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Técnicas

Participativas
para Profissionais
da Saúde e
Assistência

Beatriz Oliveira Rezende

Hanna Guimarães Santos

Laura Santos Costa

Letícia Lopes de Souza

Raíssa Vasconcellos Telles

Thaís Soares Pereira

Defenda o
SUS
Material desenvolvido por discentes da disciplina Psicologia Social e

Métodos de Pesquisa com Grupos, do curso de Psicologia da

Universidade Federal de Juiz de Fora, ministrada pela professora

Juliana Perucchi.

Novembro 2020

Vol. 1
IMPORTÂNCIA DO TRABALHO COM GRUPOS

Essa cartilha foi criada com o objetivo de alcançar os


profissionais da saúde e assistência que realizam trabalhos
com grupos, tendo em vista a relevância que as metodologias
grupais possuem no contexto da saúde pública e a escassez de
materiais voltados à formação de profissionais que atuam na
área. Nesse sentido, as Técnicas Participativas são excelentes
instrumentos metodológicos no contexto das Unidades Básicas
de Saúde, Centro de Atenção Psicossocial e Centros de
Referência de Assistência Social.
No contexto desses serviços, é de extrema importância que a
promoção e a prevenção em saúde estejam para além das
práticas individualizantes e remediativas, que, muitas vezes,
não contemplam a alta demanda e não conseguem promover
de fato transformações sociais. Com isso, o trabalho com
grupos é importante pois:

Muitas vezes as intervenções com grupos possibilitam que


o serviço alcance mais pessoas, gerando vinculo entre ele
e a comunidade.
Permite que os integrantes identifiquem problemas em
comum e possam buscar soluções em conjunto.
Por meio do processo grupal é possível estabelecer maior
laço entre os indivíduos que fazem parte deste, o que
o que favorece a busca pelo desenvolvimento da
consciência social e da autonomia.
O grupo pode ser visto como uma experiência histórica
que apresenta aspectos mais gerais da sociedade, através
das contradições que podem emergir ali envolvendo
aspectos pessoais e a realidade externa.

01
COMO REALIZAR O TRABALHO COM GRUPOS

Dessa forma, é necessário pensar nas técnicas


participativas como ferramentas de trabalho com
grupos que possuem uma metodologia dialética, isso
quer dizer que:

1) Partem sempre da prática, ou seja, da experiência,


da vivência das pessoas que compõem um grupo;

2) Desenvolvem um processo de teorização sobre


determinado tema a partir dessa vivência, ou seja, não
se trata apenas do repasse de informações sobre o
assunto, mas é um processo sistemático de construção
que deve seguir o ritmo dos participantes, descobrindo
os elementos teóricos já existentes e construindo, a
partir do cotidiano, do imediato, do individual e parcial
uma teorização sobre o social, o coletivo, o histórico e o
estrutural;

3) A partir desse processo, é possível construir um


conhecimento sobre a realidade com o objetivo de
entendê-la e, dessa forma, transformá-la.

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2.1 - APLICADAS DESSA FORMA, AS TÉCNICAS PARTICIPATIVAS:

Permitem o desenvolvimento de um processo


coletivo de discussão e reflexão;

Proporcionam a coletivização do conhecimento


individual/pessoal, enriquecendo e potencializando
o conhecimento coletivo;

Proporcionam uma experiência de educação coletiva


comum. Quando um grupo encontra um ponto em
comum de referência/identificação pessoal, se torna
possível ampliar e enriquecer o conhecimento
coletivo;
Tornam possível a criação coletiva do conhecimento
sobre determinado tema, em que todos participam
da elaboração desse conhecimento e também das
suas implicações práticas;

2.2 - O QUE DEVE SER LEVADO EM CONSIDERAÇÃO PARA ESCOLHER UMA TÉCNICA

PARTICIPATIVA?

1) Qual o tema e o objetivo da aplicação dessa técnica.


Por exemplo, uma técnica sobre Cooperação (tema)
pode ter como objetivo mostrar a importância do
trabalho em equipe e da colaboração individual para o
funcionamento desse trabalho.
Com o objetivo estabelecido, ficará claro como orientar a
discussão e o trabalho para que ele seja alcançado, e
ainda qual a melhor técnica deve-se eleger para alcançá-
lo.

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2) Qual o procedimento para a aplicação de acordo com
o tempo e o número de participantes.
Observação: é importante estar atento aos aspectos
relacionados ao contexto do grupo, ao local e às
individualidades dos participantes. Isso quer dizer que,
por exemplo, não se deve eleger uma técnica que exija a
escrita para um grupo que possivelmente não é
alfabetizado.

