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10.

BIOMECÂNICA EQUINA
Licenciatura em Equinicultura
10.1. Análise biomecânica
Introdução
 A Biomecânica é o estudo científico da estrutura e
função dos sistemas vivos utilizando os princípios
da física. Pode dividir-se em:
 Biocinemática: estuda o movimento em si mesmo, as
suas características geométricas (lineares, angulares e
temporais); estuda portanto as alterações de posição
de segmentos do corpo no espaço durante um
determinado período de tempo.
 Biocinética ou biodinâmica: estuda as forças que
motivam ou modificam o movimento, ou que
produzem deformação.
Breve resenha histórica
Breve resenha histórica
 Primeiras descrições do movimento dos equinos –
Aristóteles, séc. IV a.C. (De moto animalium);
 Desenvolvimento das escolas de equitação europeia (sécs.
XVI e XVII);
 Sécs. XVIII e XIX – predomínio francês;
 Bourgelat, Goiffon e Vincent – classificação dos
andamentos em simétricos e assimétricos, identificação da
fase de apoio e da fase de suspensão do trote por
observação das marcas dos cascos;
 Traité de la conformation extérieure du cheval (Bourgelat,
1803).
Breve resenha histórica
 Eadweard James
Muybridge (1830-
1904).
 Fotógrafo britânico,
desenvolveu o
zoopraxiscópio para
exibir sequências
animadas de
instantâneos.
Breve resenha histórica

Zoopraxiscópio de Muybridge (1879) (esq.)

Animação dos “instantâneos” de Muybridge (dir.) – resolução do dilema de Stanford


Breve resenha histórica
 Etienne-Jules Marey
(1830-1904)
 Fisiologista francês,
pioneiro na fotografia
 Criou diversos
dispositivos mecânicos
para estudar o
movimento
Breve resenha histórica

Marey (1873), La machine animale – locomotion


terrestre et aeriénne

A “ferradura exploratória” de Marey (esq.)

Dispositivo para detecção e registo da fase de apoio e da fase de voo (dir.)


Breve resenha histórica
Marey (1873), La machine animale – locomotion terrestre et
aeriénne

Cavalo equipado com dispositivos para estudo do movimento (esq.)

Cronofotografia do movimento de um cão (dir.)


Breve resenha histórica

O “fuzil fotográfico” de Marey; estudo sobre cavalo atrelado (esq.)

Estudos sobre o movimento do cavalo (dta.) a trote (em cima) e a galope (em baixo)
Breve resenha histórica
 Alguns dos principais grupos de investigação
que desenvolveram a análise biomecânica
equina moderna:
 SUÉCIA – Fredricson, Drevemo, Dalín, Jeffcott;
 ÁUSTRIA – Knezevic, Girtler, Buchner;

 HOLANDA – Hartman, Schamhardt, Van Weeren,


Barneveld, Back;
 FRANÇA – Barrey, Denoix;

 CANADÁ/EE.UU. – Leach, Townsend, Clayton;


Análise biomecânica

Quantifica as variáveis
geométricas da
locomoção (lineares,
ANÁLISE temporais e angulares), ou
BIOCINEMÁTICA seja, as mudanças de
posição dos segmentos
corporais no espaço num
dado intervalo de tempo.
ANÁLISE
BIOMECÂNICA

ANÁLISE Quantifica as forças que


produzem, ou resultam, de
BIOCINÉTICA um movimento.
Cinemática vs. cinética

Métodos cinemáticos Métodos cinéticos


Conceito Explicam o movimento Explicam a causa do
movimento
Variáveis Trajetórias, ângulos, Forças, momentos,
distâncias acelerações
Registos Imagens - coordenadas Transdutores – sinais
Rapidez de análise Lenta Rápida
Informação Detalhada Sintética

Adaptado de Barrey, 1998.


Métodos de análise biocinemática

 Variáveis analisadas:
 Lineares;
 Amplitudes de movimento (ex. passada)
 Deslocações de um dado segmento (ex. altura)
 Distâncias percorridas

 Temporais;
 Duração
da fase de apoio e da fase de voo, etc.
 Momento de apoio médio, etc.

 Angulares;
 Ângulosarticulares (máximos, mínimos)
 Rotações
Métodos de análise biocinemática

 Aplicações:
 Análise de movimento – investigação; modelos
biomecânicos;
 Análise do desempenho desportivo (ex. golf, ténis,
atletismo, ginástica, natação, etc.);
 Análise clínica – limitações pós-lesionais,
recuperação pós-operatória, monitorização de
programas de reabilitação, etc.
Métodos de análise biocinemática
 Sistemas videográficos
 Conjugam dados obtidos a partir de registos de
vídeo e analisam-nos recorrendo a software
adequado;
 Permitem a obtenção de dados em 2D e 3D;
 Geralmente aplicam-se marcadores cutâneos sobre
o objeto de estudo, fazendo o software o
seguimento da posição desses marcadores durante
o movimento;
 Alguns exemplos:
 APAS (Ariel Performance Analysis System®)
 Motion Analysis Corp. (Eagle Digital System®)
 Qualisys Motion Capture Systems®
Métodos de análise biocinemática

Fonte: www.qualisys.ne
Métodos de análise biocinemática
Métodos de análise biocinemática

 Sistemas optoelectrónicos
 Utilizam dispositivos eletrónicos que emitem, ou
detetam, “luz” (radiação);
 Concretamente, os marcadores cutâneos emitem
ou detetam radiação;
 Necessitam geralmente condições laboratoriais
(intensidade da luz controlada);
 Dados rapidamente disponíveis/real time

 Alguns exemplos:
 Zebris 3D Motion Analysis System®

 Codamotion®
METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO EM BIOMECÂNICA – RUTE SANTOS
Métodos de análise biocinemática

Fonte: www.codamotion.com
Métodos de análise biocinemática

 Eletrogoniometria
 Medição da variação
angular das
articulações com
recurso a
eletrogoniómetros
(elgon);

Fonte: Back e Clayton, 2001.


