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RET-SUS

Rede de Escolas Técnicas do SUS

MÓDULO 4:
EDUCAÇÃO MEDIADA POR
TECNOLOGIAS NA PRÁTICA

UNIDADE 1
A mediação tecnológica chega à Escola dos Cajueiros

Eloiza da Silva Gomes de Oliveira


Estudo de caso
A primeira pergunta é:
Você sabe o que é Estudo de Caso, metodologia que utilizare-
mos neste módulo?

VAMOS APRESENTAR DUAS DEFINIÇÕES:

• Um estudo de caso é uma investigação sobre um fenômeno


contemporâneo, dentro do contexto da vida real, utilizando
múltiplas fontes de evidência.

• É um instrumento pedagógico que apresenta uma situação


mal estruturada, sem solução predefinida, exigindo empe-
nho do aluno para identificar problemas, analisar evidências,
desenvolver argumentos lógicos, avaliar e propor soluções. O
caso é considerado um valioso recurso, que desafia o aluno a
raciocinar, argumentar, negociar e refletir – habilidades bas-
tante demandadas do ponto de vista cognitivo e social.

O estudo de caso deve servir, portanto, para o aprendizado


sobre como agir em situações reais e sobre quais podem ser
as consequências das ações.

CARACTERÍSTICAS

• Permite a análise profunda de situações no contexto real e


o estudo do fenômeno com base em situações importantes
para a compreensão das questões atuais ou passadas.

• Apresenta situações reais que possibilitam análises, discussões e


tomada de decisões quanto às ações que deveriam ser executadas.

• Inicia a partir de um contexto teórico, utilizando múltiplas fontes.


• Desenvolve a capacidade de responder perguntas, bem como
de problematizar e de elaborar as próprias questões.

• Promove competências de adaptabilidade e flexibilidade, de


forma que os casos possam ser vistos como oportunidades, e
não como ameaças.

• Estimula a superação das próprias ideologias e preconceitos, desen-


volvendo a imparcialidade em relação a noções preconcebidas.

• Propõe o foco em aspectos relevantes das questões estudadas


e no estabelecimento de conclusões ampliadas e de novas alter-
nativas em relação a essas questões.

• Permite a formação humana por meio do estabelecimento


de conexão entre a experiência do profissional envolvido na
análise da situação e a teoria que embasa o caso, comportan-
do ainda análises multidisciplinares.

ETAPAS DA METODOLOGIA UTILIZADAS


EM CADA UNIDADE DO MÓDULO

• Apresentação do caso.

• Etapa de pesquisa ou problematização: momento de análi-


se minuciosa do caso, dialogando com ele mediante perguntas e
destacando os aspectos relevantes e as variáveis que o envolvem.

• Etapa de tematização: momento de acesso aos aspectos teó-


ricos que embasam o caso e aos autores de referência na área
a que o estudo se vincula.

• Etapa de resposta à problematização: resposta às per-


guntas formuladas, momento de aplicação da teoria à práti-
ca, elaborando uma síntese.

• Etapa de conclusão e elaboração de “novas práticas”: eta-


pa individual, desenvolvida pelo discente depois de finalizado
o estudo do caso, utilizando-se do conhecimento e das ferra-
mentas adquiridas para a reflexão acerca da própria prática e
da introdução de mudanças.
Introdução
APRESENTANDO A ESCOLA DOS CAJUEIROS

A Escola dos Cajueiros pertence à Rede de Escolas Técnicas do Sis-


tema Único de Saúde (RETSUS). Mas... você conhece bem a RETSUS?

As escolas técnicas do SUS (ETSUS) são instituições públicas


criadas para atender às demandas locais de formação técnica
dos trabalhadores que já atuam, preferencialmente, nos servi-
ços de saúde, acompanhando o processo de municipalização
do SUS no Brasil. A origem das ETSUS remete ao Projeto Larga
Escala, iniciado em 1985.
As ETSUS atuam no segmento da Educação Profissional, que
engloba a formação inicial e continuada (antiga formação
básica), os cursos técnicos e os tecnológicos. As escolas são, em
sua maioria, vinculadas à gestão da Saúde — e não da Educação
—, o que facilita a adoção dos princípios e das diretrizes do
SUS como norteadores da sua prática formativa. As que são
vinculadas à Educação têm cogestão com o setor Saúde.
A principal especificidade dessas instituições é a capacidade
de descentralizar os currículos, mantendo os processos admi-
nistrativos centralizados. Para isso, utilizam as unidades de
saúde como espaços de aprendizagem e qualificam pedago-
gicamente os profissionais de nível superior dos serviços para
atuarem como professores. Além disso, adequam o currículo
ao contexto regional e têm como modelo pedagógico a inte-
gração ensino-serviço, com sua concepção fundamentada na
articulação entre Trabalho, Saúde e Educação, tendo o trabalho
e a pesquisa como princípios educativos.
Fonte: <http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/retsus/escolas>.
Os professores e alunos pertencem ao Curso Técnico de
Enfermagem, um dos que é oferecido com frequência em
Escolas Técnicas do SUS.

