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ANATOMIA DO APARELHO LOCOMOTOR

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SUMÁRIO
NOSSA HISTÓRIA ................................................................................................................................ 2
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 3
2. A BIOMECÂNICA DO ESPORTE: A CONSTANTE BUSCA PELA SUPERAÇÃO DOS LIMITES DO
HOMEM ............................................................................................................................................. 9
3. A BIOMECÂNICA EM EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE - BIOMECÂNICA DO MOVIMENTO HUMANO:
BUSCANDO SOLUÇÕES PARA PROMOVER A QUALIDADE DE VIDA .....................................................10
4. MÉTODOS DE MEDIÇÃO ............................................................................................................20
4.1 Classificação dos Métodos de Medição ..............................................................................21

5. A CINEMETRIA ...........................................................................................................................24
6. A DINAMOMETRIA ....................................................................................................................27
7. CONSIDERAÇÕES SOBRE MODELOS NA DETERMINAÇÃO DE FORÇAS INTERNAS ........................29
8. SOBRE A APLICAÇÃO PRÁTICA - BIOMECÂNICA DA LOCOMOÇÃO HUMANA ..............................33
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................46

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em


atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com
isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível
superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no
desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de
promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem
patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras
normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e


eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética.
Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de
cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do
serviço oferecido.

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1. INTRODUÇÃO

Fundamentos metodológicos da avaliação biomecânica do movimento humano


antes que se possa considerar a possibilidade da Biomecânica influenciar a execução
dos programas de atividade física voltados à promoção da saúde e da otimização do
rendimento esportivo, torna-se indispensável caracterizá-la.
O objetivo central da Biomecânica é o estudo do movimento humano. Ainda
que esse seja um objetivo comum a muitas áreas que compõem o corpo de
conhecimento da Educação Física e do Esporte, a Biomecânica procede sua análise
a partir de um prisma particular: o das leis da Física.
Mais do que simplesmente aplicar as leis da Física, a Biomecânica leva ainda
em consideração as características do aparelho locomotor. Para tanto, além da Física
e da Matemática, enquanto disciplinas que fundamentam e suportam a análise do
movimento humano, a Biomecânica ainda se utiliza dos conhecimentos da Anatomia
e da Fisiologia, disciplinas que delimitam as características estruturais e funcionais do
aparelho locomotor humano.
Configura-se desta forma, uma disciplina com forte característica
multidisciplinar, cuja meta central é a analise dos parâmetros físicos do movimento,
em função das características anatômicas e fisiológicas do corpo humano.
A análise biomecânica do movimento humano é operacionalizada a partir da
adoção daquelas que são reconhecidas como as suas quatro grandes áreas de
investigação: a cinemetria, a dinamometria, a eletromiografia e a antropometria
(AMADIO, LOBO DA COSTA, SACCO, SERRÃO, ARAÚJO, MOCHIZUKI & DUARTE,
1999).
A cinemetria objetiva a determinação da posição, do deslocamento, da
velocidade e da aceleração, enquanto descritores das características cinemáticas dos
segmentos e do próprio corpo humano. Tais parâmetros podem ser mensurados por
intermédio de câmeras de vídeo, de sistemas opto-eletrônicos, de acelerômetros, ou
dos eletrogoniômetros (DAINTY & NORMAN, 1987).
A dinamometria é a área de investigação da Biomecânica cujo objetivo central
é a determinação das forças que produzem o movimento. Em função de restrições
metodológicas, a dinamometria se ocupa basicamente da medição das forças de
origem externa, sendo as plataformas de força os instrumentos mais utilizados para

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mensurar aquela que é uma das mais importantes forças externas, a Força de Reação
do Solo (FRS).
Tal força age sobre o corpo humano durante a fase de contato com o solo,
conforme regência básica das leis de movimento de Newton. As restrições quanto às
medições de forças internas não são causadas por limitações instrumentais, e sim
pelo caráter invasivo que o procedimento implica. São raros na literatura os relatos de
medições de forças internas.
Destacam-se os trabalhos clássicos de GREGOR, KOMI e JÄRVISEN (1987)
e KOMI, SALOMEN, JÄRVISEN e KOKKO (1987), que através de procedimento
cirúrgico implantaram um transdutor de força do tipo “strain-gauge” almejando a
mensuração das forças transmitidas ao tendão de Aquiles durante a realização de
alguns movimentos selecionados.
As dificuldades na adaptação do transdutor ao tendão, em sua inserção
cirúrgica, na sua calibração, e o consequente efeito retroativo gerado pelo
procedimento experimental, caracterizam de forma exemplar as dificuldades de
mensuração das forças internas. Entretanto, o desenvolvimento de técnicas e
instrumentos menos invasivos, como os procedimentos baseados no uso de fibra ótica
(KOMI, 1995), tendem a tornar a medição das forças internas um procedimento mais
exequível.
Apesar das dificuldades metodológicas a medição das forças internas continua
a representar uma alternativa metodológica viável, como evidencia o estudo de
WILKE, NEEF, CAIMI, HOOGLAND e CLAES (1999), cujo objetivo central era a
determinação das forças de compressão aplicadas a coluna durante movimentos
selecionados.
O caráter invasivo do procedimento tem estimulado a adoção de procedimentos
voltados à determinação indireta das forças internas. A partir da adoção de um modelo
físico-matemático do aparelho locomotor, associado à mensuração de parâmetros
cinemáticos, dinâmicos e antropométricos procede-se o cálculo dessas forças por
intermédio do método denominado dinâmica inversa. Entretanto, deve-se considerar
que a formulação dos modelos físico-matemáticos não representa uma tarefa fácil.
Enquanto simplificação esquemática do aparelho locomotor, voltada ao
controle da indeterminação matemática, tais modelos ainda não permitem que a
estrutura biológica seja representada em toda a sua complexidade (AMADIO, 2000a).

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A eletromiografia estuda a atividade dos músculos a partir da captação dos
eventos elétricos vinculados à contração muscular. Por permitir a interpretação de
parâmetros de natureza interna, a eletromiografia assume importante papel na
determinação dos mecanismos de controle do sistema nervoso (DE LUCA, 1997).
A captação do sinal pode ser feita por intermédio de eletrodos de superfície,
quando o músculo a ser estudado apresenta seu ventre na superfície do corpo, ou por
intermédio de eletrodos de fio ou agulha, quando ele se localiza abaixo de outros
tecidos.
Um exemplo dos procedimentos adotados na eletromiografia intramuscular ou
profunda pode ser observado no estudo de BOJADSEN, MOCHIZUKI, SERRÃO,
MOTA e AMADIO (2001), dedicado à análise da atividade dos m. multífidos,
grupamento paravertebral que possui porções profundas, durante a marcha.
A antropometria descreve, a partir de técnicas experimentais e ou analíticas, as
características físicas dos segmentos corporais (AMADIO, 1989; BAUMANN, 1995).
Além de fornecer subsídios para a formulação dos modelos físico-matemáticos
destinados à determinação das forças internas, através dos procedimentos da
dinâmica inversa, ela desempenha papel decisivo na determinação das características
físicas do aparelho locomotor, como a massa, o peso, o centro de massa e de
gravidade.
Tais informações assumem destacada importância na interpretação do
movimento humano é bastante antiga.
Obras clássicas de pensadores como Aristóteles evidenciam que o interesse
do homem em analisar o movimento, a partir de preceitos físicos, é antiquíssimo.
Interesse esse que se aprofundou durante os séculos seguintes, como demonstram
os estudos clássicos de Borelli (século XVI) e Marey (século XIX), e que continua em
curso até os dias atuais (ARTWATER, 1980).
Entretanto, apesar de o estudo do movimento ser antigo, a consolidação da
Biomecânica como uma ciência e, posteriormente, como uma disciplina acadêmica é
bastante recente (AMADIO & SERRÃO, 2004).
Por conseguinte, a história da Biomecânica no Brasil começou a ser escrita há
poucos anos. Esta trajetória foi fortemente influenciada pelo apoio que algumas
instituições de ensino superior brasileiras receberam do governo alemão. Um dos
marcos históricos desta relação deu-se em 1965, ano em que foi concretizado o

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convênio cultural entre o Brasil e a República Federal da Alemanha para a introdução
da Biomecânica nos cursos de Educação Física no Brasil (DIEM, 1983).
Como uma das ações previstas nesse convênio, no ano de 1976, o professor
Hartmut Riehle ministrou cursos na Escola de Educação Física da Universidade de
São Paulo e na Universidade Federal de Santa Maria, com o intuito de fomentar o
desenvolvimento dá área, e estabelecer as bases para o curso de formação de
especialistas em Biomecânica.
Ainda como parte das atividades do acordo cultural, em 1979 o Prof. Dr.
Wolfgang Baumann, então chefe do InstitutfürBiomechanik da Deutsche
SporthocachuleKöln da Alemanha, veio ao Brasil com o objetivo de visitar
Universidades estaduais e federais da região sudeste e sul, com o propósito de Breve
histórico da Biomecânica diagnosticar sua situação e avaliar a possibilidade de
desenvolvimento de projetos de pesquisa na área de Biomecânica, bem como prover
orientação especializada para construção ou ampliação de laboratórios e
departamentos que pudessem desenvolver estudos científicos na área (DIEM, 1983).
A partir do impulso oferecido pelo convênio Brasil-Alemanha, observou-se um
expressivo aumento no número de pesquisadores dedicados ao estudo das questões
biomecânicas.
Tal condição levou a Biomecânica a se expandir para além do espaço
disciplinar da Educação Física e do Esporte, gerando importantes relações
multidisciplinares.
Como evidência dessa expansão deve-se citar a estruturação dos primeiros
encontros científicos brasileiros destinados à discussão da Biomecânica. Merece
destaque, por se tratar do primeiro evento acadêmico da biomecânica brasileira, a
realização do “I Encontro Nacional de Docentes de Cinesiologia e Biomecânica”,
ocorrido em 1988, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Em sua terceira edição, no ano de 1991, o encontro passou a ser nomeado
“Congresso Nacional de Biomecânica”. Foi durante a quarta edição deste evento,
realizada em dezembro de 1992, que foi fundada, em Assembleia Geral, a Sociedade
Brasileira de Biomecânica (SBB).
A partir do quinto encontro, realizado no ano de 1993, o Congresso Nacional
de Biomecânica passou a ser denominado “Congresso Brasileiro de Biomecânica”
(CBB).