Métodos de análise biocinética
 Variáveis analisadas:
 Forças de reacção do solo – Ground Reaction Forces (GRF);
 Tensões;
 Acelerações;

 Aplicações:
 Investigação: estudo do comportamento dos tecidos
(ósseo, tendinoso, muscular, etc.);
 Indústria: estudo das características dos pisos, ferraduras,
etc.
 Clínica: complemento ao diagnóstico de claudicações;
 Desporto: avaliação do desempenho;
Métodos de análise biocinética
 Ground Reaction Force
(GRF);
 O apoio dos membros no solo
suporta o peso do cavalo e as
forças dinâmicas da
locomoção (ex. as que
conduzem à aceleração);
 A GRF é um vetor (magnitude
+ direção); geralmente
decompõe-se em 2
componentes:
 Vertical (peso + deslocamento
vertical);
 Horizontal (atrito/tracção –
aceleração ou desaceleração);
Métodos de análise biocinética
Fonte: Back e Clayton, 2001.
 Sistemas de
análise – GRF
 Plataformas
piezoeléctricas
(ex. Kistler®);
 Ferraduras com
sensores de
pressão (ex.
Tekscan®);

Fonte: Reilly, 2010.


METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO EM BIOMECÂNICA – RUTE SANTOS
Métodos de análise biocinética
Fonte: Back e Clayton, 2001.
 Sistemas de
análise – GRF
 Plataformas
piezoeléctricas
(ex. Kistler®);
 Ferraduras com
sensores de
pressão (ex.
Tekscan®);

Fonte: Reilly, 2010.


Métodos de análise biocinética
 Sistemas de análise –
tensões sobre os tecidos
 Extensómetros (strain
gauges): são transdutores
que registam alterações na
resistência elétrica
provocadas pela deformação
dos materiais;
 Aplicam-se diretamente
sobre o tecido a analisar
(ossos, tendões, ligamentos)
para deteção das forças de
tensão a que estão sujeitos;
Métodos de análise biocinética
 Sistemas de análise – acelerações:
 Acelerometria:
 Mede alterações instantâneas na velocidade provocadas
por uma força que se exerce sobre um sólido;
 Os acelerómetros são pequenos sensores aplicados
diretamente sobre o segmento corporal em estudo e que
emitem um sinal de intensidade proporcional à aceleração.
 Devem ser colocados o mais próximo possível do centro de
gravidade do corpo em estudo (no cavalo, sobre a porção
caudal do externo, ao nível da cilha; ou nas extremidades,
quando nos interessa apenas este segmento);
 Simples! – aplicável em condições de campo;
Métodos de análise biocinética

Fonte: www.centaure-metrix.com
Métodos de análise biocinética

Fonte: www.horsejunction.co.za
Tapete rolante (treadmill)
 Útil – permite
sistematização das
condições experimentais
(velocidade, inclinação,
luminosidade, etc.);
 Atenção! O padrão
locomotor é afetado (≠
variáveis biocinemáticas);
 Exige período de
adaptação prévia do
cavalo;
10.2. Proprioceção
(Referência) - "Efeitos da propriocepção no processo de reabilitação das fraturas de
quadril" Martimbianco, Ana Luiza Cabrera; Luis Otávio Polachini; Therezinha Rosane
Chamlian; Danilo Masiero (2008) "Treinamento do Equilíbrio" Acta Ortopédica
Brasileira, vol.16 no.2 São Paulo 2008 (Brasil). Acessado a 22 de outubro de 2009
Conceito
 Proprioceção ou cinestesia, é o termo utilizado para designar a
capacidade de reconhecer a localização espacial do corpo, sua
posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição
de cada parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão.
Este tipo específico de perceção permite a manutenção do
equilíbrio postural e a realização de diversas atividades práticas.
 Ex.: Andar, manter-se de pé, desviar-se de, ou transpor, um obstáculo
ainda que desconhecendo a sua distância exacta.
 A proprioceção resulta:
 da interação das fibras musculares que trabalham para manter o corpo
na sua base de sustentação;
 de informações tácteis;
 e do sistema vestibular, localizado no ouvido interno.(1)
Estruturas responsáveis
 A proprioceção resulta da presença de recetores
específicos que são sensíveis a alterações físicas,
tais como variações na angulação de uma
articulação, rotação da cabeça, tensão exercida
sobre um músculo, e até mesmo o comprimento
da fibra muscular.
Estruturas responsáveis
 Os principais MECANORRECETORES responsáveis são:
 Corpúsculos tendíneos ou órgãos de Golgi: localizados nas inserções das fibras
musculares com os tendões dos músculos esqueléticos, são sensíveis à tração exercida
nos tendões (contração muscular) indicando a força que se está a exercer sobre a
musculatura e impedindo lesões.
 Corpúsculos de Pacini : localizados no tecido conjuntivo associados às articulações:
ajudam na transmissão de informação propriocetiva sobre a posição das articulações.
 Fuso muscular: consiste numa cápsula de tecido conjuntivo que envolve um espaço
contendo fluido e duas a 20 fibras musculares modificadas, as fibras do fuso, e onde
penetram e se ramificam fibras nervosas sensoriais. Os fusos musculares são
responsáveis pelo comprimento da fibra muscular no repouso (postura) e durante o
movimento.
 Labirinto ou sistema vestibular: localizado no ouvido junto à cóclea, é sensível a
alterações angulares da cabeça. As alterações podem ser no sentido vertical ou
horizontal). Este sistema também atua na identificação da posição de todo o corpo,
permitindo ter a perceção de que se está deitado, em pé ou noutra posição.
Perturbações no sentido de equilíbrio podem levar a correções inadequadas, que em
casos extremos podem impedir a manutenção da posição vertical, além de causar
vertigem e náusea.
Corpúsculos tendíneos
Corpúsculo de Pacini
Fuso neuromuscular
Sistema vestibular
9.3. Conceitos de biomecânica equina
Terminologia utilizada em biomecânica equina

