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Apontamentos de Introdução à Educação Ambiental.

Educação Ambiental
“A desarmonia entre o Homem e o Ambiente é causada pela falta de valores sociais que
desencadeiem a formação de estilos de vida e aparecimento de instituições de suporte coerentes
com a evolução da vida na Terra.” (p.9) Para que tal cenário se altere, é necessário uma mudança
de mentalidade para que o rumo dessa evolução seja reorientado em benefício de todos, isto
porém, será consequência de uma nova consciência ecológica e de uma nova postura ética
perante Natureza e perante o próprio Homem.

Educar vem de educare, palavra latina que significa “conduzir para fora”; instruir vem de
instruere que significa “construir dentro”. Daí a instrução ser um processo pelo qual alguém
depois de informado, constrói dentro de si o conhecimento, isto é, organiza e elabora informações
que antes não possuía. Já a formação supõe uma intencionalidade específica da parte do educador
e do educando e significa carregar a instrução para uma actividade particular, de tal modo que, ao
fim do processo formativo, alguém possa ser considerado professor, engenheiro, medico, etc.

Educar não significa apenas instruir alguém sobre alguma coisa, transmitir-lhe conhecimentos
específicos e capacitá-lo ou formá-lo para exercer uma actividade determinada. Educar é muito
mais do que isto e significa levar alguém a exprimir todas as suas potencialidades, a assumir sua
condição de sujeito no acto de conhecer, a desabrochar como pessoa livre capaz de se solidarizar
com as outras pessoas.
É um processo permanente e não um produto. Mais do que ensinar a alguém o que pensar ou o
que fazer, é despertar neste o como pensar e agir.
É portanto, um processo interactivo em que o educador guia o educando para as fontes de
informação, ajuda-o a descobrir e utilizar os instrumentos de análise – teóricos e práticos -,
respeitando a sua personalidade como sujeito também do acto de conhecer, de aprender, de se
conduzir, despertar-lhe o interesse pela participação e pelos valores sociais, incentiva-o para
acção que leva à solução dos problemas.
Ambiente
O conceito de ambiente é muito complexo. Ele abarca a totalidade do planeta e os elementos que
o compõem físicos, químicos e biológicos, tanto naturais quanto artificiais, tanto orgânicos
quanto inorgânicos, nos distintos níveis de sua evolução, até o Homem e suas formas de
organização na sociedade, onde a rede de inter-relações existentes entre estes elementos se
encontra em estreita dependência e influência recíproca.

Segundo a Conferência de Belgrado, promovido pela UNESCO, em 1972, a EA foi tida como um
processo que visa “formar uma população mundial consciente e preocupada com o ambiente e
com os problemas que lhe dizem respeito, uma população que tenha os conhecimentos, as
competências, o estado espírito, as motivações e o sentido de participação e engajamento que lhe
permitam trabalhar individualmente e colectivamente para resolver os problemas actuais e
impedir que se repitam.”

A EA deve levar o Homem a viver em harmonia com a natureza, passando pela participação de
todos os cidadãos na solução dos problemas ambientais, o que significa compreender o ambiente,
a relação dinâmica que existe entre os ecossistemas naturais e os sistemas sociais e desemboca
em preocupações tais como, a gestão racional dos recursos naturais, o destino das gerações
futuras e a sobrevivência da espécie humana.

Segundo as conclusões da Conferência de Belgrado (1975) aliadas às orientações da Conferência


de Tiblissi (1977), a EA tem como objectivos específicos:
- Tomada de Consciência: ajudar os indivíduos e os grupos sociais a tomar consciência do
ambiente global e dos problemas conexos;
- Conhecimentos: ajudá-los a compreender o ambiente global, a multiplicidade de relações que
existe entre os elementos que o constituem, o Homem inclusive, a responsabilidade e o papel
crítico que lhe é reservado;
- Atitudes: levá-los a desenvolver valores sociais e sentimentos de interesse pelo ambiente e
motivação forte para tomar parte na tarefa de conservá-lo e melhorá-lo;
- Competências: desenvolver dentre eles competências específicas que tornem operativos os
conhecimentos e as atitudes adquiridas, através das acções concretas sobre o ambiente.

A EA difere-se de outras formas de educação, pois esta assume uma perspectiva voltada para a
solução dos problemas: uma perspectiva educativa interdisciplinar; uma integração da educação
na comunidade; e uma educação permanente voltada para o futuro.

