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APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos

DIREITO ADMINISTRATIVO: cas.


1. Atos administrativos: conceito; elementos; características;
Para Diógenes Gasparini os fatos administrativos não se preorde-
mérito do ato administrativo; formação e efeitos; classificação
nam à produção de qualquer efeito jurídico, traduzem mero trabalho ou
e espécies; procedimento administrativo; extinção, invalidação
operação técnica do agente público. Ex: de atos materiais: dar aula.
e revogação dos atos administrativos.
Ainda que não seja a regra, deles, atos materiais, podem advir efeitos
2. Poderes e Deveres dos Administradores; uso e abuso de
jurídicos, ex: o direito a indenização do paciente que foi negligente-
Poder. Poder Hierárquico e Poder Disciplinar. Poder de Polí-
mente operado por um cirurgião-médico do serviço público. Já os atos
cia Administrativa: conceito; competência; Poder de Polícia administrativos, ao contrário, predestinam-se a produção de efeitos
originário e delegado; fundamentos; finalidade; atuação da jurídicos, são os típicos atos administrativos, sejam concretos ou abstra-
administração; limites; características; legitimidade e sanções. tos, atos de governo (declaração de guerra, declaração de estado de
3. Responsabilidade administrativa e criminal. Responsabili- emergência, declaração de estado de sítio, atos administrativos dos Tribu-
dade civil: direito brasileiro; aplicação da responsabilidade nais de Contas, do Poder Legislativo, Judiciário, pelas Concessionárias de
objetiva; reparação do dano; direito de regresso. serviço público). Celso Antonio não concorda em colocar os atos de
4. Agentes Públicos: regimes jurídicos funcionais; servidores governo ou atos políticos sob a rubrica atos administrativos por traduzi-
públicos; normas constitucionais específicas concernentes rem exercício de função política e não administrativa, porém, Gasparini
aos servidores públicos; direitos e deveres dos servidores diz que hoje em dia a sua sindicabilidade é ampla pelo judiciário, logo,
públicos; responsabilidades dos servidores públicos; concurso perfeitamente enquadráveis na noção de ato administrativo.
público; acessibilidade, estabilidade, remuneração e acumu-
lação de cargos e funções; Poder Disciplinar Administrativo ESPÉCIES ATOS PERTINENTES A ATIVIDADE PÚBLICA - No exer-
dos Servidores Públicos. cício da função legislativa o legislativo edita leis, o Judiciário, decisões
5. Lei de Improbidade Administrativa (Lei Federal nº 8429, de judiciais, e o executivo, atos administrativos. Temos, assim, na ativida-
02 de junho de 1992). de pública geral, três categorias de atos inconfundíveis entre si: atos
legislativos, atos judiciais e atos administrativos.
1. Atos administrativos: conceito; elementos; características; mérito
do ato administrativo; formação e efeitos; classificação e espécies; ATOS DA ADMINISTRAÇÃO QUE NÃO SÃO TÍPICOS ATOS ADMI-
procedimento administrativo; extinção, invalidação e revogação dos NISTRATIVOS – Podem ser atos privados da administração, contratos
atos administrativos. regidos pelo direito privado, compra e venda e locação. Atos materiais, os
chamados fatos administrativos já estudados.
ATOS ADMINISTRATIVOS
3- ATO ADMINISTRATIVO.
Noções introdutórias acerca do ato administrativo
Conceito de Diógenes Gasparini, toda prescrição, juízo ou conheci-
Texto extraído do Jus Navigandi
mento, predisposta à produção de efeitos jurídicos, expedida pelo Estado
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6722
ou por quem lhe faça as vezes, no exercício de suas prerrogativas e como
parte interessada numa relação, estabelecida na conformidade ou compati-
Roberto Wagner Lima Nogueira
bilidade da lei, sob o fundamento de cumprir finalidades assinaladas no
mestre em Direito Tributário, professor do Departamento de Direito
sistema normativo, sindicável pelo Judiciário.
Público das Universidades Católica de Petrópolis (UCP), procurador do
Município de Areal (RJ), membro do Conselho Científico da Associação
Do conceito de Gasparini ressalta a presença do atos concretos e
Paulista de Direito Tributário (APET)
abstratos (chamados regulamentos do Executivo, art. 84, IV da CF). A
prescrição destina-se a produzir efeitos jurídicos: certificar, criar,
1. CONSIDERAÇÕES PREAMBULARES.
extinguir, transferir, declarar ou modificar direitos e obrigações. Exclu-
Trata-se de apontamentos, anotações básicas para aqueles operado-
em-se do conceito, os atos materiais, os atos de particulares, os de origem
res do direito administrativo que queiram iniciar estudos concernentes ao
constitucional (sanção e veto), atos legislativos e as sentenças judiciais.
ato administrativo, por conseguinte, carecem de uma maior aprofundamen-
to teórico, senão que servem como um guia para estudos a serem feitos
Conceito de José dos Santos Carvalho Filho – é a exteriorização da
com mais rigor e detida análise.
vontade de agentes da Administração Pública ou de seus delegatários,
nessa condição, que, sob regime de direito público, vise à produção de
É material de reciclagem para os já formados, e instrumental útil para
efeitos jurídicos, com o fim de atender ao interesse público.
os bacharelandos que vivenciam o estudo de direito administrativo ainda na
universidade. O texto aponta caminhos que devem necessariamente ser
Para Marçal Justen Filho ato administrativo é uma manifestação de
percorridos.
vontade funcional apta a gerar efeitos jurídicos, produzida no exercício
de função administrativa.
2 - FATOS ADMINISTRATIVOS.
É conceito mais amplo do que o de ato administrativo. É uma atividade
4. REQUISITOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS.
material no exercício da função administrativa que visa efeitos práticos
Para fins didáticos adotamos os requisitos constantes do art. 2º da Lei
para a Administração. É o ato material de pura execução, i,e, em satisfa-
nº 4.717/65, ação popular, cuja ausência provoca a invalidação do atos.
ção de um dever jurídico e traduz o exercício da função administrativa na
São eles, competência, objeto, forma, motivo e finalidade.
dicção de Marçal Justen Filho.
Art. 2º. São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades men-
Segundo Hely Lopes Meirelles o fato administrativo resulta do ato
cionadas no artigo anterior, nos casos de:
administrativo que o determina. Entretanto, pode ocorrer o contrário,
a) incompetência;
no caso da apreensão de mercadoria (atividade material de apreender),
b) vício de forma;
primeiro se apreende e depois se lavra o auto de infração, este sim o
c) ilegalidade do objeto;
ato administrativo. Pode ocorrer também independente de um ato ad-
d) inexistência dos motivos;
ministrativo, quando se consuma através de uma simples conduta
e) desvio de finalidade.
administrativa, alteração de local de um departamento público se perfaz
sem a necessidade de um ato administrativo, porém, não deixa de ser
COMPETÊNCIA – Di Pietro prefere fazer alusão ao SUJEITO ao revés
um atividade material. Até fenômenos naturais, quando repercutem na
de falar da COMPETÊNCIA. É o poder que a lei outorga ao agente
esfera administrativa, constituem fatos administrativos, um raio que
público para desempenho de suas funções. Competência lembra a
destrói um bem público, chuvas que deterioram um equipamento do
capacidade do direito privado, com um plus, além das condições normas
serviço público. Ex de fato administrativos: Construção de uma ponte,
necessárias à capacidade, o sujeito deve atuar dentro da esfera que a lei
varredura de ruas, dispersão de manifestantes, reforma de escolas públi-
Direito Administrativo 1 A Opção Certa Para a Sua Realização
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traçou. A competência pode vir primariamente fundada na lei (Art. 61, § administrativo, quer pelos seus destinatários, que pela própria administra-
1º, II e 84, VI da CF), ou de forma secundária, através de atos adminis- ção, que pelos demais poderes do Estado. Em regra a forma é escrita,
trativos organizacionais. A CF também pode ser fonte de competência, porém a Lei 9.784/99, consagra em seu art. 22 praticamente o informa-
consoante arts. 84 a 87 (competência do Presidente da República e dos lismo do ato administrativo. Excpecionalmente, admitem-se ordens
Ministros de Estado no Executivo); arts. 48, 49, 51 inciso IV e 52 (compe- verbais, gestos, apitos (policial dirigindo o trânsito), sinais luminosos. Há
tência do Congresso Nacional, Câmara dos Deputados e Senado Federal). ainda, casos excepcionais de cartazes e placas expressarem a vontade da
administração, como os que proíbem estacionar em ruas, vedam acesso de
Para Di Pietro, competência é o conjunto de atribuições das pessoas pessoas a determinados locais, proíbem fumar etc. Até mesmo o silêncio
jurídicas, órgãos e agentes, fixadas pelo direito positivo. pode significar forma de manifestação de vontade, quando a lei fixa um
prazo, findo o qual o silêncio da administração significa concordância ou
A competência é inderrogável, isto é, não se transfere a outro órgão discordância.
por acordo entre as partes, fixada por lei deve ser rigidamente observada. A
competência é improrrogável, diferentemente da esfera jurisdicional MOTIVO – É o pressuposto de fato e de direito que serve de fun-
onde se admite a prorrogação da competência, na esfera administrativa a damento ao ato administrativo. Pressuposto de direito é o dispositivo
incompetência não se transmuda em competência, a não ser por alteração legal em que se baseia o ato e o pressuposto de fato corresponde ao
legal. A competência pode ser objeto de delegação (transferência de conjunto de circunstâncias, de acontecimentos, de situações que levam a
funções de um sujeito, normalmente para outro de plano hierarquicamente administração a praticar o ato. A ausência de motivo ou a indicação de
inferior, funções originariamente conferidas ao primeiro – ver art. 84 pará- motivo falso invalidam o ato administrativo. Ex. de motivos: no ato de
grafo único da CF) ou avocação (órgão superior atrai para si a competên- punição de servidor, o motivo é a infração prevista em lei que ele praticou;
cia para cumprir determinado ato atribuído a outro inferior) consoante art. no tombamento, é o valor cultural do bem; na licença para construir, é o
11 da Lei 9.784/99 (Lei do procedimento administrativo federal), "a conjunto de requisitos comprovados pelo proprietário.
competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a que
foi atribuída como própria, salvo os casos de delegação e avocação legal- Motivação – Motivação é a demonstração por escrito de que os pres-
mente admitidos". supostos de fato realmente existiram. A motivação diz respeito às forma-
lidades do ato, que integram o próprio ato, vindo sob a forma de "consi-
Para Di Pietro a regra é a possibilidade de delegação e avocação e derandos". A lei 9.784/99 em seu art. 50 indica as hipóteses em que a
a exceção é a impossibilidade de delegação e avocação que só ocorre motivação é obrigatória. Segundo José dos Santos Carvalho Filho, pela
quando a competência é outorgada com exclusividade a um determinado própria leitura do art. 50 da Lei 9.784/99 pode-se inferir que não se pode
órgão. Ver artigos 12 e 13 e 15 da mesma lei. Para José dos Santos Carva- mesmo considerar a motivação como indiscriminadamente obrigatória
lho Filho tanto a delegação quanto a avocação devem ser consideradas para toda e qualquer manifestação volitiva da Administração. Ainda segun-
como figuras excepcionais, só justificáveis ante os pressupostos que a lei do ele, o art. 93, X, não pode ser estendido como regra a todos os atos
estabelecer. administrativos, ademais a CF fala em "motivadas", termo mais próximo
de motivo do que de motivação. Já para Maria Sylvia Zanella Di Pietro a
OBJETO – Também chamado de conteúdo, é a alteração no mundo motivação é regra, necessária, tantos para os atos vinculados quanto
jurídico que o ato administrativo se propõe realizar, é identificado pela para os discricionários já que constitui garantia da legalidade adminis-
análise do que o ato enuncia, prescreve ou dispõe. O objeto é uma res- trativa prevista no art. 37, caput, da CF.
posta a seguinte pergunta: para que serve o ato? Consiste na aquisição,
na modificação, na extinção ou na declaração de direito conforme o fim TEORIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES – Segundo a qual o mo-
que a vontade se preordenar. Ex: uma licença para construção tem como tivo do ato administrativo deve sempre guardar compatibilidade com a
objeto permitir que o interessado possa edificar de forma legítima; o objeto situação de fato que gerou a manifestação de vontade. Se o interessa-
de uma multa é a punição do transgressor da norma jurídica administrativo; do comprovar que inexiste a realidade fática mencionada no ato como
o objeto da nomeação, é admitir o indivíduo como servidor público; na determinante da vontade, estará ele irremediavelmente inquinado de
desapropriação o objeto do ato é o comportamento de desapropriar cujo vício de legalidade. (25) Ex: administração revoga permissão de uso sob
conteúdo é o imóvel sobre a qual ela recai. a alegação de que a mesma tornou-se incompatível com a destinação do
bem público objeto da permissão, e logo a seguir permite o uso do mes-
Para ser válido o ato administrativo, o objeto há que ser lícito, deter- mo bem a terceira pessoa, restará demonstrado que o ato de revogação
minado ou determinável, possível. foi ilegal por vício quanto ao motivo; servidor tem seu pedido de férias
indeferido sob a alegação de que há falta de pessoal na repartição,
FORMA - É o meio pelo qual se exterioza a vontade administrativa. poderia o agente público não ter declinado o motivo, já que o fez e em caso
Para ser válida a forma do ato deve compatibilizar-se com o que expres- do servidor provar o contrário, o ato estará viciado uma vez que presente a
samente dispõe a lei ou ato equivalente com jurídica. O aspecto relativo à incompatibilidade entre o motivo expresso no ato (motivo determinan-
forma válida tem estreita conexão com os procedimentos administrati- te) e a realidade fática.
vos. O ato administrativo é o ponto em que culmina a sequência de atos
prévios (é um produto do procedimento), há que ser observado um iter FINALIDADE – É o resultado que a Administração quer alcançar com a
(procedimento), até mesmo em homenagem ao princípio do devido prática do ato. Enquanto o objeto é o efeito jurídico imediato (aquisição,
processo legal. Torna-se viciado o ato (produto) se o procedimento não transformação ou extinção de direitos) a finalidade é o efeito mediato, ou
foi rigorosamente observado. Ex: licitação. Outros exemplos: Se a lei seja, o interesse coletivo que deve o administrador perseguir. Ex: numa
exige a forma escrita e o ato é praticado verbalmente, ele será nulo; se a lei permissão de transporte urbano o objeto é permitir a alguém o exercício de
exige processo disciplinar para demissão de um funcionário, a falta ou vício tal atividade e a finalidade é o interesse coletivo a ser atendido através
naquele procedimento invalida a demissão. deste serviço público.

Como anotado por José dos Santos Carvalho Filho, a forma e pro- Abaixo jurisprudência do STJ, sobre vício de finalidade, ou seja, des-
cedimento se distinguem, a forma indica apenas a exteriorização da vio de finalidade de ato administrativo, verbis:
vontade e o procedimento uma sequência ordenada de atos e vontades,
porém, a doutrina costuma caracterizar o defeito em ambos como vício de DESAPROPRIAÇÃO. UTILIDADE PÚBLICA.
forma. Ex: portaria de demissão de servidor estável sem a observância do Cuida-se de mandado de segurança no qual o impetrante pretende in-
processo administrativo prévio (art. 41, § 1º, II, da CF); ou, contratação validar ato de autoridade judicial que imitiu o Estado do Rio de Janeiro na
direta de empresa para realização de obra pública em hipótese na qual a lei posse de imóvel objeto de processo expropriatório. Visa, ainda, à
exija o procedimento licitatório. anulação do Dec. Expropriatório n. 9.742/1987. A segurança foi concedi-
da pelo TJ-RJ ao entendimento de que haveria ocorrido manifesto desvio
A forma é uma garantia jurídica para o administrado e para a admi- de finalidade no ato expropriatório, pois, além de o Decreto omitir qual
nistração, é pelo respeito à forma que se possibilita o controle do ato a utilidade pública na forma do DL n. 3.365/1941, os imóveis desapropri-

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ados destinavam-se a repasse e cessão a terceiros, entre eles, os Objeto
inquilinos. O Min. Relator entendeu que se submete ao conhecimento do Motivo
Poder Judiciário a verificação da validade da utilidade pública, da desapro- Finalidade
priação e seu enquadramento nas hipóteses previstas no citado DL. A
vedação que encontra está no juízo valorativo da utilidade pública, e a mera 6. ATRIBUTOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS.
verificação de legalidade é atinente ao controle jurisdicional dos atos admi- IMPERATIVIDADE ou COERCIBILIDADE – Os atos administrativos
nistrativos, cuja discricionariedade, nos casos de desapropriação, não são cogentes, obrigando a todos que se encontrem em seu círculo de
ultrapassa as hipóteses legais regulamentadoras do ato. Com esse incidência, ainda que contrarie interesses privados, porquanto o seu único
entendimento, a Turma não conheceu do recurso. REsp 97.748-RJ, Rel. alvo é o atendimento do interesse coletivo. É certo que em determinados
Min. João Otávio de Noronha, julgado em 5/4/2005. atos administrativos de consentimento (permissões e autorizações) o
seu cunho coercitivo não se revela cristalino, uma vez que ao lado do
5. MÉRITO ADMINISTRATIVO. interesse coletivo há também o interesse privado, porém, ainda nestes
Como bem leciona Hely Lopes Meirelles, o mérito administrativo casos a imperatividade se manifesta no que diz respeito à obrigação do
conquanto não se possa considerar requisito de sua formação, deve ser beneficiário de se conduzir exatamente dentro dos limites que lhe foram
apreciado neste tópico dadas as suas implicações com o motivo e o traçados.
objeto (conteúdo) para que serve o ato? do ato, e consequentemente,
com as suas condições de validade e eficácia. Portanto, considera-se PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE – Trata-se de presunção relativa
mérito administrativo a avaliação (valoração) da conveniência e oportuni- de que o ato administrativo nasceu em conformidade com as devidas
dade relativas ao objeto e ao motivo, na prática do ato discricionário, ou normas legais, tal presunção iuris tantum pode ceder à prova de que o
seja, aquele em que a lei permite ao agente público proceder a uma avalia- ato não se conformou às regras legais. O ônus da prova de provar que
ção de conduta (motivo e objeto), ponderando os aspectos relativos à o ato é ilegítimo é do administrado que pode inclusive opor resistência ao
conveniência e à oportunidade da prática do ato. seu cumprimento mediante dedução de pleito no Judiciário. O judiciário
poderá rever o ato administrativo (respeitado o seu mérito) e a interpre-
Os atos discricionários possuem requisitos sempre vinculados tação dada pela administração, até porque a presunção de legitimidade
(competência, finalidade e forma), e outros dois (motivo e objeto) em não é instrumento de bloqueio da atuação jurisdicional.
relação aos quais a Administração decide como valorá-los, desde que
observados os princípios constitucionais, e submetendo-se nos casos de AUTO-EXECUTORIEDADE – É admissão da execução de ofício das
desvio de poder a sindicabilidade do Judiciário. decisões administrativas sem intervenção do Poder Judiciário. Desse
ponto de vista, o ato administrativo vale como própria "sentença" do juiz,
Os atos administrativos vinculados possuem todos os seus requisi- ainda que possa ser revista por este como bem anota García de Enterría.
tos (elementos) definidos em lei, logo, não há falar-se em MÉRITO
ADMINISTRATIVO (ex: licença para exercer profissão regulamentada em Para Marçal Justen Filho só deve ser aplicada em situações excep-
lei), logo, caberá ao Judiciário examinar todos os seus requisitos, a cionais e observados os princípios da legalidade e da proporcionalida-
conformidade do ato com a lei, para decretar a sua nulidade ou não; já nos de. Não há auto-executoriedade sem lei que a preveja, e mesmo assim a
atos administrativos discricionários, o controle judicial também é possí- auto-executoriedade só deverá ser aplicada quando não existir outra
vel, porém, terá que respeitar a discricionariedade administrativa nos alternativa menos lesiva.
limites em que ela é assegurada à Administração Pública pela lei (legalida-
de administrativa – 37, caput, CF). José dos Santos Carvalho Filho cita como exemplo do exercício da
auto-executoriedade, a destruição de bens impróprios para o consumo
Os autores que afirmam uma tendência de ampliar o alcance da a- público, a demolição de obra que apresenta risco iminente de desabamen-
preciação do Poder Judiciário, falam em aplicar o princípio da razoabi- to. A vigente Constituição traça limites à executoriedade em seu art. 5º,
lidade para aferir a valoração subjetiva da administração pública. LV, contudo mencionada restrição constitucional não suprime o atributo
Aplica-se também o princípio da moralidade dos atos administrativos (art. da auto-executoriedade do ato administrativo, até porque, sem ele,
37, caput, CF), todavia, não cabe ao magistrado substituir os valores dificilmente poderia a Administração em certos momentos concluir seus
morais do administrador público pelos seus próprios valores, desde projetos administrativos.
que uns e outros sejam admitidos como válidos dentro da sociedade;
o que ele pode e deve invalidar são os atos que, pelos padrões do ho- 7. ATOS ADMINISTRATIVOS EM ESPÉCIE.
mem comum, atentar manifestamente contra a moralidade. Ex: zona Podemos agrupar os atos administrativos em 5 cinco tipos como que-
cinzenta de sindicabilidade pelo Judiciário é o conceito de notável saber rem Hely Lopes Meirelles seguido por Diogo de Figueiredo Moreira
jurídico que permite certa margem de discricionariedade, exceto, nos Neto.
casos em que fica patente, sem sombra de dúvida, de que o requisito
constitucional não foi atendido. ATOS NORMATIVOS – São aqueles que contém um comando geral
do Executivo visando o cumprimento (aplicação) de uma lei. Podem apre-
Contra a tese de ampliação do controle de apreciação do mérito sentar-se com a característica de generalidade e abstração (decreto geral
administrativo pelo Judiciário, José dos Santos Carvalho Filho cita o que regulamenta uma lei), ou individualidade e concreção (decreto de
STJ – É defeso ao Poder Judiciário apreciar o mérito do ato administrati- nomeação de um servidor). Os atos normativos podem ser:
vo, cabendo-lhe unicamente examiná-lo sob o aspecto da sua legalidade,
isto é, se foi praticado conforme ou contrariamente à lei. Esta solução se Regulamentos – Hely Lopes Meirelles e Diogo Figueiredo classifi-
funda no princípio da separação dos poderes, de sorte que a verificação cam os regulamentos como espécie autônoma dentro do tipo normativo,
das razões de conveniência ou oportunidade dos atos admistrativos escapa entretanto, José dos Santos Carvalho Filho entende que os regulamen-
ao controle jurisdicional do Estado (ROMS nº 1288-91-SP, Min. Cesar Asfor tos, muito embora citados pelo art. 84, IV da CF, não constituem espécie
Rocha, DJ-2-5-1994). Cita também o STF – que em hipótese onde se autônoma, mas sim um apêndice de decreto, tanto que o próprio Hely
discutia a expulsão de estrangeiro, disse a Corte que se trata de ato Lopes Meirelles apesar de classificá-lo em separado assim afirma: "Os
discricionário de defesa do Estado, sendo de competência do Presidên- regulamentos são atos administrativos postos em vigência por decreto,
cia da República a quem incumbe julgar a conveniência ou oportunidade para especificar os mandamentos da lei ou prover situações ainda não
da decretação da medida, e que ao Judiciário compete tão-somente a disciplinadas por lei." (38) Logo, verifica-se que Hely Lopes Meirelles de-
apreciação formal e a constatação da existência ou não de vícios de fende a tese de que existe o regulamento autônomo juntamente com o
nulidade do ato expulsório, não o mérito da decisão presidencial. regulamento de execução. O primeiro seria destinado a prover situações
não contempladas em lei, porém, atendo-se sempre aos limites da com-
Fluxograma dos requisitos do ato administrativo: petência do Executivo (reserva do Executivo) não podendo invadir assim
Competência a competência de lei (reserva de lei). A partir da Emenda 32/01 que modi-
Forma ficou a redação do art. 84, VI da CF, a corrente que defende a existência

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dos regulamentos autônomos ganhou nova força, pugnando pela ideia de Autorização – ato administrativo unilateral, discricionário e precário
que os regulamentos autônomos estão inseridos no campo da compe- pelo qual a Administração faculta ao particular o uso do bem público no
tência constitucional conferida diretamente pela CF ao executivo, seu próprio interesse mediante (autorização de uso – fechamento de
chamando tal fenômeno de reserva administrativa. rua para realização de festa), ou exerça atividade (autorização de servi-
ços de vans-peruas, táxi), ou a prática de ato, sem esse consentimento,
Decretos – São atos que provêm da manifestação de vontade dos seriam legalmente proibidos (autorização como ato de polícia – porte de
Chefes do Executivo, o que os torna resultante de competência adminis- arma). Ex: art. 176, parágrafo primeiro, art. 21, VI, XI, XII, todos da Consti-
trativa específica. A CF trata deles no art. 84, IV, como forma do Presiden- tuição Federal.
te da República dá curso à fiel execução da lei. Podem se manifestar na
forma de decretos gerais, com caráter normativo abstrato, ou como decre- Permissão – É ato administrativo discricionário e precário pelo
tos individuais, com destinatários específicos e individualizados. Hely qual a Administração consente que ao particular utilize privativamente
Lopes Meirelles fala em decretos autônomos e decretos regulamentar bem público. Com o advento da Lei 8.987/95 (art. 40), o instituto da per-
ou de execução, e representa um importante pensamento dentro desta missão como ato administrativo está restringido ao uso de bens públi-
corrente doutrinária. cos, porquanto a permissão de serviços públicos passou a ter natureza
jurídica de contrato administrativo bilateral, de adesão, e resultante de
Regimentos – São atos de atuação interna da administração desti- atividade vinculada do administrador em virtude da exigência normal de
nados a reger o funcionamento de órgãos colegiados e de corporações licitação para a escolha do contratado.
legislativas, como ato regulamentar interno, o regimento só se dirige aos
que devem executar o serviço ou realizar a atividade funcional regimen- Licença – Ato vinculado e definitivo pelo qual o Poder Público, verifi-
tada, sem obrigar os particulares em geral. As relações entre o Poder cando que o interessado atendeu a todas as exigências legais, faculta-
Público e os cidadãos refogem ao âmbito regimental, devendo constar de lhe o desempenho de atividade ou a realização de fatos materiais antes
lei ou de decreto regulamentar. vedados ao particular, exemplo, o exercício de uma profissão, a constru-
ção de um edifício em terreno próprio. Se o interessado preenche os
Resoluções – São atos normativos gerais ou individuais, emanados de requisitos legais para a concessão de licença, e por ser um ato admi-
autoridades de elevado escalão administrativo. Ex: Ministros e Secretários nistrativo vinculado, se for negada, caberá a impetração de mandado de
de Estado ou Município, art. 87 e incisos da CF. Constituem matéria das segurança ex vi do art. 5º, inciso LXIX da CF.
resoluções todas as que se inserem na competência específica dos agen-
tes ou pessoas jurídicas responsáveis por sua expedição. Não se confun- Em regra a licença por ser ato vinculado não pode ser revogada por
dem com resolução legislativa (art. 59, VII da CF; 155, § 2º, IV e 68, § 2º, conferir direito adquirido. Contudo, o STF em 1999 (RE nº 212.780-RJ,
ambos da CF), que é ato do Senado Federal ou do Congresso Nacional Rel. Min. Ilmar Galvão) reafirmou decisão anterior no sentido de que não
que independem de sanção e têm as regras jurídicas de elaboração fere direito adquirido decisão que, no curso do processo de pedido de
conforme o Regimento interno ou o Regimento Comum destas Casas. licença de construção, em projeto de licenciamento, estabelece novas
regras de ocupação de solo, ressalvando-se ao prejudicado o direito à
Deliberação – São atos normativos ou decisórios emanados de ór- indenização nos casos em que haja ocorridos prejuízos.
gãos colegiados, como conselhos, comissões, tribunais administrati-
vos etc. Segundo Hely Lopes Meirelles as deliberações devem obediência Aprovação, Homologação ou Visto ou atos de confirmação – Pres-
ao regulamento e ao regimento que houver para a organização e funciona- supõem sempre a existência de outro ato administrativo.
mento do colegiado.
A aprovação pode ser prévia (art. 52, III da CF), ou posterior (art. 49,
ATOS ORDINATÓRIOS – São os que visam a disciplinar o funcio- IV da CF), é uma manifestação discricionária do administrador a respeito
namento da Administração e a conduta funcional de seus agentes. de outro ato.
Emanam do poder hierárquico, isto é, podem ser expedidos por chefes de
serviços aos seus subordinados. Só atuam no âmbito interno das repar- A homologação constitui manifestação vinculada, isto é, ou bem
tições e só alcançam os servidores hierarquizados à chefia que os expe- procede à homologação se tiver havido legalidade ou não o faz em caso
diu. Não obrigam aos particulares. Não criam, normalmente, direitos ou contrário, é sempre produzida a posterior. Ex: licitação.
obrigações para os administrados, mas geram deveres e prerrogativas
para os agentes administrativos a que se dirigem. O visto é ato que se limita à verificação da legitimidade formal de outro
ato. É condição de eficácia do ato que o exige. É ato vinculado, todavia,
Instruções, Circulares, Portarias, Ordens de Serviço, Provimentos na prática tem sido desvirtuado para o exame discricionário, como
e Avisos. Todos estes atos servem para que a Administração organize ocorre com o visto em passaporte, que é dado ou negado ao alvedrio das
suas atividades e seus órgãos. O sistema legislativo pátrio não adotou o autoridades consulares.
processo de codificação administrativo, de maneira que cada pessoa
federativa dispõe sobre quem vai expedir esses atos e qual será o conteú- ATOS ENUNCIATIVOS – Segundo Diogo Figueiredo Moreira Neto, são
do. todos aqueles em a Administração se limita a certificar ou a atestar um
fato, ou emitir uma opinião sobre determinado assunto, constantes de
ATOS NEGOCIAIS ou DE CONSENTIMENTO ESTATAL – Segundo registros, processos e arquivos públicos, sendo sempre, por isso,
Hely Lopes Meirelles são todos aqueles que contêm uma declaração de vinculados quanto ao motivo e ao conteúdo (objeto).
vontade da Administração apta a concretizar determinado negócio
jurídico ou a deferir certa faculdade ao particular, nas condições impos- Certidões – são atos que reproduzem registros das repartições, con-
tas ou consentidas pelo Poder Público. tendo uma afirmação quanto à existência e ao conteúdo de atos adminis-
trativos praticados. É mera trasladação para o documento fornecido ao
Consoante escol de Diogo Figueiredo Moreira Neto os atos adminis- interessado do que consta de seus arquivos. Podem ser de inteiro teor ou
trativos negociais contêm uma declaração de vontade da administração resumidas. A CF em seu art. 5º, XXXIV, b, dispõe sobre o fornecimento de
coincidente com uma pretensão do administrado. A manifestação de certidões independentemente do pagamento de taxas.
vontade do administrado não é requisito para a formação do ato, contudo,
é necessária como provocação do Poder Público para sua expedição, bem Atestados – São atos pelos quais a Administração comprova um fato
como uma vez expedido, para que se dê a aceitação da vontade pública ou uma situação de que tenha conhecimento por seus órgãos competen-
nele expressada. São unilaterais por conceito, embora já contenham um tes. Diferentemente da certidão, os atestados comprovam uma situação
embrião de bilateralidade, já que de algum modo pressupõem a aceitação existente mas não constante em livros, papéis ou documentos em poder
do administrado via provocação ao Poder Público, daí porque a nomencla- da administração, destinam-se a comprovação de situações transeuntes,
tura atos negociais. Tipos: passíveis de modificações frequentes. Ex: atestado médico.

Direito Administrativo 4 A Opção Certa Para a Sua Realização


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Pareceres – São atos que contém opiniões de órgãos técnicos a res- (órgão competente) e materiais (está de acordo com a lei e a Constituição)
peito de problemas e dúvidas que lhe são submetidos, orientando a de sua produção e consequente integração no sistema ou inválido (nulo
Administração sobre a matéria técnica neles contida. Muito embora sejam ou anulável) em caso contrário. Contudo, o ato administrativo inválido é
opinativos, os pareceres da consultoria jurídica, órgãos exercentes de existe e produz eficácia; ou seja, é qualidade do ato administrativo (que
função constitucional essencial à justiça na órbita dos entes da federação, existe é válido ou inválido) e que está apto a produzir efeitos jurídicos, isto
obrigam, em princípio, a Administração, não obstante se optar por des- é, incidir/juridicizar o fato ocorrido no mundo real.
considerá-los, deverá motivar suficientemente porque o fazem. O
parecer embora contenha um enunciado opinativo (opinar é diferente de O Ato existe, é válido e eficaz. Ex: nomeação de posse do Prefeito
decidir), pode ser de existência obrigatória no procedimento administrati- municipal eleito democraticamente.
vo (caso em que integra o processo de formação do ato) e dar ensejo à
nulidade do ato final se não contar do respectivo processo (por ausência O ato existe, é válido e ineficaz. Ex: ato que permite a contratação
de requisito FORMAL), exemplo, casos em que a lei exige prévia audiên- depois que o vencedor da licitação tenha promovida a competente garantia.
cia de um órgão jurídico-consultivo, processo licitatório. Neste caso, o
parecer é obrigatório, muito embora seu conteúdo não seja vinculante. O ato existe, é inválido e como tal pode ser eficaz ou ineficaz. Ex:
Quando o ato decisório se limita a aprovar o parecer, fica este integrado ato de declaração de utilidade pública para fins de utilidade pública, para
ao ato como razões de decidir (motivação), agora, se ao revés, o ato fins expropriatórios, editados por vingança política.
decisório decide de maneira contrária ao parecer, deve expressar for-
malmente as razões que o levaram a não acolher o parecer, sob pena de O ato existe, é inválido e ineficaz. Ex: o ato que permite a nomeação
abuso de poder e ilegalidade. de servidor para cargo de provimento efetivo no serviço público (Câmara
Municipal), sem o prévio concurso, depois do recesso parlamentar.
Pareceres normativos – É aquele que quando aprovado pela autori-
dade competente, é convertido em norma de procedimento interno, aos EXTINÇÃO – MODALIDADES
quais se confere uma eficácia geral e abstrata para a Administração, Extinção natural – por cumprimento de seus efeitos. Ex: a destruição
dispensando seus entes, órgãos e agentes de reproduzirem as motiva- de mercadoria nociva ao consumo público, neste caso, o ato cumpriu seus
ções, se forem as mesmas nele examinadas. objetivos, extinguindo-se naturalmente.

Apostila – São atos enunciativos ou declaratórios de uma situação Extinção subjetiva ou objetiva – Ocorre quando do desaparecimento
anterior criada por lei. Ao apostilar um título a Administração não cria do sujeito ou do objeto. Ex: a morte do permissionário extingue o ato de
um direito, porquanto apenas declara o reconhecimento da existência de permissão por ausência do elemento subjetivo. Vejamos agora, outro
um direito criado por norma legal. Segundo Hely Lopes Meirelles equiva- exemplo, agora de extinção objetiva. Sendo o objeto um dos seus elemen-
le a uma averbação. tos essenciais do ato administrativo, se depois de praticado o ato desapa-
rece o objeto ocorre a chamada extinção objetiva, ex: interdição de esta-
ATOS PUNITIVOS – São aqueles que contêm uma sanção imposta belecimento, e após o estabelecimento é definitivamente desativado pelo
pela lei e aplicada pela Administração, visando punir as infrações admi- proprietário.
nistrativas ou conduta irregulares de servidores ou de particulares
perante a Administração. Retirada – Que pode se realizar mediante REVOGAÇÃO quando se
dá por razões de conveniência e oportunidade ou por razões de INVA-
Multa – imposição pecuniária por descumprimento de preceito admi- LIDAÇÃO (ANULAÇÃO), que compreende as ideias de vícios dos atos
nistrativo, geralmente, é de natureza objetiva, independente da ocorrência administrativos, convalidação e as modalidades de cassação e caduci-
de dolo ou culpa. dade.

