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Microeconomia

11. A Empresa em Ambiente Concorrencial


Hugo Castro Silva

1º ano — 4º trimestre — 2021/2022


Licenciatura em Engenharia e Gestão Industrial

Introdução

• Até agora, vimos como os consumidores decidem o que comprar,


quanto comprar, e quanto pagar.
– Depende das preferências e das restrições orçamentais.

– Determina a função da procura.

• Vimos também como as empresas decidem como produzir.


– Depende da produtividade e do custos dos factores produtivos.

• Vamos finalmente entender como as empresas decidem quanto


produzir, e que preço pedir.
– Depende da concorrência e dos custos de produção.

– Determina a função da oferta.

Estruturas de Mercado
(Formas de Concorrência)
• Mercado Perfeitamente Concorrencial (ou concorrência perfeita):
várias pequenas empresas sem poder de mercado, sem influência no
preço.

• Monopólio: uma só empresa, com todo o poder de mercado, que


determina o preço de venda.

• Oligopólio: poucas empresas, com algum poder de mercado para


determinar o preço, mas influenciadas pelas decisões dos
concorrentes.

• Concorrência Monopolista: várias pequenas empresas com algum


(pouco) poder de mercado, sujeitas às decisões dos concorrentes.

Estruturas de Mercado

nº de empresas?
muitas
empresas

tipo de produtos?

uma poucas produtos produtos


empresa empresas diferenciados idênticos

concorrência concorrência
monopólio oligopólio
monopolística perfeita

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Objectivo da Empresa (1)

• Qual é o objectivo de uma empresa?

• Maximizar o lucro! π(Q) = RT(Q) − CT(Q)


• Para determinar a quantidade que maximiza o lucro:

dπ(Q) d 2π(Q)
= 0, e < 0
dQ dQ 2

dπ(Q) dRT(Q) dCT(Q)


• ou seja, =0⇔ − =0⇔
dQ dQ dQ
RMg−CMg = 0 ⇔ RMg = CMg

Objectivo da Empresa (2)


max π, quando RMg = CMg
Q

• se RMg > CMg, a receita que retiro de produzir mais uma unidade é
superior ao custo de a produzir ("lucro unitário" positivo).
– Ou seja, devo produzir mais essa unidade, e voltar a verificar se RMg > CMg.

• Se RMg < CMg, custa mais produzir mais uma unidade do que a
receita ("lucro unitário" negativo).
– Devo produzir menos uma unidade, e voltar a verificar se RMg < CMg.

• Quando RMg = CMg, a última unidade traz receita suficiente para


cobrir o seu custo. A última unidade é a que traz "lucro" unitário nulo,
ou seja não aumenta nem reduz o lucro.
– Se produzisse mais, teria lucro menor. Se produzisse menos, teria lucro menor.

Maximização do Lucro

• RMg = CMg é a forma de maximizar o lucro em qualquer estrutura


de mercado.
– RT = P(Q) × Q
dP(Q)
– RMg = × Q + P(Q)
dQ

• A decisão da quantidade a produzir depende do contexto em que a


decisão é tomada.

• Para diferentes estruturas de mercado, diferentes decisões.


– Ainda que o processo seja sempre RMg = CMg.

Mercado Perfeitamente Concorrencial (1)

• Esta estrutura de mercado é um modelo que serve de benchmark de


eficiência.

• Muitos mercados são (quase) perfeitamente concorrenciais: produtos


agrícolas, commodities/matérias primas, bolsa de valores, ...

• Maximiza o bem-estar da sociedade.


– A menos que haja externalidades (veremos mais tarde).

Mercado Perfeitamente Concorrencial (2)

• Hipóteses do modelo:
– Muitas pequenas empresas.

– Produto homogéneo: aos olhos dos consumidores não há diferenciação.

– Todas as empresas com a mesma tecnologia de produção (custos iguais).

– Compradores e produtores têm informação completa sobre preços, qualidade,


tecnologia de produção, etc.

– Livre entrada e saída do mercado, sem barreiras.

• Essencialmente, na situação de concorrência perfeita, todas as


empresas são exactamente iguais em todos os aspectos.