SOBRE O CURSO TÉCNICO EM ENFERMAGEM


Segundo o Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, do Minis-
tério da Educação (3ª edição, 2016):

•  Técnico em Enfermagem

1200 horas

•  Eixo tecnológico:

Saúde e Estética

•  Perfil profissional de conclusão:

Realiza curativos, administração de medicamentos e vacinas,


nebulizações, banho de leito, mensuração antropométrica
e verificação de sinais vitais. Auxilia a promoção, preven-
ção, recuperação e reabilitação no processo saúde-doença.
Prepara o paciente para os procedimentos de saúde. Presta
assistência de enfermagem a pacientes clínicos e cirúrgicos e
gravemente enfermos. Aplica as normas de biossegurança.

•  Infraestrutura mínima requerida:

Biblioteca e videoteca com acervos atualizados da área da saúde.


Laboratório de Informática. Laboratório de enfermagem (semio-
técnica e semiologia). Laboratório de anatomia e fisiologia.

•  Campo de atuação:

Hospitais. Unidades de pronto atendimento. Unidades


básicas de saúde. Clínicas. Home care. Centros de diagnós-
tico por imagem e análises clínicas. Consultórios. Ambu-
latórios. Atendimento pré-hospitalar. Instituições de longa
permanência. Organizações militares.
•  Ocupações CBO associadas:

322205 – Técnico de enfermagem.

•  Normas associadas ao exercício profissional:

Lei nº 7.498/1986. Decreto nº 94.406/1987.

•  Possibilidades de certificação intermediária em cursos de qualificação profis-


sional no itinerário formativo:

Agente de Combate às Endemias. Cuidador Infantil. Cuidador


de Idoso. Agente Comunitário de Saúde.

•  Possibilidades de formação continuada em cursos de especialização técnica


no itinerário formativo:

Especialização técnica em enfermagem do trabalho. Especia-


lização técnica em instrumentação cirúrgica. Especialização
técnica em saúde mental. Especialização técnica em terapia
intensiva. Especialização técnica em estratégia de saúde da
família. Especialização técnica em saúde do idoso. Especiali-
zação técnica em emergência e urgência. Especialização téc-
nica em hemodiálise. Especialização técnica em oncologia.
Especialização técnica em diagnóstico por imagem. Especia-
lização técnica em centro cirúrgico.

•  Possibilidades de verticalização para cursos de graduação no itinerário formativo:

Curso superior de tecnologia em radiologia. Curso superior


de tecnologia em gestão hospitalar. Bacharelado em medici-
na. Bacharelado em enfermagem. Bacharelado em farmácia.
Bacharelado em biomedicina. Bacharelado em fisioterapia.

Fonte: <sitesistec.mec.gov.br/component/banners/click/18>.
Acesso em: 27 jul. 2017.
A mediação tecnológica chega
à Escola dos Cajueiros

1.1. APRESENTAÇÃO DO CASO

O início deste ano letivo foi bastante animado na Escola dos Cajuei-
ros. Além do prazer do reencontro com os colegas e da troca de
novidades das férias, foram feitas as atividades de planejamento,
com a previsão de atividades dentro do calendário letivo do ano.
Mas a grande novidade foi trazida pela diretora, a Profª Lucília, como
podemos ver no Quadrinho 1 que está no AVASUS.

QUADRINHO 1

1.2. PROBLEMATIZAÇÃO DO CASO

Caro(a) aluno(a), você viu que o ano realmente começou animado


na Escola dos Cajueiros!

Vamos agora à problematização do caso.

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Questão 1
O que é um projeto, quais as suas etapas e procedimentos de
implantação, monitoramento e avaliação?

Questão 2
Quais as principais características dos alunos de hoje frente
à utilização das tecnologias de informação e comunicação?

Questão 3
Quais os principais comportamentos dos professores diante
da utilização das tecnologias na mediação pedagógica?

Questão 4
Quais as maneiras simples de aplicação de dispositivos tecno-
lógicos na mediação pedagógica e que podem ser utilizadas
de imediato na escola?

1.3. TEMATIZAÇÃO DO CASO

Esta etapa compreende a análise de cada uma das questões levanta-


das na etapa anterior, da problematização, buscando algum suporte
teórico para respondê-las.