EXEMPLOS PRÁTICOS

Acerca do procedimento a ser adotado para


implementar esta técnica, deve-se esquematizar os
seguintes aspectos a cada encontro. Segue exemplo:

TEMA OBJETIVO DINÂMICA PROCEDIMENTO

- 4 grupos a 5 pessoas
sorteadas
Demonstrar a
A Cooperação
importância do - Dividir os quebra cabeças
"Quebra-cabeças"
trabalho coletivo e
- Discussão em grupos acerca
da
do que aconteceu durante a
contribuição dinâmica e sobre os problemas
individual de comunicação que surgiram.

- Decidir em grupo: quais


desses
problemas são os mais
percebidos no seu trabalho?

- Conclusões da discussão
(anotar no
quadro)

Laura Vargas Vargas e Gabriela Bustillos de Núñez, em tradução livre

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3.1 - TIPOS DE DINÂMICAS

DINÂMICAS VIVENCIAIS COM ATUAÇÃO AUDITIVAS OU

Criando uma AUDIOVISUAIS

situação fictícia, os Nestas, o elemento


participantes se Utilizar o som ou de
central é a expressão sua combinação com
relacionam corporal, através da
espontaneamente imagens para
qual se representam trabalhar um tema.
dentro dela. Nestas, situações,
se vive uma Exemplo:
comportamentos e
situação. formas de pensar.
Podem ser: Em Grupos de
Exemplos: Habilidades
De animação Sociais (DEL
Sociodrama PRETTE, A. E DEL
(visam criar um Psicodrama
ambiente alegre PRETTE, Z.): o
Inversão de papeis grupo observa,
e participativo)
De análise em desenhos
(apresentar aos animados e
participantes filmes, a
elementos sequência de
simbólicos, comportamentos
objetivando a componentes da
reflexão acerca Habilidade que
de situações de se deseja
suas vidas) trabalhar.

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3.2 - TIPOS DE DINÂMICAS E FECHAMENTO

Ao fim das dinâmicas, cabe ao


coordenador de grupo trabalhar
perguntas disparadoras, que levem à
reflexão grupal. Perguntas como:

DINÂMICAS VISUAIS
"O que escutamos?" "O que vimos?"
(para dinâmicas auditivas) (para dinâmicas audiovisuais)
Usam símbolos,
palavras e imagens,
afim de se
familiarizar com o "O que sentimos / O que se "O que lemos / O que
que o grupo já passou?" apresentamos?"
conhece e com o que (para dinâmicas vivenciais) (para dinâmicas escritas ou
gráficas)
pensa sobre
determinado tema.
São de 2 tipos:
Dessa maneira, pode-se conduzir uma
1. Escritas: usam a
análise do que foi vivido no grupo, e, a
escrita ou leitura
de textos como partir do que os participantes trouxerem,
elemento central os mesmos irão construir sentidos para
2. Gráficas: utilizam as vivências do dia.
símbolos e
gravuras
Dessa forma é vivida a dialética do grupo,
que cria seus significados próprios.

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3.3 - EXEMPLO DE INTERVENÇÃO UTILIZANDO OS DIFERENTES TIPOS DE DINÂMICAS

Oficinas sobre Relações de Gênero e Violência

VIVENC
MICA IAL
NÂ DIOVISUAL
DI AU

Tema: Homofobia Tema: Gênero


Duração: 30 minutos Duração: 60 minutos

Objetivos: problematizar diferentes Objetivos: discutir e problematizar


tipos de discriminação e sensibilizar os como as relações sociais e de gênero
participantes para o rompimento são construídas de forma a
dessas atitudes. reproduzir desigualdades.

Desenvolvimento: colar uma tarjeta Desenvolvimento: exibição do


nas costas de cada indivíduo com vídeo "Era uma vez outra Maria" e
instruções como "beije-me", "aperte discutir, a partir da análise do
minha mão", "deixe-me só" e colocar vídeo, a forma como a atribuição
uma venda nos olhos de um deles. de papéis influencia na maneira
Solicitar que os participantes se movam
de agir no mundo.
no espaço de forma a executarem as
ações que as tarjetas dos companheiros Fechamento: discutir como as
recomendam. diferenças de gênero são
Fechamento: discutir a respeito de construídas historica e socialmente e
como cada um se sentiu, em especial o como elas produzem e reproduzem
indivíduo que estava com a tarjeta situações de desigualdade e
"deixe-me só" e o que estava com olhos violência.
vendados. Problematizar a importância
de estar atento às necessidades do
outro, visto que apenas tolerar as
diferenças não é inclusão.

Universidade Federal de Viçosa. (2014). Apostila do projeto superando e transformando o cotidiano escolar enquanto espaço produtor e

reprodutor de desigualdades sociais e violência de gênero. (CDD 22. ed. 303.6). Viçosa: Capes, Fapemig. Casa das Mulheres, 2014.