Interdição de atividades – Ato pelo qual a Administração veda a prá- Revogação – É ato administrativo discricionário (não se aplica ao ato
tica de atividades sujeitas ao seu controle ou que incidam sobre seus vinculado, porque nestes não há conveniência e oportunidade) pelo qual a
bens. Funda-se na lei e no poder de polícia administrativa, e pressupõe Administração extingue um ato válido, por razões de conveniência e
a existência de um prévio e devido processo administrativo (Art. 5º, LV oportunidade. a)- Não retroage pois pressupõe um ato editado em confor-
da CF), sob pena de nulidade. midade com a lei; b)- seus efeitos se produzem a partir da própria revoga-
ção (ex nunc); c)- é ato privativo da administração; d)- não podem ser
Destruição de coisas – Ato sumário da Administração pelo qual se revogados os atos que já exauriram os seus efeitos, uma vez que a revo-
inutilizam alimentos, substâncias, objetos ou instrumentos imprestá- gação não retroagem mais apenas impede que o ato continue a produzir
veis ou nocivos ao consumo ou de uso proibido por lei. Típico ato de efeitos, ex: a administração concede dois meses de afastamento ao servi-
polícia administrativa, de caráter urgente que dispensa prévio processo, dor e após este prazo os efeitos já estarão exauridos; e)- pressupõe ato
contudo, exige sempre auto de apreensão e de destruição em forma que ainda esteja produzindo efeitos, ex: autorização para porte de arma ou
regular (descritivo e circunstanciado), nos quais se fixam os motivos da de qualquer atividade sem prazo estabelecido; f)- não podem ser revoga-
medida drástica, se identifiquem as coisas destruídas, para oportuna dos atos que integram um procedimento, pois a cada novo ato ocorre a
avaliação da legalidade do ato. ( preclusão em relação ao ato anterior, ex: não pode ser revogado o ato de
adjudicação na licitação quando já celebrado o respectivo contrato; g)- não
Demolição administrativa – Ato executório, praticado para remover podem ser revogados os atos que geram direitos adquiridos, conforme
perigo público iminente, exigindo, também, auto descritivo e circuns- Súmula nº 473 do STF - (A administração pode anular seus próprios atos,
tanciado sobre o estado da edificação a ser destruída, e quando possível, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se
prévio e devido processo legal (art. 5º, LV, CF). originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunida-
de, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a
8. EXISTÊNCIA E EXTINÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO. apreciação judicial); g)- só quem pratica o ato ou quem tenha poderes
Noções iniciais – Antes de falarmos da extinção do ato administrativo, explícitos ou implícitos para dele conhecer de ofício ou por via de recurso,
vamos falar de sua formação. Sob a perspectiva de sua existência (perfei- pode revogá-lo, trata-se de competência intransferível a não ser por força
ção) no mundo jurídico o ato administrativo pode ser visto sob três planos de lei; h)- pressupõe o contraditório no caso de desfazimento de processo
de investigação científica quais sejam: vigência, validade e eficácia. licitatório, art. 49, § 3º da Lei de Licitações (8.666/93)

Um ato administrativo quando editado e publicado passa a ter vigên- Invalidade ou anulação – É o desfazimento do ato por razões de ile-
cia, logo, possui existência jurídica (perfeição). Um ato administrativo galidade. a)- atinge o ato em sua origem, produzindo efeitos retroativos à
existe quando contiver: motivo, conteúdo, finalidade, forma, e assinatura de data em que foi emitido (ex tunc); b)- pode ser feita pela própria administra-
autoridade competente. O ato administrativo que entrou no plano da exis- ção ou pelo judiciário; c)- deve observar o princípio do contraditório quando
tência "é". Existindo, pode ser válido se obedecidas as condições formais afetar interesses de terceiros; d)- A doutrina não é unânime quanto ao

Direito Administrativo 5 A Opção Certa Para a Sua Realização


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caráter vinculado ou discricionário da invalidação, os que defendem o conversão, o novo ato suprime a parte inválida do anterior, mantendo sua
dever de anular apegam-se ao princípio da legalidade e da autotutela e os parte válida, ex: ato anterior concede férias e licença a um servidor, após
que defendem a faculdade de anular se apoiam na predominância do se verifica que ele não tinha direito a licença, pratica-se novo ato retirando
interesse público sobre o particular. Ex: loteamento irregular realizado a parte relativa à licença e ratifica-se a parte atinente às férias. Já na con-
em área municipal, valendo-se o interessado de documentos falsos que versão.
fizeram com que conseguisse aprovar o projeto na municipalidade e obter
alvará, inúmeras famílias adquiriram os lotes, construíram casas, foram Cassação – forma extintiva que se aplica quando o beneficiário de de-
cobrados tributos etc. Após foi descoberta a falsidade. A doutrina neste terminado ato descumpre condições que permitem a manutenção do ato e
caso entende que a Administração terá liberdade discricionária para seus efeitos. Características: a)- trata-se de ato vinculado, já que o agente
avaliar qual será o prejuízo menor, manter (convalidar) ou anular o ato só pode cassar o ato anterior nas hipóteses previamente fixadas em lei; b)-
ilegal. é natureza jurídica sancionatória, porquanto pune aquele que deixou de
cumprir as condições para a subsistência do ato. Ex: cassação de licença
Vícios que geram a possibilidade de invalidação – previstos no art. para exercício de profissão; cassação do porte de arma se o portador for
2º da Lei 4.717/65 – detido ou abordado em estado de embriaguez, art. 10, § 2º da Lei
Vícios relativos ao sujeito – Diz a Lei 4.717/65 em seu art. 2º, pará- 10.826/03.
grafo único,
Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar- Caducidade – Diz Diógenes Gasparini, há caducidade quando a reti-
se-ão as seguintes normas: rada funda-se no advento de nova legislação que impede a permanência da
a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas situação anteriormente consentida. Noutro dizer, significa a perda de
atribuições legais do agente que o praticou; efeitos jurídicos em virtude de norma jurídica superveniente contrária
àquela que respaldava a prática do ato. Ex: permissão de uso de bem
O vício relativo ao sujeito pode se dar através de usurpação de po- público, supervenientemente, é editada lei que proíbe o uso privativo do
der (crime previsto no art. 328 do CP – a pessoa que pratica o ato não foi referido bem por particulares, o ato anterior (permissão de uso) de natureza
investida no cargo); excesso de poder (excede os limites de sua compe- precária, sofre caducidade, extinguindo-se.
tência) e função de fato (pessoa que pratica o ato está irregularmente
investida no cargo. Discricionariedade é a opção, a escolha entre duas ou mais alternati-
vas válidas perante o direito (e não somente perante a lei), entre várias
Vícios relativos ao objeto – Diz a lei já citada, hipóteses legais e constitucionalmente possíveis ao caso concreto. Essa
c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa escolha se faz segundo critérios próprios como oportunidade, conveniência,
em violação de lei, regulamento ou outro ato normativo; justiça, equidade, razoabilidade, interesse público, sintetizados no chamado
Ex: município que desaproprie bem imóvel da União; nomeação para mérito do ato administrativo.
cargo inexistente; desapropriação de bem não definido com precisão;
intervenção federal disfarçada por ato de requisição, caso da intervenção Vinculação e Discricionariedade do Ato Administrativo
na área de saúde no Rio de Janeiro pelo Governo Federal etc. O ordenamento jurídico confere determinados poderes instrumentais à
Administração Pública para que essa possa tutelar os interesses que foram
Vícios relativos à forma – Diz a Lei 4.717/65, colocados sob sua guarda. A atividade administrativa não pode ser exerci-
b) o vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta da fora dos trilhos demarcados pela lei.
ou irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do
ato; Quando a lei estabelece que, perante determinadas circunstâncias, a
Ex: o decreto é a forma normal que deve revestir o ato do Chefe do Administração só pode dar uma específica solução, toda a atuação do
Executivo e o Edital é a única forma possível para convocar os interessa- administrador público se encontra vinculada ao determinado pelo legislador,
dos em participar de concorrência pública (modalidade de licitação). como no exemplo de cobrança de um tributo pelo agente fazendário. Nesse
sentido, Diogo de Figueiredo Moreira Neto afirma que ato vinculado “é
Vícios quanto ao motivo – Diz a Lei 4.717/65, em seu art. 2º, aquele em que o agente tem competência para praticá-lo em estrita con-
d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou formidade às prescrições legais, manifestando a vontade da Administração
de direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou na oportunidade e para os efeitos integralmente previstos em lei, sem
juridicamente inadequada ao resultado obtido; qualquer margem de escolha de atuação, seja de tempo ou de conteúdo”.
Ex: A Administração pune um funcionário, mas este não praticou qual-
quer infração, o motivo é inexistente. Se ele praticou infração diversa da Se o legislador entender que, diante do caso concreto, caberá ao agen-
qual foi enquadrado o motivo é falso. te público decidir qual será a melhor solução dentre aquelas permitidas pela
lei, existe discricionariedade administrativa. A escolha dessa decisão reali-
Vícios relativos à finalidade. Diz o art. 2º da Lei 4.717/65, za-se por meio de critérios de oportunidade, conveniência e justiça. Como
e) o desvio da finalidade se verifica quando o agente pratica o ato vi- exemplo de discricionariedade administrativa, tem-se o deferimento ou não
sando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de licença para capacitação ao servidor público federal (art. 87 da Lei nº
de competência. 8.112/90). O servidor pode, após cada quinquênio de efetivo exercício,
Ex: desapropriação feita para prejudicar determinada pessoa; remoção afastar-se das suas atribuições, com a respectiva remuneração, por até três
ex officio do servidor com o objetivo de puni-lo. A grande dificuldade é meses, para participar de curso de capacitação profissional, no interesse da
provar o desvio de poder. Segundo Cretella Júnior o desvio de poder pode Administração. Caberá à autoridade competente decidir se é conveniente
ser comprovado por indícios, exemplos, motivação insuficiente; motivação ou oportuno, permitir que o servidor usufrua dessa licença.
contraditória, irracionalidade do procedimento, camuflagem dos fatos,
inadequação entre motivos e efeitos e excesso de motivação. Não se deve confundir, entretanto, discricionariedade com arbitrarieda-
de. Na discricionariedade, o agente público age com liberdade dentro da lei,
Convalidação – Também denominada por alguns de sanatória, é o enquanto, na arbitrariedade, a atuação do administrador ultrapassa os
processo de que se vale a Administração para aproveitar atos administra- limites legais. Todo ato arbitrário é nulo, pois extrapola o permitido pelo
tivos com vícios superáveis, de modo a confirmá-los no todo ou em ordenamento jurídico, acarretando a responsabilidade do agente que o
parte. O instituto da convalidação é aceito pela doutrina dualista bem emitiu.
como pela Lei 9.784/99 em seu art. 55, que admitem possam os atos
administrativos serem nulos ou anuláveis. Convalida-se por ratificação, Como certos aspectos do ato sempre são vinculados, não há ato admi-
reforma ou conversão. Na ratificação, a autoridade que praticou o ato ou nistrativo inteiramente discricionário. No ato vinculado, todos os elementos
superior hierárquico decide sanar o ato inválido anteriormente praticado, estão estabelecidos em lei. Já no ato discricionário, alguns elementos vêm
suprindo a ilegalidade que o vicia, ex: um ato com vício de forma pode ser definidos minuciosamente em lei (competência, finalidade e forma), en-
posteriormente ratificado com a adoção de forma legal. Na reforma ou quanto outros são deixados para a análise do agente público (motivo e

Direito Administrativo 6 A Opção Certa Para a Sua Realização


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objeto), com maior ou menor liberdade de apreciação da oportunidade e Atos abstratos: São aqueles que comportam reiteradas aplicações,
conveniência. sempre que se renove a hipótese nele prevista. Ex: Punição.

Em consequência disso, o ato vinculado só é examinado sob o aspecto Quanto aos destinatários:
da legalidade, isto é, apenas é contrastado com a previsão legal. O ato
discricionário, por sua vez, pode ser analisado sob aspecto da legalidade e Atos gerais: São aqueles editados sem um destinatário específico. Ex:
do mérito (oportunidade e conveniência diante do interesse público a atin- Concurso público.
gir). O mérito do ato administrativo representa a escolha feita pelo adminis-
trador público quanto à conveniência e oportunidade na expedição de um Atos individuais: São aqueles editados com um destinatário específi-
ato discricionário. Não há mérito nos atos vinculados, pois não há decisão a co. Ex: Permissão para uso de bem público.
ser tomada pelo agente público. O legislador já decidiu previamente qual é
a solução adotada para determinada hipótese nos atos vinculados. Quanto à esfera jurídica de seus destinatários:

Como bem observa Gustavo Binenbojm, a constitucionalização do di- Atos ampliativos: São aqueles que trazem prerrogativas ao destinatá-
reito administrativo permitiu uma incidência direta dos princípios constitu- rio, alargam sua esfera jurídica. Ex: Nomeação de um funcionário; Outorga
cionais sobre os atos administrativos. Dessa forma, não há decisão admi- de permissão.
nistrativa que seja imune ao direito ou aos princípios constitucionais, pois
haverá diferentes “graus de vinculação à juridicidade”. Segundo Gustavo Atos restritivos: São aqueles que restringem a esfera jurídica do des-
Binenbojm, “conforme a densidade administrativa incidente ao caso, pode- tinatário, retiram direitos seus. Ex: Demissão; Revogação da permissão.
se dizer, assim, que os atos administrativos serão: (i) vinculados por regras
(constitucionais, legais ou regulamentares), exibindo alto grau de vincula- Quanto às prerrogativas da Administração para praticá-los:
ção à juridicidade; (ii) vinculados por conceitos jurídicos indeterminados
(constitucionais, legais ou regulamentares), exibindo grau intermediário de Atos de império: São aqueles praticados sob o regime de prerrogati-
vinculação à juridicidade; e (iii) vinculados diretamente por princípios (cons- vas públicas. A administração de forma unilateral impõe sua vontade sobre
titucionais, legais ou regulamentares) , exibindo baixo grau de vinculação à os administrados (princípio da supremacia dos interesses públicos). Ex:
juridicidade”. Interdição de estabelecimento comercial por irregularidades.

Classificação dos atos administrativos Atos de expediente: São aqueles destinados a dar andamento aos
processos e papéis que tramitam no interior das repartições.
Classificação:
Os autores divergem na classificação em razão dos conceitos diferen- Os atos de gestão (praticados sob o regime de direito privado. Ex: con-
tes. Um ato administrativo pode estar enquadrado em várias classificações tratos de locação em que a Administração é locatária) não são atos admi-
ao mesmo tempo. Ex: Ato de permissão de uso é ato individual, externo, de nistrativos, mas são atos da Administração. Para os autores que conside-
império, discricionário e simples. ram o ato administrativo de forma ampla, os atos de gestão são atos admi-
nistrativos.
Quanto ao alcance ou efeitos sob terceiros:
Quanto ao grau de liberdade conferido ao administrador:
Atos internos: São aqueles que geram efeitos dentro da Administra-
ção Pública. Ex: Edição de pareceres. Atos vinculados: São aqueles praticados sem liberdade subjetiva, isto
é, sem espaço para a realização de um juízo de conveniência e oportuni-
Atos externos: São aqueles que geram efeitos fora da Administração dade. O administrador fica inteiramente preso ao enunciado da lei, que
Pública, atingindo terceiros. Ex: Permissão de uso; Desapropriação. estabelece previamente um único comportamento possível a ser adotado
em situações concretas. Ex: Pedido de aposentadoria por idade em que o
Quanto à composição interna: servidor demonstra ter atingido o limite exigido pela Constituição Federal.

Atos simples: São aqueles que decorrem da manifestação de vontade Atos Discricionários: São aqueles praticados com liberdade de op-
de um único órgão (singular, impessoal ou colegiado). Ex: Demissão de um ção, mas dentro dos limites da lei. O administrador também fica preso ao
funcionário. enunciado da lei, mas ela não estabelece um único comportamento possí-
vel a ser adotado em situações concretas, existindo assim espaço para a
Atos compostos: São aqueles que decorrem da manifestação de von- realização de um juízo de conveniência e oportunidade. Ex: A concessão
tade de um único órgão em situação sequencial. Ex: Nomeação do Procu- de uso de bem público depende das características de cada caso concreto;
rador-Geral de Justiça. Pedido de moradores exigindo o fechamento de uma rua para festas Juni-
nas.
Atos complexos: São aqueles que decorrem da conjugação de vonta-
des de mais de um órgão no interior de uma mesmo pessoa jurídica. Ex: A discricionariedade é a escolha de alternativas dentro da lei. Já a arbi-
Ato de investidura; portaria intersecretarial. trariedade é a escolha de alternativas fora do campo de opções, levando à
invalidade do ato.
Quanto à sua formação:
O Poder Judiciário pode rever o ato discricionário sob o aspecto da le-
Atos unilaterais: São aqueles formados pela manifestação de vontade galidade, mas não pode analisar o mérito do ato administrativo (conjunto de
de uma única pessoa. Ex: Demissão - Para Hely Lopes Meirelles, só exis- alternativas válidas), salvo quando inválido. Assim, pode analisar o ato sob
tem os atos administrativos unilaterais. a ótica da eficiência, da moralidade, da razoabilidade, pois o ato administra-
tivo que contrariar estes princípios não se encontra dentro das opções
Atos bilaterais: São aqueles formados pela manifestação de vontade válidas.
de mais de uma pessoa. Ex: Contrato administrativo.
Alguns autores alemães afirmam que não há discricionariedade, pois o
Quanto à sua estrutura: administrador tem sempre que escolher a melhor alternativa ao interesse
público, assim toda atividade seria vinculada.
Atos concretos: São aqueles que se exaurem em uma aplicação. Ex:
Apreensão. Aspectos do ato administrativo que são vinculados: Para Hely Lopes
Meirelles, são vinculados a competência, a finalidade e a forma (vem defi-
nida na lei). Para maior parte dos autores, apenas a competência e a

Direito Administrativo 7 A Opção Certa Para a Sua Realização


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finalidade, pois a forma pode ser um aspecto discricionário (Ex: Lei que Cessão de uso: É o contrato administrativo através do qual transfere-
disciplina contrato administrativo, diz que tem que ser na forma de termo se o uso de bem público de um órgão da Administração para outro na
administrativo, mas quando o valor for baixo pode ser por papéis simplifica- mesma esfera de governo ou em outra.
dos); Celso Antonio diz que apenas a competência, pois a lei nem sempre
diz o que é finalidade pública, cabendo ao administrados escolher. Concessão para realização de uma obra pública:

Classificação dos atos administrativos quanto ao conteúdo Contrato de obra pública: É o contrato por meio do qual delega-se a
realização da obra pública. A obra será paga pelos cofres públicos.
Admissão:
Admissão é o ato administrativo unilateral vinculado, pelo qual a Admi- Concessão de obra pública ou Concessão de serviço público pre-
nistração faculta à alguém o ingresso em um estabelecimento governamen- cedida da execução de obra pública: É o contrato por meio do qual
tal para o recebimento de um serviço público. Ex: Matrícula em escola. delega-se a realização da obra pública e o direito de explorá-la. A obra
pública será paga por meio de tarifas.
É preciso não confundir com a admissão que se refere à contratação
de servidores por prazo determinado sem concurso público. Concessão para delegação de serviço público: É o contrato por
meio do qual delega-se a prestação de um serviço público, sem lhe conferir
Licença: a titularidade, atuando assim em nome do Estado (Lei 8987/95 e Lei
Licença é o ato administrativo unilateral vinculado, pelo qual a Adminis- 9074/95).
tração faculta à alguém o exercício de uma atividade material. Ex: Licença
para edificar ou construir. Diferente da autorização, que é discricionária. “Incumbe ao Poder Público na forma da lei, diretamente ou sob regime
de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de
Homologação: serviços públicos” (art. 175 da CF).
Homologação é o ato administrativo unilateral vinculado, pelo qual a
Administração manifesta a sua concordância com a legalidade de ato “A lei disporá sobre o regime das empresas concessionárias e permis-
jurídico já praticado. sionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua
prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e resci-
Aprovação: são da concessão ou permissão; os direitos dos usuários, política tarifária,
Aprovação é o ato administrativo unilateral discricionário, pelo qual a a obrigação de manter serviço adequado” (art. 175, parágrafo único da CF).
Administração manifesta sua concordância com ato jurídico já praticado ou
que ainda deva ser praticado. É um ato jurídico que controla outro ato Permissão:
jurídico. Permissão é o ato administrativo unilateral discricionário pelo qual o
Poder Público (Permitente), em caráter precário, faculta a alguém (Permis-
Aprovação prévia ou “a priori”: Ocorre antes da prática do ato e é sionário) o uso de um bem público ou a responsabilidade pela prestação de
um requisito necessário à validade do ato. um serviço público. Há autores que afirmam que permissão é contrato e
não ato unilateral (art. 175, parágrafo único da CF).
Aprovação posterior ou “a posteriore”: Ocorre após a pratica do ato
e é uma condição indispensável para sua eficácia. Ex: Ato que depende de Tendo em vista que a permissão tem prazo indeterminado, o Promiten-
aprovação do governador. te pode revogá-lo a qualquer momento, por motivos de conveniência e
oportunidade, sem que haja qualquer direito à indenização.
Na aprovação, o ato é discricionário e pode ser prévia ou posterior. Na
homologação, o ato é vinculado e só pode ser posterior à prática do ato. Quando excepcionalmente confere-se prazo certo às permissões são
Para outros autores a homologação é o ato administrativo unilateral pelo denominadas pela doutrina de permissões qualificadas (aquelas que tra-
qual o Poder Público manifesta a sua concordância com legalidade ou a zem cláusulas limitadoras da discricionariedade). Segundo Hely Lopes
conveniência de ato jurídico já praticado, diferindo da aprovação apenas Meirelles, a Administração pode fixar prazo se a lei não vedar, e cláusula
pelo fato de ser posterior. para indeniza,r no caso de revogar a permissão. Já para a maioria da
doutrina não é possível, pois a permissão tem caráter precário, sendo esta
Concessão: uma concessão simulada.
Concessão é o contrato administrativo pelo qual a Administração (Po-
der Concedente), em caráter não precário, faculta a alguém (Concessioná- Permissão de uso: É o ato administrativo unilateral, discricionário e
rio) o uso de um bem público, a responsabilidade pela prestação de um precário através do qual transfere-se o uso do bem público para particula-
serviço público ou a realização de uma obra pública, mediante o deferimen- res por um período maior que o previsto para a autorização. Ex: Instalação
to da sua exploração econômica. – Este contrato está submetido ao regime de barracas em feiras livres; instalação de Bancas de jornal; Box em mer-
de direito público. cados públicos; Colocação de mesas e cadeiras em calçadas.

Tendo em vista que o contrato tem prazo determinado, se o Poder Permissão de serviço público: É o ato administrativo unilateral, dis-
Concedente extingui-lo antes do término por questões de conveniência e cricionário e precário pelo qual transfere-se a prestação do serviço público
oportunidade, deverá indenizar, pois o particular tem direito à manutenção à particulares.
do vínculo.
Autorização:
Concessão para uso de bem público: Autorização é o ato administrativo unilateral discricionário pelo qual o
Poder Público faculta a alguém, em caráter precário, o exercício de uma
Concessão comum de uso ou Concessão administrativa de uso: É dada atividade material (não jurídica).
o contrato administrativo por meio do qual delega-se o uso de um bem
público ao concessionário, por prazo certo e determinado. Por ser direito Autorização de uso: É o ato administrativo unilateral, discricionário e
pessoal não pode ser transferida, “inter vivos” ou “causa mortis”, à terceiros. precaríssimo através do qual transfere-se o uso do bem público para parti-
Ex: Área para parque de diversão; Área para restaurantes em Aeroportos. culares por um período de curtíssima duração. Libera-se o exercício de
uma atividade material sobre um bem público. Ex: Empreiteira que está
Concessão de direito real de uso: É o contrato administrativo por construindo uma obra pede para usar uma área pública, em que irá instalar
meio do qual delega-se o uso em imóvel não edificado para fins de edifica- provisoriamente o seu canteiro de obra; Fechamento de ruas por um final
ção; urbanização; industrialização; cultivo da terra (Decreto-lei 271/67). de semana; Fechamento de ruas do Município para transportar determina-
Delega-se o direito real de uso do bem. da carga.

Direito Administrativo 8 A Opção Certa Para a Sua Realização


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Difere-se da permissão de uso de bem público, pois nesta o uso é a) Poder-dever de agir:
permanente (Ex: Banca de Jornal) e na autorização o prazo máximo esta-
belecido na Lei Orgânica do Município é de 90 dias (Ex: Circo, Feira do O poder-dever do administrador público é hoje pacificamente reconhecido
livro). pela doutrina e pela jurisprudência. Significa dizer que o poder administrati-
vo, por ser conferido à Administração para o atingimento do fim público,
Autorização de serviço público: É o ato administrativo através do representa um dever de agir. Enquanto no Direito Privado o poder de agir
qual autoriza-se que particulares prestem serviço público. é uma mera faculdade, no Direito Administrativo é uma imposição, um
dever de agir para o agente público.
Os atos administrativos oficiais, pelos predicativos e peculiaridades, in-
trínsecos ou finalísticos, podem ser classificados em seis categorias, que Para a Administração Pública poder corresponde, ao mesmo tempo, a
abrangem a totalidade dos documentos de redação oficial, pelas quais os dever: é o chamado Poder-dever. Para o Administrador Público há inteira
atos administrativos são expressos e formalizados. subordinação do poder em relação ao dever, tanto que aquele não pode ser
exercido livremente, sujeitando-se sempre a uma finalidade específica.
Atos deliberativo-normativos: São aqueles que contém um comando
geral do Executivo, visando à correta aplicação da lei, e explicitando a O poder do administrador público, revestindo ao mesmo tempo o caráter de
norma legal observada pela administração e pelos administrados. dever para a comunidade, é insuscetível de renúncia pelo seu titular. Nem
se compreenderia que uma autoridade pública - um Governador, p. ex. -
Exemplos: decretos, despachos, instruções, resoluções, portarias, a- abrisse mão de seus poderes administrativos, deixando de praticar atos de
córdãos, manuais. seu dever funcional. Tal atitude importaria fazer liberalidades com o direito
alheio, e o Poder Público não é, nem pode ser, instrumento de cortesias
Atos de correspondência: Estes atos podem ser de correspondência administrativas. A propósito, já proclamou o colendo TFR que "o vocábulo
individual ou pública. Sua característica é ter destinatário declarado. poder significa dever quando se trata de atribuições de autoridades admi-
Exemplos: ofícios, circulares. nistrativas".

Atos enunciativos: São todos aqueles em que a administração limita- Pouca ou nenhuma liberdade sobra ao administrador público para deixar de
se a atestar ou certificar um fato, ou emitir uma opinião sobre determinado praticar atos de sua competência legal. Dai por que a omissão da autorida-
assunto, sem vincular-se a seu enunciado. de ou o silêncio da Administração, quando deva agir ou manifestar-se, gera
responsabilidade para o agente omisso e autoriza a obtenção do ato omiti-
Exemplos: parecer. do por via judicial, notadamente por mandado de segurança, se lesivo de
Atos de assentamento: São aqueles que se destinam a registro. São direito liquido e certo do interessado.
documentos que contém assentamentos sobre fatos ou ocorrências. Na lição do Professor Hely Lopes Meirelles, “se para o particular o poder de
Exemplos: atas. agir é uma faculdade, para o administrador público é uma obrigação de
atuar, desde que se apresente o ensejo de exercitá-lo em benefício da
Atos negociais: São declarações de vontade da autoridade adminis- coletividade”.
trativa, destinadas a produzir efeitos específicos e individuais para o parti-
cular interessado. Para ilustrar a importância desse poder-dever da Administração Pública,
podemos citar duas significativas decorrências:
Exemplos: licença, autorização, permissão, homologação, dispensa,
renúncia. 1ª) os poderes administrativos são irrenunciáveis, devendo ser obrigatoria-
mente exercidos pelos titulares;
Atos ordinatórios: Visam a disciplinar o funcionamento da Administra-
ção Pública e a conduta funcional de seus agentes. 2ª) a omissão do agente, diante de situações que exigem sua atuação
caracteriza abuso de poder, que poderá ensejar, até mesmo responsabili-
Exemplos: avisos dade civil da Administração.

