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PRINCÍPIOS DO TREINO
Licenciatura em Equinicultura
Introdução
A preparação de um cavalo para uma competição
resulta sempre de uma conjugação entre treino e
ensino.
O ensino (ou melhor, a aprendizagem do cavalo)
leva à coordenação motora e à disciplina mental;
O treino leva à manutenção do estado físico e à
maximização do desempenho desportivo.
Tipos de treino
O processo do treino compreende 3 áreas distintas, embora
complementares:
Treino cardiovascular (velocidade/resistência): capacita os sistemas
respiratório, cardiovascular e muscular para produzirem energia pelas
vias metabólicas adequadas.
Treino de força: destina-se a aumentar a potência ou a resistência dos
principais grupos musculares necessários para modalidades
específicas.
Exercícios de elasticidade: têm como objetivo aumentar a amplitude
de movimento das articulações, o que torna o cavalo mais atlético,
melhora a estética dos exercícios e reduz o risco de lesões.
Resposta dos tecidos
O sucesso do programa de treino depende
fundamentalmente da resposta dos tecidos ao stress
imposto pelas sessões regulares de exercício.
Cada sessão provoca sempre um determinado nível
de danos reversíveis, que são reparados nas horas,
ou dias, seguintes;
Através de ciclos repetidos de lesão-reparação, os tecidos vão-se
adaptando à carga de esforço de forma mais permanente.
A natureza das adaptações a curto ou a longo prazo depende do tipo
de exercícios e da frequência das sessões de treino.
Se as sessões de exercício regulares cessarem ou forem reduzidas em
volume, as alterações provocadas pelo exercício revertem.
Resposta a curto prazo
O exercício extenuante tem efeitos variados sobre
o organismo:
O consumo rápido dos substratos energéticos diminui
a glicémia e consome as reservas de glicogénio;
Acumulam-se detritos metabólicos;
↑ do hematócrito e da
↑ da capacidade de
concentração de
transporte de O2 AUMENTO
hemoglobina
DO
CONSUMO
Proliferação dos ↑ da capacidade das MÁXIMO DE
capilares musculares fibras musculares
receberem O2 O2
↑ do nº de
mitocôndrias e da ↑ da capacidade de obter
concentração de energia por via aeróbia
enzimas oxidativas
Resposta a longo prazo –
estruturas de suporte
Osteogénese em
Aumento da densidade
resposta a estímulos
da matriz óssea
mecânicos
O programa de treino deve iniciar-se cedo (animais jovens), mas ser introduzido de forma
moderada ao longo do tempo (carga cíclica de períodos curtos) – saltos, dressage, CCE,
corrida…
Resposta a longo prazo –
estruturas de suporte
A B C D
Corte transversal da morfolgia das fibrilhas de colagénio:
(A) Tendão flexor digital superficial de um poldro recém-nascido;
(B) Tendão flexor digital superficial de um cavalo adulto;
(C) Tendão flexor digital profundo de um cavalo adulto;
(D) Ligamento suspensor do boleto de um cavalo adulto;
No poldro, as fibrilhas são unimodais, enquanto no adulto há fibras de grande e pequeno
calibre;
Nas no TFDP maior % de fibras de grande calibre (estrutura de suporte), quando comparadas
com o TFDS (estrutura de acumulação de energia).
Resposta a longo prazo –
estruturas de suporte
Há estudos que mostram que
o diâmetro das fibrilhas na
porção central do TFDS é
inferior em cavalos treinados
em treadmill, enquanto as
diferenças na região periférica
não são significativas;
Resposta a longo prazo
O objetivo é condicionar todos os sistemas do
organismo, de forma a suportar o nível crescente de
exercício, sem provocar o colapso de qualquer deles.
Consequentemente, o treinador tem de trabalhar
dentro da capacidade cardiovascular do cavalo nas
fases iniciais do treino, dando tempo às estruturas
de suporte para se fortalecerem.
Ou seja, a duração das sessões e o nível de exigência dos
exercícios é condicionado, não pela tolerância do cavalo ao
esforço cardiovascular, mas pelo grau de adaptação das
estruturas de suporte.
Volume de exercício
O volume de exercício realizado durante um dado
período de tempo é função de:
Intensidade
Duração
Frequência
Volume de exercício
Intensidade: depende da quantidade de energia
consumida por período de tempo.
A frequência cardíaca é um bom indicador.
A velocidade é a maior determinante.
3 Duração
Intensidade
2
0
Semana 1 Semana 2 Semana 3 Semana 4 Semana 5 Semana 6
Sobrecarga (overloading)
Sobrecarga do treino cardiovascular:
Inapetência,
diminuição do rendimento e
aumento do hematócrito.
Sobrecarga do treino de força:
Ao nível do músculo (distensões musculares de
grau variável);
Ao nível das estruturas de apoio (fraturas, roturas
e processos inflamatórios de tendões e
ligamentos).
Sobrecarga (overloading)
Para evitar a sobrecarga, o programa de treino tem
de contemplar o facto das estruturas de apoio
terem um período de adaptação mais longo do que
os sistemas cardiovascular e muscular.
Regra geral, o cavalo não deve realizar o mesmo
tipo de sessão de treino em dias consecutivos,
para permitir tempo de recuperação suficiente
entre sessões para a reparação de microlesões.
Sobrecarga (overloading)
Os primeiros sinais de sobrecarga podem ser detetados pela
palpação diária das extremidades dos membros, antes e
depois da sessão de treino.
Os aspetos a ter em atenção são:
Deteção de calor anormal nos cascos;
Exploração do pulso digital (em repousa, quase não se sente num
cavalo saudável);
Palpação dos 2º e 4º metacarpianos e metatarsianos;
Palpação do ligamento suspensor do boleto e dos tendões flexores
com o membro em apoio.
Perda de forma
Cada vez que se interrompe o treino, o cavalo
perde forma.
A velocidade a que se perde a condição
cardiovascular e musculo-esquelética e a
elasticidade determina o tempo necessário para o
recondicionamento do cavalo após um período de
repouso.
Este é um fator importante a ter em conta durante
a recuperação de lesões.
Perda de forma
Um período de inatividade de um mês (ou inferior) causa
perdas mínimas do condicionamento cardiovascular; deve no
entanto reintroduzir-se o ritmo de trabalho ao longo de
alguns dias.
Paragens de duração superior levam a uma perda apreciável
da forma cardiovascular, embora esta se recupere de forma
razoavelmente rápida.
Deve sempre ter-se em conta que o ritmo deve ser
estabelecido pela capacidade de adaptação das estruturas de
apoio (mais lenta).
Conceção de um programa de treino
120
100
80
60
40
20
0
Prova Prova Prova
1 2 3
Estudos recentes
provam que programas
de treino que
intercalam 2 semanas
de treino com 1
semana de
recuperação (carga de
trabalho reduzida)
provocam subidas
mais consistentes da
VLa4 do que programas
sem períodos de
Referência: Boffi et al. 2011
recuperação. (http://dx.doi.org/10.1016/j.jevs.2011.05.005)
Modulação do “pico” de forma e tapering