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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO - FAVENI

APOSTILA
BIOMECÂNICA
APLICADA AO
ESPORTE

ESPÍRITO SANTO
A BIOMECÂNICA – CONCEITOS

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O corpo humano é um dos principais objetos de estudo do homem. À


busca por compreender o seu funcionamento, contrapõe-se sua complexidade,
levando cientistas e estudiosos a aprofundar cada vez mais os seus estudos.
Dentro deste âmbito se encontra a Biomecânica, que é uma disciplina derivada
das ciências naturais que se preocupa com a análise física dos sistemas
biológicos, examinando, entre outros, os efeitos das forças mecânicas sobre o
corpo humano em movimentos quotidianos, de trabalho e de esporte.

No século XX ocorreram grandes avanços tecnológicos que se refletiram


nos métodos experimentais usados em praticamente todas as áreas de atuação
científica, incluindo a Biomecânica, ocasionando um grande avanço nas técnicas
de medição, armazenamento e processamento de dados, fatos estes que
contribuíram para o estudo e melhor compreensão do movimento humano.
A Biomecânica é um dos métodos para estudar a maneira como os seres
vivos (principalmente o homem) se adaptam às leis da mecânica quando
realizando movimentos voluntários. Para Donskoy & Zatsiorsky (1988) a
Biomecânica é a ciência das leis do movimento mecânico nos sistemas vivos e
pode ser também definida como a aplicação da Mecânica a organismos vivos e
tecidos biológicos. Nigg (1995) define Biomecânica como sendo a ciência que
examina as forças que atuam externa e internamente numa estrutura biológica
e o efeito produzido por essas forças e Hatze apud Nigg (1995) afirma que ela é
a ciência que estuda estruturas e funções dos sistemas biológicos usando o
conhecimento e os métodos da Mecânica.

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A Biomecânica estuda diferentes áreas relacionadas ao movimento do ser


humano e animais, incluindo:

(a) funcionamento de músculos, tendões, ligamentos, cartilagens e ossos,

(b) cargas e sobrecargas de estruturas específicas, e

(c) fatores que influenciam a performance.


A Biomecânica do Esporte se dedica ao estudo do corpo humano e do
movimento esportivo em relação a leis e princípios físico-mecânicos, incluindo
os conhecimentos anatômicos e fisiológicos do corpo humano (Amadio, 1996).
No Brasil, os resultados das pesquisas em Biomecânica têm influenciado
diretamente na medicina, ergonomia, fabricação de equipamentos esportivos e
muitos outros aspectos da vida humana (Nasser, 1995).

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Ela também pode auxiliar na produção de conhecimento para aquisição


de competências tecno-motoras, que levam em consideração as características
dos participantes, do contexto e sua organização, possibilitando uma efetiva
aprendizagem (Crum, 1993). Para Moro apud Nasser (1995), a Biomecânica tem
acompanhado o ensino das técnicas associando a prevenção
musculoesquelética do indivíduo nas ações cotidianas, evitando assim que
certos esforços desnecessários possam danificar suas estruturas e que sua ação
motora seja racionalizada.
O progresso da Biomecânica como disciplina científica que estuda
funções dos seres vivos tornou-se, ao longo dos últimos três séculos, muito
amplo e disso resultaram múltiplas divisões didáticas e delimitação de território
de especialidades científicas, tais como Biomecânica do Movimento Humano,
Biomecânica Clínica e de Reabilitação, Biomecânica de Tecidos e Biomateriais,
Biomecânica Musculoesquelética e Métodos e Técnicas de Pesquisa em
Biomecânica. Cada uma destas áreas, por sua vez, abrange diversas
possibilidades.