2. Poderes e Deveres dos Administradores; uso e abuso de Poder. b) Dever de Eficiência:


Poder Hierárquico e Poder Disciplinar. Poder de Polícia Administrati-
va: conceito; competência; Poder de Polícia originário e delegado; Mostra-se presente na necessidade de tornar cada vez mais qualitativa a
fundamentos; finalidade; atuação da administração; limites; caracte- atividade administrativa, no intuito de se imprimir à atuação do administra-
rísticas; legitimidade e sanções. dor público maior celeridade, perfeição, coordenação, técnica, controle, etc.
É um dever imposto a todos os níveis da Administração Pública.
É o que se impõe a todo agente público de realizar suas atribuições com
1. INTRODUÇÃO presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio da
A ordem jurídica confere aos agentes públicos certas prerrogativas para função administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada ape-
que estes, em nome do Estado, persigam a consecução dos fins públicos. nas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e
Essas prerrogativas são conferidas por lei, exigem a observância dos satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus mem-
princípios administrativos – moralidade, impessoalidade, razoabilidade, etc. bros.
– destinam-se ao atingimento do fim maior da Administração Pública: a Cabe ressaltar que a EC 19/98 erigiu esse dever à categoria de princípio
satisfação do interesse público. Essas prerrogativas consubstanciam os constitucional da Administração Pública (princípio da Eficiência, expresso
chamados poderes do administrador público. no art. 37, caput), manifestando preocupação não só com a produtividade
Por outro lado, a lei impõe ao administrador público alguns deveres especí- do servidor, mas também com o aperfeiçoamento de toda a máquina admi-
ficos e peculiares para que, ao agir em nome do Estado e em benefício do nistrativa, por meio da criação de institutos e controles que permitam uma
interesse público, execute bem a sua missão. São os chamados deveres melhor avaliação do desempenho de seus órgãos, entidades e agentes.
administrativos. A eficiência funcional é, pois, considerada em sentido amplo, abrangendo
Os poderes e deveres do administrador público são atribuídos à autoridade não só a produtividade do exercente do cargo ou da função como a perfei-
para que ela possa remover, por ato próprio, as resistências particulares à ção do trabalho e sua adequação técnica aos fins visados pela Administra-
satisfação do interesse público. Essa é a inafastável idéia: conceder à ção, para o qual se objetivam os resultados, confrontam-se os desempe-
Administração Pública certas prerrogativas para a melhor satisfação dos nhos e se aperfeiçoa o pessoal através de seleção e treinamento. Assim, a
interesses públicos. verificação da eficiência atinge os aspectos quantitativo e qualitativa do
serviço, para aquilatar do seu rendimento efetivo, do seu custo operacional
1.2. Deveres do Administrador Público. e da sua real utilidade para os administrados e para a Administração. Tal
Vejamos os principais deveres do administrador público:
Direito Administrativo 9 A Opção Certa Para a Sua Realização
APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
controle desenvolve-se, portanto, na tríplice linha administrativa, econômica O abuso do poder ocorre quando a autoridade, embora competente para
e técnica. praticar o ato, ultrapassa os limites de suas atribuições ou se desvia das
finalidades administrativas. Tanto pode revestir a forma comissiva como a
Como corolários dessa nova postura adotada pelo texto constitucional, omissiva, porque ambas são capazes de afrontar a lei e causar lesão a
enfatizando o dever de eficiência, podemos citar a possibilidade de perda direito individual do administrado. O uso ilegal pode advir da incompetência
do cargo do servidor público estável em razão de insuficiência de desem- do agente, do distanciamento da finalidade do ato ou, ainda, da sua execu-
penho; o estabelecimento, como condição para a aquisição da estabilidade, ção equivocada. Dele seriam espécies:
de avaliação especial de desempenho; a possibilidade de celebração de
contrato de gestão entre o Poder Público e seus órgãos e entidades, visan- a) o excesso de poder: é quando a autoridade, embora competente para
do a propiciar um maior controle dos resultados de suas atividades, etc. praticar o ato, vai além do permitido e exorbita no uso de suas faculdades
administrativas. Excede, portanto, sua competência legal e, com isso,
c) Dever de Probidade: invalida o ato, porque ninguém pode agir em nome da Administração fora
Exige que o administrador público, no desempenho de suas atividades, do que a lei lhe permite. O excesso de poder torna o ato arbitrário, ilícito e
atue sempre em consonância com os princípios da moralidade e honesti- nulo. Colocando o Administrador na ilegalidade e até mesmo sendo enqua-
dade administrativa. Está constitucionalmente integrado na conduta do drado no crime de abuso de autoridade quando incide nas previsões penais
administrador público como elemento necessário à legitimidade de seus da Lei 4.898, de 9.12.65, que visa a melhor preservar as liberdades indivi-
atos. O velho e esquecido conceito romano do probus e do improbus admi- duais já asseguradas na Constituição (art. 5º).
nistrador público está presente na nossa legislação administrativa, como b) o desvio de finalidade ou de poder: há quando a autoridade, embora
também na Constituição da República, que pune a improbidade na Admi- atuando nos limites de sua competência, pratica o ato por motivos ou com
nistração com sanções políticas, administrativas e penais, nos termos do fins diversos dos objetivados pela lei ou exigidos pelo interesse público, por
seu Art. 37, §4º. exemplo, se a desapropriação é decretada não porque o bem imóvel do
Regulamentando esse importante dispositivo constitucional, foi editada a particular possui alguma utilidade social, mas para satisfazer ao desejo de
Lei nº 8429/92, que dispõe sobre os atos de improbidade administrativa, seu proprietário (a lei fixa a finalidade, mas o ato dela se divorcia). Neste
classificando-os em três grandes grupos: 1) os que dão ensejo a enrique- caso, os atos são ilegais necessariamente.
cimento ilícito; 2) os que geram prejuízo ao erário; e 3) os que ofendem os O ato praticado com desvio de finalidade - como todo ato ilícito ou imoral -
princípios da Administração Pública. ou é consumado às escondidas ou se apresenta disfarçado sob o capuz da
d) Dever de Prestar Contas: legalidade e do interesse público. Diante disto, há que ser surpreendido e
identificado por indícios e circunstâncias que revelem a distorção do fim
É decorrência inafastável da função do administrador público, como gestor legal, substituído habilidosamente por um fim ilegal ou imoral não desejado
de bens e interesses alheios, da coletividade. È um dever inerente a qual- pelo legislador.
quer agente que atue em nome do interesse público, alcançando não só os
administradores públicos, mas toda e qualquer pessoa responsável por c) o abuso por irregular execução do ato: é quando o agente, embora
bens e valores públicos. Nas palavras do Professor Hely Lopes: “A regra é competente, atua com abuso de autoridade. O ato jurídico não será neces-
universal: que gere dinheiro público ou administra bens ou interesses da sariamente nulo, mas seu executor (que o fez de forma abusiva) responde-
comunidade deve prestar contas ao órgão competente para a fiscalização”. rá pela atuação ilegal (responsabilidade: civil, criminal e administrativa); e
Se o administrar corresponde ao desempenho de um mandato de zelo e d) o silêncio administrativo: o silêncio administrativo (que retrata uma
conservação de bens e interesses de outrem, manifesto é que quem o omissão indevida) também pode gerar a indevida violação de direitos e
exerce deverá prestar contas ao proprietário. No caso do administrador retratar, por fim, uma das espécies possíveis de abuso. O silêncio não é ato
público, esse dever ainda se torna mais forte, porque a gestão se refere administrativo; é conduta omissiva da Administração que, quando ofende
aos bens e interesses da coletividade e assume o caráter de um múnus direito individual do administrado ou de seus servidores, se sujeita à corre-
público, isto é, de um encargo para com a comunidade. Dai o dever indecli- ção judicial e a reparação decorrente de sua inércia.
nável de todo administrador público – do agente político ao simples funcio- O mandado de segurança (CF, art. 5º, LXIX, e Lei n.º1.533/51), a ação
nário - de prestar contas de sua gestão administrativa, e nesse sentido é a popular (CF, art. 5º, LXXIII, e Lei n.º4.711/65) e a ação civil pública (Lei
orientação de nossos Tribunais. A prestação de contas não se refere ape- n.º7.347/85) podem questionar, judicialmente, os atos praticados com
nas ao dinheiro público, à gestão financeira, mas a todos os atos de gover- desvio e com abuso de poder.
no e de administração. Nos Estados de Direito como o nosso, a Administra-
ção Pública deve obediência à lei em todas as suas manifestações. Até 2 PODERES ADMINISTRATIVOS
mesmo nas chamadas atividades discricionárias o administrador público
fica sujeito às prescrições legais quanto à competência, finalidade e forma, 2.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS.
só se movendo com liberdade na estreita faixa da conveniência e oportuni- Os poderes são prerrogativas conferidas ao administrador público para a
dade administrativas. consecução dos fins públicos. Enfim, o agente público é investido de certos
1.3. Abuso de Poder. poderes para o desempenho de suas atribuições, visando sempre à satis-
fação dos interesses coletivos.
O poder administrativo concedido à autoridade pública tem limites certos e
forma legal de utilização. Não é carta branca para arbítrios, violências, Não se trata de regalias ou privilégios do administrador público, mas sim de
perseguições ou favoritismos governamentais. Qualquer ato de autoridade, atributos daquele que exerce função pública, para que possa bem desem-
para ser irrepreensível, deve conformar-se com a lei, com a moral da insti- penhá-la, em prol da coletividade. O uso desses poderes - segundo os
tuição e com o interesse público. Sem esses requisitos o ato administrativo termos e limites da lei, a moral da atividade administrativa, a finalidade e as
expõe-se a nulidade. exigências públicas - constitui atuação normal e legítima do administrador
público.
O uso do poder é prerrogativa do administrador público para ser usado em
benefício da coletividade administrada, mas usado nos justos limites que o Hely Lopes Meirelles faz a distinção entre poder administrativo e poder
bem-estar social exigir. Portanto o poder há que ser usado normalmente, político: os primeiros são instrumentos utilizados pela Administração e os
sem abuso. Usar normalmente do poder é empregá-lo segundo as normas segundos dizem respeito à organização constitucional (Poder Legislativo,
legais, a moral da instituição, a finalidade do ato e as exigências do interes- Executivo e Judiciário).
se público. 2.2. PODER VINCULADO OU REGRADO.
A utilização desproporcional do poder, o emprego arbitrário da força, a A administração não é liberta da absoluta influência da lei, significando que
violência contra o administrado constituem formas abusivas do uso do à vontade do legislador, ou seja, a especificação da lei, predomina sobre a
poder estatal, não toleradas pelo Direito e nulificadoras dos atos que as vontade do administrador. A atividade administrativa será vinculada, assim,
encerram. Abusar do poder é empregá-lo fora da lei, sem utilidade pública. se o regramento legal impuser todas ou quase todas as exigências para a
O uso do poder é lícito; o abuso, sempre ilícito. atuação, ordenando os elementos vinculados que são à competência, a
Direito Administrativo 10 A Opção Certa Para a Sua Realização
APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
finalidade, a forma, o motivo e o objeto de forma impositiva e cogente, que para eles surge o dever de representar contra a ilegalidade, conforme,
além de outros que a norma legal indicar. no caso dos servidores civis federais, preceitua a Lei nº 8112/90, art. 116,
incisos IV e XII.
No exercício de um ato ou poder vinculado não será possível ao adminis-
trador público fazer apreciações pessoais, subjetivas. Sem a observância Pelo poder-dever de fiscalização, compete ao superior estar permanente-
desses requisitos o ato é nulo, podendo ser assim declarado pela Adminis- mente atento aos atos praticados pelos subordinados, a fim de corrigilos
tração ou pelo Judiciário. sempre que se desviem da legalidade.
2.3. PODER DISCRICIONÁRIO A revisão hierárquica é a prerrogativa conferida ao superior para, de ofício
ou mediante provocação do interessado, apreciar todos os aspectos de um
São aqueles cuja prática exige do administrador, por força da maneira ato de seu subordinado, no intuito de mantê-lo ou reformá-lo. A revisão
como a lei regulou a matéria para a prática de atos administrativos com hierárquica somente é possível enquanto o ato não tenha se tornado defini-
liberdade na escolha de sua conveniência, oportunidade e conteúdo. tivo para a Administração, ou seja, enquanto não ocorrida a impropriamente
São os conhecidos "Juízos de valores. É a liberdade na apreciação subjeti- chamada coisa julgada administrativa (irretratabilidade do ato nessa esfe-
va do administrador público quanto à melhor maneira de proceder para ra), ou ainda não tenha gerado direito adquirido para o administrado.
correto atendimento à finalidade legal.
A delegação significa atribuir ao subordinado competência para a prática
Assim, como contraposto da atividade inteiramente vinculada à lei, há de ato que originariamente pertencia ao superior hierárquico. Somente
situações em que o legislador faz contemplar alguma liberdade para o podem ser delegados atos administrativos, não os atos políticos. Não são
administrador, concedendo-lhe a discricionariedade. O poder discricionário admitidas delegações de atribuições privativas (a sanção presidencial, o
é exercido sempre que a atividade administrativa resultar da opção, permi- veto, a nomeação do procurador-geral da República: atos privativos do
tida pela lei, realizada pelo administrador. Presidente da República), assim como não se admite a recusa de funções
Justifica-se o poder discricionário pela impossibilidade de o legislador delegadas (há dever de obediência), salvo se não permitida ou contrária à
prever todos os atos que a atividade administrativa exige, possibilitando-se lei. Também não se admite a delegação de atribuições de um Poder a
ainda que o agente público possa tomar a melhor medida para atender ao outro, salvo nos casos expressamente previstos na Constituição (e. g., no
interesse público no caso concreto. Não há discricionariedade absoluta. caso da lei delegada).
Importante ressaltar, todavia, que não existe arbitrariedade ou liberdade, Ao delegante não caberá qualquer responsabilização pelo ato praticado
mas margem de liberdade. (RDA, 96:77), visto que o delegado não age em nome do delegante, mas
Se uma lei prevê, por exemplo, a suspensão punitiva de uma atividade por no exercício da competência que recebeu, e não se confunde com a dele-
um mínimo de 30 (trinta) e um máximo de 90 (noventa) dias, claro está que gação de atribuições de um Poder para outro, para a qual incide vedação
uma suspensão de 60 dias será puramente discricionária, sendo cabível constitucional. A delegação pode decorrer de portaria, decreto ou qualquer
aqui falar-se em utilização do poder discricionário, uma vez que foi utilizado outro ato de efeitos internos.
o processo administrativo e o administrador público achou conveniente e Por último, avocação consiste no poder que possui o superior de chamar
oportuno aplicar tal sanção, antes respeitou o que preceitua a lei. para si a execução de atribuições cometidas a seus subordinados. É medi-
Devemos sempre ter em mente que o ato discricionário ilegal poderá, como da excepcional, que só pode ser praticada diante de permissivo legal. A
qualquer ato ilegal, ser anulado tanto pela Administração quanto pelo avocação de um ato ou de uma atribuição pode referir-se a uma função que
Judiciário. O que não pode ser apreciado pelo Judiciário (no exercício de pertencesse à competência originária do subordinado ou a uma função que
sua função jurisdicional) é o mérito administrativo, que consiste justamente tenha sido a ele delegada e que o superior entenda conveniente, em de-
na atividade valorativa de oportunidade e conveniência que levou o terminado caso concreto, exercê-la ele mesmo.
administrador a praticar o ato, escolhendo seu objeto dentro dos limites A doutrina é unânime em afirmar que ela deve ser evitada, pois é causa de
legais. Da mesma forma, entendendo a Administração inoportuno ou incon- desorganização do normal funcionamento do serviço, além de representar
veniente o ato anteriormente praticado, poderá revogá-lo e, enfatize-se, um incontestável desprestígio para o servidor subordinado. A avocação
somente pode revogar um ato quem o haja praticado. Por isso, aliás, de- desonera o subordinado de qualquer responsabilidade relativa ao ato
vemos lembrar que o Poder Judiciário, e só ele, pode revogar os atos praticado pelo superior hierárquico. Só se deve adotar tal providência
administrativos que ele próprio tenha praticado, o mesmo valendo para o quando houver motivos relevantes para tanto, não podendo se dar quando
Poder Legislativo, relativamente aos atos de sua autoria. a lei expressamente confere a atribuição a determinado órgão ou agente.
Poder discricionário não se confunde com poder arbitrário. São atitudes A subordinação não deve ser confundida com a vinculação. A subordinação
diversas: discricionariedade é a liberdade de ação administrativa, dentro tem caráter interno, é estabelecida entre órgãos de uma mesma entidade,
dos limites permitidos em lei; arbítrio é a ação contrária ou excedente da lei. como decorrência do poder hierárquico. A vinculação, ao contrário, tem
Ato discricionário, quando autorizado pelo Direito, é legal e válido; ato caráter externo e resulta do controle que as entidades estatais (União,
arbitrário é sempre ilegítimo e inválido. Estados, Distrito Federal e Municípios) exercem sobre as suas entidades da
Distinções importantes entre o Poder Vinculado e o Discricionário Administração Indireta. A relação entre uma Divisão e um Departamento no
âmbito de um Ministério é de subordinação; a relação que liga a União a
A faculdade discricionária distingue-se da vinculada pela maior liberdade de uma de suas autarquias é de vinculação.
ação que é conferida ao administrador. Se para a prática de um ato vincu-
lado à autoridade pública está adstrita à lei em todos os seus elementos 2.5. PODER DISCIPLINAR
formadores, para praticar um ato discricionário é livre, no âmbito em que a De acordo com Maria Sylvia Zanella de Pietro, é o que cabe à Administra-
lei lhe concede essa faculdade. ção Pública para apurar infrações e aplicar penalidades aos servidores
2.4. PODER HIERÁRQUICO (Princípio da Hierarquia) públicos e demais pessoas sujeitas à disciplina administrativa; é o caso dos
que com ela contratam. Não abrange as sanções impostas a particulares
Hierarquia caracteriza-se pela existência de graus de subordinação entre os não sujeitos à disciplina interna da Administração, porque, nesse caso, as
diversos órgãos e agentes do Executivo. É o poder hierárquico que permite medidas punitivas encontram seu fundamento no poder de polícia do Esta-
à Administração estabelecer tais relações, distribuindo as funções de seus do. No que diz respeito aos servidores públicos, o poder disciplinar é uma
órgãos e agentes conforme o escalonamento hierárquico. Como resultado decorrência da hierarquia.
do poder hierárquico, a Administração é dotada da prerrogativa de ordenar,
coordenar, controlar e corrigir as atividades de seus órgãos e agentes no Perceba-se, em relação ao poder hierárquico, que o poder disciplinar é
seu âmbito interno. Do exercício do poder hierárquico decorrem as prerro- mais específico, direcionando-se tão-somente à atividade de punir ou não
gativas, do superior para o subordinado, de dar ordens, fiscalizar, rever, um agente público por infração funcional, enquanto aquele é mais amplo,
delegar e avocar. dizendo respeito à organização, orientação e revisão de atos.
Os servidores públicos têm o dever de acatar e cumprir as ordens de seus Aspectos relevantes:
superiores hierárquicos, salvo quando manifestamente ilegais, hipótese em
Direito Administrativo 11 A Opção Certa Para a Sua Realização
APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
- O poder disciplinar da Administração não se confunde com o poder puniti- Os decretos de execução costumam ser definidos como regras jurídicas
vo do Estado, realizado através da Justiça Penal. gerais, abstratas e impessoais, editadas em função de uma lei, concernen-
tes à atuação da Administração, possibilitando a fiel execução da lei a que
A aplicação da pena disciplinar tem para o superior hierárquico o caráter de se referem. A Constituição de 1988 expressamente prevê a edição de
um poder-dever, uma vez que a condescendência na punição é considera- regulamentos de execução em seu art. 84, IV. Segundo esse dispositivo,
da crime contra a Administração Pública. compete privativamente ao Presidente da República expedir decretos e
regulamentos para a fiel execução das leis. É interessante notar que o
parágrafo único desse artigo 84 enumera as competências passíveis de
- A Lei 8.112/90, estabelece, em seu artigo 127, as seguintes espécies de delegação pelo Presidente da República, não incluindo entre elas a expedi-
penas disciplinares: 1) advertência; 2) suspensão; 3) demissão; 4) cassa- ção dos decretos ou regulamentos de execução.
ção da aposentadoria ou disponibilidade; 5) destituição de cargo em comis-
são e 6) destituição de função comissionada. O decreto de execução deve restringir-se aos limites e ao conteúdo da lei,
explicitando-o, detalhando seus dispositivos.
- A punição disciplinar deverá ser precedida de apuração regular, com a
garantia do contraditório e da ampla defesa (CF/88, art. 5º, LV), devendo
ainda a imposição da pena ser motivada. 2.6.2. Decretos independentes ou autônomos
Comunicabilidade de instâncias - A punição disciplinar e a criminal têm Consoante o magistério de Carlos Mário da Silva Velloso, alguns sistemas
fundamentos diversos e diversa é a natureza das penas. Em razão dessa constitucionais conferem ao Poder Executivo a prerrogativa de editar regu-
autonomia, uma mesma infração pode dar ensejo a uma punição disciplinar lamentos como atos primários, diretamente derivados da Constituição.
e a punição penal, sem violação ao princípio do bis in idem, segundo o qual Esses atos seriam classificados como regulamentos independentes ou
ninguém pode ser punido duas vezes pela mesma falta disciplinar ou pelo autônomos e se dividiriam em (a) externos, que contêm normas dirigidas
mesmo crime. aos cidadãos de modo geral; e (b) internos, que dizem respeito à organiza-
Sob a denominação de comunicabilidade de instâncias, comunicabilidade ção, competência e funcionamento da Administração Pública.
de juízos ou relação entre o juízo penal e o juízo administrativo, o Direito A Constituição expressamente prevê a edição de decretos como atos
brasileiro estabelece regras para disciplinar a aplicação de penas, em primários, diretamente hauridos de seu texto, independentemente de lei,
decorrência de um mesmo fato, nas instâncias administrativa, penal e civil. consubstanciando a denominada "reserva de Administração" (matérias que
Como regra geral as instâncias administrativa, penal e civil são independen- somente podem ser reguladas por ato administrativo). Essa espécie de
tes, sendo possível a punição, por um mesmo ato, nas três órbitas. É de se decreto autônomo é aquela a que se refere Velloso, e passou a fazer parte
observar, no entanto, como exceção à regra, a possibilidade de repercus- de nosso sistema constitucional, repita-se, a partir da EC 32/2001. Os
são da decisão penal na instância administrativa. decretos previstos nessa Emenda (art. 84, VI, da Constituição) são atos de
efeitos internos, dispondo sobre a organização e o funcionamento da Admi-
Tal ocorre quando o juízo criminal, examinando o fato, concluir, com base nistração e a extinção de cargos vagos, embora, indiretamente, tenham
no art. 386, inciso I e IV, do Código de Processo Penal, pela inexistência do reflexos para os administrados em geral. É interessante registrar que, nos
fato ou afastar do acusado a autoria. Nessa hipótese, ocorrendo portanto a termos do parágrafo único do art. 84, essa competência para edição de
absolvição, a decisão repercute na órbita administrativa, impondo o afasta- decretos autônomos sobre as matérias previstas no inciso VI do mesmo
mento da punição disciplinar. artigo pode ser delegada a outras autoridades administrativas, como os
Di Pietro (2001/487) observa que quando o servidor foi condenado na órbita Ministros de Estado.
criminal, o juízo civil e a autoridade administrativa não podem decidir de Desejamos enfatizar dois pontos que entendemos serem sobremodo rele-
forma contrária, uma vez que, nessa hipótese, houve decisão definitiva vantes. Primeiro, há a restrição do inciso VI do art. 84 da CF/88 para a
quanto ao fato e à autoria. edição de decretos autônomos. Segundo, essas matérias passam a estar
O Estatuto dos Servidores Públicos Federais - Lei 8.112/90 - trata do tema submetidas à competência normativa privativa do Poder Executivo, ou seja,
no seu art. 126, estabelecendo que "a responsabilidade administrativa do encontram-se sob a denominada "reserva de Administração", o que nos
servidor será afastada no caso de absolvição criminal que negue a existên- permite concluir que restou afastada a possibilidade de o Poder Legislativo
cia do fato ou sua autoria" É de se observar ainda o disposto na Súmula 18 disciplinar essas matérias.
do STF, segundo a qual, "pela falta residual, não compreendida na absolvi- 2.6.3. Regulamento autorizado ou delegado
ção pelo juízo criminal, é admissível a punição administrativa do servidor
público". A doutrina denomina regulamento autorizado (ou delegado) é ato adminis-
trativo secundário (deriva da lei, ato primário que o autoriza), que comple-
2.6. PODER REGULAMENTAR menta disposições da lei em razão de expressa determinação, nela contida,
É a faculdade de que dispõem os Chefes de Executivo (Presidente da para que o Poder Executivo assim o faça. Em síntese, é vedada a utilização
República, Governadores e Prefeitos) de explicar a lei para sua correta do regulamento autorizado como substituto da atividade do legislador, ou
execução, ou de expedir decretos autônomos sobre matéria de sua compe- mesmo da lei delegada, não podendo ele tratar de matérias reservadas à
tência ainda não disciplinada por lei. Está disciplinado no art. 84, inciso IV, lei
da Constituição Federal, que compete privativamente ao Presidente da 2.7. PODER DE POLÍCIA
República sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir
decretos e regulamentos para sua fiel execução. Características do regula- O Código Tributário Nacional, em seu art. 78, ao tratar dos fatos geradores
mento, anotadas por Celso Antônio Bandeira de Melo: das taxas, conceituou poder de polícia como “a atividade da Administração
Pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade,
a) O regulamento provém do Executivo, enquanto que a Lei tem origem no regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público
Legislativo; concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da
b) A lei tem posição de supremacia sobre o regulamento; produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependen-
tes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública
c) Só a lei inova a ordem jurídica; ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos."
d) a lei é fonte primária do Direito, ao passo que o regulamento é fonte Uma conceituação mais concisa, da lavra de Hely Lopes Meirelles, nos
secundária, inferior. ensina que "poder de polícia é a faculdade de que dispõe a Administração
Pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades e
O Congresso Nacional tem competência para sustar atos normativos do
direitos individuais, em benefício da coletividade ou do próprio Estado". A
Executivo que exorbitem do poder regulamentar (CF, art. 49, V).
Administração exerce o poder de polícia sobre todas as atividades que
2.6.1. Decretos ou regulamento de execução possam, direta ou indiretamente, afetar os interesses da coletividade. O
poder de polícia é exercido por todas as esferas da Federação, sendo, em

Direito Administrativo 12 A Opção Certa Para a Sua Realização


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princípio, da competência da pessoa política que recebeu da Constituição a Ainda que dotada de discricionariedade, a atuação administrativa jamais
atribuição de regular aquela matéria, cujo adequado exercício deve ser pela pode divorciar-se da lei e dos fins por ela propostos. Resulta disso que o
mesma pessoa fiscalizado. exercício do poder de polícia encontra seus limites em seu próprio funda-
mento, qual seja, condicionar o exercício de direitos individuais em benefí-
Devemos, ainda, observar que os atos de polícia administrativa não deixam cio do interesse da coletividade.
de ser atos administrativos e, portanto, submetem-se a todas as regras a
estes pertinentes, bem como à possibilidade de apreciação pelo Poder Do poder de polícia não pode decorrer a concessão de vantagens pessoais
Judiciário quanto à legalidade de sua edição e execução. ou a imposição de prejuízos dissociados do atendimento do interesse
público. Por isso, há mister da observância da necessidade, proporcionali-
Por último, devemos distinguir a polícia administrativa da polícia de manu- dade e adequação (eficácia), que constituem limites do poder de polícia.
tenção da ordem pública (polícia judiciária). A primeira incide sobre bens, Prof. Roberto Moreira
direitos e atividades, enquanto a outra atua sobre as pessoas; a atuação da
primeira esgota-se no âmbito da função administrativa, enquanto a polícia
3. Responsabilidade administrativa e criminal. Responsabilidade civil:
judiciária prepara a atuação da função jurisdicional penal; a polícia adminis-
trativa é exercida por órgãos administrativos de caráter fiscalizador, ao direito brasileiro; aplicação da responsabilidade objetiva; reparação
passo que a polícia judiciária é executada por órgãos de segurança (polícia do dano; direito de regresso.
civil ou militar).
2.7.1. Atributos
CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A atuação administrativa é dotada, por vezes, de atributos que buscam Professor Alessandro Dantas Coutinho
garantir certeza de sua execução e verdadeira prevalência do interesse 1 – Introdução
público. Podem ou não estar presentes, tudo dependerá da modelagem
ofertada pela lei à atuação administrativa. São três: A Administração Pública atua por meio de seus órgãos e seus agen-
tes, os quais são incumbidos do exercício das funções públicas, ou seja,
1) discricionariedade: a lei concede ao administrador a possibilidade de da atividade administrativa.
decidir o momento e as circunstâncias para o exercício da atividade -
concede-lhe oportunidade e conveniência a seu juízo; A função administrativa existe nos três poderes, sendo que é exercida
tipicamente pelo Poder Executivo e atipicamente pelos demais poderes
2) auto-executoriedade: o ato será executado diretamente pela Adminis- (Poder Legislativo e Poder Judiciário).
tração, não carecendo de provimento judicial para tornar-se apto; e
Cabe ao Poder Executivo, como função típica, administrar o Estado,
3) coercibilidade: ao particular a decisão administrativa sempre será cuja forma de governo é uma República (art. 1º da CF). República quer
cogente, obrigatória, admitindo o emprego de força para seu cumprimento. dizer coisa pública, ou seja, a “administração pública – sentido operacional”
A fiscalização exercida pela Prefeitura Municipal em bares e restaurantes, feita pelo Poder Executivo nada mais é do que administrar algo alheio, de
por exemplo, decorre do exercício do poder de polícia. Fácil conhecer os toda a sociedade, por isso a Constituição Federal expressamente enunciar
atributos mencionados: a autoridade decide a ocasião, a oportunidade para que “todo poder emana do povo”.
a fiscalização, não havendo previsão legal para que ocorra naquela data e Todavia, em nosso sistema não é o povo que diretamente administra o
horário (há discricionariedade). Da fiscalização poderá resultar a apreensão Estado, razão pela qual escolhe seus representantes, que irão representá-
de mercadorias impróprias para o consumo humano, e ela será executada lo no parlamento e editar as normas que os agentes públicos, como admi-
pela Administração (auto-executoriedade), sendo obrigatória para o particu- nistradores, deverão aplicar para alcançar o pretendido e inafastável inte-
lar (coercibilidade). Nem se concebe tenha o fiscal de buscar mandado resse da coletividade, interesse público.
judicial para apreender o produto impróprio para o consumo ou permitir ao
particular que continue a comerciá-lo até que obtida a ordem judicial (são Todavia, no manejo dos instrumentos à busca do interesse público, no
os atributos da auto-executoriedade e da coercibilidade que garantem a gozo e uso dos poderes que são atribuídos aos agentes públicos para
certeza de cumprimento da decisão). Mas o particular poderá a qualquer alcançar esses fins, podem os mesmos ultrapassar os limites legais e se
tempo questionar a atuação da Administração, normalmente o fazendo por acometer em abusos e ilegalidades. Por tal razão, tornam-se necessários
mandado de segurança com pedido liminar. fiscalização (preventiva) e controle dos atos da Administração Pública.

2.7.2. Sanções Neste passo, podemos conceituar controle como o conjunto de me-
canismos jurídicos para a correção e fiscalização das atividades da
As sanções são, exemplificativamente, a multa (dependente do Judiciário Administração Pública.
para a sua execução), a apreensão de bens, de mercadorias, o fechamento
de estabelecimento, a proibição de fabricação, a inutilização de gêneros 2 - Classificação do controle
etc. 2.1 - Quanto aos órgãos incumbidos do controle: (é uma tripartição
2.7.3. Alvarás de licença e Autorização de controle)

O alvará constitui gênero do qual são espécies o alvará de licença e o a) Controle Legislativo – Feito pelo Poder Legislativo com o auxílio do
alvará de autorização. A licença é definitiva, não pode ser negada ou Tribunal de Contas.
recusada pela Administração sempre que o particular preencher todos os b) Controle Administrativo – Feito no próprio âmbito administrativo,
requisitos para a sua obtenção, como ocorre para a licença de funciona- pode ser tutelar ou hierárquico.
mento de bares e restaurantes; licença para construir; ou para a licença
para o exercício de atividade profissional. O particular, ante a recusa ou c) Controle Judicial - Feito pelo Poder Judiciário, o qual deve ser ne-
omissão da Administração, pode valer-se do mandado de segurança para cessariamente invocado (Princípio da Inércia – art. 2º do Código de Pro-
assegurar respeito a seu direito líquido e certo. A autorização é precária, cesso Civil; Princípio do Amplo Acesso à Justiça – artigo 5º, inciso XXXV,
porém, é discricionária e por isso pode ser negada ou recusada, assim da CF).
como invalidada a qualquer tempo pela Administração, como ocorre na
2.2 – Quanto ao âmbito:
autorização para portar arma de fogo deferida ao particular ou para pesca
amadora. O alvará pode ser anulado (por ilegalidade na sua concessão), a) Controle interno - É aquele feito por órgãos da própria Administra-
revogado (por conveniência e oportunidade) ou cassado (por ilegalidade na ção Pública, podendo ser hierárquico ou tutelar.
sua execução). Assim, será invalidado por culpa do particular (cassação),
em razão do interesse da Administração (revogação) e por ilegalidade a.1) O controle hierárquico é feito dentro de uma estrutura adminis-
(anulação). trativa hierarquizada, portanto, pressupõe, via de regra, desconcentração
administrativa. Ex.: controle de ato de um departamento por uma secretaria.
2.7.4. Limites do Poder de Polícia

Direito Administrativo 13 A Opção Certa Para a Sua Realização


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a.2) O controle tutelar, também chamado de Supervisão Ministerial, Somente nos casos em que esses elementos que perfazem o mérito
é feito também em âmbito administrativo, todavia, por outra pessoa jurídica do ato administrativo forem ilegais ou desproporcionais ou não pauta-
distinta daquela donde precede o ato. Em verdade, não é um controle dos em critérios razoáveis, é que poderão ser objeto de análise pelo
hierárquico, pois não há hierarquia entre as pessoas jurídicas distintas Poder Judiciário.
(União Federal e Autarquia Federal, por exemplo), mas apenas um controle
finalístico da controlada. Por isso, quando cabível recurso da pessoa con- Todavia, é importante assinalar que nem todos os elementos do deno-
trolada para a controladora, o mesmo é chamado de recurso hierárquico minado “ato discricionário” são realmente discricionários. Mesmo nos atos
impróprio. discricionários os elementos: a) sujeito, b) forma e c) finalidade são
vinculados e, portanto, sujeitos ao controle de legalidade pelo Poder
b) Controle externo - É aquele feito por estrutura diversificada, como, Judiciário.
por exemplo, Poder Legislativo e Poder Judiciário.
2.4 – Quanto ao momento:
2.3 - Controle de legalidade e de mérito:
a) Prévio ou preventivo - É aquele que ocorre antes de a atividade ser
a) Controle de legalidade - É aquele em que se verifica se a conduta desenvolvida.
do agente público se deu conforme a Lei (fundamento no artigo 37, caput,
da Constituição Federal). A Administração Pública se manifesta por diver- b) Concomitante - É aquele que ocorre no momento em que a ativida-
sos atos (atos da Administração), dos quais uma das espécies é o ato de se desenvolve.
administrativo. c) A posteriori - Ocorre depois de praticado o ato.
O ato administrativo possui 5 (cinco) elementos, quais sejam: 2.5 – Controle de ofício e provocado em âmbito Administrativo:
- sujeito competente a) De ofício - É uma prerrogativa da Administração de reparar seus
- forma próprios enganos, erros. Tem base no Princípio da Legalidade, donde se
extrai o Princípio da Auto Tutela Administrativa, princípio este inclusive
- objeto reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal (Súmula nº 473). Provocado -
Um terceiro se dirige à Administração para a correção de um ato.
- finalidade
O CONTROLE DO TRIBUNAL DE CONTAS
- motivo
1. INTRODUÇÃO
Fundamento legal – artigo 2º da Lei de Ação Popular.
Ao discorrer sobre o papel do Tribunal de Contas, importa lembrar,
Quando o ato for vinculado, não há qualquer margem de discriciona-
embora desnecessário para muitos, que o Tribunal é o órgão, autônomo e
riedade para o agente administrativo praticar o ato, sendo que as razões, a
independente, ao qual a Constituição atribui competência para exercer o
forma, a finalidade a ser alcançada e o agente incumbido de praticar o ato
controle externo da Administração Pública, no exame dos atos de índole
já estão devidamente descritos na lei, sendo vedada qualquer alteração por
financeira e orçamentária.
parte do agente.
Como já tive oportunidade de afirmar, a existência de um órgão de con-
Registre-se por oportuno as inolvidáveis lições de CELSO ANTÔNIO
trole dos atos de índole financeira da Administração Pública é uma das
BANDEIRA DE MELLO, que, com penas de ouro, assinala que “A lei,
características do Estado contemporâneo. Embora apresentando diferen-
todavia, em certos casos, regula certa situação em termos tais que não
ças de forma, de composição e, até de competências, a existência de um
resta para o administrador margem alguma de liberdade, posto que a
órgão de controle tem sido a marca presente nos Estados atuais.
norma a ser implementada prefigura antecipadamente com rigor e objetivi-
dade absolutos os pressupostos requeridos para a prática do ato e o conte- Entende-se como Estado Democrático a organização do país com po-
údo que este obrigatoriamente deverá ter uma vez ocorrida a hipótese deres limitados, com dirigentes eleitos periodicamente, em eleições livres,
legalmente prevista. Nestes lanços diz-se que há vinculação e, de conse- por sufrágio universal e voto direto e secreto e que garanta as liberdades
guinte, que o ato a ser expedido é vinculado”. fundamentais da pessoa humana, tornando-se imprescindível que os atos
de índole financeira da Administração sejam controlados por um órgão
Nestes termos, basta fazer uma fácil análise de comparação entre a
externo à própria Administração e dotado de autonomia e de garantias,
lei e o ato administrativo, de sorte que, se algum de seus elementos estiver
para o desempenho de suas funções.
em desacordo com a Lei, tem-se que o ato é ilegal e, por isso, sujeito à
correção, seja pela Administração Pública, que poderá fazê-lo de ofício Não existe, nos dias atuais, país democrático sem um órgão de contro-
(Súmula nº 473 do STF – Princípio da Auto Tutela Administrativa) ou a le com a missão de fiscalizar a boa gestão do dinheiro público. Excetuam-
requerimento, através da interposição de recursos cabíveis, seja pelo se apenas os regimes ditatoriais - nos quais o que os dirigentes menos
Poder Judiciário, sempre por requerimento da parte interessada, dado o querem e menos aceitam é o controle de seus atos -, e os Estados de forte
fato que uma das qualidades da jurisdição é a inércia. atraso na organização política e econômica. Afora estas duas situações,
todos os demais possuem instituições de controle.
b) Controle de mérito - Aquele que examina os aspectos da conduta
da Administração Pública sob os prismas de conveniência e oportunida- Os órgãos de controle das contas públicas, quer apareçam como órgão
de. colegiado (Tribunais de Contas), quer de forma unipessoal (Controladorias),
detêm, nos dias atuais, a importante e indispensável tarefa de fiscalizar as
Neste contexto, somente haverá controle de mérito nos atos adminis-
receitas e despesas dos Estados. Os Tribunais e Controladorias são hoje
trativos discricionários, visto que, nos ditos atos vinculados, a oportunidade
presenças relevantes nos Estados modernos, sendo tanto maior seu desta-
e conveniência inexistem em razão da estrita observância da lei em todos
que quanto maior for o avanço de suas instituições democráticas.
os aspectos do ato administrativo.
A título de informação, muitos outros países, além do Brasil, adotam o
É sabido de todos que o mérito do ato administrativo nada mais é que a
Sistema de Tribunais de Contas, podendo-se citar, dentre outros, os se-
opção tomada pelo administrador em um caso concreto na incessante
guintes: Argélia, Alemanha, Áustria, Bélgica, República da China, Comuni-
busca de um interesse público, opção esta lastreada em critérios de conve-
dade Econômica Europeia, Coreia do Sul, Espanha, França, Grécia, Itália,
niência e oportunidade. Em verdade, perfazem o mérito do ato administrati-
Portugal e Uruguai.
vo o motivo e o objeto do ato administrativo.
No final dos anos 90, quando houve a derrocada do Estado centraliza-
Estes elementos (motivo e objeto) é que, nos chamados atos discricio-
do, os países do Leste Europeu, ao reestruturarem o aparelho do Estado
nários, são efetivamente discricionários, sendo que, no que toca respeito
reorganizaram suas instituições de controle externo, alguns sob a forma de
aos mesmos, e não havendo ilegalidade ou falta de razoabilidade, suas
Controladoria, outros sob a forma de Tribunais.
análises ficam restritas à Administração Pública.

Direito Administrativo 14 A Opção Certa Para a Sua Realização


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Ficou assim demonstrada a inegável necessidade de implantação, no A fiscalização tem características diferentes, exigidas em função do
Estado Democrático, de instituições de controle dos atos da administração, grande número de contratos celebrados pela Administração, razão pela
cabendo destacar, por oportuno - já que aponta para o futuro -, o exemplo qual, levando-se em conta a impossibilidade de se fiscalizar todos os con-
da Comunidade Econômica Europeia - seguido por outras organizações tratos individualizadamente, o Tribunal decidiu que os órgãos fiscalizados
assemelhadas, como o Mercosul - criando um Tribunal de Contas. devem enviar ao Tribunal todos os contratos precedidos de Tomada de
Preços - hoje em valor acima de R$ 650.000,00 - e os celebrados por
À toda evidência, a ideia da globalização da economia, com blocos de dispensa ou inexigibilidade de licitação.
países se agrupando como parceiros em negócios, indicará claramente a
importância que virá a ser dada ao controle externo, implicando, assim, na Ao serem recebidos no Tribunal, tais contratos são autuados em pro-
futura criação de um órgão no âmbito daquelas organizações. cesso próprio e têm instrução processual pelos órgãos de fiscalização,
iniciando-se por um Agente da Fiscalização, sua Chefia e Diretoria, - cargos
2. O TRIBUNAL DE CONTAS E SUA AMPLA FISCALIZAÇÃO de nível superior, preenchidos, no nível inicial, por concurso público.
A jurisdição do Tribunal de Contas se estende a todos os órgãos da A razão de o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo fiscalizar in-
administração direta, indireta, autárquica e fundacional, compreendendo os dividualmente os contratos, deve-se ao fato de representarem o maior
três níveis de Governo: federal, estadual e municipal. O Tribunal de Contas volume de recursos orçamentários consumido da Administração, o que é
da União (TCU) fiscaliza os órgãos e entidades federais, e aos Tribunais muito relevante, principalmente considerados em relação aos valores
Estaduais (TCE) compete fiscalizar todos os organismos estaduais e muni- destinados aos auxílios e subvenções.
cipais, exceção feita apenas aos Municípios que em 1988, possuíam Tribu-
nal próprio, uma vez que a Constituição de 1988, garantiu a existência dos Tais órgãos de instrução apresentam relatório circunstanciado, apon-
que haviam sido criados anteriormente, proibindo os demais Municípios de tando, com toda a liberdade, se os atos da licitação e da contratação foram
os instituírem. praticados pela Administração com o cumprimento ou não da legislação. As
falhas devem ser sempre registradas, indicando o dispositivo legal descum-
Possui o Tribunal de Contas amplo leque de atribuições, mas, com o prido, havendo casos de o relatório ser enriquecido com a posição doutriná-
intuito de ser didático, procurarei transmitir apenas uma síntese das infor- ria e jurisprudencial sobre o assunto. Abordam, também, se foram obedeci-
mações que considero básicas e que pode ser assim resumida: dos os princípios que regem a licitação - impessoalidade, moralidade,
a. Parecer anual sobre as contas do Governo estadual e Prefeituras publicidade, economicidade, vinculação ao instrumento convocatório, e
demais que sejam correlatos.
Para que as contas gerais do exercício - tanto a nível de Prefeituras,
como de Governo do Estado - possam ser julgadas pelo Legislativo (Câma- É, portanto, o Relatório de Auditoria, a primeira manifestação técnica
ra e Assembleia), exige a Constituição prévio Parecer emitido pelo Tribunal existente no processo sobre a licitação e o contrato.
de Contas. Há casos que pela complexidade ou especialidade do objeto, exigem
Trata-se, portanto, de um importante papel exercido pelo Tribunal de manifestações de outros órgãos técnicos, como a Assessoria Jurídica, a de
Contas, cabendo ressaltar que, só poderá ser contrariado pelo Legislativo, Engenharia, de Economia para o perfeito esclarecimento dos fatos.
com a votação de 2/3 dos parlamentares. Importante lembrar que, em se tratando de órgãos da administração
b. Julgar contas de cada Unidade Gestora, Empresas e Sociedades de estadual, direta ou indireta, sempre se pronunciará a Procuradoria da
Economia Mista, Fundações, e responsáveis por bens e valores (a nível Fazenda, que é o órgão do Governo estadual com assento junto ao Tribu-
estadual e municipal) nal, cabendo-lhe opinar pela regularidade ou não dos atos praticados pela
Administração.
Trata-se, neste caso, de julgamento, não de parecer. Um julgamento
de irregularidade implicará em consequências para o responsável, entre as Nesta fase da instrução, os autos irão conclusos ao Conselheiro que
quais, se tem a previsão de inelegibilidade prevista na Lei Complementar nº tenha sido designado Relator do processo - por distribuição aleatória e
64, de 16 de maio de 1990, que em seu artigo 1º (alínea g, do inciso I) equitativa - a quem caberá o julgamento, nos casos em que o Regimento
passou a prever a inelegibilidade para o período de 5 (cinco) anos contados Interno lhe atribua competência singular ou quando for competência de
a partir da decisão, no caso de rejeição das contas. Câmara relatar o processo, submetendo seu voto de julgamento aos de-
mais Conselheiros da Câmara à qual pertença.
c. Registro dos atos de admissão, aposentadorias e reformas
Antes, porém, do julgamento, o Conselheiro Relator publica no Diário
O registro de uma admissão, ou de uma aposentadoria implica em ter o Oficial o prazo que concede para a direção do órgão fiscalizado apresentar
Tribunal apreciado a legalidade do ato praticado pelo órgão. suas justificativas ou regularizar os atos impugnados, abrindo-se, também,
d. Julgar aplicação de Auxílios, Subvenções, Contribuições e outros re- a oportunidade para todos os envolvidos, - ordenador da despesa, mem-
cursos. bros da comissão de licitação e as empresas privadas contratadas - toma-
rem conhecimento da instrução processual e, eventualmente, apresentarem
Ao proferir julgamento sobre a aplicação de uma verba - via de regra também suas justificativas.
concedida para uma entidade privada por um órgão público - se houver
decisão de irregularidade, o órgão recebedor ficará impedido de receber Oportuno ressaltar que o Tribunal de Contas, por decisão adotada em
novas verbas do Poder Público, e o responsável poderá vir a ser responsa- sede de agravo interposto por uma empresa privada, (TC 47596/90) decidiu
bilizado. assegurar o direito constitucional de ampla defesa aos terceiros interessa-
dos, uma vez que, as decisões proferidas podem alcançar-lhes, tanto
e. Julgar as Licitações e Contratos juridicamente, como também, no aspecto econômico.
Este item das Licitações e Contratos - por constituir o tema principal Cabe, ainda, lembrar que por disposição contida no artigo 108 da Lei
desta palestra - merece um pouco mais de detalhe para se esclarecer como Complementar nº 709/93, o Tribunal poderá declarar inidôneo pelo prazo de
ocorre o trâmite processual no Tribunal de Contas. até 5 anos, impedindo de contratar com a Administração Pública, licitante
que tenha fraudado licitação ou contratação, utilizando-se de meios ardilo-
3. A FISCALIZAÇÃO E JULGAMENTO DAS LICITAÇÕES E DOS
sos e com intuito de alcançar vantagem ilícita para si ou para outrem.
CONTRATOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Findo o prazo fixado, os autos retornam à instrução para a apreciação
Todos os contratos da Administração Pública - da Administração direta,
das justificativas e documentos apresentados pelas partes interessadas,
indireta e fundacional - no caso do Estado de São Paulo, são julgados pelo
podendo haver novas diligências, sendo possível a fixação de novo prazo,
Tribunal de Contas do Estado. Não há, no entanto, o mesmo critério em
para a completa elucidação dos fatos contidos na instrução, e, em casos
todos os demais Tribunais de Contas Estaduais.
especiais, até vistoria ou exame "in loco", pela área de Engenharia ou pela
a. Contratos de maior valor - fiscalização e julgamento auditoria.