Acompanhe nas letras A, B, C e D como a Profª Marinalva desen-


volveu o tema nos “Momentos de Estudos” semanais, realizados na
Escola dos Cajueiros.

A) A metodologia de projetos, conceito, características, etapas e

procedimentos de implantação, monitoramento e avaliação

O CONCEITO DE PROJETO

É um empreendimento único e não repetitivo, formalmente organiza-


do, de duração determinada, que congrega e aplica recursos, visando ao
cumprimento de objetivos e metas pré-estabelecidos. “[...] o projeto não
é uma simples representação do futuro, do amanhã, do possível, de uma

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ideia; é o futuro a fazer, um amanhã a concretizar, um possível a trans-
formar em real, uma ideia a transformar em ato” (BARBIER, 1994, p. 12).

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DE UM PROJETO

•  É realizado em decorrência de necessidades específicas (solução de um pro-


blema, busca de melhorias).

•  Tem objetivos e metas que surgem dessas necessidades.

•  Possui começo e término determinados.

•  Apresenta algum grau de incerteza quanto ao resultado.

•  Promove inovação no contexto em que é desenvolvido.

•  Foge da rotina existente no contexto onde é desenvolvido.

•  Avalia-se seu sucesso a partir dos resultados.

ETAPAS DE REALIZAÇÃO DE UM PROJETO

PLANEJAMENTO
PLANEJAMENTO IMPLANTAÇÃO
IMPLANTAÇÃO MONITORAMENTO
MONITORAMENTO AVALIAÇÃO
AVALIAÇÃO

Figura 1 - Etapas de realização de um projeto

PERGUNTAS BÁSICAS AO DECIDIR REALIZAR UM PROJETO

Existem oito perguntas básicas que você precisa responder ao


elaborar um projeto.

Veja quais são:

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PROJETO
O que fazer?

Por que fazer? Para que fazer?

Como fazer? Quem será envolvido?

Quando fazer?
Onde fazer?

Quanto custará?

O MÉTODO DE PROJETOS EM EDUCAÇÃO

A palavra “projeto” deriva do latim projectus, que significa algo que se


movimenta para a frente, ou seja, sair de onde se encontra em busca de
novas soluções. O trabalho com projetos, por situar a aprendizagem em
situações reais, promover atividades integradas, focar a formação global
de quem aprende e valorizar o trabalho cooperativo, é uma metodologia
dinâmica e motivadora para docente e discentes.

Hernández (1998) define os projetos em Educação não como uma


metodologia, mas como uma concepção de ensino, uma forma diferen-
te de levar o aluno à construção do conhecimento e da própria identi-
dade. O autor enfatiza que a utilização de projetos não deve ser vista
como uma opção metodológica, e sim como uma maneira de repensar
a função da escola.

Pelo fato de permitir aos que deles participam desenvolver competên-


cias para decidir, opinar, debater, bem como construir a autonomia e o
compromisso com o social, a me-todologia de projetos forma, de manei-
ra integral, sujeitos proativos e cidadãos. Para Zabala (1998, p. 119),

Será necessário oportunizar situações em que os alunos par-


ticipem cada vez mais intensamente na resolução das ativi-
dades e no processo de elaboração pessoal, em vez de se
limitar a copiar e reproduzir automaticamente as instruções
ou explicações dos professores. Por isso, hoje o aluno é con-

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vidado a buscar, descobrir, construir, criticar, comparar, dia-
logar, analisar, vivenciar o próprio processo de construção
do conhecimento.

A utilização pedagógica de projetos começou a existir no Brasil a par-


tir do movimento chamado Escola Nova, que contradizia os princípios
das escolas tradicionais.

Figura 2 - Da esquerda para a direita, Lourenço Filho, Anísio


Teixeira e Fernando de Azevedo.

Fonte: <http://cdnbi.tvescola.org.br/resources/VMSResources/vide-
os/images/1413227214074.png>. Acesso em: 27 jul. 2017.

A chamada “Escola nova” foi um movimento de renovação


do ensino que surgiu no fim do século XIX e ganhou força no
início do século XX. Surgiu na Europa e na América do Norte,
chegando ao Brasil em 1882, trazida por Rui Barbosa. Impactou
as mudanças ocorridas no ensino na década de 1920, quando o
país passava por uma série de transformações sociais, políticas
e econômicas. Um grupo de educadores do qual faziam parte
Lourenço Filho, Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo, entre
outros, em 1932, publicou um documento chamado Plano de
Reconstrução Nacional – Manifesto dos Pioneiros da Escola
Nova, em que propunham os princípios de uma ampla reforma
educacional no país.

