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Há 2 horas
CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,
Pessoas se abraçam no local onde ocorreram assassinatos em Buffalo
O ataque racista que deixou 10 pessoas mortas em 14 de maio em um
supermercado em Buffalo, no Estado americano de Nova York, é apenas o
exemplo mais recente da violência impulsionada pelo extremismo online.
O ataque a tiros na cidade de Buffalo seguiu um roteiro muito parecido ao de
ataques semelhantes nos EUA e em outros países — em cidades como
Pittsburgh, Poway, El Paso, Christchurch (Nova Zelândia) e Halle (Alemanha)
—, em que homens brancos racistas atacaram deliberadamente membros de
uma comunidade específica, deixando vários rastros de suas visões
extremistas na internet.
'A minha vida depois de perder as pernas e um dos braços por causa de uma
pipa'
A trágica história dos alemães que tentaram derrubar Hitler e foram executados
dias antes do fim da 2ª Guerra
Redes sociais não fazem mal, desde que não substituam atividades mais
saudáveis, diz estudo
Fim do Matérias recomendadas
Notavelmente, todos eram antissemitas engajados e negavam o Holocausto,
citando uma ampla gama de teorias da conspiração.
Quase todos fazem referência às teoria das conspiração do "genocídio branco"
e da "substituição branca", assim como ao seu ressentimento contra imigrantes
e grupos minoritários, como a base de seu sistema de crenças e a principal
motivação para sua violência.
"A ideia de um 'genocídio branco' cria um senso de urgência e de necessidade
de ação imediata", explica Rajan Basra, pesquisador do Centro Internacional
para o Estudo da Radicalização (ICSR, na sigla em inglês) da universidade
King's College London, na Inglaterra.
"Para os nacionalistas brancos, isso pode ser um motivador poderoso, e em
vários momentos eles agiram violentamente a partir disso."
CRÉDITO,POOL IMAGE VIA FAIRFAX MEDIA
Legenda da foto,
Autor de ataques em Buffalo citou frequentemente Brenton Tarrant (na foto), que matou
dezenas de pessoas em Christchurch, como inspiração
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Fim do Podcast
O autor dos assassinatos em Buffalo também postou cerca de 700 páginas de
seu diário pessoal, relativas aos últimos sete meses, às quais a BBC teve
acesso por meio de cópias.
Os registros são uma janela para a mente de um jovem claramente perturbado
que falava regularmente sobre seu vício em jogos e sobre navegar em circuitos
extremistas online.
Ele fez uma extensa pesquisa e várias viagens de reconhecimento ao
supermercado em Buffalo para planejar cuidadosamente a forma e o momento
do ataque, além de realizar simulações.
Ele menciona brevemente ter tido problemas com as autoridades um ano
antes, depois de escrever algo que as alarmou. Em um trabalho de escola, ele
citou sua vontade de cometer assassinatos ou suicídio.
Há breves momentos de dúvida, como quando ele se pergunta se será capaz
de executar os disparos sem "bagunçar" as coisas. Há também detalhes sobre
um ato de crueldade animal e sobre pensamentos suicidas por não ter
realizado o ataque na data que havia planejado inicialmente.
Repleto de teorias da conspiração racistas e antissemitas, memes e piadas
internas, seu manifesto também é claramente influenciado pelo fórum de
mensagens 4chan, uma das maiores e mais controversas redes vinculadas a
subculturas da internet.
É o berço de muitos memes famosos, de campanhas de assédio e trollagem,
assim como de movimentos conspiratórios.
Gendron faz referência a um fórum do 4chan dedicado a armas e diz que foi
radicalizado pelo fórum do "politicamente incorreto". Ele menciona ainda outros
espaços online extremistas que visitou, incluindo o site neonazista The Daily
Stormer.
Ele transmitiu ao vivo seus assassinatos na plataforma de transmissão de
vídeos Twitch por meio de uma câmera acoplada em seu capacete. Assim
como Tarrant, ele escreveu slogans da supremacia branca e insultos raciais em
sua arma de fogo.