Direito Administrativo 15 A Opção Certa Para a Sua Realização


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Concluída, assim, finalmente, a instrução, com todas as respostas aos 6. EXAME PRÉVIO DE EDITAL
questionamentos levantados pela auditoria e assessorias técnicas, o pro-
cesso estará pronto para o julgamento, que, como afirmado, será de com- Há um outro ponto de importância a ser esclarecido e que é fruto da lei
petência do Conselheiro ou da Câmara à qual pertença o Relator. de licitações em vigor, quando de forma inovadora e com vistas a assegu-
rar o amplo direito de petição, corretamente admitiu a possibilidade de todo
Oportuno salientar que se o julgamento for de ilegalidade, poderá ha- licitante, ou pessoa física ou jurídica, que observe irregularidade em algum
ver, ainda, aplicação de multa pecuniária ao responsável, além de remessa item do edital possa representar ao Tribunal de Contas, contra o que en-
de cópia à Assembleia Legislativa ou Câmara Municipal (conforme se trate tender de ilegal ou irregular, podendo até pleitear a suspensão do procedi-
de órgão estadual ou municipal), e ao Ministério Público, se entender o mento licitatório. Desde que formule sua petição apresentando indícios de
julgador ou o Tribunal ter ocorrido indícios de práticas criminosas. irregularidades no edital o Tribunal poderá, até o dia anterior à data prevista
para a abertura dos envelopes, requisitá-lo, com outros elementos comple-
Em casos de maior gravidade, pode também o Tribunal decretar a ina- tos, para proceder ao seu exame prévio. Nesta hipótese, o Tribunal, à vista
bilitação do responsável para o exercício de cargo em comissão ou função dos elementos processuais poderá determinar a suspensão do procedimen-
de confiança no âmbito da Administração Pública, por período de até 8 to licitatório, até que decida o processo, concluindo por determinar retifica-
anos, havendo, também, a previsão legal de medidas para o arresto dos ção nos itens em que houver irregularidade ou, em não havendo, cancelar
bens dos responsáveis julgados em débito (artigos 106 e 107 da Lei Orgâ- a suspensão, podendo o Órgão continuar o normal procedimento.
nica, LC 709/93).
Esta inovação legal implicou numa mudança do modelo de julgamento
Do julgamento - singular ou colegiado - podem os interessados apre- do Tribunal, que, via de regra, só julga posteriormente, neste caso, como o
sentar recursos - Pedido de Reconsideração, Recurso Ordinário, e até Ação próprio nome indica, o exame é prévio.
de Rescisão - de acordo com as normas e critérios prescritos na legislação
e no Regimento Interno. 7. OBEDIÊNCIA À ORDEM CRONOLÓGICA DE PAGAMENTOS
b. Contratos de menor valor - fiscalização por amostragem A atual Lei de Licitações - nº 8.666/93 - trouxe uma norma obrigando
que os pagamentos sejam feitos obedecendo à ordem cronológica de
Os contratos de valores inferiores (hoje abaixo de R$ 650.000,00), so- exigibilidade das obrigações. A norma legal não é tão clara, trazendo aos
frem a fiscalização no momento em que a equipe de auditores (Agentes da administradores públicos muitas dúvidas para seu efetivo cumprimento. Diz
Fiscalização), comparecem no órgão para fazer a auditoria anual de todos o artigo 5º que cada Unidade da Administração deverá "no pagamento das
os atos de gestão. Pelo método da amostragem são escolhidos alguns obrigações ..., obedecer, para cada fonte diferenciada de recursos, a estrita
contratos e encontrando irregularidades, os auditores os requisitam para ordem cronológica das datas de suas exigibilidades, salvo quando presen-
formar processo a ser instruído no Tribunal, nos moldes descritos para os tes relevantes razões de interesse público e mediante prévia justificativa da
de valores superiores. autoridade competente, devidamente publicada."
4. SUSTAÇÃO DE CONTRATOS Ainda assim, de grande alcance se mostra a previsão legal, por permitir
Tem o Tribunal de Contas competência para determinar a sustação de aos credores de menor porte uma segurança quanto ao seu direito, uma
contratos, nos casos em que, detectada a prática de ilegalidade, tenha sido vez que em tese podem acompanhar as ações da administração, questio-
fixado prazo ao órgão e este não tenha adotado providências para a regula- nando eventual situação de descumprimento da ordem cronológica, que só
rização (artigo 2º, inciso XIV da LC nº 709/93). pode ocorrer havendo interesse público. Nessa hipótese, exige a lei que o
Administrador publique as razões que o levaram a quebrar a ordem de
Decidida a sustação, o Tribunal comunica à Assembleia Legislativa ou vencimento, o que é instrumento que objetiva dar ciência a todos os credo-
à Câmara Municipal competente, conforme se trate de órgão, entidade ou res das razões de interesse público que estão sendo atendidas pelo Poder
empresa pertencente ao Estado ou a Município. A Constituição prevê que Público.
se a Assembleia Legislativa ou o Poder Executivo, no prazo de noventa
dias não efetivar as medidas apropriadas, o Tribunal decidirá a respeito, ou O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, desde outubro de 1995
seja, retorna a competência para o Tribunal de Contas. disciplinou o assunto, exigindo que os órgãos fiscalizados apresentem,
mensalmente, a relação dos pagamentos efetuados, indicando os feitos
Esta comunicação ao Poder Legislativo o Tribunal também faz, nos ca- fora da ordem e com as justificativas publicadas.
sos de julgamento de ilegalidade de contratos e quando verifica qualquer
irregularidade nas contas ou na gestão pública, encaminhando cópia dos 8. JURISPRUDÊNCIA DAS IRREGULARIDADES MAIS COMUNS
documentos. É possível que muitos se perguntem quais seriam as irregularidades
De interesse lembrar que cabe ao Ministério Público, nos termos do ar- mais comuns cometidas pelos órgãos da Administração Pública, em nosso
tigo 103, inciso XII da Lei Complementar nº 734/93 (LOMP), o ingresso em Estado, tanto a nível estadual, como municipal.
Juízo, de ofício, para a responsabilização dos que tiverem sido condenados É bem verdade que uma pesquisa nos julgados de nosso Tribunal,
pelo Tribunal de Contas. Para possibilitar o exercício desta atribuição o permitirá encontrar irregularidades de toda ordem. Importante ressaltar,
Tribunal de Contas sempre remete àquele órgão cópia dos processos em contudo, que à medida em que as licitações e contratos vão recebendo a
que apura irregularidades. instrução processual, o Tribunal fixa, em cada processo irregular, o prazo
5. EXECUÇÃO CONTRATUAL - Demonstração das Despesas para a regularização, e isto o faz, por meio de publicação no Diário Oficial,
tornando público a todos os gestores, as irregularidades detectadas. Sem
O julgamento final de ilegalidade de uma licitação ou da contratação dúvida que isto, de forma automática se torna um sinal de alerta, assumin-
importa na irregularidade da despesa, que não pode, portanto, ser suporta- do um caráter pedagógico por permitir aos administradores atentos, a
da pelo Poder Público, cabendo à Administração obter dos responsáveis o adoção de providências para corrigirem seus procedimentos em andamento
ressarcimento aos cofres do erário. ou futuros, eliminando aquele determinado ponto de afronta à lei.
Por força da atual Lei de Licitações (a Lei nº 8.666/93, com as altera- Tal situação é interessante porque implica em que se tenham irregula-
ções das Leis nº 8.883.94 e 9.648/98), os órgãos fiscalizados devem de- ridades "do momento". Assim é que, à época da vigência do Decreto-Lei nº
monstrar ao Tribunal de Contas a regularidade da execução contratual. 2.300, muitos foram os casos de exigência de garantia na habilitação, por
Disto decorre a possibilidade de existir uma licitação e contratação julgadas ele proibidos, portanto, inaceitáveis pelo Tribunal. Como hoje a lei federal
regulares, e posteriormente decretar o Tribunal a ilegalidade de toda ou vigente permite, então cabe ao Administrador decidir, não sendo ilegal a
parte da despesa decorrente, se, no exame da documentação comprobató- exigência, desde que dentro do limite percentual fixado, quer sua dispensa.
ria da execução, detectar-se irregularidades. Inadmissível, por exemplo,
que uma obra, com pagamentos previstos em função das medições, seja Defendo ponto de vista contrário à exigência. Entendo que é restritiva à
paga sem guardar estreito vínculo com o cronograma de realização. A competição, e fiquei até satisfeito em observar que no anteprojeto da nova
licitação e a contratação podem ter sido regulares, mas a despesa, nestas Lei, dado à público pelo Ministério da Administração para colher sugestões
condições não o será. da sociedade, tal exigência está excluída, não constando, portanto, nem
como obrigatória, nem como faculdade do administrador.

Direito Administrativo 16 A Opção Certa Para a Sua Realização


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Outro ponto é o desatendimento ao princípio da publicidade. Muitos fo-
ram, e ainda hoje ocorrem. Não dando o órgão licitante, a publicidade
mínima que a lei exige, o Tribunal tem sido rigoroso e não aceita a licitação
Responsabilidade Civil do Estado.
e o contrato, decretando-lhe a ilegalidade. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
Projeto básico inexistente é, por sua vez, uma das graves irregularida- Marcos Araújo - Professor e Advogado.
des, principalmente quando se trata de grandes obras. A lei é rígida nesta
exigência e com muita razão, porque não tendo o administrador o projeto Introdução.
básico do que vai contratar, implica dizer até que não sabe o que necessita,
Este trabalho almeja apresentar os principais aspectos concernentes à
portanto, não sabe o que contratar. É necessário que saiba o administrador
responsabilidade civil do Estado no evolver de suas funções sociais: legis-
com muita clareza o que seu órgão/unidade necessita e possa demonstrar
lativa, judicial e administrativa. A potencialidade danosa do agente público
isto aos licitantes, para que todos, de igual modo, possam, se o quiserem,
no exercício de uma função estatal despertou nosso interesse, por correla-
formular suas propostas.
cionar questões de direito público e privado, permitindo-nos mais uma vez a
Negociação de preço com os licitantes é outro ponto interessante. Ad- constatação de que não se pode pretender analisar qualquer questão
mite a lei (parágrafo único do art. 48), que se todos os licitantes forem jurídica atendo-se a somente um ramo do direito; ao contrário, cada vez
inabilitados ou todas as propostas forem desclassificadas, a Administração mais a complexidade das relações sociais exige uma visão holística do
poderá fixar o prazo de oito dias úteis para a apresentação de nova docu- fenômeno jurídico, enfatizando que o ordenamento é uno e indivisível, e
mentação ou novas propostas. Na hipótese de a Administração chamar tende à completude.
apenas um licitante para a adequação do preço aos níveis compatíveis,
Doutrinadores há que propugnam não pertencer o estudo da responsa-
estará cometendo uma ilegalidade, porque todos têm direito à oportunidade
bilidade do Estado ao ramo civil, mas ao administrativo. A responsabilidade
de reformularem seus preços.
estatal, entretanto, está melhor inserida no campo da civilística, o qual é
Exigências de atestados de execução de serviços, como condição para capaz de abarcar em seu seio ambas as teorias da responsabilidade subje-
participar da licitação é também um ponto até controverso. Alguns órgãos tiva e objetiva, motivo por que não cabe reduzir esta última à seara pública.
querem que os licitantes comprovem ter executado contratos com a mesma
Existe, nada obstante, uma responsabilidade administrativa, mas esta
quantidade da que pretendem licitar. O Tribunal não aceita esta exigência,
em nada se confunde com a civil.
porque afronta o inciso I do § 1º do artigo 30 que veda as exigências de
quantidades mínimas ou prazos máximos, ferindo, claramente a competiti- A respeito da responsabilidade administrativa, ensina Rafael CUESTA:
vidade e a livre concorrência. É justificável a preocupação do administrador "la responsabilidad disciplinaria [administrativa] tiene su fundamento en el
em só contratar empresas que tenham condições para bem executar o hecho de que los funcionarios se encuentran respecto a la Administración
trabalho, porém, não pode com isto excluir da concorrência as empresas no sólo en un estado de sujeción general, sino también en un estado de
que, embora de menor porte, reunam condições técnico-operacional que sujeción especial." Não se misturam, portanto, a situação do servidor-
lhes possibilite de igual modo executar o trabalho, ainda que não detento- agente com a do cidadão em suas relações com o Estado.
ras de contratos com iguais quantitativos. Aceitar-se esta situação seria
impedir o crescimento das empresas. Mister é salientar que a responsabilidade civil por atos legislativos, judi-
ciais e administrativos corresponde a apenas uma das facetas da respon-
A falta de previsão de recursos orçamentários que assegurem o paga- sabilidade civil do Estado, que no plano da Responsabilidade Objetiva
mento das obrigações a serem assumidas no exercício financeiro em curso, conhece outras sanções ainda sujeitas a controvérsias.
é também outro ponto que contraria o inciso III do artigo 7º da Lei de licita-
ções, e sua ocorrência implica na inaceitação da licitação como regular pelo O escopo deste trabalho é apresentar a evolução histórica da respon-
Tribunal. sabilidade civil do Estado, o problema dos danos decorrentes de omissão
dos Poderes Públicos, a questão da responsabilidade estatal por atos
Em síntese, importante é deixar configurado que em todo procedimento lícitos e as excludentes da responsabilidade estatal. O apêndice visa a
é inaceitável a infringência à garantia da melhor proposta, e a afronta aos sanar qualquer dúvida ainda existente quanto à responsabilidade do agente
princípios básicos da licitação, como o da isonomia, da legalidade, da por atos danosos ao particular.
impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade
administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento 1. A Responsabilidade Civil do Estado.
objetivo, e ainda de outros que lhe são correlatos. A consagração da responsabilidade civil do Estado constitui-se em
9. CONCLUSÃO imprescindível mecanismo de defesa do indivíduo face ao Poder Público.
Mediante a possibilidade de responsabilização, o cidadão tem assegurada
Assim é, sinteticamente, o modo como funciona o Tribunal de Contas, a certeza de que todo dano a direito seu ocasionado pela ação de qualquer
notadamente com relação ao tema específico desta palestra, que é o funcionário público no desempenho de suas atividades será prontamente
Controle exercido pelo Tribunal de Contas nas Licitações e Contratos ressarcido pelo Estado. Funda-se nos pilares da equidade e da igualdade,
realizados pelos órgãos da Administração Pública. como salientou em doutas palavras PONTES DE MIRANDA:
As competências, como exposto, estão disciplinadas na Constituição "O Estado - portanto, qualquer entidade estatal - é responsável pelos
Federal (art. 70), Constituição Estadual (art. 32), e no caso específico de fatos ilícitos absolutos, como o são as pessoas físicas e jurídicas. O princí-
São Paulo, na Lei Complementar nº 709, de 14 de janeiro de 1993, que é a pio de igualdade perante a lei há de ser respeitado pelos legisladores,
Lei Orgânica do Tribunal. porque, para se abrir exceção à incidência de alguma regra jurídica sobre
responsabilidade extranegocial, é preciso que, diante dos elementos fácti-
No entender de Celso Antonio Bandeira de Mello, as funções constitu-
cos e das circunstâncias, haja razão para o desigual tratamento"
cionais reservadas pela Constituição ao Tribunal de Contas, podem ser
assim classificadas: função de consulta; função de informação; função de Define com acurácia Celso Antônio BANDEIRA DE MELO a responsa-
fiscalização; função de julgamento; função de ouvidoria; função corretiva e bilidade civil do Estado:
função sancionadora.
"Entende-se por responsabilidade patrimonial extracontratual do Esta-
Sem sombra de dúvida que o papel institucional do Tribunal de Contas do a obrigação que lhe incumbe de reparar economicamente os danos
é de muita importância para a defesa dos interesses da sociedade. Órgão lesivos à esfera juridicamente garantida de outrem e que lhe sejam imputá-
autônomo e independente, com seus membros, no caso dos Estados, veis em decorrência de comportamentos unilaterais, lícitos ou ilícitos,
dotados de garantias constitucionais atribuídas a desembargadores do comissivos ou omissivos, materiais ou jurídicos".
Tribunal de Justiça, o que lhes assegura condições para desempenhar a
missão de julgar, fazendo-o com isenção e imparcialidade. Antonio Roque Esta responsabilidade pode ser estudada sob três diferentes prismas,
Citadini conforme o aspecto de funcionamento enfocado: administrativo, legislativo
e judiciário.

Direito Administrativo 17 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
Cremos importante frisar que a responsabilidade estatal não se con- serviços públicos, por se entender que nestes casos a sua atuação asse-
funde com a de seu funcionário, uma vez que este último, no exercício de melhava-se a dos cidadãos comuns.
suas funções, pode causar dano tanto a bens estatais quanto a de particu-
lares. Em ambos os casos, comprovada sua culpa, deverá ressarcir os A formulação da responsabilidade civil do Estado como autônoma face
prejuízos causados. Entretanto, o cidadão lesionado em seu direito por ato à responsabilidade civil comum das pessoas privadas foi obra da jurispru-
decorrente do agir estatal não depende desta prova para requerer sua dência francesa. A doutrina contemporânea contempla o aresto Blanco,
indenização, pois pode acionar diretamente o Estado, que responderá proferido pelo Tribunal de Conflitos em 1 de fevereiro de 1873, como o
sempre que demonstrado o nexo de causalidade entre o ato do seu funcio- marco inicial da admissão da responsabilidade estatal por atos de gestão.
nário e o dano injustamente sofrido pelo indivíduo. A culpa do agente Todavia, esta situação ainda se apresentava muito desvantajosa para o
apenas será discutida em um segundo momento, caso o Estado impetre indivíduo, que muitas vezes ficava irressarcido ante a impossibilidade de se
ação de regresso. Assim: distinguir entre as duas espécies de atos em seu caso concreto, uma vez
"(...) diz-se que a responsabilidade deste [o Estado] é objetiva, porque que frequentemente se entrelaçavam ambos os tipos em uma mesma
não se impõe ao particular, lesado por uma atividade de caráter público situação. Além disso, ainda que fosse possível separá-los, restava compro-
(ou alguma omissão), que demonstre a culpa do Estado ou de seus agen- var a culpa do agente administrativo, o que não raro resultava inviável.
tes. Sinteticamente, a responsabilidade do Estado se caracteriza pelo Somava-se a esses impedimentos o advento do liberalismo pós-
preenchimento dos seguintes pressupostos: 1) que se trate de pessoa revolucionário do final do século XVIII, que acrescentou novas questões à
jurídica de direito público ou de direito privado prestadora de serviços responsabilidade administrativa. Com efeito, algumas legislações europei-
públicos; 2)que estas entidades estejam prestando serviço público; 3) que as, a reboque da francesa, instituíram durante o século XIX a necessidade
haja um dano causado a particular; 4) que o dano seja causado por agente de uma prévia autorização do órgão a que pertence o funcionário ou a seu
(a qualquer título) destas pessoas jurídicas e; 5) que estes agentes, ao superior hierárquico para a instauração de processo contra agente adminis-
causarem dano, estejam agindo nesta qualidade". trativo. Esta exigência fundamentava-se em uma interpretação extrema-
Pelo acima visto, percebe-se que não se confunde a responsabilidade mente radical do princípio da separação dos poderes, que não admitia
civil, "que traduz-se na obrigação de reparar danos patrimoniais e se exau- qualquer interferência do Poder Judiciário sobre o Executivo. O ápice desta
re com a indenização, com as responsabilidades penal e administrativa, concepção dar-se-á com a instalação de tribunais administrativos, separa-
que não serão abordadas no presente estudo. dos dos judiciários.

1.1. A Teoria da Irresponsabilidade e o Direito Brasileiro. No entanto, essa dificuldade para se acionar o Poder Público não de
coadunava com os ideais do racionalismo iluminista, que pregavam a
O Brasil, desde seu alvorecer enquanto Estado soberano, jamais espo- limitação dos poderes do Estado, principalmente através da doutrina dos
sou a tese da irresponsabilidade do Estado no que concerne a atos decor- direitos naturais. A solução acima exposta, ademais, não preenchia os
rentes da Administração Pública. anseios dos cidadãos, que desejavam ver seus direitos protegidos contra a
indevida ingerência estatal da forma mais ampla possível.
Já a Constituição de 1824, outorgada dois anos após a declaração de
independência, proclamava em seu artigo 178, n. 29: Além disso, a evolução do princípio da legalidade permitira deduzir a
noção de que se o particular está limitado no seu agir pelas leis emanadas
"Os empregados públicos são estritamente responsáveis pelos abusos do poder legislativo, não era razoável que o próprio Estado, ao executá-las,
e omissões praticados no exercício de suas funções, e por não fazerem não estivesse subsumido às mesmas. Desta forma, paulatinamente a
efetivamente responsáveis aos seus subalternos". doutrina constrói a tese de que o Estado é responsável pelos atos ilegais
Ao contrário do que uma primeira leitura possa sugerir, doutrina e juris- praticados pelos agentes administrativos que causem danos ao cidadão,
prudência jamais interpretaram este dispositivo como consagrando apenas salvo nos casos em que provasse a sua não culpa.. A jurisprudência cons-
a responsabilidade pessoal do funcionário, ao mesmo tempo em que decla- truía, desta forma, a teoria da culpa presumida da Administração, que
rava a irresponsabilidade estatal. Na verdade, desde sempre se entendeu invertia o ônus da prova, em benefício da vítima.
que a norma traduzia uma responsabilidade solidária entre o Estado e seus Brilhante é a síntese desta passagem fornecida por CANOTILHO:
agentes. Esta, todavia, baseava-se ainda na concepção de responsabilida-
de aquiliana, posto exigisse a prova da culpa do funcionário para a sua "O princípio da legalidade que no Estado de Polícia foi interpretado no
caracterização. sentido de só atos lícitos serem imputados ao Estado, evolui no sentido
contrário, entendendo-se ser o próprio princípio da legalidade que impele o
No mesmo sentido, seguiram-se as Constituições de 1891 e 1934, que, Estado a garantir a regularidade da atuação administrativa."
com redações símiles no que se refere ao objeto do atual trabalho, consa-
graram a responsabilidade do Estado por ato do administrador nos mesmos A responsabilização do Estado pelo ato do agente foi possível, desta
moldes. Abordaremos, pois, a seguir, a teoria da responsabilidade subjetiva forma, a partir da evolução do entendimento da natureza da relação exis-
do Estado, com vistas a dar prosseguimento à análise histórica do instituto. tente entre eles. Quando se passou a admitir que o funcionário público não
é um mero particular, mas sim um órgão do Estado, foi elaborada a teoria
1.2. A Teoria da Responsabilidade Subjetiva do Estado. da responsabilidade do Estado pelo ato culposo de seu agente. Consoante
Foi lenta a evolução da teoria da responsabilidade do Estado, tendo a teoria do órgão, "a atividade do funcionário configura-se como atividade
tardado muito a permissão para o indivíduo proceder contra o Estado de da própria pessoa jurídica, e, por conseguinte, devem ser atribuídas a esta
forma semelhante a que se acionava um particular. todas as consequências danosas ou não dessa atividade"

O período de responsabilidade civilística, em que o Estado se encon- Conforme se pode observar, aos poucos a teoria da responsabilidade
trava em posição de igualdade face ao particular, pode ser dividido em dois civil do Estado evoluiu de uma concepção individual para a da culpa anô-
principais momentos: o da culpa provada e o da culpa presumida. Em um nima ou impessoal. Desta forma, pouco a pouco, foi-se dando prevalência à
primeiro momento, a responsabilidade estatal assemelhou-se à do prepo- constatação do dano sobre a prova da culpa, sendo os primeiros passos
nente pelo ato do preposto, sendo indispensável a demonstração da culpa- neste sentido mérito da jurisprudência francesa, através do Conseil d’État.
bilidade do funcionário público para deduzir-se a responsabilidade da A esta coube a elaboração da noção de "falta de serviço", que mostrar-se-ia
entidade pública. Os danos causados por agente administrativo enquadra- o alvorecer da responsabilidade objetiva do Estado, calcada nos princípios
vam-se, portanto, dentro da teoria clássica do delito civil, donde a imperio- da igualdade e do risco. Consoante a ideia de "falta do serviço", o Estado
sidade de se restar comprovado "o dolo ou a negligência grave". seria responsável, independentemente de culpa de seu agente, pelo prejuí-
zo sofrido por um particular devido à inexistência do serviço público, a seu
Necessário se faz observar que os alicerces da responsabilidade civil mau funcionamento ou retardamento. Passou-se, portanto, a serem utiliza-
do Estado são lançados ao final do século XIX, fruto da Revolução Industri- dos os termos "culpa do serviço" ou "falha do serviço", e a ser necessário
al, que fizera surgir a figura do Estado empresário. Separou-se, então, a apenas comprovar a ausência do serviço devido ou que seu funcionamento
atividade do Estado em atos de império e atos de gestão, para obrigá-lo a deu-se de forma inadequada, ou, ainda, que tardou mais do que deveria
reparar os danos causados no desempenho destes últimos em relação aos (morosidade), para configurar a responsabilidade do Estado pelos danos

Direito Administrativo 18 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
daí decorrentes aos administrados. Consoante explanação dos irmãos de toda e qualquer responsabilidade, a menos que incorram em culpa
MAZEAUD sobre a teoria da culpa do serviço, então em voga na jurispru- grave. O sistema inglês estabelece, ainda, uma série de dificuldades às
dência francesa: ações contra os funcionários: prescrição breve, direito, outorgado ao fun-
cionário acionado, de oferecer ao autor determinada composição pecuniá-
"Certes fautes de service ne signifie pas, dans la pensée de la jurispru- ria".
dence, ‘faute de fonction’, faute comise dans léxécution de la fonction, pas
plus que ‘faute personelle’ ne signifie faute comise em dehors de la fonction Entretanto, mesmo sendo irresponsável o Estado no período Absolutis-
(...) ta, já se admitia, consoante CAIO MÁRIO, "a responsabilidade pecuniária
pessoal dos agentes da Administração". Isto se devia a que, consoante
"La ‘faute de service’ n’est pas non plus l’acte régulièrement accompli, Sérgio CAVALIERI FILHO, "sustentava-se que o Estado e o funcionário
la ‘faute personelle’ étant l’acte irrégulier. La ‘faute de service’, comme la eram pessoas diferentes, pelo quê este último, mesmo agindo fora de seus
‘faute personelle’, par là même qu’elle est une faute, s’analyse en un acte poderes, ou abusando deles, não obrigava, com seu fato, a Administração".
irrégulier" Esta solução, todavia, deixava muito a desejar, dado que constantemente a
Desta citação dos irmãos MAZEAUD, depreende-se que estes esposa- incapacidade econômica do funcionário frustrava a ação de indenização.
vam a teoria subjetiva da responsabilidade civil do Estado, pois faziam Mister era, pois, buscar um mecanismo mais eficiente ao ressarcimento da
depender o seu nascimento de um ato irregular da Administração, ou seja, vítima.
a culpa do serviço mostrava-se indispensável à sua caracterização. Cumpre ressaltar que o advento das revoluções burguesas e do Estado
Esclarece-nos, a respeito, Hely Lopes MEIRELLES: de Direito não foi, como em princípio se poderia supor, razão da imediata
aceitação da responsabilização civil do Estado. A aplicação prática da
"A teoria da culpa administrativa representa o primeiro estágio da tran- teoria da separação dos poderes obstaculizava sua efetivação, sob a
sição entre a doutrina subjetiva da culpa civil e a tese objetiva do risco excusativa de que a condenação da Administração por parte do Poder
administrativo, pois leva Judiciário significaria uma intromissão indevida deste na órbita de autono-
em conta a falta do serviço para dela inferir a culpa da Administração. mia do Executivo, o que era inadmissível.
É o estabelecimento do binômio falta do serviço - culpa da Administração. O início da responsabilidade do Estado somente foi possível a partir do
Já aqui não se perquire da culpa subjetiva do agente administrativo, mas desenvolvimento de uma teoria que propugnava agir o Estado em duas
perquire-se a falta do serviço em si mesmo, como gerador da obrigação de diferentes roupagens, ora como pessoa pública, ora como pessoa civil. A
indenizar o dano causado a terceiro. Exige-se, também, uma culpa, mas partir da distinção destes dois tipos de atuação foi possível ao Estado
uma culpa especial da Administração, a que se convencionou chamar culpa adentrar a seara civil, enquanto empresário, e passou a ser viável a sua
administrativa." responsabilização quanto a atitudes empreendidas dentro desta segunda
Desta forma, liga a doutrina o reconhecimento da responsabilidade es- acepção. Em relação às demais, permanecia a sua imunidade, fruto de sua
tatal como sendo direta à elaboração da teoria organicista do Estado.[39] soberania e de seu poder de império.
Esta mostrou-se passo decisivo na elaboração posterior da teoria da res- Consoante CANOTILHO, nem mesmo o advento do direito natural foi
ponsabilidade objetiva do Estado, conforme teremos oportunidade de capaz de reconhecer limites ao poder de polícia do Estado soberano, pois
observar adiante. havia uma presunção absoluta de conformidade das medidas soberanas
2. Evolução Histórica da Responsabilidade Civil do Estado com o direito. Entretanto, a partir da teoria jusnaturalista, desenvolveu-se o
raciocínio de que "os direitos subjetivos dos súditos, autênticos fluxos da
2.1 A Teoria da Irresponsabilidade. liberdade pessoal, ficavam[...] fora do jus politiae, por anteriores ao Esta-
do".
A responsabilidade civil é matéria jurídica antiga, tendo sido prevista no
Código do Imperador Hamurabi da Babilônia, em sua máxima "olho por 2.2. A Responsabilidade Objetiva da Administração: as teorias do
olho, dente por dente". Aquele que sofria um dano tinha direito a repará-lo risco administrativo e do risco integral.
mediante a provocação de um dano semelhante ao seu responsável. O
direito romano, posteriormente, através da Lex Poeteria Papiria, proibiu as Elaborada por Leon DUGUIT, a teoria do risco representou passo deci-
penas corporais em sede de responsabilidade civil, instituindo que apenas sivo na doutrina da responsabilidade estatal. Cogitou o insigne jurista da
o patrimônio do agente deveria responder pelo dano por ele causado. existência de um seguro social, mediante o qual a sociedade deveria supor-
tar o prejuízo causado pelo funcionamento do serviço público, não mais
A amplitude do tema ora em pauta não nos permite tecer maiores con- sendo necessário questionar-se da falta de um seu agente ou do próprio
siderações acerca da evolução do instituto da responsabilidade civil. Desta serviço. A adoção desta teoria, ora a mais em voga, entende que basta se
forma, iniciaremos nosso estudo evolutivo desde a formação dos Estados prove que o dano sofrido decorreu da atividade pública, ainda que esta não
Modernos, a partir de quando nos parece ser possível arguir sua responsa- tenha exorbitado sua esfera de ingerência. O particular tem apenas de
bilidade. demonstrar o nexo de causalidade entre o ato da Administração e o dano, e
que para este não contribuiu com atitude culposa.
O nascimento do Estado moderno não trouxe de pronto, como se pode-
ria ter imaginado, a responsabilidade estatal por atos decorrentes das suas Defende MOREIRA NETO a superioridade desta teoria sobre as de-
funções. Ao contrário, a teoria do direito divino dos reis, elaborada por mais, afirmando que:
Bossuet para justificar o poder absoluto dos monarcas, impossibilitava
qualquer tentativa de responsabilizá-lo, pois o rei, designado por Deus, era "(...) a teoria do risco administrativo não vai ao ponto de ignorar a culpa
infalível. concorrente ou exclusiva do prejudicado na causação do evento; na verda-
de, seria iníquo que o Estado, ou seja, a comunidade, respondesse pela
Nos dois principais Estados que adotam o sistema de Common Law, a composição de um dano para o qual concorreu com culpa a vítima."
teoria da irresponsabilidade foi abraçada até a década de 1940, tenso sido
abandonada nos Estados Unidos através do Claims Act de 1946 e na Explica Marcelo CAETANO que a justificativa ético-jurídica da adoção
Inglaterra por meio do Crown Proceeding Act de 1947. desta teoria está em que "os riscos acarretados pelas coisas ou atividades
perigosas devem ser corridos por quem aproveite os benefícios da existên-
Por conseguinte, tem-se que a teoria da irresponsabilidade não mais cia dessas coisas ou do desenrolar de tais atividades (...) A Administração
vige em sua integralidade em nenhum país, embora a Inglaterra ainda a deve responder pelos riscos resultantes de atividades perigosas ou da
adote em relação ao Rei e a alguns de seus funcionários, conforme nos existência de coisas perigosas, quando não tenha havido força maior
explica Aguiar DIAS: estranha ao funcionamento dos serviços (...)na origem dos danos e não
consiga provar que estes foram causados por culpa de quem os sofreu".
"[Na Inglaterra], vigora a regra ‘The King can do no wrong’, em face da
qual não há possibilidade de acionar o rei ou funcionários diretamente Consoante CAIO MÁRIO, a responsabilidade objetiva do Estado signi-
dependentes dele com base na responsabilidade civil. Há leis que excluem fica proclamar uma presunção iuris et de iure de culpa, isto é, uma vez que,
certos funcionários (juízes, autoridades policiais, sanitárias e alfandegárias) constatados a existência de um dano e o nexo de causalidade entre este e

Direito Administrativo 19 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
o funcionamento da Administração, o Estado não pode provar a sua "não- Em princípio deve-se procurar situar a culpa como causa do erro judici-
culpa". ário, identificando-a na conduta do juiz, para que só incida o fundamento da
faute du service nos casos em que o agente causador do dano não for o
Todavia, se a adoção da teoria objetiva se fez pacífica, não se tem no- juiz ou não se puder, nas circunstâncias, imputar a ele a prática de ato
tícia de nenhum Estado que tenha adotado em todas as suas consequên- danoso por qualquer das modalidades atinentes à culpa.
cias a teoria do risco integral em sede de responsabilidade civil estatal.
Propugna esta teoria ser o Estado responsável pela reparação do dano Tratando objetivamente sobre a responsabilidade civil do causador do
causado pela Administração a um terceiro, desde que reste comprovado o ato ilícito, bem escreve o juscivilista CARLOS ALBERTO BITTAR:
nexo de causalidade entre este e o agir da Administração, mesmo que para
o evento danoso tenha o indivíduo contribuído mediante atitude dolosa ou "Impõe-se-lhe, no plano jurídico, que responda (do latim "spondeo" =
culposa. Ou seja, a culpa concorrente ou mesmo exclusiva da vítima não "responder a", "comprometer-se"; "corresponder a compromisso ou a
seriam suficientes a afastar o dever de indenizar do Estado. obrigação anterior") pelos impulsos (ou ausência de impulsos) dados no
mundo exterior, sempre que estes atinjam a esfera jurídica de outrem. Isso
São, portanto, requisitos para o nascimento do dever ressarcitório do significa que, em suas interações na sociedade, ao alcançar direito de
Estado, consoante a teoria do risco administrativo, hoje a mais difundida: terceiro, ou ferir valores básicos da coletividade, o agente deve arcar com
as consequências, sem o que impossível seria a própria vida em socieda-
a) a existência de um dano correspondente a "lesão a um direito da ví- de."
tima"[, certo e injusto. para os adeptos da teoria subjetiva em caso de
omissão do poder público, estes casos exigem, ainda, o comportamento Referida responsabilidade, no dizer de uns, plasma-se no artigo 37, pa-
culposo da administração (ver capítulo 3,infra); rág. 6.º da CF, que subjetivamente já era contida no artigo 159 do extinto
Código Civil Brasileiro, verbis:
b) o responsável pelo ato deve se revestir da qualidade de funcionário
da Administração Pública; ARTIGO 159. "Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligên-
cia, ou imprudência, violar direito ou causar prejuízo a outrem. fica obrigado
c) é preciso que haja nexo de causalidade entre o ato comissivo ou o- a reparar o dano."
missivo da Administração e o dano causado. Ressalte-se que, na apuração
da causalidade, o STF abraça a teoria da interrupção do nexo causal, ou do No caso do Estado a sua responsabilidade é objetiva face a Justiça ser
dano direto e imediato, que proclama existir nexo causal apenas quando o considerado um serviço público. Por isso na França utiliza-se a expressão
dano é o efeito direto e necessário de uma causa. service public de la justice ("serviço público da justiça"). Não há razão que
justifique excluir, como exceção, a espécie "serviço público judiciário" do
Hely Lopes MEIRELLES entende que a adoção da teoria do risco inte- gênero "serviço público geral" (Cretella Júnior, Direito Administrativo p. 15).
gral atenta contra a equidade social, e se justifica, argumentado que "por "O serviço judiciário é, sem contestação possível, serviço público do Esta-
essa fórmula radical, a Administração ficaria obrigada a indenizar qualquer do, em função da integração do Judiciário à esfera estatal" (Souza, 1990, p.
dano suportado por terceiros, ainda que resultante de culpa ou dolo da 48).
vítima". Ter-se-ia um aumento injustificado das despesas do Estado, erigido
a segurador universal, o que poderia mesmo comprometer a qualidade dos Certa vez ao proferir voto em recurso extraordinário, o Min. Aliomar Ba-
serviços prestados à população. leeiro acentuou: "Acho que o Estado tem o dever de manter uma Justi-
ça que funcione tão bem como o serviço de luz, de polícia, de limpeza
3. A Responsabilidade Civil do Estado por suas funções ou qualquer outro. O serviço da Justiça é, para mim, um serviço públi-
3.1. A Responsabilidade Civil do Estado por Ato Judicial co como qualquer outro" (RTJ 64/714 e RDA 114/325).
O Estado é responsável face ao erro judiciário. Em livro específico so- Conforme deduz José Cretella Júnior (1980; p. 275 e 1970a, p. 248 e
bre o tema "INDENIZAÇÃO DO ERRO JUDICIÁRIO", escreve LUIZ ANTO- 1970b, p. 31), "a responsabilidade do Estado por atos judiciais é espé-
NIO SOARES LENTZ que "o ato jurisdicional, como espécie do ato jurídico cie do gênero responsabilidade do Estado por atos decorrentes do
de direito administrativo, comporta os que se destinam a solução coercitiva serviço público, porque o ato judicial é, antes de tudo, ato jurídico
conflitos e a atividade destinada a prover interesses em geral, como se dá público, ato de pessoa que exerce serviço público judiciário." Acres-
com os atos de jurisdição voluntária, e têm os mesmos pressupostos e centa José Cretella Júnior (1980, p. 275 e 1970a, p. 248) que "equipara-se
elementos que os da espécie, dependendo de requisitos para sua validade, o magistrado, representante do Estado, ao funcionário público para
sendo passíveis, outrossim, dos vícios de vontade que atacam os atos efeitos de responsabilização e o serviço de administração de justiça
jurídicos em geral." ao serviço público, em relação de gênero público) e espécie (judicial)."
Portanto, do reconhecimento da função jurisdicional como um serviço
O desacerto do provimento jurisdicional deve ter como causa a finali- público decorre que o Estado deve responder pelos atos emanados no seu
dade objetiva e determinante do resultado, diretamente vinculada ao ele- exercício, quando lesivos. Nesse sentido bem escreve Juary C. Silva (1985,
mento psíquico motivador da decisão. Num paralelo com o que diz Caio p. 119):
Mario da Silva Pereira em relação à formação da vontade no negócio
jurídico, caracteriza-se como a intenção dirigida no sentido de realizar a "Efetivamente, aceito que o Estado, no desempenho da função jurisdi-
consequência jurídica - que seria, aqui, o erro judiciário. cional, desenvolve um serviço público - o que temos por irrecusável e óbvio
- depreende-se que o Estado-jurisdição é tão responsável pelos seus ates
Tido como o mais elementar dos vícios do consentimento, o erro impli- lesivos, quanto o é, no respeitante aos seus, o Estado-Administração.
ca o desconhecimento ou falso conhecimento das circunstâncias de modo Realmente, todo o serviço público implica a ideia de responsabilidade de
que se comporta o agente de uma forma que não seria a ia vontade se quem o executa, em qualquer modalidade, em face da jurisdicização da
conhecesse a verdadeira situação. atividade estatal e da submissão do Estado ao Direito, nos moldes do
Citando Saleilles, lembra Caio Mario que o erro é a falta de concordân- constitucionalismo subsequente à Revolução Francesa."
cia entre a vontade real e a vontade declarada. Opera com erro o juiz Georges Vedei e Pierre Delvolvé (1984, p. 573) assinalam que a ex-
sempre que declara o direito a um caso concreto sob falsa percepção dos pressão "serviço judiciário" abrange também a atividade dos juízes: "On
fatos; a decisão ou sentença divergente da realidade conflitante com os entend le terme 'service judiciaire' das le sens le plus large, comme l'en-
pressupostos da justiça, entre os quais se insere o conhecimento concreto semble des activités juridictionnels ou non imputables ou non à des magis-
dos fatos sobre os quais incidirá a norma jurídica. trats ow à des juges." .
Na culpa, logicamente, por ser normativa, não se fala em vontade Edmir Netto de Araújo (1981, p, 181) reitera que "os atos do Poder
consciente dirigida a um fim, mas em inobservância de dever de cautela Judiciário, jurisdicionais ou administrativos, são atos das pessoas
(imprudência), agir desidioso (negligência) e descumprimento de dever físicas que exercem o serviço público judiciário, em nome do Estado:
profissional em determinada circunstância (imperícia). Comumente a culpa portanto, empenham, se danosos, a responsabilidade da pessoa
é atribuída ao serviço judiciário, anomalamente considerado, e não identifi- jurídica (Estado) que representam." Aduz que "também ocasiona essa
cado com o ato jurisdicional causador do dano.

