XXIII Congresso Brasileiro em Engenharia Biomédica – XXIII CBEB
ANÁLISE BIOMECÂNICA DO EXERCÍCIO AGACHAMENTO NO
MÉTODO TRADICIONAL E UTILIZANDO A BOLA SUÍÇA
W. R. Livramento**, E. Y. Nagata**, F. C. Moreira*, T. Hirata**
*Escola Superior de Cruzeiro (ESC), Cruzeiro, Brasil
**Departamento de Engenharia Mecânica/Unesp, Guaratinguetá, Brasil
fabriciocoutinho@ymail.com
Abstract: The squat exercise has great efficiency in
the developing anterior and posterior muscles of the
thigh, however, has shown a large number of injuries.
The present study aimed to compare two different
evaluation; traditional squat exercise and Swiss ball
exercise. The biomechanical instrumentation was
realized using 2D kinematic, surface
electromyography and force plate. Ten subjects
participated in the study, where performed five
repetitions of the squat exercise in each method. It
was found that the ball exercise showed best results
with lower peak force and muscle activation during
exercises. This finding is important for the athletic
trainer that can reduce potential injuries by avoiding
overstrain during exercise.
Key words: Squat exercise, Swiss ball, biomechanics.
Introdução
O exercício de agachamento é muito eficiente em
desenvolver os músculos anteriores e posteriores de
coxa. É um movimento multiarticular sendo
considerado um dos melhores exercícios de musculação
para os membros inferiores. O joelho é uma das
articulações mais exigida no exercício de agachamento
e o nível de compressão patelofemoral depende do grau
de angulação. Estudos mostram que foram detectadas
pressões de até 4 kN em agachamentos profundos [1].
Portanto, se realizado de forma incorreta ou excessiva, o
agachamento pode provocar lesões no sistema
musculoesquelético sendo, a magnitude da força
patelofemoral, o principal fator que contribui na
degeneração da cartilagem da patela e superfície do
fêmur, podendo resultar em patologias (2).
Algumas variações do exercício de agachamento
podem ser realizadas, dentre elas, destaca-se o
agachamento com o auxílio da bola Suíça [3] que
apresenta maior estabilização do praticante no instante
da execução [4]. Apesar de ser muito praticado, o
agachamento com apoio da bola Suíça tem sido pouco
estudado [3], tornando assim, fundamental o
entendimento de como essa força compressiva
patelofemoral se comporta durante todo o movimento
de agachamento e nas suas variações. Esse estudo pode
auxiliar a conduta de fisioterapeutas e professores de
1
educação física na prescrição deste tipo de exercício.
O presente estudo propõe comparar o agachamento
com a barra e o agachamento com o apoio da bola Suíça
por meio de análise biomecânica, utilizando a
cinemetria, a eletromiografia dos músculos reto femoral
e vasto lateral e a dinamometria com a plataforma de
forças durante a execução do movimento.
Materiais e Métodos
Amostra – Participaram do estudo dez voluntários
do sexo masculino com idade de 18 à 25 anos,
saudáveis e sem histórico de lesão nos membros
inferiores. Os participantes tinham experiência mínima
de 6 meses em musculação.
Instrumentos – Para a pesquisa foram utilizadas
uma bola Suíça (Acte, 65 cm), uma barra (Polimet, 1,50
m, 8kg), anilhas (2 de 5kg, 2 de 10kg e 2 de 1kg) e duas
câmeras digitais (Sony DSC - W120, Cyber-shot de 7.2
megapixels, 30 frames por segundo).
Para a eletromiografia utilizou-se um eletromiógrafo
de superfície (EMG) da marca EMG System do Brasil,
modelo EMG611C com quatro canais com conversor
A/D (analógico/digital) de 16 bits de resolução e com
faixa de entrada de -5V a +5V. A freqüência de
amostragem de 2000 Hz, com amplificação de 2000. O
filtro foi ajustado na faixa de 10 Hz a 500 Hz, de quarta
ordem, com tempo de análise de 20 segundos. Para a
captação dos sinais eletromiográficos foram utilizados
sensores ativos bipolares diferenciais, pré-amplificados
(ganho de 20 vezes) e com uma taxa de rejeição de
modo comum maior que 100 dB. Foram utilizados
eletrodos de superfície com base em Ag-AgCl (prata-
cloreto de prata), com geometria circular de 10 mm de
diâmetro. As faces dos eletrodos foram recobertas por
