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SUMÁRIO
12.1 Os cuidados primários para saúde mental são baratos e têm uma boa
relação custo-benefício. ................................................................................................... 26
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13 A CARGA DAS PERTURBAÇÕES MENTAIS É GRANDE AS PERTURBAÇÕES
MENTAIS ESTÃO PRESENTES EM TODO O MUNDO ...................................................... 27
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32 A REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA E A POLÍTICA DE SAÚDE
MENTAL 51
32.2 O papel estratégico dos CAPS na atenção à saúde mental no Brasil ...... 59
BIBLIOGRAFIAS ...................................................................................................... 65
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1 SAÚDE MENTAL
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Como estas e outras histórias neste relatório ilustram de forma tocante, o ponto
de partida dos cuidados primários são as pessoas. A integração de serviços de saúde
mental nos cuidados primários é a maneira mais viável de assegurar que as pessoas
tenham acesso a cuidados de saúde mental quando precisam.
As pessoas podem ter acesso a serviços de saúde mental mais perto da sua
casa, continuando desta forma junto das suas famílias e mantendo as suas atividades
quotidianas. Além disso, evitam custos indiretos associados com a procura de
cuidados especializados em locais distantes.
Cuidados de saúde mental prestados a nível dos cuidados primários minimizam
o estigma e a discriminação, e eliminam o risco das violações de direitos humanos
que ocorrem em hospitais psiquiátricos. Por outro lado, como este relatório
demonstrará, a integração de serviços de saúde mental nos cuidados primários gera
bons resultados de saúde a custos razoáveis.
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Muitos países de baixo e médio rendimento não têm sequer infraestrutura e
serviços básicos de cuidados primários, o que dificulta o sucesso da integração da
saúde mental.
A negligência para as questões de saúde mental continua apesar da existência
de evidência sobre a alta prevalência de distúrbios mentais, e os custos substanciais
que estes distúrbios impõem aos indivíduos, famílias, comunidades, e sistemas de
saúde quando não tratados.
A negligência tem continuado também, apesar de muitos estudos terem
mostrado que existem tratamentos efetivos e que estes podem ser prestados com
sucesso em settings de cuidados primários.
Assim, em justaposição com as comemorações de Alma Ata e com apelos a
favor de uma atenção renovada nos cuidados primários, a dura realidade é que nunca
se assegurarão cuidados holísticos enquanto a saúde mental não for integrada nos
cuidados primários.
O que precisa de ser feito é bastante claro. É necessário encerrar os grandes
hospitais psiquiátricos, e em vez disso, o tratamento e os cuidados de saúde mental
precisam de ser prestados através de centros de cuidados primários e de outros
serviços baseados na comunidade.
Para que esta transição ocorra de forma bem sucedida, os profissionais de
cuidados primários têm que ser treinados e apoiados por níveis de serviço mais
especializados. Como este relatório mostrará, tratar as perturbações mentais tão cedo
quanto possível, holisticamente, e perto da casa e da comunidade da pessoa, leva
aos melhores resultados de saúde.
Além disso, os cuidados primários oferecem oportunidades incomparáveis para
a prevenção das perturbações mentais e a promoção da saúde mental, para a
educação da família e da comunidade e para a colaboração com outros sectores.
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Sete boas razões para integrar a saúde mental nos cuidados primários:
• A carga das perturbações mentais é grande.
• Os problemas de saúde mental e física estão interligados.
• O défice de tratamento para perturbações mentais é enorme.
• Os cuidados primários para saúde mental melhoram o acesso.
• Os cuidados primários para saúde mental promovem o respeito pelos
direitos humanos.
• Os cuidados primários para a saúde mental são acessíveis em termos
de custo e têm uma boa relação custo-benefício.
• Os cuidados primários para a saúde mental geram bons resultados de
saúde.
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totalmente eficazes e eficientes, os cuidados primários para a saúde mental têm que
ser complementados por outros níveis de cuidados.
Estes incluem componentes de cuidados secundários aos quais os
profissionais de cuidados primários podem recorrer para referenciação, apoio e
supervisão. Ligações com serviços informais e serviços baseados na comunidade são
também necessárias.
