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Disciplina: A construção Cultural das Infâncias e Juventudes na Contemporaneidade

Profsª: Joice Esperança - Dinha Beck

Mestranda: Ana Carolina Scott – Hood dos Santos – 152939

O estudo acerca do currículo da Educação Infantil e os estudos culturais das


infâncias e juventudes

No ano de 2020 dou início a escrita do meu Trabalho de Conclusão de Curso


da Pedagogia, onde a temática era o espaço do berçário, com o objetivo de analisar
como a organização deste espaço estava presente nas Propostas Pedagógicas e
como professoras de berçário o compreendiam.
Concomitante a isso, o mundo vinha passando por uma pandemia mundial,
onde todas esferas de certa forma foram atingidas e precisaram se reconfigurar, o
mesmo ocorreu com a Educação, onde os currículos necessitaram desta
reconfiguração, especialmente o da Educação Infantil. Com isso, embarcada e
inquieta com essas questões referentes ao currículo da Educação infantil foram
surgindo em mim algumas inquietações, como por exemplo, “como está sendo a
(re)organização do currículo da Educação Infantil durante este período?”, “como estão
acontecendo as interações e as brincadeiras?”, “estão sendo possibilitadas a
educação e o cuidado como previsto nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil?”, “os direitos das crianças estão sendo levados em consideração?”,
fazendo com que despertasse em mim o interesse em pesquisar sobre.
Com isso, através destas inquietações surge o interesse em ingressar na pós-
graduação a fim de pesquisar sobre esta (re)organização do currículo durante a
pandemia de Covid-19, com o seguinte problema de pesquisa: “quais as
reconfigurações do currículo das escolas Municipais de Educação Infantil do município
de São José do Norte durante a Pandemia de Covid-19?"
Ao longo dos anos a infância foi ganhando um novo olhar, um novo enfoque.
Direitos foram sendo conquistados. Como por exemplo o direito ao acesso e a
permanência em uma instituição, de qualidade, que respeite a especificidade da
criança como o ser que ela é. Durante este período de pandemia as atividades das
escolas passaram a ser realizadas no formato remoto, fazendo com que as crianças
perdessem o contato com o chão da escola, com os ambientes, espaços disponíveis
e preparados especificamente para atende-las, para que ocorressem as interações e
as brincadeiras. Pensando nisto, uma de minhas inquietações ao pensar a escrita de
meu projeto é, será que durante o ensino remoto, as crianças estão tendo estes
direitos? Como o currículo está sendo reorganizado de modo a vir contemplá-los?
Ao relacionar meu projeto de pesquisa com os estudos realizados na disciplina
“a construção cultural das infâncias e juventudes na contemporaneidade” e pensar
nesta infância, nestas crianças, que perderam o contato das interações com outras
crianças, com o chão da escola e as experiências que são possibilitadas por eles, me
preocupa pensar, será que essa infância contemporânea, citada no texto de Renata
Tomaz (2017) como aquela em que a criança vive o tempo do ser antes do crescer
está sendo valorizada, praticada? Pois, o tempo da criança é o tempo da brincadeira,
das descobertas, das interações, de conhecer a si e ao outro, devendo ser
contemplado no currículo. E não mais como aquela criança vista como adultos em
“miniatura” pois, na antiguidade:

Tão logo o pequeno pudesse abastecer-se fisicamente, habitava o


mesmo mundo que os adultos, confundindo-se com eles. Nesse mundo
adulto, aqueles que hoje chamamos crianças eram educados sem que
existissem instituições especiais para eles. (KOHAN, 2005, p. 64)

Acredito que, não retornaremos a essa época, mas com o afastamento destas
crianças das instituições de Educação Infantil, que é o enfoque de minha pesquisa,
poderá ocorrer um retrocesso, onde ela torna-se dispensável, acreditando que o
homeschooling vá suprir as necessidades destas crianças, fazendo com que esses
direitos duramente conquistados fiquem estremecidos fazendo com que a identidade
da Educação Infantil se desconstrua.
Este é um outro conceito importante trago na disciplina que logo consigo
relacionar e me remete a minha pesquisa, o conceito de identidade, a construção das
identidades presentes nos currículos trago pela autora Marisa Vorraber Costa. Como
já mencionado anteriormente a Educação Infantil e as crianças foram conquistando
seus direitos e ganhando visibilidade gradualmente, fazendo com que uma identidade
fosse se criando. As crianças tornaram-se sujeitos de direitos e a Educação Infantil
enquanto instituição, uma etapa que além de prezar pelo desenvolvimento integral
das crianças e suas aprendizagens, garantirá seus direitos.
Durante a pandemia de Covid-19, com a passagem das atividades para o
formato remoto as instituições precisaram que seu currículo se reconfigurasse, mas
que a identidade da EI fosse mantida. Neste contexto, me inquieta ao pensar, será
que essa identidade foi exercida e mantida neste momento? Será que essa infância
contemporânea, com o tempo do ser antes do crescer está sendo valorizada? Será
que esta identidade sofreu crises durante este período?
Em relação a crise de identidade, de acordo com Costa (2005):