gel condutor para aumento da condutividade elétrica.
Utilizou-se uma bateria, para que não houvesse
interferência dos sinais da rede elétrica.
Os dados foram tratados no próprio eletromiógrafo,
o qual forneceu gráficos Vrms (tensão rms – root mean
square) da atividade elétrica muscular em relação ao
tempo. O procedimento da captura e análise do sinal
eletromiográfico, foi baseado na recomendação da
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International Society Electrophysiology Kinesiology
(ISEK).
Para aquisição de dados de forças de contato do
membro de apoio, foi utilizada uma plataforma de
forças, desenvolvida e calibrada devidamente no
laboratório de Biomecânica. Com a plataforma de forças
foram coletadas as forças de reação vertical do pé de
apoio. A plataforma de forças utilizada nesta pesquisa
foi desenvolvida segundo padrões internacionais de
medidas com capacidade de carga de 3600N, dimensões
de 70 mm de altura, 500 mm de largura e 500 mm de
profundidade, material de alumínio 5052, constituída
por 4 células de carga. Cada célula de carga foi
construída com capacidade de 900 N, sensibilidade de
2mV/V, corpo em aço 4340, 4 extensômetros (modelo
J2A – 06 – SO38 – 350) com fator de ganho: 2.05 do
fabricante MM. A captação dos sinais de extensômetros
foi realizada utilizando um condicionador Spider8, da
marca HBM com programa especifico Catman,
frequência de aquisição de 200Hz.
Procedimentos – Para a coleta dos dados do
eletromiógrafo foram realizadas tricotomia e assepsia na
pele na região dos músculos reto femoral e vasto lateral
de acordo com o protocolo Seniam [5]. Os eletrodos
foram colocados apenas na perna dominante. Os sujeitos
fizeram aquecimento prévio e simulação do movimento
antes da aquisição dos dados.
No início, os indivíduos subiram na plataforma
zerada e após o comando foram submetidos a exercícios
de agachamento com a barra, constituídos de uma série
de 5 repetições com velocidade constante e uma carga
de 6 kg de anilhas em cada lado da barra totalizando 20
kg com o peso da barra (8 kg). Após terminar os
movimentos de agachamento com a barra, os indivíduos
desceram da plataforma e a barra foi retirada.
Novamente a plataforma foi zerada para dar início à
série (5 repetições) de exercício de agachamento com o
apoio da bola Suíça, estando esta, apoiada na região
lombar. Para totalizar 20 kg, os indivíduos utilizaram
duas anilhas de 10 kg, uma em cada mão. A figura 1
apresenta ilustrações dos exercícios de agachamento
utilizado na pesquisa.
Figura 1: a) Agachamento com Barra; b) Agachamento
com o apoio da bola Suíça.
Durante a execução do agachamento, foram
coletados sinais eletromiográficos dos músculos reto
femoral e vasto lateral, baseando-se na recomendação
da International Society Electrophysiology Kinesiology
(ISEK).
305
2
A figura 2 ilustra o sinal eletromigráfico do músculo
reto femoral processado de um indivíduo durante 5
repetições do exercício de agachamento com barra. A
amplitude média do sinal foi obtida para cada músculo
nas duas formas de execução pelo sinal obtido durante a
contração realizada no movimento.
Figura 2: Ilustração do sinal EMG do reto femoral.
A análise estatística dos dados foi feita a partir do
Vrms, obtidos dos pontos médios de maior atividade
eletromuscular (µV) apresentados nos músculos: reto
femoral e vasto lateral. Os dados obtidos foram
comparados entre os dois métodos do exercício de
agachamento.
A dinamometria esteve presente no trabalho por
meio da plataforma de forças. A análise dos dados
obtidos pela plataforma foi aplicada em um gráfico onde
analisados os picos da força de reação do solo,
sincronizou-se com a cinemetria para chegar aos
ângulos referentes aos picos da FRS. A figura 3
apresenta um gráfico de força de reação para os dois
métodos comparados, agachamento com barra e bola
Suíça.
Figura 3: Exemplo da variação da força de reação
obtido pela plataforma de forças.
Resultados
Nos resultados obtidos através da cinemetria,
observou-se que o instante de maior flexão da
articulação do joelho, apresentou uma média de 76,6 ±