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Desde então o CBB é realizado bienalmente, sob a tutela da SBB. Em estudo
que analisou o impacto das publicações do CBB para o desenvolvimento do meio
acadêmico-científico, MOCHIZUKI, FRANCIULLI, BIONGIARI, ARAÚJO, SERRÃO e
AMADIO (2005) demonstraram que o aumento de movimento humano, bem como nas
ações voltadas ao desenvolvimento de equipamentos auxiliares para a execução dos
movimentos, como é o caso das mochilas e dos calçados.
A partir da utilização de um destes procedimentos, ou da combinação deles,
estratégia essa muito frequente em função da característica complexidade do
movimento humano, torna-se possível cumprir aquela que é a meta central da
Biomecânica: a análise física do movimento humano.
Resta, no entanto, definir quais são os objetivos finais, ou metas específicas de
tal análise.
Figura como uma das mais importantes metas específicas da Biomecânica, a
identificação e a caracterização de parâmetros mecânicos cuja implementação
permita que o movimento seja realizado da forma mais adequada e mais segura.
Otimizar a execução de um movimento, permitindo a sua mais ampla
possibilidade de expressão, sem que isto acabe por lesionar as estruturas que
compõem o aparelho locomotor é condição indispensável para a realização de todas
as manifestações do movimento humano, desde os movimentos cotidianos, como a
marcha, até os mais elaborados, como é o caso dos gestos esportivos.
Trabalhos publicados nos Anais do CBB ao longo de seus encontros foi
acompanhado pelo aumento no número de citações de trabalhos do evento, sugerindo
a importância dos Anais na divulgação científica da Biomecânica do Brasil.
A SBB foi criada com o objetivo de abrigar àqueles que possuíssem interesse
pela área, assumindo a função de representante oficial da comunidade que atua nesse
campo, respondendo pelo desenvolvimento da Biomecânica (AMADIO, 1992).
A SBB é uma sociedade civil de direito privado, sem fins lucrativos, que tem por
objetivo reunir os profissionais da biomecânica e ciências afins no território brasileiro,
com as seguintes finalidades: promover e apoiar o aperfeiçoamento técnico e
científico desses profissionais; estimular a criação de centros de pós-graduação
através da colaboração com universidades e instituições de pesquisa; manter
vinculação com entidades do país e do exterior, agindo como representante oficial da
biomecânica brasileira; zelar pelos aspectos éticos do exercício da biomecânica; e
organizar a realização do CBB e de outros eventos científicos, promovendo a

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divulgação de conhecimentos sobre a área. Atualmente, a Revista Brasileira de
Biomecânica - BrazilianJournalofBiomechanics (RBB) representa o órgão oficial de
divulgação científica da SBB.
Antes do seu lançamento, em novembro de 2000, os anais do CBB
representavam o único meio de divulgação científica destinada exclusivamente à
Biomecânica existente no Brasil.
Desde o seu lançamento, a RBB atua como o órgão de divulgação científica
oficial da SBB. Essa iniciativa teve o propósito de dotar a comunidade de um veículo
de referência aos serviços, laboratórios e grupos de pesquisa (AMADIO, 2000b).

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2. A BIOMECÂNICA DO ESPORTE: A CONSTANTE BUSCA PELA
SUPERAÇÃO DOS LIMITES DO HOMEM

Saltar mais alto ou mais longe, correr a maior distância ou fazê-lo no menor
tempo possível, converter o maior número de pontos. Qualquer que seja a modalidade
esportiva, o objetivo central é sempre o mesmo: superar os limites do homem.
Embora a otimização do rendimento esportivo seja fruto da combinação de
fatores tão diversos como os genéticos e os sócio-afetivos, é inegável que a obtenção
do máximo rendimento depende em grande monta da elaboração de estratégias de
treinamento capazes de potencializar as capacidades e habilidades envolvidas no
desempenho da modalidade.
Associada a outras disciplinas, a Biomecânica é uma ferramenta indispensável
na determinação dos fundamentos capazes de embasar o planejamento e a aplicação
de um programa do treinamento esportivo.
Com vistas a exemplificar tal possibilidade, tome-se o exemplo do estudo de
BRENNECKE, GUIMARÃES, GAILEY, LEONI, CARDACI, OLIVEIRA, MOCHIZUKI,
AMADIO e SERRÃO (2009), cujo objetivo central foi investigar, por meio da
Eletromiografia, a efetividade de um método de treinamento de força bastante popular:
a pré-exaustão. Tal estratégia de treinamento preconiza que os exercícios
multiarticulares devam ser precedidos, sem intervalos de descanso, por exercícios
mono-articulares, objetivando a potencialização do trabalho dos músculos agonistas.
Com vistas a analisar a efetividade deste método de treinamento, os autores
determinaram parâmetros temporais e de intensidade da ativação muscular, utilizando
os exercícios supino (multiarticular) e o crucifixo (monoarticular).
A intensidade de ativação muscular do peitoral maior e do deltóide anterior não
foi significativamente diferente quando da adoção do protocolo de pré-exaustão,
contrariando a premissa básica que fundamenta este método de treinamento.
Curiosamente, o tríceps braquial apresentou maior intensidade de ativação
quando da aplicação do método de pré-exaustão.
Os autores concluem que o método de pré-exaustão pode ser eficiente para
impor maior estímulo neural sobre pequenos grupos acessórios na execução de um
movimento e não sobre o grupo principal.
Dados como este, são de fundamental importância para colaborar no
julgamento da validade de métodos tradicionalmente utilizados no treinamento. A

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identificação das características mecânicas do gesto esportivo pode ser considerada
outra grande contribuição da Biomecânica.
Bom exemplo desta contribuição pode ser observado no estudo de BRAGA
NETO (2008), que a partir da utilização de procedimentos da dinamometria, da
cinemetria e Perspectivas da aplicação dos conhecimentos de natureza biomecânica
para a prática profissional na Educação Física e no Esporte.

3. A BIOMECÂNICA EM EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE - BIOMECÂNICA


DO MOVIMENTO HUMANO: BUSCANDO SOLUÇÕES PARA PROMOVER
A QUALIDADE DE VIDA

A forte relação da Biomecânica com o Esporte pode levar a enganosa ideia de


que, dentre as diversas formas de expressão do movimento humano, as ações
esportivas são as que mais despertam o interesse da Biomecânica. Embora a relação
seja forte, ela não é exclusiva.
A própria história da Biomecânica evidencia de forma clara e inequívoca, que
seus interesses são muito mais amplos.
A investigação de parâmetros relacionados à locomoção humana, um dos
tópicos mais estudados na Biomecânica, é evidencia do fato. Tome-se como exemplo
o estudo da locomoção humana, um dos objetos de estudo que mais tem recebido
atenção na Biomecânica.
Das primeiras considerações de Aristóteles, da Vinci, Borelli, passando pelos
clássicos estudos dos irmãos Weber, Marey, Braune & Fischer e Muybridge, até os
estudos contemporâneos que se beneficiam dos recentes progressos nos processos
de aquisição e processamento do sinal biológico, a locomoção sempre foi foco de
atenção dos estudos biomecânicos (CAPOZZO, MARCHETTI & TOSI, 1992).
Esta que é uma das formas mais elementares do movimento humano, de cuja
realização depende a maioria das ações motoras humanas, é um bom exemplo do
interesse da Biomecânica pelo estudo dos movimentos cotidianos. Historicamente, a
preocupação da eletromiografia, analisou as características biomecânicas de dois dos
mais utilizados movimentos do tênis: o “forehand” e o “backhand”. Em função do
posicionamento dos pés, o “forehand” pode ser realizado de duas formas distintas:

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“forehand open stance” (FOS) e “forehandsquarestance” (FSS). Dados da literatura
especializada apontam que o posicionamento dos pés pode ser determinante no
desempenho do tenista.
O “backhand” pode ser executado, em função do posicionamento das mãos na
raquete, com uma (BK1) ou com duas mãos (BK2). Os resultados obtidos pelo autor
apontam a ocorrência de uma maior ativação muscular para as técnicas FOS e BK2.
Entretanto, durante a fase pré-impacto, os maiores valores de ativação
muscular foram observados quando da utilização do FSS e BK1.
Dados como os apresentados por BRAGA NETO (2008) exemplificam como a
Biomecânica pode estabelecer uma significativa contribuição para a avaliação da
influência da técnica de movimento no desempenho esportivo. com a análise do
movimento humano sempre esteve atrelada à necessidade de entender os
mecanismos que regulam e controlam o movimento, como forma de buscar sua
otimização. Como exemplo desta preocupação, considere-se o clássico estudo sobre
a influência da postura na compressão dos discos intervertebrais realizado por
NACHEMSON e ELFSTRÖM (1970).
O estudo conduzido por estes autores apontou que a compressão discal
aumenta sobremaneira na posição sentada, quando comparada à posição em pé.
Em função da projeção ântero-posterior do centro de gravidade do corpo,
aumenta-se o torque resistente aplicado à coluna, que por sua vez gera necessidade
de aumentar a força produzida pelos músculos responsáveis pela estabilização da
coluna, levando também ao aumento do torque potente.
Sob efeito do aumento dos torques potente e resistente, os discos
intervertebrais acabam sendo alvos de considerável sobrecarga mecânica. A partir de
resultados como os de NACHEMSON e ELFSTRÖM (1970), pode-se entender a
razão pela qual as lombalgias representam uma das mais importantes causas de
afastamento do trabalho (SODERBERG, 1986).
Evitá-las, permitindo que o sujeito possa trabalhar de forma confortável,
condição fundamental ao bom desempenho de suas tarefas, torna-se possível a partir
de adoção de estratégias bastante simples, como a introdução de pausas regulares
durante a jornada de trabalho.
Pausas que permitam alternar períodos na posição sentada, quando o estresse
mecânico imposto à coluna é maior, com pequenos intervalos em pé, quando o
estresse sofre considerável redução.