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4 MENSAGENS CHAVE
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Os cuidados primários para a saúde mental, tal como definidos no modelo da
OMS, são fundamentais, mas devem ser apoiados por outros níveis de cuidados
incluindo serviços baseados na comunidade e serviços hospitalares, serviços
informais, e cuidados autogeridos para preencher toda a variedade de necessidades
de saúde mental da população.
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A todos os níveis do sistema, autocuidados são essenciais e ocorrem
simultaneamente com outros serviços. Isto está refletido na natureza tridimensional
da pirâmide. A cada nível mais elevado da pirâmide, os indivíduos passam a ter um
contato crescente com assistência professional. No entanto, os cuidados autogeridos
continuam a todos os níveis, o que por sua vez promove e encoraja a recuperação e
melhor saúde mental. Os diferentes níveis do modelo OMS estão ilustrados na Figura.
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7 SISTEMA DE SAÚDE FORMAL
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física que possam ocorrer durante o internamento. Idealmente, os hospitais gerais
distritais devem ter unidades dedicadas ao tratamento de perturbações mentais e
estas unidades devem ter uma organização de espaços que facilite uma boa
observação e cuidados adequados, minimizando desta maneira o risco de negligência
e suicídio.
Para minimizar o risco de violações de direitos humanos, as instituições devem
aderir a políticas e diretrizes claras que apoiam o tratamento e gestão de perturbações
mentais dentro de uma estrutura que promove a dignidade e os direitos humanos, e
que usa práticas clínicas baseadas em evidência científica. Serviços de saúde mental
comunitários
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11 OS BENEFÍCIOS DE INTEGRAR A SAÚDE MENTAL NOS CUIDADOS
PRIMÁRIOS SÃO SIGNIFICATIVOS.
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12.1 Os cuidados primários para saúde mental são baratos e têm uma boa
relação custo-benefício.
Os serviços de cuidados primários para a saúde mental são menos caros que
os hospitais psiquiátricos, tanto para os pacientes, como para as comunidades e os
governos. Além disso, os pacientes e as suas famílias evitam os custos indiretos
associados com a procura de cuidados especializados em localizações distantes.
O tratamento das perturbações mentais comuns tem uma muito boa relação
custo-benefício, e até pequenos investimentos por parte dos governos podem trazer
benefícios importantes.
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13 A CARGA DAS PERTURBAÇÕES MENTAIS É GRANDE AS PERTURBAÇÕES
MENTAIS ESTÃO PRESENTES EM TODO O MUNDO
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uma proporção entre 1,5:1 e 2:1, assim como percentagens mais altas da maior parte
das perturbações de ansiedade e de conduta alimentar.
Pelo outro lado, os homens têm percentagens mais altas da perturbação do
défice de atenção e hiperatividade, autismo e distúrbios do abuso de substâncias
adictivas5. A prevalência entre crianças e adolescentes e entre pessoas idosas é
apresentada nas caixas 1.2 e 1.3.
Geralmente, as pessoas idosas sofrem de problemas de saúde mental e de
perturbações mentais comuns em percentagens semelhantes às de pessoas adultas
mais jovens. A prevalência de perturbações depressivas entre pessoas acima de 65
anos de idade é segundo estimativas conservadoras entre 10% e 15%, embora certas
estimativas cheguem até 45%10. Outras perturbações incluindo demência, outras
deficiências cognitivas, luto e suicídio são mais comuns entre as pessoas idosas, em
comparação com populações mais jovens.
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13.2 Caixa 1.3 - Saúde mental das pessoas idosas.
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Consequentemente, estas pessoas ficam fisicamente exiladas da sociedade,
banidas para os limites da vila onde são acorrentadas a troncos de árvores, deixadas
sozinhas, seminuas ou vestidas com farrapos, escondidas do resto da sociedade.
Algumas são agredidas e deixadas com pouca comida para “purgar os espíritos
maléficos” através do sofrimento físico.
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A taxa do aparecimento de perturbações mentais comuns (uma mistura de
sintomas somáticos, de ansiedade, e depressivos) num estudo de acompanhamento
de 12-meses foi de 16% em Harare, no Zimbabué.
