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EDUCAÇÃO AMBIENTAL

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Sumário

FACUMINAS .......................................................................................... 2

1.1- METODOLOGIA ..................................................................... 4


3. O QUE É EDUCAÇÃO AMBIENTAL .......................................... 7
5. CARACTERÍSTICAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL .................. 9
7. BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ................ 12
9. LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
19
9.2- INEXISTÊNCIA DE JULGAMENTO DO AUTO DE INFRAÇÃO
AMBIENTAL NO PRAZO LEGAL ................................................................ 25
11. SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL -
CONCEITOS CHAVE EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL .................................. 28
13. INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS ENVOLVIDAS COM A
QUESTÃO AMBIENTAL EM MINAS GERAIS ............................................. 30
14. FUNDAÇÃO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE - FEAM ......... 34
16. EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM DEBATE................................... 38
16.2- EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA...................................... 40
17.1- EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA ............................... 42
17.3- EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS COMUNIDADES ................. 47
17.5- EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA GESTÃO DAS ÁGUAS.......... 53
18.1- REFORÇANDO A IDEIA DA EA E PRINCÍPIOS ................... 56
18.3- ALGUNS INSTRUMENTOS EMPREGADOS NA GESTÃO
AMBIENTAL 59
20. REFERÊNCIAS ........................................................................ 67

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FACUMINAS

A história do Instituto FACUMINAS, inicia com a realização do sonho de


um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para
cursos de Graduação e Pós-Graduação.Com isso foi criado a FACUMINAS,
como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A FACUMINAS tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas


de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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1. INTRODUÇÃO
A educação ambiental tem o poder de transformar o mundo. Com a
missão de promover a conexão entre as pessoas e a natureza, despertando a
percepção dos temas que impactam o ambiente, ela estimula a tomada de ações
com foco na preservação e na sustentabilidade.

Se você ainda não domina o conceito, seu significado e o que está por
trás dele, este artigo se propõe a ser uma completa fonte de informação.

E é importante que você esteja atento, especialmente, para o seu papel


nessa jornada, que começa hoje mas impacta as próximas gerações.

Confirmando a relevância do tema para o futuro da humanidade, em


setembro de 2018, o Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres,
lançou uma estratégia que busca envolver quase 2 bilhões de jovens para
promover um mundo justo e sustentável por meio da educação ambiental.

Esse esforço objetiva preparar os tomadores de decisão do futuro para a


saúde do planeta. Outra iniciativa que deve ser mencionada é empreendida
pela Fundação para a Educação Ambiental. A entidade apresenta a proposta
de engajamento dos jovens na proteção do meio ambiente, o que se dá por meio
da oportunidade de trabalhar na solução dos desafios ecológicos.

O projeto que se iniciou na Europa, em 1992, hoje conta com mais de 52


mil escolas e 20 milhões de alunos em todo o mundo.

Entretanto, a educação ambiental não é somente voltada aos indivíduos


na aurora da vida, mas direcionada às pessoas de todas as idades. Ela não
acontece somente nas salas de aula ou em ambientes acadêmicos, como talvez
a sua definição possa sugerir.

A educação ambiental tem espaço em todos os locais onde se possa


extrair e comunicar conhecimento relevante para a preservação e conservação
do meio ambiente de forma sustentável.

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1.1- METODOLOGIA

Para a construção deste material, foi utilizada a metodologia utilizada de


pesquisa bibliográfica e descritiva, com o intuito de proporcionar um
levantamento de maior conteúdo teórico a respeito dos assuntos abordados.

Segundo Gil, a pesquisa bibliográfica consiste em um levantamento de informações e


conhecimentos acerca de um tema a partir de diferentes materiais bibliográficos já publicados,
colocando em diálogo diferentes autores e dados.

Entende-se por pesquisa bibliográfica, a revisão da literatura sobre as


principais teorias que norteiam o trabalho científico. Essa revisão é o que
chamamos de levantamento bibliográfico ou revisão bibliográfica, a qual pode
ser realizada em livros, periódicos, artigo de jornais, sites da Internet entre outras
fontes. Outro método utilizado foi à metodologia de ensino Waldorf, esta
metodologia é uma abordagem desenvolvida pelo filósofo Rudolf Steiner.

Ele acreditava que a educação deve permitir o desenvolvimento


harmônico do aluno, estimulando nele a clareza do raciocínio, equilíbrio
emocional e a proatividade. O ensino deve contemplar aspectos físicos,
emocionais e intelectuais do estudante.

A pesquisa é descritiva, de campo e histórica, apoiada em técnicas de


análise documental sobre a legislação e os planos de ensino obtidos,
bibliográfica (MALHOTRA, 2006; COOPER; SCHINDLER, 2003; VERGARA,
2003; LUNA, 2002), e de análise de conteúdo (BARDIN, 2004). O planejamento
e a revisão da literatura ocorreram durante o segundo semestre de 2007; a coleta
dos dados, a análise e a apresentação dos resultados ocorreu durante 2008.

Ainda para a construção deste, foi utilizado a etnometodologia, pela


fenomenologia e pelo legado de Wittgenstein, além de alguns elementos
marxistas e outros pensamentos mais contemporâneos, como os desenvolvidos
por Pierre Bourdieu e Anthony Giddens.

Segundo Nicolini, Gherardi e Yanow (2003) a noção de prática, na sua


essência filosófica, está baseada em quatro grandes áreas do saber - na tradição
marxista, na fenomenologia, no interacionismo simbólico e no legado de

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Wittgenstein, das quais podem ser citados fenômenos como: conhecimento,
significado, atividade humana, poder, linguagem, organizações, transformações
históricas e tecnológicas, que assumem lugar e são componentes do campo das
práticas para aqueles que delas compartilham.

Com tudo, o intuito deste modelo é possibilitar os estudos e contribuir para


a aprendizagem de forma eficaz, clara e objetiva.

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2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO BASE PARA A REVERSÃO
DO QUADRO ATUAL

Os problemas ambientais se manifestam em nível local. Em muitos casos,


os residentes de um determinado local são, ao mesmo tempo, causadores e
vítimas de parte dos problemas ambientais. São também essas pessoas quem
mais têm condições de diagnosticar a situação. Convivem diariamente com o
problema e são, provavelmente, os maiores interessados em resolvê-los.

Os grupos locais podem ser muito mais eficientes que o Estado na


“fiscalização” do cumprimento de um determinado acordo e no controle do uso
de bens públicos ou dos recursos naturais. Além disso, uma parte importante
dos problemas ambientais somente serão efetivamente resolvidos se a
população local assim desejar.

Participação implica envolver, ativa e democraticamente, a população


local em todas as fases do processo, da discussão do problema, do diagnóstico
da situação local, na identificação de possíveis soluções, até a implementação
das alternativas e avaliação dos resultados.

A educação ambiental é uma das ferramentas existentes para a


sensibilização e capacitação da população em geral sobre os problemas
ambientais, chamada de educação ambiental informal. Com ela, busca-se
desenvolver técnicas e métodos que facilitem o processo de tomada de
consciência sobre a gravidade dos problemas ambientais e a necessidade
urgente de nos debruçarmos seriamente sobre eles.

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3. O QUE É EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Existem várias definições de educação ambiental. O Congresso de


Belgrado, promovido pela UNESCO em 1975, definiu a Educação Ambiental
como sendo um processo que visa:

“(...) formar uma população mundial consciente e preocupada com o


ambiente e com os problemas que lhe dizem respeito, uma população que tenha
os conhecimentos, as competências, o estado de espírito, as motivações e o
sentido de participação e engajamento que lhe permita trabalhar individualmente
e coletivamente para resolver os problemas atuais e impedir que se repitam (...)”
(citado por SEARA FILHO, G. 1987).

No Capítulo 36 da Agenda 21, a Educação Ambiental é definida como o


processo que busca:

“(...) desenvolver uma população que seja consciente e preocupada com


o meio ambiente e com os problemas que lhes são associados. Uma população
que tenha conhecimentos, habilidades, atitudes, motivações e compromissos
para trabalhar, individual e coletivamente, na busca de soluções para os
problemas existentes e para a prevenção dos novos (...)”

“A educação, seja formal, informal, familiar ou ambiental, só é completa


quando a pessoa pode chegar nos principais momentos de sua vida a pensar
por si próprio, agir conforme os seus princípios, viver segundo seus critérios”
(Reigota, 1997).

Tendo essa premissa básica como referência, propõe-se que a Educação


Ambiental seja um processo de formação dinâmico, permanente e participativo,
no qual as pessoas envolvidas passem a ser agentes transformadores,
participando ativamente da busca de alternativas para a redução de impactos
ambientais e para o controle social do uso dos recursos naturais.

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4. O PÚBLICO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Considera-se como objetivo da educação ambiental atingir o público em


geral. Parte-se do princípio de que todas as pessoas devem ter oportunidade de
acesso às informações que lhes permitam participar ativamente na busca de
soluções para os problemas ambientais atuais. Didaticamente, divide-se as
demandas de Educação Ambiental em duas categorias básicas:

Educação Formal: Envolvem estudantes em geral, desde a educação


infantil até a fundamental, média e universitária, além de professores e demais
profissionais envolvidos em cursos de treinamento em Educação Ambiental.

Educação Informal: Envolve todos os segmentos da população, como


por exemplo: grupos de mulheres, de jovens, trabalhadores, políticos,
empresários, associações de moradores, profissionais liberais, dentre outros.

Para atingir seus objetivos, a Educação Ambiental pode ser desenvolvida


de diferentes formas e dividida em dois segmentos: formal e não formal
(informal).

O interesse em trabalhar as questões ecológico-acessíveis


a toda a população, incluindo o público com necessidades especiais, nos remete
a uma reflexão sobre sensibilização e um sentido mais íntimo de educação
ambiental, surgindo, então, a vertente de
Educação Ambiental Inclusiva.

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5. CARACTERÍSTICAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

De acordo com a Conferência de Tbilisi, ocorrida em 1977, na ex-União


Soviética, Educação Ambiental tem como principais características ser um
processo:

Dinâmico integrativo - é um processo permanente no qual os indivíduos


e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem o
conhecimento, os valores, as habilidades, as experiências e a determinação que
os tornam aptos a agir, individual e coletivamente e resolver os problemas
ambientais.

Transformador - possibilita a aquisição de conhecimentos e habilidades


capazes de induzir mudanças de atitudes. Objetiva a construção de uma nova
visão das relações do ser humano com o seu meio e a adoção de novas posturas
individuais e coletivas em relação ao meio ambiente. A consolidação de novos
valores, conhecimentos, competências, habilidades e atitudes refletirão na
implantação de uma nova ordem ambientalmente sustentável.

Participativo - atua na sensibilização e na conscientização do cidadão,


estimulando-o a participar dos processos coletivos.

Abrangente - extrapola as atividades internas da escola tradicional, deve


ser oferecida continuamente em todas as fases do ensino formal, envolvendo a
família e toda a coletividade. A eficácia virá na medida em que sua abrangência
atingir a totalidade dos grupos sociais.

Globalizador - considera o ambiente em seus múltiplos aspectos: natural,


tecnológico, social, econômico, político, histórico, cultural, moral, ético e estético.
Deve atuar com visão ampla de alcance local, regional e global.

Permanente - tem um caráter permanente, pois a evolução do senso


crítico e a compreensão da complexidade dos aspectos que envolvem as
questões ambientais se dão de um modo crescente e contínuo, não se
justificando sua interrupção. Despertada a consciência, ganha-se um aliado para
a melhoria das condições de vida do planeta.

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Contextualizador - atua diretamente na realidade de cada comunidade,
sem perder de vista a sua dimensão planetária (baseado no documento
Educação Ambiental da Coordenação Ambiental do Ministério da Educação e
Cultura, citado por Czapski, 1998):

Além dessas sete características da Educação Ambiental definidas pela


Conferência de Tbilisi, existe uma oitava, recentemente incorporada entre as
características que a educação ambiental formal deve ter no Brasil:

Transversal - propõe-se que as questões ambientais não sejam tratadas


como uma disciplina específica, mas sim que permeie os conteúdos, objetivos e
orientações didáticas em todas as disciplinas. A educação ambiental é um dos
temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ministério da
Educação e Cultura.

6. PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Ainda de acordo com a Conferência de Tbilisi, os princípios que devem


nortear programas e projetos de trabalho em educação ambiental são

• Considerar o ambiente em sua totalidade, ou seja, em seus aspectos


naturais e artificiais, tecnológicos e sociais (econômico, político, técnico,
histórico-cultural e estético);
• Construir-se num processo contínuo e permanente, iniciando na
educação infantil e continuando através de todas as fases do ensino
formal e não formal;
• Empregar o enfoque interdisciplinar, aproveitando o conteúdo
específico de cada disciplina, para que se adquira uma perspectiva
global e equilibrada;
• Examinar as principais questões ambientais em escala pessoal, local,
regional, nacional, internacional, de modo que os educandos tomem
conhecimento das condições ambientais de outras regiões geográficas;
• Concentrar-se nas situações ambientais atuais e futuras, tendo em
conta também a perspectiva histórica;

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• Insistir no valor e na necessidade de cooperação local, nacional e
internacional, para previnir e resolver os problemas ambientais;
• Considerar, de maneira clara, os aspectos ambientais nos planos de
desenvolvimento e crescimento;
• Fazer com que os alunos participem na organização de suas
experiências de aprendizagem, proporcionando-lhes oportunidade de
tomar decisões e de acatar suas conseqüências;
• Estabelecer uma relação para os alunos de todas as idades, entre a
sensibilização pelo ambiente, a aquisição de conhecimentos, a
capacidade de resolver problemas e o esclarecimento dos valores,
insistindo especialmente em sensibilizar os mais jovens sobre os
problemas ambientais existentes em sua própria comunidade;
• Contribuir para que os alunos descubram os efeitos e as causas reais
dos problemas ambientais;
• Salientar a complexidade dos problemas ambientais e,
conseqüentemente a necessidade de desenvolver o sentido crítico e as
aptidões necessárias para resolvê-los;
• Utilizar diferentes ambientes educativos e uma ampla gama de métodos
para comunicar e adquirir conhecimentos sobre o meio ambiente,
privilegiando as atividades práticas e as experiências pessoais (Czapski,
1998).

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7. BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Antecedentes

O modelo de produção introduzido pela Revolução Industrial, baseado no


uso intensivo de energia fóssil, na superexploração dos recursos naturais e no
uso do ar, água e solo como depósito de dejetos, é apontado como a principal
causa da degradação ambiental atual (Espinosa, 1993). Os problemas
ambientais não passaram a existir somente após a Revolução Industrial. É
inegável, porém, que os impactos da ação dos seres humanos se ampliaram
violentamente com o desenvolvimento tecnológico e com o aumento da
população mundial provocados por essa Revolução.

Os primeiros grandes impactos da Revolução Industrial, ou os primeiros


sintomas da crise ambiental, surgiram na década de 50. Em 1952, o “smog”,
poluição atmosférica de origem industrial, provocou muitas mortes em Londres
(Czapski, 1998). A cidade de Nova York viveu o mesmo problema no período de

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1952 a 1960. Em 1953, a cidade japonesa de Minamata enfrentou o problema
da poluição industrial por mercúrio e milhares de pessoas foram intoxicadas.
Alguns anos depois, a poluição por mercúrio aparece novamente, desta vez na
cidade de Niigata, também no Japão (Porto, 1996; Czapski, 1998).

As Primeiras Oposições

O livro “Primavera Silenciosa” (“Silent Spring”), de Raquel Carson,


publicado em 1962, foi a primeira reação, ou a primeira crítica mundialmente
conhecida dos efeitos ecológicos da utilização generalizada de insumos
químicos e do despejo de dejetos industriais no ambiente. Nos anos 70, outros
autores estenderam essas críticas ao modelo de produção como um todo,
incluindo a questão do crescimento das desigualdades econômico-sociais,
erosão de solos, eutrofização da água pelo despejo de nutrientes nos cursos
d'água, aumento no número de pragas e doenças, destruição de habitats
naturais, erosão geológica, acúmulo de lixo e aumento da instabilidade
econômica e social nas comunidades tradicionais (Crouch, 1995; Allen, 1993;
Kloppenburg, 1991).

Em 1972, o “Clube de Roma¹” publicou um relatório chamado “Os Limites


do Crescimento”, onde se fazia uma previsão bastante pessimista do futuro da
humanidade, caso as bases do modelo de exploração não fossem modificadas.
Também em 1972, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou em
Estocolmo, Suécia, a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente
Humano. Nessa conferência foi criado o Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (PNUMA).

No ano de 1977, ocorreu um dos eventos mais importantes para a


Educação Ambiental em nível mundial: a Conferência Intergovernamental de
Educação Ambiental, em Tbilisi, ex-União Soviética. Nesse encontro foram
definidos objetivos e estratégias para a Educação Ambiental. Apesar dos mais
de 20 anos passados desde a Conferência de Tbilisi, as definições dessa
Conferência continuam muito atuais; sendo adotadas por governos,
administradores, políticos e educadores em praticamente todo o mundo
(Czapski, 1998).

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Muitos movimentos de oposição também surgiram nos anos 70, no bojo
da crítica ao modelo dominante de desenvolvimento industrial e agrícola
mundial, e dos seus efeitos econômicos, sociais e ecológicos. Nessa época tem
início um processo de tomada de consciência de que os problemas como
poluição atmosférica, chuva ácida, poluição dos oceanos e desertificação são
problemas universais.

Inicia-se um profundo questionamento dos conceitos “progresso” e


“crescimento econômico”. Algumas correntes de pensamento afirmavam que o
“crescimento econômico e os padrões de consumo (nos níveis da época) não
são compatíveis com os recursos naturais existentes”. Uma das idéias centrais
era a de que os seres humanos não só estavam deliberadamente destruindo o
meio ambiente, exterminando espécies vegetais e animais, como também
colocando sua própria espécie em risco de extinção (Ehlers, 1995). Parte dessas
correntes buscava formas de sensibilizar a opinião pública sobre a urgência da
discussão acerca dos custos ambientais e sociais do desenvolvimento. Previam
a necessidade de serem desenvolvidas novas bases para o crescimento
econômico, bases compatíveis com a preservação dos recursos naturais
existentes. Dentro desse processo dinâmico e efervescente de discussão,
esboçaram-se os conceitos Sustentabilidade e Desenvolvimento
Sustentável, como a base teórica para repensar, em termos perenes, a questão
do crescimento econômico e do desenvolvimento.

A profunda crise econômica da década de 80 amplia ainda mais a


distância entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, ao mesmo
tempo que agrava os problemas ambientais em nível mundial. Os problemas
ambientais são vistos como intimamente relacionados com as questões
econômicas, políticas e sociais. A crise ambiental passa a ser encarada como
uma crise global. A Educação Ambiental é vista como uma forma de preparar
todo cidadão para participar da defesa do meio ambiente.

No Brasil, os anos 80 são os anos dos movimentos sociais: a sociedade


civil buscando se estabelecer como um poder de fato. São os anos dos
sindicatos, associações, grupos de bairro e organizações não governamentais
lutando pela democracia e cidadania.

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Também na década de 80, ocorreram duas grandes tragédias ambientais
que abalaram o mundo. Em dezembro de 1984, mais de duas mil pessoas
morreram envenenadas na Índia pelo vazamento de gás da empresa Union
Carbide. Em abril de 1986, em Chernobyl, Ucrânia, um acidente com um reator
nuclear provocou a contaminação de milhares de pessoas. Não se sabe ao certo
quantas pessoas morreram nesse acidente, as informações são extremamente
divergentes.

Os anos 90 e a ECO-92

Nos anos 90, o processo de globalização da economia iniciado nas


décadas anteriores se tornou uma dura realidade. A economia e a política
nacional perdem força ante as políticas internacionais (Medina,1997). Grandes
corporações internacionais passam a dominar o cenário econômico mundial.

Regiões inteiras do globo são crescentemente colocadas à margem do


processo produtivo e do desenvolvimento. Cresce a miséria nos países do
terceiro mundo. Os serviços da dívida externa comprometem uma parte
importante do Produto Interno Bruto dos países em desenvolvimento. Os países
do Hemisfério Sul, ao contrário de beneficiários, tornam-se vítimas da
globalização da economia. A interdependência (relação de dependência
econômica entre todos os países do mundo) tornou suas frágeis economias
altamente vulneráveis às mudanças nas condições econômicas mundiais.
Condições essas sobre as quais esses países periféricos não têm controle
(Espinosa, 1993; Sachs, 1992)

Muito em função dos impactos da globalização da economia, os países


do Hemisfério Norte e os do Sul chegam à ECO-92 com posições bastante
diferentes. Os países do Norte se centravam na avaliação de que os problemas
ambientais são globais; sendo assim, é necessário compartilhar
responsabilidades (e os custos financeiros para resolvê-los) entre todos os
países. Já os países do Hemisfério Sul priorizavam as discussões sobre
desenvolvimento para atingirem níveis sócioeconômicos razoáveis:

“A preservação não pode impedir o desenvolvimento


econômico e social”.

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A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento ECO-92, e o Fórum Global - Fórum Internacional de
Organizações NãoGovernamentais e Movimentos Sociais, ocorridos no Rio de
Janeiro, foram os grandes eventos internacionais sobre meio ambiente e
educação ambiental da década.

Os temas em discussão na época (Espinosa, 1993; Sachs, 1992;


Sorrentino, 1997):

• O crescimento econômico atual se dá através do crescimento das


desigualdades;
• O crescimento baseado na economia de mercado levada às
últimas conseqüências pode aprofundar as desigualdades entre e
dentro das nações;
• O crescimento econômico atual transfere para a sociedade os
custos sociais e ambientais da exploração do meio ambiente,
alargando as desigualdades sociais e econômicas;
• A parceria para administrar o meio ambiente requer maior justiça
econômica para os países em desenvolvimento;
• Os países em desenvolvimento necessitam de ajuda econômica
para saírem do duplo nó pobreza e destruição ambiental;
• É necessário deter o consumo excessivo, principalmente dos
países do primeiro mundo.

A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e


Desenvolvimento ECO92, trouxe Chefes de Estado de mais de 130 países para
o Rio de Janeiro. Dentre os vários documentos produzidos na ECO92, destaca-
se (Czapski, 1998):

Carta da Terra: declaração de princípios da ECO92, sem força de lei e


sem detalhamento de medidas concretas a serem adotadas.

Agenda 21: Documento Operacional da ECO92, se constituindo em um


“verdadeiro plano de ação mundial para orientar a transformação de nossa
sociedade...”(Guimarães, 1999). A Agenda 21 é dividida em 40 capítulos, com
mais de 600 páginas. O capítulo 36 trata da Educação Ambiental e define como
áreas prioritárias:

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• “(...) a reorientação da educação na direção do desenvolvimento
sustentável (…)”
• “(...) a ampliação da conscientização pública, compreendendo
ações destinadas às comunidades urbanas e rurais, visando
sensibilizá-las sobre os problemas ambientais e de
desenvolvimento (…)”
• “(...)o incentivo ao treinamento, destinado à formação e à
capacitação de recursos humanos para atuarem na conservação
do meio ambiente e como agentes do desenvolvimento sustentável
(…)”(Porto, 1996).
• A Agenda 21 estabelece que cada país deve elaborar sua própria
Agenda 21 Nacional.

Convenção das Mudanças Climáticas: Estabelece a necessidade de


realização de mais estudos sobre os efeitos das descargas de gases na
atmosfera e propõe a cooperação entre países para que sejam socializadas
tecnologias limpas de produção.

Convenção da Biodiversidade: a Convenção garante a soberania dos


estados na exploração dos seus recursos biológicos e estabelece a necessidade
de criação de incentivo financeiros para que os estados detentores da
biodiversidade tenham como cuidar de sua conservação.

O Fórum Global Fórum Internacional de Organizações Não-


Governamentais e Movimentos Sociais, que ocorreu no Aterro do Flamengo,
Rio de Janeiro, na mesma época da ECO92, atraiu ambientalistas, sindicalistas,
representantes de nações indígenas e de organizações não governamentais de
todas as partes do mundo. Dentre os vários documentos produzidos nesse
Encontro, destaca-se o Tratado de Educação Ambiental para as Sociedades
Sustentáveis e Responsabilidade Global.

Em agosto / setembro de 2002 realizou-se em Johannes burgo, África do


Sul, o Encontro da Terra, também denominado Rio+10, pois teve a finalidade
de avaliar as decisões tomadas na Conferência do Rio em 1992.

Em 1994, Marcos Reigota afirmou que "o momento atual exige que não
falemos mais em Educação Ambiental, mas simplesmente em Educação", ele

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afirmava que a educação é direito universal no sentido de não apenas ser a
utilização adequada dos recursos naturais, como também a participação nos
processos de decisão, exercendo o direito à democracia participativa e a
cidadania.

Dessa forma, a educação como um todo (toda educação é ambiental, pois


conduz à lógica de uso racional dos recursos) pode estimular uma nova relação
com a natureza, com lógicas de consumo pautadas por um novo modo de
pensar que não seja sinônimo de autodestruição.

8. OUTROS ACONTECIMENTOS IMPORTANTES DOS ANOS 90

Em dezembro de 1994, o Governo Brasileiro criou o Programa Nacional


de Educação Ambiental - PRONEA. No ano de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases
para a Educação foi promulgada. Um dos objetivos do programa seria que:

A. A educação ambiental fosse fortalecida de aspecto formal ou não


formal para a sociedade.

