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Resenha crítica – Atos administrativos.

Em sua obra, conhecida como “Manual de Direito Administrativo”, o autor Alexandre


Mazza provê uma discussão detalhada das características principais dos chamados “atos
administrativos”, expondo seus pensamentos a respeito deste tema tão importante ao
Direito Administrativo. De modo geral, se trata uma discussão deverás detalhada e que
aprofunda nos pontos principais do referido tema.
Descreve ele que os chamados atos administrativos são um meio pelo qual a vontade da
administração pública pode se tornar uma ação concreta, diferenciando-o dos demais
atos jurídicos típicos por possuir um regime jurídico peculiar, próprio do direito
administrativo, dando a ele características e atributos únicos, definidos por lei. Seriam
eles: presunção de legitimidade, exigibilidade, imperatividade, autoexecutoriedade.
Também é preciso citar, tal como aparece nas palavras do próprio autor, que “os efeitos
jurídicos decorrentes do ato administrativo consistem na criação, preservação,
modificação ou extinção de direitos e deveres para a administração pública e/ou para o
administrado”. Pode-se conceituar o ato administrativo como: toda manifestação
expedida no exercício da função administrativa, com caráter infralegal, consistente na
emissão de comandos complementares à lei, com a finalidade de produzir efeitos
jurídicos”.
Apresenta ele também a figura do chamado fato administrativo, diferenciando-se do ato
administrativo em vários critérios, possuindo quatro vertentes principais quanto a sua
diferenciação: a clássico-voluntarista (similar ao conceito do direito civil, baseia-se no
critério da voluntariedade, dizendo que o ato é um comportamento humano voluntário,
produtor de efeitos na área administrativa, e o fato se trata de um fator involuntário, um
acontecimento natural de natureza relevante para o campo jurídico adm.);
antivoluntarista (vai de antemão à corrente anterior, entendendo que se trata o ato de um
mero ato prescritivo, descrevendo como deverão ser feitas as coisas, enquanto fato não
possuiria tal caráter, entendido como mero acontecimento do qual a lei atribui
consequências jurídicas); materialista ( entende o ato como a manifestação da vontade
da administração, enquanto o fato seria a ação material, a manifestação concreta desta
vontade); e por último a dinamicista (similar a anterior e mais aceita nos concursos,
conceitua-se como “ toda atividade material no exercício da função administrativa, que
visa efeitos de ordem prática para a administração”, podendo eles serem tanto naturais
quanto voluntários).
Já os atos da administração, quanto a sua definição, podem ser compreendidos (tal como
diz a doutrina majoritária) como aqueles atos praticados pela administração publica que
não se enquadram no conceito de atos administrativos. Seriam suas espécies: atos
políticos ou de governo; atos meramente materiais; atos regidos pelo direito privado ou
atos de gestão; atos legislativos e jurisdicionais; e contratos administrativos. Cita-se
também a figura do silencio administrativo que pode, por conta de alguma lei, lhe dar
um significado especifico, provendo assim efeitos jurídicos quanto a omissão, seja de
aprovação ou de rejeição.
Quanto aos atributos do ato administrativo, seriam eles, tais como citado anteriormente:
a presunção de legitimidade (até que se prove o contrário, tem-se que o ato
administrativo é considerado como válido); a imperatividade (capacidade de criar
unilateralmente obrigações aos particulares, sem depender de sua anuência);
exigibilidade (capacidade de aplicar punições aos particulares que desrespeitarem a
ordem jurídica, sem necessidade de ordem judicial; aplicado em alguns casos);
autoexecutoriedade (autorização para que a administração pública realize a execução
material dos atos administrativos ou de dispositivos legais, usando a força física caso
preciso para desconstruir situação de violação da ordem jurídica); tipicidade
(necessidade de se respeitar a finalidade especifica definida por lei para cada espécie de
ato administrativo).
Há de se falar também que os atos jurídicos estão sujeitos a 3 planos lógicos distintos,