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15 A HISTÓRIA DE TERESA*, 63 ANOS DE IDADE, DA NOVA ZELÂNDIA.
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esquizofrenia e depressão podem reduzir a aderência a terapêuticas
medicamentosas.
As pessoas com perturbações mentais estão em maior risco de contrair VIH e
tuberculose.
Algumas intervenções de tratamento para perturbações mentais,
particularmente para a esquizofrenia, podem levar a um maior risco de síndrome
metabólico e de diabetes.
As pessoas com perturbações mentais têm por vezes dificuldade em ter acesso
aos cuidados de saúde física de que necessitam. Uma investigação em larga escala
desenvolvida pela Comissão de Direitos de Invalidez de Inglaterra e País de Gales
revelou que os serviços de saúde discriminam as pessoas com perturbações mentais.
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19 O DÉFICE DE TRATAMENTO TOTAL É SUBSTANCIAL
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21 OS SERVIÇOS DE CUIDADOS PRIMÁRIOS PARA SAÚDE MENTAL SÃO
INADEQUADOS
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22 BOLSAS DE SUCESSO NA DETECÇÃO E TRATAMENTO DE
PERTURBAÇÕES MENTAIS
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preocupações quanto à vergonha devido ao uso de serviços de saúde mental também
impedem as pessoas de procurar ajuda.
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28 ADESÃO A TRATAMENTO DE LONGO-PRAZO: UM DESAFIO
MULTIFACETADO
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30 FATORES SOCIAIS E AMBIENTAIS
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Os cuidados primários para saúde mental melhoram o acesso. Integrar a saúde
mental nos cuidados primários é a melhor maneira de assegurar que as pessoas
recebem os cuidados de saúde mental de que precisam. Quando a saúde mental está
integrada nos cuidados primários, as pessoas podem ter acesso a serviços de saúde
mental mais perto das suas casas, conservando-se desta maneira junto das suas
famílias e mantendo as suas atividades diárias.
Apesar das distâncias entre os centros de cuidados primários permanecerem
um problema em muitas partes do mundo, têm-se verificado progressos significativos
e para a vasta maioria das pessoas os cuidados primários são muito mais acessíveis
do que os serviços de saúde mental especializados.
Os serviços dos cuidados primários integrados também facilitam a promoção
da saúde mental. Por exemplo, intervenções com base nos cuidados primários com o
objetivo de melhorar a qualidade das relações pais-criança podem melhorar
substancialmente o desenvolvimento emocional, social, cognitivo e físico das
crianças.
Os cuidados primários oferecem oportunidades para a educação da família e
da comunidade. Os profissionais de saúde estão numa boa posição para oferecer
educação familiar durante o decorrer do trabalho clínico de rotina. Os membros da
família solidários podem melhorar os resultados de saúde drasticamente quando
compreendem a perturbação mental e percebem qual a melhor maneira de reagir em
certas circunstâncias.
Os cuidados primários integrados também facilitam a identificação e tratamento
precoces de perturbações, e quando necessário, funcionam como um ponto de
entrada e referência para os cuidados de saúde mental mais especializados. As
referenciações geradas pelos profissionais de cuidados primários são normalmente
mais apropriadas e melhor direcionadas, minimizando desta forma o desperdício de
recursos financeiros e humanos escassos. A colaboração com os outros sectores é
muito mais fácil e eficaz ao nível dos cuidados primários. Os profissionais dos
cuidados primários estão cientes dos recursos comunitários existentes e podem
referenciar os pacientes para serviços sociais complementares.
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31 OS CUIDADOS PRIMÁRIOS PARA A SAÚDE MENTAL PROMOVEM O
RESPEITO PELOS DIREITOS HUMANOS
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32 A REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA E A POLÍTICA DE SAÚDE
MENTAL
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Quando uma pessoa é atendida em um CAPS, ela tem acesso a vários
recursos terapêuticos: atendimento individual; atendimento em grupo; atendimento
para a família; atividades comunitárias; Assembleias ou Reuniões de Organização do
Serviço.
