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Antes de tratar das conceituações fundamentais que formam a base tanto da or-
ganização quanto das análises deste livro é necessário falar algo sobre o lugar que ele
ocupa no acúmulo de conhecimento acadêmico a respeito da polícia.
De um modo geral, a polícia ainda não havia sido submetida a uma análise com-
parativa. Até muito recentemente nem historiadores nem cientistas sociais haviam
reconhecido a existência da polícia, quanto mais o importante papel que ela desem-
penha na vida social. Praticamente tudo que havia sido escrito sobre policiamento
foi feito pelos próprios policiais, que apenas contavam histórias ou davam pequenas
-
notícias. Os índices dos livros de História da maioria dos países nem mesmo trazem
15
PADROES DE POLICIAMENTO
. o sobre o tema. 0 s re
t ze volumes do Cambridge Modern History (1911), por
um tÓpie . p l' •a Historiadores renomados, escrevendo sobre o tem.
l não têm o item o 1c1 . - , .
exemp º• . . m sistematicamente qualquer mençao à policia, e não
m que viveram, ignorara .
Pº e _ . . Os grandes cronistas romanos apenas a mencionam breve-
0 r ue esta nao ex1st1sse.
P q
mente embora as 1g1 ias
v· T fossem uma força expressiva desde o ano. 6 d.C. (Reynolds '
'
1926: 26-28). Uma no ve
tá I exceção a este padrão de descaso . crónico
. é ,a .história da
Rússia . que de d'ica bas tante espaço para o desenvolvimento da policia do Czar
.' ) Há uma lição a ser aprendida aqui. A Polícia só é ~ UID-
(Flonnsky, 19 53 · ,. . .
.
te eventos dE m icos - - =='
át de renre« ão.p.oht1ca, como o Terceiro Re1ch, a Comuna
_ de Pa-
.
ns em 1872,ascon r ta-revoluções na Europa de 1848-1849 _ e a confirmaçao
._ , . do gover-
no Me1J1 ... no Jap a·o por volta de 1870. Por esta mesma razao, esp1oes • .e pohc1a
- - 2Qlítica
-
•,~ mo;ca,tenrão historicamente do que as pessoas dedicadas à patrulha
c ~ ~- =-- ---,----
. u· Asrot·neiras manutenções da ordem e prevençao
- -:-· -_- ----
de cnmes sao comumente
~ fill~ 1 . . ..
-
ignora das, ai·nda que representem uma parte mUito . mais importante da vida diária
dos cidadãos do que a repressão política.
Felizmente O descaso com o papel da polícia mudou dramaticamente durante a
última década, pelo menos nos países de língua inglesá. Até então o melhor de uma
safra pobre eram estudos ingleses (Critchley, 1967; Hart, 1951; Reith, 1938, 1948,
1952, 1956). Nenhum deles anterior à Segunda Guerra Mundial. Atualmente o estu-
do histórico da polícia ganhou popularidade, produzindo diversos estudos regionais
excelentes, uma gama de artigos e até mesmo comentários na literatura . Por mais que
esta atividade recente esteja aquecida entre os historiadores, ainda é cedo para saber
se isso não passa de um modismo de vida curta.
Os cientistas sociais têm sido ainda mais irresponsáveis do que os historiadores
ao estudar a polícia. Nos Estados Unidos, do começo da Segunda Guerra Mundial até
meados da década de 60, apenas seis artigos sobre a polícia apareceram no American
Sociological Review e no American Journal of Sociology, dois no Public Administration
Review; e nenhum no American Política/ Science Review (Earle, 1973, p. 15). Estes ar-
tigos eram muito pouco analíticos, tendo sido descritos por um comentarista. como
"pragmáticos e experimentais, e também, às vezes, de incentivo, especialmente no que
se refere à moralidade pública e obediência às leis" (Pfiffner, 1962). Cientistas políti-
cos, mesmo comparativistas trabalhando internacionalmente, ignoraram a polícia
completamente. Nas palavras de David Easton e Jack Dennis, a polícia "caiu num es-
tado tão periférico no que se re,ere
, a· c1encia
· · · po l'1t1Ca
· que e, VIrtua
· 1mente 1mposs1ve
· ' 1
-
encontrar uma discussão teó · b d b · 1
. nca em asa a so re as diversas funções que e a ocupa
em sistemas pol'f1 "(196
Kos 9, p. 210). Desde meados da década de 60 esta situação
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C RIA N DO U MA TE O RIA DE PO LI C I A M ENT O
1. Max VVeber disse que a característica fundamental do Estado moderno é seu "monopólio do uso legítimo da
força física dentro de um dado território", e Leon Trotski disse que "todo Estado é fundado na força" (Gerth e
-
Mills, 1958, p. 78).
