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Ciências Forenses
Perícia Médico-Legal
Prova pericial: meio de prova (outros meios passam pela prova testemunho, prova
documental,….).
Tem lugar quando a percepção ou a apreciação de factos exigem especiais conhecimentos
técnicos, científicos ou artísticos. O exemplo de uma perícia não médico-legal é o pagamento
com notas falsas ou verificação da autenticidade de obras de arte, que requerem os
especialistas em questão para a validação da falsificação.
A função do perito, no fundo, é dar resposta ao objeto da perícia, isto é, traduzir conceitos
médicos complexos em termos compreensíveis a leigos (juristas).
Autópsia Médico-Legal
Acontecem em situações de morte violenta ou de causa desconhecida, sendo ordenadas pela
autoridade judicial, só após a constatação de sinais de incerteza de morte/óbito.
O principal objetivo é o esclarecimento da causa de morte e as circunstâncias em que a
mesma ocorreu.
As etapas da autópsia são as seguintes:
I. Exame do cadáver no local: como é que o cadáver se enquadra com o local onde foi
encontrado;
II. Análise de informação: informação relativa à identidade do cadáver, como faleceu,
possíveis testemunhas no local, entre outros…
III. Exame do hábito externo: analisar a superfície corporal do cadáver, antes de
qualquer intervenção
----------Necessita de ordem judicial sob risco de crime de profanação de cadáver----------
IV. Exame do hábito interno: observação do cadáver por dentro, assim como disseção de
órgãos;
V. Exames Complementares de Diagnóstico: recolha de partes cadavéricas para se
analisar por outras ciências forenses (sangue, tecidos,…);
VI. Relatório: elaborado com termos acessíveis a leigos com toda a informação a
esclarecer em circunstâncias em que a morte aconteceu.
Clínica Forense
Realização de perícias médico-legais em pessoas que:
• Descrição e avaliação de danos provocados na integridade físico-psíquica;
• Direito penal, civil e do trabalho.
Direito penal: crimes contra a integridade física, contra a liberdade sexual e
autodeterminação sexual.
Direito do Trabalho: consiste na análise de acidentes de trabalho.
Direito Civil: análise de acidentes de viação, assim como outros seguros e contratos.
Lesão: tecido anormal num organismo vivo, que pode ser causado por doença ou
traumatismo.
Lesão traumática: obrigatoriamente produzida por agente externo.
Agentes Externos
a) Mecânicos
Devemos registar a natureza da ação, que neste caso, significa que o tipo de lesão traumática é
determinado pela superfície de contato entre o instrumento e o corpo da vítima. Podendo ser:
• Contundente: superfície de contato plana ou romba;
• Cortante: superfície de contato linear (gume);
• Perfurante: superfície de contato perfurante;
• Mistos (mesmo instrumento dá origem a lesões com caraterísticas de diferente
natureza de ação):
o Corto-perfurantes: ação de uma ponta ou, pelo menos, um gume;
Lesão Modulada
Trata-se de uma lesão figurada, que apresenta a forma ou o contorno do instrumento que a
produziu.
Ferida Contusa
Consiste numa solução de continuidade atingindo todas as camadas da pele, com exposição de
tecido celular subcutâneo, bordos e fundo irregular, com pontes de tecido e que, apresenta
uma equimose ou escoriação circundante.
Escara
Resulta de ação de natureza contundente persistente, associada a indivíduos com mobilidade
reduzida.
b) Armas Brancas
De acordo com a lei nº5/2006, 2º artigo, alínea m), arma branca é todo o objeto ou
instrumento portátil dotado de uma lâmina ou outra superfície cortante, perfurante ou corto-
contundente, de comprimento mínimo de 10 cm e independente das suas dimensões, as facas
borboleta, facas de abertura automática ou de ponta e mola, as facas de arremesso, estiletes
com lâminas ou haste e todos os objetos destinados a lançar lâminas, flechas ou virotões.
A natureza da ação poderá ser:
• Cortante: ação do gume;
• Corto-perfurante: ação do gume e ponta;
• Corto-contundente: ação do gume com elevada energia cinética (instrumento pesado
ou animado de grande velocidade);
• Perfurante: ação da ponta.
Ferida Cortante/Incisa
Trata-se de uma ferida que causa separação de tecidos à passagem do gume paralelamente à
pele, sendo mais comprida que profunda, de forma linear ou fusiforme, com bordos fundos e
regulares. É uma ferida mais profunda no início, tornando-se mais superficial no fim,
apresentando uma escoriação terminal.
