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E
sta aula trata do cotidiano escolar e das formas de intervenção do supervisor educacional no
mesmo. Assim, vê-se que pertence ao passado a imagem do supervisor isolado em uma sala,
sentado à mesa, cercado de papéis e de burocracia, distante do chão da sala de aula: atualmente,
ele deve ser um membro atuante da equipe escolar, um parceiro dos professores, contribuindo para a
excelência do trabalho pedagógico desenvolvido na escola.
Para que esse tema seja tratado adequadamente, é preciso que se estabeleça sua abrangência.
Alves (2003), ao escrever sobre cultura e cotidiano escolar, busca o conceito de acontecimento em
Foucault:
Acontecimento – é preciso entendê-lo não como uma decisão, um tratado, um reinado ou uma batalha, mas como
uma relação de forças que se inverte, um poder confiscado, um vocabulário retomado e voltado contra seus usuá-
rios, uma dominação que se debilita, se distende, se envenena a si mesma, e outra que entra, mascarada. As forças
em jogo na história não obedecem nem a um destino, nem a uma mecânica, mas efetivamente ao acaso da luta.
Elas não se manifestam como as formas sucessivas de uma intenção primordial; tampouco assumem o aspecto
de um resultado. Aparecem sempre no aleatório singular do acontecimento. (FOUCAULT apud CHARTIER,
1996, p. 21)
Assim, as grandes mudanças da história ocorrem aos poucos, no dia a dia, sem serem percebi-
das. Da mesma forma, o cotidiano escolar é formado de acontecimentos, que influenciam decisiva-
mente a realidade social e as vidas dos atores institucionais que nela se inserem. Como diz Giroux
(1986), é um terreno cultural que se caracteriza por vários graus de acomodação, contestação e resis-
tência, uma pluralidade de linguagens e objetivos conflitantes.
O número de pesquisas sobre o cotidiano escolar aumentou em nosso país a partir da década
de 1980, principalmente com as metodologias de pesquisa-ação – Espeleta; Rockwell (1986), entre
outros – e etnografia. Para Ciampi (1993), a cotidianidade só possui sentido autônomo no processo
histórico da vida cotidiana, portanto, é carregada de historicidade. Conhecendo o dia a dia da esco-
la, podem-se conhecer os mecanismos de dominação e de resistência, de opressão e de contestação,
como é construído o conhecimento e como são transmitidos valores, atitudes, crenças, modos de ver
e sentir a realidade e o mundo. Segundo André (2007),
[...] o estudo da prática escolar não se pode restringir a um mero retrato do que se passa no seu cotidiano; deve,
sim, envolver um processo de reconstrução dessa prática, desvelando suas múltiplas dimensões, refazendo seu
movimento, apontando suas contradições, recuperando a força viva que nela está presente. [...] Para que se possa
apreender o dinamismo próprio da vida escolar, é preciso estudá-la a partir de pelo menos três dimensões: a ins-
titucional/organizacional, a instrucional/pedagógica e a histórica/filosófica/epistemológica. Essas três dimensões
não podem ser consideradas isoladamente, mas como uma unidade de múltiplas inter-relações, por meio das
quais se procura compreender a dinâmica social expressa no cotidiano escolar.
das diversas margens liminares que estruturam o rito escolar: é como se a criança
que existia antes dos rituais não fosse capaz de realizar aprendizagens.
É por isso que a escola possui rituais próprios, como o sistema cultural de
significados, atitudes e normas que implicam o desenvolvimento e a repetição de
uma série de tarefas por meio das quais os alunos são submetidos a regras sociais,
isto é, maneiras de agir e de pensar da sociedade. Alguns desses rituais – como
filas, notas, regras disciplinares, currículos, organização dos ritmos e tempos etc.
(MCLAREN, 1996) – são incorporados ao cotidiano da escola, passando a fazer
parte do imaginário da instituição, e são repetidos mecânica e quase inconsciente-
mente, sem que haja questionamento ou discussão sobre sua finalidade.
Para o autor, os rituais podem ser considerados negativos ao impedirem
que o aluno pense por si próprio e ao limitarem sua fala quando esta se opõe ao
que está estabelecido como certo – em outras palavras, quando impedem que o
aluno opine, dialogue e critique. Por outro lado, os rituais podem ser considerados
benéficos quando criam alternativas para que os alunos neles envolvidos possam
perceber, interpretar e criticar o mundo.
[...] um meio social baseado na informação e nas comunicações; a tendência a que tudo
seja planejado; uma situação de crise em relação ao que se deve aprender e/ou ensinar em
um mundo onde imperam a incerteza e a mudança vertiginosa; o novo papel do educador
como gestor e mediador de aprendizagem.
Para concluir, são mostrados alguns princípios que norteiam a práxis super-
visora e objetivam a inovação e a superação do conservadorismo da escola. No
entanto, deve-se lembrar que esses princípios não norteiam ações isoladas, indivi-
duais – pelo contrário, essa práxis aponta para o coletivo e requer metas definidas
em conjunto, no âmbito do Projeto Político Pedagógico da escola, e o desenvolvi-
mento de um trabalho solidário e cooperativo com todos os atores institucionais
que nela transitam. Eis os princípios:
avaliação e adequação da práxis supervisora quanto aos aspectos peda-
gógicos, administrativos e políticos;
desenvolvimento de ações que equilibrem o binômio autonomia/colabo-
ração;
atuação pautada em princípios éticos;
abertura de espaços para a construção coletiva na escola;
atualização, acompanhando-se a inovação educacional e aplicando-a à
prática;
consideração e criação de estratégias para lidar com a diversidade;
estabelecimento de ações mediadoras, em termos pedagógicos;
utilização de referenciais teóricos para a fundamentação da prática;
comprometimento com a busca de melhores condições de trabalho na
escola;
análise crítico-reflexiva das políticas educacionais;
compromisso com a aprendizagem e com a formação de todos os envol-
vidos na escola;
Sensibilização da Estabelecimento
Diagnóstico Verificação das
equipe da escola da concepção
da realidade condições legais e
para a elaboração curricular a ser
escolar. institucionais.
do currículo. adotada e essen-
cialização dos
conteúdos.
Escolhas curricu-
lares / conflito /
negociação.
Implementação e
acompanhamento
do currículo.
Avaliação / repla-
nejamento
do currículo.
O quadro a seguir possui duas colunas, uma de ações rotineiras e a outra de ações inovadoras.
Selecione algumas ações supervisoras entre as que foram discutidas na disciplina e coloque-as
na coluna adequada. Não basta apenas colocar o nome da ação, é preciso escrever um pouco
sobre ela, deixando claro porque foi classificada como rotina ou como inovação.