2. Charles Reith descreveu notavelmente esta negligência em seu livro pioneiro, TI1e Blind Eye of History ( 1952).
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DE POLICIAMENTO
pADR OES
3
- Os ofi ciais militares também podem ser negligenciados e pelas mesmas razões ()anowitz, 195 9 , P· 15 ).
18
CR IAN DO UMA TEORIA DE POLICIA~I EN TO
FORMAS DE POLICIAMENTO
-
dos sinais possíveis pelos quais ela possa ser reconhecida, quaisquer generalizações a
respeito da polícia podem ser contestadas.
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PADRÕES DE POLICIAMENTO
Sempre que a palavra polícia for usada neste livro, ela irá se referir a pessoas au-
torizadas por um grupo para regular as relações interpessoais dentro deste grupo
através da aplicação de força física. Esta definição possui t_[ês partes essenciais: força
f~ if?, uso interno e autor~-'.iletiv.a, Tendo em vista que definições nunca sã;
certas ou erradas, exceto em relação ao uso, mas são usadas por conveniência, por
que eu insisto nesses elementos ao definir o termo polícia? •
A competência exclusiva_da. polícia é o uso de força física , real ou por am ~ ça,
para afet~ 0 comportamento. A polícia se distingue, não pelo uso real da força, mas
por possuir autorização para usá-la. Como disse Egon Bittner (1974), "o policial, e
apenas O policial, está equipado, autorizado e requisitado para lida r com qualquer
exigência para a qual a força deva ser usada para contê-la". Mesmo quando não usam
de força, ela está por trás de toda interação que acontece (Shearing e Leon, 1975).
Outras agências podem recomendar medidas coercivas e mesmo direcionar seu uso,
como fazem, respectivamente, as legislações e cortes mas os policiais são os agentes
executivos da força. Eles a aplicam de fato. Embora os polici_aj s não sejam os únicos
ª 8-:Etes _da sociedade_CQ.11LP!!:.!!.llis.ão_p_ara _ç_plocar as mãos nas pessoas-de mo~ a
controlar seu comportamento, eles seriam irreconhecíveis como policiais se não ti-
v;;;;; es~ autoridade. - - - -- -
A estipulação de uso interno da for_ça é e~ en~ ial para excl~ir exércitos. Ao mes-
mo tempo, quando formações militares são usadas para a manutenção da ordem den-
tro da sociedade, estas devem ser vistas como força policial. De fato, a separação da
polícia das instituições militares é uma questão que deve ser discutida.
Autorização por.!!!]1_g!!J2.Q_é o tercei ~o elemento definidor. É necessário para que
se possa excluir do termo polícia as pessoas que utilizam de força dentro da socieda-
de para propósitos não-coletivos. Isso inclui assaltantes, rebeldes e terroristas, tanto
quanto, quando é o caso, pais, empregadores, proprietários de terras, professores e
membros da igreja. Outro modo de exemplificar isso é que a polícia não se cria sozi-
nha; ela está presa a unidades sociais das quais deriva sua autoridade. Hoje estamos
acostumados a pensar na polícia como uma criação do Estado, mas um pouco de
reflexão mostrará que isso é muito restritivo. Vários tipos d~ rupo~ autori~am um_
u~o-~ terno da for~ ue é aceito como legítimo. As pessoas estão sujeitas a tipos dife-
rentes de policiamento, cada uma definida por um tipo diferente de unidade social.
Nos Estados Unidos a polícia pode ser autorizada pelo governo central, Estados, con-
dados, cidades, e grupos de interesse privado; na África, por tribos, países, cidades e
-
movimentos revolucionários; no Sudeste Asiático por vilarejos, Estados, castas e tri-
bos. Grupos capazes de autorizar policiamento devem ser vistos como aninhados um
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CRIANDO UMA TEORIA DE POLI C IAMENTO
-
indígenas americanas, que expulsavam pessoas da comunidade sob ordens dos con-
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PADROES DE POLICIAMENTO
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. Tanto minha definição de polícia quanto a definição de lei por E. Adamson Hoebcl observam a relação entreª
-
autorização da comunidade e a aplicação da força física . "Uma norm a social é legal se sua negligência ou mfra-
ção ocorrem regularmente, como ameaça ou de fato, pela aplicação de força física por um indivíduo ou grupo
com o privilégio socialmente reconhecido de assim fazê-lo" (Kobben, 1969, p. 120).
