofone
música juntos e talvez nunca, Araújo, ao estatuto de estrela da pop nacio- português apresenta-se como
como agora, essa descrição nal. Dotado do “superpoder das melodias”, “uma guitarra portuguesa
tenha feito tanto sentido, pelo como um dia disse, a seu propósito, o pia- com uma sonoridade mais
modo como conseguiram nista António Pinho Vargas, o músico e can- ampla e uma personalidade
transformar em música tor portuense está agora de regresso com muito própria”, como uma
conceitos tão abstratos como um dos seus discos mais orelhudos, como combinação “entre a guitarra
liberdade, cumplicidade ou se percebe rapidamente ao ouvir temas tão portuguesa e a guitarra
confiança. Apesar de grande irresistivelmente trauteáveis como Talvez acústica”. O primeiro a ser
parte das músicas ter sido se Eu Dançasse (apresentado ainda antes criado e apresentado ao
criada por Mário Laginha da pandemia), Dança de um Dia Normal mundo (existem apenas três
antes da pandemia, os ou Karma Kamikaze. O título do sexto ál- exemplares) foi precisamente o
sucessivos confinamentos e bum de originais de Miguel Araújo, Chá Lá de António Eustáquio, músico
consequentes cancelamentos Lá, não engana, aliás, ninguém. O próprio e compositor residente em
de espetáculos acabaram por autor assume o disco como “uma espécie Castelo de Vide, onde se
se revelar uma oportunidade de compilação de canções inéditas”, em tem assumido como uma
para o trio, que passou a contraposição aos álbuns anteriores, “quase das figuras de proa das
encontrar-se semanalmente, sempre temáticos e com uma narrativa novas paisagens sonoras do
apenas pelo prazer de tocar Alentejo. A meio caminho
muito própria a ligar as músicas”. Desta vez,
junto. O objetivo, confessou entre a música tradicional e
mergulhou no seu imenso arquivo em busca
Mário Laginha, “era já fazer as sonoridades mais urbanas
daquilo a que chama “músicas mais ‘chá lá
um disco a partir desse do jazz e até do rock, Estação
trabalho regular enquanto
lá’”, para cumprir a promessa feita há alguns #60 (dedicado ao mestre
banda” e o resultado, anos ao seu manager de um dia gravar essas Gilberto Grácio, falecido no
percebe-se em Jangada, canções esquecidas no fundo da gaveta. ano passado) é baseado em
está muito próximo das O resultado é um verdadeiro álbum pop, de dois poemas: Meditação,
atuações nos concertos, singles, composto por esse super-herói “das de Maria de Guadalupe, e
“com muito mais liberdade melodias”, e com as participações especiais Caminar por Caminar Cansa,
e improvisação” do que as de António Zambujo, em Dia da Procissão, do espanhol Antonio Gómez.
habituais sessões de estúdio. Joana Almeirante, em Baby (Chá Lá Lá) ou Libertação, o último tema,
Um dos melhores exemplos é Rui Pregal da Cunha, Rui Reininho e Tim é dedicado à memória de
The Stone Raft, uma extensa nessa ode às músicas das nossas vidas que Aristides de Sousa Mendes,
faixa, com mais de 16 minutos, dá pelo nome de Canções da Rádio, assim mas esse título também
que o pianista imaginou resumidas num único refrão: “Só gosto de podia ser aplicado ao modo
como banda sonora para o ti, porquê, não sei, ai o que eu já chorei por como António Eustáquio tem
romance Jangada de Pedra”, ti, em câmara lenta como na TV.” Parece tratado o “guitolão”, singular
de José Saramago. — M.J. simples, mas não é...— M.J. instrumento. — M.J.