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A criação do Método de Projetos deve-se a dois educadores norte-ame-
ricanos: John Dewey e seu discípulo, William Kilpatrick. Dewey afirmava
que a educação era mais do que uma preparação para a vida, mas que
era a própria vida. Dessa forma, aprende-se participando, vivenciando
sentimentos, tomando atitudes diante dos fatos, escolhendo proce-
dimentos para atingir os objetivos e ensina-se não só pelas respostas
dadas pelos alunos, mas pelas experiências proporcionadas, pelos pro-
blemas criados, pela ação desencadeada.

Os projetos em Educação devem seguir as mesmas quatro etapas de


que falamos para os projetos em geral: planejamento, implantação,
monitoramento e avaliação.

Não se pode descuidar do monitoramento ao longo da execução


do projeto. É necessário acompanhar o seu desenvolvimento,
coletando e medindo informações, principalmente sobre os
objetivos alcançados, o conteúdo das atividades desenvolvi-
das, o tempo e os custos do projeto. Dessa maneira, é possível
efetuar melhorias no processo antes da finalização do projeto.

Terminada a última etapa do projeto, é necessária uma avaliação geral,


“panorâmica”, checando o grau de alcance das metas e objetivos propos-
tos e se o projeto deve ou não ser continuado.

B) Os alunos de hoje frente à utilização das tecnologias de

informação e comunicação

A INFLUÊNCIA DAS TIC NOS PROCESSOS COGNITIVOS

O “Projeto Cajueiros Tec”, como já vimos, tem como objetivo inserir


recursos de mediação tecnológica nas aulas ministradas na escola.
Assim, é importante estudar algumas características dos alunos diante

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das tecnologias de informação e comunicação, considerando que eles
são adolescentes, jovens e adultos.

Não se pode negar o impacto e a influência das tecnologias de infor-


mação e comunicação na vida atual. Isso ainda é mais intenso quando
falamos de adolescentes e jovens, que já nasceram imersos em um
mundo tecnologizado ao extremo.

Não vamos discutir aqui a contraposição entre benefícios e malefí-


cios das tecnologias, mas focalizar as influências positivas que há
nos processos cognitivos: pensamento, raciocínio, linguagem e as
variadas competências intelectuais.

Fomos buscar um grupo de teóricos que trata dessas influências


para apresentar a você.

São eles:

Figura 3 - Marc Prensky (2001) –


Nativos Digitais/Sabedoria digital

Fonte: <http://enfoqueazul.com/tene-
mos-que-dejar-de-imponer-a-los-ninos-
-nuestra-vision-anticuada-del-mundo/>.
Acesso em: 27 jul. 2017.

A expressão “Nativos Digitais” foi criada por Marc Prensky em


2001, quando foi utilizada no artigo Digital Natives, Digital
Imigrants, em que o autor apresenta o perfil tecnológico de
crianças e jovens ao redor do globo. Ele considera Nativos
Digitais todos aqueles nascidos nos últimos vinte anos
(tomando por referência o ano de 2000), pois chegam a um
mundo completamente tomado pelas tecnologias de informa-
ção e comunicação. As crianças e jovens, que se encontram
dentro desse período, começam desde cedo a ter contato
com internet, computadores e games, enxergando essas
tecnologias como algo natural a eles.

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Os Nativos Digitais recebem com facilidade a evolução tecno-
lógica e se adaptam a essa crescente “onda” com a mesma
rapidez com que ela se transforma. A tecnologia digital é parte
integrante da vida dessas pessoas desde o momento de seu
nascimento. Usar o celular para trocar mensagens SMS, jogar
videogames, acessar redes sociais online, utilizar serviços da
Web 2.0 e outras vertentes ligadas ao mundo digital são natu-
rais para esses jovens, que não conheceram um mundo onde
tais avanços não existiam.
Os nativos da era digital dão muito valor ao compartilhamento
de informações, que é feito geralmente por intermédio de
blogs e microblogs, que podem ser acessados por meio de
computadores pessoais ou de dispositivos móveis. Esses meios
também são utilizados para a avaliação de produtos, pessoas
e serviços em tempo real, a partir de sistemas de reputação
online, que podem ser acessados instantaneamente.
Essas características constituem o que o autor chama de “sabe-
doria digital”: devido à rapidez e à facilidade de obtenção de
conhecimento, não esperam mais que seus pais ou professo-
res lhes transmitam as informações que desejam, preferem
ir atrás delas nesse mundo online, pesquisando em sites e
perguntando em fóruns. Porém, são muito seletivos no que
absorvem: no meio de tanta informação disponível, é necessário
se concentrar e focar naquilo que é realmente importante. Se
algo parece ser pouco relevante, é rapidamente descartado,
não dando atenção para tal assunto.

