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Guia de idéias correlatas,Grupo Cena 11 ( 2010).

Fabiana Dultra, Alejandro Ahmed,

1 Corpo:

Um corpo nunca é um corpo a sós.


Pensamos o corpo como um coletivo de singularidades que se formula baseado na idéia de
co-adaptação.
Pensamos o corpo como síntese transitória das resoluções encontradas para lidar com os
problemas propostos pela sua situação de existência.
Pensamos no corpo como campo – um conjunto de condições para diferentes informações
biológicas e culturais se organizarem. Articuladas pelo movimento desse campo, as
informações podem instaurar uma coerência ao sistema – sua simetria interna.
O Corpo do Cena 11 é um campo instaurado pelos estados de risco, instabilidade e
reorganização a que se disponibiliza.
Um corpo que formula a evidência de co-autoria na dança que pratica.

2 Funções do Corpo:

O corpo assume diferentes funções na construção de coerência com cada ambiente


proposto a cada trabalho.
Corpo Vodu - propõem a idéia de violentação da percepção do outro considerando como
metáfora o boneco vodu,
o boneco é o bailarino,
os movimentos são as agulhas
o objeto do “feitiço” é o corpo do espectador.

Falha como virtuose – as propriedades de um corpo são suas condições de adaptabilidade


e sua virtuosidade é sua eficiência em incorporar assimetrias como princípio organizativo de
seus padrões de pensamento e comportamento. Cada corpo é um virtuose dos padrões de
movimento que seu design corporal permite explorar.

3 Funções de corpo
Corpo sujeito/objeto - causalidade espalhada na qual a evidência de co-autoria é material
estético

Corpo coisa - propõe a percepção de um relacionamento não-hierárquico entre corpo e as


outras coisas (objetos, espaço, tempo) que adquirem estatuto de sujeitos co-autores da
situação criada neste relacionamento.
O sujeito da ação não é um indivíduo, é uma função agenciadora que se espalha entre os
fatores participantes da situação, sugerindo uma causalidade não-linear, distribuída, com
ênfases simultâneas e transitórias.

Eu sendo coisa: faço.


Eu sendo coisa: o movimento me ataca.

4 Corpo não humano

No corpo de aparência e ações não humanas o trânsito entre familiaridade, desejo e


estranhamento faz do observador um atento construtor de novas possibilidades de
existência para as questões humanas.
Humanidade pensada não como propriedade natural do humano, mas como categoria
simbólica cultural da sua experiência corporal. Natureza como cultura. Corporalidade como
aquisição. Percepção como ação.

5 Adaptabilidade​ como ferramenta para produzir design

Design como resultante da relação entre formato e função.

O movimento do corpo é seu recurso adaptativo para lidar com as propriedades do seu
contexto de existência. Adaptabilidade é um processo que articula o formato corporal com a
função evolutiva da sua espécie (seja ela orgânica ou cultural) e, assim, configurar novos
designs de corpo, de ambiente e de relacionamento.
Movendo-se, o corpo propõe as condições para continuidade desse processo.

6 Pequenas Frestas de ficção sobre realidade insistente

2006

O projeto do movimento em PFdFSRi procura soluções sendo um mapa, um tratado que


situa e define as possibilidades de existência do movimento e suas estratégias de
sobrevivência em um dado ambiente. O ambiente, “pequenas frestas de ficção sobre
realidade insistente”, vai revelando suas fronteiras e condições ao mesmo tempo em que o
movimento propõe suas táticas de adaptação.

O corpo procura parceiros para sua dança. A dança procura meios para perceber-se real.
Ficção e realidade intercalam seus lugares e assim contam histórias. Peso e desequilíbrio
como recurso de anti-vaidade, a autoria da ação divide assinaturas entre gravidade, ossos,
músculos, cérebros e espectadores.
Dança como vestígio. Dança para não ter poder. Tempo para entendermos o tempo.

7 Objeto, Tecnologia
A utilização de objetos e tecnologia está vinculada à idéia de que os relacionamentos por
serem co-adaptativos promovem modificações recíprocas nas configurações das coisas
relacionadas.
Os objetos são tomados como recursos para investigar o modo como as suas propriedades
fornecem desafios adaptativos ao corpo e como este corpo responde a este desafio através
das suas propriedades cognitivas (sensório-motoras).

8 Materialidade do corpo

Considerar a materialidade do corpo por meio da explicitação do modo como ele se


configura: organizando sínteses transitórias das resoluções encontradas para lidar com os
problemas que lhe são propostos pelos relacionamentos (com outros
corpos/objetos/situações).

9 Tempo

A irreversibilidade como pressuposto para criar uma noção de continuidade não-linear que
se expressa em narrativas compostas de processos organizados por uma causalidade
espalhada.
Tempo para perceber o tempo.
Tempo para organizar estruturas – duração como fator de manipulação da expectativa.

10 Trilha

Sonoridade como ambiente: um conjunto de condições relacionais para o corpo – de quem


dança e de quem assiste a dança – instaurar ambiências.
Musicalidade que atua modulando a percepção da materialidade das relações
espaço-tempo.
Ação sonora como ativadora das regras de um jogo de controle para conduzir a composição
de estruturas assimétricas.

11 Figurino

Roupa, pele, proteção – camuflagens, volumes, próteses. Continuum


corpo-roupa-acessórios.
Fenótipo estendido do corpo – as propriedades do corpo reorganizadas sob outra
configuração para ser incorporada à sua natureza e transformar a maneira do corpo e a
maneira de observar o corpo.
Propriedade de modificação, ampliação, restrição e otimização das ações.
Direcionar o observador nas possibilidades de entendimento de aparência como fator de
conectividade e qualificação da adaptabilidade, mas, também, simultaneamente, como
resultante desses processos.

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