 Membros:
 Anteriores ou torácicos (esquerdo e direito): AE e AD
 Posteriores ou pélvicos (esquerdo e direito): PE e PD

 Pares de membros:
 Ipsilaterais (do mesmo lado; ex. AE e PE; AD e PD)
 Contra laterais (de lados opostos; ex. AE e AD; PE e PD)
 Diagonais (membro torácico de um lado e pélvico do
lado contrário)
 Diagonal direita: AE e PD
 Diagonal esquerda: AD e PE
Terminologia utilizada em biomecânica equina

 Um ANDAMENTO é um padrão característico de coordenação


dos membros, onde se reconhece a sequência e o tempo dos
seus movimentos.
 Cada andamento decompõe-se em unidades locomotoras
que se repetem ciclicamente, e a que chamamos PASSADAS.
 Os andamentos classificam-se de acordo com a simetria dos
movimentos dos lados esquerdo e direito do corpo, e
também da existência ou não de fases de suspensão;
 Neste contexto, chamamos FASE DE SUSPENSÃO a um momento na
passada em que nenhum dos membros do cavalo se encontra em
contacto com o solo.
Terminologia utilizada em biomecânica equina

 Os andamentos classificam-se assim em:


 Simétricos: quando em cada passada os membros de um lado realizam
os mesmos movimentos dos membros do contrário.
 Assimétricos: quando em cada passada os membros contra laterais
descrevem diferentes padrões de movimento.
 Basculados: quando o balanceiro cervico-torácico contribui para a
mecânica do movimento.
 Marchados: quando não existe fase de suspensão (ou seja, durante a
passada há sempre pelo menos um membro em contacto com o solo).
 Saltados: quando existe uma fase de suspensão durante a passada, ou
seja, um momento em que nenhum dos membros apoia no solo.
 Os TEMPOS são o número de apoios uni, bi ou tripodais que
ocorrem durante uma passada.
Terminologia utilizada em biomecânica equina

 Durante o ciclo de movimento de cada membro, existe


uma fase de apoio (na qual o membro está em contacto
com o solo) e uma fase de voo (na qual não há
contacto);
 Na fase de apoio, encontramos uma fase de absorção
de força, e uma fase de propulsão, separadas pelo apoio
médio (mid stance)(quando a canela descreve com a
horizontal um ângulo de 90º);
 Na fase de voo, encontramos uma fase de protração
(movimento para diante) e uma fase de retração
(movimento para trás), separados pelo voo médio (mid
swing).
Fase de Apoio

PROPULSÃO APOIO MÉDIO ABSORÇÃO DE CARGA


Fase de Voo

PROTRAÇÃO VOO MÉDIO RETRAÇÃO


Terminologia utilizada em biomecânica equina

 Os TEMPOS de cada passada são definidos por


momentos de apoio uni, bi ou tripodais;
 Em cada passada, cada um dos 4 membros executa
o seu ciclo de movimento; no seu conjunto, cada
passada pode ter (ou não) uma fase de suspensão
(consoante o andamento), durante a qual nenhum
dos membros se encontra em contacto com o solo;
 Andamentos marchados – sem fase de suspensão;
 Andamentos saltados – com fase de suspensão;
Andamentos naturais do cavalo
 O PASSO é um andamento natural basculado e
marchado, simétrico com 4 tempos;
 É o andamento mais lento, com velocidades que
variam entre os 1,4 m/s (passo concentrado) e os
1,8 m/s (passo largo);
 O aumento de velocidade obtém-se praticamente
sem aumentar a frequência da passada, apenas
pelo aumento da amplitude da passada e da
distância de sobrepista (pelo alongamento e
aumento do movimento basculante do pescoço).
Andamentos naturais do cavalo
 O TROTE é um andamento natural saltado, simétrico com 2
tempos definidos por diagonais associadas, separados por
momentos suspensão; os estudos demonstram que os
membros diagonais não apoiam necessariamente ao mesmo
tempo - colocação diagonal avançada:
 Positiva (posterior apoia antes do anterior; desejável em
cavalos de dressage; não se altera com idade ou treino –
bom critério de seleção);
 Negativa (anterior apoia antes do posterior);
Andamentos naturais do cavalo
 As velocidades variam entre os 3,2 m/s (trote concentrado) e
os 4,9 m/s (trote largo), alcançando os 14,2 m/s no trote de
corridas;
 O aumento de velocidade obtém-se principalmente pelo
aumento da amplitude da passada e da distância de
sobrepista (que representa neste caso a distância percorrida
na fase de suspensão); a duração da fase de suspensão é um
bom critério de seleção.
Andamentos naturais do cavalo
 O GALOPE é um andamento natural saltado, assimétrico com 3
tempos definidos por apoios uni ou bipedais, seguidos de uma fase
de suspensão; a sequência de apoios é:
 PE; PD/AE; AD no galope para a mão direita;
 PD; PE/AD; AE no galope para a mão esquerda;
 O que define o facto do andamento ser para a esquerda ou para a
direita é o bípede lateral que toma a dianteira;

- Geralmente, o cavalo galopa para a mão “de dentro”;


-O galope “desunido” ocorre quando o posterior que toma
a dianteira é o do bípede contra-lateral ao anterior mais
adiantado;
- O galope “ao revés” (contrário ao sentido do
movimento) geralmente é incorreto, exceto nos níveis
mais avançados de ensino, em que se utiliza como forma
de manifestar a submissão do cavalo às ajudas;
Andamentos naturais do cavalo
 As velocidades do galope de competição variam
entre os 3,27 m/s (galope concentrado) e os 5,79
m/s (galope largo), alcançando até 18,4 m/s no
galope de corridas;
 O aumento de velocidade acima dos 12 m/s obtém-
se pelo aumento quer da amplitude, quer da
frequência da passada; com o aumento da
velocidade, aumenta a duração relativa da fase de
suspensão.
Andamentos: quadro-resumo

