Você está na página 1de 4

COLÉGIO PEDRO AMAZONAS PEDROSO SÉRIE: 3ª TURMA:

DATA: /05/ 2022 PROFESSOR(A): JOAO DE BARROS

KARL MARX(1818-1888) Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
H22 – Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se
Deus lhe pague
refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
Construção (1971) E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
“Amou daquela vez como se fosse a última Deus lhe pague”
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e
lágrima
Sentou para descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego.
O que é a
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
sociedade para
E cada filho seu como se fosse o pródigo Marx
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Pensar a sociedade humana
Subiu a construção como se fosse sólido
como fruto da cooperação e do
Ergueu no patamar quando paredes mágicas
enfrentamento, da solidariedade
Tijolo como tijolo num desenho lógico e do conflito, significa dizer que
Seus olhos embotados de cimento e tráfego nada é estático, nada é para
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe sempre. Os seres humanos,
talvez parafraseando Goethe, que
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo citou “Tudo que um dia existiu,
Bebeu e soluçou como se fosse máquina um dia merece acabar”. Os seres humanos, como Marx os
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo concebe, são animais sociais porque sempre dependem da
E tropeçou no céu como se ouvisse música cooperação uns dos outros. Mas são também animais
E flutuou no ar como se fosse sábado eternamente insatisfeitos. É na busca da satisfação de
E se acabou no chão feito um pacote tímido suas necessidades e desejos que eles transformam suas
vidas e a natureza a seu redor. Transformam a si e ao
Agonizou no meio do passeio náufrago mundo porque são os únicos animais sobre a Terra que
Morreu na contramão atrapalhando o público. trabalham – ou seja, que intervêm no mundo de forma
Amou daquela vez como se fosse máquina criativa.
Beijou sua mulher como se fosse lógico Para aprofundar essa análise, Marx parte da
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas produção material da existência humana, recorre ao
exemplo das “sociedades primitivas” para contar a história
dessas transformações, que, na sua concepção, marcariam
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
a evolução da humanidade. Os homens e mulheres dessas
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
sociedades, para satisfazer suas necessidades primárias –
E se acabou no chão feito um pacote bêbado alimentação, abrigo, reprodução -, engajavam-se um
Morreu na contramão atrapalhando o sábado.” sistema de cooperação harmônico. Não se produzia mais
“Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir. do que se era capaz de consumir diariamente. Não havia
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir nada que excedesse, ou seja, que ficasse acumulado. E,
Por me deixar respirar, por me deixar existir, porque não se produzia um excedente que pudesse ser
Deus lhe pague apropriado por uns e não por outros, não havia superiores
e inferiores, não havia antagonismo e conflitos de
interesses.

01
No processo de transformação criativa da natureza, objetivo de explicar o fundamento do Estado e da
os seres humanos foram sofisticando suas ferramentas e sociedade política. Para o pensador francês, a alienação é
sua maneira de trabalhar, e com isso foram se tornando o fenômeno pelo qual indivíduos deixam-se influenciar,
capazes de produzir mais. Produzindo mais, foram perdendo sua consciência e transferindo seu direito para
acumulando. As necessidades primárias foram atendidas, terceiros.
e aí vieram outras necessidades – uma alimentação mais Mas é a partir da análise de Karl Marx em seus
requintada, uma casa maior, um parceiro mais Manuscritos Econômicos e Filosóficos de 1844, que o
interessante. Os excedentes, porém, não eram suficientes conceito sociológico de alienação tal qual conhecemos,
para serem divididos igualmente entre todos. O que fazer? hoje, vai tomar forma. Visto sob esta ótica, portanto, os
Em algum momento da história humana, alguns decidiram mecanismos de manipulação até então existentes sequer
se apropriar desses excedentes em detrimento dos poderiam ser considerados alienantes. É o intelectual
demais. Esse seria o princípio da propriedade privada. alemão que vai aprofundar o conceito de alienação, a
Claro que Marx não tirou essa ideia do nada, ele já partir da investigação minuciosa de todos os aspectos
tinha conhecimento do filósofo francês Jean-Jacques históricos e sistemáticos - estruturais do termo. Para ele, a
Rousseau (1712-1778), para que a propriedade privada é alienação acontece quando os atos de uma pessoa são
sinônimo de todos os males de uma sociedade. governados por outras e se transformam em uma “força
estranha”, colocada em posição superior e contrária a
O nascimento da propriedade privada quem produziu.

