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16 de agosto de 2016
Em razão disso, somos forçados (mas com prazer, sempre) a nos deslocar para outras
cidades e, até mesmo, outros estados para exercer nosso mister. Invariavelmente
passamos por viagens para cumprir compromissos pro ssionais que podem ir desde a
diligências para fazer carga ou cópia dos autos (o que, no mais das vezes, pode ser
delegado a um advogado correspondente) é o comparecimento de atos processuais
Meu cliente, preso, respondia dois processos por crimes patrimoniais. No primeiro, um Ad
furto, ele fora acusado de subtrair loções e perfumes de um mercadinho da cidade, junto
Ci
com outro suposto comparsa, nunca encontrado. Em razão de excesso de prazo
todo).
a rmarem que o assaltante estava de rosto coberto o tempo todo, impossibilitando sua
identi cação, o mesmo foi levado até a cena do crime. Os dois casais que haviam sofrido
o assalto, de tão abalados que estavam, se recusaram a chegar perto do meu cliente,
apontado como suposto autor do crime, para fazer um reconhecimento. Quem precisou
O “suspeito” apontado ali pelas “forças policiais” da cidade como autor do roubo negou o
fato, a rmando que estava em casa naquela noite, sem ter se ausentado em nenhum
momento: fato con rmado pela sua mãe, que foi ouvida na lavratura do Auto de Prisão
em Flagrante. O mais curioso: as “forças policiais” da cidade se resumiam a um Agente da
Polícia Civil (APC), o qual diligenciou sozinho a apuração desse ilícito, chegando a essa
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28/01/2018 Advocacia criminal: minha primeira viagem de trabalho
manhã. Pensei cá com meus botões: mais de duas horas não levo para chegar lá, e se
D
levar, conto com a compreensão dos que lá estavam, pois muito disso não passaria (e eu
D
tenho uma grande di culdade em acordar antes das 6h da manhã, motivo pelo qual me
D
No dia combinado, conforme acertado, às 7h em ponto estava passando no escritório
para pegar minha estagiária, a qual estava prontamente me esperando Tudo ótimo, D
seguimos ao destino. Por volta das 8h, quando já estávamos mais ou menos na metade
En
do caminho, orientei minha estagiária para ligar para lá, avisando que estávamos à
caminho, vindo de Natal, e que talvez nos atrasássemos alguns minutos: mas que acaso Ex
ocorresse, eles já estariam cientes que eu não prejudicaria a audiência pela ausência
In
deliberada.
M
Cerca de 20 minutos depois, após diversas tentativas, eis que atendem-nos pela primeira
Po
vez. Como orientado, foi informado que nós íamos defender o acusado daquela
Audiência, que já havíamos saído de Natal há tempo e em instantes estaríamos Pr
chegando para realizar o ato que tínhamos sido contratados para fazer. Se
cidade. Pedi que fosse ligado de novo para a secretaria da Vara, informando que
Tr
estávamos na iminência de chegar ao local, e que atrasaríamos no máximo alguns
Aud
minutos. Estacionei na frente do Fórum e subi correndo para a sala de audiências,
abrindo a porta exatamente às 9h19. Bol
Com
Para minha surpresa e indignação: a audiência havia começado há cerca de 10 minutos,
estando ainda nos procedimentos iniciais de leitura da denúncia para as testemunhas Co
presentes (todas da acusação), com a nomeação enquanto defensor dativo dos dois
colegas advogados da cidade que ali estavam para representar os interesses de um
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colegas advogados da cidade que ali estavam para representar os interesses de um
Co
acusado que seria julgado na audiência
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Ent
Entre no recinto, busquei chamar a assistente do magistrado e explicar a situação. Disse
Not
que estava vindo de Natal, havia viajado mais de duas horas e havia informado meu
trajeto pari passu à secretaria da Vara: nada disso adiantou. Foi-me informado que o Juiz At
era muito rígido e que jamais voltava atrás de uma decisão tomada (no caso, de ter
Cu
nomeado os dois defensores que lá estavam como dativo, dando início à audiência e me
impedindo de exercer o meu trabalho). Vi que ali não conseguiria grandes coisas e me Cu
retirei.
D
Desci e busquei a secretaria da Comarca (de vara única). Pedi a certidão de tudo que ali Er
contato telefônico durante a viagem, nas duas oportunidades; e iv) o fato de terem sido
nomeados defensores dativos diante de todo esse cenário.