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Tal condição configura um bom exemplo de como é possível, a partir dos
conhecimentos oriundos da Biomecânica, otimizar a realização de um movimento
extremamente rotineiro, como trabalhar em posição sentada.
Considerando que o movimento laboral é uma das mais importantes formas de
movimento, visto o tempo despendido em sua execução, continuemos a utilizá-lo
como exemplo da importância da Biomecânica na otimização do movimento cotidiano.
Dentro desse contexto, ANDERSON, ÖRTENGREN, NACHEMSON e
ELFSTRÖM (1974), estudaram a inclinação da cadeira como fator de interferência no
estresse imposto à coluna vertebral.
Após calcular o estresse gerados por diferentes inclinações do encosto, os
autores concluíram ser possível reduzir sensivelmente a sobrecarga aplicada à coluna
a partir da adoção de uma inclinação de 120°, associada a presença de uma estrutura
capaz de apoiar a coluna lombar.
O estudo da influência do mobiliário e dos materiais de trabalho é um claro
exemplo de cada vez mais intensa de popularizar o exercício físico, além dos
conhecidos benefícios para a promoção e manutenção da saúde, tem também
ocasionado uma indesejável consequência: o aumento das lesões.
A somatória das cargas geradas pelo movimento é apontada por muitos autores
como a causa mais provável das lesões degenerativas que acometem o aparelho
locomotor (WINTER & BISHOP, 1992).
Ainda que não seja possível, à luz do atual estágio de desenvolvimento dos
procedimentos de medição e análise do sinal biológico, determinar os reais limites de
tolerância do aparelho locomotor, informações acerca das solicitações mecânicas
geradas pela somatória das forças aplicadas ao aparelho locomotor podem ser de
extrema utilidade para os profissionais da Educação Física e do Esporte.
Tome-se como exemplo as medições da intensidade das cargas externas, por
intermédio da determinação da Força de Reação do Cargas mecânicas geradas pelo
movimento humano e as lesões como a Biomecânica pode influenciar de forma
decisiva a realização dos movimentos empregados em nossa rotina.
Identificar a forma mais adequada e segura de realizar as atividades cotidianas
é o primeiro passo rumo a promoção de saúde. Além da possibilidade de realizar de
maneira confortável e segura as atividades cotidianas, a manutenção e a promoção
da saúde ainda dependem da prática regular e sistematizada de alguma forma de
atividade física.

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Dentre as diferentes expressões do movimento disponíveis para este fim, a
caminhada, em função da sua popularidade, merece especial destaque. Por além de
ser um meio de locomoção, a caminhada figura atualmente como uma das mais
populares formas de condicionamento físico, sendo largamente praticada por pessoas
de diferentes idades e níveis de aptidão física. Ainda que represente uma das
expressões mais elementares do movimento humano, trata-se de um movimento de
característica complexidade.
As dificuldades enfrentadas por uma criança até que adquira um padrão
maduro de marcha e os problemas sofridos por aqueles que, expostos a uma lesão
traumática não mais conseguem manter tal padrão, representam exemplos muito
concretos de tal complexidade.
Complexidade que, retratada pela análise de parâmetros mecânicos, pode
fornecer importantes subsídios, não somente para a caracterização de uma das mais
importantes expressões do movimento humano, como também para o entendimento
dos mecanismos de controle e gerenciamento desta importante forma de
condicionamento físico.
Desta forma, a análise das características biomecânicas da locomoção nos
diferentes estágios da vida: a infância (LOBO DA COSTA, 2000), a idade adulta
(BRUNIERA, 1994), e a terceira idade (SERRÃO & AMADIO, 1994), subsidiam, por
além do entendimento dos mecanismos envolvidos no gerenciamento mecânico do
movimento humano, a estruturação de programas de intervenção destinados a estes
grupos.
A importância dos parâmetros biomecânicos no planejamento de programas de
atividade física também pode ser exemplificada por intermédio dos estudos que
focaram a análise do comportamento biomecânico do movimento de grupos que
demandam atenção especial como os portadores de doenças neurológicas (PINHO,
FONSECA, OLIVEIRA, VILLASBOAS, SERRÃO, AMADIO & SOUSA, 2008), os
diabéticos neuropatas (SACCO & AMADIO, 2003), os amputados (CERQUEIRA
SOARES, 2005), os portadores de pé torto congênito (SOARES, 2007), e os
indivíduos que sofreram lesão ligamentar (MOTA, AMADIO, HERNANDEZ &
DUARTE, 2002; LIMA, 2006).
Qualquer programa para estes grupos não pode ser levado a termo sem que
se considere as características biomecânicas dos movimentos do grupo a que se
destina.

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Vale lembrar que para pessoas que compõem estes grupos especiais, a prática
do exercício físico é condição indispensável à manutenção de sua qualidade vida, fato
que reforça a necessidade da elaboração de um programa extremamente bem
adaptado às características biomecânicas de seus movimentos. Importante observar
que os mesmos subsídios biomecânicos que respaldam a elaboração de estratégias
voltadas à maximização do rendimento esportivo, são igualmente úteis no
planejamento e implementação de atividades voltadas à promoção da saúde.
A análise da contribuição dos músculos do membro inferior no controle da
sobrecarga e na geração da energia mecânica (HAMNER, SETH & DELP, 2010) pode
bem exemplificar tal condição. Da mesma forma como tais informações são úteis na
elaboração de um programa de treinamento para um atleta que utiliza a corrida
durante o desempenho de suas atividades esportivas, elas o são quando a corrida é
utilizada como estratégia para desenvolver as capacidades físicas necessárias à
promoção da saúde.
Diante do exposto torna-se evidente a necessidade de considerar as
características biomecânicas dos movimentos a serem utilizados num programa cuja
objetivo é a promoção da saúde, de modo de adequá-lo às características e
necessidades do grupo a que se destina.
A partir do conhecimento destes dados, um profissional da área interessado em
analisar o estresse mecânico gerado por uma atividade como a corrida, pode
comparar a magnitude máxima da FRS gerada nessa condição, que atinge valores
médios equivalentes a 2,3x PC para uma velocidade de deslocamento de 5 m/s
(MUNRO, MILLER & FUGLEVAND, 1987), a valores referências como os da marcha
e do salto.
Tal comparação revelaria que as cargas externas (1,2 vezes o peso corporal
do executante) impostas ao aparelho locomotor durante a realização da corrida, estão
muito próximas da marcha, e bastante distantes das cargas produzidas nos saltos
atléticos (AMADIO, 1989; BRUNIERA, 1994; RAB, 1994; WINTER, 1990).
Em função dessa hierarquização de valores, seria procedente afirmar que o
estresse gerado pela corrida enquadra-se num espectro que oscila entre a baixa e a
moderada solicitação mecânica, configurando, portanto, uma situação compatível
com os limites de tolerância do aparelho locomotor.
Ainda que seja possível hierarquizar as forças externas geradas pelas
diferentes formas de movimento humano, como uma das estratégias de interpretação

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da sobrecarga mecânica, deve-se considerar que a sobrecarga é um parâmetro de
natureza acentuadamente complexa, e como tal requer a determinação de outros
indicadores, especialmente os de natureza interna.
Desta forma, embora os dados disponíveis não sejam tão numerosos como o
são para as forças externas, considerações acerca da sobrecarga dependem da
determinação não somente das forças externas, como também das internas. Tome-
se como exemplo, os momentos líquidos calculados para a articulação do joelho em
algumas formas de movimento.
A mesma hierarquização estabelecida durante a análise das forças externas,
pode agora ser procedida à luz das forças internas. Seja em função da análise das
forças externas ou das forças internas, torna-se imperativo, conhecer a magnitude das
cargas impostas ao aparelho locomotor durante a realização do movimento.
Desconsiderá-la durante o planejamento de um programa de atividade física ou
de treinamento esportivo poderia gerar condições potencialmente propicias ao
surgimento das lesões do aparelho locomotor.
Em função de sua potencial capacidade de causar lesões no aparelho
locomotor, muitos poderiam razoar que melhor seria afastar-se da prática sistemática
da atividade física. Escolha perigosa. Tão nociva quanto a sobrecarga gerada pela
execução de uma atividade mal planejada e ou implementada é a sua ausência.
Assim como a sobrecarga mecânica é capaz de causar lesões, a ausência ou
aplicação insuficiente de cargas mecânicas é capaz de debilitar de forma significativa
o desempenho mecânico de importantes estruturas do aparelho locomotor como os
ossos (BERGMANN, BODY, BOONEN, BOUTSEN, DEVOGELAER, GOEMAERE,
KAUFMAN, REGINSTER & ROZENBERG, 2011), as articulações (MAGNUSSON,
LANGBERG & KJAER, 2010; VAILAS, TIPTON, MATTHES & GART, 1981; VAILAS,
ZERNICKE, MATSUDA, CURWIN & DURIVAGE, 1986), e os músculos (AAGAARD,
SUETTA, CASEROTTI, MAGNUSSON & KJAER, 2010).
A debilidade funcional de tais estruturas terá como consequência imediata a
restrição das possibilidades de movimentação do indivíduo, limitando severamente
sua possibilidade de executar exercícios físicos e até mesmo, em condições extremas,
inviabilizando a realização de movimentos necessários à manutenção de suas
atividades diárias.