Figura 4 - Veen e Vrakking (2009) –


Homo Zappiens

Fonte: <https://pbs.twimg.com/profile_
images/497701300/WimVeen_GameRe-
po_1206.jpg>. Acesso em: 27 jul. 2017.

Wim Veen, aí retratado, e seu parceiro Ben Vrakking escre-


veram um livro clássico sobre jovens e tecnologias: Homo
Zappiens: educando na era digital.
Falam de uma geração nascida no final da década de 1980
que recebeu vários apelidos: geração da rede, geração digi-
tal, geração instantânea, geração cyber. Desde cedo, tiveram
contato com ferramentas que revolucionaram as suas vidas:
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o controle remoto, o mouse, o telefone celular. Essa denomi-
nação caracteriza uma geração que pertence a redes (técnicas
e humanas) e que faz uso delas para resolver problemas, por
isso não pensa de uma forma linear, mas
Pensa em redes e de maneira mais colaborativa do que as
gerações anteriores. [...] O modo de ser do Homo Zappiens
é digital, e não analógico. Suas estratégias de aprendizagem,
por isso mudaram – se aceitarmos que por meio de jogos de
computadores e da comunicação com outras crianças de fato
se aprende (VEEN; VRAKKING, 2009, p. 46-47).

Figura 5 - João Mattar (2010) –


Mentes Hipertextuais

Fonte: <https://i.ytimg.com/vi/_XB-L-
jbq-D4/maxresdefault.jpg>. Acesso
em: 27 jul. 2017.

João Mattar estuda a cognição e a aprendizagem dos jovens nativos


digitais que, segundo ele, não aprendem numa estrutura linear
como era antigamente, “[...] eles possuem mentes hipertextuais”.
Desenvolve, ainda, estudos específicos sobre os jovens e
os jogos digitais. Ele associa as características de busca por
conhecimento com os comportamentos percebidos nos jogos,
também de grande preferência pelos jovens: “[...] o aprendi-
zado necessita de motivação para um envolvimento intenso,
o que é atingido pelos games” (MATTAR, 2010, p. 13).

Figura 6 - Don Tapscott (2010) -


Geração Z ou Geração inteligente

Fonte: <https://alchetron.com/Don-Tap-
scott>. Acesso em: 27 jul. 2017.

Don Tapscott (2010) criou uma classificação em épocas histó-


ricas ao estudar a relação dos jovens com as Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC). Depois da chamada “geração
silenciosa”, nascida de 1925 a 1942, temos gerações cada vez
mais comunicativas.

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O autor chama os nascidos entre 1946 a 1964 de baby boo-
mers, a geração que acompanhou uma verdadeira revolução
nas telecomunicações, principalmente com a ascensão da tele-
visão. Para os boomers, a televisão era a inovação do século
e os eventos históricos que marcaram esse período foram
assistidos nos lares graças a esse novo dispositivo.
Os nascidos na década seguinte, de 1965 ao final dos anos 1980,
são conhecidos como a geração X. Eles já tinham a televisão
como um aparato comum e, por isso, têm como característica
serem extremamente orientados para a mídia. Durante a popu-
larização dos computadores e da Internet, já eram adultos e
foram assimilando essa realidade com certa facilidade.
A geração que se segue, dos nascidos a partir de 1980 a 2002,
recebeu diversas nomenclaturas como net, geração Y, millennials.
Finalmente, os nascidos no final de década de 1990 e a partir
de 2002 foram chamados de nativos digitais, Geração Net, Net
Generation ou, simplesmente, N-Gen. Eles se desenvolveram
em ambientes em que as tecnologias estavam presentes e
evoluíam rapidamente. São a Geração Z ou Geração inteligente.
São indivíduos cada vez mais preocupados com a conectividade
com os demais por meio de dispositivos móveis, chegando aos
celulares. A ação desse grupo passa a ser virtual.
Conforme Tapscott (2010, p. 95-117), existem oito caracte-
rísticas da Geração Z que mostram como os alunos de hoje
aprendem, a saber:

a) Liberdade: desejam flexibilidade de opções nas situa-


ções de aprendizagem.

b) Customização: desenvolvimento de um aprendizado


próprio, segundo suas ne-cessidades e interesses.
c) Investigação: tendência a questionar e a investigar a
informação obtida.
d) Integridade: relacionada aos aspectos éticos do
comportamento.
e) Colaboração: capacidade de criar conhecimento com
foco coletivo, em equipe.
f) Entretenimento: desejam que o aprendizado seja pra-
zeroso, divertido.
g) Velocidade: querem aprender rapidamente, de forma
objetiva e prática.
h) Inovação: estímulo à apresentação de soluções novas,
diferentes.