O primeiro que, tanto cercado um terreno, atreveu-se a “O estranhamento


dizer: isto é meu, e encontrou pessoas bastante simples o surge quando o
suficiente para acreditar nele, foi o verdadeiro fundador da trabalhador perde a
sociedade civil... estareis perdidos se esquecerdes que os consciência do que faz
frutos são de todos, e que a terra não é de ninguém.” por causa da divisão do
J.J.Rousseau. Discurso sobre a origem e os fundamentos trabalho e do
da desigualdade entre os homens, 1754 fracionamento da
produção”.
Alienação

As opiniões sobre suas consequências se dividem Em outras palavras,


entre os especialistas: alguns defendem ser benéfica por quando o trabalho foi dividido,
promover o desenvolvimento humano, outros acreditam vários operários passaram a contribuir na obtenção do
ser nociva por utilizar sistemas de controle social para a produto, sem necessidade de utilizar a sua capacidade
manutenção do poder. Mecanismos de manipulação de criativa ou, ainda, dominar completamente o processo
grupos existem desde os primórdios da humanidade, produtivo. Neste método de robotização, o trabalhador
quando o homem passou a se organizar em pequenas perde a sua importância como ser humano, sendo
comunidades e a seguir um líder para garantir a despersonalizado, transformando-se em uma máquina
organização estrutural social. Entre as ferramentas sem espírito, uma coisa. O capitalismo, para Marx,
existentes para controlar e manter o poder vigente, a transformou a força do trabalho em mercadoria. As
utilização da censura e a criação de políticas como as de habilidades humanas passaram a ter valor salarial pela
“Pão e Circo” como formas de conter a revolta da categoria e não pela qualidade individual. A alienação,
população sobre questões políticas e assegurar o status portanto, está vinculada à manufatura, à exploração do
quo* são as mais antigas, datadas da época do Império trabalho e à produção da mais-valia.
Romano. Até hoje, esses mecanismos sofreram algumas
transformações: as punições públicas foram substituídas
* Status quo é uma expressão originada do latim que
por torturas psicológicas em escusas salas de presídios, e
designa o estado atual das coisas. Emprega-se,
as lutas de gladiadores deram espaço aos showmícios e
geralmente, para definir um mau estado de coisas, com o
campeonatos esportivos. Mas, independentemente de
qual se está descontente, mas que, por qualquer motivo,
como se apresentam ao público, continuam sendo
parece ser defendido por muita gente.
eficazes instrumentos de controle da sociedade ou,
segundo alguns estudiosos, de alienação social. No
entanto, há que se tomar cuidado ao considerar estes “É isso o que leva ao estranhamento: o homem
mecanismos como responsáveis pela alienação do povo. O constrói uma casa, produz um carro, mas não pode
uso corrente do termo “alienação” virou sinônimo da perda usufruir deles. Isso nada mais é que perder o
da identidade individual ou coletiva, relacionada à situação controle de sua própria vida”.
negativa de dependência ou falta de autonomia. Por conta
disso, o conceito, da forma como é utilizado atualmente, É o que Marx chama de Alienação Econômica, isto
parece ser uma característica exclusiva da população é, a industrialização, a propriedade privada e o trabalho
subalterna. Porém, a alienação atinge igualmente, e sem assalariado separavam o trabalhador dos meios de
preconceitos, dominantes e dominados. Além disso, muito produção, ferramentas, matéria-prima, terra e máquina –,
embora o termo tenha ganhado uma conotação negativa que se tornaram propriedade privada do capitalista.
ao longo dos tempos, há especialistas que a consideram Separa também, ou aliena o trabalhador do fruto do seu
essencial para o desenvolvimento. O termo surgiu no séc. trabalho, que também é apropriado pelo capitalista. Nessa
XVIII, quando Rousseau transferiu a ideia de alienação da abordagem podemos perceber no início do séc. XX, duas
doutrina jurídica para o âmbito filosófico-político com o teorias da administração para acirrar o processo de