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Portanto, as cargas mecânicas geradas pelo movimento humano devem ser
encaradas como um estímulo necessário ao desenvolvimento e manutenção das
estruturas biológicas que dão suporte ao movimento humano.
E como tal, devem ser cuidadosamente controladas para que não atinjam
magnitudes excessivas a ponto de causar lesões nas estruturas biológicas, tampouco
sejam insuficientes a ponto de impedir a manutenção ou desenvolvimento de suas
funções.
A partir destas breves considerações, pode-se evidenciar que o planejamento
de um programa de atividades físicas e ou esportivas, independente do objetivo ou do
público ao qual se destina, deve necessariamente levar em consideração a somatória
das forças geradas pelos movimentos a serem utilizados, bem como as possíveis
estratégias para minimizá-la.
Para tanto, deve-se somar a já bem enraizada preocupação com o estresse
fisiológico gerado exercício físico, a preocupação como estresse mecânico por ele
gerado. Indubitavelmente, um programa construído a partir de sólidas bases da
Biomecânica tem mais chance de lograr êxito do que outro que, desconsiderando tais
fatores, baseia-se apenas em aspectos subjetivos
Biomecânica é uma disciplina entre as ciências derivadas das ciências naturais,
que se ocupa com análises físicas de sistemas biológicos, consequentemente,
análises físicas de movimentos do corpo humano.
Quando dimensionamos a biomecânica no contexto das ciências derivadas,
cujo objetivo é estudar o movimento, devemos lembrar que esta reivindicação
científica se apoia em dois fatos fundamentais:
(a) a biomecânica apresenta claramente definido seu objeto de estudo,
definindo assim sua estrutura de base do conhecimento; e
(b) seus resultados de investigações são obtidos através do uso de métodos
científicos próprios, envolvendo todas as etapas do trabalho científico. Naturalmente
estes aspectos são amplamente dinâmicos e não devem sofrer soluções de
continuidade em função do tempo, admitindo avanços científicos que colaboram para
o crescimento da própria biomecânica.
Assim, é muito importante dizermos que não é suficiente a matéria de estudo
estar definida, mas também é necessário que existam métodos de estudo próprios
para que sejam aplicados na investigação do movimento.

16
O atual desenvolvimento da biomecânica é expresso pelos novos
procedimentos e técnicas de investigação, nas quais podemos reconhecer a
tendência crescente de se combinar várias disciplinas científicas na análise do
movimento.
Nos últimos anos o progresso das técnicas de medição, armazenamento e
processamento de dados contribuiu enormemente para a análise do movimento.
É claro que nenhuma disciplina se desenvolve por si mesma; para a sua
formação, a biomecânica recorre a um complexo de disciplinas científicas, e,
particularmente na biomecânica pode-se observar uma estreita relação entre as
necessidades e exigências da prática do movimento humano.
Em princípio deve-se considerar que a estrutura funcional de um sistema
biológico passou por um processo organizacional evolutivo de otimização, que se
diferencia sensivelmente do caminho de aperfeiçoamento técnico do movimento.
Em contraposição a um corpo rígido, a estrutura biológica do corpo humano
permite a produção de força através da contração muscular, que transforma o corpo
num sistema independente e assim acontece o movimento.
O corpo humano, portanto, pode ser definido fisicamente como um complexo
sistema de segmentos articulados em equilíbrio estático ou dinâmico, onde o
movimento é causado por forças internas atuando fora do eixo articular, provocando
deslocamentos angulares dos segmentos, e por forças externas ao corpo.
Desta maneira definimos que a ciência que descreve, analisa e modela os
sistemas biológicos é chamada Biomecânica, logo uma ciência altamente
interdisciplinar dada a natureza do fenômeno investigado.
Assim, a Biomecânica do movimento busca explicar como as formas de
movimento dos corpos de seres vivos acontece na natureza a partir de parâmetros
cinemáticos e dinâmicos.
Conhecimentos científicos, portanto, possibilitam o desenvolvimento de
métodos para o estudo de fenômenos naturais, indispensáveis para a compreensão
dos parâmetros que compõem o universo do movimento humano.
A biomecânica interna investiga as forças que têm sua origem dentro do corpo
e que na maioria dos casos pressupõem conhecimento da biomecânica externa.
Portanto com relação a aplicação da biomecânica para análise e investigação de
movimentos do corpo humano e consequentemente do movimento esportivo,

17
poderíamos apresentar a biomecânica subdividida em duas áreas de estudo:
Biomecânica interna e Biomecânica externa.
Gutewortdiscute ainda sobre o estágio científico empírico-indutivo primário, em
que a biomecânica se fundamenta, isto devido ao fato de que nem todas as condições
do processo de movimento são conhecidas e, assim sendo, não podem ser
experimentalmente denominadas.
Por esse motivo, os processos teórico-dedutivos devem ser mais desenvolvidos
e aplicados do que até o momento.
Segundo critérios teórico-metodológicos ou até segundo outros critérios
empíricos, a classificação dos movimentos caracteriza o próprio desenvolvimento
dessa ciência.
Quando nos referimos ao movimento esportivo, como objeto de estudo nesta
relação das dependências múltiplas de fenômenos para a sua interpretação, devemos
salientar que isto ocorre em função da natureza complexa dos multielementos que
interferem na sua composição e, consequentemente, influenciam no comportamento
e rendimento deste mesmo movimento. Procura-se definir através de métodos e
princípios biomecânicos os parâmetros que caracterizam a estrutura técnica
fundamental do movimento humano.
Na área de análise do movimento esportivo, o comportamento da sobrecarga
articular e os efeitos dos mecanismos motores no processo de aprendizagem são
exemplos de áreas do conhecimento, que se relacionam com a diagnose no esporte.
Portanto referimo-nos ainda a uma biomecânica do esporte que se dedica ao
estudo do corpo humano e do movimento esportivo em relação as leis e princípios
físico-mecânicos incluindo os conhecimentos anatômicos e fisiológicos do corpo
humano.
No sentido mais amplo de sua aplicação, ainda é tarefa da biomecânica das
atividades esportivas a caracterização e otimização das técnicas de movimento
através de conhecimentos científicos que delimitam a área de atuação da ciência, que
tem no movimento esportivo seu objeto de estudo, considerando-se ainda que a
biomecânica do esporte integra outras áreas da ciência que, possuem igualmente no
movimento esportivo, a definição do seu objeto de estudo.
O relacionamento entre os parâmetros estruturais do movimento faz-se
presente, na prática, através da real interdependência entre os dois parâmetros
(qualitativo e quantitativo), dada a natureza da tarefa de movimento a ser realizada.

18
Assim sendo, encontramos distintos tipos de relacionamento com participação
de maior ou menor grau dos parâmetros estruturais para cada tarefa de movimento.
Quanto maior a interdependência tanto mais avançado é o processo de
especialização e maturidade do movimento. Muito raramente poderíamos encontrar
tarefas de movimento de interesse de estudo onde não existisse interdependência
alguma entre estes parâmetros estruturais do movimento. Portanto, quanto maior a
interdependência, tanto maior é a possibilidade de entendermos a estrutura de
movimento na sua concepção mais complexa para a análise.
No processo de investigação do movimento em biomecânica, busca-se a
definição de um método para a orientação da análise experimental, procedimento este
que poderá envolver uma ou um conjunto de técnicas que permitirão o esclarecimento
de problemas na estrutura da investigação e assim o primeiro passo é o
estabelecimento de objetivos para o desenvolvimento da análise do movimento
humano.
Outro aspecto muito importante em estudos biomecânicos é o desenvolvimento
de uma ampla base de dados relativa a informações acerca do movimento humano.
A possibilidade de intensificar as interpretações estatísticas de modelos
biomecânicos depende, em primeiro lugar, da expansão dos parâmetros e variáveis
do movimento, que devemos buscar através de estudos experimentais e demais
registros sobre informações de testes em biomecânica.
Através da biomecânica e de suas áreas de conhecimento correlatas podemos
analisar as causas e fenômenos do movimento. Para que possamos entender melhor
a complexidade do movimento humano e explicarmos suas causas, é necessário que
outros aspectos da análise multidisciplinar sejam também considerados.
A biomecânica é encarada como uma ciência multidisciplinar, levando-se em
consideração cada disciplina que compõe esse espectro, que investiga o movimento
humano e de outros seres vivos.
Além da biomecânica fazem parte desse campo de estudo e de pesquisa outras
importantes disciplinas como a antropometria, a neurofisiologia, a fisiologia geral, a
bioquímica, o ensino do movimento, a psicologia, a física (mecânica), a matemática,
a eletrônica - instrumentação e processamento de sinais, etc..
Outro aspecto a ser discutido é sobre os limites ou fronteiras entre as disciplinas
científicas e neste sentido observamos ser uma prática de alguma forma artificial, pois
na realidade sempre existem domínios de sobreposição.

19
Este dilema é típico de todas as ciências e ainda pertence a estrutura dinâmica
de progresso no conhecimento científico onde sempre se busca, a partir da
sobreposição, um novo aspecto e ou explicações de fenômenos a partir de problemas
interdisciplinares.