7 ABRIL 2022 VISÃO 105


7 ---------- CO M E R

LISBOA

Encanto
Vegetariano com todos
O novo restaurante de José Avillez, no Chiado,
tem apenas um menu de degustação que combina
legumes, folhas, sementes, flores, frutos e queijos

“Além de
GRUPO JOSEAVILLEZ

muito diversos,
os vegetais
são muito
interessantes em
termos de sabor,
de textura e de

C
possibilidades
om os ponteiros do relógio a marcarem amendoim satay com paprika e limão, que sur- de preparação e
as 19h30, a sala começa a encher-se de preende pela aparência e pelo sabor. Também de combinação”,
comensais de várias idades e nacionali- o peixinho da horta com romanesco, o feijão diz José Avillez
dades. No Encanto, serve-se um único com abacate, leite de tigre e flores, e o momen-
menu de degustação vegetariano composto por to Ouro, preparado
parado com húmus e servido num
12 momentos (€95, sem bebidas). A decoração do cesto, merecem
em elogios que ecoam no restau-
Studio Astolfi pode ainda remeter para o anterior rante, aberto no dia 16 de março. Ao longo do
ocupante (chamava-se Canto o restaurante de jantar vão desfilando
sfilando sugestões que combinam
José Avillez e juntava sala de espetáculos, com legumes, folhas,
has, sementes, algas, cogumelos,
curadoria da fadista Ana Moura e do músico An- flores, frutos, ovos e queijos, em diferentes tex-
tónio Zambujo), mas este é um novo capítulo que turas, cores e temperaturas. Para acompanhar,
se abre, agora com outros protagonistas à mesa. há dois pairing
ng de vinhos, a maioria biodinâ-
“Já há muitos anos que passámos a in- micos (€45/5 vinhos, €65/8 vinhos), bem como
cluir pratos vegetarianos nas cartas dos nos- cervejas artesanais
sanais e kombuchas.
sos restaurantes, a procura é cada vez maior. No Encanto,o, elogia-se o trabalho de peque-
Além de muito diversos, os vegetais são muito nos produtoreses locais ou de proximidade e dá-se
interessantes em termos de sabor, de textura palco aos produtos
dutos sazonais. “Há uma tendência
e de possibilidades de preparação e de combi- de aproximação ão crescente ao mundo vegetal que,
nação”, diz José Avillez. Mais fácil de saborear sem dúvida, vem para ficar”, afirma Avillez. Aliás,
do que de explicar, até para não comprome- basta olhar à nossa volta. — Sandra Pinto
ter o efeito-surpresa, diga-se que o menu tem
início com cinco snacks. Primeiro, chega o aipo os, 10, Lisboa > T. 21 162 6310 > ter-sáb
Lg. de São Carlos,
com tonburi (chamado “caviar de terra”) e o 19h-22h30 > menu
enu €95 (12 momentos, sem bebidas)

106 VISÃO 7 ABRIL 2022


7 ---------- V I N H O S

POR
Manuel
Gonçalves
da Silva
comer&beber@visao.pt

Como sempre,
como nunca
Mudou a imagem, mas não
o espírito dos vinhos Churchill’s;
o Esporão Colheita mostra a habitual
compostura, e o Lacrau Rosé
continua atrativo e polivalente