A identidade é um dos construtos modernos que se estilhaça


inapelavelmente. Tal estado de coisas tem sido diagnosticado como
“crise da identidade” - condição em que os indivíduos e grupos estariam
deslocados tanto de seu lugar no mundo quanto de si mesmos. (p. 1)
Este trecho corrobora perfeitamente com o momento em que vivenciamos, que me
levou a temática de minha pesquisa, pois acredito que durante a pandemia e o ensino
remoto as crianças ficaram deslocadas, saíram do espaço preparado para recebê-las,
para auxiliar nas suas aprendizagens e no seu desenvolvimento. A questão é, será
que esse deslocamento pode ser prejudicial as suas identidades? Ao meu ver esta
questão vai muito de encontro com minha temática de pesquisa, onde tenho como
objetivo analisar a (re)organização do currículo durante a pandemia, afim de analisar
como foram preservadas as identidades, tanto da Educação Infantil como das
infâncias durante este período.
Ao me remeter ao momento em que estamos vivenciando a autora traz um
ponto importante para discussão que me faz pensar na elaboração deste currículo:

Vivemos em um tempo em que novos desenvolvimentos tecnológicos e


culturais, muito especialmente a mídia, a computação e a internet,
tornaram-se organizadores privilegiados da ação e do significado na
vida dos humanos. (COSTA, 2005, p. 8)

Durante este momento, em que se perde o contato físico com a instituição, com outras
crianças e professores e com tudo que estas interações e relações proporcionam, o
mundo avança em termos tecnológicos, aproximando cada vez mais as crianças
destas mídias. Ao longo dos estudos da disciplina, relacionando-os com minha
pesquisa fiquei refletindo, de que forma e como estas mídias contribuíram neste
momento de ensino remoto? Sabemos que a utilização dos meios digitais por muitas
vezes foi o único fio que uniu instituição, criança e família. Mas de que forma? Como
isto se apresentou nas organizações do currículo? E como isto impactou na vida das
crianças pequenas e bem pequenas. Costa (2005, p. 5) traz que “tal condição cultural
específica estaria exercendo um papel determinante não apenas na forma como a
juventude é construída, mas também na forma como ela é vivida”, isto me remete a
pensar novamente, qual a infância está sendo vivida e de que forma. Como as
instituições estão “conectando” as crianças a instituição, fazendo-as presentes mesmo
que em meios digitais e valorizando os eixos do currículo, propostos pelas DCNEI,
durante este momento?
Essas e as muitas outras questões que foram surgindo durante a disciplina,
conectando-as a minha pesquisa são inquietações surgidas devido a esse novo
formato em que a Educação Infantil também enfrentou durante a pandemia, o ensino
remoto. Onde foi necessário que houvessem novas reconfigurações curriculares.
Chego ao final de minha escrita com a necessidade de explicitar que meu
projeto de pesquisa ainda está no início, sem muitas delimitações do que está por vir
e a fazer, mas com o objetivo de olhar para o currículo da Educação Infantil durante a
pandemia de Covid – 19, o ensino remoto e essas reconfigurações curriculares
durante este período, não com o objetivo de julgar ou fazer discriminações de certo
ou errado, mas buscar compreender e estudar o que foi necessário ser feito naquele
momento e seus impactos no currículo e consequentemente na Educação Infantil e
crianças.
REFERÊNCIAS

COSTA, Marisa Vorraber. Quem são? Que querem? Que fazer com eles? Eis que
chegam às nossas escolas as crianças e jovens do século XXI. VI Colóquio sobre
Questões Curriculares e II Colóquio Luso-Brasileiro sobre Questões Curriculares. Rio
de Janeiro, 2005.

KOHAN, WALTER O. Infância. Entre educação e filosofia. - 1 ed., 1 reimp.- Belo


Horizonte: Autêntica, 2005.

TOMAZ, Renata Oliveira. Youtube, infância e subjetividades: o caso de Julia


Silva. ECCOM, v. 8, n. 16, jul./dez. 2017.

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