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PANORAMA

Letramento 4.0 - competências


e habilidades para o trabalho
Que competências uma pessoa deve desenvolver para manter o
seu valor como indivíduo e como profissional em um ambiente de
mudança acelerada como este em que vivemos? A resposta passa
pela (re)unificação da arte, ciência, tecnologia e pensamento
humanístico em um todo que diferencia o ser humano da máquina

Por Alexandre Gracioso

A
biografia de Leonardo da Vinci, escrita por “invenção, exploração e difusão de conhecimento por
Walter Isaacson, começa com uma tentativa meio de novas tecnologias”. E, segundo Isaacson, Leo-
de descrever Leonardo a partir de como ele nardo demonstrou, unindo arte, ciência, tecnologia e
próprio se enxergava. Figura monumental na humanismo, como é possível navegar no mar de inova-
história da humanidade, Leonardo é considerado por mui- ção e incerteza que tais momentos acarretam. Talvez o
tos, Isaacson inclusive, o maior gênio criativo que já viveu, século 21 seja marcado, realmente, pela redescoberta da
como aponta a passagem descrita em Leonardo da Vinci mentalidade renascentista. Permitimos que a ciência e
(Simon & Schuster, 2018): “Na época em que ele alcançou a tecnologia, por um lado, as afastassem em demasia da
o desconcertante marco dos 30 anos, Leonardo da Vinci arte e do pensamento humano. Tudo indica que este é o
escreveu uma carta ao governante de Milão listando as momento de promover uma necessária unificação em
razões pelas quais ele deveria receber um emprego. Ele nossa forma de enxergar o mundo.
havia sido moderadamente bem-sucedido como pintor em
Florença, mas teve problemas para terminar suas enco- Formação para o trabalho e para a vida – um
mendas e buscava novos horizontes. Nos primeiros dez problema global
parágrafos dessa carta, ele descreveu, de forma bastante No Brasil, assim como no restante do mundo industria-
autolaudatória, suas habilidades de engenharia, incluindo lizado, mudar a área de atuação não somente uma, mas
sua capacidade de projetar pontes, canais, canhões, veí- várias vezes, ao longo da trajetória profissional do indi-
culos blindados e edifícios públicos”. víduo, se tornou a regra em vez da exceção. Um estudo
Apenas no décimo primeiro parágrafo, o último, Leo- conduzido pelo economista Naércio Menezes Filho —
nardo acrescentou que também era um artista. “Da mesma e publicado na edição de 28 de janeiro do jornal Folha
forma, na pintura, posso fazer qualquer coisa que se possa de S.Paulo — apontou que menos de 50% das pessoas,
imaginar”, escreveu ele. em 34 das 41 profissões analisadas, trabalhavam em
“Sim, ele podia. Ele iria criar as duas pinturas mais famo- alguma área de atuação compatível com a sua forma-
sas da história, A Última Ceia e a Mona Lisa. Mas, em sua ção universitária. Esse fenômeno é mundial e coloca
própria mente, ele era tanto um homem de ciência quanto um desafio para quem quiser se manter competitivo e
de engenharia”, explica Walter Isaacson em seu livro. relevante profissionalmente: a pessoa precisa se prepa-
Para o autor, o século 15 apresenta importantes simi- rar para aprender e dominar funções para as quais não
laridades com o século 21: foi um período histórico de teve formação prévia.