P
ara assinalar a entrada na quinta década, a
Churchill’s – empresa criada pelo enólogo
Johnny Graham, em 1981 – apresentou os
vinhos do Porto e do Douro com nova ima-
gem, em que se conjuga uma estética “irreverente e
original” com os conceitos de beleza e de minima-
lismo. No caso dos vinhos do Douro, a renovação
incluiu também uma mudança de nome: o Chur-
chill’s Estate passou a ser Grafite. Subjacente a estas GRAFITE ESPORÃO LACRAU
novidades, está a filosofia de intervenção mínima e CHURCHILL’S COLHEITA TOURIGA-
de respeito pelo terroir, a qual inspira os vinhos da ESTATE REGIONAL -NACIONAL
Churchill’s, nomeadamente os Grafite que aca- DOURO ALENTEJANO DOURO
bam de chegar ao mercado. Damos como exemplo BRANCO TINTO ROSÉ
o vinho branco Grafite 2020, que honra, com a 2020 2020 2021
frescura, elegância e firmeza, a terra que o produz.
(Nota: Johnny representa a sexta geração da família Duas das melhores Vinho biológico, Exclusivamente
que fundou a empresa Graham’s, em 1820, e que a castas brancas do de um lote de de uvas da casta
vendeu à Symington, em 1970; não obstante, a sua Douro, Rabigato castas com Touriga-Nacional
vida profissional esteve sempre ligada ao vinho do e Viosinho, de fermentação com fermentação
Porto. Em 1981, ele e a mulher, Caroline Churchill, vinhas em modo conjunta, seguida em cuba de inox,
decidiram criar a própria empresa de vinho do Por- de produção de estágio de seis em que estagiou
to; não podendo chamar-lhe Graham’s, optaram sustentável. meses em cubas até janeiro deste
por Churchill’s, e tudo correu muito bem, até hoje. O aspeto é de betão. Tem ano. Apresenta cor
Johnny é uma figura carismática do Douro e dele brilhante, a cor é aspeto límpido, de salmão, nítida e
aqui falaremos, um dia destes.) de um amarelo- cor rubi de média com brilho, aroma
Certificadas em modo de produção biológica, as dourado muito intensidade, fino, com boas
vinhas da Herdade do Esporão distribuem-se por suave, o aroma aroma jovem a notas de frutos
uma área imensa, com grande variedade de castas. fino e contido, fruta madura e a vermelhos e
É daí que vem o Esporão Colheita Tinto 2020, feito com delicadas alguma especiaria, um toque floral,
à base de Touriga-Nacional, Aragonez, Touriga- notas de fruta e paladar fresco, e paladar jovem
-Franca, Cabernet Sauvignon, Alicante Bouschet e sobre fundo saboroso e e muito seco,
outras castas, que lhe dão uma pureza, uma inten- mineral. O paladar intenso, com com final guloso
sidade de fruta e um equilíbrio assinaláveis. revela-se firme, presença e refrescante.
Regresso ao Douro e ao encontro de mais um tenso e guloso, prolongada e
vinho apelativo: Lacrau Rosé 2021. Tanto se presta com a acidez a muito agradável €5,50
para aperitivo como para acompanhar, porque, ressaltar num final na boca.
sendo jovem, leve e fresco, também apresenta muito apelativo.
volume, intensidade e estrutura em tão bom equi- €10
líbrio que não se dá pelos 13,5% vol. de álcool. €13,50

7 ABRIL 2022 VISÃO 107


7 ---------- CO M E R

PORTO

Tokkotai
Alta-cozinha japonesa
Mais do que uma viagem, uma lição de gastronomia
do Japão, em que se cruza tradição com criatividade