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responsabilidade a omissão ou demora do serviço judiciário, não "Pode-se [...] definir ato administrativo como todo ato lícito da Adminis-
individualizado o responsável pelo dano" (Araújo, E. N., 1981, p. 181). tração Pública, que, agindo com supremacia de poder, tenha por fim imedi-
ato adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direito".
A responsabilidade do Estado por atos judiciais é então, uma respon-
sabilidade por atos decorrentes do serviço público. Dizia o Min. Aliomar Desta forma, podemos elencar seus requisitos: competência, forma, fi-
Baleeiro: "Não posso distinguir onde o texto não distingue. Para mim, nalidade, motivo e objeto.
o juiz é um funcionário público" (RTJ 61/714 e RDA 111/325).
Recorremos, ainda, aos ensinamentos de Orlando SOARES, por sua
3.2. A Responsabilidade Civil do Estado por Atos Legislativos clareza na definição do ato administrativo:
Aqui peço vênia para me reportar sempre, quase em sua integralidade, "(...) sob a ótica do Direito Público, esses atos [administrativos] derivam
dado ao seu inolvidável conteúdo, ao trabalho do Professor EDILSON dum desses órgãos do poder público - que integram os Poderes Legislativo,
PEREIRA NOBRE JÚNIOR, ilustre magistrado federal na Seção Judiciária Executivo e Judiciário -, no exercício de suas funções administrativas
do Estado do Rio Grande do Norte. Estado é responsável face ao erro próprias, segundo a sua competência constitucional."
judiciário.
A seguir, realiza a distinção entre os sentidos material e formal do ato
Lembra o magistrado, em sua dissertação específica, que existem óbi- administrativo:
ces quanto ao reconhecimento da responsabilidade do Estado por atos
legislativos. Estão elencados assim: a) a lei ser um ato de soberania; b) "O sentido material diz respeito à multiplicidade de maneiras pelas
consistir a lei em norma geral, impessoal e abstrata, do que decorre ser quais se pode manifestar a vontade do Estado, isto é, a lei, o regulamento,
incapaz de acarretar lesões a terceiros; c) a lei não viola direitos anteriores, a portaria, a sentença, e assim por diante; o sentido formal se relaciona ao
porquanto a contar de sua vigência, modifica a disciplina da lei revogada; d) aspecto administrativo do ato, sem ter em conta, propriamente, a autorida-
a responsabilidade estatal pela edição de normas legais entrava a evolução de da qual ele emanou, como, por exemplo, quando uma autoridade judicial
administrativa; e, e) o particular atingido é de ser tido como autor da lei, nomeia e destitui, funcionários, o que em princípio é atribuição própria do
tendo em vista que, na qualidade de cidadão, elege os representantes Estado Administração (Poder Executivo), (...)".
incumbidos de elaborar o diploma legal. Destas concepções extrai, finalmente, sua concepção de responsabili-
Tais argumentos sabe-se facilmente superáveis. O primeiro, a respeito dade administrativa:
da soberania, aduz o emérito professor que apesar da lei ser abstrata e se (...) a expressão responsabilidade administrativa, em sentido amplo,
impor de forma igual para todos, é justamente no princípio da isonomia que corresponde à obrigação, que se atribui ao administrador, de assumir ou
se atribui, em casos concretos, a responsabilidade do Estado. Isto quando de ser o responsável por todos os atos que execute ou ordene, caso exce-
o Estado, na manifestação de sua atividade legiferante, venha a praticar o da os poderes administrativos que lhe foram conferidos ou outorgados,
exercício da atividade lícita pelo particular, causando-lhe prejuízos. quer na esfera da administração pública, quer na particular, no âmbito do
É totalmente desproposital também a alusão de que particular participa direito privado."
da feitura das leis, mediante a escolha dos seus representantes, e aqui a Conforme se infere, a responsabilidade administrativa é do administra-
responsabilidade estaria excluída. dor, ao passo que a civil reputa-se ao Estado, à Administração, não se
Ora, também nas democracias se escolhe os dirigentes máximos da perquirindo de excesso ou abuso de poder. Observe-se, assim, a diferença
Administração, através da eleição dos chefes do Poder Executivo, e nem entre a supracitada definição e a que se segue, em que o eminente consti-
por isso se chega a cogitar da exclusão de responsabilidade pela atividade tucionalista CANOTILHO define a responsabilidade civil do Estado por ato
dos funcionários públicos, os quais, quase sempre, atuam com obediência da Administração.
a determinação hierárquica daqueles. "Os particulares lesados nos seus direitos, designadamente nos seus
Forte em Amaro Cavalcanti, em suas lições sobre o controle da consti- direitos, liberdades e garantias, por ações ou omissões de titulares de
tucionalidade das leis, a doutrina brasileira evoluiu para responsabilizar o órgãos, funcionários ou agentes do Estado e demais entidades públicas,
Estado quando leis inconstitucionais ou desproporcionais prejudicarem a praticados no exercício das suas funções e por causa desse exercício,
atividade do particular. podem demandar do Estado - ‘responsabilidade do Estado’ -, exigindo uma
reparação dos danos emergentes desses atos (CRP, artigos 22o, 27o;
Quando alguém venha a sofrer prejuízo, quer em decorrência de lei in- ETAF, artigo 51o/1/h).
constitucional, quer em virtude de sua aplicação, induvidoso se torna, na
sábia lição do Prof. Edílson Nobre, o dever do Estado em efetuar a devida "No âmbito de proteção desta norma incluem-se ações de responsabi-
reparação. lidade contra a administração por atos lícitos e ilícitos (ações ou omis-
sões) dos titulares de órgãos, funcionários ou agentes, sejam eles atos
3.3. A Responsabilidade Civil do Estado por Ato do Administra- jurídicos (atos adminstrativos), sejam atos materiais (erro de diagnóstico
dor. de um médico, uso de armas de fogo, buracos e valas na via pública sem
sinalização)".
Dentro da responsabilidade civil do Estado, a da Administração é a de
mais simples constatação e que menos controvérsia doutrinária suscita, daí O ordenamento jurídico brasileiro abraçou a tese da responsabilidade
porque, muitas vezes, alguns doutrinadores tendem a reduzir toda a res- civil do Estado na Constituição Federal, artigo 37, § 6o. Segundo a Magna
ponsabilidade estatal ao seu aspecto supracitado, conforme as palavras de Carta, "o Estado responderá pelos danos que seus agentes, nesta qualida-
Orlando SOARES: de, causarem a terceiros", independentemente de dolo ou culpa, uma vez
que esta só terá importância para estabelecer o direito de regresso do
"A concepção genérica acerca da responsabilidade do Estado decorre Estado contra o seu agente.
da prática de atos administrativos emanados do poder público, quer dizer,
no caso do Brasil, os atos baixados pelo governo republicano, sob a forma Conforme frisa Gustavo TEPEDINO, a adoção da responsabilidade ob-
federativa, em suas três esferas: federal, estadual e municipal." jetiva se coaduna com os princípios constitucionais da República:
Embora revista-se ainda dos aspectos legislativo e judicial, a respon- "Com efeito, os princípios da solidariedade social e da justiça distributi-
sabilidade civil do Estado por ato administrativo é aquela que logrou maior va, capitulados no art. 3o., incisos I e III, da Constituição, segundo os quais
efetivação, o que se pode inferir do grande número de julgados condenan- se constituem em objetivos fundamentais da República a construção de
do o Estado a ressarcir danos causados pela administração pública. uma sociedade livre, justa e solidária, bem como a erradicação da pobreza
e da marginalização e a redução das desigualdades sociais e regionais,
O tema ora em voga requer, antes de maiores considerações, que de- não podem deixar de moldar os novos contornos da responsabilidade civil.
finamos uma conceituação para ato administrativo. Assim: (...) Impõem, como linha de tendência, o caminho da intensificação dos
critérios objetivos de reparação do dano e do desenvolvimento de novos
mecanismos de seguro social".

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O caminho até a admissão da responsabilidade objetiva foi árduo, ten- Critica, neste sentido, Yussef CAHALI, uma antiga decisão do Tribunal
do doutrina e jurisprudência, através de homens que honraram a profissão de Justiça de São Paulo, na qual o Egrégio Tribunal esposou posição
com sua sabedoria e perspicácia, desempenhado papel imprescindível, isolada, por inaceitável. Concluiu, em episódio único, o Ilustre Tribunal, que
conforme restará comprovado da análise da evolução histórica empreendi- "pouco importa a existência de concausas quando os danos provêm de
da no próximo capítulo. faltas anônimas nos serviços públicos de várias entidades públicas, ainda
que uma daquelas provenha de um suposto fato fortuito, qual uma chuva
3.3.1 A Responsabilidade Objetiva da Administração no Direito anormal".
Brasileiro.
Admitir a total responsabilidade do Estado, não obstante restar com-
A responsabilidade objetiva, basilada na teoria do risco administrativo provada a concorrência de fato maior para o dano, é adotar a teoria da
ou risco criado, tem suporte no ordenamento jurídico pátrio, no artigo 37, responsabilidade integral, a qual transforma o Estado em segurador univer-
§6o, da Constituição Federal de 1988. sal, dando-lhe mais encargos do que pode suportar, e atentando contra os
Art. 37, § 6o: "As pessoas jurídicas de direito público e as de direito princípios da equidade entre todos os cidadãos. Ao Estado cumpre indeni-
privado prestadoras de serviço público responderão pelos danos que seus zar danos ocasionados pelo seu funcionamento, mas não aqueles proveni-
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de entes de fatos imprevisíveis e inevitáveis, de origem externa. Donde a
regresso nos casos de culpa ou dolo." pertinência da crítica contra o citado julgado, cuja decisão não prosperou
na jurisprudência.
Portanto, o Estado brasileiro, em qualquer das suas três esferas - fede-
ral, estadual ou municipal - , é responsável independentemente comprova- 4. Excludentes da Responsabilidade Civil do Estado
ção de culpa, pelos danos causados por seus agentes administrativos a Consagrada inequivocamente a tese da responsabilidade civil do Esta-
particulares, aí incluídos os funcionários de qualquer entidade estatal e do, cumpre-nos agora analisar as hipóteses em que se exclui o seu dever
seus desmembramentos. Resta apenas observar que para o prejuízo não de indenizar. A responsabilidade estatal independe de culpa, ficando desde
tenha contribuído de forma culposa a vítima, quando será a responsabilida- logo afastadas as excludentes de responsabilidade civil que se baseiam
de mitigada (culpa concorrente), ou afastada (culpa exclusiva da vítima). neste elemento.
A teoria objetiva é esposada pelo ordenamento jurídico brasileiro desde 4.1 A Questão da Responsabilidade do Estado por Atos Lícitos.
a Constituição de 1946. Entretanto, a Constituição de 1988 trouxe-lhe maior
amplitude, ao estendê-la às pessoas jurídicas privadas prestadoras de Ao iniciarmos o estudo das hipóteses em que o Estado se vê liberto da
serviço público, sanando, deste modo, antiga controvérsia doutrinária. obrigação de indenizar, cremos oportuna uma breve notícia acerca da
Entretanto, esta inovação não trouxe a univocidade de entendimento pre- responsabilidade estatal por atos lícitos. Com efeito, dado tratar-se de
tendida, uma vez que a definição de "serviço público" e, por conseguinte, responsabilidade objetiva, a análise deve partir do pólo passivo da relação,
de "empresa privada prestadora de serviço público" não se fez ainda pacífi- isto é, o que deve ser analisado é o teor de injustiça do dano sofrido pelo
ca. Não nos ateremos a esta discussão, dada a sua amplitude e complexi- particular, não se devendo enfatizar o caráter ilícito ou não da atuação do
dade. agente administrativo estatal. Portanto, cumpre desde logo esclarecer que
a licitude do ato estatal não constitui excludente de sua responsabilidade,
Ainda em relação às empresas privadas prestadoras de serviço públi- pois retira o teor de culpabilidade da ação, mas não tem o condão de
co, discute-se o caráter solidário ou subsidiário da responsabilidade estatal. interromper a cadeia causal.
Propugna Celso Antônio BANDEIRA DE MELO ser subsidiária, baseando-
se em que estas se apresentam dotadas de uma "intimidade estrutural": A responsabilidade civil do Estado por ato lícito tem sua origem na se-
apenas o Estado, porque lhe confiou a prestação do serviço, será chamado gunda metade do século XIX. Surge a partir da ideia que não obstante
a responder caso esta frustre o ressarcimento do particular. Por outro lado, gozar o Poder Público de discricionariedade, podendo por isso realizar
salienta Gustavo TEPEDINO que admitir a subsidiariedade seria tornar a certas ingerências na vida do cidadão sem que se caracterize a figura do
inserir a responsabilidade in vigilando na seara do dever estatal de indeni- abuso de poder, todo dano injustamente sofrido pelo particular em decor-
zar. Considera, pois, tratar-se de responsabilidade solidária, e fundamenta rência do agir do Estado deveria ser ressarcido. Portanto, é a partir do
seu argumento, dentre outras razões, no fato de que a maior parte dos desenvolvimento da teoria do risco administrativo que irá se desenvolver a
serviços públicos prestados configuram relações de consumo, e o Código tese da responsabilidade estatal por atos lícitos.
de Defesa do Consumidor (lei n. 8078/90) consagra a solidariedade entre
todos os fornecedores do serviço, entendendo-se ambos a empresa priva- Esta posição não se impôs desde logo, tendo tido como principal ad-
da e o Estado como fornecedores de serviço público. versária a corrente positivista, que defendia ser a indenização devida pelo
Estado apenas nos casos expressamente previstos em lei, e nenhuma
Assim, imprescindível se faz, neste momento, frisar que o ordenamento norma até então elaborada previa a responsabilidade do Estado dissociada
jurídico pátrio consagra a responsabilidade objetiva do Estado pelo ato do da noção de ato ilícito.
administrador, com base na teoria do risco administrativo. Por esta razão,
magistrados há que, em sua prestação jurisdicional, expressamente se Os primeiros defensores do alargamento do dever de indenizar do Es-
preocuparam em afastar a teoria do risco integral. Assim, ao julgar caso de tado recorreram a princípios gerais de direito, como o direito à igualdade e
acidente de trânsito em curva entre particular e carro da Fazenda Pública, à equidade. Dada a mentalidade legalista do século XIX, não lograram
entendeu-se ser objetiva a responsabilidade do Estado pelo dano causado grande sucesso. Pouco depois, surgiram doutrinadores advogando a tese
por um seu funcionário, uma vez que ficou configurado que para a colisão de que esta responsabilidade havia sido legalmente prevista, e se utiliza-
haviam concorrido ambos os motoristas, configurando-se, pois, nexo de vam para corroborar sua tese de interpretações extensivas e analógicas.
causalidade em relação a atuação dos dois. A aplicação da teoria objetiva Assim, defendeu o jurista português Afonso QUEIRÓ a tese de que:
verifica-se em se ter considerado o Estado parte legítima na ação; caso "Em princípio, e salvo disposição contrária da lei, o patrimônio de uma
fosse esposada a tese subjetiva, o dever indenizatório caberia tão somente pessoa não pode ser especialmente sacrificado por um ato ou fato adminis-
em caso de culpa do funcionário, e sobre esta não se cogitou. A teoria do trativo sem que a administração satisfaça oportunamente a correspondente
risco integral ficou afastada por se ter levado em conta a concorrência da indemnização."
vítima para o evento danoso, o que acarretou diminuição da indenização
devida pelo Estado; caso esta teoria tivesse sido a adotada, o Estado ter- Desta forma, cabe ao Estado indenizar sempre que o prejuízo injusto
se-ia visto na obrigação de responder pela totalidade do dano sofrido pelo tenha como causa exclusiva a atividade, ainda que regular, da Administra-
particular. Observe-se a ementa do venerando acórdão: ção. Cumpre, portanto, não tenha sido ocasionado por força maior, fato de
terceiro ou do próprio prejudicado. Ressaltamos que para que o Estado
"Responsabilidade civil do Estado - Acidente de trânsito em curva - Ca- indenizar prejuízo decorrente de ato lícito, deve o dano revestir-se, como
ráter objetivo da responsabilidade do Estado, mesmo em tais casos - Moto- nas demais hipóteses, das características de atualidade, certeza e perma-
rista da autora também contribuiu para o acidente - Adoção da teoria do nência.
risco administrativo, mas não integral - Condenação pela metade - CF/88,
art. 37, par 6o." Veja-se, acerca dos prejuízos decorrentes de ato lícito, trecho de deci-
são emanada do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

Direito Administrativo 22 A Opção Certa Para a Sua Realização


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"Ao Município é lícito, com vistas ao bem comum, alterar o nível das vi- não estivesse em seu expediente de trabalho, agira invocando a sua quali-
as públicas, mas deve ressarcir ao particular pelos danos que a obra públi- dade de agente administrativo estatal, fato suficiente a gerar a responsabi-
ca ocasionar em prédios já existentes, construídos sob licenciamento e lidade estatal.
regular aprovação da Prefeitura."
Conclui-se, portanto, que o fato de o agente da Administração utilizar-
Desta feita, a alteração da via pública insere-se dentro dos poderes le- se abusivamente de sua qualidade ao causar dano a terceiro não é sufici-
galmente concedidos ao administrador público. Nada obstante, a existência ente a afastar a responsabilidade estatal. Com efeito, dada a dificuldade
de permissão legal não é suficiente a elidir a responsabilidade estatal, para a vítima em reconhecer o agir abusivo, contrariaria os princípios de
conforme restou comprovado pelo supracitado acórdão. justiça que a ela restasse tão somente ação contra o agente administrativo.
4.2 O Abuso de Direito. 4.3 Estado de Necessidade Administrativa.
A responsabilidade do Estado baseia-se na concepção de que o agen- Ao Estado, pela sua natureza, são conferidas certas prerrogativas de
te administrativo atua como órgão da pessoa jurídica da qual é funcionário. ingerência na vida particular de seus cidadãos, inclusive a de os privar do
Por isso, o Estado responde por danos que seus funcionários, nesta quali- exercício de alguns de seus direitos individuais, desde que haja razões
dade, causem a terceiros. relevantes a motivar sua ação, e que esta não ultrapasse os limites de
discricionariedade estabelecidos em lei. Assim:
Assim, discute a doutrina a hipótese de o agente público agir extrapo-
lando suas funções, quando desta sua atuação advenha dano ao cidadão. "Perante calamidades, catástrofes, convulsões, a administração po-
derá ter necessidade de requisitar bens particulares, destruí-los ou dani-
Explica-nos Marcelo CAETANO a necessidade de se separar os atos ficá-los, invadir o domicílio privado, requerer compulsivamente serviços
funcionais dos agentes administrativos daqueles praticados fora da quali- pessoais, sem obedecer às regras de forma e competência ordinaria-
dade funcional, chamados pessoais. O Estado, como pode depreender-se mente exigidas para a adoção de tais medidas. Estas medidas são sus-
sem maiores delongas, é responsável apenas quanto aos primeiros atos. ceptíveis de onerar especial e anormalmente alguns cidadãos aos quais
Do acima exposto poder-se-ia concluir, em uma primeira leitura, que o não deve razoàvelmente ser exigido que suportem sozinhos os danos
Estado não responderia pelo abuso de poder praticado pelo agente admi- emergentes de atos ou operações materiais adotadas pela administração
nistrativo. em circunstâncias excepcionais".
"(...) se os titulares dos órgãos abusam dos seus poderes ou resolvem Com estas palavras, o eminente jurista português CANOTILHO nos dá
sem se investirem das cautelas exigidas na lei para as deliberações ou se ciência da responsabilidade do Estado por ato praticado pela Administração
os agentes procedem ilegalmente em termos tais que não se possa admitir em caso de estado de necessidade. Cumpre ressaltar que, para não se
que ao produzir o dano se achassem no exercício da função de que foram subverter a ordem legal, mister é que a situação fática ensejadora do ato se
investidos, então, estamos perante atos pessoais, pelos quais a pessoa revista de todas as características do estado de necessidade, quais sejam,
jurídica não tem que responder, devendo os indivíduos, seus autores, ser perigo atual ou eminente de dano grave a bem jurídico de valor superior
responsabilizados pelo que fizeram". àquele que ora se sacrifica. Segundo o jurista, imprescindível se faz, ainda,
que o dano sofrido pelo particular em tais casos se revista das característi-
Entretanto, nem sempre será o Estado dispensado do dever de indeni- cas de especialidade e anormalidade, pois, caso contrário, se de pequena
zar, pois a dissimulação do funcionário estatal frequentemente poderia monta, resta abrangido pelos sacrifícios normais que todo indivíduo deve
levá-lo a enganar o particular, que, de boa-fé, acreditaria estar diante de enfrentar por viver em coletividade.
agente público. Portanto:
Imprescindível faz-se, por conseguinte, salientar que os danos causa-
"(...) se o público, na sua boa-fé foi iludido pelo procedimento dos titula- dos em situação de estado de necessidade somente devem ser indeniza-
res dos órgãos ou dos agentes da Administração que excederam os seus dos ao particular naquilo em que excedem a justa contribuição de cada
poderes, mas por forma a ser difícil aos prejudicados distinguir se havia cidadão para a vida em sociedade, e as vantagens colhidas pelos mesmos
abuso ou não, pode a lei admitir o direito destes pedirem indenização à na ação administrativa oriunda da necessidade.
pessoa jurídica. E esta terá de indenizar, embora se lhe reconheça o direito
de se ressarcir pelos bens do titular ou agente culpado ( direito de regresso A necessidade é subprincípio da proporcionalidade[81], donde ser es-
ou ação regressiva)". sencial que haja uma proporção entre a restrição a direito individual e o
benefício adquirido pela coletividade com a ação do Poder Público. O agir
Desta forma, caso o particular tenha tido motivos para acreditar que o da Administração em estado de necessidade deve ater-se aos limites
agente encontrava-se no desempenho de sua função pública, ou que tenha permitidos em lei, sendo passível de controle pelo Poder Judiciário.
a entidade para a qual trabalha se beneficiado do resultado de sua conduta
abusiva, deverá o Estado responder pelo dano. Conforme salienta Hely 4.4. O Fato da Vítima: exclusivo e concorrente.
Lopes MEIRELLES: A inexistência do dever de reparação no caso de culpa exclusiva da ví-
"(...) o essencial [para gerar o dever de o Estado reparar o dano] é que tima, ou sua mitigação, no caso de concorrência, deve-se não ao fato de
o agente da Administração haja praticado o ato ou a omissão administrativa que se inocenta o Estado pela ausência de culpa, posto que esta não é
no exercício de suas atribuições ou a pretexto de exercê-las. Para a vítima requisito da responsabilidade objetiva, mas porque a participação da vítima
(...) o necessário é que se encontre a serviço do Poder Público, embora para o dano opera excluindo ou atenuando o nexo causal.
atue fora ou além de sua competência administrativa". Ensina-nos José COSTA:
Neste sentido, decidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo, em antigo "Lastreando-se a responsabilidade do Estado na teoria do risco admi-
mas elucidador acórdão: nistrativo, a culpa exclusiva da vítima na causação do dano descaracteriza
"Se o policial fardado, mesmo não estando em serviço, atuou na quali- o dever de ressarcimento por parte das pessoas jurídicas de direito públi-
dade de agente do Poder Público, matando alguém, o Estado responde co."
pela respectiva indenização. O fato de ter havido, por parte do policial, Caso haja concorrência de culpas, dividem-se doutrina e jurisprudência
abuso no exercício da função pública não afasta a responsabilidade objeti- quanto à divisão da indenização pelos danos sofridos, uma parcela enten-
va da Administração. Pelo contrário, revela até mesmo a existência de dendo dever cada parte responder na proporção de sua participação para a
culpa in eligendo, o que é mais grave". ocorrência do prejuízo, enquanto outra defende deva ser a indenização
A decisão acima proferida baseia-se em importante distinção feita por dada pela metade.
Yussef CAHALI. Explica o eminente doutrinador que, conforme jurisprudên- Assim, vejamos acórdão do 1o Tribunal de Alçada Cível de São Paulo.
cia consolidada no Supremo Tribunal Federal, não de confundem o agir na
qualidade de servidor público com a atuação no exercício da função públi- "Responsabilidade civil do Estado - Acidente de trânsito causado por
ca. Basta a primeira para que se delineie o pressuposto exigido para que obras na via pública - Sinalização deficiente e desatenção do motorista -
nasça o dever de indenizar por parte do Estado. Assim, embora o policial Condenação do Município réu na metade dos prejuízos".

Direito Administrativo 23 A Opção Certa Para a Sua Realização


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O Tribunal de Justiça de São Paulo, por sua vez, proferiu decisão em do Código Civil). O Estado não se apresenta onisciente, capaz de vigiar a
que esposou a tese da repartição proporcional da indenização em caso de todos a cada minuto, daí porque na hipótese não lhe possa ser imputada
culpa concorrente. responsabilidade por omissão. A matéria, contudo, mostra-se controversa,
tendo havido neste caso voto vencido, pela responsabilização estatal.
"Responsabilidade civil do Estado - Acidente de trânsito com morte de
motociclista em via pública municipal mal conservada - Ocorrência de 4.6 Caso Fortuito e Força Maior.
outros acidentes no mesmo local - Força maior não configurada - Culpa
concorrente da vítima, por não usar capacete - Redução, em 25%, da A doutrina e jurisprudência majoritárias entendem, conforme reiterada-
pensão devida à viúva e filhos - Procedência". mente temos afirmado, que o Estado responde pelos danos causados pela
Administração de acordo com a teoria do risco administrativo. Esta teoria
Ambos os acórdãos mitigam a responsabilidade estatal mediante a a- permite acatar o caso fortuito e a força maior como excludentes da respon-
doção da teoria do rico administrativo, que exige a comprovação do liame sabilidade do Estado, por romperem o nexo de causalidade entre a ação do
de causalidade para a imputação do dever de indenizar ao Estado. agente administrativo e a produção do resultado.
4.5 O Fato de Terceiro. PONTES DE MIRANDA, ao tratar do assunto, lembrava que o Estado,
em princípio, responderia objetivamente pela hipótese prevista nos artigo
De forma análoga ao fato exclusivo da vítima, o fato de terceiro, que 1529 do Código Civil, exceção ao princípio da responsabilidade subjetiva,
por si só provoca o evento danoso, não é de responsabilidade do Estado, que rege a interpretação das demais normas do Código, conforme o artigo
pois a adoção pela doutrina pátria da teoria do risco administrativo exige a 159 da Parte Geral. Nada obstante, seu parecer nestas hipóteses salienta-
relação de causalidade entre a atuação do agente público e o resultado va que "não há responsabilidade se a queda resultou de força maior, que
danoso. Assim, entende Hely Lopes MEIRELLES que "o legislador constitu- foi a causa única, como terremoto ou o bombardeio aéreo".
inte (...) não responsabilizou objetivamente a Administração por atos preda-
tórios de terceiros". E enfatiza seu argumento empiricamente: "Daí porque a Ainda que a distinção entre caso fortuito e força maior apresente-se
jurisprudência, mui acertadamente, tem exigido a prova de culpa da Admi- plena de controvérsias e incertezas, e que não poucas vezes os termos
nistração nos casos de depredação por multidões" Cumpre-se ressaltar sejam utilizados como sinônimos, deve-se ressalvar que parte da doutrina
que, nestes casos, o fato do terceiro, em relação ao Estado, assemelha-se vislumbra profunda diferenças ademais da terminologia, levando inclusive a
ao caso fortuito e à força maior, daí porque se deva provar, consoante consequências díspares. Delineamos, a seguir, o argumento daqueles a
doutrina mais moderna, não a culpa, mas a existência de um nexo de quem a distinção apresenta-se relevante:
causalidade entre a omissão do poder público e o sofrimento de dano
injusto. Facilita-se o ressarcimento da vítima, que não tem de demonstrar a "(...) se a força maior decorre de um fato externo, estranho ao serviço,
negligência do poder público. o caso fortuito provém do seu mau funcionamento, de uma causa interna,
inerente ao próprio serviço; admite-se, por conseguinte, a exclusão da
A este respeito, destacamos interessante acórdão proferido pelo Pri- responsabilidade no caso de força maior, subsistindo, entretanto, no caso
meiro Tribunal de Alçada Cível de São Paulo.[88] Tratava-se da morte de fortuito, por estar incluído este último no risco do serviço; na força maior,
menor que subiu em entulho que obstruía passagem pela calçada, deixado nenhuma interferência tem a vontade humana, nem próxima nem remota-
por particular que fazia obras em sua casa. A criança desequilibrou-se e mente, enquanto que, no caso fortuito, a vontade apareceria na organiza-
caiu na pista de rolamento, onde veio a ser atropelada e morta por ônibus. ção e no funcionamento do serviço".
Pleiteava o autor responsabilidade da Prefeitura Municipal de Capivari, por
haver se omitido na dever de fiscalização. Entendeu, todavia, a Terceira Entendeu certa feita o Tribunal de Justiça de São Paulo que enchente
Turma do Egrégio Tribunal, em seu acórdão, que: provocada por chuvas fortes e bueiros entupidos não caracteriza caso
fortuito, por ser previsível a ocorrência de chuvas àquela época do ano,
"Todavia, não pode a Municipalidade ser responsabilizada pela indeni- sendo dever da Administração manter os bueiros da cidade desobstruídos.
zação porque os promotores da reforma em imóvel particular descumpriram Seguindo a orientação supramencionada, não libertou o poder público do
dispositivo do Código de Obras, que proíbe a ocupação de qualquer parte dever de indenizar, por ausência de causa excludente da responsabilidade.
da via pública com materiais de construção."
"Responsabilidade civil do Estado - Morte de filho menor e danos em
E evoca a ideia de que ainda que restasse comprovada a omissão da imóvel decorrentes de inundação - Evento ocorrido, não pelo excesso de
Administração em seu dever de fiscalização, mesmo nesta hipótese não chuvas, mas pela má conservação de bueiros e do leito do rio, por parte do
caberia responsabilizar a Prefeitura, pois a omissão não seria causa eficien- Município - Inexistência de caso fortuito - Indenização de um terço do
te à produção do dano, faltando, por isso, o elemento indispensável da salário mínimo até quando a vítima completasse vinte e cinco anos - Pro-
causalidade. Assim, vejamos: cedência".
"No caso, o acidente ocorreu não porque a Prefeitura deixou de fiscali- Portanto, observa-se que para o Estado eximir-se de seu dever de in-
zar o local, ou não puniu o responsável, mas sim porque este obstruiu o denizar, mister é que a ausência de nexo causal impossibilite qualquer
passeio com materiais de construção, que dificultavam, senão impediam a atribuição de responsabilidade a ele. A jurisprudência concede especial
passagem de pedestres". atenção à característica de imprevisibilidade do dano, sem o que não se há
como falar em caso fortuito ou força maior. Caso não restem comprovados,
Desta forma, entendeu-se não ser dever do Estado, mas sim do parti- deverá o Estado responder, em benefício da vítima, que não deve ver o
cular, indenizar os autores da ação. Foi então a empresa dona da proprie- prejuízo que sofreu restar irressarcido.
dade em que se realizava a obra condenada a pagar a metade da indeni-
zação fixada, por ter entendido o Egrégio Tribunal haver existido culpa Admite-se, outrossim, que a ocorrência de um fenômeno da natureza,
concorrente da vítima, a qual fora imprudente ao tentar transpor o obstáculo não obstante seja insuficiente para excluir o dever indenizatório por parte
correndo. do Estado, possa influenciar na determinação da quantia devida, ao ser
admitido como uma das causas eficientes para o dano. Nestas hipóteses, o
Observe-se outro julgado interessante, em que o Estado não foi con- liame de causalidade a conectar o evento danoso à atuação da Administra-
denado a ressarcir os danos, por haverem entendido os magistrados faltar ção é mitigado pela concorrência de causas. Observe-se, como exemplo, a
nexo de causalidade, por ter o evento danoso decorrido de fato de terceiro. seguinte ementa:
"Responsabilidade civil do Estado - Acidente de trânsito - Capotamento "Responsabilidade civil do Estado - Danos causados a estabelecimento
de veículo em via pública urbana quando motorista desviou de animais comercial pelo transbordamento das águas do rio Tamanduateí - Coexis-
bovinos - demonstração de que a Prefeitura cumpre seu papel de retirar tência de fatores na provocação do evento: interveniência de fenômenos
animais das vias públicas - Responsabilidade, a rigor, do proprietário do naturais e mau funcionamento no serviço público - Redução do quantum
animal - Improcedência - CF/88, art. 37, §6o." indenizatório. A coexistência de tantos fatores no evento impõe a redução
Entendeu, portanto, o 1o Tribunal de Alçada Cível de São Paulo, que do quantum indenizatório. É o que a doutrina mais recente vem recomen-
fora a negligência do dono do proprietário que causara o acidente, pois a dando".
este cabia zelar para que seu animal não invadisse a via pública (art. 1527 Conclusão.