A transmissão foi assistida apenas por 22 pessoas, e o Twitch a derrubou em
poucos minutos. No entanto, em poucas horas, cópias do vídeo já estavam
sendo amplamente circuladas na internet, atraindo milhões de visualizações no
Facebook e em outras plataformas.
Impacto máximo
A combinação de um manifesto online e a transmissão ao vivo em vídeo é feita
para gerar o máximo impacto nas mídias e espalhar as opiniões do assassino o
mais longe possível.
Cópias do vídeo e do manifesto provavelmente serão compartilhadas online
nos próximos anos, para fins de propaganda e como ferramenta de
recrutamento. E embora as principais redes sociais removam as cópias, há
vários sites marginais em que o vídeo pode ser facilmente encontrado.
Eliminar conteúdo da internet é praticamente impossível. Por exemplo, após os
atos violentos na cidade americana de Charlottesville, em 2017, o site
neonazista Daily Stormer foi pressionado por empresas de hospedagem e
proteção da web.
Mas, com bastante esforço, esse site ainda pode ser encontrado online, e o
autor do ataque em Buffalo diz ter sido um frequentador assíduo.
E, como visto anteriormente em plataformas como o 8chan — na qual
manifestos de três assassinos apareceram um atrás do outro em 2019 —,
mesmo que o acesso a um site seja interrompido, novas plataformas vão surgir
rapidamente.
"Na internet, sempre haverá um lar, por mais obscuro ou de nicho que seja,
para o conteúdo extremista", diz Basra, do ISCR.
CRÉDITO,EPA
Legenda da foto,
Homenagens às vítimas do ataque em Buffalo
Textos desconexos como de Gendron visam inspirar o próximo atirador racista,
assim como ele próprio se inspirou em Brenton Tarrant — e Tarrant, por sua
vez, no assassino neonazista norueguês Anders Breivik.
"Pessoas que antes eram colocadas à margem podem formar comunidades
inteiras de culto [online] em todo o mundo", diz o autor e jornalista David
Neiwert, que escreve sobre o extremismo de extrema direita há décadas.
"Um dos resultados disso é que o terrorismo doméstico de extrema direita
assumiu um aspecto em cadeia ou em série: um ato de violência inspira o
próximo, que inspira o próximo."
Programas preventivos
Em resposta ao aumento dos ataques terroristas internos, alguns governos
tentaram elaborar planos preventivos.
O programa Prevent, do governo do Reino Unido, é um exemplo. Embora
criticado por não conseguir impedir algumas pessoas conhecidas das
autoridades, como o extremista islâmico Ali Harbi Ali, que em 2021 esfaqueou
até a morte o parlamentar David Amess, o governo afirma já ter detido
centenas de supostos terroristas.
Nenhum programa semelhante existe nos EUA mas, em junho de 2021, a Casa
Branca divulgou um plano nacional para combater o terrorismo doméstico. O
plano se concentra principalmente no trabalho das forças policiais locais, que
receberiam US$ 77 milhões (cerca de R$ 382 milhões) em subsídios.
Neiwert diz que, embora a polícia dos EUA tenha o poder de se envolver
quando atividades criminosas estão sendo discutidas online, há pouca coisa
que pode ser feita até que um suspeito efetivamente aja.
O assassino de Buffalo não ficou totalmente fora do radar. No ano passado,
seu contato com as autoridades — quando a polícia foi acionada pela escola
após ele escrever sobre seus planos ameaçadores — resultou em uma breve
hospitalização, na qual ele passou por uma avaliação de saúde mental.
O Estado de Nova York tem uma lei que permite que a polícia confisque as
armas de pessoas consideradas perigosas. A polícia local e o FBI (federal) vão
enfrentar agora questionamentos sobre se poderiam ter feito mais.
Mas o problema maior permanece: um movimento global e difuso de jovens
extremistas violentos, radicalizados na internet, alguns dos quais estão
preparados para atacar e matar pessoas inocentes.
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