Mercado Perfeitamente Concorrencial (3)

• Em conjunto, estas características implicam que, individualmente,


nenhuma destas empresas tem capacidade para influenciar o preço
ou as quantidades totais do mercado.
– Distinguir Q, quantidade total transaccionada no mercado, de qi, a quantidade


que a empresa i produz e vende. Q = qi.

• Dizemos que estas empresas são price-takers.


– Não são price-takers porque querem.

– São-no porque não têm alternativa. É uma consequência das hipóteses.

• Cada empresa enfrenta uma curva da procura que é horizontal.


– O preço é determinado pelo mercado e não pela empresa individual.

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Mercado Perfeitamente Concorrencial (4)

(a) Procura (e Oferta) de Mercado (b) Procura da Empresa


P P

PE PE Di

QE Q q iE qi

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Mercado Perfeitamente Concorrencial (5)

• Se a curva da procura da empresa é horizontal ao preço de mercado,


a empresa pode vender tanta quantidade quanto queira a esse preço.

• Não tem incentivos a baixar o preço porque é capaz de vender toda a


sua produção.

• Não tem incentivo a aumentar o preço, porque se aumentasse o preço


venderia zero unidades (procura com elasticidade-preço infinita).

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Maximização do Lucro
no Mercado Perfeitamente Concorrencial
• Lembrar que: RT(qi) = P(qi) × qi e CT(qi) = CFi + CV(qi).
dP(qi)
• RMg(qi) = × qi + P(qi).
dqi
• Em concorrência perfeita, as empresas são price-takers.

• Isto significa que o preço de mercado não é função da quantidade


individual de uma empresa.
dP(qi)
– ou seja, = 0, e P(qi) = P, em que P é o preço do mercado.
dqi

• Assim, num mercado perfeitamente concorrencial (e apenas aqui):


– RMg = P.

– Quantidade que max π : RMg(qi) = CMg(qi) ⇔ P = CMg(qi).


qi
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Oferta da Empresa (1)

• Quantidade que max π: P = CMg(qi) .


qi

• Dá-nos a curva da oferta da empresa i.


– A curva da oferta (inversa) da empresa é igual à sua curva de custos
marginais.

• A empresa observa o preço de mercado e, a esse preço, decide a


quantidade a produzir com base nos custos marginais.

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Oferta da Empresa (2)

CM g

P2

P1

q1 q2 qi
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Oferta do Mercado

• É a soma das curvas da oferta das N empresas presentes no


mercado.
N
• QT = ∑i=1 qi
(a) Oferta de uma empresa (b) Oferta do mercado (1.000 empresas)
P P

CM g S

e2, 00 e2, 00

e1, 00 e1, 00

100 200 qi 100.000 200.000 Q

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Equilíbrio de Curto Prazo

(a) Procura e Oferta de Mercado (b) Empresa


P P

S CM g

⇡>0
CM
PE PE

CMi

QE Q q iE qi

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Entrada no Mercado

Entradas no Mercado Empresa


P P

CM g

S1 S2
π>0
A a
P1 P1 CM

B
P2 P2 b
= min CM

Q1 Q2 Q qi

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Equilíbrio de Longo Prazo (1)

• Vai haver entrada de empresas enquanto houver lucro positivo no


mercado.
– Ou seja, enquanto P ≥ CM.

• À medida que entram mais empresas, o preço desce, a quantidade


que cada empresa produz diminui, e o lucro cai.

• Até que P = CM, onde o lucro (económico!) é nulo.

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Equilíbrio de Longo Prazo (2)

Mercado Empresa
P P

CM g

S2

CM

B
P2 P2
= min CM

Q2 Q q2 qi

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Saída do Mercado (1)

Empresa com Prejuı́zo

CM g

CM

CM (q ⇤ )

P
P = RM g
⇡<0

q⇤ qi
(q ⇤ é a q que minimiza prejuı́zo no curto prazo)
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Saída do Mercado (2)

• No longo prazo, se P < CM as empresas têm prejuízo e algumas saem


(oferta do mercado contrai-se), até que P = CM.