Amplitude
Velocidade
Andamento Classificação Variações Sequência Tempos da passada
(m/s)
(m)
Simétrico,
Concentrado, PD, AD, PE,
Passo marchado, 4 1,4 – 1,8 1,5 – 1,9
médio, largo AE
basculado
Simétrico Concentrado, PD-AE,
(diagonais médio, largo, suspensão,
Trote 2 3,2 – 4,9 1,8 – 5,9
associadas), piaffe, PE-AD,
saltado passage suspensão
Para a dta:
PE, PD-AE,
Assimétrico,
Concentrado, AD,
Galope saltado, 3 3,3 – 5,8 1,9 - 4,6
médio, largo suspensão
basculado
Para a esq.:
inverso
Aparelho recíproco do m. posterior
Anatomia funcional do cavalo
 “Embora sejam os membros que fornecem a
propulsão, é o dorso que representa a componente
anatómica crucial da biomecânica equina, e que é
a verdadeira fonte do movimento, equilíbrio e
coordenação.” Jean-Marie Denoix
Anatomia funcional do cavalo
 Coluna vertebral:
 Base óssea: vértebras (C
7 – T 18 – L 6 – S 5 – Co
18-21)
 Ligamento
nucal/supraespinhoso
(na região cervical, corda
e lamelas) – suporte da
cabeça e do pescoço –
processos espinhosos
braço de alavanca; flexão
dorsal).
Anatomia funcional do cavalo
 Musculatura: Teoria do
arco e da corda (arco –
coluna; corda –
músculos)
 Corda interrompida:
músculos iliopsoas
(região lombar); longo da
cabeça e longo do
pescoço (região cervical); A contração das “cordas” leva à
mobilização dos membros
 Corda ininterrupta: posteriores
músculos abdominais.
Modelo do arco e da corda
Posição da cabeça e do pescoço

A – FLEXÃO (“Descida”) DO
PESCOÇO: Esta posição é
essencial para que o cavalo
jovem trabalhe o seu equilíbrio;
também é muito importante nas
fases de aquecimento e
arrefecimento.
A descida do balanceiro da
cabeça e pescoço distende o
ligamento nucal/supraspinhoso,
o que aproxima os corpos
vertebrais (afastando os
A processos espinhosos); isto
fortalece a base óssea e liberta a
musculatura, facilitando também
Fonte: Heuschmann, 2008 a entrada dos posteriores.
Posição da cabeça e do pescoço

B – ELEVAÇÃO RELATIVA DO
ANTE-MÃO: Aqui o ligamento
nucal tem um papel menos
importante. É a musculatura do
pescoço que é responsável por
suportar o dorso.

Fonte: Heuschmann, 2008


Posição da cabeça e do pescoço

C – CAVALO COM O DORSO


ESMAGADO: Nesta posição o
ligamento nucal e a musculatura
cervical não exercem qualquer
efeito. É a musculatura do dorso
que é responsável por suportar o
peso do cavaleiro, logo, está tensa.
Por este motivo, perde-se a ligação
com o pós-mão, dificultando o
avanço dos posteriores.
C

Fonte: Heuschmann, 2008


Posição da cabeça e do pescoço
D – CAVALO COM O DORSO
“BLOQUEADO”: Esta posição da cabeça
e do pescoço também é conhecida por
hiperflexão ou rollkur. O pescoço está
completamente distendido,
comprimindo de modo extremo os
discos vertebrais, elevando o garrote e
o dorso. Isto provoca uma rigidez
exagerada do dorso, perdendo-se a
D fluidez do movimento. O bloqueio ao
nível da articulação lombo-sagrada
impede também o adequado avanço
Fonte: Heuschmann, 2008
dos posteriores, e o centro de
De acordo com Heuschmann (2008), o gravidade desloca-se para o ante-mão.
trabalho continuado nas posições C e D leva a Acresce que o ângulo cabeça-pescoço
um desgaste excessivo do tecido conjuntivo e não permite uma ventilação adequada.
de suporte do dorso.
Vídeo – Gerd Heuschmann

https://www.facebook.com/tropel.acmexico/videos/128547853879282/?t=25
Posição da cabeça e do pescoço
1
 Kathrin Kienapfel, 2013.
 Nos 3 andamentos, o músculo Esplénio Cervical
3 (1) estava menos ativo na posição de hiperflexão
e mais ativo na posição livre;
 Nos 3 andamentos, o músculo Braquicefálico (2)
estava significativamente mais ativo na posição
de hiperflexão do que nas restantes;
 A Passo, o músculo Trapézio Cervical (3) estava
significativamente menos ativo na posição de
hiperflexão; nos restantes andamentos, não
houve diferenças significativas na atividade deste
músculo;
 Só o músculo Braquiocefálico revelou diferenças
2 na atividade de ambos os lados, evidenciando
maior atividade do lado direito do que do
esquerdo.
Posição da cabeça e do pescoço
 Por outro lado, Weishaupt et al
(2006) e Rhodin et al (2009)
realizaram estudos cinéticos e
cinemáticos em cavalos trabalhados
com diferentes posturas naturais e
artificiais da cabeça e do pescoço, e
concluíram que, do ponto de vista
biomecânico, o trabalho na posição
muito elevada da cabeça e do
pescoço induz muito mais efeitos
negativos (por ex., nas forças
exercidas sobre os membros) do que
a posição baixa da cabeça com grande
flexão do pescoço.
Posição da cabeça e do pescoço
 De facto, o aumento do movimento de flexão-
extensão do dorso observado na posição de flexão
da cabeça e do pescoço poderá eventualmente ser
explicado como sendo um exercício ginástico mais
eficaz do que o trabalho apenas nas posições
“convencionais” (Gomez Alvarez et al. 2006).
 Aliás, a polémica gerou-se na utilização da técnica
em cavalos de Dressage; no entanto, a técnica é há
muito tempo (e continua a ser) utilizada
rotineiramente em cavalos de Obstáculos.
Posição da cabeça e do pescoço
 Estes estudos, em conjunto com outros acerca do
funcionamento respiratório e manifestações
comportamentais nos cavalos levaram a FEI (2010) a
distinguir 2 conceitos, permitindo um e proibindo o outro:
 Posição “Low, Deep, Round” (baixa, profunda, redonda) –
flexão exagerada da cabeça e do pescoço obtida de forma
colaborante com o cavalo e sem exercício de força exagerada
ou crueldade; PERMITIDO
 Rollkur ou Hiperflexão – posição de flexão extrema obtida
pelo abuso da força e crueldade, e que incómodo e
sofrimento ao cavalo; PROIBIDO
Posições permitidas pela FEI
O que é proibido pela FEI
 “Qualquer posição da cabeça e do pescoço obtida
através de força agressiva não é aceitável. Os
movimentos que envolvam manter a posição da
cabeça e do pescoço fixa ou restrita não poderão
ser mantidos inalterados por mais de 10 minutos.
As flexões extremas deliberadas que envolvam
colocações elevadas, baixas ou laterais da cabeça
apenas se devem executar durante períodos muito
curtos.”
O que é proibido pela FEI
 Os comissários e juízes devem
intervir sempre que observem:
 Extensão do pescoço obtida
através de força ou técnica
agressiva
 Utilização de flexão extrema
(hiperflexão)
 Manutenção deliberada da atitude
fixa durante mais de 10 minutos
 Cavalos num estado geral de stress
ou exaustão
9.4. Fatores que influenciam a locomoção
Fatores que influenciam a locomoção equina