2,90° no exercício de agachamento com a barra. No
exercício de agachamento com apoio da bola Suíça,
obteve-se uma média de 86,04 ± 2,79°. Já na articulação
do tornozelo a média de 86,08 ± 4,04º para o
agachamento com a barra e 104,4 ± 3,83º para o
agachamento com o apoio da bola. O quadril apresentou
uma angulação de 74,6 ± 3,68º para o agachamento com
a barra e 105,24º ± 3,06º para o agachamento com o
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apoio da bola. Estes dados referentes às articulações,
são apresentados no gráfico da figura 4.
Figura 4: Variação angular das articulações no final de
agachamento.
O gráfico da figura 5 apresenta os dados obtidos da
plataforma de força. Estes dados representam a força de
reação do solo e são apresentados em quilograma força
(kgf). Os picos de forças foram registrados,
respectivamente, agachamento com barra e bola Suíça,
128,97 ± 4,08 kgf (1263,9 ± 40,0 N) e 114,5 ± 2,76 kgf
(1122,1 ± 27,1 N).
Figura 5: Picos de forças de reação do solo registrados.
Os resultados da atividade elétrica muscular foram
obtidos na região de maior ativação elétrica muscular
apresentado no gráfico da figura 2, no instante da
realização do movimento.
A figura 6 apresenta maior ativação muscular, reto
femoral e vasto lateral registrados no final de cada
agachamento. O músculo do vasto lateral registrou 0,36
± 0,23 mV e 0,41 ± 0,24 mV, respectivamente com
agachamento de barra e da bola. E o músculo reto
femoral registrou 0,33 ± 0,17 mV e 0,46 ± 0,15 mV,
respectivamente com agachamento de barra e da bola.
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3
Figura 6: Maior ativação muscular (Vrms) no reto
femoral e vasto lateral.
Os dados da eletromiografia foram comparados com
a cinemetria onde obteve-se uma média de 85º no
agachamento com barra e 94,5º para o agachamento
com o apoio da bola Suíça. Foi considerado que a
maioria dos indivíduos apresentou uma maior
intensidade na atividade elétrica muscular no início da
força concêntrica no movimento do agachamento
(movimento de subida).
Discussão
No presente trabalho foram coletados dados por
meio de cinemetria, eletromiografia e plataforma de
força. De acordo com os dados obtidos na coleta por
meio da cinemetria, observa-se que o exercício de
agachamento com o apoio da bola Suíça apresentou um
menor grau do desvio padrão possibilitando uma
estabilidade maior em relação ao agachamento com a
barra.
Uma das articulações mais exigidas no exercício de
agachamento é a articulação do joelho. Além disso é a
que apresenta grandes danos para seus praticantes. Por
meio da cinemetria pode-se observar que a angulação
sofrida pelo joelho no exercício de agachamento com
barra foi menor, aumentando significativamente a
compressão patelofemoral, onde, por sua vez, aumenta
com a diminuição do ângulo exercido sobre a
articulação do joelho [6].
A compressão patelofemoral aumenta com a flexão
do joelho. O trabalho de [7] realizou os testes com uma
amostra composta por 10 indivíduos, onde realizaram
duas formas de agachamento livre, ultrapassando a linha
vertical da ponta do dedo dos pés e não ultrapassando a
linha do mesmo. Neste estudo, foram observados que o
exercício de agachamento com a bola possibilita uma
menor compressão patelofemoral pela análise das
atividades musculares. Utilizando o teste t, verificou-se
que houve diferença significativa ao nível de
significância de 5%, em todas as articulações
comparando os dois exercícios.
Verificou-se através da plataforma de força que o
exercício de agachamento com barra exerce uma força
média de 128,97 kgf (1263,9 N) sobre o solo, com um
valor 12,63% acima do valor apresentado pelo exercício
de agachamento com o apoio da bola e com uma
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diferença de 48,03% no desvio padrão durante o
exercício. Através do teste t verificou-se que houve
diferença significativa entre os dois agachamentos ao
nível de 5%. Houve uma maior dificuldade na
realização do exercício de agachamento com barra e
exige-se um melhor conhecimento ou habilidade do
atleta para uma melhor execução do mesmo. O