Um dos eventos mundiais mais importantes para a Educação Ambiental


ocorridos na década de 90, pós ECO- 92, foi a “Conferência Meio Ambiente e
Sociedade: Educação e Consciência Pública para a Sustentabilidade”,
organizada pela UNESCO, em dezembro de 1997, na cidade de Thessaloniki,
Grécia. Dentre as várias recomendações contidas na Declaração de
Thessaloniki, destacamse:

Que os governos e líderes mundiais honrem os compromissos já


assumidos durante as Conferências da ONU e dêem à Educação os meio
necessários para que cumpra seu papel pela busca de uma futura
sustentabilidade;

• Que as escolas sejam encorajadas e apoiadas para que ajustem


seus currículos em direção a um futuro sustentável;

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• Que todas as áreas temáticas, inclusive as ciências humanas e
sociais, devem incluir as questões relacionadas ao meio ambiente
e desenvolvimento sustentável;
• Que todos os atores sociais contribuam para a implementação do
capítulo 36 da Agenda 21.

9. LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE EDUCAÇÃO


AMBIENTAL

Existem vários artigos, capítulos e leis brasileiras com importância para a


educação ambiental. Uma das primeiras leis que cita a educação ambiental é a
Lei Federal Nº 6938, de 1981, que institui a “Política Nacional do Meio Ambiente”.
A lei aponta a necessidade de que a Educação Ambiental seja oferecida em
todos os níveis de ensino.

A Constituição Federal do Brasil, promulgada no ano de 1988,


estabelece, em seu artigo 225, que:

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de


uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes
e futuras gerações”; cabendo ao Poder Público “promover a educação ambiental
em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do
meio ambiente”.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei Nº 9394, de dezembro de


1996, reafirma os princípios definidos na Constituição com relação à Educação
Ambiental:

“A Educação Ambiental será considerada na concepção dos conteúdos


curriculares de todos os níveis de ensino, sem constituir disciplina específica,
implicando desenvolvimento de hábitos e atitudes sadias de conservação
ambiental e respeito à natureza, a partir do cotidiano da vida, da escola e da
sociedade.”

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No ano de 1997, foram divulgados os novos Parâmetros Curriculares
Nacionais - PCN. Os PCN foram desenvolvidos pelo MEC com o objetivo de
fornecer orientação para os professores. A proposta é que eles sejam utilizados
como “instrumento de apoio às discussões pedagógicas na escola, na
elaboração de projetos educativos, no planejamento de aulas e na reflexão sobre
a prática educativa e na análise do material didático”.

Os PCN enfatizam a interdisciplinaridade e o desenvolvimento da


cidadania entre os educandos.

Os PCN estabelecem que alguns temas especiais devem ser discutidos


pelo conjunto das disciplinas da escola, não constituindo-se em disciplinas
específicas. São os chamados temas transversais.

Temas transversais definidos pelos PCN: ética, saúde, meio ambiente,


orientação sexual e pluralidade cultural.

9.1- O AUTO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL


O Artigo 71, II , da Lei dos Crimes Ambientais- LCA, Lei 9.605/98,
estabelece o prazo-limite de 30 (trinta) dias para o julgamento do auto de infração
ambiental. O presente curso pretende abordar os efeitos e conseqüências desta
previsão legal.

Art. 71- O processo administrativo para apuração de infração ambiental


deve observar os seguintes prazos máximos:

I. Vinte dias para o infrator oferecer defesa ou impugnação contra o


auto de infração, contados da data da ciência da autuação;
II. Trinta dias para a autoridade competente julgar o auto de infração,
contados da data da sua lavratura, apresentada ou não a defesa
ou impugnação;
III. Vinte dias para o infrator recorrer da decisão condenatória à
instância superior do Sistema Nacional do Meio Ambiente -
SISNAMA, ou à Diretoria de Portos e Costas, do Ministério da
Marinha, de acordo com o tipo de autuação;

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IV. Cinco dias para o pagamento de multa, contados da data do
recebimento da notificação.

Uma vez que o ramo direito ambiental é um desdobramento do direito


administrativo, é impossível, principalmente em se tratando deste tema, não
abordar certos tópicos como os Princípios Constitucionais basilares da
Administração Pública, estampados no Artigo 37 da Constituição Federal de
1988.

Assim, observância dos Princípios Constitucionais da Legalidade,


Moralidade, Impessoalidade, Publicidade e Eficiência, inclusive na esfera
ambiental, trazem segurança jurídica à sociedade, vez que garantem o
cumprimento das normas preestabelecidas, preservando, pois, o Estado
Democrático de Direito.

Todavia, para efeitos deste curso, nos limitaremos à breves análises


sobre os Princípios da Legalidade e da Eficiência.

O Artigo 37 da CF/88 consagra a idéia de que a Administração Pública só


poderá ser exercida mediante a existência de uma lei.

Então, a atividade administrativa que é uma atividade pública é sublegal;


infralegal, posto que depende de comandos legais.

Por isso, o administrador público encontra-se sujeito aos mandamentos


legais, sob pena de praticar, dentro de suas atividades funcionais, atos inválidos,
se expondo à responsabilidade disciplinar, criminal ou civil, de acordo com o
caso.

Tome-se por exemplo a Lei da Ação Popular, a qual considera nulos os


atos lesivos ao patrimônio público quando estes estiverem "contaminados" de
ilegalidade do objeto, que, conforme a própria lei, ocorre quando o resultado do
ato importa em violação da lei, regulamento ou ato administrativo.

Hely Lopes Meirelles, conceitua a Legalidade, como sendo o princípio da


administração pública, pelo qual o administrador público está, em toda a sua
atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem
comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido
e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso.

21
Conclui, ainda, que na administração pública não há liberdade nem vontade
pessoal.

 Princípio da Legalidade

A Legalidade é pois, o Princípio que molda o campo de atuação do


administrador, definindo os limites, mas também impõe a ele algumas sujeições.

Em síntese, o Princípio da Legalidade consiste na completa submissão da


Administração Pública às leis, devendo, pois, o administrador ou servidor público
obedecê-las, cumpri-las e pô-las em prática.

 Princípio da Eficiência

Positivado Constitucionalmente através da Emenda n. 19/98, o Principio


da Eficiência pode ser entendido como uma nova concepção de administrar o
que é público.

Tem caráter eminentemente gerencial, o que na prática quer significar que


ao administrador público é concedida maior autonomia e critérios de fixação de
responsabilidade, enfatizando a consecução dos resultados, mediante uma
administração mais eficiente, com qualidade tanto em relação ao serviço
prestado quanto para a satisfação do interesse público.

Cabe dizer que o Estado é o responsável direto pela fiscalização em


matéria ambiental e, ao mesmo tempo, é o maior poluidor, seja ativa ou
passivamente. Assim, não há como determinar ao ente público que aplique as
normas jurídicas como lhe convir, sendo necessária à aplicação da legislação
ambiental vigente.

A lei deve ser aplicada de modo eficaz; otimizado e revestido de qualidade


funcional, critérios esses inseridos no conceito de eficiência.

Para Helly Lopes Meirelles, o Princípio da Eficácia é assim entendido:

"O princípio da eficiência exige que a atividade administrativa seja


exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno
princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada
apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o exercício público e
satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros.

22
O dever que tal princípio impõe aos agentes públicos será analisado no item
seguinte."

No entendimento de Alexandre de Morais:

"(...) é aquele que impõe à Administração Pública direta e indireta e a seus


agentes a persecução do bem comum, por meio do exercício de suas
competências de forma imparcial, neutra, transparente, participativa, eficaz, sem
burocracia e sempre em busca da qualidade, primando pela adoção dos critérios
legais e morais necessários para melhor utilização possível dos recursos
públicos, de maneira a evitar-se desperdícios e garantir-se uma maior
rentabilidade social. Note-se que não se trata da consagração da tecnocracia,
muito pelo contrário, o Princípio da Eficiência dirige-se para a razão e fim maior
do Estado, a prestação dos serviços públicos sociais essenciais à população,
visando a adoção de todos os meios legais e morais possíveis para a satisfação
do bem comum."

Em síntese: a boa gestão da coisa pública é uma obrigação ao exercício


da função administrativa e deve ser buscada nos limites da lei.

A função administrativa é obrigatoriamente atividade finalista, exercida em


nome e em favor de terceiros, razão pela qual exige legalidade, impessoalidade,
moralidade, responsabilidade, publicidade e eficiência dos seus servidores, na
busca da supremacia do bem comum e do interesse público.

 O auto de infração ambiental

O auto de infração é o documento que inaugura o processo administrativo


destinado à apuração da existência, ou não, da infração ambiental.

As infrações ambientais são apuradas mediante processo administrativo


especifico, no qual é assegurado ao acusado o Direito Constitucional da Ampla
Defesa e do Contraditório. Portanto, deve, obrigatoriamente, ser formal e
preencher requisitos previstos na norma ambiental aplicável.

Diz o Artigo 70 da Lei 9.605/98, Lei dos Crimes Ambientais ou LCA, que
a infração administrativa ambiental é toda ação ou omissão que viole as regras
jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.

23
O auto de infração ambiental e posterior instauração de processo
administrativo constituem atos de competência dos funcionários de órgãos
integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente- SISNAMA, desde que
designados para as atividades de fiscalização, sendo que também são
igualmente competentes os agentes da Capitania dos Portos, do Ministério da
Marinha, sob pena de co-responsabilidade.

Uma vez que a Constituição Federal em seu Artigo 225 "caput" assegurou
ser dever de todos a proteção do meio ambiente para as presentes e futuras
gerações, qualquer pessoa, constatando infração ambiental, poderá dirigir
representação às autoridades acima mencionadas, para efeito do exercício do
seu poder de policia.

A título de exemplo, tome-se o caso o fictício município de Cabo da Boa


Esperança, cuja Secretaria Municipal do Meio Ambiente, baixou a seguinte
Resolução:

Resolução n. 007/07 da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Cabo


da Boa Esperança:

Art. 7º - O auto de infração será lavrado pela autoridade ambiental que a


houver constatado no local em que foi verificada a infração, devendo conter:

I. Nome do infrator, seu domicílio e/ou residência, bem como os


demais elementos necessários a sua qualificação e identificação
civil;
II. Local, data e hora da infração;
III. Descrição da infração e menção do dispositivo legal ou
regulamentar transgredido;
IV. Penalidade a que está sujeito o infrator e o respectivo preceito legal
que autoriza sua imposição;
V. Ciência, pelo autuado, de que responderá pelo fato em processo
administrativo;

Então, de acordo com os Princípios da Legalidade e da Eficiência, deverá


o servidor público municipal competente, lavrar auto de infração ambiental
obedecendo à todos os critérios estipulados na lei (no caso em tela, na

24
Resolução da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Cabo da Boa
Esperança).

Obviamente, não cabe no auto de infração informalidade ou


discricionariedade (vontade do agente), porquanto trata-se de ato vinculado e
punitivo, sendo que a forma é requisito fundamental para o cumprimento do
devido processo legal, constitucionalmente previsto no inciso LIV do art. 5º.

A desobediência aos requisitos legais quanto à forma do ato induz a


inexistência do mesmo, viciando-o substancialmente e tornando-o, portanto,
passível de invalidação.

9.2- INEXISTÊNCIA DE JULGAMENTO DO AUTO DE


INFRAÇÃO AMBIENTAL NO PRAZO LEGAL

O inciso II, do Artigo 71, da LCA estabelece, conforme já citado, o prazo


de 30 (trinta) dias para a autoridade competente julgar o auto de infração, sendo
que o referido prazo é contado da data da sua lavratura, apresentada ou não a
sua defesa ou impugnação.

O processo administrativo é o caminho pelo qual a administração pública


exige do particular determinada obrigação, seja de fazer, não fazer ou até
mesmo a exigência de uma prestação pecuniária.

De forma similar, o processo administrativo deve respeitar a determinação


contida na legislação aplicável, sob pena de infringir o Princípio da Legalidade e,
ainda, o Princípio da Eficiência, ambos constitucionalmente previstos.

A legislação aplicável na hipótese, que regulamentou a atividade da


administração pública à fiscalização e punição das infrações administrativas
ambientais, prevê prazos fixos.

Inobservar a lei significa comprometer todo o processo administrativo,


tendo em vista a existência de prazo legal para que o Poder Público se manifeste
acerca da validade ou não do ato unilateral do servidor que autuou o suposto
infrator.

25
Oportuna uma observação acerca do prazo do julgamento que, segundo
o texto legal, inicia-se com a lavratura do auto.

Há, no Artigo 71 e incisos uma série de questões que acarretam a


invalidação de praticamente todos os processos administrativos, posto que o
julgamento no prazo legal estabelecido é inviável.

Na Ampla Defesa e no Contraditório, poderá ser necessária a produção


de provas, acarretando, por vezes, a expiração do lapso temporal contido no
inciso II do art. 71 da LCA (20 dias). Ou seja, há uma imperfeição legislativa que
acaba por inviabilizar todo o procedimento acerca do julgamento do auto de
infração administrativo ambiental.

De melhor redação a Lei 9.784/99, que regula o processo administrativo


no âmbito da Administração Pública Federal, ao determinar em seu Artigo 49,
que o prazo para julgamento inicia-se com a conclusão da instrução processual.

