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PALAVRAS 11

Teste de avaliação A – 11.º ano janeiro 2019

Educação Literária

Grupo I (100 pontos)


A (80 pontos)

Lê atentamente o seguinte texto e consulta as notas apresentadas.

 CENA III
(MADALENA, TELMO, MARIA)
MARIA

(Entrando com umas flores na mão, encontra-se com Telmo, e o faz tornar para cena.)

― Bonito! Eu há mais de meia hora no eirado passeando — e sentada a olhar para o rio e
a ver as faluas e os bergantins1 que andam para baixo e para cima — e já aborrecida de
esperar… e o Senhor Telmo aqui posto a conversar com a minha mãe, sem se importar de
mim! Que é do romance que me prometeste? Não é o da batalha, não é o que diz:
“Postos estão, frente a frente,
os dois valorosos campos:”
é o outro, é o da ilha encoberta onde está el-rei D. Sebastião, que não morreu e que há de
vir um dia de névoa muito cerrada…2 Que ele não morreu; não é assim, minha mãe?

MADALENA

― Minha querida filha, tu dizes coisas! Pois não tens ouvido a teu tio Frei Jorge e a teu
tio Lopo de Sousa contar tantas vezes como aquilo foi? O povo, coitado, imagina essas
quimeras para se consolar na desgraça.

MARIA

― Voz do povo, voz de Deus, minha senhora mãe: eles que andam tão crentes nisto,
alguma coisa há de ser. Mas ora o que me dá que pensar é ver que, tirado aqui o meu bom
Telmo (Chega- se toda para ele, acarinhando-o.), ninguém nesta casa gosta de ouvir
falar em que escapasse o nosso bravo rei, o nosso santo rei D. Sebastião. Meu pai, que é
tão bom português, que não pode sofrer estes castelhanos, e que até às vezes dizem que é
de mais o que ele faz e o que ele fala, em ouvindo duvidar da morte do meu querido rei
1
faluas e bergantins são embarcações pequenas: a falua, de uma vela, e o bergantim, de duas.
2
o sebastianismo já criou as suas raízes.
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D. Sebastião...ninguém tal há de dizer, mas põe-se logo outro, muda de semblante, fica
pensativo e carrancudo: parece que o vinha afrontar, se voltasse, o pobre do rei. Ó minha
mãe, pois ele não é por D. Filipe; não é, não?

MADALENA

― Minha querida Maria, que tu hás de estar sempre a imaginar nessas coisas, que são
tão pouco para a tua idade! Isso é o que nos aflige, ao teu pai e a mim: queria-te ver mais
alegre, folgar3 mais, e com coisas menos…

MARIA

― Então, minha mãe, então! Veem, veem?... também minha mãe não gosta. Oh! essa
ainda é pior, que se aflige, chora... ela aí está a chorar... (Vai-se abraçar com a mãe, que
chora.) Minha querida mãe, ora pois então! Vai-te embora, Telmo, vai-te: não quero mais
falar, nem ouvir falar de tal batalha, nem de tais histórias, nem de coisa nenhuma dessas.
Minha querida mãe!

TELMO

― E é assim: não se fala mais nisso. E eu vou-me embora. (À parte, indo-se depois de lhe
tomar as mãos.) Que febre que ela tem hoje, meu Deus! queimam-lhe as mãos… e
aquelas rosetas4 nas faces… Se o perceberá a pobre da mãe!

Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa.

Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.

1. Indica o assunto principal da conversa entre as personagens que se encontram em


cena.
2. Apresenta a perspetiva de Maria sobre a figura de D. Sebastião e aponta os dois
argumentos usados por D. Madalena para contrapor às afirmações da filha.
3. Refere três traços caracterizadores do perfil psicológico de Maria, evidenciados
nesta cena.
4. Explica a influência da crença sebastianista de Telmo e de Maria no
comportamento de D. Madalena.

B (20 pontos)

5. Tendo em conta o teu conhecimento de Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett,


numa exposição de 130 a 170 palavras, demonstra de que forma o sonho está
presente nesta obra dramática. Ilustra a tua exposição com dois exemplos

3
brincar, distrair-te.
4
marcas avermelhadas no rosto, típicas da tuberculose.
2
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significativos.
Deves redigir um texto estruturado com introdução, desenvolvimento e conclusão.
 Introdução: informações genéricas sobre a obra e tema da exposição.
 Desenvolvimento: demonstração da presença do sonho na obra e
fundamentação.
 Conclusão: síntese das ideias desenvolvidas.

Grupo II (50 pontos)


Leitura | Gramática

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.


Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.

Em Mares Bravios

O fotógrafo açoriano Pepe Brix, de 30 anos, documentou durante três meses e meio


a vida a bordo do Joana Princesa, um dos 13 sobreviventes da frota portuguesa de navios
de pesca longínqua. Chamou ao trabalho “Código Postal: A2053N”, a matrícula do navio.
Construída em 1970, esta embarcação de 80 metros por 12,5 continua a desafiar os mares
5 gelados do Atlântico Noroeste, como tantas outras antes dela.