A
inda o trânsito segue apressado para se bar, nas jarras de vidro da sala wine cellar e
sair da cidade, junto ao Palácio da Bolsa, nos biombos artísticos, criados por Francisco
e já a Rua do Comércio do Porto começa Laranjo para a sala byõbu. Uma luz suave entra
a movimentar-se. O sol ilumina o pas- pelas portas que se abrem para o pátio interior
seio estreito, mas é a imagem de um eclipse solar, com esplanada – e que, em breve, fará a ligação
ao lado de uma das portas, que procuramos. entre este e outro restaurante, o Tokko, mais
Quando se entra no restaurante Tokkotai, aberto descontraído e a funcionar apenas ao almoço.
há poucos dias, o olhar fixa-se no balcão com No Tokkotai, trabalha-se o produto da época,
livros, novos e antigos, e na cerâmica elegante. como o polvo, a lula e o carapau, além do ma-
Foi este edifício, com caráter vincado a granito, risco, maioritariamente proveniente da costa
decorado por Paulo Lobo e parcialmente sub- portuguesa, em nigiris tradicionais, flamejados,
terrâneo, o escolhido para concretizar um sonho trufados ou com foie gras e líchia (€10 a €18/2
antigo: abrir um restaurante japonês de aborda- unidades). Já no sashimi brilha o atum Bluefin
gem criativa, em que não se deixa de respeitar a (ou atum-rabilho, a espécie mais cara e mais
tradição, como há de explicar Hélder Moura, um apreciada pelos japoneses), o pargo e a vieira (€12
dos sócios. a €20/2 unidades). A finalizar, prove-se o bonsai
No Tokkotai, não há combinados nem menus de chocolate e algodão-doce (€10) ou a banana
de degustação. O desfile de iguarias à la carte, assada com crocante de avelã (€8). Nesta cozi-
servido como um ritual delicado, procura des- nha, desprovida de excessos, valoriza-se o rigor
pertar sensações logo na abertura, com opções e exalta-se a frescura de cada ingrediente. E isso
como tártaro de atum (€16), rock shrimp (€15) nota-se em cada prato. — Susana Silva Oliveira
ou ceviche desconstruído de peixe branco,
polvo e camarão (€22). Antes de chegar o sushi, R. do Comércio do Porto, 144, Porto > 91 303 7171
reparamos nas garrafas de saqué alinhadas no > seg-qui 19h30-24h, sex-sáb 19h30-2h

Sem excessos
No Tokkotai,
aberto há poucos
dias na Baixa do
Porto, exalta-se a
frescura do peixe
e do marisco,
oriundo, em
grande parte, da
costa portuguesa
LOUIE THAIN

108 VISÃO 7 ABRIL 2022


7 ---------- R ECE I TA

FESTIVAL DO PÃO DE LÓ
DE FELGUEIRAS

Páscoa doce
O pão de ló de Margaride é
o anfitrião deste festival que
costuma anteceder a Páscoa e
que regressa, neste sábado e
domingo, dias 9 e 10, à Praça
Dr. Machado de Matos, em
Felgueiras, após dois anos de

LUCÍLIA MONTEIRO
interregno devido à pandemia.
Desta vez, e além da Mostra
de Doces Internacionais (com
participações de Angola,
Argentina, Brasil, Índia, França,
Polónia e Venezuela), a festa
Língua de vitela vai contar com uma dezena de
outras versões e cozeduras de
Miudeza só de nome, que esta carne tem pão de ló, como os de Ovar,
muito sabor, assim saibamos cozinhá-la Arouca, Vizela (conhecido
como bolinhol) e Vila Nova de
Famalicão (com merengue por
cima). As cavacas são outro
bolo típico de Felgueiras, mas
POR ˜Lavar a língua com sal marinho. o pão de ló de Margaride
Vasco estará em destaque – o de
Coelho ™Numa panela, em fogo médio, colocar o fabrico mais antigo (1730)
azeite e a cebola picada. Deixar a refogar. pertence à casa Leonor Rosa
Santos da Silva e ainda é feito de
Chefe de cozinha dos
restaurantes Euskalduna ›Quando a cebola estiver dourada, acres- forma tradicional, com ovos
Studio e Semea, no Porto
centar a malagueta sem as sementes, o alho, o (muitos), açúcar e farinha, e
louro e uma pitada de sal. Deixar a aromatizar cozido em formas de barro
por mais uns minutos e adicionar o tomate nos fornos a lenha. Leve e fofo,
INGREDIENTES (2 PESSOAS) cortado em cubos. Quando tudo estiver bem continua a ser vendido dentro
confecionado, refrescar com vinho tinto. de uma caixa octogonal, em
— 1 língua de vitela que estão incluídos uma folha
com 1 kg šAdicionar a língua de vitela e juntar água, com a história da casa e um
— 2 cebolas grandes por forma a que a língua fique submersa. napperon de papel – como
picadas (350g) Retificar o sal. Deixar a cozinhar durante antigamente. — F.A.
— 1 malagueta quatro horas, em lume baixo.
— 3 dentes de alho Pç. Dr. Machado de Matos,
laminados œQuando cozida, retirar a língua e fazer Felgueiras > 9-10 abr, sáb
10h-23h, dom 10h-20h > grátis
— 1 folha de louro um golpe superficial, na horizontal, para
— 2 tomates cortados facilitar a remoção da pele.
em cubos (250g)
— 300 ml de vinho žTriturar o caldo e deixar a ferver até se
tinto obter um molho.
— pickles q.b.
— cebolinho q.b. Laminar a língua e colocá-la no molho.
— 100 ml de azeite Servir com pickles e cebolinho picado, e
— sal marinho q.b. acompanhar, a gosto, com arroz ou puré
de batata.