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Figura 7 - Palfrey e Gasser (2011) - Persona Online

Fonte: <http://thebright.com/former-harvard-dean-calls-brave-spaces-alongsi-
de-controversial-safe-spaces-college-campuses/>;

<http://speakerdata2.s3.amazonaws.com/photo/image/855385/1D2B9756.
jpg>. Acesso em: 25 jul. 2017.

John Palfrey e Urs Gasser publicaram o livro Nascidos na era


digital: entendendo a primeira geração de nativos digitais. Eles
se detêm sobre as identidades sociais desses indivíduos que
estão sujeitas a uma série de novos modos de sociabilidade,
dentre os quais se destacam as que se estabelecem na internet.
Além disso, descrevem esses jovens como pessoas que pos-
suem uma persona online, possível graças a recursos tecno-
lógicos, como aparelhos Blackberry ou I-Phone, e a redes de
relacionamentos. Essa é uma das características que os torna
tão diferentes de seus pais e de outros adultos de gerações
mais velhas. Os nativos digitais tornam as in-formações públi-
cas, compartilhando seus segredos e pensamentos.
Esse traço online permite que sejam facilmente identificados
em quase todos os lugares do mundo pelo modo com que
usam seus equipamentos digitais. Por exemplo, para eles, um
telefone celular não é apenas um aparelho com a utilidade
de fazer e receber chamadas e mensagens, mas é utilizado
também para ouvir música, tirar e enviar fotografias, acessar
a Internet e até mesmo assistir TV.

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C) Os professores e a utilização das tecnologias na

mediação pedagógica

AS ATITUDES DO PROFESSOR DIANTE DA UTILIZAÇÃO DA

MEDIAÇÃO TECNOLÓGICA

A terceira questão problematizada no nosso caso sobre o projeto “Cajuei-


ros Tec” refere-se às características e atitudes do professor diante da uti-
lização da mediação tecnológica em suas atividades.

Pelo que foi dito, parece que os alunos adoram ter as tecnologias inseri-
das na sala de aula! Mas, e os professores?

Segundo Araújo (2005, p. 23-24),

O valor da tecnologia na educação é derivado inteiramente da sua


aplicação. Saber direcionar o uso da Internet na sala de aula deve
ser uma atividade de responsabilidade, pois exige que o professor
preze, dentro da perspectiva progressista, a construção do conhe-
cimento, de modo a contemplar o desenvolvimento de habilidade
cognitivas que instigam o aluno a refletir e compreender, conforme
acessam, armazenam, manipulam e analisam as informações que
sondam na Internet.

Para Turkle (1984, p. 3), “todas as grandes inovações tecnológicas, além


dos resultados práticos imediatos, trazem consequências profundas e
transcendentais que provocam mudanças, não apenas nas atividades
que realizamos, mas também em nosso modo de pensar”.

Muitos textos são elaborados destacando o quanto as TIC facilitam a vida


dos professores nas suas tarefas cotidianas, tornando-se aliadas precio-
sas dos docentes. Será, no entanto, que é isso que ocorre na realidade?
Será que os professores veem as tecnologias como aliadas ou as incluem
apenas na vida particular, sem apropriar-se delas para a gestão dos pro-
cessos de ensino e aprendizagem? Permanecem ainda os “mitos” relativos
à substituição dos professores por computadores? Será que os docentes
temem que os alunos, muitas vezes mais aptos a lidar com a tecnologia,
possam suplantá-los ou perder a admiração que sentem por eles?

Papert, um dos precursores do uso do computador no ensino, fala, em


seu livro As Máquinas das Crianças (1994), da existência de dois grupos
envolvendo alunos e professores. O primeiro grupo, que ele chama de
“conservadores”, reconhece que a escola possui problemas e mostra-se
interessado em resolvê-los, mas não compreende de que forma usar

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computadores para auxiliar esse processo, criando certo impedimento
para a sua utilização. O segundo grupo é o dos “inovadores”, que aspira
por mudanças que venham a suprir as dificuldades, facilitando o apren-
dizado, mas indica pontos que impedem a inserção da tecnologia nas
práticas pedagógicas, como custos, políticas, carência de pesquisas cien-
tíficas sobre novas formas de aprendizagem. Percebemos, portanto, que,
em ambos os casos, há resistências e arestas que necessitam ser “apara-
das” para que a real apropriação das TIC no ambiente escolar aconteça.