4. MÉTODOS DE MEDIÇÃO

Considerando o movimento humano como o objeto central de estudos em


educação física e esportes, analisamos suas causas e efeitos produzidos em relação
a biomecânica e demais áreas de estudos que compõem esta multidisciplinar
independência no estudo do movimento humano.
Para a investigação deste movimento em biomecânica, torna-se necessário
pela complexidade estrutural do mesmo, a aplicação simultânea de métodos de
mensuração nas diversas áreas do conhecimento da ciência.
A este procedimento denomina-se "Complexa Investigação" do movimento.
Este procedimento deve envolver todos os métodos de pesquisa em biomecânica
determinados pelas variáveis a serem observadas na análise do movimento. Temos,
por exemplo, combinações simultâneas e sincronizadas de procedimentos
cinemáticos e dinâmicos que são comuns e necessários para a interpretação do
movimento.
Todo estudo biomecânico depende da determinação de grandezas mecânicas
(qualitativas ou quantitativas), as quais podem ser interpretadas como propriedades
do corpo humano em análise comportamental ou mesmo entendidas no processo de
desenvolvimento como sendo passível a alterações.
Dessa forma, as técnicas de medição de grandezas físicas aplicadas ao corpo
humano, são essenciais para o estudo tanto na biomecânica externa quanto na
biomecânica interna.
Medir uma grandeza física significa estabelecer uma relação entre esta e uma
grandeza-unidade de mesma natureza.
Metodologicamente no desenvolvimento de um processo de medição
invariavelmente incorremos em erros, que necessitam serem controlados.
Inicialmente, classificamos os erros segundo sua natureza: erro estático (erro de

20
leitura; sensibilidade, reprodutibilidade, etc); e erro dinâmico (considerando-se a
relação entre frequência própria do movimento e frequência de registro).
Outro fator de erro é observado em função de o sistema de medição nem
sempre acompanhar a rápida modificação das grandezas a serem medidas.
Poderíamos ainda interpretar os erros de medida segundo suas causas:
(a) erro sistemático - erros de escala ou função do aparelho (deve-se corrigi-lo
quando conhecido, ou estimá-lo de forma geral, e assim, busca-se a correção do
resultado através da determinação de fatores de correção que permitirá a redução de
tais erros);
(b) erro ocasional - erros imprevistos por erros pessoais na regulagem dos
aparelhos, leitura de escalas, ou ainda alterações na energia, seja voltagem ou
temperatura do ambiente (elimina-se esse erro repetindo a medição e deve-se
mencionar essa incerteza e erro no trabalho);
(c) erro absoluto;
(d) erro relativo.
Padronizar procedimentos de medida em biomecânica torna-se uma tarefa
difícil, pois o processo de coleta, armazenamento e digitação de dados depende muito
dos avanços tecnológicos e de mudanças que têm ocorrido; o que nos impede de
traçar técnicas definitivas.
Mudanças ocorrem no sentido tanto da pesquisa básica do desenvolvimento
de equipamentos e materiais como ainda nas aplicações da biomecânica.

4.1 Classificação dos Métodos de Medição

Genericamente os métodos utilizados em biomecânica podem ser classificados


nas seguintes categorias:
(a) teórico-dedutivos ou determinísticos, baseados somente em leis físicas e
relações matemáticas (relações causais),
(b) empírico-indutivos ou indeterminísticos, baseados em relações estatísticas
(relações formais) e relações experimentais, e ainda
(c) os métodos combinados, que tentam conjugar os dois anteriores, em função
do problema científico a ser tratado.

21
Poderíamos classificar os procedimentos de medição em biomecânica nas
seguintes categorias:
(a) Procedimentos Mecânicos - observações de grandezas por observação
direta e que não se alteram muita rapidamente.
(b) Procedimentos Eletrônicos - grandezas. Mecânicas são transformadas em
elétricas, logo facilita a medição de grandezas que se alteram rapidamente com o
tempo e daí adaptem-se ao processamento de dados, permitindo desta maneira
medições dinâmicas.
(c) Procedimentos Ópticos-eletrônicos (processamento de imagens)
representação óptica e geométrica do objeto a ser analisado.
Neste caso as análises e medições são feitas no modelo, ou seja, são
procedimentos indiretos uma vez que a análise é feita no modelo representado.
Quanto às técnicas de medição em biomecânica poderíamos resumidamente
relacionar os métodos que representam todo o suporte de desenvolvimento e
evolução da ciência particularmente em biomecânica do esporte:
(a) simulação e otimização computacional da técnica de movimento;
(b) comando e controle da técnica de movimento por computação;
(c) análise da sobrecarga do aparelho locomotor. Por sua vez, a Biomecânica
pode ser dividida em Biomecânica interna e externa, dada a grande diferença de sua
abordagem e alvo.
A Biomecânica interna se preocupa com as forças internas, ou seja, forças
transmitidas pelas estruturas biológicas internas do corpo tais como forças
musculares, forças nos tendões, ligamentos, ossos e cartilagem articular.
Elas estão intimamente relacionadas com a execução dos movimentos e com
as cargas mecânicas exercidas pelo aparelho locomotor, representadas pelo stress (o
estímulo mecânico necessário para o desenvolvimento e crescimento das estruturas
do corpo).
O conhecimento destas forças internas tem aplicações como o estudo clínico
da marcha patológica originada por anomalia muscular, transplante de tendão ou
amputação de membros, por exemplo, no aperfeiçoamento da técnica de movimento,
assim como na determinação de cargas excessivas durante as atividades físicas em
esportes de alto nível ou em atividades laborais no cotidiano.

22
A determinação das forças internas dos músculos e das articulações ainda é
um problema não resolvido na biomecânica, mas seguramente constituem-se na base
fundamental para a melhor compreensão de critérios para o controle de movimento.
Este estudo sobre o funcionamento físico de estruturas biológicas tem se
baseado principalmente em medidas experimentais. Pela óbvia dificuldade
metodológica de acessarmos o comportamento biomecânico de estruturas internas
dos sistemas biológicos, a sua parametrização em termos de variáveis biomecânicas
internas se torna extremamente dependente de medições externas ao organismo, ou
seja, observadas exteriormente, ou por equações de estimação.
Com este efeito, a Biomecânica é um ramo de grande interação com áreas
diversas que se aplicam ao estudo do movimento, em especial, o do corpo humano,
como a Educação Física, a Medicina, a Fisioterapia, a Engenharia, a Física, entre
outras áreas.
Por se tratar de uma disciplina com alta dependência de resultados
experimentais, é premente que a biomecânica apresente grande preocupação nos
seus métodos de medição. Somente desta forma é possível buscar medidas e
métodos mais acurados e precisos para modelagem do movimento humano.
Os métodos utilizados pela biomecânica para abordar as diversas formas de
movimento são cinemetria, dinamometria, antropometria e eletromiografia.
Utilizando-se destes métodos, afinal, o movimento pode ser descrito e
modelado matematicamente, permitindo a maior compreensão dos mecanismos
internos reguladores e executores do movimento do corpo humano, como descrito na
figura 1.

Figura 1: Áreas para complexa análise biomecânica do movimento humano segundo


Baumann.

23
5. A CINEMETRIA

Consiste de um conjunto de métodos que busca medir os parâmetros


cinemáticos do movimento, isto é, posição, orientação, velocidade e aceleração.
O instrumento básico para medidas cinemáticas é o baseado em câmeras de
vídeo que registram a imagem do movimento e então através de software específico
calculam as variáveis cinemáticas de interesse.
Relacionamos ainda outras técnicas e métodos para o processamento de
grandezas cinemáticas, entre elas destacamos as técnicas de medição direta,
utilizadas para:
(a) medidas de tempo, utilizando-se de cronômetros para a base de tempo,
(b) medidas de ângulos, utilizando-se de goniômetro para a determinação da
posição de segmentos com origem em eixos articulares,
(c) Medidas de aceleração, utilizando-se de acelerômetros que são
transdutores designados a quantificar a quantidade de movimento pela posição de
uma massa em deslocamento.

24
Ainda através da Fotografia, Cinematografia e Cronofotografia podemos
registrar a imagem para processamento de variáveis cinemáticas. Todos estes
procedimentos necessitam de lentes e outros instrumentos ópticos para garantir a
qualidade da imagem, portanto requerem cuidados com a distância do objeto à lente
e seu comprimento, assim como a regulagem da abertura do foco.
Para a reconstrução de coordenadas do objeto a partir da imagem registrada
necessitamos de modelos onde são necessários além das referências geométricas e
posições relativas das partes do corpo em função do tempo, também precisamos das
informações sobre as dimensões corporais que são obtidos através de dispositivos
classificados nos modelos antropométricos:
Para o processamento da imagem utilizamo-nos de Câmeras, baseada em
películas fotoquímicas ou fotoelétricas e que possuem ainda o recurso de registro de
sequências de sinais elétricos numa base de tempo conhecida além de armazenar o
registro em fitas magnéticas, o que caracteriza a videografia. Assim, genericamente
podemos classificar os sistemas em:
(a) Dispositivos convencionais com avaliação manual - sistemas de câmeras
cinematográficas e fotográficas, onde após a revelação dos filmes, a avaliação é
manual;
(b) Dispositivos eletrônicos com avaliação manual - sistema de vídeo onde uma
camada sensível à luz capta a imagem que é transformada em impulsos elétricos e
suas coordenadas são armazenadas numa placa ou fita magnética;
(c) Dispositivos eletrônicos com avaliação automática - sistema óptico-
eletrônicos onde as coordenadas das imagens são identificadas e digitalizadas
automaticamente e consequente imediata obtenção das coordenadas desejadas.
Os pontos cujas coordenadas são de interesse podem ser marcas ativas como
fontes de luz ou passivas como refletores de luz. Ainda sobre a reconstrução de
imagens com o propósito de recuperar a imagem plana do filme em coordenadas
espaciais, um dos métodos é o DLT (Direct Linear Transformation), que não exige
câmeras métricas (aquelas que possuem os parâmetros de orientação interna
conhecidos).
Parâmetros internos e externos podem ser recuperados analiticamente, ou
seja, as coordenadas (x,y,z) determinam a projeção da câmera, 2 ângulos determinam
a direção das câmeras, 1 ângulo determina a direção de 1 feixe de raios provenientes
de 1 objeto no espaço.

