Você está na página 1de 6

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO (UFMA)


CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE (CCBS)
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA (DEF)
CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA - BACHARELADO COM ÊNFASE EM
EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
DISCIPLINA: FORMAÇÃO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL DE LAZER E
CULTURA (DEEF0223)
PROFESSOR: DR. SERGIO SOUZA
ALUNA: JOSINARIA DE JESUS MARQUES PEREIRA
DATA: 04/06/2022

FICHAMENTO TEXTUAL DO LIVRO: O QUE É LAZER


CAMARGO, Luiz Octávio de Lima - 1947, O que é lazer. São Paulo: Editora
Brasiliense, 2006.
“Seria uma ousadia afirmar que alguma ação humana é executada por livre
escolha do indivíduo. Os determinismos culturais, sociais, políticos e econômicos
pesam sobre todas as atividades do cotidiano, inclusive sobre o lazer.” (p.10) Nesse
trecho o autor aborda as diferentes formas de sermos ludibriados no momento de
nossas escolhas e isso inclui as nossas escolhas pelas atividades que propiciam o
lazer. Isso me leva a pensar se essa seria de fato uma escolha, já que, essa escolha
teria que ser inteiramente do indivíduo. Entretanto, vivemos em sociedade e a todo
tempo sofremos diferentes influências, logo seremos conduzidos a uma opção que
pode ou não ser a nossa escolha. "[...] Não se pode obrigar alguém a se divertir ou a
fazer alguma coisa desinteressadamente.” (p.75) O lazer busca pelo interesse
particular das pessoas, sem influência ou interferência de uma imposição sobre a
escolha.
“Diz-se que o lazer é gratuito, desinteressado. [...] Toda ação obedece a
algum interesse, claro ou disfarçado. [...] O lazer nunca é inteiramente gratuito."
(p.11) É irônico falar de lazer e associá-lo aos interesses políticos. É direito de todos
nós termos espaço para o lazer, está expresso na Constituição Federativa do Brasil
no artigo 6º. Pagamos nossos impostos, logo merecemos ter nossos direitos
reconhecidos. "Há efetivamente políticos que se promovem através do lazer." (p.74)
2

Os espaços que promovem lazer (parques, praças, estádios, etc) são oferecidos por
políticos como se fossem brinde ou um agrado para a população, essa é uma das
formas de garantir a continuidade do seu mandato. Isso me lembra a Grécia antiga e
a política do pão e circo, na qual criava aos cidadãos um sentimento de conformismo
e não de rebelassem contra o governo ali vigente.
“O lazer é sempre liberatório de obrigações: busca compensar ou substituir
algum esforço que a vida social impõe.” (p.12 - 14) O lazer é um refúgio para os dias
cansativos, das nossas rotinas que já estão chatas e sem vida. “O mais correto seria
dizer que, em toda escolha de lazer, existe o princípio da busca do prazer [...]” (p.12)
A busca por lazer tem como foco as atividades que sejam consideradas prazerosas
para os indivíduos que procuram sair dos hábitos de ir para escola, trabalho, etc.
Também foi abordado no livro a relação entre lazer e trabalho: “A conclusão
final é de que lazer e trabalho se confundem apenas para uma minoria que deve ser
seguramente inferior a um por cento da população economicamente ativa: artistas,
artesãos, cientistas e uma parte de empresários e executivos.” (p.15) percebe-se
que os trabalhos que propiciam distração são mais ligados ao lazer, pois são
atividades prazerosas. No entanto, poucas pessoas conseguem trabalhar e obter o
lazer ao mesmo tempo. Por exemplo, uma empregada doméstica ou um pedreiro
não tem (na maioria das vezes) tempo para o lazer no seu ambiente de trabalho e
isso o torna mais cansativo e desmotivador.
O livro também trouxe a reflexão do que seria “semilazer” e em que ambiente
é mais aparente. “[...] deve ser ressaltada a existência de uma espécie de semilazer
doméstico, presente na decoração e arrumação de casa, nos jogos com os filhos, e,
para um número crescente de homens (pois para as mulheres é quase sempre
obrigação e não lazer), na culinária.” (p.16) As mulheres têm de fato mais
obrigações dentro do lar e isso não é de hoje, pois ainda vivemos em uma
sociedade patriarcal cheia de preconceitos e tabus. O “semilazer” é visto como algo
que oferece prazer dentro de casa e com base nas obrigações diárias.
Houve uma parte do livro em que me perguntei se não fazer nada era uma
prática de lazer e me deparei com a seguinte colocação: “O lazer é sempre um
fazer-alguma-coisa. [...] não existe lazer passivo, como tanto se ouve." (p.18 - 19)
Talvez tenhamos essa impressão de que não fazer nada seria uma forma de “lazer
passivo”, porque todo dia é a mesma coisa e quando chega no final de semana já
3