7 ABRIL 2022 VISÃO 109


7 ---------- S A I R

LISBOA

MiniGolf Lisboa
Tacadas certeiras
Além de um circuito de 18 buracos,
há mesas de snooker e de air hockey, matraquilhos
e um bar com cocktails coloridos

Brilhar no escuro
No primeiro andar,
a sala é mais
escura, com cores
fluorescentes,
aumentando
o nível de
dificuldade

LUÍS BARRA

N
o número 8 da Calçada Ferragial, há mais nove pistas, desta vez inspiradas em
perto do Cais do Sodré, onde an- personagens como a Pantera Cor de Rosa e no
tes funcionou a loja-atelier da dupla filme Alice no País das Maravilhas. O circuito
de designers de moda Storytailors, tem a duração média de 1h/1h30, para duas a
existe, desde janeiro, um circuito de minigol- três pessoas, aumentando consoante o número
fe indoor. A ideia, explicam os proprietários, de participantes. Os adultos pagam €14, e as
o espanhol Pedro Julio e o inglês Lee Allen, crianças, entre os 3 e os 13 anos, 12 euros. De
era trazer para Lisboa “um conceito ainda não segunda a quinta-feira, há um preço especial
muito explorado” e assim abrir mais um local para os residentes em Portugal (adultos €7,
de diversão, tanto diurno como noturno e para crianças €6).
todas as idades. O MiniGolf está aberto todos os dias, entre
Com quase 500 metros quadrados, dividi- as 12h30 e as 11 da noite. Além das pistas de
dos em dois andares, o MiniGolf Lisboa tem minigolfe, existe também a possibilidade de
18 pistas. A dificuldade vai aumentando – e jogar snooker e matraquilhos, provar um dos
a diversão, também. No piso térreo, encon- cocktails, também eles com uma apresentação
tram-se nove pistas temáticas inspiradas em colorida, como o Crazy Golf Cocktail (€8), ou
Lisboa, com elementos alusivos à cidade, desde fazer uma festa de anos. A diversão está pro-
a Ponte 25 de Abril à vizinha Rua Cor de Rosa. metida, antes ou depois do lanche e de cantar
Numa das paredes, destaca-se um mural feito os parabéns. — Carlota Costa Pinto
por artistas portugueses convidados.
Subindo ao primeiro andar, o ambiente Cç. do Ferragial, 8, Lisboa > T. 92 667 4272 > seg-dom
muda. A sala é escura, com cores fluorescentes 12h30-23h > seg-qui €7, €6 (menores de 13 anos),
que brilham sob as luzes ultravioleta e onde sex-dom €14, €12 (crianças)

110 VISÃO 7 ABRIL 2022


7 ---------- O G O STO D O S O U T R O S

“Aspiro a um mundo — Vinhos


MENINA D’UVA VIMIOSO
mãe”. Um “pequeno paraíso,
que está ameaçado pela

mais inclusivo, Gosta de vinhos, não só


central fotovoltaica massiva
que se prevê para aquela

onde nos possamos


pelo prazer que dão mas zona”, alerta.
também pela relação que se
estabelece entre o Homem e

relacionar com a terra. “Admiro os produtores


que fazem trabalho vitícola,
—— Projeto
MERCADO DE
a terra e as coisas como é o caso da Aline
Domingues, no projeto Menina
D’Uva. Uma mulher jovem
PRODUTORES LISBOA
Sempre visitou muitos
simples” que desafia um mundo muito
conservador com grande
mercados em todo o mundo.
“Há um pulsar de vida no
naturalidade e o desejo encontro das pessoas, na
simples de fazer vinho.” profusão da oferta e no
burburinho das trocas”, diz.
No Mercado de Produtores,
—— Produtores que organiza em parceria
com a Junta de Freguesia
HERDADE DE SÃO LUÍS da Misericórdia na Praça de
ÉVORA