DEFINIÇÕES DE BIOMECÂNICA

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Existem várias definições de Biomecânica. Diversos autores tem vindo a

propor diferentes definições para esta ciência, que é o mesmo que dizer que

perfilham diferentes perspectivas quanto ao seu papel no domínio da


investigação na área da atividades física. Numa análise morfológica da palavra

Biomecânica, pode-se decompor o termo em duas partes. No prefixo “bio”, de

biológico, ou seja, relativo aos seres vivos e, mecânica. Logo, a partir da análise

morfológica da palavra, a Biomecânica será a aplicação dos princípios da

Mecânica aos seres vivos. Hay (1978), descreve a Biomecânica como sendo a

ciência que estuda as forças internas e externas que atuam no corpo humano e,

os efeitos produzidos por essas forças. Ou seja, esta definição mais não será

que uma adaptação da definição de mecânica mas, desta feita, aplicada a

sistemas biológicos, neste caso o corpo humano.

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Da definição proposta por Hay (1978), observa-se a existência de dois

campos de estudo distintos na Biomecânica: o estudo das forças internas e das

forças externas e, as suas repercussões. Assim, pode-se distinguir a existência

da Biomecânica interna e, da Biomecânica externa (Hay, 1978; Amadio, 1989;

1996).
Segundo Amadio (1989; 1996), a Biomecânica interna preocupa-se com

a determinação das forças internas e as consequências resultantes dessas

forças. Já a Biomecânica externa representa os parâmetros de determinação

quantitativa ou qualitativa referentes às mudanças de lugar e de posição do

corpo, ou seja, refere-se às características observáveis exteriormente na

estrutura do movimento (Amadio, 1989; 1996).

Por sua vez, McGinnis (1999), refere que será integrado na Biomecânica

interna o estudo dos biomateriais, do sistema esquelético, do sistema nervoso e,

do sistema muscular. Ainda o mesmo autor, integra na Biomecânica externa o

estudo da cinética linear e angular, da cinemática linear e angular, do equilíbrio

e, da mecânica dos fluidos.

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Uma outra definição, caracteriza a Biomecânica como sendo o estudo da

estrutura e da função dos sistemas biológicos, utilizando os métodos da


Mecânica (Enoka, 1989; Hall, 1991; Adrian e Cooper, 1995). Desta definição

emergem implicitamente as áreas subsidiárias da Biomecânica, isto é, a

Anatomia, a Fisiologia e, a Mecânica (Hall, 1991). Ou seja, para se desenvolver

um estudo biomecânico necessitar-se-á do contributo destas três ciências.

A Anatomia é a ciência que estuda as formas e as estruturas dos seres

vivos (Castro, 1976). A Fisiologia é a ciência que estuda o funcionamento de

todas as partes do organismo vivo, bem como do organismo como um todo

(Guyton, 1988). E a Mecânica é a ciência que descreve e prediz as condições

de repouso ou de movimento de corpos sob a acção de forças. Relembre-se que

na Mecânica, distinguem-se diversos ramos.

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A Estática é o sub-ramo da Mecânica que estuda os sistemas que estão

em estado de movimento constante, através da Cinética e; a Dinâmica estuda


os sistemas em movimento, nos quais a aceleração está presente, por meio da

Cinética e da Cinemática. Por sua vez, a Cinética estuda as forças associadas

ao movimento do corpo e, a Cinemática a estuda o movimento do corpo em

relação ao tempo, à sua trajetória, à sua velocidade e, à sua aceleração.

CONSIDERAÇÕES EPISTEMOLÓGICAS

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Em termos epistemológicos, uma ciência só é considerada como

autónoma quando detêm um objeto de estudo próprio e, metodologias

específicas. O mesmo se passa com a Biomecânica. Dado que é considerada

como uma ciência autónoma, terá de possuir um objeto de estudo próprio e

metodologias que se distinguem das restantes ciências.


OBJECTO DE ESTUDO

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O objeto de estudo da Biomecânica é o sistema gestual, isto é, o

movimento. Este estudo do sistema gestual consiste na análise da interação do

corpo, que realiza a acção, com o meio envolvente. Ou seja, a Biomecânica

dedica-se ao estudo das ações dos diversos tipos de corpos, quer sejam

partículas, corpos rígidos ou, articulados. Mas, tomando sempre em

consideração o meio envolvente e as suas características particulares, como por

exemplo, a existência da força da gravidade.