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Oficinas sobre Relações de Gênero e Violência

ATUAÇÃO VISUAL

Tema: Violência contra as Tema: Ciclo da violência contra


mulheres e o teatro do oprimido mulheres

Duração: 1 hora Duração: 1 hora

Objetivos: evidenciar as diferentes Objetivo: informar a respeito da rede


formas de violência vivenciadas pelas protetiva a mulheres em situação de
mulheres e discutir maneiras de violência e propor reflexão a respeito
enfrentamento dessas situações. do ciclo da violência e sua
complexidade.
Desenvolvimento: apresentar a peça
de teatro Todo dia de mulher, na qual a
Desenvolvimento: apresentar uma
personagem vivência diferentes tipos de
cartilha com informes a respeito da
violência. Problematizar as cenas
rede protetiva e do ciclo comum em
apresentas e pedir para que os
situações de violência e discutir cada
participantes reconstruam as situações,
página apresentada, de forma a
utilizando estratégias que modifiquem a
possibilitar o diálogo e sanar dúvidas.
realidade que havia sido retratada. Por
fim, apresentar alternativas de serviços
Fechamento: elucidar a respeito da
que atuam no enfrentamento da
dificuldade de se romper o ciclo de
violência contra a mulher.
violência e da importância da não
Fechamento: recordar as situações culpabilização da mulher pela
apresentadas e as formas de situação.
enfrentamento. Enfatizar que a
organização política pode transformar
situações de desigualdade.

Universidade Federal de Viçosa. (2014). Apostila do projeto superando e transformando o cotidiano escolar enquanto espaço produtor e reprodutor

de desigualdades sociais e violência de gênero. (CDD 22. ed. 303.6). Viçosa: Capes, Fapemig. Casa das Mulheres, 2014.

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SUGESTÕES PARA BUSCAR O APRIMORAMENTO

LIVROS MAÇÃO
FOR

Técnicas participativas Sociedade Brasileira de


para la educación Dinâmicas de Grupo (SBDG):
popular: Laura Vargas Promove formação em
Vargas, Graciella desenvolvimento de grupos,
Bustillos de Núñez, grupos de estudos e cursos
1999. Programa online.
Regional Coordinado
de Educación Popular Instituto Brasileiro de
(II reimpresión), Alforja. Psicanálise, Dinâmica de
Grupo e Psicodrama
(SOBRAP): A regional de Juiz
de Fora apresenta cursos na
área de dinâmicas de grupo
Oficinas em dinâmica e psicodrama.
de grupo na área da
Saúde: Maria Lúcia M. Universidade Aberta do
Afonso, 2015. Casa do Sistema Único de Saúde
Psicólogo, São Paulo. (UNA-SUS): Apresenta o
acervo de Recursos
Educacionais em Saúde
(ARES), com todos os cursos
oferecidos inteiramente
Habilidades Sociais: gratuitos na modalidade
educação a distância.
Intervenções Efetivas
em Grupos: Almir Del
Curso de Formação Inicial e
Prette e Zilda A. P. Del Continuada - Atualização
Prette, 2017. Casa do Profissional em Práticas
Psicólogo (2° Edição), Grupais em Saúde (FIOCRUZ):
São Paulo . Com o objetivo de
proporcionar os debates mais
recentes de temas ligados às
práticas em grupo, com uma
abordagem objetiva.

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REFERÊNCIAS

DEL PRETTE, A., & A. P. DEL PRETTE, Z. (2011). HABILIDADES SOCIAIS: INTERVENÇÕES

EFETIVAS EM GRUPO (1 ª ED., PP. 145-168). SÃO PAULO: CASA DO PSICÓLOGO.

VARGAS, L. V. & NÚÑEZ, G. B. (1999). TÉCNICAS PARTICIPATIVAS PARA LA EDUCAIÓN

POPULAR. (II REIMPRESIÓN). ALFORJA: PROGRAMA REGIONAL COORDINADO DE

EDUCACIÓN POPULAR

MARTINS, S. T. F. (2007). PSICOLOGIA SOCIAL E PROCESSO GRUPAL: A COERÊNCIA ENTRE

FAZER, PENSAR SENTIR EM SÍVIA LANE. PSICOLOGIA & SOCIEDADE, 19(SPE2), 76-80.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA. (2014). APOSTILA DO PROJETO SUPERANDO E

TRANSFORMANDO O COTIDIANO ESCOLAR ENQUANTO ESPAÇO PRODUTOR E REPRODUTOR

DE DESIGUALDADES SOCIAIS E VIOLÊNCIA DE GÊNERO. (CDD 22. ED. 303.6). VIÇOSA:

CAPES, FAPEMIG. CASA DAS MULHERES, 2014.

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