Com a Europa sujeita a uma igreja católica severa, que proibia o consumo de carne
em dois dias da semana, deu-se início à grande demanda do peixe. As águas ibéricas
ficaram curtas para a quantidade de pescado agora exigido. Em 1497, Giovanni Caboto,
natural de Génova, em Itália, partiu de Bristol ao serviço do império inglês, convencido de
10 que seria mais curto o caminho marítimo para a Ásia rumando a oeste. Contra os planos do
explorador, acabou por chegar à Terra Nova, onde desembarcou no dia de São João
Batista. Em homenagem ao santo, Giovanni Caboto atribuiria depois o nome de “Saint
John’s” àquele que seria mais tarde o porto seguro das tremendas odisseias dos pescadores
portugueses na Terra Nova.
15 Durante séculos a fio, a frota branca, como era conhecida a frota portuguesa de
navios bacalhoeiros, aproveitou os ventos de leste predominantes na primavera para
navegar até aos pesqueiros da Terra Nova. A mais de duas mil milhas de casa, os homens
permaneciam na faina por largos meses enfrentando condições inimagináveis. Ora entre o
espaço apertado que existia entre os pequenos botes empilhados (comummente designados
20 por dóris) e as passadeiras para o corte do bacalhau no convés, ora nas camaratas
iluminadas por candeeiros a petróleo, a tripulação rezava com o coração nas mãos para
que o número de homens a bordo no momento do embarque fosse o mesmo à chegada ao
cais dos bacalhoeiros em Aveiro. Foram muitas as vezes em que o nevoeiro cerrado e o
mar gelado venceram a pequenez dos botes com pouco mais de quatro metros de
25 comprimento. A angústia dos homens que experimentaram a fragilidade desses botes e a
desolação na imensidão gélida do Atlântico Noroeste jamais será compreendida. No
sepulcrário de Saint John’s, as tripulações prestavam as últimas homenagens aos que já
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não voltavam para descarregar o peixe no fim da campanha.


No final da primeira metade do século XX, a frota portuguesa viu os míticos
30 bacalhoeiros à vela progressivamente substituídos por navios a motor. A pesca longínqua
entrava agora numa nova fase, mais industrial e maciça, em que as técnicas de utilização
da linha e anzol foram também substituídas por aparelhos de pesca de arrasto. Hoje,
embora com melhores condições a bordo, esses corajosos pescadores, maioritariamente
oriundos da Torreira e da Murtosa, continuam a prescindir do conforto das suas casas para
35 embarcar nessas longas jornadas piscatórias rumo aos grandes bancos da Terra Nova.
National Geographic Portugal, https://nationalgeographic.sapo.pt/historia/grandes-reportagens/369-em-
mares-bravios (adaptado e consultado em 17.09.2018).

Leitura | Gramática

1. Este texto tem como principal intenção comunicativa


(A) expor informação objetiva sobre a pesca bacalhoeira.
(B) veicular informação de caráter social sobre a atividade da pesca longínqua.
(C) apresentar uma opinião fundamentada sobre a pesca na Terra Nova.
(D) expor uma opinião sobre o trabalho dos pescadores portugueses no Atlântico
Noroeste.

2. Joana Princesa é o nome


(A) do navio que Pepe Brix descreveu durante três meses e meio.
(B) de um dos navios sobreviventes da pesca bacalhoeira.
(C) de um barco de cruzeiro.
(D) do navio que deu notoriedade ao trabalho de Pepe Brix.

3. A pesca na Terra Nova inicia-se


(A) no ano de 1497.
(B) por razões políticas e económicas.
(C) por causa de um aumento significativo de consumo de peixe na Europa.
(D) por iniciativa de Giovanni Caboto.

4. A expressão “tremendas odisseias” (l. 13) valoriza


(A) o trabalho dos pescadores na Terra Nova.
(B) a ousadia dos pescadores portugueses na Terra Nova.
(C) os acontecimentos trágicos e variados enfrentados pelos pescadores
portugueses.
(D) a coragem do genovês Caboto.

5. A expressão “com o coração nas mãos” (l. 22) evidencia


(A) a angústia das tripulações portuguesas.
(B) a amizade que unia as tripulações portuguesas.
(C) a insensibilidade dos portugueses.
(D) a devoção das tripulações portuguesas.
6. O segmento sublinhado na frase “A pesca longínqua entrava agora numa nova
fase” (ll. 30-31) desempenha a função sintática de
4
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(A) complemento agente da passiva.


(B) complemento direto.
(C) modificador.
(D) complemento oblíquo.

7. No excerto “Hoje, (…) esses corajosos pescadores (…) continuam a prescindir do


conforto das suas casas.” (ll. 32-34) a expressão sublinhada desempenha a função
sintática de
(A) complemento do nome.
(B) modificador restritivo do nome.
(C) modificador.
(D) modificador apositivo do nome.

8. Identifica a função sintática da expressão sublinhada em “demanda do peixe” (l.


7).
9. Classifica a oração “que existia entre os pequenos botes empilhados” (l. 19).
10. Identifica o referente do pronome presente em “que experimentaram a fragilidade
desses botes” (l. 25).

Grupo III (50 pontos)


Escrita
Observa o cartoon apresentado e elabora uma apreciação crítica (180 a 240 palavras).

Musa Gumus, Turquia.

Bom trabalho!

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