Ferida Corto-Contundente
Trata-se de uma ação do gume, com elevada energia cinética derivada de elevado peso do
instrumento ou elevada velocidade do mesmo.
Ferida Perfurante
Acontece através de uma superfície de contato punctiforme, mais profunda que comprida.
Originada ou por um movimento do instrumento perpendicular à pele, criando uma ferida
circular, ou por um movimento do instrumento oblíquo, criando uma ferida ovalada ou em
fenda.
Tipo de Lesões
Podem acontecer diversos tipos de lesões, nomeadamente:
• Lesão de defesa ativa: resulta da ação de agarrar ou afastar o instrumento, ocorrendo
normalmente presente na face palmar das mãos.
• Lesão de defesa passiva: resulta da ação de proteger o corpo com os membros,
estando mais presente no bordo cubital e face dorsal das mãos.
• Lesões de ensaio: acontece em locais acessíveis como punho, pescoço, entre outras…,
com lesões paralelas entre si, o que resulta da hesitação em causar a lesão traumática.
c) Eletricidade
Exposição a corrente elétrica
Os efeitos dependem de:
• Corrente (alternada vs contínua);
• Diferença de potencial (“Voltagem”);
• Intensidade (amperes);
• Resistência;
• Tempo de exposição;
• Percurso da corrente no corpo.
Queimadura Elétrica
Se há contato firme, surge área crateriforme moldada pelo objeto, semelhante a flictena, com
bordos elevados e rodeado por área pálida. Se exposição ocorrer por faísca, encontramos um
nódulo avermelhado ou múltiplos pequenos nódulos com área envolvente pálida. Muitas
vezes, as queimaduras elétricas são moldadas, com forma de material condutor/cabo elétrico.
Poderão existir figuras arborescentes, resultantes da exposição a corrente de alta intensidade
(ex: relâmpago), sendo que se traduz na tentativa da eletricidade em procurar o percurso de
menor resistência.
Efeito de Joule: passagem da corrente elétrica leva a produção de calor e ao surgimento de
queimadura térmica.
• Surdez;
• EAM;
• Hemorragia Cerebral; Tardio
• Cataratas;
• Morte
Radiação
Acontece por exposição a ondas eletromagnéticas que poderão ser de origem natural ou
artificial (ex: médicos). É causa de doenças profissionais como em médicos, enfermeiros,
técnicos e é regida pelo direito do trabalho. É causa de dano corporal em todos os anteriores,
doentes e público em geral, sendo regida pelo direito civil. A energia converte-se em calor e
vai originar queimaduras térmicas (ex: radionecrose). Os efeitos a longo prazo passam por:
• Neoplasias;
• Infertilidade;
• Malformações (grávida/feto).
Fases de Asfixia
1. Dispneia inicial: a diminuição de oxigénio conduz a perda de consciência em 15-20
segundos;
2. Convulsão: aumento de dióxido de carbono, que conduz a convulsões;
3. Dispneia terminal: ainda existem movimentos reflexos, com paragem cardíaca e
alterações irreversíveis.
Tipos de Asfixia
a) Asfixias Mecânicas/Anoxias Anóxicas
Sufocação: obstrução à passagem do oxigénio até aos alvéolos pulmonares.
Confinamento
Consiste numa asfixia por inalação de atmosfera inadequada, sendo que o diagnóstico
depende da informação circunstancial. Os principais mecanismos são:
• Quantidade de ar limitado por consumo de O2 e aumento da libertação de CO2;
• Deslocação de O2 por outros gases (ex: hélio).
c) Anoxias Circulatórias
Asfixias por constrição de pescoço, obstrução a nível cervical, de passagem de sangue
oxigenado para o cérebro (e do retorno de sangue venoso do cérebro). Pode ou não coexistir
sufocação porque pode, ou não, existir compressão da via aérea.
Enforcamento
Constrição do pescoço por meio de um laço, sendo a força aplicada pelo peso do corpo da
vítima. O mais comum é a etiologia médico-legal suicida, mas não é exclusiva. O principal
sinal geral de asfixia é a máscara equimótica. Pode existir um sulco, normalmente alto ou
situado na região submandibular ou em V invertido, com vértice no ponto de suspensão. A
suspensão incompleta ocorre deteta-se através de:
• Sulco que pode surgir em posição mais baixa;
• Mais horizontal;
• Pode simular estrangulamento;
• Diagnóstico mais difícil.
Estrangulamento
Constrição por meio de um laço, em que a força aplicada por outro meio que não o peso da
vítima. Aparece um sulco mais horizontal e num nível inferior. Surge em qualquer etiologia
médico-legal.