Dessa forma, o CAPS pode articular cuidado clínico e programas de
reabilitação psicossocial. Os projetos terapêuticos devem incluir a construção de
trabalhos de inserção social, respeitando as possibilidades individuais e os princípios
de cidadania que minimizem o estigma e promovam o protagonismo de cada usuário
frente à sua vida. Todas as ações e atividades realizadas no CAPS devem se
estruturar de forma a promover as melhores oportunidades de trocas afetivas,
simbólicas, materiais, capazes de favorecer vínculos e interação humana (BRASIL,
2004).
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) por meio do Centro de Referência
Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) em relatório sobre a atuação
dos psicólogos nos Centros de Atenção Psicossocial fala sobre as principais
dificuldades enfrentadas no trabalho nos CAPS.
Dentre os principais problemas apontados pela pesquisa estão: a ausência de
políticas locais (estaduais e municipais) e de investimentos nos CAPS e nos
equipamentos de saúde mental; dificuldades na articulação com o Ministério da
Saúde; em algumas regiões os municípios ainda estão com muitas dificuldades em
implantar e administrar os Centros; a falta de recursos; a permanência de um modelo
de atenção centrado na figura do médico; resistência por parte de alguns psiquiatras,
que se posicionam como contrários ao movimento da Reforma Psiquiátrica por medo
de perder espaço; a dificuldade de realizar atividades extramuros.
Em todos os relatos da pesquisa a questão da desarticulação ou mesmo
inexistência de uma rede ampliada de atenção aos usuários dos CAPS foi apontada
como uma das grandes dificuldades do trabalho neste contexto. Enfrenta-se a falta de
integração entre os serviços existentes; dificuldades na atribuição das competências
e atribuições de cada unidade de saúde; ausência de uma rede articulada (uma
estratégia utilizada para o encaminhamento é o uso das relações entre os
profissionais das diferentes instituições). Para o CFP (2009) os relatos indicam que
o CAPS é referência para outros serviços, porém há muita dificuldade de que estes
serviços funcionem como referência para os CAPS.
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A ausência de uma rede de serviços de atenção à saúde mental da criança foi
apontada como uma das dificuldades do trabalho em CAPS infantil. Problemas
também foram relatadas especificamente no atendimento a usuários de álcool e
drogas, como por exemplo a falta de uma rede de suporte para internação dos casos
que necessitam de internação para desintoxicação em hospital geral (CFP, 2009).
Em alguns CAPS falta estrutura física adequada, recursos materiais, recursos
humanos. A falta de acessibilidade nos locais onde estão alguns CAPS, dificulta a
locomoção de pessoas portadoras de algum tipo de necessidade especial. Além disso,
há locais que não são adequados para garantir a qualidade dos atendimentos (CFP,
2009).
A não adesão ao tratamento e às atividades oferecidas pelo serviço aparece
como um desafio que necessita ser superado. Existem ainda as dificuldades relativas
aos familiares e à sociedade. É preciso orientar constantemente as famílias para que
essas possam auxiliar na continuidade do tratamento. Há ainda a questão do estigma
associado aos transtornos mentais e aos preconceitos que circulam na sociedade
relacionados aos portadores de problemas de saúde. A cultura “hospitalocêntrica”
também é muito forte e se torna um desafio para os profissionais que atuam em CAPS.
Segundo Prazeres e Miranda (2005) (apud Moura e Fernandes) os
profissionais da saúde presentes nos serviços substitutivos ainda carregariam consigo
os mesmos paradigmas das instituições psiquiátricas. Esse fato, segundo os autores,
se expressaria em parte através das dificuldades apresentadas em referenciar os
usuários para o serviço substitutivo demonstrando a possibilidade de um desejo de
permanência por parte do hospital psiquiátrico na posição de poder historicamente
construída.
Os principais obstáculos verificados nessa passagem incluem de acordo com
Jervis (2001, p. 266 apud Moura e Fernandes, 2009) dificuldades para superação do
paternalismo, o recuperado tem dificuldades para encontrar emprego e geralmente há
a volta para a mesma dinâmica familiar e social que o levou ao manicômio. As novas
políticas em saúde mental devem objetivar bem mais que o fechamento dos
manicômios. Devem buscar visualizar e romper com as barreiras impostas pela
própria sociedade.