 Velocidade (frequência e amplitude da passada)


 Morfologia (ver adiante)
 Raça (ex. Lusitano vs Hanoveriano vs PSInglês)
 Idade (c/ a idade aumenta o intervalo de movimento
angular das articulações)
 Treino (técnica, aumento da força muscular)
 Cavaleiro (peso, alt. centro de gravidade, capacidade
técnica; > influência sobre membros torácicos)
 Tipo de pista (pisos mais elásticos > frequência da passada;
pisos plásticos c/ por ex. areia > duração do apoio).
Slow Motion Horse
 http://www.youtube.com/watch?v=2PtpFYMxOps
Exemplo de grelha de avaliação linear
Defeitos de aprumo
Defeitos de aprumo

1 – Elite Dressage (33); 2 – Elite Obst. (28); 3- Cavalos de escola (100); 4 – Total (161)
Morfologia do cavalo de Dressage
 Altura ao garrote/altura dos
membros elevada (Magnusson,
1985; Hölmstrom e Phipsson,
1993).
 Pescoço relativamente curto
(comparativamente aos cavalos
de obstáculos) (Holmström,
1994).
 Peitoral amplo (Holmström et
al., 1990).
 Dorso comprido, rim curto
(distância entre a última costela
e a ponta da anca) (Holmström
et al., 1990).
Morfologia do cavalo de Dressage
 Em cavalos de Dressage de alto
nível NÃO se encontram
animais “acurvilhados” (ângulo
fechado dos curvilhões);
 Por outro lado, surgem animais
ligeiramente “zambros” (ligeira
rotação para fora dos membros
posteriores) – pensa-se que
associado ao maior avanço dos
posteriores;
 A regra é: a morfologia só é
importante naquilo que afecta a
funcionalidade (o cavalo “belo”
é o cavalo “bom”).
Morfologia do cavalo de Dressage

 Espádua (escápula) longa e


com inclinação próxima de
62º. Braço (úmero) longo
(Holmström et al., 1990)
62º 30º
 “Garupa” (pélvis) longa e
≈ 90º com inclinação próxima de
30º (Holmström et al., 1990).
 Coxa (fémur) longa e
≈ 160º bastante vertical (aprox. 90º)
(Holmström et al., 1990).
 Ângulo do curvilhão aberto
(nunca acurvilhados)
(Holmström et al., 1990).
Morfologia - Lusitano

 Principais diferenças entre


os Lusitanos da amostra e
outros cavalos de
Dressage:
 Espádua mais curta
 Garupa mais curta
 Perna mais curta
 Curvilhão mais fechado
Efeito do treino
 Cavalos de corrida, a trote e a galope: aumento da
amplitude e duração da passada e da fase de voo;
 Cavalos de Dressage: as diferenças em resposta ao
treino são mais evidentes no trote (menos no
passo e no galope).
 Diminuição da frequência da passada (nº de
passadas/unidade de tempo);
 Aumento da atividade dorso-ventral (aumento da
força muscular conjugado com aumento da
concentração); “impulsão”
Efeito do cavaleiro - peso
 De Cocq et al. (2004) referem que o efeito de peso (inanimado) sobre a
sela provoca uma extensão acrescida do dorso. Os cavalos
contrabalançam este aumento da extensão toraco-lombar com um
aumento da retração dos membros anteriores. De acordo com o modelo
do arco e da corda, o aumento da retração dos anteriores induz um
momento de flexão na coluna vertebral.
Efeito do cavaleiro - peso
O peso do cavaleiro
altera o centro de
gravidade do cavalo
(evidentemente um
cavaleiro mais pesado
afeta este equilíbrio de
modo mais notório do
que um cavaleiro mais
leve).
O peso do cavaleiro
deverá ser sempre
suportado pela região
dorsal do cavalo, onde
a base óssea do tórax
(costelas) aumenta a
resistência da coluna. A
região lombar não
pode suportar peso!
Efeito do cavaleiro - peso
 Há poucos estudos que incidam sobre o peso
“ideal” do cavaleiro;
 Halliday & Randle (2013) calcularam um rácio
(peso do cavaleiro/peso do cavalo) situado entre
14,2% e 16,6% em 50 cavaleiros jovens com um
índice de massa corporal (IMC) saudável; (Ex. para
um cavalo de 500 kg PV, 15% representa 75 kg).
 Admite-se que um rácio superior a 20% poderá ter
implicações no bem-estar do cavalo;
Efeito do cavaleiro - sexo
Diferenças anatómicas A região pélvica dos homens é
entre os esqueletos do diferente da das mulheres:
sexo feminino e do sexo - A largura e inclinação da
masculino
pélvis, assim como a
conformação do osso púbico,
são diferentes, e condicionam
a posição em sela.
- Naturalmente, as senhoras
avançam mais a cintura e
recuam mais os ombros;
- Também a conformação
púbica faz com que o
“assento” seja diferente (o
que poderá ser levado em
consideração na construção
do arreio).
Efeito do cavaleiro - posição