Caso comprovada a inobservância da determinação legal que exige o


julgamento do auto de infração dentro de trinta dias, competirá ao Judiciário a
garantia da aplicação da lei

26
10. A POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A Lei Federal Nº 9.795, sancionada em 27 de abril de 1999, institui a


“Política Nacional de Educação Ambiental”. Essa é a mais recente e a mais
importante lei para a Educação Ambiental. Nela são definidos os princípios
relativos à Educação Ambiental que deverão ser seguidos em todo o País. Essa
Lei foi regulamentada em 25 de junho de 2002, através do Decreto N.º 4.281.

A lei estabelece que todos têm direito à educação ambiental. A Educação


Ambiental como um “componente essencial e permanente da educação
nacional, devendo estar presente em todos os níveis e modalidades do processo
educativo, em caráter formal e não formal”.

Nas escolas, a educação ambiental deverá estar presente em todos os


níveis de ensino, como tema transversal, sem constituir disciplina específica,
como uma prática educativa integrada, envolvendo todos os professores, que
deverão ser treinados para incluir o tema nos diversos assuntos tratados em sala
de aula.

A dimensão ambiental deve ser incluída em todos os currículos de


formação dos professores. Os professores em atividade deverão receber
formação complementar.

De acordo com a lei que institui a “Política Nacional de Educação


Ambiental”, fazem parte dos princípios básicos da educação ambiental:

• O enfoque holístico, democrático e participativo;


• A concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a
interdependência entre o meio natural, sócio-econômico e o
cultural, sob o enfoque da sustentabilidade;
• O pluralismo de idéias e concepções pedagógicas;
• A permanente avaliação crítica do processo educativo;
• A abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais,
nacionais e globais;
• A vinculação entre a ética, educação, trabalho e as práticas sociais;

27
• O reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade
individual e cultural.

São objetivos fundamentais da educação ambiental definidos na


referida lei (entre outros):

• Democratização das informações;


• Fortalecimento da consciência crítica sobre a problemática social e
ambiental;
• Incentivo à participação individual e coletiva, de forma permanente
e responsável na preservação do meio ambiente;
• O fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e
solidariedade;
• O desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio
ambiente em suas múltiplas e complexas relações.

11. SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL - CONCEITOS CHAVE EM EDUCAÇÃO
AMBIENTAL

Os conceitos Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade


envolvem o crescimento econômico contínuo através do tempo, um crescimento
benigno ao ambiente e que contemple, ao mesmo tempo, dimensões culturais e
sociais (Ehlers, 1996). Existem várias tentativas de definir sustentabilidade,
apresentamos uma delas:

“Sustentabilidade pode ser definida como sendo a utilização do nosso


entorno físico de tal forma que suas funções vitais sejam indefinidamente
preservadas” (Hueting and Reijnders, 1998).

Já o conceito Desenvolvimento Sustentável foi utilizado pela primeira


vez no documento Estratégia de Conservação Global (World Conservation
Strategy), publicado pela World Conservation Union, em 1980. Foi porém a partir
da publicação do Relatório: “Nosso Futuro Comum” em 1987, também conhecido

28
como Relatório Bruntland, que o termo passou a ser mundialmente conhecido.
De acordo com este:

O Desenvolvimento Sustentável é aquele que “atende às necessidades


do presente sem comprometer a possibilidade de gerações futuras atenderem
às suas próprias necessidades” (World Commission on Environment and
Development, 1987).

A Agenda 21, documento operacional da Conferência das Nações Unidas


sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - Rio 92, define desenvolvimento
sustentável como sendo:

“um desenvolvimento com vistas a uma ordem


econômica internacional mais justa, incorporando as mais
recentes preocupações ambientais, sociais, culturais e
econômicas.”

12. EXTENSÃO AMBIENTAL - INSTRUMENTO IMPORTANTE DE


EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Extensão Ambiental é o segmento da Educação Ambiental que atua no


sentido de difundir informações sobre preservação e recuperação do meio
ambiente e na adaptação de técnicas, leis e normas de controle de atividades
potencialmente poluidoras.

A Extensão Ambiental procura levar conhecimentos e experiências


acumuladas nos organismos de pesquisa, de controle e de promoção ambiental
para os diversos setores econômicos e sociais, como forma de disseminar
metodologias e técnicas ambientalmente limpas e socialmente justas (adaptado
de Ribeiro, 1998).

O público preferencial da Extensão Ambiental envolve Prefeituras,


Câmaras Municipais, Conselhos e Secretarias Municipais de Meio Ambiente,
Organizações Não-Governamentais e Empresas.

O objetivo central de Extensão Ambiental é o de apoiar os municípios e


os demais organismos que atuam em nível regional a capacitarem-se e

29
estruturarem-se para poderem efetivamente contribuir no processo de
gerenciamento, controle e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras
do meio ambiente em nível local. Esse conceito se insere dentro da proposta de
democratização, descentralização e divisão de responsabilidades entre a União,
o Estado e o município no processo de controle e preservação ambiental em
Minas Gerais.

13. INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS ENVOLVIDAS COM A


QUESTÃO AMBIENTAL EM MINAS GERAIS

No Estado de Minas Gerais, a atuação dos órgãos governamentais de


meio ambiente está concentrada na Secretaria Estadual de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável - SEMAD. É função da SEMAD:

“(...) formular e coordenar a política estadual de proteção do meio


ambiente e de gerenciamento dos recursos hídricos, bem como articular
as políticas de gestão dos recursos ambientais, assegurando o
desenvolvimento do Estado sem a destruição da natureza”.

O Sistema de Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais, coordenado


pela SEMAD, é composto por:

Conselho Estadual de Política Ambiental - COPAM: Criado em 29 de


abril de 1977, composto por representantes governamentais da esfera federal,
estadual e municipal e da sociedade civil. O COPAM é um órgão normativo,
colegiado, paritário, consultivo e deliberativo, com poderes para conceder
licenças ambientais.

Conselho Estadual de Recursos Hídricos - CERH: Órgão deliberativo


e normativo central do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos
Hídricos SEGRH/MG.

Fundação Estadual do Meio Ambiente - FEAM: Responsável pela


Agenda Marrom, que envolve o controle das atividades industriais, minerárias,
infra-estrutura, saneamento, projetos urbanísticos, rodovias, ferrovias,

30
hidroelétricas, bem como o monitoramento da qualidade das águas, do ar e do
solo.

Instituto Estadual de Florestas - IEF: Responsável pela Agenda Verde,


tendo o papel de coordenar e executar as Políticas Florestais e de Gestão da
Pesca do Estado de Minas Gerais.

Instituto Mineiro de Gestão das Águas - IGAM: Órgão responsável pela


Agenda Azul, que envolve gestão dos recursos hídricos e a preservação da
quantidade e qualidade da água no Estado de Minas Gerais.

Além desses, outros órgãos municipais, estaduais e federais atuam na


preservação ambiental no Estado. São eles: Prefeituras Municipais, Conselhos
Municipais de Meio Ambiente; Polícia Militar de Meio Ambiente; Instituto Mineiro
de Agropecuária - IMA, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural -
EMATER; Corpo de Bombeiros; Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis - IBAMA dentre outros.

A Instrução Normativa n° 2/2012, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente


e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), estabelece bases técnicas para
programas de educação ambiental apresentados como medidas mitigadoras ou
compensatórias, em cumprimento às condicionantes das licenças concedidas ou
nos processos de regularização do licenciamento ambiental, emitidas pelo
IBAMA. De acordo com essa Instrução Normativa, o programa de Educação
Ambiental deverá estruturar-se em dois componentes:

Art. 2º - O Programa de Educação Ambiental deverá estruturar-se em dois


Componentes:

Componente I: Programa de Educação Ambiental - PEA, direcionado aos


grupos sociais da área de influência da atividade em processo de licenciamento;

Componente II: Programa de Educação Ambiental dos Trabalhadores -


PEAT, direcionado aos trabalhadores envolvidos no empreendimento objeto do
licenciamento.

31
13.1- A COMISSÃO COORDENADORA DO FÓRUM
PERMANENTE DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO
ESTADO DE MINAS GERAIS

Criada oficialmente pelo Decreto Nº 41.055, de 18 de maio de 2000, a


Comissão Coordenadora, como é conhecida, é constituída por instituições que
representam os mais variados setores da sociedade e, entre as suas
competências, está a de promover a educação ambiental no Estado.

A assinatura do Convênio para instalação do Pólo Estadual de Educação


Ambiental e Práticas Sustentáveis, entre a SEMAD e o MMA - Ministério do Meio
Ambiente, em julho de 2002, que tem o objetivo de instrumentalizar a Comissão
com equipamentos e informações, facilitando essa promoção.

A Comissão Coordenadora é ligada diretamente à SEMAD, integrando


sua estrutura. Cabe ao Sistema Estadual de Meio Ambiente, através do núcleo
de educação ambiental dos órgãos que compõe o Sistema (SEMAD, FEAM, IEF
e IGAM), a coordenação da Comissão Coordenadora.

Composição:

Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável -


SEMAD.

Secretaria de Estado da Educação-SEE.

Secretaria de Estado da Saúde-SES.

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis-


IBAMA.

• Fundação Estadual de Meio Ambiente-FEAM.


• Instituto Estadual de Florestas-IEF.
• Instituto Mineiro de Gestão das Águas-IGAM.
• Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG.
• Universidade do Estado de Minas Gerais-UEMG.
• Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais-FIEMG.
• Associação Mineira de Defesa do Ambiente -AMDA.
• Associação dos Municípios do Vale do Itapecerica-AMVI.

32
Ações:

• Fórum Permanente de Educação Ambiental

Os I e II Fóruns de Educação Ambiental de Minas Gerais tiveram como


objetivo construir, de maneira participativa com a sociedade mineira, as bases
do Programa de Educação Ambiental do Estado de Minas Gerais, conferindo ao
mesmo a legitimidade de suas propostas e a aplicabilidade em todo o território
mineiro. O Programa Estadual será uma referência de ações estratégicas para
projetos de Educação Ambiental.

• Pesquisa: MAPEANDO A REALIDADE DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL


DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Objetiva subsidiar a formulação de políticas e diretrizes para a elaboração


de um Programa Estadual de Educação Ambiental que considere a realidade
sócioambiental de Minas Gerais, valorizando as potencialidades locais, sua
pluralidade e diversidade cultural regionais.

A pesquisa mapeando tem os seguintes objetivos específicos:

• Formatar um banco de dados através do cadastro de informações, que


subsidiará o Programa de Educação Ambiental do Estado de Minas Gerais, para
as micro - meso - macro regiões e municípios mineiros, permitindo identificar:

 As entidades e as ONGs ambientalistas (e afins) atuantes no


estado;
 As tipologias das estruturas organizacionais e a complexidade das
entidades
 A base social por elas mobilizadas e / ou atendidas;
 Campo específico (direto e indireto) de atuação das entidades e
Ong's;
 A percepção das entidades quanto aos problemas ambientais do
Estado;
 Grau de conhecimento destas sobre a realidade ambiental de
Minas Gerais;
 Sugestões sobre as possíveis soluções para os problemas
apontados;

33
 Sugestões de formas possíveis de parcerias e participação no
Programa Ambiental do Estado de Minas Gerais;
 Interesse de participação em atividades de integração entre
instituições/ONG's e o governo;
 A pluralidade de instituições e entidades assim como a diversidade
de seus objetivos sociais e ambientais;

• Mapear a caracterização da “Realidade da Educação Ambiental do


Estado de Minas Gerais”.

14. FUNDAÇÃO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE - FEAM

Objetivo

Promover a melhoria da qualidade ambiental no Estado de Minas Gerais,


no que concerne a prevenção e controle de poluição.

Linhas de ação

• Licenciamento e fiscalização de atividades industriais, postos de


combustível, minerárias e de infra-estrutura (saneamento, projetos
urbanísticos, rodovias, ferrovias e hidrelétricas);
• Monitoramento da qualidade do ar, da água e do solo;
• Educação e Extensão Ambiental;
• Pesquisa e Desenvolvimento.

Serviços Oferecidos pela FEAM

• Análise de projetos de controle ambiental de atividades industriais


e minerárias;
• Análise de projetos de controle ambiental de hidroelétricas,
loteamentos, rodovias, ferrovias e infra-estrutura de saneamento
básico;
• Realização de audiências públicas para divulgação e discussão de
normas e projetos de impacto ambiental significativo;
• Levantamento das condições de qualidade das águas;

34
• Sistematização e divulgação diária dos dados de qualidade do ar
na RMBH;
• Desenvolvimento de Normas e Padrões de controle e qualidade
ambiental;
• ICMS Ecológico - Incentivo à implantação de sistemas de
disposição adequada de lixo e esgotos sanitários;
• Estágios e treinamento para agentes municipais com vistas à
capacitação para o controle ambiental no nível local;
• Elaboração e edição de materiais educativos;
• Coordenação e desenvolvimento de programas de educação e
extensão ambiental;
• Desenvolvimento de indicadores de Qualidade Ambiental.