Essa interação entre o corpo e o meio far-se-á tomando como referência

os vínculos do sistema, isto é, as cadeias cinemáticas e os diversos graus de

liberdade que o corpo apresente. As cadeias cinemáticas permitem determinar

que tipo de relação existe entre o corpo e o meio, se é aberta ou fechada,

determinado pela existência – ou não – de apoios fixos externos. Os graus de


liberdade permitem descrever a localização e a orientação dos corpos ou dos

seus segmentos no espaço.

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Em termos mais específicos, serão considerados como objetivos da

Biomecânica: a) aumentar a eficiência técnica dos sujeitos estudando e

comparando o desempenhos dos melhores com o desempenho do indivíduos a

quem se deseja aumentar a eficiência; analisando as técnicas à luz dos

princípios da Mecânica; utilizando simulações computadorizadas; melhorando os

equipamentos e os materiais.

b) diminuir a probabilidade de se verificarem lesões, do tipo crónico ou

agudo, decorrentes da atividade física.


BIOMECÂNICA NO NOSSO DIA-A-DIA

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A biomecânica está presente em todos os movimentos do ser humano: o

comprimento da passada quando se caminha, a angulação dos movimentos ao

se alongar; ou seja, vai desde o simples gesto de levar o garfo com comida à

boca, na hora do almoço, até a disputa de uma medalha olímpica no salto com

vara.

Com isso, a biomecânica visa, por meio dos conceitos da física clássica, a

analisar e compreender os complexos movimentos do corpo humano. Como a

biomecânica oferece diferentes formas de análise para diferentes objetivos

(esportes, medicina, engenharia, computação, entre outros), diferentes autores

são ora divergentes, ora complementares, ao descrever seu foco de estudo.


Hay (1976), Brüggemann et al. (1991) e Amadio (1989, 1996), citados por

Amadio (2000) e Okuno (2003), entre outros, indicam que a biomecânica é a

ciência responsável pelas mais diversas formas de análise do movimento

humano. Sendo assim, Amadio e Serrão (2007) afirmam que a biomecânica é a

ciência, derivada das ciências naturais, que se ocupa das análises físicas de

sistemas biológicos.

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Na biomecânica, por meio de suas diferentes metodologias de análise

(antropometria, cinemática, dinamometria, simulação computacional,

modelamento muscular e eletrofisiologia), o principal objetivo é estudar os

padrões de movimentos esportivos, procurando otimizar o processo de

aprendizado e os resultados, bem como diminuir os riscos de lesões.

Em complemento, Amadio e Serrão (2007) indicam como objetos de estudo

da biomecânica o esporte de alto nível, o esporte escolar e as atividades de

recreação, de forma a atuar na prevenção e na reabilitação orientadas à saúde


e às atividades do cotidiano e do trabalho das pessoas. Por meio da

fundamentação teórica, do conhecimento das capacidades e das habilidades do

atleta, bem como da observação e da mensuração de diferentes variáveis

biomecânicas, profissionais conseguem diferenciar as características técnicas

de uma determinada modalidade, do estilo e da vivência motora do atleta,

realizando assim correções de possíveis erros e adaptações dessas técnicas à

realidade de seus atletas, independentemente da categoria.

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Em contrapartida, a ausência de fundamentação teórica, o

desconhecimento das características dos atletas e a falta de observação e de

mensuração das variáveis biomecânicas, podem levar o profissional a utilizar

uma determinada técnica esportiva empregada em níveis mais avançados que

não é e não poderia ser a mais adequada às vivências físicas e/ou motoras dos

seus alunos ou atletas.


Cabe aqui a seguinte pergunta: como o professor ou treinador pode

melhorar sua capacidade de escolha das atividades técnicas para seu aluno e,

da mesma forma, identificar as causas dos erros apresentados na sua prática ou

vivência? Para respondê-la, é necessário que o professor ou treinador

compreenda as forças internas que, por meio das contrações musculares,

produzem o movimento, bem como as forças externas que interferem

diretamente em cada um dos movimentos executados (como a ação da

gravidade, o atrito com o solo ou mesmo a ação da resistência do ar) para que,

a partir daí, possa analisá-las e proceder às intervenções necessárias.