Os 2 principais músculos que o cavaleiro sente enquanto monta, e que se


contraem durante o apoio dos membros:
- Latissimus dorsi (vasto dorsal) – apoio do anterior
- Glúteo médio – apoio do posterior
Efeito do cavaleiro – posição (trote)
 Posição correta: a
A postura
descontraída e
equilibrada dá ao
cavaleiro uma
harmonia com a
contração dos
músculos vasto
dorsal e glúteo
médio (rosa);
 A nuca do cavalo
(A) é o ponto mais
alto;
Efeito do cavaleiro – posição (trote)
A pressão das coxas do
cavaleiro exerce tensão sobre
o m. trapézio – contrai a  Posição do cavaleiro “à
musculatura cervical A pressão sobre o m. frente” do movimento,
vasto dorsal inibe a
A retração do membro A tensão cervical e apertando as coxas;
torácico dorsal inibe o
funcionamento dos m.  Encurta a passada,
glúteos,
semitendinoso e
retraindo a extensão
semimembranosos, dos membros; o cavalo
reduzindo a protração
e retração do membro
transpista-se menos;
pélvico.
 A nuca (A) do cavalo
não é o ponto mais
alto (posição correta
no ensino).
A tensão cervical inibe  O pescoço está
a protração do
membro torácico pelo
contraído e
m. bráquiocefálico “encurtado”;
Efeito do cavaleiro – posição (trote)
A posição do cavaleiro leva a mão a
descer, o joelho a subir e a tensão  Posição do cavaleiro cavaleiro
sobre as rédeas a aumentar (para o Perda do paralelismo
cavaleiro se equilibrar) dos membros da
“atrás” do movimento,
diagonal (“Lion in front, sobrecarregando a porção
mouse behind”)
posterior do arreio;
A  Para contrariar este efeito, o
cavalo “puxa-se” com o
antemão, em vez de se
“empurrar” com o pósmão,
Cavaleiro “à frente” do quebrando o ritmo do trote
movimento, apertando
Chanfro atrás da as coxas
(dissociação das diagonais),
vertical e “deixando as pernas”.
crineira mais
alta - inibe a  O equilíbrio do cavalo torna-
ação do garrote se “downhill”, afunda o
como alavanca
garrote e fica “em espáduas”;
 Novamente, a nuca (A) do
cavalo não é o ponto mais
Aumenta a retração e protração dos anteriores para compensar a alto.
pressão na porção posterior do arreio;
Efeito do cavaleiro – posição (trote)
 Peham et al (2009)
compararam as forças
exercidas sobre o dorso
do cavalo nas posições
“trote sentado”, “trote
levantado” e “vertical
perto”, tendo verificado
que o cavaleiro exerce
menos força nas duas
últimas;
Efeito do cavaleiro – posição (galope)

 Randle et al (2010) compararam o


galope com o cavaleiro na posição
normal (sentado) e com o cavaleiro
em posição de obstáculos (vertical-
perto?);
 A amplitude da passada foi
significativamente maior na posição
de obstáculos;
 A posição do cavaleiro influenciou
significativamente o percurso
transcorrido pelo membro anterior e
pelo membro posterior;
Efeito do cavaleiro – posição (galope)

 Por volta de 1900, os jóqueis americanos


começaram a utilizar uma nova posição nas
corridas (estribos curtos, posição
característica, “Martini glass”); em resultado
desta nova posição, os tempos diminuíram 5
a 7%!
 O cavalo a galope não se desloca a uma
velocidade constante, e sim em acelerações
e desacelerações permanentes a cada
passada;

Pfau et al (2009) concluíram que a posição do jóquei permite manter uma velocidade
sensivelmente constante, independente das acelerações e desacelerações do galope,
reduzindo a inércia que o cavalo teria de vencer caso o cavaleiro se comportasse como um
corpo inanimado; por esse motivo, a posição “Martini glass” reduz o trabalho do cavalo, o
que lhe permite deslocar-se a velocidades superiores.
Efeito do cavaleiro - experiência
 O efeito da experiência do cavaleiro manifesta-se
principalmente na regularidade do movimento;
aparentemente, em cavaleiros experientes a ligação
ao movimento é apreciavelmente superior, o que faz
com que os custos energéticos do movimento para o
cavalo sejam inferiores (o binómio funciona mais
como um corpo único) e isso traduz-se na
capacidade do cavalo exibir padrões de movimento
mais estáveis e consistentes (Wolfram, 2013).
Influência do arreio
 O próprio arreio (dimensões,
material de preenchimento das
almofadas, tipo de arreio)
influencia o movimento:
 O desenho do arreio influencia a
posição do cavaleiro (arreio de ensino
vs. arreio de obstáculos).
 O tamanho do arreio, principalmente
a largura e comprimento do vaso,
pode, se não for adequado, prejudicar
a mecânica e até provocar lesões; o
arreio deve ser adaptado às
dimensões do cavalo (embora
também ao tamanho e sexo do
cavaleiro).
Influência do arreio