Direito Administrativo 24 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
A responsabilidade civil do Estado é um instituto essencial à constru- Federal e dos Territórios”, passando os militares das Forças Armadas a ser
ção do Estado Democrático de Direito, pois assegura os direitos do cidadão disciplinados exclusivamente no cap. II, “Das Forças Armadas”, do tít. V,
face a um injusto dano causado pelo poder público a seu patrimônio. Sua mediante o acréscimo do § 3º ao art. 142 da CF. O regime jurídico único
objetivação coaduna-se com a doutrina mais moderna, que almeja facilitar previsto pela
o ressarcimento do lesionado pelo agir dos agentes públicos, mediante a Carta de 1988, que tanta polemica causou, também foi abolido pela EC
dispensa da prova de culpa. Insere-se dentro do respeito que os agentes 19.
de um governo que se pretende representante da soberania popular (art. 1o A Carta de 1988 estendeu diversos direitos dos trabalhadores
, p. único, da CRFB/88) estão obrigados a dispensar a seus cidadãos, urbanos e rurais aos servidores públicos civis (art. 39, § 3º). Como o Autor
garantia de que manter-se-ão dentro dos limites da legalidade no desem- havia advertido, essa extensão, pelas dificuldades impostas aos Estados e
penho de suas funções, e de que, ainda nessas hipóteses, caso seja im- Municípios, provocou reações que culminaram com as modificações
prescindível o sacrifício de um direito particular em prol do bem comum, determinadas pela EC 19, que suprimiu as vantagens previstas nos incs. VI
aquele será prontamente ressarcido, pois atentaria contra a liberdade e a e XXIII do art. 70, além de estabelecer que a lei poderá estabelecer
igualdade entre os cidadãos que um indivíduo pudesse ser privado de uma requisitos diferenciados de admissão, de acordo com a natureza ou a
parcela de seu patrimônio sem uma respectiva compensação. complexidade do cargo ou emprego.
Não se confunde o acima exposto com a adoção de uma teoria do Es- A EC 20 também modificou profundamente a previdência social
tado de Direito individualista, nos moldes dos criados ao final do século concernente aos servidores, efetuando nítida distinção entre o servidor
XVIII. Ao contrário, os Estados Democráticos contemporâneos preveem a titular de cargo vitalício e efetivo e os demais servidores, titulares de outros
limitação de direitos individuais em prol de interesses sociais, desde que cargos ou de empregos públicos. Na sequência, a EC 41/2003 trouxe
atendidos os critérios da proporcionalidade e da razoabilidade, e que os novas e significativas alterações na parte relativa ao teto remuneratório e
indivíduos que venham a sofrer um dano pelo agir da Administração pos- ao sistema de previdência social. Por sua vez, a EC 47, que entrou em
sam ser ressarcidos na justa medida de seus prejuízos. vigor em 6.7.2005, data da sua publicação, mas com efeitos retroativos à
data de vigência da EC 4 1/2003, modificou esses dois pontos.
Desta forma, perece-nos irretocável o sentido que têm dado doutrina e
jurisprudência ao disposto no §6o do artigo 37 da Carta Constitucional Por fim, ante tantas e profundas alterações, a inevitável questão
vigente. A adoção da teoria do risco administrativo, sem os extremos a que pertinente ao direito adquirido será tratada no fim deste capítulo.
levaria a adoção do risco integral, tem se mostrado suficiente a manter o Classificação na Constituição
respeito pela cidadania, pelos valores sociais do trabalho e da livre iniciati-
Servidores públicos em sentido amplo, no nosso entender, são
va, e pela dignidade da pessoa humana, princípios fundamentais do Estado
todos os agentes públicos que se vinculam à Administração Pública, direta
brasileiro (art. 1o da CRFB/88). São, outrossim, preservados da ingerência
e indireta, do Estado, sob regime jurídico (a) estatutário regular, geral ou
estatal os direitos fundamentais de todos, invioláveis consoante o artigo 5o
peculiar, ou (b) administrativo especial, ou (c) celetista (regido pela
da Carta Magna.
Consolidação das Leis do Trabalho — CLT), de natureza profissional e
Ação regressiva empregatícia.
Não raro, pessoas são obrigadas a suportar ônus resultantes de situa- A classificação dos servidores públicos em sentido amplo é campo
ções que foram causadas, total ou parcialmente, por terceiros. Estes ônus propício para divergências doutrinárias. De acordo com a Constituição
lhes cabem, a princípio, pela responsabilidade objetiva a que estão sujeito Federal, na redação resultante da EC 19, chamada de “Emenda da
ou simplesmente pela situação de fato que se impõe. Reforma Administrativa”, bem como da EC 20, classificam-se em quatro
espécies: agentes políticos, servidores públicos em sentido es frito ou
Apesar de, num primeiro momento, arcarem com os ônus de tal fato, a estatutários, empregados públicos e os contratados por tempo
lei lhes dá o direito de, regressivamente, receber do verdadeiro culpado determinado.
aquilo que despenderam. Reitere-se que a classificação ora proposta procura espelhar a
Esta regressividade se dá através da chamada ação regressiva. sistemática da Carta Política, com a ressalva de que esta, nas seçs. I e II
do cap. VII (“Da Administração Pública”), embora trate de forma
preponderante dos servidores públicos em sentido estrito, também contém
vários dispositivos aplicáveis às demais espécies.
4. Agentes Públicos: regimes jurídicos funcionais; servidores públi-
cos; normas constitucionais específicas concernentes aos servidores Os agentes políticos constituem, na realidade, categoria própria de
públicos; direitos e deveres dos servidores públicos; responsabilida- agente público. Porém, sem dúvida, no título e seções referidas, a Carta
des dos servidores públicos; concurso público; acessibilidade, estabi- Magna, para fins de tratamento jurídico, coloca-os como se fossem
lidade, remuneração e acumulação de cargos e funções; Poder Disci- servidores públicos, sem embargo de os ter como agentes políticos, como
plinar Administrativo dos Servidores Públicos. se verá mais adiante. Todos os cargos vitalícios são ocupados por agentes
políticos, porém estes também ocupam cargos em comissão, como os
Ministros de Estado. Normalmente deverão ser regidos pelo regime
SERVIDORES PÚBLICOS estatutário, contudo alguns estão obrigatoriamente submetidos a um regime
Considerações gerais estatutário de natureza peculiar, a exemplo da Magistratura e do Ministério
Servidores públicos Público.
Os servidores públicos constituem subespécies dos agentes pú- Os servidores públicos em sentido estrito ou estatutários são os
blicos administrativos, categoria que abrange a grande massa de prestado- titulares de cargo público efetivo e em comissão, com regime jurídico
res de serviços à Administração e a ela vinculados por relações profissio- estatutário geral ou peculiar e integrantes da Administração direta, das
nais, em razão de investidura em cargos e funções, a título de emprego e autarquias e das fundações públicas com personalidade de Direito Público.
com retribuição pecuniária. Tratando-se de cargo efetivo, seus titulares podem adquirir estabilidade e
estarão sujeitos a regime peculiar de previdência social.
A Constituição de 1988, corrigindo a anterior, abriu a seç. II do seu
cap. VII com a epígrafe “Dos servidores públicos civis”, no que andou bem, Os empregados públicos são todos os titulares de emprego público
porque seus dispositivos englobam todos os que prestam serviços à Admi- (não de cargo público) da Administração direta e indireta, sujeitos ao regime
nistração em geral. Nesta seção a Constituição reformulou o tratamento do jurídico da CLT; daí serem chamados também de “celetistas”. Não
pessoal do serviço público civil, separando-o dos militares (seç. III). Estas ocupando cargo público e sendo celetistas, não têm condição de adquirir a
seçs. II e III e outras normas da Constituição de 1988 concernentes aos estabilidade constitucional (CF, art. 41), nem podem ser submetidos ao
servidores públicos civis e militares foram profundamente modificadas regime de previdência peculiar, como os titulares de cargo efetivo e os
pelas EC 18, 19 e 20, publicadas, respectivamente, em 6.2.98, 5.6.98 e agentes políticos, sendo obrigatoriamente enquadrados no regime geral de
16.12.98, e, agora, pela EC 41, de 19.12.2003, publicada em 3 1.12.2003. previdência social, a exemplo dos titulares de cargo em comissão ou
temporário. Salvo para as funções de confiança e de direção, a serem
Assim, pela EC 18, a seç. II passou a denominar-se “Dos
previstas à luz dos princípios de eficiência e razoabilidade nos respectivos
servidores públicos”, e a seç. III, “Dos militares dos Estados, do Distrito

Direito Administrativo 25 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
quadros de pessoal das pessoas jurídicas da Administração indireta (na esclarecer que a norma não obriga à publicação de quanto percebe cada
Administração direta, autárquica e fundacional as funções de confiança só servidor, mas dos valores dos cargos e dos empregos públicos.
podem ser exercidas por ocupantes de cargo efetivo — art. 37, V), os
empregados públicos devem ser admitidos mediante concurso ou processo Organização do serviço público
seletivo público, de modo a assegurar a todos a possibilidade de As entidades estatais são livres para organizar seu pessoal para o
participação. melhor atendimento dos serviços a seu cargo, mas há três regras
Os contratados por tempo determinado são os servidores públicos fundamentais que não podem postergar: a que exige que a organização se
submetidos ao regime jurídico administrativo especial da lei prevista no art. faça por lei; a que prevê a competência exclusiva da entidade ou Poder
37, IX, da Carta Magna, bem como ao regime geral de previdência social. A interessado; e a que impõe a observância das normas constitucionais
contratação só pode ser por tempo determinado e com a finalidade de federais pertinentes aos servidores públicos e das leis federais, de caráter
atender a necessidade temporária de excepcional interesse público. nacional. Vejamos separadamente cada uma dessas regras.
Ademais, a lei deve prever os casos de contratação temporária de forma
especifica, não se admitindo hipóteses abrangentes ou genéricas. O inc. IX
Organização legal
não se refere exclusivamente às atividades de natureza eventual, A organização legal do serviço público é exigida pela Constituição
temporária ou excepcional. Assim, não veda a contratação para atividades ao permitir a acessibilidade dos “cargos, empregos e funções públicas” a
de natureza regular e permanentes. O que importa é o atendimento da todos os brasileiros “que preencham os requisitos estabelecidos em lei”,
finalidade prevista pela Norma. Assim, “desde que indispensáveis ao assim como aos estrangeiros, na forma da lei (art. 37, I). A parte final do
atendimento de necessidade temporária de excepcional interesse público, dispositivo refere-se expressamente à lei. Isto significa que todo cargo
quer para o desempenho das atividades de caráter eventual, temporário ou público só pode ser criado e modificado por norma legal aprovada pelo
excepcional, quer para o desempenho das atividades de caráter regular ou Legislativo. Todavia, o Executivo pode, por ato próprio, extinguir cargos
permanente”, a contratação é permitida. Desta forma, embora não possa públicos, na forma da lei (CF, art. 84, XXV), competindo-lhe, ainda, provê-
envolver cargos típicos de carreira, a contratação pode envolver o los e regulamentar seu exercício, bem como praticar todos os atos relativos
desempenho da atividade ou função da carreira, desde que atendidos os aos servidores (nomeação, demissão, remoção, promoção, punição,
requisitos acima. Fora daí, tal contratação tende a contornar a exigência de lotação, concessão de férias, assistência à saúde, licença médica,
concurso público, caracterizando fraude à Constituição. aposentadoria etc.).
Na organização do serviço público a Administração cria cargos e
Regime jurídico funções, institui classes e carreiras, faz provimentos e lotações, estabelece
O regime jurídico dos servidores civis consubstancia os preceitos vencimentos e vantagens e delimita os deveres e direitos de seus
legais sobre a acessibilidade aos cargos públicos, a investidura em cargo servidores.
efetivo (por concurso público) e em comissão, as nomeações para funções
de confiança; os deveres e direitos dos servidores; a promoção e Conselhos de política de administração e remu-
respectivos critérios; o sistema remuneratório (subsídios ou remuneração, neração de pessoal. Escolas de governo
envolvendo os vencimentos, com as especificações das vantagens de
Como acentuado, a EC 19 deu ao art. 39, caput, da CF conteúdo
ordem pecuniária, os salários e as reposições pecuniárias); as penalidades
totalmente diverso, afastando, de um lado, a exigência de um regime
e sua aplicação; o processo administrativo; e a aposentadoria.
jurídico único para os servidores e acrescentando, de outro, a
Como vimos, a EC 19, ao dar conteúdo totalmente diverso ao art. obrigatoriedade de a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
39, caput, e ao alterar a redação do art. 206, V, suprimiu a obrigatoriedade instituírem, no âmbito de suas Administrações, conselho de política de
de um regime jurídico Único para todos os servidores públicos. administração e remuneração de pessoal, integrado por servidores
Assim, o regime jurídico pode ser estatutário, celetista (o da CLT) e designados pelos respectivos Poderes.
administrativo especial. A composição entre os Poderes deverá ser paritária e é
Em consequência, em razão de suas autonomias políticas, a recomendável que seus integrantes tenham investidura a termo certo, para
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios podem estabelecer terem maior independência na formulação da política pretendida pela
regime jurídico não contratual para os titulares de cargo público, sempre norma constitucional. Desse conselho também deverão participar
através de lei geral ou de leis específicas para determinadas categorias integrantes do Tribunal de Contas e do Ministério Público, uma vez que
profissionais, as quais consubstanciam o chamado regime estatutário estes órgãos constitucionais autônomos e independentes têm competência
regular, geral ou peculiar. Podem, ainda, adotar para parte de seus para a iniciativa de leis a respeito de sua Administração e da remuneração
servidores o regime da CLT. Por fim, devem adotar um de natureza de seus membros e pessoal. Aliás, quanto ao último, a redação do § 2º do
administrativa especial, na forma da lei de cada pessoa política, prevista art. 127 da CF assegura-lhe autonomia na formulação de sua política
pelo art. 37, IX, da CF, para a contratação por tempo determinado para remuneratória e planos de carreira. Assim, se, de um lado, estes órgãos
atender a necessidade temporária de excepcional interesse público. têm competência para a formulação de suas políticas, não podem, de outro,
Mister, no entretanto, ter presente que alguns servidores públicos, estar divorciados da política geral pretendida pela EC 19, e que deve
por exercerem atribuições exclusivas de Estado, submetem-se, decorrer justamente das diretrizes desse conselho. Não podem também
obrigatoriamente, a regime jurídico estatutário, pois, como se depreende do deixar de considerar os comandos do art. 169 e da CF.
art. 247 da CF, com a redação da EC 19, devem ter cargo efetivo, sendo Obrigou, ainda, pelo § 2º do art. 39, a União, os Estados e o
certo que alguns, como os membros da Magistratura e do Ministério Público Distrito Federal — não os Municípios — a instituir e manter escolas de
e os Conselheiros dos Tribunais de Contas, têm, também por força da governo para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores públicos,
própria Carta Magna, cargo vitalício. Depreende-se, também, do exposto, facultada a celebração de convênios ou contratos entre os entes federados.
que certas categorias de servidores públicos têm necessariamente regimes Tal ressalva era desnecessária, pois, de regra, os entes federados podem
jurídicos peculiares, de natureza estatutária. celebrar convênios e contratos. Parece-nos que a ressalva objetiva
O legislador deverá adotar cautela extrema na elaboração desses estimular a celebração de convênios e contratos, como meio de
regimes jurídicos diferenciados, uma vez que no passado tal aspecto gerou racionalização desse encargo para aquelas pessoas políticas, que, dessa
e ainda gera inúmeras disputas judiciais, que, além da insegurança jurídica forma, poderão manter suas escolas de governo sem que, para tanto,
para a própria pessoa política, acabam causando vantagens muitas vezes tenham que construí-las ou admitir servidores. É, portanto, instrumento de
por ela não pretendidas. eficiência e economia, mesmo porque o objetivo maior da reforma é
Querendo atender ao princípio da publicidade e assegurar um propiciar redução de gastos. Os Municípios, embora não obrigados,
controle sobre os valores percebidos pelos servidores públicos em geral, o poderão instituir suas escolas; contudo, pelo que se expôs, é-lhes muito
art. 39, § 6º, da CF, na redação da EC 19, determina que os Poderes mais conveniente a celebração de convênios e contratos para esse fim.
Executivo, Legislativo e Judiciário publiquem “anualmente os valores do Convém observar que alguns órgãos constitucionais, em razão de suas
subsídio e da remuneração dos cargos e empregos públicos” — obrigação atribuições, poderão ter escolas próprias, como, a título de exemplo, ocorre
que, obviamente, se estende ao Ministério Público e aos Tribunais de com a Magistratura, o Ministério Público, a Advocacia Pública e os órgãos
Contas, órgãos constitucionais autônomos e independentes. É importante de fiscalização tributária.

Direito Administrativo 26 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
Cargos e funções mínimos, deverá observar o princípio da razoabilidade, sob pena de fraudar
Cargo público é o lugar instituído na organização do serviço a determinação constitucional, no sentido de uma parte dos cargos em
público, com denominação própria, atribuições e responsabilidades comissão ser provida de forma totalmente livre e outra, parcialmente, diante
específicas e estipêndio correspondente, para ser provido e exercido por das limitações e condições previstas nessa lei. A instituição de tais cargos é
um titular, na forma estabelecida em lei. Função é a atribuição ou o permanente, mas seu desempenho é sempre precário, pois quem os
conjunto de atribuições que a Administração confere a cada categoria exerce não adquire direito à continuidade na função, mesmo porque a
profissional ou comete individualmente a determinados servidores para a exerce por confiança do superior hierárquico; daí a livre nomeação e
execução de serviços eventuais, sendo comumente remunerada através de exoneração.
pro labore. Diferenciase, basicamente, do cargo em comissão pelo fato de Cargo de chefia — É o que se destina à direção de serviços.
não titularizar cargo público. Pode ser de carreira ou isolado, de provimento efetivo ou em comissão,
Em face da EC 19, as funções de confiança, que só podem ser tudo dependendo da lei que o instituir.
exercidas por servidores ocupantes de cargo efetivo, destinam-se, Lotação — É o número de servidores que devem ter exercício em
obrigatoriamente, apenas às atribuições de direção, chefia e cada repartição ou serviço. A lotação pode ser numérica ou básica e
assessoramento (CF, art. 37, V), que são de natureza permanente. Tal nominal ou supletiva: a primeira corresponde aos cargos e funções
comando independe de lei, uma vez que o exame desse art. 37, V, revela atribuídos às várias unidades administrativas; a segunda importa a
que para as funções de confiança ele é de eficácia plena, ao reverso do distribuição nominal dos servidores para cada repartição, a fim de
que ocorre em relação aos cargos em comissão, a serem preenchidos por preencher os claros do quadro numérico. Ambas são atos administrativos
servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos típicos e, como tais, da competência privativa do Executivo, no que
previstos em lei, como ali está dito. Essas funções, por serem de confiança, concerne aos serviços. Por lei se instituem os cargos e funções; por
a exemplo dos cargos em comissão, são de livre nomeação e exoneração. decreto se movimentam os servidores, segundo as necessidades do
Todo cargo tem função, mas pode haver função sem cargo. As serviço. A lotação e a relotação constituem prerrogativas do Executivo,
funções do cargo são definitivas; as funções autônomas são, por índole, contra as quais não se podem opor os servidores, desde que feitas na
provisórias, dada a transitoriedade do serviço que visam a atender, como forma estatutária. Na omissão da lei, entende-se amplo e discricionário o
ocorre nos casos de contratação por prazo determinado (CF, art. 37, IX). poder de movimentação dos servidores, por ato do Executivo, no interesse
Daí por que as funções permanentes da Administração só podem ser do serviço, dentro do quadro a que pertencem.
desempenhadas pelos titulares de cargos efetivos, e as transitórias, por Criação, transformação e extinção de cargos,
servidores designados, admitidos ou contratados precariamente. Os
servidores podem estabilizar-se nos cargos, mas não nas funções. Como funções ou empregos públicos
visto, a EC 19 restringe o exercício das funções de confiança apenas para A criação, transformação e extinção de cargos, empregos e
o titular de cargo efetivo, vale dizer, o concursado. Dessa forma, o fator funções públicas do Poder Executivo exige lei de iniciativa privativa do
confiança fica restrito ao âmbito interno da Administração. Presidente da República, dos Governadores dos Estados e do Distrito
Os cargos distribuem-se em classes e carreiras, e Federal e dos Prefeitos Municipais, conforme seja federal, estadual ou
excepcionalmente criam-se isolados. municipal a Administração interessada, abrangendo a Administração direta,
Classe — É o agrupamento de cargos da mesma profissão, e com autárquica e fundacional (CF, art. 48, X, c/c o art. 61, § 1º, II, “d”). Com a
idênticas atribuições, responsabilidades e vencimentos. As classes EC 32/2001, ao Chefe do Executivo compete privativamente dispor sobre a
constituem os degraus de acesso na carreira. “extinção de funções ou cargos quando vagos” (CF, art. 84, VI, “b”). Assim,
Carreira — E o agrupamento de classes da mesma profissão ou não estando vago, a extinção depende de lei, também de sua iniciativa
atividade, escalonadas segundo a hierarquia do serviço, para acesso privativa.
privativo dos titulares dos cargos que a integram, mediante provimento A privatividade de iniciativa do Executivo toma inconstitucional o
originário. O conjunto de carreiras e de cargos isolados constitui o quadro projeto oriundo do Legislativo, ainda que sancionado e promulgado pelo
permanente do serviço dos diversos Poderes e órgãos da Administração Chefe do Executivo, porque as prerrogativas constitucionais são
Pública. As carreiras iniciam-se e terminam nos respectivos quadros. irrenunciáveis por seus titulares. Trata-se do princípio constitucional da
Quadro — É o conjunto de carreiras, cargos isolados e funções reserva de administração, que impede a ingerência do Poder Legislativo em
gratificadas de um mesmo serviço, órgão ou Poder. O quadro pode ser matéria administrativa de competência exclusiva do Poder Executivo ou,
permanente ou provisório, mas sempre estanque, não admitindo promoção mesmo, do Judiciário.
ou acesso de um para outro. A transformação de cargos, funções ou empregos do Executivo é
Cargo de carreira — E o que se escalona em classes, para admissível desde que realizada por lei de sua iniciativa. Pela transformação
acesso privativo de seus titulares, até o da mais alta hierarquia profissional. extinguem-se os cargos anteriores e se criam os novos, que serão providos
por concurso ou por simples enquadramento dos servidores já integrantes
Cargo isolado — É o que não se escalona em classes, por ser o
da Administração, mediante apostila de seus títulos de nomeação. Assim, a
único na sua categoria. Os cargos isolados constituem exceção no
investidura nos novos cargos poderá ser originária (para os estranhos ao
funcionalismo, porque a hierarquia administrativa exige escalonamento das
serviço público) ou derivada (para os servidores que forem enquadrados),
funções para aprimoramento do serviço e estímulo aos servidores, através
desde que preencham os requisitos da lei. Também podem ser
da promoção vertical. Não é o arbítrio do legislador que deve predominar
transformadas funções em cargos, observados o procedimento legal e a
na criação de cargos isolados, mas sim a natureza da função e as
investidura originária ou derivada, na forma da lei. Todavia, se a
exigências do serviço.
transformação “implicar em alteração do título e das atribuições do cargo,
Cargo técnico — É o que exige conhecimentos profissionais configura novo provimento”, que exige o concurso público.
especializados para seu desempenho, dada a natureza científica ou
No Poder Executivo a extinção de cargos, funções ou empregos só
artística das funções que encerra. Nesta acepção é que o art. 37, XVI, “b”,
pode ser feita por lei de sua iniciativa ou por ato próprio (CF, art. 84, XXV),
da CF o emprega, sinonimizando-o com cargo científico, para efeito de
removendo-se seus titulares para cargos, funções ou empregos equivalen-
acumulação.
tes. Se se tratar de servidor estável, extinto o cargo, será ele colocado em
Cargo em comissão — E o que só admite provimento em caráter disponibilidade com remuneração proporcional ao tempo de serviço, até
provisório. São declarados em lei de livre nomeação (sem concurso seu adequado aproveitamento em outro cargo (CF, art. 41, § 3º). Antes da
público) e exoneração (art. 37, II), destinando-se apenas às atribuições de EC 19 a remuneração era integral.
direção, chefia e assessoramento (CF, art. 37, V). Todavia, pela EC 19, o
As leis de criação, transformação e extinção de cargos, funções ou
preenchimento de uma parcela dos cargos em comissão dar-se-á
empregos, ainda que dependam de iniciativa do Poder competente, podem
unicamente por servidores de carreira, nos casos, condições e percentuais
sofrer emendas do Legislativo, desde que não ultrapassem os limites
mínimos previstos em lei (art. 37, V). Portanto, nestas hipóteses o
qualitativos (natureza ou espécie, ou seja, estreita pertinência com o objeto
provimento não será totalmente livre, como ocorre com os não servidores,
do projeto) e quantitativos da proposta, nem desfigurem o projeto original.
isto é, os sem vínculo efetivo anterior à nomeação. A lei ali referida será de
Negar totalmente o poder de emenda é suprimir uma prerrogativa
cada entidade política, mas, especialmente na fixação dos percentuais

Direito Administrativo 27 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
institucional do Legislativo, mas permiti-lo sem limites é invalidar o controle concerne a seus servidores. A lei só poderá estabelecer a forma e as
de um Poder sobre seus serviços e seu orçamento, cuja competência lhe é condições de provimento e desprovimento; não poderá, entretanto,
dada pela própria Constituição da República. Daí por que a Carta Magna concretizar investiduras ou indicar pessoas a serem nomeadas, porque isto
veda expressamente emendas que aumentem a despesa prevista na é missão do Executivo, indelegável ao Legislativo. O provimento feito por lei
proposta de iniciativa exclusiva do Chefe do Executivo (art. 63, I) e do é nulo, como nula é a criação ou modificação de cargo por decreto ou
Legislativo ou do Judiciário (art. 63, II). Essas colocações são também qualquer outro ato administrativo.
aplicáveis à Constituição Estadual e suas Emendas, bem como à Lei No âmbito do Legislativo, do Judiciário, do Tribunal de Contas e do
Orgânica Municipal, como tem proclamado o STF. Ministério Público o provimento e demais atos atinentes aos cargos e seus
Em que pese à Constituição proibir somente emendas que servidores devem ser da competência do respectivo Presidente ou do Pro-
aumentem a despesa prevista, entendemos também inadmissíveis as que curador-Geral, conforme o caso.
alterem, em qualidade (natureza ou espécie) ou quantidade, o cargo,
função ou emprego proposto pelo Poder competente. Direitos do titular do cargo
No Poder Legislativo a criação, transformação ou extinção de Os direitos do titular do cargo restringem-se ao seu exercício, às
cargos, empregos ou funções cabe à Câmara dos Deputados e ao Senado prerrogativas da função e ao subsídio ou aos vencimentos e vantagens
Federal, às Assembléias Legislativas e às Câmaras de Vereadores, decorrentes da investidura, sem que o servidor tenha propriedade do lugar
respectiva-mente, que podem, no âmbito de sua competência privativa, que ocupa, visto que o cargo é inapropriável pelo servidor. Daí por que a
“dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, Administração pode suprimir, transformar e alterar os cargos públicos ou
transformação ou extinção de cargos, empregos e funções de seus serviços independentemente da aquiescência de seu titular, uma vez que o
serviços, e a iniciativa de lei para a fixação da respectiva remuneração, servidor não tem direito adquirido à imutabilidade de suas atribuições, nem
observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias” à continuidade de suas funções originárias. A lei posterior pode extinguir e
(CF, arts. 51, IV, e 52, XIII). Esses atos de criação, transformação ou alterar cargos e funções de quaisquer titulares — vitalícios, estáveis e
extinção de cargos, funções ou empregos devem ser efetuados por instáveis.
resolução, como se infere da interpretação do art. 48, c/c os arts. 51 e 52, O servidor poderá adquirir direito à permanência no serviço
da CF. Todavia, a fixação ou a alteração de vencimentos só pode ser público, mas não adquirirá nunca direito ao exercício da mesma função, no
efetuada mediante lei específica, sujeita, evidentemente, a sanção (CF, art. mesmo lugar e nas mesmas condições, salvo os vitalícios, que constituem
37, X). Não, porém, a fixação dos subsídios dos Deputados Federais e uma exceção constitucional à regra estatutária. O poder de organizar e
Senadores, do Presidente e do Vice-Presidente e dos Ministros de Estado, reorganizar os serviços públicos, de lotar e relotar servidores, de criar e
uma vez que tal matéria, por força do art. 49, VII e VIII, está entre aquelas extinguir cargos, é indespojável da Administração, por inerente à soberania
de “competência exclusiva do Congresso Nacional”, para as quais não se interna do próprio Estado.
exige sanção, o que constitui exceção à regra introduzida pela Reforma Enquanto subsistir o cargo, como foi provido, seu titular terá direito
Administrativa, de que a fixação ou maj oração de subsidio e vencimentos ao exercício nas condições estabelecidas pelo estatuto; mas, se se
está sujeita ao princípio da reserva legal especifica. modificarem a estrutura, as atribuições, os requisitos para seu
No Poder Judiciário a criação e a extinção de cargos e a desempenho, lícitas são a exoneração, a disponibilidade, a remoção ou a
remuneração dos seus serviços auxiliares e dos juízos que lhes forem transferência de seu ocupante, para que outro o desempenhe na forma da
vinculados, bem como afixação do subsídio de seus membros e dos juizes, lei. O que não se admite é o afastamento arbitrário ou abusivo do titular, por
inclusive dos tribunais inferiores, observado o disposto no art. 169 da CF, ato do Executivo, sem lei que o autorize.
dependem de lei de iniciativa privativa do STF, dos Tribunais Superiores e
dos Tribunais de Justiça (CF, art. 96, II, “b”), salvo no tocante aos subsídios
Acesso a informações privilegiadas
dos Ministros do STF, cuja fixação deve observar o disposto no art. 48, XV, O acesso a informações privilegiadas em razão do exercício de
da Carta. cargo ou emprego público é questão que sempre preocupou o Governo e
Os Tribunais de Contas, embora órgãos auxiliares do Poder os estudiosos, por envolver, inclusive, a moralidade administrativa. Agora,
Legislativo, por serem órgãos constitucionais autônomos e independentes, segundo o art. 37, § 7º, da CF, com a redação da EC 19, “a lei disporá
têm quadro próprio de pessoal e exercem, “no que couber, as atribuições sobre os requisitos e as restrições ao ocupante de cargo ou emprego da
previstas no art. 96” (CF, art. 73), acima examinadas. Administração direta e indireta que possibilite” aquele acesso. Essa lei será
de caráter nacional.
Quanto ao Ministério Público, a Constituição de 1988 estendeu-lhe a
faculdade de propor a criação e extinção de seus cargos e serviços auxilia- O objetivo é estatuir um verdadeiro código de conduta para
res. Agora, com a EC 19 também ficou assente sua competência para pro- aqueles agentes públicos que pelo só exercício de suas funções tenham
por ao Poder Legislativo a sua política remuneratória (CF, art. 127, § 2º), o acesso a informações privilegiadas sobre programas e atividades do
que o STF já havia proclamado. Governo relativas a qualquer campo, como o tecnológico, o industrial, o das
finanças públicas, inclusive câmbio, o comercial e societário, o da
Provimento de cargos segurança nacional ou qualquer outro que o possibilite.
Provimento é o ato pelo qual se efetua o preenchimento do cargo As restrições devem ocorrer quer durante, quer após o exercício
público, com a designação de seu titular. O provimento pode ser originário da função, durante o tempo a ser fixado de acordo com as nuanças de
ou inicial e derivado. Provimento inicial é o que se faz através de cada cargo ou emprego público. A restrição ao exercício de determinadas
nomeação, que pressupõe a inexistência de vinculação entre a situação de atividades ou empregos após os da atividade pública deverá ser
serviço anterior do nomeado e o preenchimento do cargo. Assim, tanto é estabelecida com razoabilidade, para que não se contrariem outros
provimento inicial a nomeação de pessoa estranha aos quadros do serviço dispositivos constitucionais, como o que assegura o livre exercício de
público quanto a de outra que já exercia função pública como ocupante de “qualquer trabalho, oficio ou profissão” (CF, art. 5º, XIII).
cargo não vinculado àquele para o qual foi nomeada. Já, o provimento
derivado, que se faz por transferência, promoção, remoção, acesso, Competência para organizar o serviço público
reintegração, readmissão, enquadramento, aproveitamento ou reversão, é A competência para organizar o serviço público é da entidade
sempre uma alteração na situação de serviço do provido. estatal a que pertence o respectivo serviço. Sobre esta matéria as
Em razão do art. 37, II, da CF, qualquer investidura em carreira competências são estanques e incomunicáveis. As normas estatutárias
diversa daquela em que o servidor ingressou por concurso é, hoje, vedada. federais não se aplicam aos servidores estaduais ou municipais, nem as do
Acrescente-se que a única reinvestidura permitida sem concurso é a Estado-membro se estendem aos servidores dos Municípios.
reintegração, decorrente da ilegalidade do ato de demissão. Cada entidade estatal é autônoma para organizar seus serviços e
Em qualquer hipótese, porém, o provimento de cargos do compor seu pessoal. Atendidos os princípios constitucionais e os preceitos
Executivo é da competência exclusiva do Chefe deste Poder (CF, art. 84, das leis nacionais de caráter complementar, a União, os Estados-membros,
XXV), uma vez que a investidura é ato tipicamente administrativo. Por o Distrito Federal e os Municípios instituirão seus regimes jurídicos,
idêntica razão, a desinvestidura dos cargos e os exercícios dos poderes segundo suas conveniências administrativas e as forças de seus erários
hierárquico e disciplinar são da alçada privativa do Executivo no que (CF, arts. 39 e 169).

Direito Administrativo 28 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
Competência da União — A competência da União para organizar União e ao Estado-membro. As Constituições Estaduais e leis ordinárias
seu serviço público só encontra limites na Constituição da República e não que estabelecem essa extensão de vantagens do servidor público estadual
enseja conflito de normas, porque suas leis ordinárias jamais poderão ao municipal tiveram as respectivas disposições invalidadas, por
colidir, nesse campo, com a legislação dos Estados-membros, do Distrito inconstitucionais.
Federal e dos Municípios. A questão, porém, complica-se no âmbito esta- Competência do Distrito Federal — A competência do Distrito
dual e municipal, em face da superposição de normas de entidades Federal corresponde à prevista para os Estados e para os Municípios, por
diferentes e das diversas áreas de competência, nem sempre bem força do art. 32, § 1º, da CF. Assim, o que foi dito para essas duas
delimitadas e muitas vezes confundidas pelo administrador e pelo legislador entidades vale para o Distrito Federal.
das três entidades estatais.
A legislação federal, fora os casos expressamente previstos no Observância das normas constitucionais
texto constitucional, só atinge os servidores estaduais — do Distrito Federal Como já vimos, em razão de sua autonomia constitucional, as
e municipais — quando tem natureza jurídica de lei nacional. São dessa entidades estatais são competentes para organizar e manter seus
natureza, exemplificativamente, as que dispõem sobre crimes funcionais servidores, criando e extinguindo cargos, funções e empregos públicos,
(CP, arts. 312 a 327; CPP, arts. 513 a 518); inviolabilidade no exercício da instituindo carreiras e classes, fazendo provimentos e lotações,
função pública (CP, art. 142, III); perda da função pública e interdição de estabelecendo a remuneração, delimitando os seus deveres e direitos e
direitos (CP, arts. 92, I, e 47, I); facilitação culposa de conhecimento de fixando regras disciplinares. Os preceitos reguladores das relações jurídicas
segredo concernente à segurança nacional, revelação de segredo funcional entre a Administração e o servidor constituem o regime jurídico, explicitados
relacionado com operações anti-subversivas (Lei 6.620/78, arts. 29 e 37); nos decretos e regulamentos expedidos para sua fiel execução pelo Poder
sanções específicas, sequestro e perdimento de bens, pela prática de atos Executivo ou pelos demais Poderes, pelo Tribunal de Contas e pelo
de improbidade administrativa (Lei 8.429/92); coação eleitoral (Código Ministério Público, no exercício das suas respectivas administrações.
Eleitoral, art. 300); requisição para o serviço eleitoral (Código Eleitoral, arts. As disposições estatutárias ou de outra natureza, se outro for o
30, XIV, e 344); retardamento ou recusa de publicação em órgão oficial de regime jurídico, todavia, não podem contrariar o estabelecido na
atos da Justiça Eleitoral (Código Eleitoral, art. 341); proibição de uso de Constituição da República como normas gerais de observância obrigatória
serviços ou dependências públicas em beneficio de partido político (Código pela Administração direta e indireta, conforme o caso, na organização do
Eleitoral, arts. 346 e 377); proibição de nomeação e de remoção no período seu pessoal e dos respectivos regimes jurídicos. Sempre entendemos, com
pré e pós-eleitoral (Lei 6.091, de 15.8.74, art. 13); requisições e a melhor doutrina, que essas normas, mesmo no período anterior à
afastamentos de servidores públicos pela Justiça Eleitoral (Lei 6.999, de Constituição de 1988, eram impositivas para toda a Administração, em face
7.6.82); impedimentos e prazos de desincompatibilização (Lei do seu duplo objetivo. Realmente, ao instituí-las, a Constituição não visa
Complementar 64, de 18.5.90 — Lei das Inelegibilidades); requisição de unicamente ao resguardo dos interesses dos servidores, como
veículos e embarcações oficiais para o transporte gratuito de eleitores (Lei erroneamente se pensa. Não é assim. Juntamente com as garantias
6.091/74, art. 1º); acidente do trabalho (Lei 6.367, de 19.10.76); seguridade outorgadas aos servidores, o texto constitucional assegura ao Estado os
social (Lei 8.212, de 24.7.91); Programa de Formação do Patrimônio do meios para realizar uma boa administração, dentre os quais o poder-dever
Servidor Público — PASEP (Lei Complementar 8, de 3.12.70); de zelar pela eficiência, moralidade e aprimoramento do pessoal
obrigatoriedade de declaração de bens (Leis 8.429/92 e 8.730/93); conduta administrativo. É o que ocorre, p. ex., com o instituto da estabilidade, que, a
do servidor nas eleições (Lei 9.424/97). par de um direito, para o servidor titular de cargo efetivo, de permanência
Essa legislação federal bem como outras que tenham a mesma no serviço público enquanto bem servir, representa para a Administração a
natureza de leis nacionais são aplicáveis às entidades estatais — União, garantia de que nenhum servidor nomeado para cargo de provimento
Estados, Distrito Federal e Municípios —, obrigatoriamente, sem que se efetivo em virtude de concurso poderá subtrair-se ao estágio probatório de
possa falar em quebra das suas respectivas autonomias administrativas, três anos e a de que nenhum outro servidor titular de cargo em comissão
porque tais leis nacionais são hierarquicamente superiores, por força da poderá adquirir igual direito. Assim, não pode a Administração — federal,
própria Carta Magna. Aliás, o mesmo ocorre, por exemplo, com a lei estadual, municipal ou do Distrito Federal — ampliar o prazo do art. 41 da
nacional sobre normas gerais de licitação e contratos administrativos (Lei CF, pois estaria restringindo direito do servidor público; mas também não
8.666/93). pode diminuí-lo ou estendê-lo a outros servidores que não os efetivos
Competência do Estado-membro — A competência do Estado- nomeados por concurso, porque estaria renunciando a prerrogativas
membro é ampla, mas fica adstrita não só às normas pertinentes da constitucionais consideradas essenciais na relação Estado-agente
Constituição da República e aos preceitos das leis de caráter nacional, bem administrativo. Não sendo lícito ao Estado renunciar a essas prerrogativas,
como aos ditames especiais da Constituição Estadual, no que concerne ao seria nula e de nenhum efeito, portanto, a disposição estatutária em
seu pessoal. O estatuto dos servidores federais e demais normas desacordo com o preceito constitucional.
complementares e regulamentares não se aplicam aos servidores estaduais O exame dessas normas constitucionais deu ensejo a que o TJSP,
pela óbvia razão de que o Estado-membro é autônomo para organizar seus em sessão plenária, nos legasse esta magnífica lição de Direito Público:
serviços e compor seu pessoal. “Tais dispositivos não contêm somente garantia, benefícios aos
Competência do Município — A competência do Município para funcionários; têm uma acepção mais ampla, pois são as normas primordiais
organizar seu funcionalismo é consectário da autonomia administrativa de que regem as relações entre o Poder Público e seus agentes. Nessas
que dispõe (CF, art. 30, I). Assim, a exemplo dos Estados, atendidas as relações há sempre duas pessoas: uma de Direito Público — o Estado —,
normas constitucionais aplicáveis ao servidor público, os preceitos das leis outra, a individual do funcionário. Não se pode considerar que os princípios
de caráter nacional e de sua Lei Orgânica, pode o Município elaborar o preceituados na Constituição visaram apenas a favorecer uma dessas
regime jurídico de seus servidores, segundo as conveniências locais. Nesse pessoas, o funcionário. Ao contrário, dizem respeito também ao Estado,
campo é inadmissível a extensão das normas estatutárias federais ou para garantia de sua boa administração”. E por esse raciocínio, de inegável
estaduais aos servidores municipais. Só será possível a aplicação do lógica, a E. Corte Estadual concluiu que “os Estados (e, por extensão, os
estatuto da União ou do Estado-membro se a lei municipal assim o Municípios) podem dar aos funcionários outras garantias, outros benefícios
determinar expressamente. além dos conferidos pela Constituição Federal. É certo, mas, se essas
garantias, esses benefícios estão previstos na Constituição, não é possível
Nem mesmo a Constituição Estadual poderá estabelecer direitos,
ampliá-los e nem estendê-los a outros funcionários que não os por ela
encargos ou vantagens para o servidor municipal, porque isto atenta contra
favorecidos”.
a autonomia local. Desde que o Município é livre para aplicar suas rendas e
organizar seus serviços (CF, art. 30, III e V), nenhuma interferência pode ter Se até a Constituição de 1967 os dispositivos constitucionais
o Estado-membro nesse campo da privativa competência local. pertinentes ao servidor público eram vistos apenas como mínimos de
garantia dos servidores públicos e só se impunham integralmente por
Só o Município poderá estabelecer o regime de trabalho e de
recomendação da boa doutrina e pela moralizadora orientação
pagamento de seus servidores, tendo em vista as peculiaridades locais e
jurisprudencial, a partir de então passaram a ser normas de observância
as possibilidades de seu orçamento. Nenhuma vantagem ou encargo do
obrigatória em todas as esferas administrativas, situação mantida pela atual
funcionalismo federal ou estadual se estende automaticamente aos
Constituição da República (arts. 37 a 41). Com isso, fica prejudicada
servidores municipais, porque isto importaria hierarquização do Município à