TIPOS DE MOVIMENTOS

Quanto à sua forma de execução, os movimentos podem ser divididos em:

lineares ou de translação, angulares ou de rotação, e combinados (mistos) ou

gerais. O movimento linear ou de translação ocorre quando todos os pontos do

corpo movem-se na mesma distância ou direção, ao mesmo tempo.

A aplicação de uma força no centro de massa de um corpo de qualquer

dimensão faz todos os pontos desse objeto se deslocarem na mesma direção e

magnitude, constituindo o movimento de translação. Ele pode ser linear retilíneo

(quando a direção não é modificada) ou curvilíneo (quando a direção muda

constantemente), conforme demonstrado nas Figuras 1a e 1b, a seguir.


Figura 1a.

Movimento linear retilíneo

Fonte: PRUDÊNCIO, 2010.


Figura 1b.

Movimento curvilíneo

Fonte: Adaptado de LICHTENBERG e WILLS, 1978.

10 Os movimentos angulares ou de rotação são aqueles nos quais os

pontos se movem em linhas circulares ao redor de um eixo, conhecido como eixo

de rotação, conforme demonstrado nas Figuras 2a e 2b, a seguir.

Figura 2a.

Atleta realizando um salto mortal em seu eixo de rotação sagital1

Fonte: Adaptado de HAMILL et al., 1999.


Figura 2b.

Técnica do lançamento do martelo (rotação em torno do eixo longitudinal)

Fonte: Adaptado de IAAF, 2009.

Na maioria das atividades humanas, os movimentos são realizados por

meio de uma combinação das duas formas de movimento (de translação e de

rotação), e podem ser tratados como movimentos gerais, ou combinados.

Quando observado no plano sagital ou lateralmente, durante atividades de

deslocamento que não apresentam uma fase aérea, como o caminhar ou mesmo

a marcha atlética, o centro de massa (CM) do indivíduo apresenta um

deslocamento que pode ser considerado linear (Figura 3a).

Porém, esse padrão de deslocamento do CM é produzido pelos

movimentos de rotação das articulações do quadril, do joelho e do tornozelo

(Figura 3b). Outro exemplo vem das provas adaptadas (ou paraolímpicas): ao se

observar, também no plano sagital, um atleta cadeirante se deslocando, vê-se

que todas as articulações de seus braços, bem como as rodas da cadeira,


executam movimentos rotacionais, e, ainda assim, a cadeira do atleta se desloca

de forma linear (Figura 3c).

Figura 3a.

Movimento retilíneo do CM do atleta durante a marcha

Legenda: IC = contato inicial; LR = resposta de carga; MST = fase média;

TST = fase final;

PS = pré-“balanço”; IS = início do “balanço”; MSW = “balanço” médio; TSW

= “balanço” final.
Fonte: Adaptado de NOVACHEK, 1998.

Figura 3b.

Representação dos movimentos de rotação articular e deslocamento linear

Fonte: Adaptado de HAMILL et al., 1999.

Figura 3c.
Exemplo de movimento geral em um cadeirante (rotação e translação).

VELOCIDADE

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Independentemente da modalidade esportiva (se individual ou coletiva),

pode-se claramente perceber que alguns atletas são mais velozes do que outros,

da mesma forma que a capacidade de realizar esforços submáximos durante

longos períodos de tempo parece ser inerente a alguns indivíduos.

Nas modalidades em que um mesmo gesto motor se repete ao longo do

tempo, ou nas modalidades ditas cíclicas (corridas rasas, ciclismo, natação),

frequentemente a velocidade a ser medida é a velocidade média do indivíduo.

Ao se avaliar a velocidade média de um indivíduo, determina-se o quanto

esse corpo se move em um determinado período de tempo; por exemplo, dado

um velocista que corre 100 metros em 10 segundos, a velocidade da corrida é

determinada pela divisão da distância percorrida (100m) pelo tempo que o atleta

levou para percorrer a prova (10s). Nesse exemplo, dividindo-se os 100 metros
de corrida por 10 segundos, é possível concluir que a velocidade média do atleta

foi de 10 metros por segundo (m/s).