A zona mais profunda do


arreio corresponde ao
centro (correto).
O arreio não interfere
com o garrote nem com
o movimento das
espáduas. Também não
pressiona atrás, na
região lombar.
Influência do arreio
•A zona mais profunda
do arreio fica atrás do
centro; ex.: arreio
demasiado pequeno
(vaso estreito).
•A aba do arreio tende
a projetar-se para
diante, impedindo o
movimento pendular
da escápula;
•Tende também a
projetar o cavaleiro
para trás, pressionando
a zona do rim (região
lombar).
Influência do arreio

•A zona mais profunda


do arreio fica à frente do
centro; ex.: arreio
demasiado grande (vaso
largo).
•Projeta o cavaleiro para
a frente;
•Diminui o espaço entre
o arreio e o garrote,
podendo provocar
lesões.
Influência de caneleiras com pesos
 As caneleiras com pesos têm efeito sobre o movimento
do dorso a passo e a trote (Wennerstrand et al. 2006).
 As caneleiras com pesos colocadas nos membros
anteriores influenciaram o movimento da região torácica
da coluna; quando colocadas nos membros posteriores,
aumentaram o movimento de flexão e extensão da
região lombar.
 A trote, as caneleiras com pesos colocadas nos
posteriores diminuíram a protração e retração dos
posteriores, embora não tenham alterado a duração da
passada.
Influência de auxiliares do treino –
o Aparelho Pessoa

 Walker, Dyson & Garreth


(2013) estudaram a influência
da utilização do Aparelho
Pessoa (AP) na posição
intermédia (ver figura) sobre a
locomoção à guia a trote de
trabalho.
Influência de auxiliares do treino –
o Aparelho Pessoa
 A aplicação do AP provocou uma diminuição da velocidade e
um encurtamento da passada, embora mantendo a duração
da passada, o que sugere que o cavalo esteja a trabalhar mais
equilibrado;
 Com o AP os cavalos manifestaram melhor encurvação,
capacidade de se transpistar e atividade dos músculos
abdominais;
 Apenas 1 cavalo em cada 16 “piorou” estes parâmetros com o
AP, contrariando a teoria de que este auxiliar provoca
confusão e comportamentos negativos nos cavalos;
Influência de auxiliares do treino –
o Aparelho Pessoa

 Com o AP, o ângulo da cabeça baixou e a cabeça-pescoço desceram;


 Isto foi acompanhado de um aumento da flexão lombo-sagrada
quando o membro posterior de fora estava em máxima retração, ou
seja, quando a faixa de trás do AP estava justa sobre os posteriores
– estímulo sensitivo a que o cavalo responde.
Influência de auxiliares do treino –
o Aparelho Pessoa
 Os cavalos que exibiram parâmetros negativos com o AP
tinham lordose (“selados”);
 Os cavalos com esta conformação têm mais dificuldade em
relaxar os músculos flexores espinhais profundos e
abdominais (que o AP estimula) – isto parece indicar que o AP
não é útil nestes cavalos com este problema.
Efeito do piso
 Chateau et al (2013) compararam a locomoção em
piso duro (asfalto, ASF) vs. mole (areia-fibra, AF) :
> amplitude da passada no AF; > velocidade;
 < duração da fase de apoio no AF;

 > força de travagem e < força propulsiva no AF;

 < forças “laterais” no círculo no AF;

 > tensão de sobrecarga dos membros no AF


(estruturas elásticas);
Efeito do piso

Força lateral

Sobrecarga
Efeito do piso

Northrop et al (2013) detetaram diferenças cinemáticas subtis


na locomoção de cavalos sobre piso de areia-fibra com
preparações diferentes (Rolo vs. Grade)
Efeito do piso
 Crevier-Denoix et al (2013) compararam o galope de cavalos
em pistas de relva vs. AWW (all weather waxed, areia-fibra
parafinada), tendo concluído que o piso AWW tem melhores
características de absorção do impacto.
Passage e Piaffe Londres 2012
9.5. Biomecânica do salto
Fases do salto
 Passadas de aproximação/abordagem ao salto
 Salto propriamente dito:
 Batida(take-off)
 Voo/fase de suspensão

 Receção

 Passadas de partida
Fases do salto
 Batida: http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&NR=1&v=SZSgSXIPYgk

 Anteriores –
posicionamento
 Posteriores - propulsão
Fases do salto - Batida
 A trajetória do centro de gravidade do cavalo e o momento
angular do seu corpo durante o salto (voo) são determinados
na batida - a aproximação e a batida são extremamente
importantes no resultado do salto. O membro posicionado
mais perto do obstáculo é o posterior contrário à mão do
galope.
 O penúltimo passo antes da batida, e aqueles que o
precedem, são passos muito característicos, com uma
mecânica de três tempos e a cabeça e pescoço elevados.
Fases do salto - Batida
 A última passada antes da batida é curta e rápida; tem uma
mecânica de quatro tempos, com o posterior correspondente
à mão do galope a tocar o solo antes do anterior da respetiva
diagonal. O pescoço é esticado para a frente e para baixo na
preparação para a batida. O objetivo da reunião é o
abaixamento do centro de gravidade antes do pé da batida
tocar no chão.
 Na batida, os posteriores frequentemente estão em contacto
com o chão sincronizadamente e praticamente à mesma
distância do obstáculo. As suas funções são fornecer
propulsão ascendente e para a frente, e reverter a direção de
rotação do tronco.
Fases do salto – Fase aérea
 Fase aérea (voo)
 Rotação sobre o
obstáculos (trajetória do
salto).
Trajetória do salto - parábola
Articulação lombo-sagrada
Durante a batida de posteriores, a
Saltadores “fracos” – maior flexão articulação lombo-sagrada sofre
lombo-sagrada na batida (Cassiat et uma extensão, induzindo uma
al, 2004). inversão da rotação da garupa,
comparada com a rotação do tronco;
esta inversão ocorre durante a
primeira metade da batida de
posteriores.

Durante a segunda metade, a


rotação descendente do tronco,
combinada com a extensão lombo-
sagrada, induzem a redução do
ângulo da garupa.

