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Esse homem novo era a chave para que a burguesia estabeleça a sua hegemonia
perante o proletariado. Era um homem político, que também suportava uma nova ordem
econômica e social que se estabelecia. Para isso, vale a construção integral desse homem,
com foco nos aspectos mentais, intelectuais, culturais e físicos.
Sob essa ótica positivista, o homem passa a ter um domínio maior sobre o mundo,
alterando-o através de observações e experimentações. Não há mais lugar para milagres
divinos, pois tudo tem uma explicação científica, que age de acordo com leis próprias.
A burguesia tem plena consciência de que é dona de seu próprio destino e que os
homens transformam a natureza e criam as leis da sociedade, que seriam descobertas
pela ciência. A razão para isso: atingir a plena felicidade.
Elas vinham atreladas a uma concepção naturalizada do social que tentava explicar as
desigualdades sociais, pois à medida que havia um acúmulo de riquezas, também a
miséria tornava-se generalizada. O lema de igualdade, liberdade e fraternidade não
condizia com a realidade, já que um homem cada vez mais embrutecido vendia a sua mão
de obra e levava uma vida cada vez mais degradante. Todavia, tudo parecia ser justificado
pelo “progresso”.
Houve uma clara necessidade de reorganizar esses espaços em virtude das epidemias
que assolavam a população. Entretanto, a ideia veiculada era a de que os populares
estavam mal por estarem impregnados de vícios e de imoralidade, além de viverem sem
regras. Esse discurso fez surgir à necessidade de uma educação higienista, formando bons
hábitos. É nesse contexto que a educação física é incorporada.
A biologia fez parte, juntamente com outras formulações científicas, da busca por
determinar espaços e lugares para os indivíduos. A partir de então, as desigualdades eram
fruto da própria natureza, as quais eram determinantes. Tais transformações passaram a
ser pensadas e explicadas a partir de leis de evolução biológica, cujo maior referencial foi
Charles Darwin e a sua biologia evolutiva.
15- FAR dos chamados grandes eixos do capitalismo: a competição e a concorrência- 24/3
O princípio da seleção natural diz que existe uma concorrência vital, com seleção
natural e sobrevivência dos mais aptos. Além do esforço pessoal e do valor individual,
essa competição e concorrência serão entendidos como naturais no homem, deixando de
lado as leis do capital e sua necessidade de produção e reprodução.
A medicina nos apresenta diferentes conceitos sobre doença( a medicina social dá outra
dimensão para a doença- ela também está relacionada com a atividade social e com o
ambiente cultural), saúde e cura. Também as formas de intervenção são variadas, sejam
no corpo social ou no corpo biológico. Diz-se que não pode haver saúde sem que se mude
a sociedade, pois é a estrutura social que justifica as doenças, daí a necessidade de
medidas como o sanitarismo e engenharia sanitária.
Ele veiculava a ideia de que as classes populares viviam mal por possuírem espírito
vicioso, uma vida imoral. Logo, era necessário que lhes fosse garantida não somente a
saúde, mas também a educação higiênica e os bons hábitos morais. Esse discurso auxiliou
o Estado na reorganização disciplinar da classe trabalhadora, complementada pela
educação escolar e por todo o conteúdo de classe que ela veiculará.
Dentro desse pensamento higienista, a puericultura foi uma das formas medicalizantes
de intervenção do Estado sobre a família, com papel relevante na normatização do corpo
social através da sua atuação sobre a forma de vida dos indivíduos em sua intimidade na
família, no trabalho e no cotidiano.
Entendia-se que maus hábitos (viver na rua, em cabarés) era a fonte de toda a miséria
da classe operária. Havia a necessidade de redefinir o espaço de vida através dessas
propostas sanitaristas, da promoção do uso higiênico da habitação. A habitação passa a
construir-se num espaço privilegiado da mulher, a salvadora da moral e dos bons
costumes. É também a habitação que efetuará a moralização do homem, tirando-o das
ruas e dos vícios. A mulher deveria fazer desse local atraente e ser vigilante. Era uma
forma da classe dominante se isentar de qualquer culpa.
São eles que, investidos de autoridade pelo Estado, por conta de seu conhecimento a
respeito do corpo biológico, que vão implementar ideias a respeito do “bem viver”, uma
vez que adoecer deixava de ser uma problemática social e passava a ser uma questão de
conhecimento de boas práticas de vida, de limpeza e de higiene pessoal.
28- FAR das tecnologias e políticas que investiram sobre o corpo- 41/3
Todas essas linhas de ação serão traduzidas pelo discurso da higiene, que postulará
regras de “bem viver” que, quando conhecidas, permitiriam o alcance da saúde. Esse
discurso omite o fato de que são as condições sociais e as diferenças de classes que
impedem o pleno acesso a essas regras, e não o seu simples desconhecimento. E umas
dessas formas de intervenção social, operando a nível de corpo biológico e do corpo social
é justamente a educação física.