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CRIANDO UMA TEORIA DE POLI C IAMENT O
-
Embora seja útil pensar nessas características de forma dicotómica - pública/priva-
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PADRÕES DE POLICIAMENTO
-
de polícia. Uma força po!i,ci_ale.s.pecgjizada se co~ entra aplicaçª o de fo ~ça; J!l11a
força policial não_!SP~.cializada_p.Qill!Lautorizgç-ª-º-.p,ara fa_~er uso ge força,..mas é..ca-
p~ , zer muitas outrat,.coJsas-também. As polícias da França e Prússia, durante os
séculos dezoito e dezenove, eram instrumentos de regulamentação governamental
para todos os fins, realizando inspeções sanitárias, checando pesos e medidas, emi-
tindo permissões de moradia e garantindo suprimentos de comida adequados. Em
sociedades menores e menos complexas o policiamento freqüentemente é feito pelos
líderes, às vezes com o auxílio de guerreiros, responsáveis pelo governo de um modo
geral. Mesmo em Nações-Estado modernas, como veremos no Capítulo 6, a polícia
faz muitas outras coisas além de restringir o comportamento através de força física.
Além disso, outras agências governamentais podem ser autorizadas a aplicar a lei atra-
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CRIANDO UMA T EO RI A DE PO LI C I A M ENTO
vés de meios físicos mas não são especializados nisso. Nos Estados Unidos, por exem-
plo, agências como o Serviço Postal, a Guarda Costeira e o Serviço de Parques Nacio-
nais aplicam a lei para alcançar objetivos mais amplos. Elas realizam um serviço es-
pecializado, mas não são especializadas em serviço policial. <2.22!ici.a.mE._nto se tor(!a
e~ ecializado guando as agências §~o clirecio.nadas a se c9.11&ent.rar..pcinc.ipalmcntcJ1a
ap.licação_de..focça física,
As características de público/privado e especializadas/não-especializadas podem
ser combinadas, na prática, de diversas maneiras. A Patrulha Estadual do Colorado é
uma polícia especializada pública; os agentes da Receita Federal Americana (A mc -
rican Internai Revenue Service) são uma polícia pública não-especializada; os deteti-
ves da agência de detetives Pinkerton formam uma força policial especializada priva -
da; e membros familiares que empregam a força para solucionar conílitos executam
um tipo de policiamento privado não-especializado.
PmftJ..$Jmiza~ão refere-se a uma.p.rmu:ª-~º explícita para r!alizarjl!_nções ex-
clusivas da atividade polici'!l. O termo é embaraçoso, especialmente a partir do mo-
mento em que passou a significar, nos meios policiais, um tipo de condição desejada,
ao invés dos atributos comportamentais alcançados. Racionalização, no sentido de
uma auto-administração consciente, pode ser um termo mais adequado, mas tam-
bém possui conotações que atrapalham seu significado. A profissionalização envolve
recrutamento por mérito, t~ inamento formal, e;:gJucão na carreira estrutu n1.da,_g_is:
ciplina sistemática e _!.rabalho em tempo inte~. O espectro da profissionalização
contra a não-profissionalização alcança as outras duas categorias. Embora a maior
parte da polícia pública especializada seja profissional, sob certos aspectos, o policia-
mento privado também pode ser profissional, tanto quanto uma força policial não-
especializada.
Os três grupos de atributos referentes à agência, foco e racionalização são
logicamente distintos; podem ocorrer em qualquer combinação. Desde que uma
combinação específica corresponde ao conceito de polícia moderno, uma parte
importante da análise que se segue será determinar se emergiram historicamente em
uma seqüência específica. As agências públicas tomaram o lugar das agências privadas
antes ou depois da especialização? A especialização ocorreu antes da profissionaliza-
ção? Tornar-se pública foi um fator necessário para a profissionalização?