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Além disso, deve-se considerar também que a maior hábitos de vida e tenham acesso à medicina diagnóstica
parte das funções que os jovens de hoje procuram sequer e preventiva possuem expectativa de vida, excetuando-se
existe. O percentual varia de estudo para estudo, mas acidentes, que supera os 100 anos, chegando mesmo a
avalia-se que dois terços ou mais das profissões que 120 ou até mais. Nossos jovens, portanto, têm um enorme
existirão em 2030 ainda não existem hoje. Algumas desafio pela frente e cabe a nós, mais velhos e que, supos-
projeções, como as análises da Dell e do Institute for the tamente, temos mais experiência e conhecimento das coi-
Future (IFTF), chegam a afirmar que 85% das profissões sas, ajudá-los a se posicionar frente a ele.
de 2030 ainda não existem hoje. A pergunta básica que temos para fazer, portanto, é a
O que possibilita mudanças nessa escala, sem dúvida, é seguinte: que competências uma pessoa deve desenvol-
a tecnologia. Mal começamos a arranhar as possibilidades ver para manter o seu valor como indivíduo e como pro-
do que a Inteligência Artificial tem a nos oferecer e as mais fissional em um ambiente de mudança acelerada como
variadas profissões já sentem seus impactos. É claro que aquele em que vivemos?
tarefas rotineiras e repetitivas são as primeiras a ser amea- As respostas variam, mas todas elas têm um funda-
çadas pela automatização, mas a mudança é mais profunda mento comum: a estrada passa pela (re)unificação da arte,
e abrange praticamente todas as áreas de atuação humana. da ciência, da tecnologia e do pensamento humanístico
Professores podem ser substituídos por robôs, diagnósticos em um todo que diferencia o ser humano da máquina.
médicos podem ser substituídos por inteligência artificial,
advogados, engenheiros, aparentemente não há limites Competências e habilidades para o século 21
para até onde a tecnologia pode avançar. Nesse ambiente, Em 2015, a Organização para a Cooperação e Desen-
o ser humano precisa se redefinir, a fim de manter a sua volvimento Econômico (OCDE) publicou um relatório
competitividade por um período de vida também cada vez intitulado Skills for progress: the power of social and emo-
mais longo. As crianças de hoje que desenvolvam bons tional skills. Nesse relatório, a organização alerta para o

FIGURA 1 – COMPETÊNCIAS COGNITIVAS E EMOCIONAIS ESSENCIAIS AO SÉCULO 21

Capacidades Atingimento
cognitivas básicas: de metas:
reconhecer padrões, perseverança,
memória e velocidade autocontrole e
de processamento paixão por
concretizar
SOCIOEMOCIONAL
COGNITIVO Capacidades que (a) se
Capacidade mental de manifestam por meio de
adquirir conhecimento e padrões de pensamentos, Trabalhar com
Conhecimento compreender experiências sentimentos e atitudes; (b) podem os outros:
adquirido: ser desenvolvidas por meio de sociabilidade,
acessar, extrair Interpretar, refletir e experiências de aprendizagem respeito, cuidado
e interpretar extrapolar com base no formais e informais e (c) com os outros
conhecimento adquirido influenciam a vida profissional
do indivíduo de forma
significativa
Gerenciar as
Conhecimento
próprias emoções:
extrapolado:
autoestima,
refletir, racionalizar
otimismo e
e conceitualizar
confiança

Fonte: Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 2015

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FIGURA 2 – DIRECIONADORES DE MUDANÇA E COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS AO SÉCULO 21
What do these six disruptive forces mean for the
workers of the next decade? We have identified
ten skills that will believe will be critical
for success in the workforce. extreme
longevity superstructed
While all six drivers are important in shaping organizations
the landscape in which each skill emerges, the Increasing global lifespans computational
Social technologies drive
color-coding and placement here indicate which change the nature of
careers and learning
world new forms of production
drivers have particular relevance to the and value creation
Massive increase in sensors
development of each of the skills.
and processing power make
the world a programmable
system

Design
Drivers – disruptive shifts that Mindset
will reshape the workforce
landscape Trans-
disciplinarity
Virtual
Sense- Collaboration
Key skill needed in the Making
future workforce New
Media Cross
Literacy Cultural
Competency
Social Cognitive
Intelligence Load
Management
Novel
and Adaptive
Thinking
rise of smart Computational
machines and Thinking

systems globally
connected world
Workplace robotics nudge
Increased global
human workers out of rote, new media interconnectivity puts
repetitive tasks
ecology diversity and adaptability
at the center of
New communication tools organizational
require new media litera - operations
cies beyond text