A EA não visa apenas a aquisição de conhecimentos sobre o ambiente, mas a mudança de


comportamento, a determinação para a acção e a busca de soluções para os problemas, portanto,
ela não se constitui numa nova matéria, mas apoia-se nas várias disciplinas, num tipo de
abordagem interdisciplinar.
A abrangência da variável “ambiente” não permite que se condense o argumento numa única
disciplina.
A EA deve privilegiar o meio envolvente dos indivíduos a fim de integrá-los na comunidade e
levá-los a comprometerem-se com a solução dos problemas.

Eventos Principais relacionados com a EA:


- Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Humano (de 5 a 16 de Junho de 1972), em
Estocolmo: reuniu 113 Estados-membros e mais de 400 ONG’s Intergovernamentais.
- Programa da Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), criado em 1973 para reforçar a
dimensão ambiental nas actividades exercidas por outras organizações internacionais, inclusive a
educação e na formação ambiental.
- Programa Internacional de EA (PIEA), lançado em 1975, em Belgrado, por recomendação
expressa da Conferência de Estocolmo, e coordenado pela UNESCO/PNUMA;
- Conferência Intergovernamental de EA de Tbilisi realizada em 1977, na Geórgia (ex-URSS),
estabeleceu as grandes orientações para o fomento da EA em todo planeta.
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Conceito de EA
A EA é um ramo da educação cujo objectivo é a disseminação do conhecimento sobre o
ambiente, a fim de ajudar à sua preservação e utilização sustentável dos seus recursos. A EA
orienta a realizar:
- Acções educativas: compressão da dinâmica dos ecossistemas, os efeitos da relação Homem-
meio;
- Prepara para integrar-se criticando ao meio, questionando a sociedade, a tecnologia, os valores,
consumo, estreitar as relações Sociedade/Natureza;
- Sensibilização para protecção ambiental e conservação da natureza.

Na Conferência de Tiblissi (1977) ficou acordado que a “EA é a prática de educação orientada
para a resolução dos problemas concretos do meio ambiente, através de enfoques
interdisciplinares e de uma participação activa e responsável de cada indivíduo e da
colectividade.
De acordo com Dias (1999, p.11) apud MICOA (2009, p.2) a EA “possui como objectivo formar
pessoas conscientes que lutem para a obtenção de um sistema de desenvolvimento do qual
resultará em qualidade de vida para todos, ou seja, um desenvolvimento sustentável. E para que
se consiga tal êxito, a Agenda 21 propõe que: “tanto o ensino formal, assim como o não-formal
são indispensáveis para modificar as actividades das pessoas para que, estas tenham capacidade
de avaliar os problemas de desenvolvimento sustentável e abordá-los”.
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Tipos de EA:
i) EA Formal
Entendida como aquela que se desenvolve de uma forma estruturada e dentro do sistema formal
de ensino, através da inclusão de terras, conceitos e noções sobre ambiente nos planos
curriculares.
ii) EA Não-formal
Desenvolvida de forma semi-estruturada dentro e fora do sistema de ensino, através de
actividades como: palestras, seminários, acções de capacitação e demonstrativas (criação de
células nas escolas, jornadas de limpeza, plantio de árvores, actividades culturais e desportivas) e
programas comunitários (criação de associações, núcleos e comités).
iii) EA Informal
Constitui um processo destinado a ampliar a consciência pública sobre as questões ambientais
através dos meios de comunicação de massas (jornais, revistas, rádio, televisão e Internet).
Incluem-se ainda cartazes, folhetos, boletins informativos, entre outros.

Neste âmbito o educador ambiental deve produzir artigos e relatar experiências de boas práticas
de gestão de recursos naturais de forma educativa e serem publicados nos meios de comunicação.
Deve incentivar os órgãos de comunicação a criar espaço (programas para a disseminação de
mensagens ambientais, a envolverem-se em acções de investigação de assuntos ambientais com o
maior realce para o conhecimento indígena/tradicional/local.

A EA informal oferece vantagens, como as de maior abrangência, flexibilidade e rapidez


(atingem diferentes alvos em curto espaço de tempo).
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A EA é uma das medidas de prevenção que se recomenda, pois, permite uma interacção entre os
vários parceiros na resolução deste problema tornando-os mais conscientes sobre o problema e
preocupados com reagir para reduzir o seu impacto no ambiente.
Segundo Roque (2002) apud MICOA (2002; p.5) a EA deve ser uma especulação partilhada com
os alunos e professores sobre as formas de organização tecnológicas e sociais que possibilitem a
vida em harmonia entre as pessoas e entre estas e o meio natural.

