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UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA

CENTRO DE PSICOLOGIA APLICADA – POMPÉIA

RELATÓRIO PSICOLÓGICO

1 IDENTIFICAÇÃO

Nome: ​Maria Lucia Ladeia

N° do prontuário: ​10358

Finalidade: ​Relatório Psicológico referente ao processo de psicoterapia de Maria


Lucia Ladeia, realizado no período de 25/09/2020 a 27/11/2020, no Centro de
Psicologia Aplicada (CPA).

1.2 AUTORES:

Estagiária Responsável: ​Érica Andrade dos Santos RA: D042HB-9

Estagiária Acompanhante: ​Aline da Silva Souza RA: N913HC-0

Supervisora Responsável: ​Vanessa Di Rienzo CRP: 06/97662

2 DESCRIÇÃO DA DEMANDA
A cliente M. procurou atendimento psicoterapêutico queixando-se de estar
com dificuldade em lidar com o término recente do noivado, denominado abusivo.
Tal relacionamento era reforçador por propiciar atenção, companhia e rotina à ​M​.,
ao mesmo tempo em que lhe privou de obter reforçadores com outras pessoas
próximas à ela, além da ocorrência de violências físicas e psicológicas.
Após algumas sessões M. relatou sua experiência com um novo
pretendende, com o qual praticou relações sexuais, as quais anteriormente já lhe
eram aversivas, não conseguindo expressar sua insatisfação e se mantendo na
situação.
No decorrer das sessões chegou-se a uma compreensão conjunta da cliente,
de que a queixa se refere ao fato de M. apresentar dependência emocional e
dificuldade em se posicionar. Tais comportamentos são ainda acompanhados pelo
medo de ficar sem companhia.

3 PROCEDIMENTOS

Foram realizados nove atendimentos, de 25/09/2020 a 27/11/2020, às


sextas-feiras, 19:00 horas, com duração aproximada de 50 minutos pelo WhatsApp.
Tais atendimentos foram embasados na perspectiva teórica e prática da Análise do
Comportamento, com o objetivo de acolher a queixa, compreender e intervir na
demanda e construir encaminhamentos necessários a serem realizados.

4 ANÁLISE
Durante as sessões, foi possível compreender que, diante da aversividade do
estar sozinha e das discussões/brigas com seu ex noivo e seus filhos, ​M. emite o
q​ue Hunziker (2012)​1 ​denomina como fuga e esquiva, com o objetivo de removê-los
e/ou evitá-los. Com isso, ​M​. demonstra levar um estilo de vida rotineiro e controlado
majoritariamente por reforçamento negativo, em detrimento do reforçamento
positivo.
Além disso, M. apresenta inassertividade generalizada, sendo permeada não
só pela passividade, como também pela agressividade. Sobre isso, Galassi e
Galassi (2010)​2 discorrem que o comportamento passivo é aquele em que o
indivíduo falha em se expressar, violando seus próprios direitos e, por conseguinte,
dando ao outro a permissão para também o fazer. Este tipo é majoritariamente

1
HUNZIKER, M; SAMELO, M. Controle aversivo. Em: BORGES, N. et al. ​Clínica
analítico-comportamental: aspectos teóricos e práticos​. Porto Alegre: Artmed, 2012.
2
​M.D. Galassi e J.P. Galassi. ​Assert yourself. Human Sciences Press. 2010. Traduzido e adaptado
por Catarina Dias e Guiomar Gabriel, GAPsi- Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
apresentado por M., quando, por exemplo, não manifesta desacordo perante algo
que não concorda. Para além de uma passividade no ato de falar, há também uma
passividade no fazer, tendo em vista que ela espera uma iniciativa ou mudança de
comportamento de terceiros para obter os seus reforçadores.
Já o comportamento agressivo é aquele em que a pessoa expressa suas
necessidades, opiniões e emoções, mas de uma forma punitiva para com o
interlocutor. Este tipo é apresentado por ​M​. ​nos momentos em que ela, após muito
tempo passiva, chega em um nível alto de estresse e se expressa de forma hostil,
como com a filha de sua chefe e até mesmo na simulação de como falaria com seu
pretendente sobre sua insatisfação com o ato sexual.
Tornou-se necessário, então, trabalhar na psicoterapia tanto a superação da
passividade, quanto o autocontrole da agressividade, para se obter a assertividade.
O comportamento assertivo, segundo Del Prette (2009, apud Cerqueira, 2015)​3
“envolve a expressão direta, pela pessoa, das suas necessidades ou preferências,
emoções e opiniões sem que, ao fazê-lo, ela experiencie ansiedade indevida ou
excessiva, e sem ser hostil para o interlocutor”. Ou seja, é uma habilidade social
para procurar, manter ou aumentar o reforçamento em uma situação interpessoal,
envolvendo riscos de punição ou de perda de reforçamento.
M. aparenta ter incertezas quanto aos próprios direitos relacionados à vida
amorosa, como o direito de não querer continuar um ato sexual que consentiu
inicialmente, sendo o conhecimento deles o primeiro passo para alcançar a
assertividade. Após adquirir isso, então, é importante defender tais direitos de forma
eficaz, o que trabalhamos através dos treinos de assertividade. Uma técnica eficaz
para treinar a assertividade é o ensaio comportamental que foi realizado com M., o
qual consiste, conforme Souza (2017)​4​, na descrição detalhada da contingência da
situação problema, como o ato sexual com o pretendente, e o raciocínio sobre uma
forma mais eficaz de se comportar em tal situação. A partir disso, a pessoa
consegue identificar seus comportamentos-problema e aprimorar seu repertório
comportamental
Ao longo das sessões, M. passou a compreender as contingências
envolvidas no seu comportamento não assertivo, a refletir sobre seus direitos e em