Produtos da FEAM

• Parceria com o IGAM na produção do relatório anual da qualidade


das águas superficiais do Estado de Minas Gerais;
• Base de dados da Legislação Ambiental (Internet, livro);
• Base de dados da legislação referente a resíduos sólidos (CD
Rom);
• Publicações;
• Cursos de capacitação;
• Relatório de Qualidade Ambiental associado à Agenda Marrom;
• Manual de Procedimentos Operacionais Licenciamento Ambiental;
• Base de dados georeferenciada de informações ambientais.

35
15. A ASSESSORIA DE EDUCAÇÃO E EXTENSÃO AMBIENTAL -
AEX – FEAM

Objetivos

Elaborar, promover e coordenar planos, programas e projetos de


educação e extensão ambiental, visando ao atendimento das metas e padrões
de qualidade ambiental.

Compete a AEX

 Articular e apoiar os municípios e outras instituições para a


descentralização da gestão ambiental, na área de competência da
FEAM;
 Planejar, coordenar e desenvolver cursos e outras ações
educativas, para ampliação da capacitação em gestão ambiental;
 Promover a difusão de informações, conceitos e tecnologias
ambientais, bem como a elaboração e produção de material técnico
de apoio aos sistemas municipais de gestão.

Público Alvo da AEX

 Prefeituras, Conselhos Municipais de Meio Ambiente - CMMAs,


Organizações Não - Governamentais, Organizações
Governamentais e Empresas.

ATIVIDADES DA AEX

 Promover e Coordenar cursos, palestras, oficinas, estágios, visitas


técnicas;
 Divulgar informações relacionadas com meio ambiente e elaborar
materiais educativos como folhetos, cartilhas, livros, cartazes,
vídeos e manuais;
 Elaborar, apoiar e fomentar planos, projetos e programas de
educação e extensão ambiental junto à Empresas, Prefeituras,
CMMAs, Organizações Governamentais e Não-Governamentais e
Comunidade Científica e ao Público Interno da própria FEAM;

36
 Atender os municípios e os Conselhos Municipais de Meio
Ambiente - CMMAs nos aspectos relativos à gestão ambiental
municipal;
 Capacitar os municípios visando a descentralização da gestão
ambiental;
 Participar de feiras, congressos e seminários;
 Promover parcerias e captar recursos físicos e financeiros para
viabilizar ações em educação ambiental.

Atendimento aos Municípios

Em Julho de 2001 foi sistematizado na Assessoria de Educação e


Extensão Ambiental AEX o atendimento aos municípios com o objetivo de apóia-
los nos aspectos relativos à Agenda Marrom e contribuir para o fortalecimento
dos sistemas municipais de meio ambiente. A Assessoria visa atender as
Prefeituras e os Conselhos Municipais de Meio Ambiente nos seguintes
aspectos:

 Promover a integração dos municípios com a FEAM;


 Encaminhar e acompanhar questionamentos técnicos de
representantes de Conselhos Municipais de Meio Ambiente e
Prefeituras aos setores responsáveis da FEAM, retornando aos
solicitantes as respostas devidas;
 Divulgar informações com relação ao sistema de gestão estadual
e municipal; - auxiliar na divulgação de instrumentos de gestão
ambiental;
 Orientar na criação, estruturação e reestruturação dos CMMAs;
 Promover e participar de reuniões, seminários, cursos e palestras
relativos à gestão ambiental municipal (em BH e no interior);
 Encaminhar periodicamente material educativo aos municípios.

37
16. EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM DEBATE

A Educação Ambiental, como campo do conhecimento e da prática


educacional, tem uma história recente. Diante de fortes demandas sociais, ela
nasce como forma de contestação a modelos societários construídos sobre
pilares insustentáveis, sendo crítica aos modelos desenvolvimentistas adotados
tanto pela antiga URSS quanto pelos países capitalistas.

A evolução teórico-metodológica da Educação Ambiental se intensifica a


partir dos anos 1970, especialmente após alguns marcos históricos. A relevância
que a questão ambiental ganha no cenário mundial provoca uma profusão de
discursos e práticas educativas. Grande parte desses discursos se afasta do
cenário real de conflitos socioambientais, acabando por gerar práticas que em
nada mudam a realidade. Parte do que nasce como crítica societária adquire um
viés conservador que, apoiado no senso comum, ganha rapidamente espaço na
sociedade. Produz-se, assim, uma polaridade de discursos e práticas: de um
lado, uma Educação Ambiental abstrata, voltada para a natureza externa, que
se distancia do terreno dos conflitos socioambientais; do outro, uma prática
crítica que olha para tais conflitos e pretende fortalecer o controle da sociedade
sobre a gestão ambiental pública.

Diante disso, o que se pretende a seguir é diferenciar as duas principais


correntes da Educação Ambiental para que o leitor compreenda as
consequências, para a sociedade e o ambiente, de cada forma de trabalhá-la.

16.1- EDUCAÇÃO AMBIENTAL CONSERVADORA

O discurso conservador é aquele que não remete ao que é da estrutura


da sociedade, ou seja, não questiona a origem dos problemas e não pretende
transformar a realidade. A Educação Ambiental conservadora possui algumas
características marcantes, como:

38
Conservacionismo: traz a ideia de natureza intocada e intocável,
buscando a preservação de áreas naturais total ou parcialmente restritas à
presença humana, sem questionar o modelo de ocupação urbana e as
desigualdades de acesso e uso dos recursos naturais. Tem foco em informações
sobre a dinâmica dos ecossistemas, incluindo fauna e flora, e raramente
promove reflexões sobre os conflitos socioambientais que motivaram a criação
de áreas protegidas ou sobre possíveis soluções para conflitos originados pela
criação dessas áreas.

Comportamentalismo: foca no indivíduo e nas possíveis mudanças de


atitude deste, sem questionar as características políticas, socioeconômicas e
simbólicas que geram e estimulam determinados comportamentos. Ações
marcadas por imperativos como “Apague a luz”, “Feche a torneira”, “Lave a
calçada com balde” etc. são exemplos da Educação Ambiental conservadora, já
que, embora sejam importantes em pequena escala, as atitudes por elas
apregoadas são pouco significativas para o restabelecimento de boas condições
ambientais.

Ecoeficiência: caracteriza-se pela proposição de soluções tecnológicas


para os problemas ambientais. Essas soluções, no entanto, são meramente
paliativas e não alteram a lógica insustentável de produção e consumo. Como
exemplos, é possível citar estratégias de consumo consciente, como o incentivo
ao consumo de produtos reciclados ou acondicionados em embalagens
recicláveis, e o combate ao desperdício a partir do uso de aeradores e
temporizadores de torneiras.

Vale ressaltar que o conservacionismo, o comportamentalismo e a


ecoeficiência são características que, por si só, não tornam a prática educativa
conservadora. Contudo, priorizar esses aspectos em vez de problematizar
questões estruturais do sistema político-econômico vigente auxilia apenas na
mitigação dos problemas ambientais, agindo em suas consequências e não em
suas causas.

Mais adiante, serão apresentados alguns elementos que facilitarão a


identificação de projetos educativos de cunho crítico que, em alguma instância,
se pretendem transformadores.

39
16.2- EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA

A Educação Ambiental crítica visa transformar a sociedade em um


ambiente de democracia plena, base das suas ideias e práticas. Assim, trabalha
em zonas de conflito socioambiental, buscando a formação crítica dos agentes
sociais e a construção de consensos, isto é, acordos negociados que satisfaçam
aos interesses das partes envolvidas. Também chamada de transformadora ou
emancipatória, a Educação Ambiental crítica parte da premissa de que a
consciência individual acerca das questões socioambientais começa a ser
construída quando o sujeito passa a se entender como parte de um todo, ou seja,
como sujeito social. Por isso, as ações educativas de caráter crítico, em vez de
priorizarem as atitudes do indivíduo, focam grupos como associações de
moradores, colônias de pescadores, comitês de bacias hidrográficas, conselhos
gestores de unidades de conservação, conselhos municipais de meio ambiente
etc.

Portanto, essas práticas estimulam a participação social dos sujeitos para


que os mesmos construam coletivamente soluções para os problemas
enfrentados, refletindo e compreendendo a origem dos problemas e suas
consequências e, finalmente, propondo formas de intervenção nessa realidade.

Listamos abaixo alguns dos princípios da Educação Ambiental crítica. É


importante ressaltar, contudo, que esses conceitos são complexos e, por isso,
devem ser estudados com maior profundidade:

Ambiente como bem comum: entende o ambiente não apenas como a


natureza externa, da qual o homem supostamente não faz parte, mas sim como
o local em que vivemos, sobre o qual temos responsabilidades e com o qual
mantemos uma relação de interdependência, tanto pelo que é produzido e
consumido (água, alimentos e outros recursos para produção de objetos e
equipamentos diversos) quanto pelos resíduos que são descartados. Conforme
o artigo 225 da Constituição Federal, “todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia

40
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

Historicidade: busca compreender o contexto histórico em que está


inserido o problema ambiental em questão. Na prática, envolve um estudo
prévio, em escala local e global, dos conflitos e dos atores neles envolvidos,
incluindo aspectos sociais, culturais, políticos, econômicos etc.

Práxis: mais que um método, a práxis é um princípio educativo em que a


reflexão e o estudo são fundamentais para que uma boa prática possa se
concretizar e, ao mesmo tempo, gerar novas reflexões e transformar o sentido
daquilo que está sendo praticado, permitindo sua evolução.

Totalidade: defende a compreensão sistêmica dos problemas. Ou seja,


parte do princípio de que na busca por soluções reais para os problemas
socioambientais não é possível olhar uma parte da questão sem que antes se
tente compreender suas origens e demais consequências. Para ampliar o
potencial transformador de uma ação educativa, é preciso considerar a
complexidade do contexto socioambiental.

Emancipação: vai além da ideia de liberdade como algo que se opõe ao


aprisionamento físico, já que só se consuma quando as necessidades básicas
(moradia, alimento, saúde) estão supridas, criando a possibilidade de livre
pensamento. Um sujeito é considerado emancipado quando se sente capaz de
pensar por conta própria e, com autonomia, sem depender de agentes externos,
constrói as soluções para os problemas encontrados. A emancipação não é uma
conquista fácil, uma vez que demanda informação, formação e desenvolvimento
da autoestima do sujeito diante de condições históricas de opressão.

A tabela a seguir sintetiza as diferenças teóricas e metodológicas


existentes entre as modalidades conservadora e crítica da Educação Ambiental:

41
17. PRÁTICAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
17.1- EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA
A escola exerce importante papel na nossa sociedade. Nela, os indivíduos
entram em contato com o conhecimento acumulado pelas inúmeras ciências,
desenvolvem capacidades linguísticas e apreendem importantes questões
relacionadas à organização das sociedades. O ambiente escolar, por sua
pluralidade, possibilita que alunos, pais, professores e demais funcionários
entrem em contato com diferentes pontos de vista e aprendam a conviver com
as diferenças.

Além disso, não podemos deixar de considerar que, sendo um espaço de


relações sociais humanas, a escola também se faz um campo propício para a
discussão política, pois ser político nesse âmbito é compreender como as

42
relações de poder são estabelecidas dentro dela e saber avaliar como isso
repercute nos serviços que a unidade escolar oferece à comunidade (Padilha,
2001).

O principal documento produzido com as escolas é o Plano Político


Pedagógico (PPP), que tem como finalidade nortear as ações nos centros de
ensino. Elaborado coletivamente pela comunidade escolar (constituída por
professores, diretores, demais funcionários da escola, alunos, pais e a
população do entorno), esse documento reúne as principais ideias, fundamentos
e orientações curriculares e organizacionais que a instituição de ensino seguirá.

Em resumo, ele é a identidade da escola, pois é formulado para atender


as necessidades do seu público. Sua formulação e construção seguem as
orientações contidas nos artigos 12, 13 e 14 da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB, ou Lei Federal nº 9.394), de 20 de dezembro de 1996.
Ainda que seja um documento político muito importante para as escolas, nem
sempre ele é redigido de maneira participativa, o que impede que a comunidade
escolar o considere representativo dos seus interesses.

A Política Nacional de Educação Ambiental (Pnea) faz referência à forma


como a Educação Ambiental deve se inserir nas escolas. Em seu artigo 10,
afirma que “a educação ambiental será desenvolvida como uma prática
educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades
do ensino formal”. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e as
resoluções do Conselho Nacional de Educação (CNE) reconhecem a Educação
Ambiental como uma temática a ser inserida no currículo escolar de modo
diferenciado, não se configurando como uma nova disciplina, mas sim como um
tema transversal.

O Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) também traz


entre suas diretrizes a transversalidade2 e a interdisciplinaridade, modos de
trabalhar o conhecimento que buscam uma reintegração de aspectos que
ficaram isolados uns dos outros pelo tratamento disciplinar. Com isso, busca-se
conseguir uma visão mais ampla e adequada da realidade.