Para Kenski (2003), o processo de inserção da mediação tecnológica


pelos professores deve ser progressivo e respeitar o ritmo de cada um.
É preciso associar as modalidades antigas às atuais, não descartando
totalmente a prática habitual. É também preciso balancear, associar,
aproveitar e integrar o ensino às novas tecnologias. Diz a autora:

É necessário, sobretudo, que os professores se sintam confortáveis


para utilizar esses novos auxiliares didáticos. Estar confortável sig-
nifica dominar os principais procedimentos técnicos para sua utili-
zação, usá-los criticamente e criar novas possibilidades pedagógi-
cas, partindo da integração desses meios com o processo de ensino
(KENSKI, 2003, p. 77).

D) Maneiras de aplicação de dispositivos tecnológicos na

mediação pedagógica

FORMAS DE APLICAÇÃO DE TECNOLOGIAS NA


MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA

Apresentaremos, de forma introdutória, quatro formas de aplicação de


tecnologias na mediação pedagógica, as quais poderão ser imediata-
mente aplicadas no projeto desenvolvido na Escola dos Cajueiros.

APLICAÇÃO DA MEDIAÇÃO TECNOLÓGICA EM ATIVIDADES EDUCACIONAIS

• Pesquisa na internet

Na Escola dos Cajueiros, professores e alunos estão começando por


aprender a pesquisar na internet, passo inicial do projeto desenvolvido.
É impossível desconhecer que a internet hoje é universalmente utilizada

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para a realização da busca de informações.

Para isso, foram criados os chamados “mecanismos ou motores de bus-


ca” (existem centenas deles na internet) que utilizam softwares aciona-
dos por páginas da web, conhecidos como “aranhas” ou “robots”, que
percorrem “toda” a Internet em busca da informação (documentos ou
endereços de páginas web) que se pretende. Os dados são recolhidos
para um índice que cria uma base de dados com essa informação. A
maneira como a informação é indexada depende de cada motor de bus-
ca, podendo ser feita por palavras, títulos, endereços de sites, por exem-
plo. Assim, sempre que se introduz uma palavra ou um conjunto de pala-
vras que se pretende pesquisar, as bases de dados são percorridas em
busca de documentos ou sites que lhe correspondam. O resultado da
busca é dado em hyperlinks, podendo clicar em cada uma das entradas
para aceder à informação.

Existem dois tipos de motores de busca: os que indexam, por título e


endereço eletrônico de sites, toda a informação em que encontram a
palavra ou o conjunto de palavras solicitadas, conhecidos como “web-
crawlers” (como é o caso do Google), e aqueles que funcionam com
base em diretórios (o mais conhecido é o Yahoo). Enquanto que os pri-
meiros devem ser utilizados para pesquisas mais específicas, os últi-
mos devem ser utilizados para encontrar informação mais genérica, já
que os resultados da pesquisa são um conjunto de sites nos quais se
poderá encontrar o que se pretende.

• Criação de um blog educativo

É um recurso que pode ser criado para uma turma da escola, uma disci-
plina ou área de disciplinas.

O termo é uma abreviatura de Weblog (Web, a rede mundial de computa-


dores, e Log, tipo de “diário de bordo”). São como sites com temas espe-
cíficos, e o usuário escolhe o que quer falar. O texto escrito é a base para
a comunicação, mas também são permitidas outras mídias, por exemplo
som, imagens, pequenos vídeos. É uma página interativa que permite
publicações sob o formato de diário, em ordem cronológica, e que pode
receber comentários dos que a acessam, bem como possibilita partilhar
informações, ideias, materiais e opiniões.

Um blog é normalmente organizado por datas e categorias, com o post


mais recente sendo exibido em primeiro lugar. Há duas maneiras de
existência de blogs. A primeira, e mais comum, é serem criados e hos-
pedados remotamente no servidor do próprio site de blogs. A segunda
forma é a hospedagem em domínio próprio, o que significa que todo o
conteúdo do blog será publicado em um domínio de Internet.

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No âmbito educacional, os blogs oferecem múltiplas atividades aos
alunos e professores, assim como permitem o debate de temas, a vei-
culação de textos e de outros materiais, e a expressão de opiniões.
Ademais, sem dúvida, também estimulam a leitura e a produção textu-
al, favorecem, ainda, as práticas colaborativas e as aprendizagens com-
partilhadas, além da autonomia na aprendizagem proposta pelo lema
de “aprender a aprender”.

A Profª Helena já combinou com dois colegas do Módulo 2 do Curso


Técnico de Enfermagem a criação de um blog para divulgação, estudo e
debate de questões ligadas à Enfermagem em Saúde Pública.

• Criação da página (site) da escola na internet

Um grupo de professores está envolvido, como parte do projeto de


inserção das tecnologias na prática cotidiana da escola, na criação de
um site da Escola dos Cajueiros.