Direito Administrativo 29 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
qualquer discussão sobre a possibilidade de sua restrição ou ampliação, complexidade do seu estudo.
uma vez que, atualmente, constituem, mesmo, “um código de direitos e Deveres
obrigações fundamentais que devem ser respeitados pelo Distrito Federal,
Os regimes jurídicos modernos impõem uma série de deveres aos
pelos Estados e Municípios (e, também, pela União, acrescentamos) em
servidores públicos como requisitos para o bom desempenho de seus
suas leis ordinárias”, como ensina Themístocles Cavalcanti.
encargos e regular funcionamento dos serviços públicos. A Lei de
Sobejam razões justificadoras desse entendimento, mas a principal Improbidade Administrativa, de natureza nacional, diz que constitui ato de
delas é que a organização legal dos servidores públicos é tarefa do improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
Legislativo, e este, muitas vezes, desconhecendo particularidades administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de
administrativas e peculiaridades dos serviços afetos ao Executivo e para honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições (cf. Lei
atender a pretensões classistas, confere aos servidores vantagens e 8.429/92, art. 10, caput), as quais, para serem punidas, pressupõem que o
prerrogativas que vão dificultar substancialmente o manejo e a execução do agente as pratique com a consciência da ilicitude, isto é, dolosamente.
serviço público. Ora, o servidor é apenas meio e não fim da Administração,
Dentre esses deveres salientam-se, por sua constância na
e toda vez que esta lhe confere uma vantagem deve fazê-lo na exata
legislação dos povos cultos, o de lealdade à Administração, o de
medida do interesse público. Vale dizer, as prerrogativas, garantias e
obediência às ordens superiores e, agora, o de conduta ética.
demais vantagens do servidor só se legitimam quando reclamadas pelo
serviço público e não anulem seus requisitos de eficiência, moralidade e Dever de lealdade — O dever de lealdade, também denominado
aperfeiçoamento. Na concessão desses benefícios por via constitucional dever de fidelidade, exige de todo servidor a maior dedicação ao serviço e
existe uma presunção de imprescindibilidade, diante da qual devem curvar- o integral respeito às leis e às instituições constitucionais, identificando-o
se as entidades estatais; mas, ao concedê-los, a Constituição subtrai de com os superiores interesses do Estado. Tal dever impede que o servidor
cada uma delas o poder de disposição sobre a mesma matéria, de modo atue contra os fins e os objetivos legítimos da Administração, pois que, se
que lhes é defeso postergá-los, restringi-los ou ampliá-los, salvo quando assim agisse, incorreria em infidelidade funcional, ensejadora da mais
expressamente autorizadas, e nos estritos limites da autorização. Assim, se grave penalidade, que é a demissão, vale dizer, o desligamento
o constituinte entendeu que somente os servidores públicos nomeados compulsório do serviço público.
para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso têm direito à Dever de obediência — O dever de obediência impõe ao servidor
permanência no serviço após três anos de exercício — o que, em principio, o acatamento às ordens legais de seus superiores e sua fiel execução.. Tal
constitui um entrave para a Administração —, não é licito ao Estado abdicar dever resulta da subordinação hierárquica e assenta no princípio disciplinar
da sua prerrogativa de livre disposição do seu pessoal para estender a que informa toda organização administrativa.
estabilidade a outros servidores, nem para reduzir o lapso do estágio Por esse dever não está o servidor obrigado a cumprir
probatório. Pelas mesmas razões, não pode conceder a outras as mecanicamente toda e qualquer ordem superior, mas, unicamente, as
prerrogativas de vitaliciedade, de inamovibilidade ou de irredutibilidade de ordens legais. E por ordens legais entendem-se aquelas emanadas de
vencimentos que a Carta Magna outorgou a determinadas categorias de autoridade competente, em forma adequada e com objetivos lícitos. Tanto o
agentes públicos e que não são exigidas pelos interesses administrativos. cumprimento de ordem manifestamente ilegal como o descumprimento de
Não quer isso dizer que a Administração esteja impedida de ordem legal acarretam para o servidor responsabilidade disciplinar e
conceder outros direitos e vantagens a seus servidores, através de normas criminal (CP, art. 22), conforme seja a lesão causada à Administração ou a
legais. Absolutamente, não. Além de o texto constitucional não exaurir a terceiros.
matéria, deixando, portanto, muita coisa à discrição das entidades estatais, Dever de conduta ética — O dever de conduta ética decorre do
estas se vêem, comumente, obrigadas a assegurar outros benefícios a princípio constitucional da moralidade administrativa e impõe ao servidor
seus servidores, pois os recrutam em competição com o mercado público a obrigação de jamais desprezar o elemento ético de sua conduta.
empresarial. Daí por que os regimes jurídicos, além de encampar as De acordo com o Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil
garantias outorgadas constitucionalmente aos servidores (art. 39, § 3º), Federal (Dec. 1.171, de 22.6.94), “a dignidade, o decoro, o zelo, a eficácia
costumam dispor sobre outros direitos e vantagens de que esses muitas e a consciência dos princípios morais são primados maiores que devem
vezes não desfrutam (licença para tratamento de interesses particulares, nortear o servidor público”. O dever de honestidade está incluído na
licença-prêmio, adicional por tempo de serviço etc.). Todas essas conduta ética.
concessões são legítimas desde que, como já salientamos, se conformem Dever de eficiência — O dever de eficiência do servidor público
aos interesses do serviço público, pois, no que concerne aos direitos e decorre do inc. LXXVIII do art. 5º da CF, acrescentado pela EC 45/2004
vantagens de seus servidores, cada entidade estatal pode estabelecê-los
Outros deveres — Outros deveres são comumente especificados
livremente, com observância das normas constitucionais e das leis de
nos estatutos, procurando adequar a conduta do servidor ao serviço que
caráter nacional. O que não se permite é dispensar ou alterar o que a
lhe é cometido; mas, como bem observa Masagão, já se acham
Constituição já estabeleceu como condições de eficiência, moralidade e
compreendidos nos deveres de fidelidade e obediência. Realmente, os
aprimoramento do serviço (requisitos de investidura, estágio probatório,
deveres de lealdade e obediência constituem a matriz dos demais, porque
limite para a aposentadoria, processo demissório, inacumulabilidade de
neles se contêm as imposições e proibições exigidas para o exato
cargos, responsabilização funcional) e como garantias dos servidores
desempenho da função pública, sendo redundantes e ociosas quaisquer
públicos (estabilidade, aposentadoria remunerada, contagem do tempo de
outras especificações.
serviço prestado às três esferas administrativas, disponibilidade).
Muitas vezes o dever não resulta diretamente das normas
Feitas estas considerações de ordem geral, vejamos, a seguir, em
estatutárias, mas de outras, hierarquicamente superiores, que exigem dos
espécie, as normas constitucionais pertinentes ao servidor público para, ao
servidores em geral determinada conduta, positiva ou negativa, decorrente
depois, examinarmos os deveres e direitos dos servidores que poderão
das chamadas restrições funcionais, a seguir examinadas.
constar de disposições estatutárias ou de outro regime jurídico.
A Lei de Improbidade Administrativa, ao tratar dos atos que aten-
Deveres e direitos dos servidores tam contra os princípios da administração pública, diz constituir ato dessa
Os deveres e direitos dos servidores estão detalhadamente natureza “qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade,
estabelecidos na Constituição da República, a serem observados pelos legalidade e lealdade às instituições” (art. 11, caput, da Lei 8.429/92).
respectivos regimes jurídicos ditados segundo as regras de iniciativa de lei Restrições funcionais
previstas naquela Carta. Na imposição desses deveres e na concessão
desses direitos a Administração deverá ter sempre presente o interesse Dentre as restrições que a função pública impõe aos seus
coletivo na obtenção dos serviços públicos, lembrando-se de que — como exercentes destacam-se a de se sujeitarem aos impedimentos
o nome está indicando — são serviços para o público e de que seus estabelecidos para o desempenho do cargo.
agentes são servidores públicos, vale dizer, servidores do público: public Os impedimentos ou incompatibilidades para o desempenho de
servants, na expressão inglesa consagrada por Brandeis. função pública constituem restrições perfeitamente admissíveis ao direito
Neste item estudaremos esses direitos e deveres e, dos servidores estatais, autárquicos e paraestatais, porque é lícito à
separadamente, o sistema remuneratório ou a remuneração em sentido Administração estabelecer condições para a realização de seus serviços.
amplo, que destacamos do tópico Direitos, pela importância e Assim sendo, permitido é ao Poder Público impedir contratos de seus

Direito Administrativo 30 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
servidores com a Administração, estabelecer incompatibilidades entre o pessoas governamentais, com personalidade de Direito Privado.
exercício do cargo ou da função e certas atividades públicas ou Assim, o sistema remuneratório ou a remuneração em sentido
particulares, impor exigências de residência no local do trabalho e amplo da Administração direta e indireta para os servidores da ativa
quaisquer outros requisitos de eficiência e moralidade do serviço público, compreende as seguintes modalidades: a) subsídio, constituído de parcela
desde que não afronte os direitos fundamentais do servidor, resguardados única e pertinente, como regra geral, aos agentes políticos; b)
pela Constituição da República. Nessa linha serão os requisitos e restrições remuneração, dividida em (b1) vencimentos, que corresponde ao
da lei prevista pela Carta Magna em seu art. 37, §7º, comentado em outra vencimento (no singular, como está claro no art. 39, § 1º, da CF, quando
passagem. fala em” fixação dos padrões de vencimento”) e às vantagens pessoais
A Lei nacional 9.504, de 30.9.97, que dispõe sobre normas gerais (que, como diz o mesmo art. 39, § 1º, são os demais componentes do
de eleições para cargos no Executivo e no Legislativo, estabelece as sistema remuneratório do servidor público titular de cargo público na
condutas de agentes públicos que podem afetar a igualdade de Administração direta, autárquica e fundacional), e em (b2) salário, pago aos
oportunidades entre os candidatos, vedando-as, sob as penas ali previstas empregados públicos da Administração direta e indireta regidos pela CLT,
e sem prejuízo da aplicação da Lei 8.429/92 (Lei de Improbidade titulares de empregos públicos, e não de cargos públicos.
Administrativa). Nesse sentido, dentre outros, o conteúdo dos arts. 37, XI (com a
Direitos redação da EC 41), 61, § 1º, II, “a” e “f’, e 96, “b”, da CF. No entanto, a
A Constituição da República, ao cuidar do servidor público (arts. 37 Constituição e as Emendas referidas em alguns pontos empregam
a 41), detalhou seus direitos, indicando especificamente os que lhe são terminologia equivocada e não sistematizada. Assim, a titulo de exemplo,
extensivos dentre os reconhecidos aos trabalhadores urbanos e rurais (CF, no art. 37, o inc. XV, quando fala em vencimentos, quer se referir a
art. 7º). remuneração, e no inc. X desse artigo remuneração significa vencimentos.
De um modo geral, pode dizer-se que os servidores públicos têm Outra inovação é que o subsídio (salvo o dos Deputados Federais,
os mesmos direitos reconhecidos aos cidadãos, porque cidadãos também o dos Senadores, do Presidente e Vice-Presidente e dos Ministros, por força
são, apenas com certas restrições exigidas para o desempenho da função do art. 49, VII e VIII, da CF) e os vencimentos, por expresso mandamento
publica. Com a Constituição de 1988 gozam dos seguintes direitos constitucional, estão sujeitos ao princípio da reserva legal especifica, pelo
assegurados aos trabalhadores do setor privado: salário mínimo; garantia quê somente poderão ser fixados e alterados por lei especifica, isto é, para
de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração cada hipótese de fixação ou modificação, observada a iniciativa privativa
variável; décimo-terceiro salário; remuneração do trabalho noturno superior em cada caso.
à do diurno; salário-família para os seus dependentes; jornada de trabalho É assegurada revisão geral anual dos subsídios e vencimentos,
não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais; repouso sempre na mesma data e sem distinção de índices (CF, art. 37, X).Parece-
semanal remunerado; remuneração do serviço extraordinário superior, no nos que essa rega, a par de consagrar o princípio da periodicidade da
mínimo, em cinquenta por cento à do normal; gozo de férias anuais reposição da remuneração do servidor, culminou por assegurar a
remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal; irredutibilidade real, e não apenas nominal, do subsídio e dos vencimentos,
licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração mas não obriga a que a revisão seja feita numa data-base. Essa revisão
de cento e vinte dias; licença-paternidade, nos termos fixados em lei; não se equipara à chamada reestruturação, significando, na realidade, um
proteção do mercado de trabalho da mulher; redução dos riscos inerentes aumento geral, por nós denominado de impróprio, como veremos mais
ao trabalho; proibição de diferença de salários, de exercício de funções e adiante.
de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil. A O art. 37, XI, na redação da EC 41, institui tetos para a União, para
Constituição admitiu, agora, o direito de greve ao servidor público, que será os Estados, para o Distrito Federal e para os Municípios, no âmbito de seus
exercido nos termos e nos limites definidos em lei agora especifica, e não Poderes e das suas Administrações diretas, autárquicas e fundacionais.
mais em lei complementar (art. 37, VII, com a redação da EC 19), e Alguns falam em subtetos — o que, a nosso ver, não é adequado, pois o
garantiu seu direito à sindicalização (art. 37, VI). que se tem é um teto para a União e tetos para os entes federados. Assim,
Os direitos decorrentes da função pública consubstanciam-se no a remuneração, o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos
exercício do cargo, na remuneração, nas férias, na aposentadoria e demais públicos, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes
vantagens concedidas expressamente pela Constituição e respectivas leis políticos, bem como os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória,
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. São direitos percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou
dos servidores públicos que vicejam ao lado dos direitos gerais e de qualquer natureza, não poderão exceder: a) na União, o subsídio
fundamentais do cidadão, e, por isso mesmo, sua extensão e seus limites mensal, em espécie, dos Ministros do STF; b) nos Estados e no Distrito
só podem ser apreciados em face das normas legais que os concedem, Federal: b1) no poder Executivo, o subsidio mensal do Governador; b2) no
segundo as conveniências do serviço. Dentre os direitos dos servidores Poder Legislativo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais; b3) no
veremos especifica-mente, a seguir, o sistema remuneratório, o subsídio e Poder Judiciário, o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça,
a remuneração, envolvendo os vencimentos, com as vantagens limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio
pecuniárias, e os salários. mensal, em espécie, dos Ministros do STF; b4) o teto previsto em “b3”
Sistema remuneratório. Remuneração. Subsídio. Venci- aplica-se também aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e
aos Defensores Públicos; e c) nos Municípios, o subsídio do Prefeito.
mentos. Vantagens pecuniárias. Indenizações
Registre-se, todavia, que em nenhuma hipótese os Estados, o Distrito
No campo funcional a matéria de maior interesse, pelos constantes Federal e os Municípios poderão fixar seus tetos acima daquele previsto
atritos entre o servidor e a Administração, é a concernente ao sistema para a União. Nas ADIs 112, 120-5 e 1.434, considerando que o art. 132 da
remuneratório ou á remuneração em sentido amplo. Esses atritos decorrem Carta só abrangeu os procuradores do Estado (este como pessoa jurídica
das posições diametralmente opostas em que se colocam o servidor e o distinta da autarquia), o STF entendeu que ela não se refere aos
Poder Público na interpretação das leis pertinentes, pressionado aquele procuradores autárquicos. Dai por que o teto acima referido para os
pelas exigências financeiras do seu status; interessado este em realizar o procuradores só abarca os procuradores dos Estados ou do Distrito
máximo de serviço com o mínimo de despesas de custeio, dentre as quais Federal.
se incluem as de pessoal. Daí a nossa preocupação em destacar o assunto
Para os fins do disposto nesse referido inciso XI, a EC 47
do tópico relativo aos direitos dos servidores, para esta apreciação mais
acrescentou o § 12 ao art. 37 da CF, facultando aos Estados e ao Distrito
detida e aprofundada.
Federal fixar, em seu âmbito, mediante emenda às respectivas
Sistema remuneratório — O exame da Constituição Federal, com Constituições e Lei Orgânica, como limite único, o subsidio mensal dos
as alterações das ECs 19/98 e 41/2003, demonstra que há um sistema Desembargadores do respectivo Tribunal de Justiça, limitado a noventa
remuneratório para os ocupantes de cargos, funções e empregos públicos inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal dos
da Administração direta, autárquica e fundacional, para os membros de Ministros do Supremo Tribunal Federal. O disposto nesse § 12 não se
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos aplica aos subsídios dos Deputados Estaduais e dos Vereadores.
Municípios, para os detentores de mandato eletivo e para os demais
Nas edições anteriores, quando tratamos do subsídio, como
agentes políticos, bem como para os empregados públicos das chamadas
parcela única, com base na própria Constituição, dissemos que as

Direito Administrativo 31 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
indenizações não integram tal parcela. Agora, explicitando a questão a EC Ministros e Conselheiros dos Tribunais de Contas (CF, arts. 39, § 4º, 49, VII
47 inseriu o § 11 ao art. 37, da CF, dispondo que não serão computados, e VIII , e 73, § 3º, c/c os arts. 75, 95, III, e 128, § 5º, I, “c”).
para efeito dos limites remuneratórios de que trata o inciso XI desse artigo, Dessa forma, para os que a Carta Magna considera agentes
as parcelas de caráter indenizatório “previstas em lei “. Segundo o art. 40 políticos —os membros de Poder, os detentores de mandato eletivo, os
da EC 47, enquanto não editada essa lei, não será computada, para efeito Ministros de Estado, os Secretários Estaduais e Municipais, os Ministros
dos limites remuneratórios de que trata o inciso XI do art. 37, qualquer dos Tribunais de Contas e os membros do Ministério Público — o subsídio
parcela de caráter indenizatório, assim definida pela legislação em vigor na é a única modalidade de remuneração cabível.
data da publicação da EC 41, de 2003. Os servidores integrantes das carreiras relativas à Advocacia-
O inc. XV do art. 48, caput, na redação da EC 19/98, determinava Geral da União, da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, das
que a fixação do subsídio dos Ministros do STF, previstos no inc. XI do art. Procuradorias dos Estados e do Distrito Federal e da Defensoria Pública,
37, fosse feita por lei de iniciativa conjunta dos Presidentes da República, bem como os servidores policiais das Polícias Federal, Ferroviária Federal,
da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do STF. Como o STF Civil, Militares (não os das Forças Armadas) e Corpos de Bombeiros
entendeu que esse inc. XI não era auto-aplicável, para contornar esse Militares, por força dos arts. 135 e 144, § 9º, da CF, embora não sejam
entendimento e assegurar a auto-aplicabilidade do teto previsto pelo art. 37, agentes políticos, também serão obrigatoriamente remunerados “na forma
XI, na redação dada pela EC 41, o art. 8º dessa Emenda 41, em regra de do art. 39, § 4º”. Outrossim, como prevê o art. 39, § 8º, da CF, outros
transição, estatui que, até que o valor desse subsídio seja fixado, será servidores públicos, desde que organizados em carreira, também poderão,
considerado como limite para a aplicação do art. 37, XI, na sua nova por lei federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal, ter remuneração
redação: a) no âmbito da União, o valor da maior remuneração atribuída por “fixada nos termos do § 4º”, acima referido.
lei a Ministro do STF, a titulo de vencimento, de representação mensal e da Como se vê, na sistemática constitucional os agentes políticos só
parcela recebida em razão de tempo de serviço; b) nos Estados e no podem perceber subsídio, enquanto que os demais agentes públicos
Distrito Federal: b1) no Poder Executivo, o subsídio mensal do Governador; poderão ter remuneração fixada “nos termos” ou “na forma” do §4º do art.
b2) no Poder Legislativo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais; 39, porém para alguns servidores a própria Cada Política já se antecipou,
b3) no Poder Judiciário, o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de determinando que seria fixada na forma desse dispositivo, ou seja,
Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento da exclusiva-mente em parcela única (arts. 135 e 144, § 9º, c/c o art. 39, §§ 8º
maior remuneração mensal de Ministro do STF, prevista pela letra “a”, e 4º).
acima; b4) o teto previsto em “b3” aplica-se também aos membros do
Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos; e c) nos Em razão da natureza jurídica que lhe foi imposta
Municípios, o subsidio do Prefeito. constitucionalmente, o subsídio é constituído de parcela única. Por isso, o
art. 39, § 4º, veda expressamente que tal parcela seja acrescida de
Ao lado dessa rega, especificamente quanto aos vencimentos, “qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou
temos a do inc. XII do mesmo art. 37, estabelecendo que os dos cargos do outra espécie remuneratória”. Obviamente, como a Cada Política deve ser
Legislativo e do Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo interpretada de forma sistematizada, deve-se concluir que os valores
Poder Executivo. Portanto, temos os tetos acima referidos e há um teto correspondentes aos direitos por ela assegurados no § 3º do art. 39 —
entre os vencimentos dos cargos pertencentes aos Poderes, que como, para ilustrar, do décimo-terceiro salário e do terço de férias — não
corresponde àqueles pagos pelo Executivo. são atingidos pela proibição de qualquer acréscimo. Aliás, como visto, o
Registre-se, por relevante, que os salários dos empregados mesmo ocorre em relação ao teto geral.
públicos das empresas públicas e das sociedades de economia mista, e Como vimos antes, o § 11 do art. 37, da Constituição,
suas subsidiárias, só estarão submetidos ao teto geral se essas pessoas acrescentado pela EC 47, dispõe que não serão computadas, para efeito
jurídicas receberem recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos limites remuneratórios de que trata o inciso XI, as parcelas de caráter
dos Municípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em indenizatório previstas em lei.
geral (CF, art. 37, § 9º) Assim, se tiverem vida financeira própria no que diz
respeito às despesas de custeio em geral e de pessoal, excluídos, pois, os Os aspectos acima apontados deverão, por cedo, servir de norte para
investimentos, não estarão submetidas ao comando do art. 37, XI. A a estipulação, pela lei ali referida, das parcelas remuneratórias que não
exceção é altamente salutar e moralizadora, servindo de estimulo à serão computadas nos limites do inciso XI do art. 37, da CF, e, também no
eficiência. A lei nacional prevista no art. 173, § 1º, da CF, por ela chamada subsídio — como as relativas a gastos de transporte, diárias, ajuda de
de “estatuto jurídico”, deverá dispor a respeito da aplicação dessa matéria. custo, presença em sessão extraordinária. O mesmo aplica-se às férias e
licenças-prêmios não gozadas e indenizadas. Todas deverão, obviamente,
Vale ainda observar que o art. 37, XI, da CF, ao falar em “outras observar os princípios constitucionais, especialmente os da legalidade,
espécies remuneratórias” após cuidar de proventos e pensões por morte, razoabilidade e moralidade, sob pena de caracterizarem inaceitável fraude
deixa patente que aqueles e estas constituem espécies remuneratórias, aos limites remuneratórios e ao conceito constitucional de subsídio, a ser
pelo quê também se enquadram no conceito geral de remuneração, para repelida pelo Poder Judiciário no exame de constitucionalidade, direto
fins de observância dos tetos gerais. (concentrado) ou incidental (difuso), da lei que as instituírem.
Faculta-se à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Vencimentos — Vencimentos (no plural) é espécie de
Municípios estabelecer por lei a relação entre a maior e a menor remuneração e corresponde à soma do vencimento e das vantagens
remuneração dos servidores públicos (art. 39, § 5º, da CF, na redação da pecuniárias, constituindo a retribuição pecuniária devida ao servidor pelo
EC 19), observando-se, como diz a parte final desse § 5º, “em qualquer exercício do cargo público. Assim, o vencimento (no singular)
caso, o disposto no art. 37, XI”. Vale dizer, a “relação” terá de respeitar os correspondente ao padrão do cargo público fixado em lei, e os vencimentos
tetos constitucionais aí previstos. são representados pelo padrão do cargo (vencimento) acrescido dos
Embora evidente, por força da sistematização, convém consignar que demais componentes do sistema remuneratório do servidor público da
os direitos assegurados pelo § 3º do art. 39 — como, por exemplo, o déci- Administração direta, autárquica e fundacional. Esses conceitos resultam,
mo-terceiro salário e o terço de férias — não estão incluídos nos tetos hoje, da própria Cada Magna, como se depreende do art. 39, § 1º, I, c/c o
remuneratórios. art. 37, X, XI, XII e XV.
Cada uma dessas modalidades ou formas de remuneração, como Quando o legislador pretender restringir o conceito ao padrão do
contraprestação devida pelo exercício de função pública, será objeto de cargo do servidor, deverá empregar o vocábulo no singular — vencimento;
exame a seguir. quando quiser abranger também as vantagens conferidas ao servidor,
Subsídio — É outra grande novidade da chamada “Emenda da deverá usar o termo no plural — vencimentos.
Reforma Administrativa” (EC 19). Como visto, subsídio é uma modalidade Os vencimentos — padrão e vantagens — só por lei específica
de remuneração, fixada em parcela única, paga obrigatoriamente aos (reserva legal específica) podem ser fixados ou alterados (art. 37, X),
detentores de mandato eletivo (Senadores, Deputados Federais e segundo as conveniências e possibilidades da Administração. A EC 19
Estaduais, Vereadores, Presidente e Vice-Presidente, Governador e Vice- manteve a irredutibilidade assegurada pela Constituição de 1988 e
Governador e Prefeito e Vice-Prefeito) e aos demais agentes políticos, esclareceu que ela só se aplica ao subsídio e aos vencimentos (aqui
assim compreendidos os Ministros de Estado, Secretários Estaduais e empregado com o significado de remuneração) dos ocupantes de cargos
Municipais, os membros da Magistratura e do Ministério Público e os
Direito Administrativo 32 A Opção Certa Para a Sua Realização
APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
públicos e empregos públicos. Todavia, restringindo a Constituição Federal retribuições diferentes, sem ofensa ao princípio isonômico. Até mesmo a
de 1988, ressalvou que ela não se aplica nos casos previstos nos incs. XI e organização da carreira, com escalonamento de classes para acesso
XIV do art. 37 e nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I (art. 37, sucessivo, com gradação crescente dos vencimentos, importa diferençar os
XV), o que também é previsto para os magistrados, conselheiros dos servidores sem os desigualar perante a lei. É uma contingência da
Tribunais de Contas e membros do Ministério Público. hierarquia e da seleção de valores humanos na escala dos servidores
Vantagens irretiráveis do servidor só são as que já foram públicos.
adquiridas pelo desempenho efetivo da função (pro labore facto) ou pelo O que o princípio da isonomia impõe é tratamento igual aos
transcurso do tempo de serviço (ex facto temporis); nunca, porém, as que realmente iguais. A igualdade nominal não se confunde com a igualdade
dependem de um trabalho a ser feito (pro labore faciendo), ou de um real. Cargos de igual denominação podem ser funcionalmente desiguais,
serviço a ser prestado em determinadas condições (ex facto officii), ou em em razão das condições de trabalho de um e de outro; funções
razão da anormalidade do serviço (proper laborem), ou, finalmente, em equivalentes podem diversificar-se pela qualidade ou pela intensidade do
razão de condições individuais do servidor (propterpersonam). serviço ou, ainda, pela habilitação profissional dos que as realizam. A
Desde que sob o regime estatutário o Estado não firma contrato situação de fato é que dirá da identidade ou não entre cargos e funções
com seus servidores, mas para eles estabelece unilateralmente um regime nominalmente iguais.
de trabalho e de retribuição por via estatutária, lícito lhe é, a todo tempo, Há duas espécies de aumento de vencimentos: uma genérica,
alterar esse regime jurídico e, assim, as condições de serviço e de provocada pela alteração do poder aquisitivo da moeda, à qual poderíamos
pagamento, desde que o faça por lei, sem discriminações pessoais, denominar aumento impróprio, por se tratar, na verdade, de um
visando às conveniências da Administração. Todavia, da alteração do reajustamento destinado a manter o equilíbrio da situação financeira dos
regime jurídico não pode advir redução de remuneração, pois a garantia da servidores públicos; e outra específica, geralmente feita à margem da lei
irredutibilidade, acima referida, protege o montante dos ganhos. que concede o aumento geral, abrangendo determinados cargos ou classes
A percepção de vencimentos pelo exercício do cargo é a regra da funcionais e representando realmente uma elevação de vencimentos, por
Administração Brasileira, que desconhece cargo sem retribuição pecuniária. se fazer em índices não proporcionais ao do decréscimo do poder
Pode haver função gratuita, como são as honorificas e as de suplência, aquisitivo.
mas cargo gratuito é inadmissível na nossa organização administrativa. No tocante à primeira espécie, a parte final do inc. X do art. 37, na
Diante deste princípio, resulta que todo aquele que for investido num cargo redação da EC 19, assegura “revisão geral anual, sempre na mesma data e
e o exercer como titular ou substituto tem direito ao vencimento respectivo, sem distinção de índices”, dos vencimentos e dos subsídios. A revisão já
salvo, obviamente, quando a função do cargo for a de substituição. Daí por era prevista pela mesma norma na sua antiga redação, que, todavia, não a
que a jurisprudência é uniforme e pacífica no reconhecer ao suplente que assegurava. Agora, no entanto, na medida em que o dispositivo diz que a
substitui o titular a retribuição correspondente ao exercício do cargo.’34 A revisão é “assegurada”, trata-se de verdadeiro direito subjetivo do servidor
e do agente político, a ser anualmente respeitado e atendido pelo emprego
mesma razão de direito impõe o pagamento da diferença’35 de vencimento do índice que for adotado, o qual, à evidência, sob pena de fraude á
entre a do cargo do substituído e a do substituto, mas a lei pode Constituição e imoralidade, não pode deixar de assegurar a revisão. Tais
condicionar este pagamento a um período mínimo de substituição e a considerações é que nos levaram a entender que, agora, a Constituição
outros requisitos de eficiência. assegura a irredutibilidade real, e não apenas nominal, da remuneração.
O aumento de subsídio e de vencimentos — padrão e vantagens Este aumento não obsta, como se verá a seguir, ao aumento impróprio.
— dos servidores públicos depende de lei específica, observada a A segunda espécie ocorre através das chamadas reestruturações,
competência. constitucional para a iniciativa privativa em cada caso (CF, pelas quais se corrigem as distorções existentes no serviço público, tendo
art. 37, X). Assim, para os do Executivo a iniciativa é exclusiva de seu em vista a valorização profissional observada no setor empresarial, para
Chefe (CF, art. 61, § 1º, II, “a”). É uma restrição fundada na harmonia dos que a Administração não fique impossibilitada de satisfazer suas
Poderes e no reconhecimento de que só o Executivo está em condições de necessidades de pessoal. A fim de facilitar a ação do Poder Público e evitar
saber quando e em que limites pode majorar a retribuição de seus a descaracterização das reestruturações, anteriormente transformadas em
servidores. Para não repetir a matéria, remetemos o leitor ao item 2.8 deste verdadeiros aumentos gerais, pela reação em cadeia que provocavam
mesmo capítulo, onde, sob a epigrafe Competência para organizar o relativamente aos vencimentos de cargos não abrangidos diretamente pela
serviço público, já analisamos a privatividade da iniciativa do Executivo lei reestruturadora, foi que as Constituições, desde 1967, passaram a
para os seus servidores e os limites do poder de emenda do Legislativo proibir a “vinculação ou equiparação de vencimentos, para o efeito de
nessa matéria. remuneração de pessoal do serviço público” (CF, art. 37, XIII).
O princípio da isonomia, mesmo antes da Carta de 1988 — que, Em qualquer das hipóteses — aumento impróprio e reestruturação
pelo § 10 do art. 39, modificado inteiramente pela EC 19, o havia —podem ocorrer injustiças, pela inobservância do princípio da isonomia, tal
determinado especificamente para os servidores civis —,já vinha sendo como explicado acima. Nesse caso, porém, somente a lei poderá corrigi-
frequentemente invocado para a equiparação de servidores não las, pois qualquer interferência do Judiciário nesta matéria constituiria
contemplados nas leis majoradoras de vencimentos ou concessivas de usurpação de atribuições do Legislativo, consoante vêm decidindo
vantagens. Hoje, com a redação do §1ºdo art. 39 dada pela EC 19, reiterada-mente nossos Tribunais e, finalmente, sumulou o STF, nestes
suprimindo o princípio da isonomia da seç. II— “Dos servidores civis” —, a termos: “Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa,
questão é regulada pelo principio geral da igualdade previsto no art. 5º da aumentar vencimentos de servidores públicos sob fundamento de
Carta. Dessa forma, mesmo com a EC 19 sua aplicação não pode ser isonomia” (Súmula 339).
afastada. Mas há de ser entendido e aplicado nos justos limites do
mandamento igualitário. A natureza alimentar dos vencimentos não permite sejam eles
retidos pela Administração, nem admite arresto, sequestro ou penhora,
O que a Constituição assegura é a igualdade jurídica, ou seja, consoante dispõe o art. 649, IV, do CPC, a que fazem remissão os arts.
tratamento igual, aos especificamente iguais perante a lei. A igualdade 821 e 833 do mesmo diploma legal, relativamente ao arresto e ao
genérica dos servidores públicos não os equipara em direitos e deveres e, sequestro. Todavia, as prestações alimentícias devidas pelo servidor
por isso mesmo, não os iguala em vencimentos e vantagens. público são descontáveis em folha (CPC, art. 734).
Genericamente, todos os servidores são iguais, mas pode haver diferenças
especificas de função, de tempo de serviço, de condições de trabalho, de O desconto em folha de pagamento é forma administrativa usual
habilitação profissional e outras mais, que desigualem os genericamente para a retenção de contribuições de previdência, de imposto de renda, de
iguais. Se assim não fosse, ficaria a Administração obrigada a dar os quantias pagas indevidamente aos servidores, de empréstimos contraídos
mesmos vencimentos e vantagens aos portadores de iguais títulos de no serviço, de aquisições ou consumações feitas na própria repartição ou
habilitação, aos que desempenham o mesmo oficio, aos que realizam o por seu intermédio. Essa modalidade de desconto é legítima quando
mesmo serviço embora em cargos diferentes ou em circunstâncias realizada na forma e limites previstos no estatuto respectivo e não houver
diversas. Todavia, não é assim, porque cada servidor ou classe de servidor dúvida sobre a quantia a ser reposta. Se, porém, ocorrer divergência sobre
pode exercer as mesmas funções (v.g., de médico, engenheiro, escriturário, o quantum a descontar ou sobre a legalidade do ato que determinou a
porteiro etc.) em condições funcionais ou pessoais distintas, fazendo jus a restituição, já não poderá a Administração efetivar os descontos a que se
opõe o servidor. Em tal hipótese, somente após a solução definitiva da