25
Duas câmeras focalizam estes pontos: mínimo de 6 pontos de referência com
coordenadas espaciais conhecidas, não coplanares e devem envolver todo o espaço
a ser ocupado pelo objeto.
Usa-se, portanto, um "sistema de referência espacial" ou calibrador, de
dimensões conhecidas para realizar a calibragem das câmeras, ou seja, através de
rotinas fotogramétricas pode-se corrigir as necessidades de reconstrução para a
determinação das coordenadas espaciais.
O método utiliza-se de 11 coeficientes, determinantes de orientações internas
e externas para o sistema câmera-objeto, novas referências são obtidas a partir dos
6 pontos de referência (calibrador) cujas coordenadas (x,y,z) são conhecidas, logo
são 12 equações, duas 12 para cada ponto, referentes à orientação das 2 câmeras, e
portanto teremos 22 coeficientes.
Assim, utilizando-se software específico, estas coordenadas digitalizadas
podem ser transformadas para coordenadas do espaço euclidiano real, corrigindo-se
as distorções provocadas pela(s) câmera(s) ou a projeção planar do movimento, pelo
método da transformação linear direta, DLT.

Estas coordenadas reais podem ser agora utilizadas para o cálculo da


velocidade e aceleração, o que é feito pela diferenciação numérica dos dados.
A diferenciação de dados experimentais em biomecânica tem enfrentado
grandes dificuldades devido ao ruído destes dados.
A literatura científica tem apontado para o uso de rotinas matemáticas
específicas para redução de ruídos, por exemplo através do uso da rotina matemática
Splinequíntica.

26
6. A DINAMOMETRIA

Engloba todos os tipos de medidas de força (e pressão). As forças mensuráveis


são as forças externas, transmitidas entre o corpo e o ambiente. De particular
interesse são as forças de reação do solo transmitidas na fase de apoio em atividades
quase-estáticas ou dinâmicas.
Juntamente com a constante peso corporal, essas forças de reação do solo
são, geralmente, a causa de qualquer alteração do movimento do centro de gravidade.
O instrumento básico em dinamometria é a plataforma de força, que mede a
força de reação do solo e o ponto de aplicação desta força.
Assim, através da dinamometria mede-se a ação deformadora da Força sobre
os corpos através de um método direto onde se determinam as Forças externas as
quais são pré-requisitos necessários para o cálculo das Forças internas (força
muscular, força ligamentar e forças articulares).
Por outro lado, a ANTROPOMETRIA se preocupa em determinar
características e propriedades do aparelho locomotor como as dimensões das formas

27
geométricas de segmentos, distribuição de massa, braços de alavanca, posições
articulares, etc., definindo então, um modelo antropométrico, contendo parâmetros
necessários para a construção de um modelo biomecânico da estrutura analisada.
Algumas das variáveis que podem ser calculadas, como:
(a) propriedades do biomaterial - resistência dos componentes do aparelho
locomotor, elasticidade, deformação e limite de ruptura;
(b) cinéticas - momento de inércia de segmentos corporais;
c) centro de rotação articular, origem e inserção muscular, comprimento e área
de secção transversa muscular, braços de alavanca da musculatura.
Densidade, distribuição de Massa corporal, propriedades inerciais, Centro de
Gravidade, Momento de Inércia, são características antropométricas onde a maioria
dos dados são determinados a partir de estudos cadavéricos.
Os Métodos analíticos são os mais utilizados, caracterizam-se por modelos do
corpo baseados em dados antropométricos do indivíduo, portanto medida direta, in
vivo.
Assim, os métodos analítico-matemáticos como de HANAVAN realizam
reduções em função do modelo físico-matemático, bem como aproximações
estatísticas que permitem interpretações dos dados de maneira relativamente precisa.
Finalmente, a ELETROMIOGRAFIA que se caracteriza pelo registro das
atividades elétricas associadas às contrações musculares.
Diferentemente dos métodos acima mencionados, que determinam
propriedades mecânicas, a eletromiografia indica o estímulo neural para o sistema
muscular.
Como um parâmetro de controle, a eletromiografia é muito importante para a
modelagem do sistema dinâmico neuro-musculoesquelético.
O resultado básico é o padrão temporal dos diferentes grupos musculares
sinérgicos ativos no movimento observado. Portanto, através da Eletromiografia
determina-se de maneira direta a atividade muscular voluntária através do potencial
de ação muscular.
A inervação muscular transmite os potenciais cuja atividade elétrica média pode
ser detectada por eletrodos colocados na superfície da pele sobreposta ao músculo,
e daí observa-se o início e o fim da ação muscular em movimentos, posturas, ou seja,
o padrão temporal dessa inervação/ativação.

28
Esses sinais coletados podem ser influenciados pela velocidade de
encurtamento e alongamento muscular, grau de tensão, fadiga, atividade reflexa,
entre outros fatores.
Depois destes sinais eletromiográficos serem amplificados, podem ser
processados para comparação ou correlação com outros sinais eletrofisiológicos ou
grandezas biomecânicas.
Segundo WINTER , o motivo para se monitorar o potencial de ação muscular é
poder relacioná-lo com algumas medidas da função muscular como tensão, força,
estado de fadiga e conseqüentemente, o metabolismo muscular, recrutamento de
elementos contráteis, entre outros parâmetros.

7. CONSIDERAÇÕES SOBRE MODELOS NA DETERMINAÇÃO DE FORÇAS


INTERNAS

O desenvolvimento de um modelo mecânico para a estrutura biológica do corpo


humano ou de seus segmentos com o objetivo de determinar parâmetros internos
desta estrutura, forças musculares por exemplo, em situação dinâmica ou estática é
altamente complexo, face à intrincada natureza do fenômeno a ser modelado.
Então, o modelo utilizado para a descrição deste fenômeno, que seria por
demais complexo, é simplificado, podendo desta forma, comprometer a exatidão ou
resolução de parâmetros da Mecânica.
Segundo Chao, se assumirmos que os segmentos dos membros do corpo
humano podem ser imaginados como pêndulos compostos com muitos graus de
liberdade, e devido à geometria anatômica complexa e ao não total conhecimento da
teoria de controle neuromuscular, o equacionamento e análise da atividade humana
ainda é um desafio na biomecânica moderna.
O desenvolvimento de modernas técnicas para quantificar o movimento
humano e a computação tem capacitado análises e modelamentos mais completos.
No entanto, em geral, a biomecânica ainda é uma ciência fenomenológica, restrita à
descrição do movimento observado e forças envolvidas.
Embora o modelo mecânico em questão seja regido pelas mesmas leis físicas,
a abordagem e considerações na biomecânica, tais como simplificações e condições
de contorno, e a determinação dos parâmetros experimentais de entrada

29
mencionados anteriormente, diferencia bastante a metodologia utilizada se
comparada à utilizada em Ciências Exatas.
A Figura 2 apresenta um modelo de segmento inferior para a determinação de
forças internas a partir de dados da cinemática e da dinâmica conforme proposto por
Baumann e Stucke.

Figura 2

30
Gostaríamos de discutir sobre dois pontos importantes que, seguramente,
muito podem colaborar sobre decisões quanto aos métodos de medidas
biomecânicas: sentido fundamental da medição e qualidades do processo de
medição.
Winterdestaca os seguintes critérios de avaliação dentro dos processos de
medição em biomecânica: medida livre de efeito retroativo e precisão da medida.
Na biomecânica a medição direta dos parâmetros de movimento descritos e
analisados é muito limitada.
Essa limitação é determinada pela estrutura biológica complexa do corpo
humano, pela técnica dinâmica do movimento e pelas possibilidades técnicas dos
aparelhos de medição.
Por esses motivos, a grande maioria das determinações baseiam-se em
modelos físico-matemáticos dos parâmetros de movimento utilizando medidas
indiretas.
A formulação de modelos físico-matemáticos é atualmente uma das principais
tarefas da biomecânica. Cada simulação do movimento é uma simplificação
esquemática do movimento complexo.
Os modelos biomecânicos da musculatura esquelética ainda representam um
desafio para a biomecânica.
Forças e momentos de inércia, assim como forças articulares, não podem ser
medidas diretamente, o que dificulta enormemente a sua determinação. Os inúmeros
músculos e tendões, que tomam parte em um movimento, dificultam ainda mais a
solução do problema, porque assim temos um número maior de elementos
desconhecidos em relação ao número de equações.
Uma diminuição deste problema poderia ser alcançada através de dados
obtidos por eletromiografia ou com a ajuda de outros métodos de medição, diminuindo
assim o número de elementos desconhecidos.
O desenvolvimento de modelos para a análise do movimento, particularmente
da sobrecarga articular nos movimentos, requerem uma adaptação do sistema
anatômico através de investigações comparativas com dependência às suas funções
em relação ao segmento analisado.
Análises segundo um modelo exigem um cuidadoso resumo dos dados e
interpretação, por causa dos diversos fatores, que influenciam este rendimento. Por
isso é preciso que modelos mais realísticos, em relação ao movimento humano, sejam