Porém, por que é tão difícil colocar em prática a transversalidade da


Educação Ambiental nas escolas? Há pelo menos quatro motivos principais: 1.

43
o modelo disciplinar escolar; 2. a dificuldade de planejamento conjunto; 3. a falta
de incentivo à participação dos professores em projetos ambientais; e 4. a
formação insuficiente dos professores em temas socioambientais.

Em relação a este último ponto, é válido ressaltar que o artigo 11 da Pnea


afirma que “a dimensão ambiental deve constar dos currículos de formação de
professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas”, e que “os professores
em atividade devem receber formação complementar em suas áreas de atuação,
com o propósito de atender adequadamente ao cumprimento dos princípios e
objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental” (Lei Federal nº 9.795/99).
A inserção da Educação Ambiental crítica nas escolas deve ser precedida pela
sua incorporação na visão política e, consequentemente, no fazer pedagógico.
Um primeiro passo seria a incorporação dos seus princípios nos Planos Políticos
Pedagógicos (PPPs), o que, de início, garantiria que as práticas de docentes,
diretores e demais funcionários sejam orientadas neste sentido.

O estímulo a projetos em turnos alternados ou nas disciplinas formais são


caminhos possíveis para trabalhar a Educação Ambiental na escola. Dessa
maneira, as possibilidades de incorporação de temáticas de Educação Ambiental
poderão ser assimiladas e debatidas em diferentes contextos e de maneira
interdisciplinar, permitindo que os alunos percebam a importância da sua
participação nos fóruns públicos, assim como suas responsabilidades individuais
e as relações que estabelecem com o ambiente.

Deve-se, por fim, dar especial atenção à participação dos professores –


que deve ser incentivada inclusive por meio de bolsa- -auxílio no caso de projetos
realizados fora de seus horários de trabalho na escola –, bem como à sua
capacitação permanente em temas socioambientais adequados à realidade
local. É importante lembrar: projetos têm início, meio e fim, por isso a
continuidade das ações nas escolas depende de sua incorporação no PPP e da
formação de agentes multiplicadores dentro do corpo de funcionários da
instituição.

44
17.2- EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA GESTÃO PÚBLICA

A gestão ambiental pública, por lidar com questões relacionadas ao


acesso e uso dos recursos naturais, frequentemente se torna palco de conflitos
socioambientais – explícitos ou implícitos – de diferentes origens. Trabalhando
com diversos interesses e visões de mundo, os órgãos ambientais têm sua
atuação permeada por processos de disputa entre diferentes atores que, às
vezes, podem desembocar em conflitos explicitados. O licenciamento ambiental,
por exemplo, enfrenta situações de contraposição de interesses que alcançam
dimensões econômicas, políticas, sociais e espaciais, além das ambientais. Por
isso, o gestor público deve estar preparado para, eventualmente, lidar com esses
conflitos como um mediador com foco na construção de consensos.

Para lidar com essas disputas, é importante que o agente público saiba
que as relações de força existentes na sociedade são profundamente desiguais.
O mediador também deve considerar que, na construção de possíveis
consensos, alguns lados devem ser empoderados para que o enfrentamento
ganhe um caráter mais igualitário. A construção de ambientes mais justos e
democráticos, portanto, passa pela participação e fortalecimento dos setores
desprivilegiados na gestão pública, o que, fundamentalmente, depende do
acesso à informação.

A Educação Ambiental tem entre suas principais funções disseminar


informações a diferentes públicos. Um deles é formado por agentes públicos que
atuam na área ambiental como técnicos, gestores e conselheiros de meio
ambiente nas esferas municipal, estadual e federal. Além de fornecer
ferramentas que possibilitem a esses agentes gerir melhor os recursos
ambientais de seus territórios, a Educação Ambiental tem, ainda, o papel de
fortalecer uma cultura de maior participação social na gestão pública.

No caso dos gestores municipais, a demanda por capacitações foi


fortemente ampliada após a assinatura da Lei Complementar nº 140/2011, que
regulamenta o artigo 23 da Constituição Federal3 e, ao estabelecer normas para
a cooperação entre União, estados e municípios na proteção do meio ambiente,
abriu espaço para a transferência de competências entre essas esferas. Dessa

45
maneira, os municípios ganharam poderes também para licenciar e fiscalizar
atividades de baixo e médio impacto poluidor, o que aumentou a importância das
capacitações direcionadas a gestores e técnicos municipais.

Nos conselhos municipais de meio ambiente, a importância das


capacitações é ainda maior, pois a composição heterogênea desses fóruns,
integrados por representantes do poder público, de empresas e da sociedade
civil, provoca disputas até em processos decisórios internos, como na criação de
regimentos. E quando temas técnicos são debatidos, a desigualdade entre os
atores no que diz respeito ao acesso à informação pode acabar beneficiando
setores em detrimento de outros, dificultando o alcance de decisões justas, tanto
do ponto de vista ambiental quanto do social. Por essa razão, divulgar a
existência dos conselhos e mobilizar a sociedade para participar deles é o
primeiro passo para que esses espaços se tornem representativos. Já a
capacitação dos seus membros em temas técnicos e socioambientais é de
extrema importância para que as decisões dos conselhos reflitam, de forma justa
e equilibrada, os anseios da população.

Na prática, as capacitações oferecidas a gestores e conselheiros são


baseadas em exigências contidas em leis, normas e procedimentos técnicos
fundamentais para a execução e fiscalização de atividades. Porém, cada vez fica
mais clara a importância de estimular o diálogo entre os agentes públicos e a
população, incentivando a participação desta. Informar, mobilizar e mediar
conflitos são os grandes desafios da Educação Ambiental na gestão ambiental
pública.

46
Essas são atribuições gerais, mas cada município pode estabelecer as
competências do seu Conselho de Meio Ambiente de acordo com a realidade
local.

17.3- EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS COMUNIDADES

As comunidades urbanas convivem cotidianamente com uma diversidade


de problemas ambientais, sejam de pequenas ou grandes proporções, como o
descarte e a coleta do lixo produzido em casa (especialmente em comunidades
de baixa renda) ou como exercer o controle social diante dos impactos de
grandes empreendimentos. Buscar a resolução dessas questões coletivamente
e de forma organizada, por meio de associações de moradores, organizações
não governamentais e agremiações culturais, entre outros agrupamentos, pode

47
ser uma boa alternativa. Esses grupos, no entanto, devem estar bem
instrumentalizados para enfrentar os problemas à sua volta. Nesse sentido, o
desenvolvimento de ações de Educação Ambiental que busquem a participação
das comunidades, garantindo a difusão de conhecimentos e o empoderamento
dos cidadãos, é o primeiro passo para o fortalecimento dos grupos em busca da
defesa da qualidade do ambiente em que vivemos.

Essas ações, porém, devem reconhecer a pluralidade dos sujeitos


envolvidos e estimular a participação intensa e coletiva, já que o debate contribui
para o surgimento de novas ideias e informações, dúvidas e incoerências que
levam à organização do pensamento, reafirmando ou modificando posições.

Outro aspecto importante nesse processo é conhecer as reais condições


do local onde se irá atuar. Esse trabalho deve incluir visitas e a aplicação de
questionários que possibilitem conhecer a realidade da comunidade e detectar
seus principais problemas.

A partir daí, já é possível fazer uma analise crítica e reflexiva sobre a


realidade de uma comunidade e pensar em soluções “sob medida” para os
problemas específicos.

Dessa forma, as ações educativas poderão ser desenvolvidas por meio


de oficinas, rodas de conversa, fóruns de debate, sessões de cinema
comunitárias e vários outros formatos de atividade que se adequem ao público
e à localidade em questão. São vários os temas que podem ser trabalhados
nessas iniciativas, como: higiene, meio ambiente, cidadania, sexualidade,
drogas, doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), políticas da mulher e
inclusão social. No entanto, num processo que busque uma Educação Ambiental
crítica, é importante que os temas sejam trabalhados de forma que propiciem o
fortalecimento do exercício da cidadania e estimulem a participação crítica,
propositiva e construtiva de novos caminhos, promovendo a transformação
humana a partir da compreensão das estruturas de poder desta sociedade e
estimulando a responsabilidade e o engajamento individual e coletivo nas
decisões sobre o lugar onde se vive. Entre as várias formas de organização que
encontramos nos núcleos urbanos, podemos destacar as ONGs, as instituições

48
religiosas, os grupos da terceira idade e de defesa das minorias, as associações
afroculturais, os grêmios estudantis etc.

Longe das grandes cidades, a identidade sociocultural das comunidades


se apoia no território. Tribos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, além de
campesinos e sem-terra constituem alguns exemplos de comunidades
tradicionais em que persiste um sentimento de pertencimento à terra. Tais
comunidades se enxergam como grupos com identidade própria e entendem que
esta identidade só pode existir em razão da relação que mantêm com o território
em que vivem. Por isso, a dependência e a familiaridade dessas comunidades
com os recursos naturais são maiores, assim como são mais rapidamente
sentidos os impactos derivados da degradação ambiental, seja em escala local
(o uso excessivo de agrotóxicos), regional (poluição, assoreamento ou desvio de
um rio) ou global (mudanças climáticas)

Assim, a Educação Ambiental crítica voltada para tais comunidades tem


como propósitos fundamentais:

1. Sistematizar os conhecimentos tradicionais a partir da


observação e do estudo da relação dessas comunidades com a
natureza, valorizando seus costumes e divulgando tais
conhecimentos como formas de relação mais sustentáveis com
o ambiente;
2. Veicular informações relevantes para a manutenção da saúde e
reprodução desses povos em sua relação com a terra, em
especial informações sobre a toxicidade de herbicidas e outros
agrotóxicos, legislação ambiental pertinente à sua localização
etc;
3. Formar sujeitos críticos e aptos a travar diálogos em diferentes
ambientes em luta pela defesa do seu território e identidade, os
quais são indissociáveis.

49
17.4- EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO

Unidades de conservação (UCs) são espaços territoriais com


características naturais relevantes nos quais o poder público opta por uma
gestão especial visando à conservação ambiental. As mais conhecidas são os
parques (nacionais, estaduais ou municipais) e as áreas de proteção ambiental
(APAs), embora existam 12 categorias de UCs, de acordo com a Lei Federal nº
9.985/2000, que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc).
Pela legislação, as UCs são caracterizadas em função do uso mais ou menos
restrito de seus recursos naturais. Assim, elas se enquadram em dois grandes
grupos: UCs de Proteção Integral ou UCs de Uso Sustentável. O Snuc prevê a
participação da população na gestão de áreas protegidas por meio de conselhos
gestores, presentes em quase todas as categorias de UCs e que têm, na maioria
das vezes, caráter consultivo.

A forma fragmentada e muitas vezes tendenciosa como a informação


circula em nossa sociedade contribui para que a criação das UCs gere conflitos
entre poder público e comunidades. Em geral, esses conflitos são pré-existentes
e se mantém ocultos até serem trazidos à tona pela desinformação associada
ao processo de mudança na gestão ambiental local. A Educação Ambiental nas
unidades de conservação tem o papel de cobrir lacunas de informação,
aproximando os principais atores sociais que lidam com a UC e buscando dar
aos gestores e servidores da unidade uma visão da complexidade social em que
a UC está inserida. Nesse sentido, a oferta de cursos de formação sobre os mais
variados temas é uma boa forma de preencher essas lacunas e aproximar a UC
dos atores sociais do entorno.

As práticas de Educação Ambiental nas unidades de conservação


buscam alimentar e explorar o potencial didático das UCs, seja disseminando
informações acerca da unidade, promovendo formalmente a capacitação dos
principais atores ou simplesmente enriquecendo a experiência da visitação. O
conselho gestor é sempre o público prioritário dos cursos de Educação Ambiental
promovidos na UC, uma vez que é o representante oficial das comunidades do

50
entorno e de outros atores relevantes na relação da UC, salvo se for identificado
outro público específico para determinados temas.

Considerando que a composição de membros da sociedade civil nos


conselhos, recorrentemente, não representa de fato todos os grupos sociais do
território da UC, torna-se muito importante realizar uma avaliação prévia da
representatividade do conselho a fim de definir como deve ser encaminhado o
trabalho educativo. Uma forma de fortalecer a comunidade para a gestão da UC
é identificar os grupos sociais organizados e fomentar seu empoderamento por
meio do incentivo à sua legalização, da promoção de cursos de elaboração de
projetos e de ferramentas para participação efetiva. O conselho também pode
criar mecanismos de acompanhamento do repasse das informações às bases
comunitárias via apresentação de listas de presença e/ou atas das reuniões que
tenham essa finalidade. Sempre que possível, a atualização da composição do
conselho deve ser promovida a partir desse critério.