Em modalidades como a natação, o atletismo ou o ciclismo – provas que

têm distâncias fixas a ser percorridas por todos os participantes – é simples

comparar e determinar suas velocidades médias, como no caso de dois

nadadores que realizam a prova dos 800 metros: se um completa a prova em

8,30 minutos, e o outro em 8 minutos, é evidente que o segundo atleta foi mais

rápido do que o outro.

Para se saber a velocidade média de cada um dos atletas, como já

indicado, basta dividir a distância percorrida pelo tempo necessário para

percorrê-la. Sendo assim, a fórmula que determina a velocidade é representada

por:

Nas modalidades anteriormente citadas, é bastante comum mensurar a

velocidade dos alunos ou atletas somente em determinados trechos da corrida,

determinando, assim, sua velocidade média em diferentes momentos da prova,


como demonstrado na Tabela 1, que indica a velocidade média, a cada 10

metros, do campeão mundial velocista nos Jogos Olímpicos de Pequim de 2008.

Tal medida traz importantes contribuições para os professores ou

treinadores, pois, por meio dessas informações, pode-se observar e determinar

os trechos nos quais o aluno ou atleta reduz sua velocidade e, a com base nisso,

realizar as correções necessárias dentro das atividades de treinamento.


Nessa mesma lógica, em algumas situações esportivas, como os saltos em

geral, uma largada na natação e os lançamentos, faz-se necessário que o

treinador conheça a velocidade do atleta em diferentes momentos das provas,

assim como durante o deslocamento nas diferentes fases da corrida de

aproximação. Para isso, o cálculo da velocidade, indicado anteriormente, é o

mesmo utilizado para a análise das corridas, da natação ou do ciclismo.

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A velocidade pode ainda ser subdividida em velocidade de reação

(representada pelo tempo entre um estímulo e a ação do atleta), velocidade

gestual ou acíclica (representada por um único movimento do atleta, como, por

exemplo, a cobrança de lateral, a cortada no voleibol ou o lançamento de dardo

no atletismo) e velocidade de deslocamento ou cíclica (que compreende a

velocidade que o atleta desenvolve em uma determinada distância).


Ainda nas modalidades conhecidas como acíclicas ou mistas, faz-se

necessário o conhecimento da velocidade em momentos que são determinantes

para o sucesso da atividade, como no instante em que o atleta toca o pé de apoio

para saltar ou lançar (velocidade de entrada), no instante em que o pé de apoio

do atleta deixa o solo ou a velocidade do implemento4 no instante do lançamento

(velocidade de saída), ou mesmo no momento da largada em uma prova de

natação.

Para esses instantes, é necessário que se defina não somente o cálculo da

magnitude da velocidade em períodos muito curtos de tempo, como também a

direção e o sentido do CM do atleta ou do implemento. Sendo assim, o cálculo

da velocidade vetorial instantânea é o ponto-chave nas análises biomecânicas,

conforme demonstrado na Figura 4, a seguir.

Figura 4.

Representação dos vetores velocidade no instante em que o atleta toca o

solo para o salto em distância


ACELERAÇÃO

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Em todas as modalidades esportivas, independentemente da distância

percorrida, a velocidade média do atleta varia ao longo do percurso. Nesses

casos, essa variação indica a aceleração do atleta ou, tecnicamente falando, a

variação da velocidade em função do tempo.

Tal medida se faz importante, pois, por meio dela, é possível, por exemplo,

observar a variação da velocidade do atleta nos diferentes trechos da corrida e

realizar, por meio do treinamento, as alterações necessárias.

Quando o atleta reduz sua velocidade, diz-se que ele desacelerou. Ao se

observar a Figura 5, correspondente à Tabela 1 acima, que tem como variáveis

a velocidade e o tempo, considerando a escala estabelecida, percebe-se que

entre p1 e p5 o atleta aumenta sua velocidade (fase de aceleração), para, em

seguida, alcançar sua velocidade máxima e mantê-la durante um certo período

(p6, p7 e p8) e, finalmente, em função de diferentes fatores (diminuição na


produção de energia, coordenação intramuscular, entre outros), tem-se um

trecho de redução da velocidade, ou desaceleração (p9 e p10).