3
CERQUEIRA, Fernanda.​ E se eu falar?​.Comporte-se, 2015.
4
SOUZA, Alan. ​Contribuições do ensaio comportamental para trabalhar a assertividade. Max
Educa, 2017.
como expressá-los, além de trazer relatos de situações em que foi assertiva. Um
dos possíveis motivos para a não assertividade nos seus relacionamentos
amorosos, é a aprendizagem por modelação na qual ​M. observou e imitou pessoas
próximas e significativas, como seus pais. Este modelo retrata padrões culturais,
como a submissão feminina que ​M.​ relatou haver em sua família.
M. ​contou, ao longo das sessões, diversas situações ocorridas nos seus
relacionamentos, sendo que uma delas foi a dinâmica de violência vivida. No início,
a cliente mencionou seu desejo de oferecer ao ex-noivo outra chance, mesmo
passando por agressões físicas, se enquadrando no que Pietro e Moreira (2010) 5​
denominam como “violência cíclica”, a qual é composta por quatro etapas:
construção da tensão, pico da tensão, desculpas e lua de mel.
Foi compreendido que a baixa variabilidade comportamental de M. se
relaciona com o padrão dependente afetivo, em que não há equilíbrio de
investimento nas áreas da vida para além da amorosa. Indivíduos assim, de acordo
com Lima (2015)​6​, provavelmente não aprenderam a ser autônomos, além de seus
comportamentos terem sido modelados. No caso de M., tal modelação vem de um
histórico de definição de papéis em que a mulher vive para a casa, os filhos e o
marido.
Ao longo das sessões, foram discutidas essas questões aprendidas ao longo
da vida dela, em relação à forma de se relacionar amorosamente, sendo que, nos
últimos atendimentos, M. já não demonstrava interesse em retornar o
relacionamento com o ex-noivo, pois se deparou diretamente com questões de
infidelidade por parte dele, o que a motivou a compreender diretamente esses
aspectos. Referente a isso, ela concluiu que precisa ser direta, quando existir um
futuro pretendente, passando a deixar de anular a si e aos aspectos que para ela
são relevantes.
Já com relação aos quadros de insônia relatados por M., Oliveira (2005)​7 diz
que estes consistem na dificuldade de iniciar ou, no caso de M., manter o sono de
forma que ele produza descanso, o que pode trazer prejuízos significativos. Antes
de optar pelo tratamento medicamentoso, foi sugerido uma técnica de ​Mindfulness
5
PIETRO, Daniela; MOREIRA, Myrlla.​ “Da sexta vez não passa”: violência cíclica na relação
conjugal. ​2010.
6
LIMA, Amona.​ A relação entre a baixa variabilidade comportamental e um padrão dependente
afetivo.​ Comporte-se, 2015.
7
OLIVEIRA, Adriana.​ Sem os braços de Morfeu: Insônia, suas causas e tratamento. ​Instituto de
Psicologia Aplicada, 2005.
para redução das consequências desta falta de sono, além disso, também foi
proposto que a mesma passasse a não utilizar o celular próximo do horário de
dormir e evitasse mexer nele se acordasse durante à noite.
A cliente relatou, nos últimos atendimentos, que estava assistindo ao vídeo
enviado pela estagiária (uma das técnica de ​Mindfulness) além de seguir a sugestão
de não mexer no celular quando acordasse e estivesse na cama, sendo verificada
melhora na qualidade do sono. Tal melhora, porém, foi interrompida somente
porque a cliente pegou Covid-19, o que danificou seu sono devido aos sintomas de
congestão nasal e cansaço.

CONCLUSÃO

Diante do exposto até o momento, foi realizado encaminhamento para dar


continuidade no processo de psicoterapia da cliente Maria Lúcia, por se entender a
importância de aprofundar o tratamento quanto à demanda referente a dependência
emocional e dificuldade em se posicionar.

OBSERVAÇÃO: ​Este Relatório Psicológico não poderá́ ser utilizado para fins
diferentes do apontado no item de identificação, que possui caráter sigiloso, que se
trata de documento extrajudicial e que não se responsabiliza pelo uso dado ao
relatório por parte da pessoa, grupo ou instituição, após a sua entrega em entrevista
devolutiva.

São Paulo, 26 de novembro de 2020.

__________________________
Erica Andrade dos Santos
RA: DO42HB-9

__________________________
Aline da Silva Souza
RA: N913HC-0

__________________________
Prof. Vanessa Di Rienzo
Psicóloga
CRP: 06/97662

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