• No entanto, se existirem custos afundados (curto prazo) a empresa


n o sai do mercado logo que come a a ter preju zo.

• Quando os custos afundados correspondem aos custos fixos, o pre o


que leva à saída é P = min CVM.

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Saída do Mercado (3)
Curto Prazo

(a) Entrada ou Saı́da Sem Custos Afundados (b) Custos Fixos Afundados
P P

CM g CM g

Empresa entra se
P CM
CM CM
CV M
P⇤ PE

PS
Empresa fecha se
P < CV M

qi qi

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Eficiência

• Dizemos que o mercado concorrencial é eficiente na afecta o dos


recursos.
–P = CMg (o custo de produ o da ltima unidade igual valoriza o que o
consumidor faz dela).

– Todos os que estiverem dispostos a pagar pelo menos o custo de produção


vêem a sua procura satisfeita.

• Tem efici ncia t cnica.


– P = min CM.

– Produz-se ao custo mínimo e esse é o preço cobrado.

• E maximiza o bem-estar da sociedade.


– medido pelo excedente do consumidor + excedente do produtor.

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Desenvolvimento do Mercado
Expansão da Procura

Expansão da Procura Empresa no Curto Prazo


P P

CM g

S
⇡>0
B b
P2 P2 CM

A
P1 P1 a
= min CM

D2
D1

Q1 Q2 Q qi

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Desenvolvimento do Mercado
Inovação Tecnológica
P

CM g1 CM g2

CM1

A
Pi B CM2

q1 q2 qi

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Desvios da Concorrência Perfeita

• Se houver gestores que sejam melhores que outros (i.e., custos


menores, ou algum outro tipo de vantagem comparativa), as suas
empresas conseguirão produzir maiores quantidades e auferir um
lucro positivo, mesmo no longo prazo.
– É uma razão (entre muitas) para que, mesmo em mercados muito
concorrenciais, haja empresas maiores que outras.

• Outros gestores podem entrar no mercado com a expectativa de que


são eficientes (subestimam a função de custo), e acabarão por sair.

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Caso

Em 2009 foi passada uma lei que legalizou a venda e a produção, em


pequena escala, de canábis na Califórnia. Em 2010, foi aprovado um
regulamento que permitia a produção de canábis em escala industrial,
sem restrições de dimensão. Contudo, para ter uma grande operação
as empresas teriam que pagar $211.000 anualmente. Os pequenos
produtores criticaram a medida, argumentando que estas grandes
empresas os iam empurrar para fora do mercado devido às economias
de escala.

Explique este argumento. (adaptado de Perloff 2012)

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Caso

A indústria de transporte rodoviário de mercadorias nos EUA é


extremamente regulada. Para operar na indústria, as empresas
precisam de várias licenças, e os camionistas são obrigados a passar
uma série de auditorias de segurança. Para registar um camião grande,
uma empresa tem que pagar mais de $8.000, mas o valor destas
licenças de montante único (que não dependem do número de
quilómetros feitos) continua a subir.

Que efeito têm estes novos custos fixos no preço e quantidade do


mercado de transporte por camião? As empresas vão oferecer mais ou
menos quantidade de serviços de transporte? E o número de empresas
no mercado aumenta ou diminui? (adaptado de Perloff 2012)

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Caso

A introdução de câmaras de filmar baratas revolucionou o mercado da


pornografia.

Antes, a produção de um filme requeria equipamento caro e algum


conhecimento técnico. Hoje em dia, qualquer pessoa com umas
centenas de dólares e umas mãos mais ou menos estáveis pode
comprar uma câmara e fazer um filme. Consequentemente, várias
novas empresas entraram no mercado. Enquanto entre 1986 e 1991
apenas cerca de 2.000 filmes eram lançados anualmente nos EUA,
esse número cresceu para 13.588 em 2005.

Mostre como esta inovação tecnológica afectou a curva de oferta de


longo prazo, e o equilíbrio neste mercado. (adaptado de Perloff 2012)

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Bibliografia

• Mata: cp. 7

• Perloff, Jeffrey M. 2012. Microeconomics. Harlow, Essex: Pearson.

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