A Figura 1 resume esquematicamente os conceitos empregados. Os atributos de
força física, âmbito interno e autorização social (números 1, 2 e 3) definem o concei-
to de polícia. Todos os três devem estar presentes para que possa existir polícia. Uma
-
vez que um tipo especial de polícia, a moderna, tende a ser majoritariamente pública,
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PADRÕES DE POLICIAMENTO
Figura 1
Conceitos Básicos
A. Elementos definidores
1. Aplicação de força fisica
2. Âmbito
3. Autorização
Intern o
Extern o
Não pela p. e.x., exército s
Pela co munid ade
Co munidad e p. ex. ,
crime, revo ltas
P OLICIA
1Privado [ Especializa do] 1 N.ão-rspccia li1.adol Pro fissional 1 Não- profi ss io nal [
POLICIA MODERNA
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CRIANDO UMA TEORIA DE POLI C IAMENTO
Ao mesmo tempo, forças policiais também variam em outros aspectos, tais como
estrutura, treinamento, emprego de força, reputação, poder e composição social.
Qualquer tentativa de descrever e explicar o policiamento além das definições enci-
clopédicas exige uma limitação da análise a alguns poucos tópicos mais importantes.
Neste livro estes tópicos serão estrutura, força , função e posicionamento político
da polícia (números 7, 8, 9 e 10). Sua inclusão se justifica apenas por sua espe-
cificidade. São questões que as pessoas normalmente consideram importantes quan-
do sistemas policiais são comparados. Embora todas as organizações policiais pudes-
sem ser comparadas sob esses aspectos, apenas as modernas - públicas, especializadas
e profissionais - serão analisadas. De outro modo seria impossível realizar este livro.
ORGANIZAÇÃO DO LIVRO
A análise da polícia contida neste livro baseia-se nas considerações do que é es-
sencial teoricamente, historicamente contemporâneo e de interesse contínuo. A Par-
te I aborda a evolução histórica. O Capítulo 2, especificamente, analisa o surgimento
das organizações policiais públicas, especializadas e profissionais. O Capítulo 3 des-
creve a estrutura das forças policiais modernas e examina as razões das diferenças
apresentadas. O capítulo 4 discute os padrões de crescimento das forças policiais, con-
centrando-se em pessoal. A Parte II examina o trabalho realizado pelas forças policiais
modernas. O Capítulo 5 começa com uma análise do que é o trabalho policial, como
deve ser conceituado e quais são as fontes de informação existentes a esse respeito.
Elabora alguns dos principais padrões de variação no trabalho policial dentre as for-
ças policiais nacionais. O Capítulo 6 desenvolve uma teoria que explica as variações
existentes no trabalho policial. Pode ser mais correto dizer que eu avalio se uma teo-
ria mínima é possível, dado o que se conhece atualmente sobre o trabalho policial. A
Parte III, Política, examina as relações recíprocas entre a polícia e seu sistema político
interno. O Capítulo 7 explora as tentativas dos países em tornar a polícia mais res-
ponsável. O Capítulo 8 reverte essa perspectiva, examinando o papel que a polícia
desempenha na vida política.
A análise da evolução policial na Parte I toma como base uma coleção de mate-
riais históricos ricos mas incompletos. De um modo geral, a pesquisa usa materiais de
pesquisa disponíveis em inglês, embora uma parte tenha sido especialmente traduzida
de fontes estrangeiras. Eles refletem de um modo bastante preciso o estado de conhe-
cimento do desenvolvimento policial nos seguintes lugares: na Europa: França, Alema-
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r.s D E poLICIAMENTO
PA DR O <-
28
C RIAND O U MA TEOR I A DE POLIC I AMENT O
•
ve rsos países asiáticos, europeus e norte -amencnnos no fi na Idos •1nos
• 70 · especifica-
mente lndia, Japão, Cingapura, Ceilão, França , Grã-Bre lanh:i. Noruega. H~landa'. ~-
nadá e Estados Unidos. Embora os paises escolhidos para estudo ,lbraniam Vl'l nos
continentes, culturas, e graus de desenvolvimento económico, eles nJo con 5 lituem
uma amostra global representativa . Embora os dados coletados demonst rem O gran-
de grau de variação do trabalho policial no mundo moderno, eles não podem ser
usados para provar, mas apenas sugerir razões para essa variaçJo.