agachamento com o apoio da bola apresenta menor
esforço necessário para o mesmo exercício e com mais
uniformidade de movimento, possibilitando a prática de
indivíduos menos experientes.
Sabe-se que, em análise da ativação dos músculos do
membro inferior, vasto medial, bíceps femoral cabeça
longa, semitendíneo e glúteo máximo, todos apresentam
uma significativa participação durante o agachamento,
sendo que este exercício com barra é o que exige mais
da musculatura [7]. Utilizando o teste t, não verificou-se
diferença significativa entre os dois exercícios em
nenhum dos músculos ao nível de significância de 5%.
Segundo os dados da eletromiografia, o
agachamento com o apoio da bola Suíça apresentou uma
maior tensão da atividade eletromuscular dos músculos
relacionados no presente estudo. No trabalho de [3]
realizaram uma pesquisa da mesma linha de raciocínio
do presente estudo, onde também realizaram a análise
da atividade elétrica muscular de músculos do membro
inferior. Coletaram dados do músculo reto femoral e o
vasto medial da coxa, verificando uma maior tensão do
músculo reto femoral do exercício de agachamento com
o apoio da bola Suíça em relação ao agachamento livre
[3].
O presente estudo obteve a confirmação do resultado
de [3] com a análise do músculo reto femoral,
consolidando ainda mais o exercício de agachamento
com o apoio da bola por apresentar uma melhor
eficiência em relação ao agachamento com a barra.
eletromiografica durante o exercício de agachamento com e sem
auxílio de bola suíça. Brazilian Journal of Sports and Exercise
Research, Rio de Janeiro, v. 1, n.2, 2010.
[4] MARTINS, Daniela S; CRUZ, Ticiane M. F. Exercícios com bola:
um guia prático. São Paulo: Phorte, 2007.
[5] SENIAN. Sensor location. 2006. Disponível em:
http://www.senian.org. Acesso em: 22 jun. 2012.
[6] HALL, Susan J. Biomecânica Básica. 4 ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2005.
[7] LIMA, C. S; PINTO, R. S. Cinesiologia e Musculação. Porto
Alegre: Artmed, 2006.
[8] AMADIO, A.C. et al. Introdução à Biomecânica para Análise
do Movimento Humano: Descrição e Aplicação dos Métodos de
Medição. São Paulo: USP, 1996.
[9] BAUMANN, W. Métodos de medição e campos de aplicação da
Biomecânica: estado da arte e perspectivas. Trad. de Sonia C.
Correa e Ricardo Barros. / Apresentado ao VI Congresso Brasileiro
de Biomecânica, Brasília1995.
[10] BOSSI, Luis Cláudio. Periodização na musculação. São Paulo:
Phorte, 2009.
[11] CARRIÈRE, Beate. Bola Suíça: Teoria, Exercícios Basicos e
Aplicação Clínica. São Paulo: Manole, 1999.
[12] SOUZA, F. M. C. P. G. et al. Atividade eletromiográfica no
agachamento nas posições de 40º, 60º e 90º de flexão do joelho.
Revista Brasileira de medicina do esporte, Niteroi, v. 13, n.5, 2007.
[13] WINTER, DA. The Biomechanics and motor control of human
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of Waterloo Press, p. 143, 1991.
[14] HIRATA, Rogério Pessoto. Análise da Carga Mecânica no
Joelho Durante o Agachamento. Dissertação de Mestrado da
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.

Conclusão

O agachamento com o apoio da bola Suíça pode ser

bastante aproveitado para a iniciação de atletas de
musculação, pois, segundo dados, ele apresenta uma
maior estabilidade para o atleta e uma maior eficiência
dos músculos, reto femoral e vasto lateral, em relação
ao agachamento com a barra.
E para finalizar, de acordo com dados e estudos
apresentados por vários autores e os dados obtidos no
presente estudo, o exercício agachamento com o apoio
da bola Suíça, apresenta uma melhor eficiência
biomecânica, demonstrando-se um exercício eficiente e
com baixo risco de lesão.

Referências

[1] CAMPOS, Maurício de Arruda. Biomecânica da musculação. 3

ed. Rio de janeiro: Sprint, 2006.

[2] HIRATA R.P; DUARTE M. Efeito da posição relativa do joelho

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Brasileira de Fisioterapia, São Carlos, v. 11, n. 2, p. 121- 125 2007.

[3] SAMPAIO-JORGE, F; SCHETTINO, L; PEREIRA, R. Análise

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