Esganadura (Estrangulamento Manual)
Constrição do pescoço por meio de mãos, não existindo nenhum sulco e estando muito
relacionada com a etiologia médico-legal homicida. Contudo, manifestam-se lesões
traumáticas produzidas pelas mãos:
• Mãos e dedos -> equimoses e escoriações;
• Unhas -> estigmas ungueais (escoriações modeladas).
Afogamento
Trata-se de uma asfixia por imersão em meio líquido que resulta da entrada de água nas vias
aéreas. Pode-se observar:
• Espuma de bolhas finas e aderentes à mucosa das vias aéreas, resultante da mistura de
água, muco e surfactante;
• Cogumelo de espuma: espuma de bolhas finas exteriorizadas pelos orifícios
respiratórios.
Vai apresentar diferentes propriedades consoante:
1. Água doce:
a. Hipotónica, ocorrendo hemodiluição e, consequente, hemólise;
b. Alteração equilíbrio Na+/K+;
c. Arritimia, nomeadamente fibrilação ventricular e, consequentemente,
morte;
2. Água salgada:
a. Hipertónica, com consequente hemoconcentração;
b. Pode causar edema pulmonar agudo e hipoxia;
c. Asfixia por obstrução dos alvéolos, que pode originar sufocação.
Definição
A toxicologia estuda:
• Propriedades físicas e químicas do agente tóxico;
• Efeito dos agentes tóxicos;
• Métodos de análise em amostras;
• Diagnóstico de intoxicações;
• Interpretação de resultados laboratoriais;
• Métodos de tratamento das intoxicações.
A toxicologia forense aplica-se a conhecimentos e técnicas de toxicologia na resolução de
problemas legais.
Toxicocinética
Absorção
Transferência de uma substância química, do seu local de exposição para a circulação
sistémica. As principais vias de absorção são:
• Digestiva;
• Parentérica;
• Respiratória;
• Cutânea.
Devem ser investigadas as circunstâncias em que ocorreu a administração do tóxico.
Tóxicos
Voláteis: etanol;
Substâncias medicamentosas: psicotrópicos (ansiolíticos, antipsicóticos, antidepressivos),
anestésicos, analgésicos, etc…
Drogas de abuso: opióides, canabinóides, cocaína, anfetaminas, alucinogénios, outros…
Pesticida: paratião, paraquato, dimetoato…
Metais pesados: arsénio, alumínio, mercúrio, etc…
Etanol
Consumo tem implicações legais, quer no código da estrada, quer no código penal. As
intoxicações agudas podem acontecer com as seguintes etiologias médico-legais:
1. Acidentais:
a. Acidentes de viação;
b. Acidentes de trabalho;
c. Outros acidentes;
d. Morte por intoxicação etílica aguda;
2. Homicida:
a. Concentração de etanol elevada em vítimas;
b. Morte por intoxicação etílica aguda é rara;
Medicamento
Trata-se de toda a substância/associação de substâncias apresentada como possuindo
propriedade curativas ou preventivas de doenças em seres humanos ou do seus sintomas ou
que possa ser usada/administrada no ser humano com vista a estabelecer um diagnóstico
médico ou exercer uma ação farmacológica, imunológica ou metabólica a restaurar, corrigir
ou modificar funções fisiológicas.
Drogas de Abuso
Consumo com fins não terapêuticos e que pode ter efeitos estimulantes, depressores ou
alucinogénicos, a nível do SNC. A dependência poderá ser:
• Metabólica com síndrome de privação e sinais e sintomas;
• Psíquica com alterações do comportamento;
• Efeitos adversos desaparecem com consumo.
Tolerância: necessidade de doses maiores para obter o mesmo efeito.
Efeitos
Poderão ser diretos:
• Euforia e hiperexcitabilidade;
• Delírios;
• Alucinações;
• Depressão/apatia.
Ou indiretos como:
• Angústia;
• Ansiedade;
• Insónia;
• Alterações cognitivas, de personalidade e de comportamento.
Pesticidas
Substâncias usadas para destruir fauna e flora prejudicial à agricultura, sendo
carateristicamente muito tóxicos. Quanto à etiologia médico-legal poderá ser:
• Acidental (trabalho, domésticos…);
• Suicida (fácil acesso);
• Homicida (raro).
Perito Médico
O perito médico é o responsável pelas perícias, relatórios e pareceres por si realizados. Este
goza de autonomia, mas está obrigado a respeitar as normas, modelos e metodologias em
vigiar no INMLCF.
A principal função é dar resposta ao objeto de perícia, usando termos simples, compreensíveis
por não médicos (juristas), de modo a permitirem o acesso à informação relevante. Para a
correta administração da justiça, a perícia deverá obedecer aos princípios seguintes:
• Isenção;
• Imparcialidade;
• Rigor;
• Objetividade.