31
desenvolvidos, para que as equações do movimento entrem em concordância com os
modelos utilizados.
A partir de modelo de cálculo operamos com os momentos de rotação nas
articulações e com base nesta relação determinamos o momento da força muscular e
também calculamos a força articular sendo que, o conceito genérico suporta base
teórica para determinarmos que o “momento da força externa” é compensado através
do “momento das forças internas”, logo podemos formular: Momento das forças
externas = Momento das forças internas
A origem destes momentos articulares baseia-se no princípio mecânico da
conservação de movimento que nos permite formular:
Σ Momentos de rotação externa + Σ Momentos de rotação interna = Zero assim,
Σ Momentos de rotação interna + Momento articular = Zero logo, a força articular
transferida da articulação distal para a proximal será determinada por: Σ Forças
externas + Σ Forças musculares + Σ Forças ligamentos = Força articular
As forças externas e internas que agem na articulação do tornozelo e do joelho
indicam as seguintes equações, no plano sagital, para o cálculo da grandeza da
sobrecarga da articulação:
Σ Ff = B -(-mf * r) - (mf * g) + MF + GF = 0 Σ Fu = B - (-mf * r) - (mu * r) + MF -
(mf * g) - (mu * g) + GF = 0 onde: Σ Ff, Σ Fu (soma das forças que agem sobre pé e
perna respectivamente),
B (força de reação do solo), mf * r; mu * r (força de inércia do pé e perna
respectivamente), mf * g; mu * g (força peso do pé e perna respectivamente),
MF (força muscular) e GF (força articular).
As pesquisas em biomecânica ainda são carentes de padronizações
metodológicas, bem como são incompletos os modelos utilizados para a formação de
teorias com explicação causal do movimento.
Desta forma, fica restrita a possibilidade de comparações entre resultados de
diversos autores e ainda corremos riscos de utilização de modelos físico matemáticos
não adaptados as características do movimento em estudo.
Entretanto, com o acelerado desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia que
observamos atualmente, e particularmente na microeletrônica, encontramo-nos numa
situação onde sempre surgem novas possibilidades e opções de procedimentos na
elaboração e operação de dados, e estas instruções estão sendo utilizadas em

32
biomecânica, colaborando assim para o progresso, modernização, automatização e
enfim enorme auxílio na análise científica do movimento humano.

8. SOBRE A APLICAÇÃO PRÁTICA - BIOMECÂNICA DA LOCOMOÇÃO


HUMANA

Gostaríamos ainda de ilustrar no presente trabalho alguns resultados práticos


de investigação biomecânica, onde se procurou desenvolver uma análise de
movimento, discutindo-se aspectos relacionados à complexa investigação do
movimento humano.
Baseando-se em estudos experimentais, foram desenvolvidos e aplicados os
principais métodos de investigação da biomecânica nas suas áreas básicas de estudo.
Importante ainda é observarmos a validade destes parâmetros biomecânicos
para a análise do movimento, pois constituem-se em instrumento não apenas de
correção de falhas e melhoria da coordenação, mas ainda na busca de otimização do
movimento, não apenas no sentido de eficiência do rendimento, mas ainda em relação
a um processo de economia e harmonia motora da técnica de movimento.
Assim apresentamos uma discussão sobre aspectos selecionados da
locomoção humana, por tratar-se de uma classe de movimentos muito comum no
comportamento motor humano, composta por movimentos integrados e complexos
dos segmentos do corpo humano.
Locomoção é toda ação que move o corpo de um animal através do espaço
aéreo, aquático ou terrestre.
Ela é atingida através de movimentos coordenados dos segmentos corporais
numa interação dinâmica das forças internas (muscular, articular) e forças externas
(inercial, gravitacional, friccional, etc.).
Embora duas pessoas não possam se locomover de maneira idêntica, existem
certas características da locomoção que são universais, e estes pontos similares
servem como base para a descrição cinemática, eletromiografia e dinâmica da
marcha.
Existem parâmetros biomecânicos que podem nos indicar as causas de tal
movimento, como os padrões de contrações musculares pela eletromiografia, cálculos
de momentos de força e potência; ou ainda os efeitos que este movimento provocou

33
no meio ou no aparelho locomotor, como variáveis cinemáticas, comprimento e
cadência da passada, e a força reação do solo.
A figura 4 mostra as curvas da função força x tempo para andar, corrida lenta
e corrida rápida considerando-se as componentes horizontal e vertical.

Figura 3

FIGURA 3: Curvas da função força X tempo para andar, corrida lenta e corrida
rápida considerando-se as componentes horizontal (Fx) e vertical (Fz). Modificado de
Schwirtz, Gross & Baumann, citados em Willimczick.
Dentre os estudos biomecânicos que buscam descrever indicadores do
comportamento das variáveis dinâmicas durante a marcha, tem-se usado muito a
força reação do solo como componente descritivo primário para indicar a sobrecarga
no aparelho locomotor durante a fase de apoio, pois ela reflete a somatória dos
produtos da aceleração da massa de todos os segmentos do corpo.
Esta variável biomecânica mostrou-se sob a forma de um padrão constante e
repetitivo independente das condições do solo, idade dos sujeitos ou velocidade da
marcha. Este padrão apresenta determinadas características que podem ser alteradas
devido as condições ambientais ou do sujeito como a presença de uma patologia, por
exemplo; porém sua forma geral é constante e regular, como mostrado na figura 5.

34
Esta curva apresenta basicamente dois picos de força máxima: o primeiro
referente ao ataque do calcanhar no solo, e o segundo referente à propulsão do
antepé à frente, como ilustra a figura a seguir.
O valor destes picos varia entre 0,5 e 1,5 vezes o peso corporal, além de terem
uma dependência direta com a velocidade do movimento.
A curva também apresenta, entre estes picos de força, uma redução da força
vertical máxima para uma força mínima em função da distribuição da força em uma
área maior de contato (todo o pé) durante a fase de apoio total, e também eficiência
do movimento da perna livre.
Figura 4

FIGURA 4: Representação do comportamento médio e dos desvios-padrão da


componente vertical (Fz) da força reação do solo durante o andar. Adaptado de Lobo
da Costa e Amadio.
Como medida da variabilidade total dos perfis médios para todas as tentativas
de um sujeito tem-se utilizado o coeficiente de variabilidade (CV), que pode ser
calculado segundo Winter e representa os desvios-padrão ao longo do período de
apoio como porcentagem da curva média.

35
De maneira geral, o comportamento motor apresentado por uma criança, adulto
ou idoso é o resultado de uma interação de diversos fatores que compõem os diversos
domínios do comportamento humano.
Assim, a medida que uma criança cresce e desenvolve-se, as modificações
somáticas quantitativas em conjunto com os processos de diferenciação estrutural
produzem uma resposta típica para o andar e que representa o padrão motor
característico de cada grupo etário. Consequentemente, as caraterísticas
biomecânicas do padrão do andar podem ser descritas a partir de uma perspectiva
ontogênica.
Analisando a curva da força reação do solo e seus componentes em diferentes
estágios do desenvolvimento humano, podemos verificar algumas diferenças
significativas nestes valores, muito embora o padrão da curva permaneça constante.
Bernstein descreve o comportamento da força de reação do solo tanto vertical
quanto horizontal em crianças de 2 a 5 anos. Sua pressuposição básica é a de que as
componentes verticais refletem o esforço do organismo para mover-se contra a ação
da gravidade, enquanto que a atividade muscular coordenada pode ser principalmente
interpretada a partir das curvas longitudinais.
Assim, ocorre um gradual ajuste na magnitude das curvas dinâmicas e o
desenvolvimento completo destas componentes do andar está presente por volta do
quinto ano de vida.
Uma característica da curva da Força Reação do Solo observada em idosos e
demonstrada por Serrão &Amadio, diz respeito à ocorrência de uma menor redução
do primeiro pico da força vertical para a força mínima, fato este relacionado
diretamente com a técnica do movimento, quanto aos aspectos:
Variação angular da perna livre diminuindo o momento inercial de rotação do
membro inferior e, consequentemente, diminuindo a redução desta força vertical
máxima, o que implica em uma menor redução das cargas a que o aparelho locomotor
está exposto.
A figura 5 mostra a relação força x tempo para as forças verticais de reação do
solo no andar e correr com um idoso calçado com sapatos tipo tênis e descalço.

36
Figura 5

FIGURA 5: Relação força X tempo para as forças verticais de reação do solo


no andar (v=1.4 m/s) (I) e correr (v=2.4 m/s) (II) com um idoso calçado com sapatos
tipo tênis (A) e descalço (B), para FPA (68.2 anos, 68.0 kg, 167.2 cm, n=6), PC = peso
corporal.
Adaptado de Serrão &Amadio.

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Assim, podemos resumir as alterações no padrão da curva da Força Reação
do Solo, em função do aumento da idade em: aumento do intervalo de duplo apoio
(parâmetro temporal) e diminuição da taxa de redução do primeiro pico da força
vertical.
Estas alterações podem ser consideradas como compensações para as
perturbadas condições de equilíbrio do idoso no sentido de recuperar a estabilidade
na locomoção, isto é, a diminuição da eficiência do sistema sensorial, além de perdas
ósseas e musculares, acentuando as condições de instabilidade.
Através da análise do comportamento dinâmico do andar, pode-se obter,
portanto, muitas informações acerca desta importante habilidade. Assim como todos
os movimentos, o andar pode ser retratado, quanto a Força de Reação do Solo, em
três componentes espaciais: uma vertical e duas horizontais (médio-lateral e
anteroposterior).
Dentre estas três componentes, a vertical se destaca dada sua magnitude,
figurando como uma das principais influenciadoras da sobrecarga do aparelho
locomotor.
Entre os descritores do andar mais comumente mensurados estão os
parâmetros temporais. Alterações nos fatores temporais básicos para o andar têm
sido descritas em função de manipulações na velocidade de deslocamento ou
diferenças na estatura dos sujeitos.
Cada fase do andar é realizada através de uma série de funções
musculoesqueléticas, combinadas de acordo com objetivos específicos de progressão
que, em seu conjunto, podem ser: sustentação da parte superior do corpo, prevenindo
colapso do membro inferior durante o apoio; manutenção da postura ereta e equilíbrio
do corpo todo; controle da trajetória do pé para garantir uma passagem segura sobre
o chão e um contato inicial suave; geração de energia mecânica para manter a
velocidade de deslocamento ou incrementá-la; absorção de energia mecânica para o
controle de choque e da estabilidade; ou para redução da velocidade de deslocamento
.
O andar pode ser considerado como o maior desafio vencido pela criança ao
longo de seu desenvolvimento motor.
As dificuldades geradas pela altura do centro de gravidade, pela condição de
apoio sobre um pé enquanto ocorre o balanço da perna livre têm como conseqüência
um longo período de amadurecimento deste padrão.