Na maior parte da fase do voo, o


ângulo lombo-sagrado mantém-se
em total extensão, e então a rotação
da garupa segue a rotação
descendente do tronco.
Articulação lombo-sagrada
“Bons” saltadores – maior
extensão coxo-femoral (retração
Durante a receção de anteriores,
dos membros posteriores) na ocorre uma progressiva flexão
transposição do obstáculo (Bobbert lombo-sagrada, iniciada na última
et al, 2005). parte da fase do voo. Assim, a
garupa fica horizontal antes do
tronco, que alcança esta posição
horizontal durante a subsequente
fase de troca dos anteriores.

Nesta última fase, o ângulo lombo-


sagrado flete e a garupa fica
oblíqua, para facilitar a entrada dos
posteriores, o que é necessário para
reequilibrar o andamento do
cavalo.
Trajetória do salto - parábola

A uma maior velocidade corresponde


uma maior distância percorrida.

O ângulo de elevação descrito na trajetória é


geralmente inferior a 45º; tipicamente, uma
vala de água com 4,5m corresponde a um
ângulo de 21º.
Fases do salto - Receção
 Receção
http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&NR=1&v=q4XXgOcFgkA

 Anteriores: intervalo entre


apoios muito curto
 Posteriores: restabelecem
movimento para diante
 Após chegar ao solo, o
cavalo retoma
normalmente o galope, em
geral para a mão contrária
em que vinha a galopar.
Fases do salto - Receção
 As colocações do anterior e posterior correspondentes à mão
do galope na receção ficam mais perto do obstáculo se este
for um Oxer do que se for um Vertical, para todas as alturas;
no entanto, há uma tendência para a receção dos outros
membros ser mais longe do obstáculo para um Vertical.
 A distância de apoio dos membros relativamente ao salto na
receção aumenta com o aumento da altura do mesmo.
Fases do salto - Receção
 Durante a receção, o anterior contrário à mão do galope tem uma fase
de apoio muito curta, pois o cavalo rapidamente se move para apoiar
o outro anterior (Clayton & Barlow, 1991; Deuel & Park, 1991).
 Os cavalos que têm um maior tempo de intervalo entre o contacto dos
dois anteriores têm menos probabilidade de derrubar o obstáculo
(Deuel & Park, 1991).
 No primeiro passo de galope após o salto, o cavalo reequilibra-se e os
posteriores restabelecem o movimento para diante, gerando grandes
impulsos e forças propulsivas longitudinais, principalmente o posterior
contrário à mão do galope. Esta passada tem uma mecânica de quatro
tempos, com o posterior correspondente à mão do galope a tocar no
solo antes do anterior diagonal. A amplitude da passada é
significativamente mais pequena do que a penúltima passada antes da
batida.
Saltos de obstáculos Londres 2012
Influência do cavaleiro
 Posição em sela: é mais fácil para o cavalo transportar um
saco de areia inanimado do que um cavaleiro do mesmo
peso…
 Estudos mais recentes confirmaram que os cavalos são capazes de compensar
uma massa inanimada de 90 kg, sem alterar a cinemática dos membros a
passo, trote e galope, e um cavaleiro competente tem um efeito equivalente
ao do saco de areia de igual massa (Sloet et al., 1995).
 Elevação dos membros anteriores:
 Mau contacto nas rédeas associado a má elevação dos anteriores (“toques de
mãos”).
 Elevação dos membros posteriores:
 Assento e posição do cavaleiro (ex. levantar-se cedo de mais) associado a má
elevação dos posteriores (“toques de pés”).
Influência do cavaleiro
 Existem estudos que relatam que a experiência do
cavaleiro poderá não influenciar a técnica do salto
de cavalos experientes em alturas submáximas
(Powers & Cavanaugh, 2005); isto aponta para 2
hipóteses:
 Por um lado, o “mérito” do sucesso na transposição de
obstáculos até determinada altura será mais do cavalo do
que do cavaleiro…
 Por outro lado, a fase inicial do treino de obstáculos
poderá condicionar o sucesso futuro do cavalo,
independentemente da “qualidade” do(s) cavaleiro(s) que
o montarem posteriormente.
Influência do cavaleiro
 Patterson et al (2010) concluíram que há
diferenças apreciáveis no equilíbrio sobre o salto
de um cavaleiro experiente, quando comparado
com o de um cavaleiro inexperiente, e essas
diferenças são mais apreciáveis em cavalos
inexperientes;
 Isto parece confirmar a capacidade dos cavalos
experientes “minimizarem” os desequilíbrios dos
cavaleiros inexperientes até determinado nível de
dificuldade do salto.
Influência do cavaleiro
 Por outro lado, Lewczuk et al (2006) verificaram que
a repetibilidade de parâmetros biomecânicos
durante o salto foi superior em cavalos montados
por cavaleiros experientes do que em cavalos a
saltar em liberdade; isto parece indicar que o
cavaleiro competente tem um efeito estabilizador
sobre a mecânica do salto, capaz de melhorar o
desempenho do cavalo.
 Assim, os estudos científicos parecem comprovar
uma velha máxima da equitação: “Para cavalo novo,
cavaleiro velho; para cavaleiro novo, cavalo velho!”
Bibliografia aconselhada:
 CLAYTON, H.M.; BACK, W. (2001). Equine Locomotion. Eds. Saunders, UK.
 CLAYTON. H.M. (2009). The dynamic horse, Eds. Sport Horse Publications,
USA.
 DENOIX, J-M; PAILLOUX, J-P (1997). Physical therapy and massage for the
horse. Eds. Trafalgar Square, UK.
 HEUSCHMANN, G. (2008). Tug of war: “Modern” versus classical dressage.
Eds. J. A. Allen, UK.
 NICHOLSON, N. (2006). Biomechanical riding & dressage: a rider’s atlas.
Eds. Zip Publishing, USA.
 WOLFRAMM, I. (2013). The Science of Equestrian Sports: Theory, Practice
and Performance of the Equestrian Rider. Eds. Routledge, 208 pp.

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