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60 | UNICEF – SITUAÇÃO MUNDIAL DA INFÂNCIA 2019
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A desnutrição Quais são os impactos
pode prejudicar
econômicos da
as perspectivas
desnutrição infantil?
econômicas de uma criança e, como
consequência, um
desenvolvimento As próximas décadas verão uma mudança dramática
socioeconômico nos contornos do mundo
mais amplo em população – uma que verá a África se tornar
inúmeras maneiras o centro do crescimento populacional global. Em
2050, a população da África deverá dobrar desde
2017, atingindo um total de 2,5 bilhões de pessoas.
Em suma, o futuro da humanidade será cada vez
mais africano. À medida que as populações
envelhecem em grande parte do resto do mundo, a
África nas próximas décadas ainda será um continente
jovem; em 2050, será o local onde nascerão pouco
mais de duas em cada cinco crianças do mundo.94
O surgimento de uma força de trabalho grande
e jovem em um período de tempo tão curto
proporcionará à África – assim como à Índia e
alguns outros países do sul e sudeste da Ásia
– a chance de aproveitar seu dividendo
demográfico. Mas esse potencial só será
realizado com melhorias no capital humano –
educação, treinamento, habilidades e saúde
das pessoas.95 A desnutrição impede que isso
aconteça.
O impacto nas crianças
Existem inúmeras maneiras pelas quais a
desnutrição pode prejudicar a economia de uma criança
perspectivas e, como consequência, um
desenvolvimento socioeconómico mais amplo.
O atraso no crescimento nos primeiros
1.000 dias está associado a um
desenvolvimento cognitivo mais fraco e a
resultados educacionais mais baixos.96 Evidências de uma série de
países indica que a desnutrição
as crianças passam menos tempo na escola,
geralmente devido a um desenvolvimento
cerebral e prontidão escolar mais fracos,
doenças ou porque começam a escola
mais tarde na vida e são mais propensos a ter
que repetir as séries. Na África Subsaariana, por
exemplo, a pesquisa mostrou que as crianças
perderam até 2,5 anos de escolaridade se houvesse
fome enquanto estavam no útero e durante a
infância.97
Por outro lado, também existem inúmeros
exemplos de como uma nutrição melhor está
associada a melhorias no desempenho escolar
das crianças. Na década de 1940, por exemplo,
o governo dos Estados Unidos exigiu que o pão
fosse fortificado para ajudar a superar a deficiência
generalizada de ferro. Análises subsequentes
mostraram melhores taxas de matrícula escolar.98
Da mesma forma, crianças da Tanzânia que
receberam iodo intensivo
A suplementação no final dos anos 1980 e
1990 passou cerca de meio ano a mais na
escola em comparação com crianças que
não haviam sido tratadas.99 Estudos sobre
programas de suplementação na Guatemala100
e na China101 também sugerem que as crianças
melhoraram seu desempenho em áreas como
matemática e leitura.
Talvez a maneira mais direta de
demonstrar os efeitos da desnutrição nas
perspectivas econômicas de um indivíduo seja
observar sua associação com a redução
rendimentos – na verdade, o impacto da
desnutrição na produtividade. As pesquisas
disponíveis indicaram que a média de ganhos
perdidos ao longo da vida associados ao
nanismo é de US$ 1.400 por criança, variando de
menos de US$ 300 no Tajiquistão a mais de US$
30.000 em países mais ricos, como Bahamas,
Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Catar.102
Estudos também sugeriram que o atraso no
crescimento está ligado a rendimentos mais
baixos: segundo um, um aumento de um
centímetro na altura na idade adulta foi associado
a um aumento de 4% nos salários para homens e
6% para mulheres.103
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Uma maneira adicional, e facilmente esquecida,
pela qual a desnutrição pode afetar as
perspectivas sociais e econômicas das crianças é
alimentando o conflito. Há evidências crescentes de
que a situação econômica e de saúde precária,
incluindo a desnutrição, está associada a taxas mais
altas de conflito armado. De acordo com uma análise
em 2008, a redução da prevalência de desnutrição
em menores de 5 anos em 5 pontos percentuais foi
associada a uma diminuição na probabilidade de
conflito de até 3,5 pontos percentuais.104 As razões
para isso não são totalmente claras, mas como John
Boyd Orr, primeiro diretor-geral da FAO, disse certa
vez: “Não podemos construir a paz de estômagos
vazios”.
Todos esses impactos sobre o indivíduo
servem para minar a capacidade dos países
de desenvolver seu capital humano, definido como
os “ níveis agregados de educação, treinamento,
habilidades e saúde de uma população”.106 Essa
perda é significativa.
De acordo com o estudo Custo da Fome na África
da União Africana, a desnutrição infantil custa às
economias africanas entre 1,9 por cento e 16,5 por
cento do PIB a cada ano.107 Estudos mais recentes
indicam que a desnutrição continua a exercer uma
pesado fardo para as economias de África.108
Muito menos trabalho foi feito
estimar o custo da obesidade infantil, especialmente
em países de baixa e média renda. O excesso de
peso pode ter um impacto na economia em geral,
tornando os indivíduos menos produtivos
– por meio de níveis mais baixos de
atividade física e taxas mais altas de DNTs – e
aumentando o custo dos cuidados de saúde para
tratar doenças como hipertensão, diabetes e
acidente vascular cerebral. De acordo com
estimativas preparadas para a OMS, se as
tendências atuais continuarem, as perdas
econômicas em países de baixa e média renda
por doenças cardíacas, câncer, diabetes e
01 | DESNUTRIÇÃO INFANTIL HOJE » 61
as doenças respiratórias crônicas atingirão
mais de US$ 7 trilhões no período de 2011-2025,
o equivalente a cerca de 4% da produção anual
desses países.
Investir em nutrição
A nutrição deve ser vista como uma pedra angular
investimento para que o mundo alcance os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável até
2030. De acordo com estimativas do Banco
Mundial e outros, custaria apenas US$ 8,50
adicionais por criança por ano para atingir as metas
globais para o atraso no crescimento de crianças
menores de 5 anos.109 Isso é equivalente para
apenas US$ 5 bilhões por ano. Dois números
ajudam a colocar esse número em perspectiva: é
um pouco menos do que o combinado
gastos anuais em publicidade de cerca de US$
7,2 bilhões por ano por três das maiores
multinacionais de alimentos e restaurantes do
mundo no início de 2010.110 É equivalente a
pouco menos de 1% dos US$ 620 bilhões que as
economias de alta renda e emergentes gastam a
cada ano no apoio à agricultura111 (que inclui
pagamentos diretos aos agricultores, bem como
barreiras tarifárias e subsídios à exportação).
Esses investimentos têm uma taxa de retorno
impressionante. Cada dólar investido na redução
do atraso no crescimento gera retornos
econômicos estimados equivalentes a cerca de
US$ 18 em países de alta carga.112 Mesmo sem
esses retornos, o investimento na nutrição infantil
deve estar no centro das atenções.
de qualquer agenda patrimonial. “Todo mundo
coloca todos os seus ovos na cesta de igualdade de
oportunidades”, disse o ex-presidente do Banco
Mundial, Jim Yong Kim, “mas estamos mentindo
quando 25% das crianças no mundo são atrofiadas. Cada dólar investido na
redução do atraso no
A desigualdade está impregnada no cérebro de 25% crescimento gera retornos
de todas as crianças antes dos cinco anos de idade. econômicos estimados
Portanto, a única maneira de dizermos realisticamente equivalentes a cerca de
que há igualdade de oportunidades é reduzirmos o US$ 18 em países de alta
atraso no crescimento a zero.”113 ¢ carga