Rita Santos
São Paulo, pretende “manter
Para Rita Santos, o montado esse espírito de encontro, de
alentejano é um sistema apresentação de produtos
Proprietária da loja e bar de vinhos Comida Independente florestal, pastoril e agrícola novos e da época pelos
e fundadora do Mercado de Produtores, 49 anos integrado, ao nível do melhor próprios produtores e por
que se faz no mundo. “A cozinheiros convidados”.
regeneração dos solos, a
utilização da água, a criação
de animais em regime —— Litoral
extensivo, tudo isto é feito alentejano
na Herdade de São Luís, de
Francisco Alves, um sítio lindo COMPORTA
que me leva à infância e à “É a praia da minha juventude,
contemplação.” e é lá que vamos abrir em
junho uma segunda loja da
DOZERO CULTURA VIVA Comida Independente, nos
CERCAL DO ALENTEJO Brejos da Carregueira de
Raquel e Rosa, proprietárias Cima. Será mais um desafio,
de Dozero Cultura Viva, pesquisar e reunir pequenos
abraçaram um modo de vida produtores locais.” Com este
rural no Cercal do Alentejo. projeto, diz Rita, “aspiro a um
“Criam as cabras que dão mundo mais inclusivo, onde
o leite para o queijo, e é a nos possamos relacionar com
Raquel quem amassa e coze a terra e as coisas simples”.
o pão com isco de massa

—— Filhos
“A Comporta
ANTÓNIO E CAROLINA
é a praia da minha Adora fazer programas com
juventude, e é os filhos, António, de 13 anos,
lá que vamos e Carolina, de 16. “Além de
serem muito conscientes das
abrir em junho questões que me movem,
uma segunda são muito divertidos. Vimos
loja da Comida juntos o filme Don’t Look Up.
Achámo-lo um bocadinho
Independente, histriónico, mas a caricatura
nos Brejos da relativa às alterações
climáticas é brutal.”
Carregueira
de Cima” — Sandra Pinto

7 ABRIL 2022 VISÃO 111


7 ---------- J O G O S

PALAVRAS CRUZADAS
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
> > HORI ZON TAIS > > 1. Arvoredo frutífero. Bebida doce e
aromática que tem por base a aguardente ou o álcool. // 2.
Grito agudo das aves, quando embravecidas. Mulher que cria
1
uma criança, amamentando-a ou não. // 3. Sexta nota da escala
musical. Atirar com força. // 4. Grande arca com gavetões. Que tem 2
sentido apurado de raciocínio ou de compreensão. // 5. Esguelha.
Movimento violento e vibratório em diversas direções. // 6. Grande 3
quantidade de coisas ou e pessoas. Ter os sons exigidos pela rima.
// 7. Valor intrínseco ou estimativo. // 8. Género de oleáceas de flores 4
aromáticas. Brinquedo de criança. // 9. A pessoa que instrui, que
escreve obras de ensino. Fiança, quando prestada, em forma própria,
na letra de câmbio, livrança ou cheque. // 10. Jornada. Que deixa
5
dúvidas ou ambiguidades. // 11. Contr. da prep. “a” com o art. def.
“os”. Para enxotar (galinhas ou outras aves) (interj.). Cheiro agradável. 6
> > VERTICAIS >> 1. Vocábulo. Período de tempo que vai desde
a meia-noite até à meia-noite seguinte. // 2. Tolo, ingénuo (gír.). 7
Entendido. // 3. Terceira nota da escala musical. O m. q. cervídeos.
// 4. Volume de ilustrações elucidativas de um texto ou de uma 8