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Em relação à duração do apoio simples, Sutherland et al. observaram uma
tendência de rápido crescimento desta variável até os dois anos e meio de idade,
crescendo mais lentamente a partir desta idade e estabilizando aos 3-4 anos.
Quanto à duração da fase de apoio duplo, esta variável provavelmente também
se comporta de maneira a reduzir-se gradualmente com o aumento da eficiência do
andar, já que é um indicador da necessidade de estabilidade em condição dinâmica.
Já em idosos Kakenko et al. e Murray et al. verificaram que em idades
compreendidas entre 50 e 87 anos, o tempo de duplo apoio foi maior do que em uma
amostra de indivíduos adultos, tanto em cadência natural quanto em cadência
acelerada.
Tal fato pode implicar em um comportamento ajustado para obter uma maior
segurança e equilíbrio durante a marcha. Apesar da grande sensibilidade destes
parâmetros temporais a mudanças desenvolvimentistas, quando considerados os
mesmos fatores em relação à duração do ciclo da marcha, estes apresentam uma alta
estabilidade e, portanto, podem ser considerados como fatores descritores da marcha.
Assim, valores relativos para o tempo de apoio simples estão em torno dos
40%, 20% para o duplo apoio e 40% para a fase de balanço, independentemente de
etapa de desenvolvimento, velocidade de deslocamento ou tipo de piso, excetuando-
se apenas as condições patológicas.
Outra categoria de variáveis empregadas na descrição e análise da locomoção
humana são os padrões de atividade elétrica muscular, adquiridos através da
eletromiografia.
A análise dos padrões da atividade eletromiografia permite acesso às sinergias
musculares e é componente essencial para o estudo biomecânico da locomoção
humana, assim, a investigação de sinergias musculares tem sido rotina nos relatos
científicos.
Sinergias musculares podem ser identificadas através da ativação e co-
ativação de músculos e seus relativos padrões espaço-temporais e têm importante
função na otimização de padrões de movimento.
Ainda é importante destacar que a redundância característica do sistema motor
torna possível a realização de um mesmo padrão cinemático através de diferentes
combinações de atividade muscular, fato que caracteriza o sistema motor como
altamente flexível e adaptável.

39
Na figura 6, têm-se os perfis da atividade eletromiográfica do m. vastuslateralis,
m. bicepsfemoris e m. gastrocnemius para o andar.
Figura 6

FIGURA 6: Perfis médios e desvios-padrão de envelopes lineares para a


atividade eletromiografia de m. vastuslateralis, m. bicepsfemoris e m. gastrocnemius
durante o andar. Adaptado de Lobo Da Costa &Amadio.
Na transição do balanço para o apoio, ou seja, na fase de acomodação do peso,
observa-se uma atividade aumentada do m. vastuslateralis, coordenada à atividade
do m. bicepsfemoris, resultando em uma sinergia extensora que garante a
estabilidade do joelho durante o instante do impacto com o solo. Nesta fase, o m.
bicepsfemoris auxilia na extensão do quadril através de atividade concêntrica e tende
a flexionar o joelho.
Às atividades flexoras de joelho do m. bicepsfemoris e do choque mecânico no
instante do contato contrapõe-se a contração excêntrica do m. vastuslateralis,
extendendo o joelho.
A co-contração de m. vastuslateralis e m. bicepsfemoris no início do apoio está
de acordo com outros autores.

40
Sinais eletromiográficos processados através de retificação de onda completa
e filtros do tipo passa-baixos, como os aqui apresentados, refletem o impulso neural
à musculatura esquelética durante o curso de um movimento e aproximam a análise
das possíveis causas do movimento.
Este procedimento fundamenta-se na noção de que o sistema nervoso precisa
ser flexível o suficiente para acomodar adaptações no padrão locomotor, produzindo
um conjunto de padrões de atividade muscular fásica com variabilidade intrínseca.
As diversas situações da vida cotidiana, como os diferentes terrenos, as
inclinações na superfície e os degraus de escadas, exigem constantes adaptações
nas características do andar, desde seus parâmetros temporais, até os dinâmicos e
de atividade muscular, que precisam ser facilmente reelaborados pelo sistema de
controle motor, já que o cumprimento da função locomotora nas diferentes demandas
ambientais é atingido independentemente de experiência prévia com a situação,
garantindo a manutenção da postura vertical e a progressão do corpo.
O correr é também uma habilidade fundamental e pode ser considerada com
uma variação do andar.
Dentre as diferenças básicas entre as duas habilidades se destacam a
velocidade, significativamente maior no correr, e principalmente a fase de duplo apoio
que só ocorre durante o andar e é substituída pela fase aérea, que provavelmente é
o único indicador seguro que pode distingui-los.
A importância do correr é significativa, uma vez que esta habilidade está
presente em quase todas as manifestações do movimento humano, principalmente
nos gestos esportivos.
A velocidade característica da corrida condiciona uma resposta de força
bastante diferenciada quando comparada ao andar.
A figura 7 demonstra essas diferenças dinamométricas e eletromiografias entre
o andar e o correr.

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Figura 7

FIGURA 7: Relação força x tempo para a componente vertical da força de


reação do solo e atividade muscular para m. vastuslateralis e m. gastrocnemius para
o andar (A) e para o correr (B), para FK (20.2 anos, 74.5 kg, 178.2 cm). Adaptado de
Bruniera&Amadio.
Em função da velocidade característica da corrida, o aparelho locomotor é
exposto a forças maiores num intervalo de tempo menor durante sua prática,
caracterizando uma condição de impacto maior à gerada durante o andar (maior
coeficiente de crescimento da força passiva).
Segundo Nigg, a magnitude da força vertical pode atingir de duas a quatro
vezes o peso corporal, para o caso de corridas recreativas (jogging) e de velocidade
respectivamente.
Tal aumento na magnitude das forças é seguido por uma diminuição do tempo
de apoio simples, que atinge valores próximos a 0,03 s durante a corrida. Tais
considerações acerca das características dinâmicas da corrida não podem ser

42
desconsideradas durante sua prescrição, quer como componente de programas de
atividades físicas ou de reabilitação.
Pessoas sadias, em virtude da eficiência de suas estruturas osteo-mio-
articulares,podem trabalhar seguramente com este impacto, o que pode não ser
possível em indivíduos sedentários, idosos ou portadores de doenças degenerativas.
Ainda com relação à técnica da corrida, devemos considerar duas técnicas de
movimento que podem influenciar a distribuição de cargas ao aparelho locomotor:
(a) corredores de retro-pé (constituem-se em aproximadamente 80%) e (b)
corredores de ante-pé (20%), em acordo com Baumann.
Ao observarmos a curva força de reação do solo em função do tempo, os
corredores de retro-pé e os de ante-pé apresentam comportamentos diferentes, os
primeiros com e os segundos sem a presença de um pico de força inicial.
O impulso é aproximadamente o mesmo pois, ambos apresentam o mesmo
peso corporal e deslocam-se à mesma velocidade.
Entretanto as forças articular e muscular na articulação do tornozelo indicam
enormes diferenças entre ambas as situações de sobrecarga em função, portanto das
técnicas de movimento.
O corredor de ante-pé apresenta uma carga no tendão de Aquiles,
aproximadamente 25-30% maior se comparado ao corredor de retro-pé.
A mesma relação é observada para a força articular, considerando-se ainda a
articulação do tornozelo.
Mencionamos ainda valores para a força de compressão articular ao redor de
9 vezes o peso corporal.
A figura 8 ilustra o cinegrama e as forças reação do solo.

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Figura 8

FIGURA 8: Cinegrama (acima) do primeiro e último contato com o solo e


componente vertical da força de reação do solo (abaixo), para corredor de retropé
(esquerda) e antepé (direita), PC = peso corporal. Modificado de Krabbe.
Assim como nas demais formas de locomoção pode-se amenizar os efeitos do
impacto através da manipulação dos fatores externos ao movimento, como o uso
calçados e piso apropriados.
As propriedades visco elásticas destes materiais permitem que o impacto seja
reduzido, ainda que o processo de estocagem-armazenamento de energia não seja
significativo.
Como o andar e o correr, o saltar é uma habilidade fundamental presente em
modalidades atléticas específicas e até mesmo compondo outras modalidades
esportivas, como o basquetebol ou o voleibol.
Em função de sua velocidade acentuada, marcadamente superior à do andar e
do correr, durante o salto são produzidas forças de magnitudes que podem superar
20 vezes o peso corporal do saltador, e que acontecem num intervalo de tempo muito
pequeno.

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Em virtude da magnitude da força e do pequeno tempo de contato, o salto
produz gradientes de crescimento da força vertical bastante expressivos, de modo que
a fase passiva assume forte predominância no movimento.
Desta forma, as grandes forças geradas durante o salto são quase que
exclusivamente aplicadas na estrutura ósteo-articular do aparelho locomotor.
Dada esta característica, cuidados quanto à prescrição da atividade e da
manipulação com fatores externos, recomendados para o andar e o correr, devem ser
ainda mais acentuados para o saltar.

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