Fonte: Future Work Skills 2020 – Institute for the Future, 2011

fato de que competências sociocomportamentais são no trajetória profissional bem-sucedida. Essa relação certamente
mínimo tão relevantes, senão mais, do que competências tem semelhança com o que Daniel Goleman define como
técnicas e cognitivas para os trabalhadores no século 21. inteligência emocional, no livro Emotional Intelligence: Why
A Figura 1 resume as principais características de cada it can matter more than IQ (Editora Bantam, 1995).
uma dessas famílias de competências. Para Goleman, a inteligência emocional abrange três aspec-
Do lado esquerdo, constam as competências técnicas (de tos fundamentais: reconhecer, compreender e controlar as
alto nível) e cognitivas que as pessoas precisam desenvol- próprias emoções; reconhecer, compreender e influenciar as
ver. É interessante que a palavra “criatividade” não consta emoções dos outros; e moldar o próprio comportamento em
dessa relação. Embora o relatório da OCDE não explique a função das próprias emoções e das dos outros.
omissão de uma característica que consideramos impor- Peter Drucker, o guru da administração, também sabia
tante, talvez isso ocorra porque ainda não se tenha muito disso e nos deixou uma visão magistral da essência da lide-
conhecimento sobre como a criatividade pode ser desen- rança. “[O] seu principal desafio, como líder, é dominar a
volvida. Nesse sentido, a trajetória de um excepcional cria- sua própria energia para, então, promover a energia das
tivo, como Leonardo da Vinci, pode nos ajudar a compre- outras pessoas”, afirmou em At the Heart of Leadership:
ender melhor de que forma isso pode ser feito. Voltaremos How To Get Results with Emotional Intelligence, escrito por
a essa questão na última seção deste artigo. Joshua Freedman (Six Seconds, 2007).
Do lado direito, são apresentadas as principais compe- O Banco Mundial também argumenta a favor da impor-
tências humanas e comportamentais necessárias para uma tância das competências humanas e comportamentais.

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Na reportagem Preparing for the Robots: Which Skills for relatório disponível on-line e não serão repetidas aqui;
21st Century Jobs?, publicada no site da organização, em 2 nos restringiremos a destacar alguns pontos que nos
de março de 2016, a instituição faz a seguinte afirmação: parecem particularmente interessantes.
“Devemos priorizar a formação de habilidades cognitivas Em primeiro lugar, o pensamento criativo foi explici-
e sociocomportamentais desde a infância. Essas habili- tamente incluído na reflexão do IFTF, juntamente com o
dades são necessárias para melhorar e conquistar novas pensamento adaptativo: ou seja, as pessoas precisam ser
habilidades técnicas ao longo da vida. Elas fazem traba- capazes de se adaptar a novas circunstâncias, inovando ao
lhadores mais resilientes e capazes de suportar melhor longo do percurso. A combinação de competências varia-
ambientes em mudança. [...] Os adultos com baixos níveis das, a transdisciplinaridade, também merece destaque.
de letramento verbal e matemático têm dificuldade para O mundo está cada vez mais complexo, os problemas que
aprender e atualizar as habilidades técnicas necessárias enfrentamos resultam e recebem impactos de diversas
para competir no mercado de trabalho moderno”. fontes. Isso ocorre tanto no nível de uma nação quanto