O doente mental, entretanto, enquanto inserido socialmente perderia suas
características incompreensíveis à maioria da população na proporção em que sua
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própria enfermidade fosse parte de um contexto onde seriam respeitadas sua
existência e suas razões (Moura e Fernandes, 2009).
Para Alverga e Dimenstein (2006, p. 4) é preciso pensar na reforma psiquiátrica
como um movimento social mais amplo, processo de desinstitucionalização do social
“onde é preciso produzir um olhar que abandona o modo de ver próprio da razão, abrir
uma via de acesso à escuta qualificada da desrazão”.
A reforma deve buscar, antes de tudo, uma emancipação pessoal, social e
cultural, que permita o não enclausuramento de tantas formas de existência banidas
do convívio social e “que permita um olhar mais complexo que o generalizante olhar
do igualitarismo” de forma a buscar o convívio livre e tolerante com a diferença.
Alverga e Dimenstein (2006) alertam que os primeiros passos para uma real
reforma psiquiátrica implicam um imprescindível abandono do lugar de especialista
ocupado por vários dos atores sociais envolvidos com a reforma. Este percurso requer
atenção especial para as pequenas amarras responsáveis pela reprodução de
valores, preconceitos, atrelados às ideias de controle, fixidez, identidade,
normatização, subjugação.
O portador de transtorno mental apresenta formas anticonvencionais de fazer-
estar no mundo, sendo parte de uma minoria. A declaração universal dos direitos
humanos prevê a ampla e irrestrita aplicação de seus princípios, entretanto, existe
ainda a necessidade da implantação de leis que assegurem direitos universais aos
ditos loucos.
Requer-se antes de tudo um abandono do lugar de especialista ocupado por
vários dos atores sociais envolvidos com a reforma. Este percurso exige atenção
especial para as pequenas amarras responsáveis pela reprodução de valores,
preconceitos, atrelados às ideias de controle, fixidez, identidade, normatização,
subjugação. E a real mudança de postura se faz necessária para evitar a simples
transposição de atitudes profissionais ligadas ao modelo hospitalar para o modelo de
atenção primária.
É preciso entender o processo histórico que invalidou a loucura como
manifestação subjetiva humana. Deve-se caminhar no sentido de compreender a
mesma como uma forma de subjetividade válida, onde o maior desafio da reforma é
sua despatologização. O processo de mudança de papéis se dá de forma lenta e
gradual, mas os movimentos para tantos já foram iniciados.
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A formação dos profissionais inseridos no campo da saúde mental deve ter
como objetivo a transformação das práticas profissionais na perspectiva da
desinstitucionalização. Os princípios do SUS e da reforma psiquiátrica foram
construídos para superar um modelo desumano baseado em medidas excludentes,
hospitalocêntricas e médico-centradas. Isso implica na necessidade de um processo
de formação profissional mais contextualizado, com ênfase em medidas de promoção,
prevenção e reabilitação, levando em conta as dimensões sociais, econômicas e
culturais da população.
Construir novas formas de atenção de lidar com a loucura e o sofrimento
psíquico implica em romper com o modelo biomédico – influenciado pela abordagem
biológica, individualista e a-histórica - e assumir o modelo psicossocial, que impele a
uma abordagem mais complexa, incorporando a influência dos aspectos
macrossociais ao fenômeno loucura e isso implica, obrigatoriamente, um repensar os
processos de formação dos diferentes atores envolvidos nesse processo.
As transformações propostas pelo complexo campo da Reforma Psiquiátrica
brasileira apresentam grandes desafios, especialmente aos profissionais de saúde
que cotidianamente têm a tarefa de expandir e consolidar essa mudança. Apesar dos
avanços, na prática, os profissionais, nem sempre conseguem deixar de ter como foco
principal o controle dos sintomas, dos corpos e das vontades de pessoas
diagnosticadas como portadoras de transtornos mentais e a mudança de tal postura
passa pela universidade, grande responsável pela formação profissional e que
também precisa rever seu papel.
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BIBLIOGRAFIAS
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Organization, 2005.
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Division, 2003.
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