02
alienação nas indústrias e fábricas: o taylorismo, de sendo para eles mais necessário que a defesa do salário.
Frederico Taylor, e o fordismo, como Henry Ford, nos (...) As condições econômicas transformam primeiro a
EUA. massa da população do país em trabalhadores. A
dominação do capital criou para esta massa uma situação
comum, interesses comuns. Assim, pois, esta massa já é
uma classe com respeito ao capital, mas ainda não é uma
classe para si. Na luta (...) esta massa se une, se constitui
como classe para si.”
Um exemplo histórico do papel revolucionário
exercido por uma classe social foi dado pela burguesia
durante as revoluções ocidentais no início da Idade
Moderna. Durante aquele processo, ela representava uma
CLASSES SOCIAIS nova força produtiva, dotada de possibilidades gigantescas
de transformação nas relações sociais.
O Manifesto comunista inicia-se com a afirmativa de
que as classes sociais sempre se enfrentaram e
Mais-valia
“mantiveram uma luta constante, velada umas
José Está sem mulher,
vezes e noutras franca e aberta; luta que terminou
Carlos Drummond está sem discurso,
sempre com a transformação revolucionária de
E agora, José? está sem carinho,
toda a sociedade ou pelo colapso das classes em
A festa acabou, já não pode beber,
luta”. Portanto, a história das sociedades cuja estrutura
a luz apagou, já não pode fumar,
produtiva baseia-se na apropriação privada dos meios de
o povo sumiu, cuspir já não pode,
produção pode ser descrita como a história das lutas de
a noite esfriou, a noite esfriou,
classes. Essa expressão, antes de significar uma situação
e agora, José? o dia não veio,
de confronto explícito – que de fato pode ocorrer em
e agora, você? o bonde não veio,
certas circunstâncias históricas – expressa a existência de
você que é sem nome, o riso não veio,
contradições numa estrutura classista, o antagonismo de
que zomba dos outros, não veio a utopia
interesses que caracteriza necessariamente uma relação
você que faz versos, e tudo acabou
entre classes, devido ao caráter dialético da realidade.
que ama, protesta? e tudo fugiu
Dado que as classes dominantes sustentam-se na
e agora, José? e tudo mofou,
exploração do trabalho daqueles que não são proprietários
e agora, José?
nem possuidores dos meios de produção – assim como em
[...]
diversas formas de opressão social, política, intelectual,
religiosa etc. – a relação entre elas não pode ser outra
É no momento em que o capitalista compra a
senão conflitiva, ainda que apenas potencialmente. Para o
materialismo histórico, a luta de classes relaciona-se força de trabalho que nasce o processo de exploração
diretamente à mudança social, à superação dialética das capitalista. Como? “O empregado, ao pagar os salários
contradições existentes. É por meio da luta de classes que dos trabalhadores, nunca paga a estes os que eles
as principais transformações estruturais são realmente produziram, isto é, o excedente de valor
impulsionadas, por isso ela é dita o “motor da história”. A produzido que não é devolvido ao trabalhador; sendo
classe explorada constitui-se assim no mais potente apropriado pelo capitalista”. Será essa mais-valia que
agente da mudança. Para fins analíticos, irá caracterizar o capital, pois parte dela é reempregada
no processo de acumulação capitalista.
Classe EM e PARA si
Marx distingue conceitualmente as CLASSES EM SI, Relativa e Absoluta
conjunto dos membros de uma sociedade que são Ao patrão o que interessa é o aumento constante
identificados por compartilhar determinadas condições da mais-valia porque assim seus lucros também
objetivas, ou a mesma situação no que se refere à aumentam. Para fazer isso, o capitalista usa algumas
propriedade dos meios de produção, das CLASSES PARA formas básicas: aumentando ao máximo a jornada de
SI, classes que se organizam politicamente para a defesa trabalho (“mais-valia absoluta”), de modo que depois
consciente de seus interesses, cuja identidade é do operário ter produzido o valor equivalente ao de sua
construída também do ponto de vista subjetivo. Essa força de trabalho, possa continuar trabalhando muito
distinção tornou-se clássica pela referência que Marx faz, tempo mais; esta forma de obter maior quantidade de
num texto muito conhecido, aos camponeses, pequenos
mais-valia é muito conveniente ao capitalista porque ele
proprietários da França. Estes são apresentados como
não aumenta seus gastos nem em máquinas nem em
uma massa de famílias pobres que, dado seu modo de
locais e consegue um rendimento muito maior da força
produzir, eram autossuficientes e viviam isolados.
Por isso é que “a coalizão persegue sempre uma de trabalho. Era o método mais utilizado no começo do
dupla finalidade: acabar com a concorrência entre os capitalismo. Mas não se pode prolongar
operários para poder fazer uma concorrência geral aos indefinidamente a jornada de trabalho. Existem limites
capitalistas. Se a primeira finalidade da resistência se para isso
reduzia à defesa do salário, depois, à medida que os
capitalistas se associam, movidos, por sua vez, pela ideia 1) Limites físicos: porque se o operário trabalha
de repressão, as coalizões, a princípio isoladas, formam durante muito tempo, não pode descansar o suficiente
grupos, e a defesa das associações por parte dos que dê para refazer sua força de trabalho na forma
trabalhadores frente ao capital, sempre unido, acaba devida irá produzindo um esgotamento intensivo, logo,