Aí, eu percebi que havia alguma coisa estranha: As servidoras que ali estavam, todas
pareciam estremecidas com o meu pedido, a rmando que seriam prejudicadas pela
situação. Pensei no absurdo que seria aquilo e, após muita insistência, consegui que a
diretora da secretaria redigisse a certidão. Nesse momento, me colocaram que eu teria
que esperar o nal de todas as audiências (estava, ainda, ocorrendo a primeira de três)
para que o Juiz assinasse (pois eram ordens expressas que somente “Ele” poderia assinar
qualquer certidão “requisitada por advogado”) e eu pudesse levar minha certidão.
Não custa lembrar que é direito fundamental de todo cidadão (Art. 5º, XXXIV, b), CF).
A rmei o descabimento que era aquilo tudo e pedi vênia para eu mesmo levar a certidão
lá em cima para que o Nobre Magistrado pudesse assinar. Ao abrir a porta da sala de
audiências novamente, pude perceber a nítida irritação do magistrado por eu estar ali
“atrapalhando de novo”. Pedi licença e chamei mais uma vez a assistente do Juiz – que
veio, me escutou e levou o papel até a Sua presença. Rapidamente foi interrompida a
audiência e pela primeira vez pude me reportar diretamente a Ele.
trazer o bom senso a lume. Disse que havia saído de 7h da manhã do meu escritório na
capital para viajar até aquela cidade que até então nunca havia estado tendo tido o
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capital para viajar até aquela cidade, que até então nunca havia estado, tendo tido o
cuidado ainda de avisarSobre
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achasse que haveria ausência por parte desta defesa, tendo chegado (mesmo sem
ninguém ter se esforçado um milímetro para me esperar) ainda nos momentos iniciais
da audiência, quando minha involuntária ausência não tinha ainda trazido qualquer
prejuízo àquela defesa.
então conferidos pelo Juiz, a rmando em falas incisivas que aquela situação não deveria
estar acontecendo, pois feria todas as ideias de sensatez que nossa práxis pro ssional
nos remete.
Após muita insistência, de todos os lados, o Presidente daquele ato voltou atrás; mas,
não sem antes deixar bem claro: estava fazendo aquilo ali como uma “liberalidade” sua,
uma vez que não possuía qualquer obrigação de fazê-lo. Pois bem, a rmei que ainda
assim gostaria de uma certidão atestando tudo aquilo que ali aconteceu, inclusive com o
registro de que o dativos haviam sido destituídos e eu assumira minhas funções.
Parece que eu havia ofendido alguém. Ou havia alguém ali que realmente temia o que
poderia ser feito a partir da certi cação daquele ato. Me foi indagado:
respondi:
Daí em diante, tudo normal. Tivemos uma audiência como outra qualquer, permeada de
respeito e consideração em todos os momentos, com todos os envolvidos, onde
dos presentes, que minha intenção não era tumultuas os trabalhos então desenvolvidos
e tudo que eu zera havia sido em prol da observância das prerrogativas da defesa.
Voltei para casa com sensação de dever cumprido…
Após isso, algumas semanas depois, fui intimado e compareci para uma outra audiência.
presos das unidades de custódia até as audiências) essa prática se tornou comum: os
interrogatórios em regra são realizado via Carta Precatória, trazendo enormes prejuízos
à defesa e a apuração do Processo Penal aproximada da realidade. Mas isso é tema para
A Audiência, que acontecera no prédio do Fórum Central da capital, estava marcada para
Passados 15 minutos do horário marcado, sem haver chegado nem o Promotor nem o
Juiz no recinto, busquei o Chefe de Secretaria para perguntar o que estaria havendo.
nada sobre se atrasar, parece que não surpreendeu ninguém ali por não estar no
momento marcado.
pergunta ao Chefe de Secretaria: “Ele ainda não chegou?”, tendo recebido a resposta
Para o meu espanto, era o mesmo Juiz que estava substituindo (por ausência de
magistrado titular naquela Comarca do interior) naquela audiência em que eu “me
atrasei”. Entrou na sala de audiência com muita pressa, aparentando estar nervoso com
demais!”.
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Para sua surpresa, eu era o advogado que estava esperando, e depois de car branco
indagou:
Respondi com um aceno de cabeça ao seu sorriso amarelo e fomos aos trabalhos. A vida
tem dessas, né?!
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