Examinados
As vítimas de violência poderão ser por: agressão, acidente de viação, acidente de trabalho ou
outros acidentes.
Trauma: consiste num evento súbito e inesperado, não familiar à vítima, sendo fora do seu
controlo e ameaçando o seu bem-estar. Poderá implicar stress e mecanismos de adaptação
diferentes. O trauma poderá ser físico ou psicológico.
Vítimas de Violência
Quando a vítima de violência chega aos serviços de saúde:
• Assistência (quando urgente) é prioritária;
• Deve-se documentar história (anamnese) e lesões (exame objetivo) nos registos
clínicos;
• Deve-se referenciar e proteger;
• Informar sobe serviços disponíveis;
• Informar sobre reações físicas, psicológicas e emocionais são de esperar;
• Informar sobre o plano de tratamento/seguimento;
• Devolver o controlo à vítima.
Conceitos Gerais
Cura médico-legal: recuperação total das lesões sofridas;
Consolidação médico-legal: lesões vão evoluir e originar sequelas. Diferente da
estabilização médico-legal, cuja reabilitação e reintegração familiar, social e profissional
bloqueiam a evolução da lesão.
Nexo de causalidade (já anteriormente explicado), segue os critérios de Simonin, que são os
seguintes:
• Natureza do traumatismo é adequado a produzir as lesões descritas;
• Lesões são adequadas a uma etiologia traumática;
• Encadeamento anátomo-clínico;
• Adequação entre a sede do traumatismo e a sede do dano corporal;
• Adequação temporal entre o traumatismo e dano corporal;
• Exclusão de pré-existência de dano corporal;
• Exclusão da existência de uma causa estranha ao traumatismo.
Relatório Pericial
Segue o modelo em vigor no INMLCF, contendo os seguintes tópicos:
1. Prêambulo
Local onde se ocorre a identificação do processo, o tipo e data do exame, assim como o
número de processo do Tribunal. Para além disso, é identificado também o examinado.
2. Informação
É descrita a história do evento, os dados documentais e os antecedentes.
A história do evento é onde se descreve o relato do examinado, a descrição do traumatismo,
nomeadamente a data, o local, o tipo de traumatismo e as circunstâncias. Para além disso,
consideramos também as consequências do traumatismo como lesões traumáticas, assistência
Descaraterização do Acidente
Para avaliação do dano provocado, deve ser descaraterizado o acidente quando:
• For dolosamente provocado pelo sinistrado;
• Provier exclusivamente de negligência grosseira do sinistrado;
• Provier de ato ou omissão que importe violação das condições de segurança, sem
causa justificativa;
• Resultar da privação permanente ou acidental do uso da razão do sinistrado.
Reparação
A reparação pode acontecer de 2 formas:
1. Espécie: através do acompanhamento e tratamento médico, de intervenções cirúrgicas,
próteses, entre outros…;
2. Dinheiro: através do pagamento de indemnizações, pensões ou subsídios.
As indeminizações por incapacidade para o trabalho são determinadas com base na avaliação
por partes dos serviços médico-legais. Isto tudo com base na apreciação idónea do seguimento
e da avaliação da seguradora.
Resumindo, após o acidente de trabalho, o processo é enviado para uma seguradora, onde será
avaliado pelos seus peritos médicos. Os peritos médicos da seguradora avaliam o caso e, só
enviam para o Tribunal do Trabalho se os tratamentos tiverem duração > 6 meses ou se é
imputado um dano permanente ou se a vítima não concordar e participar ao Tribunal de
Trabalho. Quando chega ao Tribunal de Trabalho, este vai comunicar com o INMLCF de
modo a pedir uma perícia médico-legal que, assim que realizada, envia o relatório de volta ao
Tribunal de Trabalho. De seguido, o procurador vai proceder a uma tentativa de conciliação e
acontece uma de duas situações: ou há acordo ou não há acordo e segue para uma junta
médica (composta por 3 médicos: 1 representa o sinistrado, outro representa a seguradora e
outro representa o tribunal), para ser reavaliado e dada uma decisão final.
Exames de Revisão
Os exames de revisão consistem na modificação da capacidade de trabalho ou de ganho da
vítima, proveniente de alterações das sequelas pro melhoria, recaída, recidiva, agravamento
e/ou outros tratamentos. Pode ser requerida pelo sinistrado ou pelo responsável pelo
pagamento, uma vez em cada ano civil.