sendo eles o da existência, que se expressa no cumprimento do ciclo de formação do ato
jurídico, adquirindo os elementos/ pressupostos necessários para ser tido como um real
ato administrativo, o plano da eficácia, onde se analisa se aptidão do ato para produzir
seus efeitos, e o plano da validade, havendo a análise da conformidade do ato com os
requisitos necessários no ordenamento jurídico para sua produção correta. Há de se falar
também da análise sobre o mérito dos atos administrativos, sendo este mérito uma
margem de liberdade, dada aos atos discricionários, para que o agente, diante do fato
concreto, possa escolher o melhor modo de atender ao interesse público, sendo vedado
ao poder judiciário controlar o mérito dos atos.
Quanto aos requisitos para a feitura dos atos, temos duas correntes: a clássica e a
moderna. A primeira, majoritária na doutrina e nos concursos, tem por base a lei n.
4717/65, em seu art.2. Fazem parte dela os seguintes requisitos: Competência
(atribuição, determinada em lei, que dá poder a um agente para que ele exerça
determinada função); Objeto (trata-se do conteúdo do ato em questão, a ordem dada por
ele ou o objetivo pretendido com sua expedição); forma (trata-se do modo de
exteriorização do ato e dos procedimentos prévios para sua expedição); motivo
(situação de fato ou de direito que autoriza colocar o ato em prática); e finalidade
(objetivo de interesse público pretendido com a prática do ato). Já a corrente moderna,
minoritária, tem por base 6 pressupostos diferentes: sujeito (relativo a pessoa que
praticou o ato); motivo (situação fática que autorizou o uso do ato); requisitos
procedimentais (atos jurídicos anteriores, tido como indispensáveis para a pratica do
referido ato); finalidade (quanto ao bem jurídico pertinente ao interesse público
pretendido com a prática do ato); causa (trata-se do nexo de adequação entre o motivo e
o conteúdo do ato administrativo); e formalização (similar a forma na corrente
majoritária, se relaciona ao modo como o ato será praticado). Cita-se aqui a questão da
nulidade dos atos, amplamente debatido na doutrina, e que possui 4 vertentes principais:
a da teoria unitária, a teoria binária, a teoria ternária e a teoria quaternária.
O autor ainda comenta sobre os vícios em espécie, que podem ser subdivididos em:
vícios quantos ao sujeito, separado em usurpação de função pública, excesso de poder,
funcionário de fato e incompetência; quanto ao objeto, repartidos em objeto
materialmente impossível e objeto juridicamente impossível; quanto a forma; e quanto
ao motivo, separado em inexistência do mesmo e falsidade do motivo; e, por fim,
quanto a finalidade. Já no que tange a classificação dos atos, temos: atos discricionários
e vinculados, sendo o primeiro relativo aqueles que possuem margem de liberdade para
atuação, enquanto o segundo seria sua antítese, não possuindo referida liberdade; e atos
simples, compostos e complexos, sendo, respectivamente, aqueles que resultam de
manifestação de órgão único, aqueles que mesmo praticados por 1 órgão, dependem de
verificação, visto, aprovação, anuência e homologação por outro órgão para serem
executáveis, e aqueles que são formados pela conjugação de vontade de mais de um
órgão ou agente. Cita-se aqui também as espécies de ato administrativo (normativos,
ordinários, negociais, enunciativos e punitivos), além das modalidades de extinção do
ato (revogação, anulação, cassação, caducidade, contraposição e extinções inominadas).
De modo geral, trata o capítulo de um tema bastante amplo, complexo e cheio de
nuances. O professor Alexandre Mazza cria em seu livro uma boa base para o
aprendizado dos atos administrativos, tão ligados as nossas vidas, desde os momentos
mais simples - como uma sinalização de trânsito - quanto em temas mais complexos -
como nos processos administrativos que farão parte da nossa carreira profissional, de
um modo ou de outro. Quer queira, quer não, seu estudo se faz essencial para qualquer
um que se diga estudante do direito, visto sua ampla aplicação prática e função basilar
como ferramenta jurídica.

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