A menção à capacidade de resiliência é particularmente no nível de empresas e organizações que, forçosamente,
interessante. Resiliência pode ser entendida como a capa- atuam em escala global ou, no mínimo, se deparam com
cidade de se adaptar a mudanças e se recuperar de aconte- competidores globais.
cimentos negativos que ocorrem para todos nós ao longo da Outra consequência dessa complexidade é o fato de
vida. Resiliência é uma importante característica de pessoas que os profissionais do século 21 estão expostos à intera-
que se destacaram em suas carreiras. De acordo com o livro ção global a qualquer momento: a colaboração virtual e a
de Walter Isaacson, Leonardo da Vinci foi uma pessoa de capacidade de trabalhar com equipes multiculturais são
grande resiliência. É interessante notar que resiliência e auto- essenciais. Mais uma vez, competências comportamentais
conhecimento estão associados. A pessoa, para ser resiliente, ocupam posição de destaque na formação profissional.
precisa se conhecer e saber tirar proveito dos reservatórios A importância da criatividade também é destacada
internos de motivação e energia que todos nós possuímos. pela organização Partnership for 21st Century Learning
No relatório Future Work Skills 2020, o Institute for (P21). Ela propõe um modelo extenso e abrangente, que
the Future (IFTF) define as competências essenciais parte de conteúdos essenciais das disciplinas de ensino
ao século 21 a partir de seis direcionadores de mudança médio até chegar a uma proposta de competências para
particularmente relevantes, na visão dos autores: longe- o trabalho, que são divididas em três categorias, como
vidade extrema; mundo computacional; organizações descrito na Tabela 1.
superestruturadas e escaláveis; inteligência artificial; Temos, dessa forma, as visões de quatro organizações
novas mídias; e mundo conectado. sobre a questão do letramento necessário ao século 21 e
A partir desses seis direcionadores, o IFTF elencou à indústria 4.0. É claro que há diferenças, e criatividade
dez competências essenciais: pensamento crítico; pen- é um bom exemplo. Ela não é mencionada nas definições
samento criativo e adaptativo; inteligência social; trans- da OCDE nem do Banco Mundial, mas aparece nos docu-
disciplinaridade; letramento digital e em novas mídias; mentos do IFTF e da P21. De todos, o IFTF parece ser o que
pensamento computacional; gestão da carga cognitiva; dá mais importância relativa à tecnologia, embora a P21
competência multicultural; colaboração virtual; e pen- seja explícita quanto ao letramento digital. A OCDE, por
samento de design. As descrições detalhadas de cada outro lado, dá mais ênfase às capacidades cognitivas que
uma dessas competências podem ser encontradas no permitiriam o desenvolvimento de habilidades técnicas.
No entanto, se há um ponto de concordância entre todos
esses modelos é que o ser humano, para se diferenciar da
Para manter a sua relevância, o máquina e manter a sua relevância no mundo que vem
pela frente, precisa se redescobrir, reintegrar aspectos
profissional precisa se redescobrir e que o avanço da tecnologia e do pensamento separaram,
reintegrar aspectos que o avanço da como a ciência e a arte, e reforçar aquela característica
tecnologia e do pensamento separou que, na visão de Albert Einstein, é o principal indicador