São diversas as áreas nas quais os conselhos gestores e as comunidades


do entorno das UCs devem se aprofundar e aperfeiçoar. A formação técnica em
aspectos da interface homem- -ambiente e a capacitação em ofícios para
geração de renda são alguns exemplos. Porém, para cobrir o déficit de
informação da população, é importante que sejam realizados cursos específicos
com este fim. Por isso, esse público deve participar do planejamento das aulas,
identificando suas lacunas. É esperado que surjam temas relacionados à
legislação ambiental relativa às UCs e às principais atividades econômicas da
região, temas fundamentais para que esses atores possam ser parceiros da UC
e exerçam algum tipo de controle sobre sua gestão.

Como necessidade básica e primária, o grande público do entorno da


unidade deve saber da existência e das regras, limites e oportunidades geradas
pela UC e pelo ambiente por ela protegido. Esse tipo de conhecimento, porém,
não precisa ser veiculado apenas em cursos, pois algumas informações são
mais bem transmitidas por mídias simples, como placas e informativos, e quando
são reforçadas por uma agenda que atraia o grande público e fortaleça nele a
ideia de que a UC é um espaço acessível e importante para a população por ser
parte da cultura local.

51
A função educativa das UCs é mais bem desempenhada durante as
visitações. Nessas ocasiões, fauna, flora, paisagem, aspectos históricos,
geológicos, ecológicos e de gestão, entre vários outros, podem ser
descortinados ante o olhar do visitante. Para isso, é importante que haja um
esforço de interpretação ambiental, ou seja, que haja guias e/ou mídias
preparados para alertar o visitante daquilo que jaz oculto ante seus olhos, um
trabalho de ampliação da percepção que, em última análise, constitui em si um
aprendizado.

Todo visitante deve ter direito a uma visitação bem interpretada. Mas é
inegável o papel estratégico dela entre grupos escolares, tanto por trabalhar um
público em formação quanto por suprir a demanda, em geral não atendida, de
espaços didáticos além da sala de aula. Nesse sentido, podem ser preparados
materiais que chamem a atenção, em campo, para fenômenos da natureza
corriqueiramente ensinados nas escolas ou que podem causar grandes impactos
à sociedade, como as catástrofes ambientais. Informações históricas e sociais
sobre a região podem ser trabalhadas de forma crítica e dinâmica nesse
processo.

Exposições nos centros de visitação, placas em trilhas interpretativas,


vídeos e jogos são, em geral, as plataformas prioritárias para a veiculação de
informações nas UCs. Porém, um guia preparado e conhecedor da história e dos
fenômenos de fácil acesso na UC tem um papel de destaque. Naturalmente,
guias e mídias podem e devem trabalhar juntos para melhorar a experiência
educativa dos visitantes das unidades de conservação.

52
17.5- EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA GESTÃO DAS
ÁGUAS

A Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei Federal nº 3.239/99),


baseada nos princípios da descentralização e da participação, instituiu a bacia
hidrográfica como unidade de gestão. Para gerenciar o uso dos recursos
hídricos, foram criados os comitês de bacias hidrográficas (CBHs). Como
instância-base nessa nova forma de fazer política, os comitês descentralizam
várias decisões por bacia hidrográfica, contando com a participação dos poderes
públicos (União, estados e municípios, conforme a abrangência da bacia), dos
usuários das águas e das organizações da sociedade civil ligadas a recursos
hídricos. Na prática, o comitê define as regras seguidas com relação ao uso da
água, emite pareceres, estabelece resoluções e toma decisões. Chamado de
“parlamento das águas”, o Comitê de Bacia é uma ferramenta em prol da
democratização das relações políticas. Como tal, aumenta a legitimidade das
decisões tomadas e contribui para a maior eficácia das políticas públicas
implementadas.

Para que a gestão da água seja, de fato, democrática, são essenciais a


mobilização e a participação da população e de todos os envolvidos no processo
de decisão e de atuação sobre o território. Mas só isso não basta. É necessário
também que os cidadãos estejam fortalecidos e engajados no desempenho de
seus papéis. É nessa hora que a Educação Ambiental se revela fundamental,
pois desenvolve ações que preparam os diferentes atores para atuarem nos
processos decisórios, instrumentalizando-os para o efetivo controle público, com
base no empoderamento, na soberania popular, na construção coletiva e no
diálogo entre as várias partes envolvidas.

Toda a complexidade relacionada aos limites das bacias hidrográficas


permite que as ações educativas dialoguem com temas como pobreza, saúde,
ocupação do território, enchentes, poluição das águas e dos solos e a mudança
climática, entre outros. Num projeto que pretenda seguir a vertente da Educação
Ambiental crítica, tais temas devem ser trabalhados de maneira que

53
desencadeiem um processo de transformação da realidade, estimulando a
reflexão e a participação coletiva no enfrentamento e mitigação dos problemas.

Processos educativos voltados à gestão das águas podem ser


trabalhados também no ambiente escolar. Partindo do resgate sócio- -histórico
da ocupação da região onde a escola está inserida, o professor pode auxiliar os
alunos a reconhecer os corpos hídricos da região, levantando, por exemplo, as
origens de sua poluição e assoreamento. Eventualmente, corpos hídricos
canalizados, cobertos ou reconhecidos como valões ganham novos significados
a partirde pesquisas dinâmicas e saídas de campo. O monitoramento da
qualidade da água a partir de critérios de simples detecção (pelo aspecto visual
e odor) ou com auxílio de reagentes químicos (para identificação do pH e da
demanda bioquímica de oxigênio) guarda relação com diversas disciplinas
escolares, atuando como tema unificador. Questões socioambientais, como a
ocupação das margens de rios, devem ser trabalhadas sob um viés crítico,
problematizando os motivos pelos quais os problemas ambientais surgem e
buscando formas de solucioná-los.

Conhecer os limites de atuação da escola, das organizações civis e dos


órgãos públicos é fundamental para não frustar as expectativas dos envolvidos.
Por outro lado, a integração das unidades escolares com a comunidade local é
essencial para que as ideias possam ser colocadas em prática e alcancem
resultados efetivos. Direção e professores, atores de grande importância nesse
processo de mobilização e integração, devem receber especial atenção em
processos permanentes de formação, sempre que possível com incentivos para
sua participação. Buscar formas de geração de trabalho e renda para
comunidades em situação de vulnerabilidade socioambiental, seja a partir de
capacitações para produção de artesanato com materiais recicláveis, seja com
cursos de formação de agentes ambientais comunitários que esclareçam a
população e apoiem a fiscalização ambiental, é também um complemento de
grande relevância para o sucesso das ações voltadas à gestão das águas.

54
18. EDUCAÇÃO AMBIENTAL EMPRESARIAL COMO
FERRAMENTA NA GESTÃO AMBIENTAL

A Educação Ambiental (EA) consiste em um importante instrumento de


Gestão Ambiental no meio corporativo. O levantamento bibliográfico realizado
no presente estudo acerca de práticas voltadas para a EA apontou diversos
benefícios para as emppresas que as adotaram, entre eles, a difusão de
conhecimentos acerca da temática ambiental, economia em seus processos e
redução do desperdício, desse modo, oferecendo uma melhor qualidade
ambiental a seus funcionários e à comunidade em geral. Contudo, a aplicação
da EA torna-se um desafio diante à discrepância entre os resultados obtidos em
relação aos esperados, à incerteza da continuidade dos projetos e da
receptividade do público interno e externo. Dessa forma, a aplicação da EA deve
envolver esses dois públicos, além de uma equipe especializada para dar
suporte necessário às atividades e agir corretivamente em eventuais problemas.
O programa de EA deve ser algo permanente, deixando de ser caracterizado
como um evento esporádico dentro da organização, assim, o tão desejado
processo de conscientização pode ser despertado tanto no público interno como
no externo.

As empresas não têm contribuído publicamente para o desenvolvimento


da Educação Ambiental Empresarial Brasileira (EAEB) devido à resistência da
maioria delas em disponibilizar suas atividades. Além dessa barreira, a
promoção de um processo reflexivo acerca da EA no ambiente empresarial
esbarra na busca constante do lucro imediato; na abordagem limitada dos
programas de EA em forma de palestras tradicionais durante as semanas de
meio ambiente; em iniciativas desenvolvidas juntamente ao público externo,
como palestras em escolas, apoio à implementação de programas de coleta
seletiva e gincanas; e por último, na preparação da organização para o correto
cumprimento dos procedimentos presentes na Norma ISO 14001, através de um
“treinamento” dos funcionários para responder as perguntas propostas pelo
auditor. Essa postura não permite a mudança de comportamento, o
desenvolvimento de uma cultura de respeito pelo meio ambiente e a agregação
de novos valores aos indivíduos e à organização. Esse tipo de abordagem gera

55
um descrédito dos funcionários em relação à política ambiental da empresa e ao
Sistema de Gestão Ambiental (SGA), caracterizando uma “arrumação da casa”
às vésperas da auditoria e uma sensação de alívio e descaso após a finalização
do processo (SIMONS, 2006; VILELA JÚNIOR, 2003).

Ainda não existe uma pesquisa que demonstre uma EAEB adequada. No
contexto empresarial, o que pode ser identificado é o emprego de práticas
voltadas para a sensibilização, informação ou recreação ambiental, sejam elas
juntas ou individuais (PEDRINI, 2008). Assim, a realização deste estudo justifica-
se pela importância da divulgação das análises e práticas de EA aplicáveis às
empresas, de modo que estas sirvam de modelo (benchmarketing) para a
implementação da Gestão Ambiental.

18.1- REFORÇANDO A IDEIA DA EA E PRINCÍPIOS


Como visto, em 1999, o Brasil dá um importante em relação a educação
ambiental, a criação da Lei nº 9.795/99, a partir de desse momento passaria
dispor sobre a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras
providências.

De acordo com a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº


9.795/99), por Educação Ambiental entendem-se os processos por meio dos
quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e
sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).

A EA tem como princípios básicos (BRASIL, 1999):

I. O enfoque humanista, holístico, democrático e participativo;


II. A concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a
interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o
cultural, sob o enfoque da sustentabilidade;
III. O pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva
da inter, multi e transdisciplinaridade;

56
IV. A vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas
sociais;
V. A garantia de continuidade e permanência do processo educativo;
VI. A permanente avaliação crítica do processo educativo;
VII. A abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais,
nacionais e globais;
VIII. O reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade
individual e cultural.

A EA surgiu no Brasil no século XIX em artigos, revistas e movimentos de


caráter conservacionista, sendo a década de 70 marcada pelo ambientalismo
presente em lutas pela liberdade democrática de professores e estudantes em
algumas escolas, instituições civis e do estado (IBAMA, 2009).

Em 31 de agosto de 1981 é instituída a Lei 6.938, que dispõe sobre a


Política Nacional do Meio Ambiente, bem como a inclusão da EA em todos os
níveis de ensino e na comunidade; objetivando capacitá-la para participação
ativa na defesa do meio ambiente. Reforçando essa idéia, em 1988 foi instituído
no inciso VI do Art. 225 da Constituição Federal a necessidade de promover a
educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública
para a preservação do meio ambiente (BRASIL, 1981; MINISTÉRIO DO MEIO
AMBIENTE et al., 2005).

No ano de 1991, a Comissão Interministerial para a preparação da


Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-
92) considerou a EA como um dos instrumentos da política ambiental brasileira.
Durante a Rio-92 foi produzida a Carta Brasileira para Educação Ambiental que
reconhece ser a educação ambiental um dos instrumentos mais importantes
para viabilizar a sustentabilidade como estratégia de sobrevivência do planeta e,
consequentemente, de melhoria da qualidade de vida humana. (MINISTÉRIO
DO MEIO AMBIENTE et al., 2005).

A Agenda 21 Brasileira, iniciada em 1996, é um processo e instrumento


de planejamento participativo para o desenvolvimento sustentável e que tem
como eixo central a sustentabilidade, compatibilizando a conservação ambiental,
a justiça social e o crescimento econômico. Hoje, a Agenda 21 é considerada

57
um dos grandes instrumentos de formação de políticas públicas no Brasil
(MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2010).

18.2- GESTÃO AMBIENTAL

A Gestão Ambiental pode ser definida de várias maneiras, sob diferentes


aspectos. D’Avignon et al. (1994) citado por Malheiros (2002), em uma visão
voltada para o empreendorismo, conceitua a Gestão Ambiental como parte da
função gerencial global que trata, determina e implementa a política de meio
ambiente estabelecida para a empresa.

De acordo com Dias (2006), a Gestão Ambiental é definida como um


conjunto de medidas e procedimentos que permite identificar problemas
ambientais gerados pelas atividades da instituição, como a poluição e o
desperdício, e rever critérios de atuação (normas e diretrizes), incorporando
novas práticas capazes de reduzir ou eliminar danos ao meio ambiente (passivo
ambiental).

Segundo Maimon (1996), as empresas brasileiras, em sua maioria, não


tem uma consciência ambiental, podendo ser classificadas como empresas
reativas. Essas respeitam as normas devido à pressão fiscalizadora, no último
momento, sem antecipação. Porém, para aquelas que aplicam ações voltadas à
melhoria ambiental de seus processos, são conferidos benefícios como
podemos constatar na tabela a seguir.