Registos Clínicos
Trata-se da recolha e descrição de toda a informação disponível e o mais pormenorizada
possível, permitindo auferir o nexo de causalidade médico-legal, contendo as seguintes
informações:
• Caraterísticas e circunstâncias do doente;
• Exame objetivo com registo das lesões traumáticas;
• Exames Complementares de diagnóstico;
• Diagnóstico;
• Terapêutica.
Danos Permanentes
Défice Funcional Permanente na Integridade Físico-Psíquica
Refere-se à afetação definitiva da integridade física e/ou psíquica da pessoa, com repercussão
nas atividades da vida diária, incluindo as familiares e sociais, e sendo independente das
atividades profissionais. Segue as regras da Tabela de Avaliação de Incapacidades
Permanentes em Direito Civil (TIC), fazendo parte do Anexo II do Decreto-Lei nº 352/2007.
É avaliado em pontos (0-100), sendo que a pontuação acontece em função da intensidade e
gravidade.
Dano Futuro
O agravamento das sequelas que constitui uma previsão fisiopatologicamente certa e segura,
por corresponder à evolução lógica, habitual e inexorável do quadro clínico. Trata-se de uma
mera previsão, não sendo atribuída pontuação. Pode levar a eventual reabertura do processo,
apesar de ser difícil, se não impossível.
Dependências
Ajudas Medicamentosas
Necessidade permanente de recurso a medicação regular, sem a qual a vítima não conseguirá
ultrapassar as suas dificuldades em termos funcionais e nas situações da vida diária.
Tratamentos Médicos Regulares
Necessidade de recurso regular a tratamentos médicos para evitar um retrocesso ou
agravamento das sequelas.
Ajudas Técnicas
Necessidade permanente de recurso a tecnologia para prevenir, compensar, atenuar ou
neutralizar o dano pessoal, com vista à obtenção de maior autonomia e independência
possíveis nas atividades da vida diária.
Autópsia Médico-Legal
Principais Objetivos
1. Determinação da causa de morte;
2. Diagnóstico diferencial entre morte natural e violenta (homicida, suicida ou acidental);
3. Identificação;
4. Esclarecimento de circunstâncias da morte.
Certificação do Óbito
Definição
Emissão do certificado de óbito é necessária para:
• Registo na conservatória do Registo Civil;
• Disposições fúnebres;
• Guia de transporte.
Importante para estudos epidemiológicos, onde as mortes de causa natural permitem melhor
organização dos cuidados de saúde e mortes de causa violenta permitem prevenção e estudos
de criminologia.
Parte I
Causa direta da morte: doença, traumatismo ou complicação que levou diretamente à morte.
Constitui última consequência ou efeito da causa básica. Exclui mecanismo de morte.
Causa intermédia da morte: doença ou estado mórbido que constitui condição antecedente,
direta ou indiretamente relacionada com a causa direta de morte ou que identifica o agente
externo que produziu as lesões mortais.
Causa básica de morte (etiologia médico-legal): doença/lesão que iniciou cadeia de
acontecimentos patológicos que conduziram diretamente à morte ou as circunstâncias do
acidente ou violência que produziram lesões fatais.
Causa originária de morte: doença, estado mórbido ou qualquer circunstância que antecede
a causa básica e que lhe está na origem ou que desencadeou todas as causas indicadas nas
alíneas anteriores.
Parte II
Inclui outros estados mórbidos, fatores ou estados fisiológicos que podem ter contribuído +ara
a morte, mas não mencionados na parte I (ex: gravidez, HTA, diabetes…). Envolve também
elementos da informação clínica e da observação em autópsia.
Direito Penal
Dentro do código do Direito Penal, os artigos relacionados com crimes contra integridade
física são os seguintes:
Artigo 143º - Ofensa à integridade física simples
1. Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa é punido com pena de prisão até 3
anos ou com pena de multa;
2. O procedimento criminal depende da queixa, salvo quando a ofensa seja cometida
contra agentes das forças e serviços de segurança, no exercício das suas funções ou
por causa delas;
3. O tribunal pode dispensar de pena quando:
a. Tiver havido lesões recíprocas e se não tiver provado qual dos contendores
agrediu primeiro; OU
b. O agente tiver unicamente exercido retorsão sobre o agressor.
Lesões Autoinfligidas
Trata-se de lesões agrupadas e paralelas entre si, geralmente feridas incisas. Acontecem em
zonas acessíveis ao membro superior dominante, superficiais, nas zonas menos dolorosas,
evitando áreas mais desfigurantes. Normalmente, há vestígios de lesões antigas semelhantes.