03
uma baixa no rendimento, o que não interessa ao manifestação das leis de oferta e procura. Essa
patrão. inversão de sentidos consiste basicamente em dar a
impressão de que as relações sociais de trabalho são
2) Limites históricos: porque à medida que o apenas relações sociais entre mercadorias. Enquanto os
capitalismo foi se desenvolvendo, a classe operária trabalhadores têm que atender às suas necessidades
também desenvolveu, se organizou e começou a lutar por meio de uma organização da produção que não
contra a exploração capitalista. Através de árduas lutas obedece ao controle coletivo, não participam de
a classe operária foi conseguindo reduzir a jornada de maneira consciente no processo produtivo. O poder
trabalho, obrigando o capitalista a buscar outras social é percebido como uma força alheia. A
medidas para aumentar a mais-valia. Então, para isso, quantificação dos produtos do trabalho humano
o patrão teve de lançar mão de outras formas para permite o cálculo de sua equivalência. Troca-se certa
fazer com que o operário produzisse mais, reduzindo o quantidade de moeda por um saco de cimento. Mas
tempo de trabalho necessário (“mais-valia relativa”), essa relação parece ocorrer entre coisas. Conquanto
sem reduzir a jornada de trabalho: introduzindo seja – “uma relação social determinada dos homens
máquinas mais modernas, incentivando a entre si (...) adquire para eles a forma fantástica de
produtividade, etc. O fim da exploração capitalista exige uma relação de coisas entre si”.
o fim da propriedade e do controle privado dos meios
de produção e a abolição do direito de herdá-los. Ao
eliminar a propriedade privada dos meios de produção,
eliminamos o antagonismo de classes e abrimos
caminho para o fim de toda exploração. Socializando
assim entre os que produzem as riquezas que são
produzidas.

Fetiche da mercadoria

ANOTAÇÕES

Para a escola marxista, o fetiche é um elemento


fundamental da manutenção do modo de
produção capitalista. Consiste numa ilusão que
naturaliza um ambiente social específico,
revelando sua aparência de igualdade e
ocultando sua essência de desigualdade.

No entanto, as coisas não aparecem assim tão


claras; na realidade, somos levados a pensar que as
mercadorias têm qualidades próprias, que o dinheiro
possui um poder de compra que é mágico. Isto se
deve ao fato de que, no processo de troca, as
mercadorias se equivalem fazendo que o valor não
apareça aos nossos olhos, dando a impressão de que o
valor de troca não seja manifestação do valor e sim a

04

Você também pode gostar