O acesso à polícia de qualquer país é problemático, uma vez que seu trnbalho
freqi.lentemente é politicamente sensível e protegido para preservar o direito de con-
fidência dos cidadãos. Este fator inílui mais do que qualquer o utra razão para as li -
mitações da amostragem . Alguns pa íses podem se tornar mais abertos devido a um
esforço maior, mas em outros não vale a pena nem mesmo tentar. Poucos paises não
ofereceram restrições de algum tipo à pesquisa. Posso até sugerir que a disposiç:\o de
um país para permitir acesso aos registros, pessoal, e operações policiais sào um in-
dicador excelente do grau de abertura da vida política e boa reputação de seus regi-
mes. Ser um acadêmico local, por sinal, não minimiza o problema . Na ve rdade, ocorre
o contrário. Acadêmicos locais representam uma ameaça muito maior às in st ituições
policiais. O acadêmico estrangeiro, pelo menÓs, irá embora e publicará o estudo em
seu próprio país. Mesmo quando o acesso é permitido, não é sempre que há coope-
ração dos membros da polícia . Como outras burocracias, as forças policiais são des-
confiadas; elas têm seus próprios interesses a proteger. Antes que o acesso se torne
uma interação produtiva, os oficiais da polícia devem aprender a confiar no pesqui-
sador e aceitar a importância da pesquisa.
A Parte III retorna às abordagens iniciadas na Parte I de busca por padrões de
relacionamento recíproco entre a polícia e a sociedade, e então cria definições teó-
ricas sobre os fatores que resultam em características distintas para esta interação
de país para país. Mais uma vez, embora a informação utilizada seja mais extensa
do que em qualquer outro tratamento da polícia, a análise resultante constitui mais
um princípio informal da construção de uma teoria do que urna abordagem con-
clusiva.
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PADROES DE POLICIAMENTO
0
E ano
5. No d de .1982 ' AUS[raT13 • Bé1gJCa,
. Canadá, Dina marca, Finlândia, Grã-Bretanha, Japão, Noruega, H Jªnda. .e
. . · Freqüc 11 t emente 111ex1ste
-stª. os .Unidos • . uma equivalência perfei ta entre as amo stras da pesquisa
· eª s J·unsd1·
çoes po11c1a1s.
30
C RI ANDO UMA TEO RI A DE POL I C IAM El'ITO
3 4
sorganização psicológica e oportunidade (Radzi nowicz e King. 1977, caps. e ). As-
sim, qualquer teste sobre a utilidade da policia deve assegura r que fa tores como os
mencionados existam na mesma proporção das épocas e locais comp:irndos. Inter
nacionalmente, o grau de variação entre esses fatores é tüo grande que um teste sobre
a eficácia da polícia, mesmo se fosse possivel construir uma med ida de criminalidade
confiável, é praticamente impossível. Mesmo dentro de cada pois, a compa ração c:n·
tre diferentes jurisdições policiais no que diz respeito o essas variações normalmente
é complexa demais para ser viável.
Quarto, medidas de eficácia tais como taxas de solução de crimes, que normalmen-
te traduzem a proporção entre o número de prisões e o número de crimes relatados.
são completamente artificiais. Não apenas se baseiam em números de crimes relata•
dos que não são confiáveis, como medem o que a policia faz - realizar prisões - e não
o que a polícia alcança com isso - a prevenção dos crimes. Taxas de solução de crimes
podem ser consideradas medidas da eficácia policial apenas se punir for considerado o
objetivo primário da polícia. Se sua razão de ser for a proteção do público, então as taxas
de solução de crimes não oferecem informação relevante.
Dados os graves problemas metodológicos que um teste sobre a eficácia da poli-
cia enfrenta, não é de surpreender que tentativas para ligar as variações na forma de
policiamento com os índices de criminalidade normalmente tenham falhado (Clarke
e Heal, 1979; Wycoff, 1982; Wycoff e Manning, 1983). As práticas, estruturas e níveis
de força atuais da polícia são literalmente injustificados em termos de fazer jus à res-
ponsabilidade universalmente confiada a ela de controlar o crime - não porque a
polícia pode não ser útil de fato, mas porque não é possível determinar se ela o é. A
verdade nua e crua é que confiar no que a polícia está fazendo atualmente para prote-
ger a sociedade é uma questão de fé, não de ciência. O uso contínuo de estatísticas
sobre os crimes relatados e taxas de solução de crimes como indicadores da utilidade
da polícia constituem um golpe na ingenuidade pública. Tais estatísticas são as uvas
podres da polícia. Infelizmente, julgamentos sobre a eficácia policial continuarão a se
basear mais na capacidade de autopromoção da polícia do que em conexões com-
provadas entre a atividade policial e a segurança pública.
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