Importância da EA:
- Consciencializar todos intervenientes a participarem e intervirem na resolução e tomada de
medidas de mitigação para os problemas ambientais;
- Mostrar a importância que cada um de nós tem na implementação de actividades e na nossa
intervenção nos processos de defesa do ambiente.
- Aclarar que para o país se desenvolver é necessário que todos assumamos as consequências dos
nossos actos e uma mudança de consciência positiva em relação ao ambiente.
Muchangos p. 17
“A EA deverá orientar-se no sentido do emponderamento (empowerment) dos cidadãos e
cidadãs, através de una intervenção centrada nas comunidades e visando consciencializá-las sobre
a necessidade da protecção ambiental individual e colectiva.” Esta deve dar respostas aos
desafios colocados ao nível local.

Valá p. 175
A experiência mostra que para formar pessoas de mente aberta capazes de resolver problemas
e tomar iniciativas, condição “sine qua non” para o desenvolvimento da comunidade local, não
basta apenas melhorar os conteúdos, mas tem de se modificar os métodos de ensino-
aprendizagem.

Não só se devem incorporar alguns conteúdos ambientais, mas sim pautar-se por uma
metodologia assente nas questões ambientais, pois “os conteúdos informam e a metodologia
forma, modificando a estrutura mental e, transforma estruturas mentais rígidas, dogmáticas e
passivas, em estruturas mentais críticas, flexíveis, criativas e inovadoras” (VALÁ; 2009, p. 175).
É necessário articular novos processos educativos que permitam aos estudantes serem:
criativos, imaginativos, críticos e inovativos, investigar novas soluções e procedimentos, reagir
negativamente ao sindroma da “única solução”, etc. (ênfase no saber - ser; Saber – fazer e Saber
- aprender).

Para MIRA (1997) apud VALÁ (2009, p. 175) “a educação deve introduzir estímulos para
acelerar a necessidade de êxitos e realização, promover uma acentuada preocupação em fazer o
melhor”.
VER CAPÍTULO 36 DA AGENDA 21.
De acordo com OLIVEIRA (1998, p. 12) existem dois tipos de EA a saber: a EA passiva que está
vocacionada para grupos numerosos (grande público) e a EA Activa mais voltada para pequenos
grupos.
EA Passiva
Neste caso, os educadores “contactam ao público que se pretende sensibilizar já munidos de
toda a informação sobre os materiais a utilizar, de modo a tirar deles o melhor partido, em função
dos objectivos da acção educativa” (Ibid., p. 15).Geralmente, tal é feito com recurso a meios
audiovisuais (exposições de fotografias ou diapositivos, cartazes, mapas, documentários,
palestras, etc.).
EA Activa
Este tipo de EA se desenvolve com base acções mais dinâmicas e, se subdivide em:
 Educação Directa que leva ao encontro da realidade, ou seja, observação dos factos no
seu local de ocorrência e,
 Educação por Envolvimento: com o envolvimento de pessoas em projectos específicos.
“Planear é minimizar os riscos do imprevisto e do improviso” (OLIVEIRA, 1998, p. 41). Neste
âmbito, mediante as características deste tipo de EA é salutar que se faça um pequeno exercício
de planificação e organização das actividades que se pretendem realizar. Onde se organiza o
grupo, com o qual se pretende trabalhar, e “procura-se uma solução de compromisso e haja
distribuição de tarefas, responsabilizando cada um pela tarefa a seu cargo, obedecendo a uma
planificação prévia suficientemente flexível” (Ibid., p. 40).
O mesmo autor avança ainda que “tal como em tudo, não existem receitas infalíveis em EA”
(OLIVEIRA, 1998, p. 41)
BIBLIOGRAFIA

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE & MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Programa Nacional de Educação


Ambiental (ProNEA), 3 Ed., Brasília, 2005.
AAVV. Tendências de Educação Ambiental em Moçambique. INDE - Instituto Nacional do
Desenvolvimento da Educação. Maputo, 1995.
MINISTÉRIO PARA A COORDENAÇÃO DA ACÇÃO AMBIENTAL – DIRECÇÃO NACIONAL DE

PROMOÇÃO AMBIENTAL. Estratégia Nacional de Educação Ambiental (ENEA). Maputo, 2002

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