Violência Doméstica
É definida de acordo com os termos do art. 152º do Código Penal o seguinte:
• Todos os atos, reiterados ou não, de violência física, sexual, psicológica ou
económica, que ocorram na família, ou na unidade doméstica, entre:
o Cônjuges ou ex-cônjuges;
o Entre quem mantenha ou tenha mantido relação análoga à dos cônjuges ou de
namoro, independentemente do sexo do agressor e da vítima e ainda que sem
coabitação;
o Entre progenitores de descendente comum em primeiro grau;
Violência de Género
A violência de género acontece como resultado das expetativas sociais normativas de papel
associadas a cada género (desigualdade de género), nomeadamente entre “sexo forte” vs “seco
fraco”. Assenta nas relações desiguais de poder entre os dois géneros e é maioritariamente
praticada por homens contra mulheres. Poderá ser violência física, psicológica, sexual,
financeira e/ou emocional.
a) Crianças
Os fatores de risco onde ocorrem maus-tratos a crianças são:
• Entre os 2-4 anos de idade;
• Indesejado/portador de deficiência;
• Intolerância à frustração/álcool, o que leva a atos impulsivos em casa.
Perante uma situação de maus-tratos a crianças, as red flags a que devemos estar atentos são:
• Ausência ou explicação inconsistente para as lesões;
• Criança “desajeitada” é apontada como culpada;
• Atraso na procura de cuidados de saúde;
• Lesões/sequelas não tratadas/ antigas.
Os maus-tratos em crianças mais comuns são os traumatismos de natureza contundente, com
fraturas dos arcos costais posteriores, espiraladas/oblíquas/metafisiárias (úmero, fémur, tíbia)
ou do crânio (múltiplas, bilaterais, radiárias ou que atravessam suturas). Podem existir
inclusivamente queimaduras (em splash, imersão ou contato), a síndrome do bebé abanado ou
síndrome de Munchausen por procuração (transtorno fictício imposto a outra pessoa).
Nestas situações deve ser descrito o evento, nomeadamente no que concerne à data e hora,
agente e mecanismo de ação e tipo de supervisão e localização dos cuidadores durante o
evento. Deve também escrever-se a história clínica pormenorizada, tendo em conta:
• Peso, altura e perímetro cefálico;
• Comportamento habitual;
• Antecedentes patológicos e nível de desenvolvimento psicomotor;
• Antecedentes patológicos familiares;
• História familiar.
O exame objetivo, deve ser realizado com a criança despida da cabeça aos pés para
documentação das lesões, relativamente ao tipo, localização, forma, tamanho e caraterísticas
particulares.
Agressão Sexual
Agressão sexual define-se como: toda a atividade sexual na qual a vítima é forçada ou
constrangida a participar por um determinado agressor, com ele próprio, consigo mesma ou
com uma terceira pessoa, contra a sua vontade, por manipulação afetiva, física, material ou
abuso de autoridade, de maneira evidente ou não, seja o agressor conhecido ou não, haja ou
não evidência de lesão ou traumatismo físico ou emocional, e independentemente do sexo das
pessoas envolvidas.
O número de vítimas de crimes sexuais tem estado a aumentar todos os anos, sendo a maioria
do sexo feminino, solteira/o e numa família nuclear com filhos. Acontece mais nas faixas
etárias dos 11-17 anos e dos 35-44 anos.
50-90% das agressões sexuais não são objeto de queixa judicial, o que causa na vítima:
embaraço e humilhação, medo da crítica/exclusão social, receio de interrogatórios e exames,
medo de perder a relação com o agressor, sentimento de culpabilidade, medo do agressor,
ignorância dos direitos e descrença na justiça.
Os crimes de natureza pública são os seguintes:
• Ofensa à integridade física grave;
• Violência doméstica;
• Maus-tratos;
• Coação sexual (se < 18 anos);
• Violação (se < 18 anos);
• Abuso sexual de pessoa incapaz de resistência (se < 18 anos);
• Abuso sexual de pessoa internada;
• Abuso sexual de criança (< 14 anos);
• Abuso sexual de menores dependentes (14-18 anos);
• Recurso à prostituição de menores;
• Pornografia de menores;
• Mutilação genital feminina;
• Tráfico de pessoas.
O papel do profissional que contata primeiro com a vítima assenta na compreensão das
dificuldades da vítima, no que concerne à revelação, apresentação da queixa e na sua
interpretação/aceitação dos factos, tranquilizar e transmitir confiança à vítima e não emitir
juízos de valor.