Figura 5.

Representação da velocidade média de corrida dos atletas dos 100m rasos

nos Jogos Olímpicos de Pequim, 2008

De forma análoga ao cálculo da velocidade, tem-se, para o cálculo da

aceleração, o produto da velocidade em função do tempo:

Tanto a velocidade quanto a aceleração possuem como unidades de

medida usual, respectivamente, a relação de metros por segundo (m/s) e metros

por segundo ao quadrado (m/s2), embora qualquer unidade de distância, quando

dividida por uma unidade de tempo, pode ser utilizada como notação para a
velocidade e para a aceleração, como quilômetros por hora (km/h) ou milhas por

hora (mph), entre outros.

MÉTODOS DE MEDIÇÃO

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De acordo com Amadio (1996) e Baumman (1995), os métodos de medição

utilizados pela Biomecânica para abordar as diversas formas de movimentos.

CINEMETRIA

A cinemetria consiste na análise de parâmetros cinemáticos, tendo por

base a recolha de imagens do movimento em estudo e a sua posterior análise.

Este método permite, fundamentalmente, a caracterização cinemática das

técnicas em estudo.

Por exemplo, a análise da distância, do tempo, da velocidade e, da

aceleração obtida por um dado segmento corporal ou pelo centro de massa do


sujeito ao realizar um determinado gesto. Existem diversos processos de análise

cinemática, como a cinematografia, a cronociclografia, cineradiografia e, a

estroboscopia. Todavia, hoje em dia, o processo mais frequente na análise

cinemática é videografia.

Existem dois tipos distintos de análises cinemáticas: as análises

bidimensionais e as tridimensionais. Os procedimentos metodológicos incluem,

num primeiro momento, a filmagem de um objeto de calibração e do movimento

em estudo, por câmaras colocadas num só plano (estudos bidimensionais) ou

em diversos planos (estudo tridimensional).

Numa segunda fase, é utilizado um sistema vídeo-analógico de medição

do movimento, ou seja, um programa informático, através do qual se captará os

dados por meio de um procedimento manual ou automático de digitalização dos

pontos de referência anatómica do indivíduo, em cada fotograma.

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Este procedimento tem como objetivo a criação de imagens animadas de

modelos espaciais, isto é, de um modelo que represente o sujeito através de

segmentos rígidos e articulados, correspondentes aos diversos segmentos

anatómicos a realizar a tarefa em estudo. Antes, realizar-se-á o cálculo do fator

escala, a partir de um objeto de calibração do tipo bidimensional ou

tridimensional, de acordo com o tipo de estudo a realizar, o qual permitirá a

conversão das coordenadas do sistema informático em coordenadas reais.

Após a digitalização das imagens, os dados serão tratados, isto é, através

de determinadas técnicas de filtragem, as informações obtidas serão corrigidas,

aumentando a fiabilidade dos resultados. Finalmente, serão recolhidos os dados

de interesse para o estudo sob a forma numérica, gráfica ou, pictórica.

DINAMOMETRIA

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A dinamometria refere-se a todo o tipo de processos que tem em vista a

medição de forças, bem como, a medição da distribuição de pressões (Adrian e


Cooper, 1995; Amadio, 1996). Uma das técnicas fundamenta-se na utilização de

plataformas de força. São dispositivos que registam a força de reação do solo,

nas suas diversas componentes (vertical, lateral e, anteroposterior) em relação

à plataforma.

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site.jpg

Esses valores são enviados para um processador, o qual através de um

aplicativo informático, regista esses dados, os quais serão tratados e analisados.

Uma outra técnica consiste na utilização de plataformas de pressão. Estes são

dispositivos que fornecem mapas gráficos e digitais das pressões. Os

equipamentos mais frequentes são os sistemas de medição das pressões

plantares.

Mais não são que palmilhas que contêm transdutores, os quais medem a

pressão nas diversas regiões da planta do pé.