A palavra Site ou Website vem da junção de web (rede) e site (sítio, lugar).
Refere-se a uma página ou a um agrupamento de páginas relacionadas
entre si e acessíveis na internet por meio de um determinado endereço.
Vale ressaltar que não existe um único tipo de site, já que eles podem ser:
institucionais, informativos, pessoais, comunitários etc. Nesse recurso, é
possível apresentar textos, imagens, vídeos ou animações digitais. Essas
páginas são carregadas a partir do protocolo de rede HTTP (Hypertext
Transfer Pro-tocol) e são visualizadas mediante um navegador (browser).

Existem algumas empresas na internet que oferecem a criação de sites


mediante pagamento, mas os professores estão pesquisando em três
que oferecem a criação gratuita, a saber: a WIX – <http://pt.wix.com/>,
a WEBNODE – <https://www.webnode.com.br/> e a WEEBLY – <https://
www.weebly.com/br?utm_medium=affiliate&c=mkt_w_nwk:AffiliateSAS_
cat:753794>. Todos têm a certeza de que o site ficará simples, mas muito
bonito, facilitando o acesso de toda a comunidade interna e externa ao
que acontece na escola, divulgando informações importantes.

• Acesso a bibliotecas e repositórios digitais

A expansão das tecnologias de informação e comunicação permitiu,


entre outras possibilidades, a difusão e o compartilhamento do conhe-
cimento e da produção científica por meio do oferecimento de novas
fontes de informação. Muitas bibliotecas tornam o seu acervo disponível
gratuitamente e surgem repositórios digitais com o objetivo de difundir
recursos culturais e educacionais.

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Heery e Anderson (2005, p. 2) destacam algumas características des-
ses repositórios: o conteúdo é depositado neles tanto pelo autor do
conteúdo, como pelo proprietário ou por terceiros; a arquitetura dos
repositórios gera conteúdos novos a partir do material depositado; os
repositórios oferecem um conjunto mínimo de serviços para depositar,
criar e pesquisar conteúdos.

A Profª. Marinalva disponibilizou, para os professores da escola, vários


endereços eletrônicos de bibliotecas e repositórios digitais, dos quais
alguns foram logo adotados como preferidos: o Portal Domínio Público
do MEC <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObra-
Form.jsp>; a Biblioteca Digital Mundial da UNESCO <https://www.wdl.
org/pt/about/>; a Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde
<http://bvsms.saude.gov.br/>; o Banco Internacional de Objetos Educa-
cionais do MEC <http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/>; o Portal Saú-
de Baseada em Evidências <http://psbe.ufrn.br/index.php> e o Acervo
de Recursos Educacionais em Saúde da UNA-SUS <https://ares.unasus.
gov.br/acervo/>. Os professores da Escola dos Cajueiros têm explorado
bastante esses sites e coletado materiais muito interessantes.

ALGUMAS RESPOSTAS À PROBLEMATIZAÇÃO

Resumindo alguns aspectos problematizados quanto à implantação do


Projeto de inserção progressiva da mediação tecnológica na Escola dos
Cajueiros, podemos concluir que:

• O projeto a ser implantado na escola atende às condições iniciais


necessárias, incluindo a divulgação aos professores e a inclusão
dos docentes no processo de planejamento, recebendo informa-
ções e sendo sensibilizados para participar.

• Ao mesmo tempo, precisam ser desenvolvidos mecanismos de


acompanhamento (monitoramento) e de avaliação do projeto.

• A melhoria das condições de infraestrutura do Laboratório de Infor-


mática e a instalação da rede Wi-Fi marcam um investimento dos
gestores da escola no projeto.

• A inserção das tecnologias para mediação pedagógica é apresentada


aos professores como opção metodológica, e não como imposição.

• O oferecimento de material para subsidiar o projeto e a realização


dos “Momentos de Estudos” permitirão à equipe da escola mais
segurança para desenvolver o projeto.

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• O estudo e o levantamento das características dos professores e
dos alunos permitem maior perspectiva de eficácia do projeto.

• A criação do site da escola dá maior visibilidade às atividades desen-


volvidas e amplia o diálogo com a comunidade externa.

• A iniciativa de uma professora para a criação de um blog das turmas


de Enfermagem em Saúde Pública é um início promissor para que
iniciativas de mediação tecnológica sejam incorporadas por mais
professores e alunos.

• O estabelecimento de hábitos e competências de pesquisa na inter-


net entre os professores pode ser transmitido aos alunos, amplian-
do as fontes de informação disponíveis.

• O conhecimento de bibliotecas virtuais e de repositórios digitais


dará aos professores e alunos mais recursos para os processos
de ensino e aprendizagem.

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