Numa agressão sexual urgente (< 72 h), sem possibilidade de contatar perito médico-legal,
deve-se iniciar a entrevista com a vítima, na primeira parte, devemos fazer a descrição do
abuso/agressão perguntando:
A. Descrição do abuso/agressão:
• Circunstâncias em que aconteceu a agressão física? Com que instrumento?
Que lesões?
• Ameaças verbais ou aliciamento?
• Intoxicação conhecida ou suspeita? Com que substâncias? Em que quantidade?
Que sintomas?
B. Comportamento da vítima após a agressão (pretende-se avaliar possível destruição
de vestígios):
• Lavagens?
• Mudou de roupa?
• Comeu, bebeu, urinou?
• Fez tratamentos?
C. Antecedentes pessoais:
• Completos, incluindo IST, ginecológicos (DIU, anticoncepção) e consumos;
D. Queixas
Cadeia de Custódia
A cadeia de custódia permite manter e documentar a história cronológica da evidência, de
modo a garantir idoneidade e rastreabilidade das evidências, sob escrutínio judicial. Basta que
um elo da cadeia falhe para que todo o processo de obtenção de uma prova seja posto em
causa e, eventualmente, não consideração da evidência, ilibando um criminoso ou não
inocentando alguém inocente.
Assim sendo, a colheita deve ser adequada a cada tipo de análise, em contentores adequados a
cada tipo de amostra, fechados, selados, etiquetados inequivocamente e mantidos à
temperatura adequada. As requisições devem ser devidamente preenchidas, com transporte e
recepção adequados.
Os exames complementares veem frequentemente negativos devido a:
1. Grande intervalo de tempo entre abuso e exame:
• Atraso na revelação/denúncia;
• Atraso na solicitação do exame;
2. Frequentemente não resultam vestígios:
• Cicatrização rápida e muitas vezes total das lesões anogenitais;
• Ausência de penetração ou práticas sexuais menos invasivas;
• Penetração sem lesões, nos jovens;
• Ejaculação fora das cavidades ou uso de preservativo;
• Lavagem, atos fisiológicos
Apesar de tudo, a ausência de lesões traumáticas e de vestígios biológicos não invalida a
possibilidade de se ter verificado agressão sexual.
Processo de Morte
1. Período Agónico – Mecanismos de Morte
Trata-se de período irreversível onde se desenvolvem os mecanismos de morte. São
inespecíficos quanto à causa de morte. Podem ser causados por: lesão patológica, alteração
metabólica ou lesão traumática. Em geral, pode-se dar alterações da condução elétrica
cardíaca, que pode influenciar os centros de regulação da função cardíaca e respiratória que,
por sua vez, poderá causar hipoxia.
2. Período de Morte Somática ou Relativa
Os sinais negativos de vida devido a cessação das funções vitais são os seguintes:
• Ausência de movimentos inspiratórios;
• Ausência de batimentos cardíacos;
• Ausência de atividade cerebral;
• Ausência de reflexos/resposta a estímulos dolorosos.
Estado vegetativo: atingimento de funções superiores, mas não o tronco cerebral.
Morte cerebral: atingimento do tronco cerebral (centros de respiração).
A certificação de morte cerebral requer a demonstração da cessação das funções do tronco
cerebral e da sua irreversibilidade.
As condições para o diagnóstico clínico de morte cerebral são as seguintes:
• Ausência de respiração espontânea;
• Conhecimento da causa e irreversibilidade da situação clínica;
• Coma sem resposta motora à estimulação dolorosa;
• Ausência de reflexos do tronco cerebral.
Verificação do Óbito
De acordo com a lei 141/99 de 28 de agosto, estabelecem-se os princípios em que se baseia a
verificação da morte. O art. 2º define morte como cessação irreversível das funções do tronco
cerebral. Quanto à verificação do mesmo, o art. 3º afirma o seguinte:
1. A verificação da morte é da competência dos médicos;
2. Cabe à Ordem dos Médicos definir, manter atualizados e divulgar os critérios
médicos, técnicos e científicos de verificação da morte.
O art. 4º explica o processo de verificação:
1. A verificação da morte compete ao médico a quem, no momento, está acometida a
responsabilidade pelo doente ou que em primeiro lugar compareça, cabendo-lhe lavrar
um registo sumário de que conste:
a. A identificação possível da pessoa falecida, indicando se foi feita por
conferência de documento de identificação ou informação verbal;
b. A identificação do médico pelo nome e pelo número da cédula da Ordem dos
Médicos;
c. O local, a data e a hora de verificação;
d. Informação clínica ou observações eventualmente úteis:
i. Sinais negativos de vida (registar ausência de sinais positivos de
morte);
ii. Sinais positivos de vida (caraterizar);
iii. Lesões traumática;
iv. Antecedentes patológicos;
v. Informação do local que possa estar relacionada com a morte.