© Agência Feriaque
área do conhecimento. Fila. // 5. Género de mamíferos cetáceos a
que pertencem a toninha e o golfinho. Suco leitoso segregado por
alguns vegetais. // 6. Pai do bisavô ou da bisavó. // 7. Fitas enlaçadas. 9
// 8. Efígie. Cheio até à borda. // 9. Folha ou agulha do pinheiro.
Curral de ovelhas. // 10. Sofrimento. Abro ou revolvo (a terra) com 10
enxada ou sacho. // 11. Deixar disponíveis para venda novos artigos
de produtos entretanto vendidos num estabelecimento comercial. 11
Mérito.

SUDOKU QUIZ
— FÁ C I L — PO R PED RO D IAS D E ALM EI DA

1. Qual destas seleções não vai 6. Em que ano foi inaugurado

4 3
estar no Mundial de Futebol do o Museu Nacional de Arte
Qatar2022? Antiga, em Lisboa?
A. Irão A. 1884

6 1 9 5
B. Coreia do Sul B. 1897
C. Itália C. 1912

9 8 2. De quem são as pinturas


no teto da Opéra Garnier,
em Paris?
7. Onde se pode visitar a
Casa-Museu Vitorino Nemésio?
A. Praia da Vitória

4 6 A. Marc Chagall
B. Paul Cézanne
C. Joan Miró
B. Madalena
C. Horta

8 2 3 5 6 4 3. Como se chamava a primeira


longa-metragem de Miguel
8. Fernando Távora destacou-se
em que área?
A. Arquitetura
9 8 Gomes, estreada em 2004?
A. Xavier
B. Corte de Cabelo
B. Cinema documental
C. Etnomusicologia

1 8 C. A Cara Que Mereces 9. Qual a nacionalidade


do piloto de Fórmula 1 Sergio
4. Em que concelhos se situava Pérez?
7 6 2 5 a cidade romana Colipo?
A. Batalha e Leiria
A. Colombiana
B. Chilena
B. Santarém e Alcanena C. Mexicana
5 7 C. Ferreira do Alentejo e Beja
10. Quem cantava a balada
5. Onde nasceu, em 1945, romântica Olhos Castanhos,
o músico Sérgio Godinho? lançada em 1961?
A. Porto A. Francisco José
B. Coimbra B. António Calvário
C. Lisboa C. Eduardo Nascimento

3 8 4 7 9 1
5 2
6
> > QUI Z > > 1. C // 2. A // 3. C // 4. A // 5. A // 6. A // 7. A // 8. A // 9. C // 10. A 1 5 2 6 3 8
9 4
7
7 6 9 4 5 2
3 8
1
2 3 8 9 4 7
6 1
5
// 6. Trisavô. // 7. Laçaria. // 8. Imagem, Raso. // 9. Caruma, Ovil. // 10. Dor, Cavo. // 11. Repor, Valor. 4 7 6 5 1 3
2 9
8
SOLUÇÕES >> VERT ICAIS >> 1. Palavra, Dia. // 2. Otário, Lido. // 3. Mi, Cérvidas. // 4. Atlas, Ala. // 5. Roaz, Látex. 9 1 5 8 2 6
4 7
3
// 6. Ror, Rimar. // 7. Valia. // 8. Lilás, Roca. // 9. Didata, Aval. // 10. Ida, Evasivo. // 11. Aos, Xô, Olor. 8 9 1 2 6 5
7 3
4
>> HORIZON TAIS >> 1. Pomar, Licor. // 2. Atito, Ama. // 3. Lá, Lançar. // 4. Arcaz, Agudo. // 5. Viés, Tremor. 5 4 7 3 8 1 9 6
2
6 2 3 1 7 8 4 9 5

112 VISÃO 7 ABRIL 2022

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