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TABELA 1 – COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS AO TRABALHO E NA VIDA NO SÉCULO 21
APRENDIZAGEM
LETRAMENTO DIGITAL CARREIRA E VIDA
E INOVAÇÃO (OS 4 CS) *

Pensamento crítico e solução de


Letramento informacional Flexibilidade e adaptabilidade
problemas

Criatividade e inovação Letramento em mídia Iniciativa e autodirecionamento

Letramento em tecnologias de
Comunicação Interação social e multicultural
informação e comunicação (TICs)

Produtividade e senso de
Colaboração
responsabilidade

Liderança

* Do inglês: (1) Critical thinking and problem solving, (2) Creativity and innovation, (3) Communication e (4) Collaboration.
Fonte: Framework Definitions – Partnership for 21st Century Learning, 2015

de inteligência: a criatividade; o que nos leva ao último ser pelo fato de ser apaixonadamente curioso. Isaac-
questionamento deste artigo. son diz o mesmo a respeito de Leonardo da Vinci. Uma
das características mais fortes em sua personalidade
Estará faltando alguma coisa? era a curiosidade. Para Isaacson, Leonardo era “selva-
No fim da seção anterior, foi relembrada a importância que gemente criativo, apaixonadamente curioso e criativo
Einstein sempre deu à criatividade e à imaginação. Ele cer- em múltiplas disciplinas”.
tamente concordaria com Walter Isaacson sobre a impor- Brian Grazer, importante produtor cinematográfico
tância de combinar o pensamento analítico ao criativo. norte-americano que fez sua carreira em Hollywood, tam-
Para Einstein, “os grandes cientistas também são artistas”, bém atribui todo o seu sucesso à curiosidade. Produtor de
como aponta Alice Calaprice, no livro The Expanded Quo- aproximadamente 60 filmes — como Splash, uma sereia em
table Einstein (Editora Princeton University Press, 2000). minha vida, O Código Da Vinci, Apollo 13, entre outros —, ele
Ele também concordaria quanto à importância de outra diz que cedo percebeu o valor da curiosidade, uma curio-
característica que, embora não apareça nos modelos des- sidade que não tinha limites. Grazer procurava conhecer
critos há pouco, também, em nossa opinião, merece lugar tudo o que pudesse sobre os assuntos e as pessoas mais
de destaque entre os atributos que diferenciam fundamen- variados. Em seu livro Uma Mente Curiosa (Citadel, 2016),
talmente o ser humano da máquina: a curiosidade. Afinal, ele descreve de forma divertida, por exemplo, o seu hábito
como Albert Einstein costumava dizer: “O importante é de manter conversas de curiosidade com pessoas de per-
não parar de questionar. A curiosidade tem sua própria sonalidades, estilos e perfis completamente diferentes —
razão para existir. Não podemos deixar de nos maravi- de Steve Jobs e Barack Obama a Beyoncé e princesa Diana.
lhar ao contemplar os mistérios da eternidade, da vida, Para Grazer, a conexão entre curiosidade e criativi-
da maravilhosa estrutura da realidade. Basta que se tente dade é bastante evidente: “Boas narrativas requerem
apenas compreender um pouco desse mistério todos os criatividade e originalidade, uma centelha real de ins-
dias. Nunca perca sua curiosidade”. piração. De onde vem essa centelha? Eu acredito que a
Para Einstein, a curiosidade era tão fundamental que curiosidade seja a fagulha que incendeia a inspiração
ele declarou que não tinha talentos especiais, a não e a criatividade”, descreve ele em Uma Mente Curiosa.

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Diagnósticos médicos podem ser substituídos por necessário para ver esse propósito concretizado: compe-
inteligência artificial. Não há limites para até onde a tências cognitivas, técnicas, humanas e comportamentais.
tecnologia pode avançar Acreditamos que esse seja o caminho para as pessoas se
manterem sempre à frente da tecnologia, à frente da onda
Talvez Grazer esteja certo. Talvez a curiosidade seja mesmo avassaladora da inteligência artificial. Certamente, não
a competência essencial que explica tantas outras conquistas se trata de lutar contra o avanço tecnológico, ou se colocar
da humanidade. No mínimo, devemos admitir que há pre- à margem dele. Essas opções não existem em um mundo
cedentes famosos apontando nessa mesma direção. É claro cada vez mais conectado e interdependente. Porém, redes-
que a curiosidade, sozinha, não é suficiente, mas os modelos cobrindo o que nos torna únicos, como espécie e indivíduos,
apresentados aqui são bastante abrangentes e incorporam podemos encontrar novos caminhos e percursos que valo-
as principais competências necessárias ao indivíduo. Mas, rizem as contribuições que cada um pode trazer.
por algum motivo, nenhum deles inclui a curiosidade, e dei- As organizações precisam, cada vez mais, de pessoas
xamos aqui a proposta de que esse predicado seja delibera- motivadas, centradas e capazes de exercer a liderança de
damente trabalhado no processo educacional, assim como forma saudável para si mesmas e para o ambiente. As pes-
o autoconhecimento, o pensamento crítico e a criatividade. soas estão estressadas, cansadas e desmotivadas, como
indica o Gallup Research, State of the Global Workplace.
O ser humano tem o potencial Segundo o relatório, globalmente não mais do que 15% dos
de transformar a realidade trabalhadores se consideram motivados e engajados. Além
Concluindo, qual perfil profissional será valorizado no do custo humano, as empresas perdem bilhões de dólares
século 21? Na ESPM, nós definimos, como nosso objetivo com o declínio em produtividade causado por tudo isso.
no trabalho com os estudantes, o fortalecimento do poten- Talvez o que o século 21 mais precise seja de pessoas que
cial transformador que todos, em maior ou menor grau, pos- possam fazer a diferença!
suem. Para nós, o transformador é um indivíduo questio-
nador, que procura caminhos novos, às vezes radicalmente
novos. Ele conhece a si próprio e acredita no seu projeto e nos Alexandre Gracioso
seus ideais. Possui um propósito e também o ferramental Vice-presidente acadêmico e de graduação da ESPM

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