2. Em estabelecimentos de saúde públicos ou privados o registo da verificação de morte
deve ser efetuado no respetivo processo clínico;
3. Fora dos estabelecimentos de saúde o registo pode ser efetuado em papel timbrado do
médico, de instituição ou outro, sendo entregue à família ou à autoridade que
compareça no local;
Objeto da Perícia
A necessidade legal do cumprimento no disposto do art. 476º e 477º do CPC e/ou 154º CPP e
a necessidade técnico-cientifíca do cumprimento do disposto dos mesmos artigos, implicam
que a metodologia a aplicar não pode ser confundida com o próprio objeto, sendo uma clara
contradição o Tribunal impor (e por maioria da razão as partes requererem ou tentarem impor)
se a perícia deve ser psicológica ou pelo contrário psiquiátrico.
A interferência das partes na legis artis (requerendo a forma como é feita a perícia) é à partida
enviesar invalidando conclusões técnico-científicas, sendo que perícia não será mera
inquirição por funcionários hospitalares.
Fundamentos Legislativos
No Direito Penal ou Criminal, tendo em conta a temática da psicologia e psiquiatria
forenses, existem os seguintes fundamentos legislativos:
• Estado de Toxicodependência D.L. 15/93, art 52º;
• Avaliação do dano Penal art. 144º;
• Inimputabilidade por anomalia psíquica art. 20º do Código Penal;
• Medidas de segurança, perigosidade e tratamento título VI do Código Penal;
• Delinquentes por tendência, perigosidade e tratamento art. 83º CP;
• Alcoólicos equiparados, perigosidade e tratamento art. 86º, 87º e 88º do CP.
No Direito Civil, podemos encontrar os seguintes fundamentos:
• Interdições/acompanhamento art. 138º CC;
• Inabilitações/acompanhamentos art. 152º do CC;
• Reparação do dano e obrigação de indemnização secção VIII do CC.
No Direito do Trabalho, temos os seguintes fundamentos:
• Reparação do dano;
• Regime especial de trabalho;
• Reforma por incapacidade;
No Estatuto Disciplinar dos Funcionários e Agentes, o principal fundamento são as
medidas disciplinares, tal como no Regulamento de Disciplina Militar.
Conceito de (In)imputabilidade
O facto punível é o facto típico, ilícito e culposo, tendo em conta o seguinte:
• O princípio da legalidade: Nullum crime, nulla penae sine lege (“ou é ou não é”);
• A contrariedade à ordem jurídica e consequentemente a sua não aceitação;
• A censurabilidade do facto objetivo praticado e a sua compreensão pela ordem
jurídica, ainda que não o aceite, sendo as principais causas para ponderar exclusão de
culpa as seguintes:
o Estado de necessidade desculpante;
o Ausência de consciência de ilicitude;
o Obediência indevida desculpante;
o Erro sobre a ilicitude/erro sobre elementos do tipo;
o Inexigibilidade.
A ausência de consciência de ilicitude de um doente mental que não consegue distinguir o
Bem do Mal, por fatores independentes de si, não compreensíveis, antes explicáveis à luz da
Doença, que o priva da inteligência e vontade, é causa de exclusão da sua culpa, que não pode
assim ser-lhe imputável. É pois inimputável em razão de anomalia psíquica se e só se
estiverem presentes esses pressupostos, que são assim alvo de avaliação pelo perito.
Atenção que o psiquiatra não se pergunta se o doente tem culpa, isso é tarefa do tribunal;
pergunta-se sim se é capaz medicamente de a ter, o que acontecerá se a patologia não impedir
a consciência da ilicitude, e assim ele for capaz de se avaliar e de se determinar de acordo
com a sua própria avaliação naquele momento e para aquele facto concreto e apesar de uma
eventual doença psiquiátrica.
Do ponto de vista jurídico, a inimputabilidade (em razão da anomalia psíquica) consiste na
destruição por essa anomalia, das conexões reais e objetivas entre o agente e o facto, de tal
modo e em grau que torne impossível a compreensão do facto como facto do agente. O agente
torna-se assim como um objeto passivo dos processos funcionais.
Desta forma, a inimputabilidade é um conceito normativo, e assim jurídico, ou seja, em rigor
não compete aos peritos afirmar da existência de uma inimputabilidade. O que os peritos
fazem é verificar pressupostos médico-legais que a lei prevê (substrato biopsicológico). Após
esse juízo que é técnico-científico caberá inteiramente ao Tribunal declarar a inimputabilidade
(substrato normativo).