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O estabelecimento de um processo de Gestão Ambiental e de uma política
ambiental bem definida pela empresa demonstra para o mercado sua
competência e sua sintonia com os desafios da sustentabilidade socioambiental,
bem como sua capacidade de auto-ajustamentos evolucionários (DIAS, 2006).

18.3- ALGUNS INSTRUMENTOS EMPREGADOS NA


GESTÃO AMBIENTAL
Segundo Corazza (2003), os instrumentos de Gestão Ambiental são
ferramentas “informacionais” que atuam auxiliando a operacionalização da
Gestão Ambiental em uma organização, integrando de forma matricial todas
suas atividades e rotinas. Além da aplicação de práticas de EA, as empresas
podem utilizar instrumentos como a auditoria ambiental, análise do ciclo de vida,
estudos de impactos ambientais, sistemas de Gestão Ambiental e relatórios
ambientais para alcançar seus objetivos (USSIER et al., 2005)

 Auditoria ambiental

Segundo Rovere et al. (2001) as categorias de auditoria ambiental mais


aplicadas são:

a. Auditoria de conformidade legal (compliance) – avalia a adequação da


unidade auditada com a legislação e os regulamentos aplicáveis;

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b. Auditoria de desempenho ambiental – avalia a conformidade da unidade
auditada com a legislação, os regulamentos aplicáveis e indicadores de
desempenho ambientais setoriais aplicáveis à unidade; c
c. Auditoria de Sistema de Gestão Ambiental – avalia o cumprimento dos
princípios estabelecidos no Sistema de Gestão Ambiental (SGA) da
empresa e sua adequação e eficácia;
d. Auditoria de certificação – avalia a conformidade da empresa com
princípios estabelecidos nas normas pela qual a empresa esteja desejando
se certificar. No caso da auditoria de certificação ambiental pela Série ISO
14000, a mesma deve ser conduzida por uma organização comercial e
contratualmente independente da empresa, de seus fornecedores e
clientes e credenciada por um organismo competente.

Algumas empresas além de cumprirem a auditoria de conformidade legal


(obrigatória), utilizam-se da auditoria de certificação da série ISO 14000, que se
refere à área ambiental. Com isso, é conferida uma maior abertura de mercado
e uma melhoria na imagem da empresa, devido à sua preocupação ambiental.

A norma ISO 14001 é constituída por requisitos que capacitam uma


organização a desenvolver e implementar políticas e objetivos, levando em
consideração requisitos legais e informações a respeito de aspectos ambientais
significativos através de um SGA. O sucesso do sistema está ligado ao
comprometimento de todos os níveis e funções, em especial da alta
administração (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004).

 Análise de Ciclo de Vida (ACV)

A ACV compatibiliza os impactos ambientais, oriundos das etapas de


fabricação de um determinado produto. Desde a concepção mercadológica,
planejamento, extração e uso de matérias-primas, gasto de energia,
transformação industrial, transporte, consumo até sua destinação final. Seu
propósito é estimular ações e o aperfeiçoamento no processo e no produto,
servindo de instrumento para resolver as complexas questões ambientais
presentes em cada produto e em cada fase da produção (CORTEZ, 2007). Na
figura abaixo podemos acompanhar as etapas da ACV, bem como as entradas
e as saídas do sistema.

60
De acordo com Barbieri & Cajazeira (2009), apesar dos avanços e
iniciativas, a gestão baseada no ciclo de vida e seus instrumentos, como a ACV,
é pouco utilizada, sendo empregada somente em grandes empresas. Isso ocorre
devido à complexidade dos instrumentos que contemplam todas as etapas do
ciclo de vida, à disponibilidade de pessoas com formação em estudos
específicos como a ACV e à adoção de modelos de gestão que apreciem os
6R’s.

 Estudo de Impactos Ambientais

A realização de estudos de impactos ambientais surgiu devido à


necessidade de avaliação de novos aspectos, além do tecnológico, no sistema
de aprovação de projetos. Com auxílio de diversos segmentos da sociedade civil
organizada, foi criada nos Estados Unidos uma legislação ambiental que resultou
na implantação do sistema de Estudo de Impacto Ambiental (EIA), começando
a vigorar em 1970 (GOULART & CALLISTO, 2003).

61
No Brasil, é incumbido ao Poder Público, segundo a Constituição Federal
de 1988 em seu art. 225, § 1º, IV, exigir, na forma da lei, para instalação de obra
ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade
(BRASIL, 1988).

A Lei nº 6.938/91, em seu art. 8º, II, esclarece que o CONAMA determina,
quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das
possíveis conseqüências ambientais de projetos públicos ou privados,
requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim a entidades
privadas, as informações indispensáveis para apreciação dos estudos de
impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de
significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas
patrimônio nacional. Ainda segundo essa Lei, a Avaliação de Impactos
Ambientais é considerada um instrumento da Política Nacional do Meio
Ambiente (BRASIL, 1991).

A Resolução CONAMA nº 001 de 1986, em seu art. 1º, define impacto


ambiental como qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e
biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia
resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam
(BRASIL, 1986):

I- A saúde, a segurança e o bem-estar da população;


II- As atividades sociais e econômicas;
III- A biota;
IV- As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V- A qualidade dos recursos ambientais.

De acordo com essa Resolução, o licenciamento de atividades


modificadoras do meio ambiente dependerá da elaboração do EIA e o Relatório
de Impacto Ambiental (RIMA), sendo de grande importância para a obtenção da
Licença Prévia (LP), uma das primeiras etapas do processo de licenciamento. O
EIA deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar habilitada, não
dependente direta ou indiretamente do proponente do projeto, sendo a mesma
responsável tecnicamente pelos resultados apresentados (BRASIL, 1986).

62
 Sistema de Gestão Ambiental (SGA)

De acordo com Barbieri (2007), o SGA é um conjunto de atividades


administrativas e operacionais inter-relacionadas para abordar os problemas
ambientais atuais ou para evitar seu surgimento. Esse Sistema requer a
formulação de diretrizes, definição de objetivos, coordenação de atividades,
avaliação de resultados e envolvimento de diferentes segmentos da empresa,
para avaliar as questões ambientais de forma integrada com as demais
atividades 9empresariais.

Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (2004), o SGA


pode ser definido como a parte de um sistema da gestão de uma organização
utilizada para desenvolver e implementar sua política ambiental e para gerenciar
seus aspectos ambientais. O modelo de SGA mais consagrado é definido pela
Norma ABNT NBR ISO 14001, aplicável a qualquer organização, independente
de porte ou país (EPELBAUM, 2006). A série ISO 14000 é aplicada
principalmente devido sua credibilidade, reconhecimento mundial e unificação
dos critérios de sistema de gestão (HARRINGTON & KNIGHT, 2001).

A última versão da ISO 14001 foi lançada no ano de 2004, sendo sua base
metodológica o ciclo Plan-Do-Check-Act (PDCA)/(Planejar-Executar-Verificar-
Agir) representado a seguir.

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A primeira etapa é Planejar, onde são estabelecidos os objetivos e
processos necessários para obter os resultados de acordo com a política
ambiental da organização; após isso vem Executar, momento onde ocorre a
implementação dos processos; a etapa seguinte é Verificar, na qual acontece o
monitoramento e medição dos processos em conformidade com a política
ambiental, objetivos, metas, requisitos legais e outros, além do relato dos
resultados; e por último Agir, para que o desempenho do SGA melhore
continuamente (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004).

Entre os benefícios conferidos às empresas que implementam um SGA


estão o acesso ao mercado; redução da responsabilidade e do risco; redução de
custos/aumento de receita; melhoria na eficiência do processo, no desempenho
ambiental, na gestão global, na imagem pública, na relação com os
fornecedores, funcionários e com outros detentores de interesses
(HARRINGTON & KNIGHT, 2001).

 Relatórios ambientais

Relatórios ambientais são comunicações difundidas em qualquer meio,


impresso ou eletrônico, para divulgar os aspectos ambientais da empresa, seus
impactos, suas ações atuais e futuras em relação a eles. Abaixo é exposto um
resumo das principais questões referentes aos relatórios ambientais (BARBIERI,
2007).

A primeira parte consiste na origem da demanda, ou seja, se os relatórios


decorrem de obrigações legais as quais as empresas são submetidas ou de atos
voluntários gerados por uma postura proativa da empresa em relação ao meio
ambiente. Quanto aos destinatários, eles podem ser de grupos de usuários

64
específicos, como acionistas ou proprietários e usuários indiferenciados, como o
público em geral. No que se refere ao conteúdo, no relatório pode constar a
política ambiental atual e futura, detalhes do SGA, educação e programas de
treinamento, avaliação de riscos, informações sobre o ciclo de vida dos produtos,
demonstração do cumprimento da legislação ambiental, custos relacionados às
atividades ambientais, passivos ambientais, contingências e litígios (AZZONE et
al., 1997 apud BARBIERI, 2007).

Em Relação ao modelo do relatório, as empresas podem adotar um


modelo próprio, adotar modelos ou diretrizes padronizadas ou combiná-las.
Alguns relatórios existentes como o balanço social do Ibase e o modelo do Global
Reporting Initiative (GRI) incluem questões ambientais sociais, econômicas e
outras relacionadas. O relatório ambiental se torna um elemento de
diferenciação importante para a própria empresa, para as partes interessadas e
para a sociedade que se preocupa com a temática ambiental (BARBIERI, 2007).

65
19. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O educador ambiental, o gestor, o professor, o agente comunitário e


qualquer outro sujeito que deseje trabalhar a Educação Ambiental a partir da
abordagem aqui apresentada – crítica, política e emancipatória – deve saber que
esta é, sim, uma tarefa difícil. O primeiro desafio é ampliar o seu olhar sobre o
mundo, buscando as conexões necessárias para entender a história das coisas.
Ambiente, sociedade, política, geografia e economia se fundem nesse contexto
socioambiental. Uma vez compreendida a origem do problema e os conflitos que
o envolvem, cada ação educativa é executada no sentido de disseminar este
entendimento, especialmente entre os atingidos, promovendo formas de
transformar a realidade. Não apenas através de ações individuais, mas
especialmente por meio de propostas que alcancem o coletivo e sejam indutoras
de uma política mais justa e igualitária.

Nesse sentido, o diagnóstico prévio do local e dos públicos envolvidos é


fundamental para que as ações sejam executadas com coerência e para que os
resultados obtidos sejam efetivos e duradouros. Esta publicação não pretende
esgotar o tema, mas sim fazer apontamentos para fortalecer ações já existentes
e até mesmo incentivar novos projetos socioambientais. Ressalta-se, ainda, a
importância do processo educativo em si. A construção de diálogos em que todos
os saberes possam se manifestar num processo mútuo de formação torna-se
essencial para a mudança do paradigma educador-educando.

O objetivo é ambicioso e, para muitos, utópico. Contudo, apesar de todas


as limitações, é melhor dar um passo na direção correta, ainda que se vá
demorar a chegar à meta final, do que andar em círculos e não alcançar lugar
algum.

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20. REFERÊNCIAS

BARBOSA; Geisy Leopoldo. Educação ambiental: Conceitos e práticas na


gestão ambiental pública. Rio de Janeiro – 2014. INEA.Instituto Estadual do
Ambiente. Acessado em: 10 de agosto de 2020. Disponível
em:<http://www.inea.rj.gov.br/cs/groups/public/documents/document/zwew/mdy
3/~edisp/inea0067334.pdf>.

OLIVEIRA; Carolina Jacques de. Educação ambiental: conceitos e


princípios. 1ª edição. Setembro 2002. Acessado em: 10 de agosto de 2020.
Disponível em:<http://www.feam.br/images/stories/arquivos/Educacao_Ambient
al_Conceitos_Principios.pdf>.

LIMA; Marta. Orientações Curriculares. Educação Ambiental. Secretária


Executiva de Desenvolvimento da Educação. Acessado em: 10 de agosto de
2020. Disponível em:<http://www.educacao.pe.gov.br/portal/upload/
galeria/750/caderno_educ_ambiental.pdf>.

PELICIONI; Maria Cecília Focesi. Educação ambiental, qualidade de vida


e sustentabilidade. Acessado em: 10 de agosto de 2020. Disponível
em:<https://www.scielo.br/pdf/sausoc/v7n2/03.pdf>.

SALES; Tarsila Barreto. Educação ambiental empresarial como


ferramenta na gestão ambiental. VII CONGRESSO NACIONAL DE
EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011. Acessado em: 10 de
agosto de 2020. Disponível em:<https://www.inovarse.org/sites/default/files/
T11_0352_2183.pdf>.

SOARES; Soraia. Educação ambiental, Notas de estudo de Engenharia


Ambiental. 15 de Agosto de 2010. Centro Universitário de Caratinga (UNEC).
Acessado em: 10 de agosto de 2020. Disponível
em:<https://www.docsity.com/pt/educacao-ambiental-17/4736329/>.

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