estamos sem vontade de procurar algo novo. Esse “lazer passivo” de fato não
existe, uma vez que você precisa fazer alguma atividade para que seja lazer.
Há diferentes maneiras de buscar o lazer e o livro aborda algumas que são
bem interessantes. “Muitas pessoas preferem crescer no conhecimento através da
leitura elaborada e crítica de romances, contos, poesias e filmes. [...] O lazer é um
tempo precioso para o exercício do conhecimento e satisfação da curiosidade
intelectual [...]” (p.24 - 25) Esse tempo que separamos para nossos interesses
particulares também serve para cultivarmos mais conhecimentos não só em uma
leitura, mas em um bordado novo que exige concentração, ao aprender andar de
bicicleta que exige equilíbrio motor, dentre várias outras atividades que oferecem a
satisfação dessa curiosidade intelectual que mora dentro de cada um de nós
independente da idade ou sexo.
Um fator que interfere na busca pelo lazer nos dias atuais são os veículos de
comunicação que nos prendem em bolhas luminosas e o autor aborda da seguinte
forma esse assunto: “[...] é importante observar que tais meios de comunicação de
massa nada mais são do que a reprodução de conteúdos de outras práticas de
lazer. [...] Trata-se, evidentemente, de um consumo de lazer e não de prática ativa
de lazer [...] mas é falso dizer que este consumo substitui a prática [...]” (p.29 - 30) É
interessante percebermos como nós nos acomodamos ao longo dos anos com as
telas, apenas sentamos e assistimos aos jogos de futebol, basquete, competições
de natação, sobre viagens e os lugares turísticos e seria tão mais interessante
praticar algum esporte, viajar ou até mesmo passear na própria cidade. Estamos nos
tornando sedentários pelas vivências reais e o mundo está à nossa espera!
“A busca do melhor padrão de vida das cidades impunha um preço duro. O
trabalho industrial preservava uma única característica do trabalho rural anterior: a
longa jornada de trabalho dos picos de safra. Mas sem o contato com a natureza,
com os animais, com a família.” (p.35) Nessa busca insaciável para uma sociedade
mais industrializada que perdemos uma parte do ser humano, não somos de ferro e
mesmo assim até as máquinas quando muito cansadas acabam escangalhando. As
horas de trabalho no campo oferecem distrações por mais cansativos que sejam, já
nos trabalhos das grandes cidades como nas indústrias nem isso tem.
"O trabalho industrial não podia ser permeado pelo entretenimento, pelo
lúdico, como no campo, onde estas necessidades eram satisfeitas até mesmo no
ritmo do próprio trabalho. [...] Isto é impossível, na linha de montagem, onde a menor
4

distração de um elemento prejudica a produtividade dos demais." (P.36) O comum


entre o campo e a cidade são as horas longas e exaustivas de trabalho que as
pessoas enfrentam. Mas seria bem mais produtivo para as empresas se
oferecessem distrações para os funcionários, tendo como objetivo aumentar a
produtividade dos mesmo, além do mais quem não gosta de uma motivação a mais
no trabalho? Essa distração pode ser oferecida nos momentos de almoço,
descanso, essa é uma possibilidade a qual as empresas podem estudar e aplicar.
Imagine só colocar um karaokê no refeitório dos funcionários ou cantar uma moda
debaixo de uma árvore, creio que seria algo viável para deixar os dias mais leves e
prazerosos.
"O Primeiro Congresso Brasileiro, em 1892, fez constar em seu estatuto a luta
pela jornada de oito horas.” (p.41) A obra aborda os movimentos trabalhistas que
ocorreram de forma intensa em 1º de maio nas grandes cidades exigindo reformas
trabalhistas, pois os trabalhadores passavam de 12 a 16 horas trabalhando
diariamente. A jornada pela busca da redução das horas de trabalho enfrentaram
grandes desafios: "Ainda em 1917, é apresentado ao Congresso Nacional o primeiro
projeto de lei regulamentando a jornada diária de oito horas, que foi taxado de
"anárquico, subversivo e imoral"." (p.42) um pedido de redução de carga horária
pareceu um absurdo para os governantes que juravam defender os interesses do
povo, os tratavam como escravos e burros de carga. Creio que naquela época os
trabalhadores de fato não sabiam o que era ter um momento prazeroso.
"O mesmo relógio de trabalho iria determinar o início e o fim do tempo de
lazer. [...] O tempo de lazer não estava na lógica de racionalização do tempo
instituída pelo capitalismo industrial [...]” (p.38) Trabalhar e trabalhar era apenas isso
e nada mais. O capitalismo trouxe a industrialização que deixou a humanidade
encantada, mas tornou os trabalhadores como zumbis. Por mais dolorida que tenha
sido essa luta, houve grandes resultados e graças ao inconformismo de toda
sociedade brasileira que se juntou nessa luta por melhores condições de trabalho.
Essa redução ocorreu "Durante o governo Vargas [...] O conjunto destas e de outras
medidas compôs a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, ainda hoje em vigor,
com pequenas alterações." (p.42)
"Nenhuma empresa, média ou grande, deixa de fazer algum investimento no
lazer dos empregados. [...] As empresas procuram destinar espaços de produção
para a prática de lazer dos empregados, nos períodos livre de intervalo, início ou fim
5