ELECTROMIOGRAFIA

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Refere-se ao estudo da atividade neuromuscular, através da representação

gráfica da atividade eléctrica do músculo (Pezzarat Correia et al., 1993).

A Electromiografia caracteriza-se pela detecção e recolha de uma corrente

eléctrica, com origem nas fibras musculares. Essas correntes eléctricas tem

origem nas alterações eletroquímicas das fibras musculares ao serem excitadas,

ou seja, nos potenciais de acção. São atualmente utilizadas duas formas de

recolher os sinais electromiográficos: através da colocação de eléctrodos sobre

a pele (Electromiografia de superfície) ou no interior do músculo

(Electromiografia de profundidade).

O sinal depois de recolhido, será processado, ou seja, tratado através de

um conjunto de técnicas para que seja possível medir com fiabilidade os valores

obtidos. Segundo De Luca (1993) e Pezzarat et al. (1993), atualmente, as

aplicações mais comuns da Electromiografia consiste em: a) determinar o tempo


de ativação do músculo; b) medir o nível de excitação, enquanto indicador da

força produzida; c) utilizar o sinal electromiográfico enquanto indicador de fadiga.

ANTROPOMETRIA

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content/uploads/2014/09/avaliacao_corporal.jpg?9feb0c

A Antropometria tem em vista determinar as características e as

propriedades do aparelho locomotor. Ou seja, consiste na caracterização e

determinação das propriedades da massa corporal.

O estudo do centro de massa de um corpo é um dos elementos

fundamentais na análise dos movimentos. E para tal será necessário determinar


previamente a sua localização. Para tal, será necessário recorrer-se aos

conhecimentos oriundos da Antropometria.

Uma outra área de interesse, para a Biomecânica, é a construção e

aperfeiçoamento de equipamentos e materiais. E, mais uma vez, os

conhecimentos oriundos da Antropometria serão determinantes para levar a bom

termos essas investigações. Segundo Zatsiorskij et al. (1982, in Amadio, 1996),

a Antropometria, no âmbito biomecânico dedica-se, fundamentalmente ao

estudo de:

a) a geometria da massa corporal;

b) o centro de massa do corpo;

c) o momento de inércia de cada segmento corporal;

d) o centro de massa de cada segmento;

e) as dimensões e as proporções corporais.

Esta área auxilia na descrição e análise do movimento, apoiando-se na

construção de modelos antropométricos do corpo humano, tendo por base leis

matemáticas e físicas, procurando a optimização do rendimento (Amadio, 1989).

Os métodos de investigação para a determinação das características e

propriedades da massa corporal humana, pode dividir-se nas seguintes

categorias (Zatsiorsky et al., 1984 in Amadio, 1996): a) investigação em

cadáveres; b) investigação in vivo; c) investigação analítica indireta.

As investigações com cadáveres consistem na determinação das

características e propriedades da massa corporal, após o desmembramento dos

segmentos do corpo. Um dos estudos, deste tipo, mais citado é o de Dempster

(1955), o qual utilizou cadáveres de sujeitos entre os 52 e os 83 anos com pesos

que variaram entre os 49 e os 72 Kg.


As investigações antropométicas in vivo, consistem na caracterização e

determinação das propriedades da massa em corpos vivos através de diversos

métodos, como por exemplo, a pesagem hidrostática, a fotogrametria ou, o

pêndulo físico.

http://www.housegym.com.br/_common/dados/servicos/nutricao_esportiva

2.jpg

Finalmente, as investigações analíticas indiretas tem por base

procedimentos analíticos para o cálculo das características e propriedades

inerciais da massa corporal. Estes modelos são construídos com base em corpos

rígidos e articulados. Esses modelos caracterizam-se por serem:

(i) Sólidos de densidade uniforme;

(ii) Com formas geométricas simples;

(iii) Com os eixos articulares fixos substituídos por móveis, para que

simulassem posições e movimentos humanos.


BIBLIOGRAFIA

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movimento. São Paulo, 1996.

AMADIO, A. C. Fundamentos da biomecânica do esporte: considerações sobre


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