do trabalho. [...] Pode ser, assim, que o lucro não aumente com esses investimentos
no lazer dos empregados, mas, certamente, assim agindo, as empresas estarão
evitando problemas de produção que podem vir a ser insolúveis." (p.64-65) Esse
trecho retoma ao que já foi dito, as empresas podem evitar prejuízos e até mesmo
aumentar a produção com os empregados mais dispostos a ir para o trabalho.
"[...] através das lutas dos trabalhadores pela redução da jornada de trabalho,
conquistou-se um tempo livre diário, semanal, anual (de férias) e existencial (da
aposentadoria). E que esse tempo livre, para a maior parte da população, vem
sendo utilizado com intensidade crescente para o exercício de atividades
voluntárias, desinteresadas, hedonísticas e liberatórias, chamadas de lazer." (p.50)
essa luta não foi em vão, pois trouxe dias mais divertidos para as pessoas. No
entanto, ainda há aquelas que usufruem desse tempo para resolver as coisas de
casa como fazer compras, cuidar dos filhos e etc. Porém o lazer é uma escolha e é
interessante que separemos algumas vezes para distração seja em família ou
individualmente.
“Com o passar do tempo, as mulheres perceberam que a reivindicação da
igualdade de direito ao trabalho, se isolada, era uma armadilha: na realidade, elas
estavam reivindicando o direito a uma dupla jornada de trabalho, a profissional, à
qual acediam,e a doméstica, que tradicionalmente lhes era legada. A corrente mais
progressista do movimento de mulheres, hoje, é aquela que prega igualdade em
relação ao homem, na gestação da totalidade dos seus tempos sociais." (p.55) A
desigualdade de sexo e gênero se estende por muitos anos e a escolha por uma
mão de obra mais barata menosprezava ainda mais as mulheres que com o passar
do tempo começaram a lutar por igualdade. As mulheres são criadas para cuidar da
casa, do marido e dos filhos, para que sejam verdadeiras dona de casa. Mas as
mulheres começaram a lutar por igualdade em relação ao homem. Nesse trecho é
importante ressaltar a prática do "semilazer", o qual é abordado pelo autor, as
mulheres também lutam por lazer, já que, nos tempos livres estão cuidando dos
filhos ou da casa. Os homens têm uma liberdade a mais quanto a isso, pois as
tarefas do lar ainda hoje são direcionadas somente para mulheres.
"[...] a falta de uma educação para o lazer, durante a vida profissional, acaba
por tornar dramática a vida de muitos aposentados. [...] grupos de terceira idade são
basicamente grupos de lazer, onde novas modalidades de atividades físicas,
manuais, artísticas e intelectuais são vividas." (p.59-60) Os idosos não são
6

orientados quanto ao lazer, por isso muitos acabam ficando doentes, depressivos e
são deixados em casas de apoio que nem sempre oferecem lazer para essa
população. Há poucos investimentos em espaços de recreação para os idosos, eles
são esquecidos assim como as mulheres e crianças.
“[...] Os jovens querem ter direito a uma idade plena de lazer, na exata
dimensão e proporção de sua constituição física acabada e de sua visão de mundo
a acabar e a moldar." (p.56-57) Falta planejamento de áreas de lazer para todas as
pessoas e até mesmo para os jovens que procuram saciar suas necessidades em
drogas, bebidas alcoólicas e outras coisas. "Na sociedade brasileira, a situação dos
adolescentes manifesta-se na forma aguda dos menores marginais [...]" (p.61) É por
esse e outros motivos que devem ser criados e ou reformados os espaços que
garantem o prazer e a distração de forma gratuita evitando mais violência na cidade
e propiciando mais tranquilidade para todos.
"[...] A sociabilidade no lazer suscita basicamente a divisão entre grupos de
uma ética de expressão mais conservadora ou mais renovada [...] A pedagogia da
animação procura minimizar as perdas de contato humano provocadas pela
xenofobia cultural [...] A educação para a tolerância é essencial [...] Os centros
culturais são, contudo, pertinazes na busca de uma aproximação maior entre
classes culturais diferentes, através de debates, cartazes, estimulando o encontro,
como desestimulando atitudes agressivas entre classes culturais [...]" (p.87-88) O
lazer também é a quebra de tabus e preconceitos inseridos na sociedade. Envolve
diferentes grupos sociais possibilitando a troca entre de experiências entre as
pessoas, seja ao fazer crochê, jogar bola, tabuleiro, amarelinha, futebol de salão e
até mesmo uma caminhada no parque. O lazer é a união de atividades prazerosas
que todos devem usufruir, é um direito do cidadão.

Você também pode gostar