Direito Administrativo 33 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
controvérsia é que se iniciará o desconto em folha, nas condições modais temo-los nos adicionais de tempo integral, de dedicação plena e de
constantes do estatuto ou de leis especiais, assegurado o direito de defesa. nível universitário, como, também, nas gratificações por risco de vida e
Os vencimentos ou vantagens percebidos em virtude de medida liminar saúde, no salário-família, na licença-prêmio conversível em pecúnia e
obtida em mandado de segurança ficam sujeitos a reposição, mediante outras dessa espécie.
desconto em folha, caso a liminar seja cassada ou a segurança denegada.’ O que convém fixar é que as vantagens por tempo de serviço
Em julgado exemplar, o TSE entendeu que o desconto em folha de integram-se automaticamente no padrão de vencimento, desde que
contribuição para partido político discrepa do arcabouço normativo em consumado o tempo estabelecido em lei, ao passo que as vantagens
vigor. condicionais ou modais, mesmo que auferidas por longo tempo em razão
A prescrição de vencimentos e vantagens consuma-se em do preenchimento dos requisitos exigidos para sua percepção, não se
cinco anos (Dec. federal 20.910, de 6.1.32) e sua interrupção só poderá ser incorporam ao vencimento, a não ser quando essa integração for
feita uma vez, recomeçando o prazo a correr pela metade (Dec.-lei 4.597, determinada por lei. E a razão dessa diferença de tratamento está em que
de 19.8.42). Suspende-se, entretanto, a prescrição durante o tempo em que as primeiras (por tempo de serviço) são vantagens pelo trabalho já feito
a Administração permanecer estudando o recurso ou a reclamação do (pro labore facto), ao passo que as outras (condicionais ou modais) são
servidor (Lei 5.761, de 25.6.30). Como se trata de débito vencível mês a vantagens pelo trabalho que está sendo feito (pro labore faciendo), ou, por
mês, a prescrição só atinge os vencimentos e vantagens anteriores ao outras palavras, são adicionais de função (ex facto officii), ou são
quinquênio. Observe-se que a irredutibilidade dos vencimentos dos gratificações de serviço (propter laborem), ou, finalmente, são gratificações
servidores públicos não tem o condão de torná-los imprescritíveis, uma vez em razão de condições pessoais do servidor (propter personam). Daí por
que a perda da ação pela inércia do seu titular não se confunde com a que quando cessa o trabalho, ou quando desaparece o fato ou a situação
garantia constitucional que os tomou irredutíveis. que lhes dá causa, deve cessar o pagamento de tais vantagens, sejam elas
Vantagens pecuniárias — Já vimos que os servidores públicos, adicionais de função, gratificações de serviço ou gratificações em razão das
quando não remunerados por subsídio, podem ser estipendiados por meio condições pessoais do servidor.
de vencimento. Além dessa retribuição estipendiária podem, ainda, receber Além dessas vantagens, que encontram justificativa em fatos ou
outras parcelas em dinheiro, constituídas pelas vantagens pecuniárias a situações de interesse administrativo, por relacionadas direta ou
que fizerem jus, na conformidade das leis que as estabelecem. Neste indiretamente com a prestação do serviço ou com a situação do servidor,
tópico veremos a natureza e efeitos das vantagens pecuniárias, bem como as Administrações têm concedido vantagens anômalas, que refogem
as espécies e modalidades em que geralmente se repartem. completamente dos princípios jurídicos e da orientação técnica que devem
Vantagens pecuniárias são acréscimos ao vencimento do nortear a retribuição do servidor. Estas vantagens anômalas não se
servidor, concedidas a titulo definitivo ou transitório, pela decorrência do enquadram quer como adicionais, quer como gratificações, pois não têm a
tempo de serviço (ex facto temporis), ou pelo desempenho de funções natureza administrativa de nenhum destes acréscimos estipendiários,
especiais (ex facto officii), ou em razão das condições anormais em que se apresentando-se como liberalidades ilegítimas que o legislador faz à custa
realiza o serviço (propter laborem), ou, finalmente, em razão de condições do erário, com o só propósito de cortejar o servidor público.
pessoais do servidor (propter personam). As duas primeiras espécies A legislação federal, estadual e municipal apresenta-se com
constituem os adicionais (adicionais de vencimento e adicionais de função), lamentável falta de técnica e sistematização na denominação das
as duas últimas formam a categoria das gratificações (gratificações de vantagens pecuniárias de seus servidores, confundindo e baralhando
serviço e gratificações pessoais). Todas elas são espécies do gênero adicionais com gratificações, o que vem dificultando ao Executivo e ao
retribuição pecuniária, mas se apresentam com características próprias e Judiciário o reconhecimento dos direitos de seus beneficiários. Essa
efeitos peculiares em relação ao beneficiário e à Administração, imprecisão conceitual é que responde pela hesitação da jurisprudência,
constituindo os “demais componentes do sistema remuneratório” referidos pois que em cada estatuto, em cada lei, em cada decreto, a nomenclatura é
pelo art. 39, § 1º, da CF. Somadas ao vencimento (padrão do cargo), diversa e, não raro, errônea, designando uma vantagem com o nomenjuris
resultam nos vencimentos, modalidade de remuneração. da outra. Urge, portanto, a adoção da terminologia certa e própria do Direito
Certas vantagens pecuniárias incorporam-se automaticamente ao Administrativo, para unidade de doutrina e exata compreensão da natureza,
vencimento (v.g., por tempo de serviço) e o acompanham em todas as suas extensão e efeitos das diferentes vantagens pecuniárias que a
mutações, inclusive quando se converte em proventos da inatividade Administração concede aos seus servidores.
(vantagens pessoais subjetivas); outras apenas são pagas com o Feitas essas considerações de ordem geral sobre o gênero
vencimento, mas dele se desprendem quando cessa a atividade do servidor vantagens pecuniárias, vejamos as suas espécies, isto é, os adicionais e as
(vantagens de função ou de serviço); outras independem do exercício do gratificações e suas várias modalidades.
cargo ou da função, bastando a existência da relação funcional entre o Adicionais: são vantagens pecuniárias que a Administração
servidor e a Administração (v.g., salário-família), e, por isso, podem ser concede aos servidores em razão do tempo de exercício (adicional de
auferidas mesmo na disponibilidade e na aposentadoria, desde que tempo de serviço) ou em face da natureza peculiar da função, que exige
subsista o fato ou a situação que as gera (vantagens pessoais objetivas). conhecimentos especializados ou um regime próprio de trabalho (adicionais
Em razão do art. 37, XIV, da CF, com a redação da EC 19, os de função). Os adicionais destinam-se a melhor retribuir os exercentes de
acréscimos pecuniários percebidos pelo servidor não serão computados funções técnicas, científicas e didáticas, ou a recompensar os que se
nem acumulados para fim de concessão de acréscimos posteriores. Não mantiveram por longo tempo no exercício do cargo. O que caracteriza o
podem, pois, incidir um sobre o outro. Não há confundir acumulação de adicional e o distingue da gratificação é o ser aquele uma recompensa ao
cargos com acumulação de vantagens de um mesmo cargo, ou de cargos tempo de serviço do servidor, ou uma retribuição pelo desempenho de
diversos constitucionalmente acumuláveis. Desde que ocorra o motivo funções especiais que refogem da rotina burocrática, e esta, uma
gerador da vantagem, nada impede sua acumulação, se duplicadas forem compensação por serviços comuns executados em condições anormais
as situações que a ensejam. Outra observação que se impõe é a de que a para o servidor, ou uma ajuda pessoal em face de cenas situações que
concessão das vantagens pecuniárias só por lei pode ser feita, e por lei agravam o orçamento do servidor. O adicional relaciona-se com o tempo ou
cuja iniciativa deve observar os preceitos constitucionais dos arts. 61, § 1º , com a função; a gratificação relaciona-se com o serviço ou com o servidor.
II, “a”, e 63, I. O adicional, em princípio, adere ao vencimento e, por isso, tem caráter
As vantagens pecuniárias podem ser concedidas tendo-se em permanente; a gratificação é autônoma e contingente. Ambos, porém,
vista unicamente o tempo de serviço, como podem ficar condicionadas a podem ser suprimidos para o futuro.
determinados requisitos de duração, modo e forma da prestação de serviço Fixada a distinção conceitual entre adicional e gratificação,
(vantagens modais ou condicionais). As primeiras tomam-se devidas desde vejamos as modalidades ou subespécies de adicionais (de tempo de
logo e para sempre com o só exercício do cargo pelo tempo fixado em lei; serviço e de função) para, após, examinarmos as gratificações e suas
as últimas (modais ou condicionais) exigem, além do exercício do cargo, a variantes, encontradiças na prática administrativa.
ocorrência de certas situações, ou o preenchimento de determinadas Adicional por tempo de serviço é o acréscimo pecuniário que se
condições ou encargos estabelecidos pela Administração. Exemplo típico adita definitivamente ao padrão do cargo em razão exclusiva do tempo de
de vantagens dependentes apenas do tempo de serviço são os adicionais exercício estabelecido em lei para o auferimento da vantagem. É um
por biênio, triênio, quinquênio etc.; exemplos de vantagens condicionais ou adicional ex facto temporis, resultante de serviço já prestado — pro labore

Direito Administrativo 34 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
facto. Dai por que se incorpora automaticamente ao vencimento e o exercesse atividades técnico-científicas, de magistério ou pesquisa,
acompanha na disponibilidade e na aposentadoria. satisfeitas as exigências regulamentares, declarando-o incompatível com o
Este adicional adere ao vencimento para todos os efeitos legais, exercício cumulativo de cargos, empregos ou funções, bem como de
salvo “para fins de concessão de acréscimos ulteriores” (CF, art. 37, XIV), qualquer outra atividade pública ou privada (art. 49 e §1º).
pois a regra é sua vinculação ao padrão de vencimento do beneficiário. E é Posteriormente, as Leis 4.345, de 26.6.64, e 3.863, de 29.11.65,
irretirável do funcionário precisamente porque representa uma estabeleceram novas regras para esse adicional, especificando os casos
contraprestação de serviço já feito. É uma vantagem pessoal, um direito em que poderia ser adotado. Atualmente, o regime jurídico dos servidores
adquirido para o futuro. Sua conditio juris é apenas e tão-somente o tempo públicos civis da União’57 não prevê esse adicional.
de serviço já prestado, sem se exigir qualquer outro requisito da função ou
As esferas públicas estaduais e municipais podem ou não adotar
do servidor.
esse regime, variando na percentagem do adicional e em minúcias para
O adicional por tempo de serviço tem origem remota em nossa sua concessão. O adicional de tempo integral é, assim, uma vantagem
Administração, pois vem da Lei de 14.10.1827, interpretada pelo Aviso pecuniária ex facto officii, privativo de certas atividades (comumente de
Imperial 35, de 10.2.1854, onde se lê que tal vantagem “tem em vista Magistério e Pesquisa) e condicionado a determinados requisitos
remunerar serviços já prestados; sendo de natureza mui diversa das regulamentares. Não é um acréscimo por tempo de serviço, como à
gratificações que se concedem em vista de serviços prestados na primeira vista pode parecer; é um típico adicional de função, auferível em
atualidade”. De lá para cá esse adicional generalizou-se nas razão do serviço técnico ou científico a ser prestado (pro labore faciendo)
Administrações e se estendeu a quase todas as categorias de servidores nas condições estabelecidas pela Administração. A ampliação da jornada
das repartições centralizadas e das entidades autárquicas. E é louvável sua de trabalho entra, tão-somente, como pressuposto do regime, e não como
adoção, pelo sentido de justiça que tal acréscimo apresenta para aqueles causa da vantagem pecuniária, a qual assenta, precipuamente, na
que há mais tempo se dedicam ao serviço público, e nos quais se presume realização de certas atividades que exigem maior assistência do
maior experiência e mais eficiência no desempenho de suas funções, o que funcionário, que há de ficar integralmente à disposição da Administração, e
justifica o acréscimo estipendiário, sem correr os azares de uma eventual somente dela. O que caracteriza o regime de tempo integral é o fato de o
promoção. servidor só poder exercer uma função ou um cargo público, sendo-lhe
O adicional em exame tanto pode ser calculado percentualmente vedado realizar qualquer outra atividade profissional particular ou pública.
sobre o padrão de vencimento atual do servidor como pode a lei indicar Nesse regime a regra é um emprego e um só empregador, diversamente do
outro índice ou, mesmo, instituí-lo em quantia fixa, igual para todos, ou que ocorre no regime de dedicação plena, em que o servidor pode ter mais
progressiva em relação aos estipêndios. Sua adoção fica inteiramente a de um emprego e mais de um empregador, desde que diversos da função
critério e escolha da Administração, que poderá concedê-lo, modificá-lo ou pública a que se dedica precipuamente.
extingui-lo a qualquer tempo, desde que o faça por lei e respeite as Como adicional de função, o acréscimo de tempo integral não deve
situações jurídicas anteriores, definitivamente constituídas em favor dos ser estendido, indiscriminadamente, a cargos e funções de atividades
servidores que já completaram o tempo necessário para a obtenção da meramente burocráticas, porque isto importa desvirtuar o regime e anular
vantagem. sua finalidade, convertendo-o num simples meio de majoração de
O adicional de função apresenta-se como vantagem pecuniária ex vencimento, quando seu objetivo institucional é o de aprimorar o trabalho
facto officii, ligada a determinados cargos ou funções que, para serem bem técnico e incrementar a investigação científica e a formação de
desempenhados, exigem um regime especial de trabalho, uma particular pesquisadores, necessários ao desenvolvimento do País. Por idêntica
dedicação ou uma especial habilitação de seus titulares. Ocorrendo qual- razão, este adicional não deve ser instituído como vantagem pessoal pura,
quer dessas hipóteses, em que o serviço refoge da rotina burocrática, por sem condições de melhoria do serviço e sem prazo de carência para se
seu caráter técnico, didático ou científico, passando a exigir maior jornada incorporar ao vencimento.
de trabalho, maior atenção do servidor ou maior especialização profissional, O adicional de dedicação plena tem natureza similar à do de tempo
a Administração recompensa pecuniariamente os funcionários que o integral, visto que ambos resultam de regimes especiais de trabalho,
realizam, pagando-lhes um adicional de função enquanto desempenham o exigidos por determinadas atividades do Magistério e Pesquisa, próprias
cargo nas condições estabelecidas pelo Poder Público. das Universidades e Institutos científicos.
Nesta categoria entram os adicionais de tempo integral, de A diferença entre o regime de tempo integral e o de dedicação
dedicação plena e nível universitário. plena está em que naquele o servidor só pode trabalhar no cargo ou na
Todo adicional de função é, por natureza, vantagem pecuniária pro função que exerce para a Administração, sendo-lhe vedado o desempenho
labore faciendo, de auferimento condicionado à efetiva prestação do de qualquer outra atividade profissional pública ou particular, ao passo que
serviço nas condições estabelecidas pela Administração. Dai por que não neste (regime de dedicação plena) o servidor trabalhará na atividade
se incorpora automaticamente ao vencimento, mas deve integrá-lo para profissional de seu cargo ou de sua função exclusivamente para a
efeitos de disponibilidade ou aposentadoria se no momento da passagem Administração, mas poderá desempenhar atividade diversa da de seu
para a inatividade remunerada o funcionário estava exercendo o cargo ou a cargo ou de sua função em qualquer outro emprego particular ou público,
função com o período de carência consumado. Nem seria justo e jurídico desde que compatível com o da dedicação plena. No regime de tempo
que a Administração se beneficiasse durante todo o tempo de atividade do integral o servidor só poderá ter um emprego; no de dedicação plena
servidor com as vantagens da exclusividade de seu trabalho e de sua poderá ter mais de um, desde que não desempenhe a atividade
profissão e ao pólo em disponibilidade, ou ao conceder-lhe a correspondente à sua função pública exercida neste regime.
aposentadoria, passasse a desconhecer o regime especial em que Exemplificando: o professor em regime de tempo integral só poderá exercer
trabalhou e o diploma universitário que apresentou para ter acesso ao as atividades do cargo e nenhuma outra atividade profissional pública ou
cargo ou à função. particular; o advogado em regime de dedicação plena só poderá exercer a
Comumente, o estatuto estabelece um período de carência para Advocacia para a Administração da qual é servidor, mas poderá
que o adicional de função se incorpore ao vencimento, cautela muito desempenhar a atividade de Magistério ou qualquer outra para a
conveniente, a fim de que a Administração obtenha uma relativa Administração (acumulação de cargos) ou para particulares.
continuidade nos trabalhos empreendidos por seus técnicos, professores e Trabalhando em regime de dedicação plena o servidor fará jus ao
pesquisadores e, por outro lado, para que o acréscimo estipendiário não adicional de função estabelecido em lei, como compensação pelas
venha a integrar o vencimento dos inconstantes no serviço, nem se preste restrições do cargo. Este regime só se justifica para aqueles serviços que
à maj oração de proventos daqueles que às vésperas da aposentadoria exigem demorados estudos e pacientes trabalhos técnicos que nem
ingressem no regime de tempo integral ou no de dedicação plena ou sempre podem ser feitos nas repartições, requerendo do funcionário a
passem a exercer cargos ou funções de nível universitário. preparação ou a complementação em casa ou, mesmo, em biblioteca e
O adicional de tempo integral advém do regime de full-time norte- locais diversos do da sede do serviço. O adicional de dedicação plena não
americano e só recentemente foi adotado pela Administração Brasileira. O se incorpora imediatamente ao vencimento, dependendo do transcurso de
estatuto federal facultava o estabelecimento deste regime de trabalho “para período de carência que a Administração estabelecer.
os cargos ou funções indicados em lei” (Lei 1.711/52, art. 244). A O adicional de nível universitário é um típico adicional de função
subsequente Lei 3.780, de 12.7.60, permitia sua adoção pelo servidor que
Direito Administrativo 35 A Opção Certa Para a Sua Realização
APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
(ex facto officii), decorrente do caráter técnico de certas atividades da gabinete; pelo exercício em determinadas zonas ou locais; pela execução
Administração, que exigem conhecimentos especializadas para serem bem de trabalho técnico ou científico não decorrente do cargo; pela participação
realizadas. Por sua natureza, deve incorporar-se ao vencimento, mas essa em banca examinadora ou comissão de estudo ou de concurso; pela
integração tem sido evitada pela legislação pertinente das três esferas transferência de sede’6’ (ajuda de custo); pela prestação de serviço fora da
administrativas, que o classificam, equivocadamente, como “gratificação”. sede (diárias).
Desde que a finalidade institucional deste adicional é propiciar Essas gratificações só devem ser percebidas enquanto o servidor
melhor remuneração aos profissionais diplomados em curso superior, de está prestando o serviço que as enseja, porque são retribuições
cuja habilitação se presume a maior perfeição técnica de seu trabalho, não pecuniárias pro labore faciendo e propter laborem. Cessado o trabalho que
se justifica sua extensão a servidores leigos, embora exercendo funções lhes dá causa ou desaparecidos os motivos excepcionais e transitórios que
especializadas ou ocupando cargos reservados a titulares de nível as justificam, extingue-se a razão de seu pagamento. Daí por que não se
universitário. A ampliação dessa vantagem aos não diplomados, sobre ser incorporam automaticamente ao vencimento, nem são auferidas na
um contra-senso, prejudicaria os objetivos que a Administração teve em disponibilidade e na aposentadoria, salvo quando a lei expressamente o
vista quando a destinou unicamente aos diplomados em curso superior, determina, por liberalidade do legislador.
excluindo de seus benefícios até mesmo os habilitados em cursos de grau
Dentre as gratificações de serviço merece algumas considerações,
médio.
por sua novidade e generalidade no serviço público, a que se paga aos
Finalmente, é de se observar que não basta seja o servidor titular servidores que executam trabalho com risco de vida ou saúde.
de diploma de curso superior para o auferimento da vantagem de nível
A gratificação por risco de vida ou saúde é uma vantagem
universitário; é necessário que esteja desempenhando função ou
pecuniária vinculada diretamente às condições especiais de execução do
exercendo cargo para o qual se exige o diploma de que é portador. O que a
serviço. Não é uma retribuição genérica pela função desempenhada pelo
Administração remunera não é a habilitação universitária em si mesma; é o
servidor; é uma compensação específica pelo trabalho realizado em
trabalho profissional realizado em decorrência dessa habilitação, e da qual
condições potencial-mente nocivas para o servidor. O que se compensa
se presume maior perfeição técnica e melhor rendimento administrativo.
com esta gratificação é o risco, ou seja, a possibilidade de dano à vida ou à
Gratificações: são vantagens pecuniárias atribuídas precariamente saúde daqueles que executam determinados trabalhos classificados pela
aos servidores que estão prestando serviços comuns da função em Administração como perigosos. Daí por que tal gratificação só é auferível
condições anormais de segurança, salubridade ou onerosidade enquanto o servidor estiver executando o trabalho beneficiado com essa
(gratificações de serviço), ou concedidas como ajuda aos servidores que vantagem.
reúnam as condições pessoais que a lei especifica (gratificações
Essa gratificação só pode ser instituída por lei, mas cabe ao
especiais). As gratificações — de serviço ou pessoais — não são
Executivo especificar, por decreto, quais os serviços e os servidores que
liberalidades puras da Administração; são vantagens pecuniárias
irão auferi-la. Não será o servidor, nem o Judiciário, que dirá se ocorre o
concedidas por recíproco interesse do serviço e do servidor, mas sempre
risco gratificável, porque o conceito de risco, para fins de vantagem
vantagens transitórias, que não se incorporam automaticamente ao
pecuniária, não é técnico, nem jurídico: é meramente administrativo. O risco
vencimento, nem geram direito subjetivo à continuidade de sua percepção.
só existe, para efeito de gratificação, onde a Administração o admitir, e
Na feliz expressão de Mendes de Almeida, “são partes contingentes, isto é,
cessará quando ela o considerar inexistente. Por esse motivo, a
partes que jamais se incorporam aos proventos, porque pagas
gratificação por risco de vida ou saúde pode ser suprimida, ampliada ou
episodicamente ou em razão de circunstâncias momentâneas”.
restringida a todo tempo, sem ofensa a direito dos que a estavam
Como já vimos precedentemente, as gratificações distinguem-se percebendo.
dos adicionais porque estes se destinam a compensar encargos
Por outro lado, o Executivo não pode estender essa vantagem a
decorrentes de funções especiais, que se apartam da atividade
serviços e servidores que não satisfaçam os pressupostos legais para seu
administrativa ordinária, e aquelas — as gratificações — visam a
auferimento, porque, como bem decidiu o STF, isto importaria majoração de
compensar riscos ou ônus de serviços comuns realizados em condições
vencimentos por decreto, o que é inadmissível para o serviço público de
extraordinárias, tais como os trabalhos executados em perigo de vida e
qualquer das entidades estatais.
saúde, ou no período noturno, ou além do expediente normal da repartição,
ou fora da sede etc. As gratificações são concedidas em razão das Observe-se, finalmente, que a gratificação por risco de vida ou
condições excepcionais em que está sendo prestado um serviço comum saúde não cobre o dano efetivo que o servidor venha a suportar no serviço.
(propter laborem) ou em face de situações individuais do servidor (propter Esta gratificação visa a compensar, apenas, a possibilidade de dano, vale
personam), diversamente dos adicionais, que são atribuídos em face do dizer, o risco em si mesmo, e não a morte, a doença ou a lesão ocasionada
tempo de serviço (ex facto officii). Não há confundir, portanto, gratificação pelo trabalho. Se nada ocorrer ao servidor durante o serviço, cessado este,
com adicional, pois são vantagens pecuniárias distintas, com finalidades deve cessar a gratificação, por afastada a potencialidade do dano, que é o
diversas, concedidas por motivos diferentes. A gratificação é retribuição de risco. Assim, todavia, não tem sido entendido pela jurisprudência, que vem
um serviço comum prestado em condições especiais; o adicional é considerando a gratificação incorporada ao vencimento e integrante dos
retribuição de uma função especial exercida em condições comuns. Daí por proventos da aposentadoria. Não podemos abonar esse entender, contrário
que a gratificação é, por índole, vantagem transitória e contingente e o à natureza e à finalidade da vantagem em exame, que é uma gratificação
adicional é, por natureza, permanente e perene. de serviço, e não um componente do padrão de vencimento, que deva
acompanhá-lo na inatividade.
Em última análise, a gratificação não é vantagem inerente ao cargo
ou à função, sendo concedida em face das condições excepcionais do Gratificação pessoal, ou, mais precisamente, gratificação em razão
serviço. ou do servidor. de condições pessoais do servidor (propter personam), é toda aquela que
se concede em face de fatos ou situações individuais do servidor, tais como
Feitas essas considerações preliminares sobre as gratificações,
a existência de filhos menores ou dependentes incapacitados para o
vejamos as duas modalidades em que se apresentam na Administração
trabalho (salário-família) e outras circunstâncias peculiares do beneficio.
Pública: gratificação de serviço e gratificação pessoal.
Tais gratificações não decorrem de tempo de serviço, nem do desempenho
Gratificação de serviço (propter laborem) é aquela que a de determinada função, nem da execução de trabalhos especiais, mas, sim,
Administração institui para recompensar riscos ou ônus decorrentes de da ocorrência de fatos ou situações individuais ou familiares previstas em
trabalhos normais executados em condições anormais de perigo ou de lei. Daí por que podem ser auferidas independentemente do exercício do
encargos para o servidor, tais como os serviços realizados com risco de cargo, bastando que persista a relação de emprego entre o beneficiário e a
vida e saúde ou prestados fora do expediente, da sede ou das atribuições Administração, como ocorre com os que se encontram em disponibilidade
ordinárias do cargo. O que caracteriza essa modalidade de gratificação é ou na aposentadoria.
sua vinculação a um serviço comum, executado em condições
O salário-família é uma típica gratificação pessoal, pois é
excepcionais para o funcionário, ou a uma situação normal do serviço mas
concedido aos servidores em exercício ou em inatividade, desde que
que acarreta despesas extraordinárias para o servidor. Nessa categoria de
apresentem as condições familiares estabelecidas na lei respectiva. Essa
gratificações entram, dentre outras, as que a Administração paga pelos
gratificação não deflui do serviço público, nem lhe é privativa, mas encontra
trabalhos realizados com risco de vida e saúde; pelos serviços
justificativa no interesse do Estado em amparar os servidores que tenham
extraordinários; pelo exercício do Magistério; pela representação de

Direito Administrativo 36 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
maiores encargos pessoais para a manutenção de filhos menores ou de vimos, o ilícito administrativo independe do ilícito penal. A absolvição
dependentes incapacitados para o trabalho. É assegurado aos servidores criminal só afastará o ato punitivo se ficar provada, na ação penal, a
de baixa renda nos termos da lei (arts. 7º, 39, § 3º, e 142, § 3º, VIII, da CF, inexistência do fato ou que o acusado não foi seu autor.’7’ Mas, se a
com as redações das EC 18, 19 e 20). Essa lei é de caráter nacional. punição estiver fundamentada na “prática de crime contra a Administração
Enquanto não editada, o salário-família assim como o auxílio-reclusão Pública, este há que estar afirmado em sentença transitada em julgado”.
somente serão concedidos àqueles que tenham renda bruta mensal igual
O que a Administração não pode é aplicar punições arbitrárias, isto
ou inferior a R$ 360,00 (art. 13 da EC 20).
é, que não estejam legalmente previstas. Desde já deixamos esclarecido
Com essas vantagens pecuniárias a Administração atende à que tais atos exigem fiel observância da lei para sua prática e impõem à
recomendação constitucional para que se dê à família especial proteção do Administração o dever de motivá-los, isto é, de demonstrar sua
Estado (CF, art. 226). Não se incorporam à remuneração, mas devem ser conformidade com os dispositivos em que se baseiam. Aliás, a tendência
auferidas também na disponibilidade, na aposentadoria e na pensão moderna, como observa mui agudamente Jèze, é a da motivação de todo
enquanto subsistirem as condições legais para sua percepção. ato administrativo que não decorra do poder discricionário da Administração
Desde que o salário-família não integra o vencimento, sobre esta e da sua vinculação aos motivos determinantes do seu cometimento. Na
gratificação não devem incidir os adicionais de tempo de serviço ou de motivação da penalidade, a autoridade administrativa competente para sua
função, nem as gratificações de serviço, os quais terão para base de aplicação deve justificar a punição imposta, alinhando os atos irregulares
cálculo o padrão do cargo, se de outra forma não dispuser a lei. praticados pelo servidor, analisando sua repercussão danosa para o Poder
A Constituição de 1988 acrescentou dentre os direitos dos Público, apontando os dispositivos legais ou regulamentares violados e a
servidores públicos e aos militares, a licença-gestante e a licença- cominação prevista. O necessário é que a Administração Pública, ao punir
paternidade (arts. 39, § 3º, e 142, § 3º, VIII), as quais, embora não sejam seu servidor, demonstre a legalidade da punição. Feito isso, ficará
tipicamente vantagens pecuniárias, assumem esse caráter, por serem justificado o ato, e resguardado de revisão judicial, visto que ao Judiciário
remunerados os períodos de afastamento do trabalho. só é permitido examinar o aspecto da legalidade do ato administrativo, não
Indenizações — São previstas em lei e destinam-se a indenizar o podendo adentrar os motivos de conveniência, oportunidade ou justiça das
servidor por gastos em razão da função. Seus valores podem ser fixados medidas da competência específica do Executivo.
em lei ou em decreto, se aquela permitir. Tendo natureza jurídica indeniza- A extinção da pena administrativa dá-se normalmente pelo seu
tória, não se incorporam à remuneração,’ não repercutem no cálculo dos cumprimento, e excepcionalmente pela prescrição e pelo perdão por parte
benefícios previdenciários e não estão sujeitas ao imposto de renda. da Administração. O cumprimento da pena exaure a sanção; a prescrição
Normalmente, recebem as seguintes denominações: ajuda de custo — extingue a punibilidade, com a fluência do prazo fixado em lei, ou, na sua
destina-se a compensar as despesas de instalação em nova sede de omissão, pelo da norma criminal correspondente; o perdão da pena é ato
serviço, pressupondo mudança de domicílio em caráter permanente; diárias de demência da Administração e só por ela pode ser concedido em caráter
— indenizam as despesas com passagem e/ou estadia em razão de geral (a que se denomina, impropriamente, “anistia administrativa”), ou em
prestação de serviço em outra sede e em caráter eventual; auxílio- cada caso, sempre por atuação do Executivo que aplicou a sanção. Não
transporte — destina-se ao custeio total ou parcial das despesas realizadas pode o Legislativo conceder “anistia administrativa” por lei de sua iniciativa,
pelo servidor com transporte coletivo nos deslocamentos de sua residência porque isto importaria cancelamento de ato do Executivo por norma
para o trabalho e vice-versa. legislativa, o que é vedado pelo nosso sistema constitucional (art. 2º) (STF,
Outras podem ser previstas pela lei, desde que tenham natureza inde- RDA 86/142). Observamos que a pena expulsiva (demissão) é insuscetível
nizatória. Seus valores não podem ultrapassar os limites ditados por essa de extinção, porque todos os seus efeitos se consumam no ato de sua
finalidade, não podem se converter em remuneração indireta. Há de impe- imposição, fazendo cessar o vinculo funcional com a Administração.
rar, como sempre, a razoabilidade. Responsabilidade civil
Responsabilidades dos servidores A responsabilidade civil é a obrigação que se impõe ao servidor de
Os servidores públicos, no desempenho de suas funções ou a reparar o dano causado à Administração por culpa ou dolo no desempenho
pretexto de exercê-las, podem cometer infrações de quatro ordens: de suas funções. Não há, para o servidor, responsabilidade objetiva ou sem
administrativa, civil, criminal e improbidade administrativa. Por essas culpa. A sua responsabilidade nasce com o ato culposo e lesivo e se
infrações deverão ser responsabilizados no âmbito interno da exaure com a indenização. Essa responsabilidade (civil) é independente
Administração e/ou judicialmente. das demais (administrativa e criminal) e se apura na forma do Direito
A responsabilização dos servidores públicos é dever genérico da Privado, perante a Justiça Comum.
Administração e específico de todo chefe, em relação a seus subordinados. A Administração não pode isentar de responsabilidade civil seus
No campo do Direito Administrativo esse dever de servidores, porque não possui disponibilidade sobre o patrimônio público.
responsabilização foi erigido em obrigação legal, e, mais que isso, em crime Muito ao contrário, é seu dever zelar pela integridade desse patrimônio,
funcional, quando relegado pelo superior hierárquico, assumindo a forma adotando todas as providências legais cabíveis para a reparação dos danos
de condescendência criminosa (CP, art. 320). E sobejam razões para esse a ele causados, qualquer que seja o autor. Dai por que a parte final do § 6º
rigor, uma vez que tanto lesa a Administração a infração do subordinado do art. 37 da CF impõe a responsabilização do agente causador do dano
como a tolerância do chefe pela falta cometida, o que é um estímulo para o somente quando agir com culpa ou dolo, excluindo, portanto, a
cometimento de novas infrações. responsabilidade objetiva, que é unicamente da Administração perante a
vitima.
Responsabilidade administrativa
A responsabilização de que cuida a Constituição é a civil, visto que
Responsabilidade administrativa é a que resulta da violação de a administrativa decorre da situação estatutária e a penal está prevista no
normas internas da Administração pelo servidor sujeito ao estatuto e respectivo Código, em capítulo dedicado aos crimes funcionais (arts. 312 a
disposições complementares estabelecidas em lei, decreto ou qualquer 327). Essas três responsabilidades são independentes e podem ser apura-
outro provimento regulamentar da função pública. A falta funcional gera o das conjunta ou separadamente. A condenação criminal implica, entretanto,
ilícito administrativo e dá ensejo à aplicação de pena disciplinar, pelo o reconhecimento automático das duas outras, porque o ilícito penal é mais
superior hierárquico, no devido processo legal. que o ilícito administrativo e o ilícito civil. Assim sendo, a condenação
A punição administrativa ou disciplinar não depende de processo criminal por um delito funcional importa o reconhecimento, também, de
civil ou criminal a que se sujeite também o servidor pela mesma falta, nem culpa administrativa e civil, mas a absolvição no crime nem sempre isenta o
obriga a Administração a aguardar o desfecho dos demais processos, bem servidor destas responsabilidades, porque pode não haver ilícito penal e
mesmo em face da presunção constitucional de não culpabilidade. Apurada existir ilícitos administrativo e civil.
a falta funcional, pelos meios adequados (processo administrativo, A absolvição criminal só afasta a responsabilidade administrativa e
sindicância ou meio sumário), o servidor fica sujeito, desde logo, à civil quando ficar decidida a inexistência do fato ou a não autoria imputada
penalidade administrativa correspondente. ao servidor, dada a independência das três jurisdições. A absolvição na
A punição interna, autônoma que é, pode ser aplicada ao servidor ação penal, por falta de provas ou ausência de dolo, não exclui a culpa
antes do julgamento judicial do mesmo fato. E assim é porque, como já administrativa e civil do servidor público, que pode, assim, ser punido

Direito Administrativo 37 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
administrativamente e responsabilizado civilmente. para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a
Culpa e dolo são conceitos diversos. A culpa verifica-se na ação execução de atividade típica da Administração Pública”. Convém observar
ou omissão lesiva, resultante de imprudência, negligência ou imperícia do que a legislação penal continua a empregar a terminologia “funcionário
agente; o dolo ocorre quando o agente deseja a ação ou omissão lesiva ou público” mesmo diante da Constituição Federal de 1988, que só utiliza o
assume o risco de produzi-la. Um exemplo distinguirá bem as duas nomen juris “servidor público”.
situações: se um motorista propositadamente atropelar um transeunte, O processo dos crimes funcionais previstos no Código Penal e em
desejando matar ou ferir, cometerá um crime doloso; se o mesmo motorista leis esparsas obedece ao rito estabelecido nos arts. 513 a 518 do CPP,
atropelar um mesmo transeunte sem o querer, mas com imprudência, ficando o réu, desde o indiciamento, sujeito ao sequestro de bens, a
imperícia ou negligência, terá cometido um crime culposo. A diferença entre requerimento do Ministério Público, quando houver prejuízo para a Fazenda
os dois ilícitos é subjetiva: varia segundo a conduta do agente. Assim, se o Pública (Dec.-lei 3.240/41). Para os crimes de abuso de autoridade o
servidor causar prejuízo à Administração por negligência, imperícia ou processo é o previsto nos arts. 12 a 28 da Lei 4.898/65.
imprudência na sua conduta, ficará sujeito à responsabilização civil e Além dos crimes funcionais comuns, nos quais pode incidir
administrativa, mas pode não ficar sujeito à responsabilização penal, se qualquer servidor público, há, ainda, os crimes de responsabilidade dos
não cometeu nenhum ilícito criminal. A culpa é menos que o dolo, como os agentes políticos (Chefes do Executivo federal, estadual e municipal,
ilícitos administrativo e civil são menos que o ilícito penal, e, por isso, pode Ministros do Estado e do STF, Procurador-Geral da República e Secretários
haver responsabilidade civil e administrativa sem haver responsabilidade de Estado), capitulados na Lei 1.079, de 10.4.50, que regula o
criminal, mas não pode haver responsabilidade penal sem responsabilidade impeachment a ser aplicado como penalidade político-administrativa, sem
administrativa e civil. prejuízo da ação penal, e no Dec.-lei 201, de 27.2.67 (para os Prefeitos).
Essencial para existência da responsabilidade civil é que o ato Todos os crimes funcionais e os de responsabilidade são delitos
culposo do servidor cause dano patrimonial à Administração. Sem a de ação pública, o que permite a instauração do processo respectivo
ocorrência de dano patrimonial não há fundamento para a mediante comunicação de qualquer pessoa à autoridade competente e
responsabilização civil, que visa, unicamente, à reparação material, denúncia do Ministério Público. Para os crimes de abuso de autoridade a
pecuniária, da Administração. Lei 4.898/65 condicionava a denúncia do Ministério Público a
A comprovação do dano e da culpa do servidor é comumente feita representação do ofendido (art. 12), mas a Lei 5.249, de 9.2.67,
através do processo administrativo, findo o qual a autoridade competente praticamente dispensou este requisito ao dispor que a falta de
lhe impõe a obrigação de repará-lo, através de indenização em dinheiro, representação “não obsta a iniciativa ou o curso da ação” (art. 1º).
indicando a forma de pagamento. Os estatutos costumam exigir a Responsabilidade por improbidade administrativa
reposição de uma só vez quando o prejuízo decorrer de alcance, desfalque,
O art. 12, caput, da Lei 8.429/92 diz que, independentemente das
remissão ou omissão de recolhimento ou entrada no prazo devido,
sanções penais, civis e administrativas, o responsável pelo ato de
admitindo para os demais casos o desconto em folha, em bases módicas,
improbidade administrativa fica sujeito às punições previstas nos seus incs.
geralmente não mais de dez por cento do vencimento do responsável.
I, II e III. Logo, ex vi legis, a punição por improbidade administrativa decorre
Esse procedimento é válido inclusive na hipótese prevista no § 6º de responsabilidade distinta e independente das responsabilidades penal,
do art. 37 da CF, mas, em qualquer caso, é necessária a concordância do civil e administrativa previstas na legislação específica, analisadas acima.
responsável, porque a Administração não pode lançar mão dos bens de Por essa razão, “a aplicação das penalidades previstas na Lei 8.429/92 não
seus servidores, nem gravar unilateralmente seus vencimentos, para incumbe à Administração”, sendo “privativa do Poder Judiciário” (STF, RTJ
ressarcir-se de eventuais prejuízos. Faltando-lhe esta aquiescência, deverá 195/73).
recorrer às vias judiciais, quer propondo ação de indenização contra o
A Lei 8.429/92 classifica e define os atos de improbidade
servidor, quer executando a sentença condenatória do juízo criminal ou a
administrativa em três espécies: a) os que importam enriquecimento ilícito
certidão da divida ativa (no caso de alcances e reposições de recebimentos
(art. 90); b) os que causam prejuízo ao erário (art. 10); e c) os que atentam
indevidos).
contra os princípios da Administração Pública (art. 11). Para cada espécie
A responsabilização civil de servidor por danos causados a há uma previsão de punições, descritas nos incs. I a III do art. 12.
terceiros no exercício de suas atividades funcionais depende da Conforme o caso, as cominações podem ser: perda dos bens ou valores
comprovação de sua culpa em ação regressiva proposta pela pessoa acrescidos ilicitamente; ressarcimento integral do dano; perda da função
jurídica de Direito Público depois de condenada à reparação (CF, art. 37, § pública; suspensão dos direitos políticos; multa civil; proibição de contratar
6º). É óbvio que o servidor pode ter interesse em intervir na ação, com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou
principalmente para assegurar o justo valor da indenização, devendo fazê- creditícios — cabendo ao Judiciário aplicá-las, levando em conta a
lo na qualidade de assistente voluntário, e nunca como litis-consorte extensão do dano e o proveito patrimonial obtido pelo agente, dentre outros
necessário (CPC, art. 75, I), situação que lhe permite, entre outras coisas, fatores inerentes e inafastáveis na aplicação da lei (art. 12, parágrafo
confessar os fatos alegados pelo autor (art. 75, III), prejudicando a defesa único).
da Administração e obrigando-a a uma indenização nem sempre devida,
Dentre os diversos atos de improbidade administrativa,
sem possibilidade, na maioria das vezes, de ressarcir-se.
exemplificados nessa lei, o de “adquirir, para si ou para outrem, no
Responsabilidade criminal exercício de mandato, cargo, emprego ou função pública, bens de qualquer
A responsabilidade criminal é a que resulta do cometimento de natureza cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou renda
crimes funcionais. O ilícito penal sujeita o servidor a responder a processo do agente público” (art. 9º, VII) merece destaque, dado seu notável alcance,
crime e a suportar os efeitos legais da condenação (CP, arts. 91 e 92). O pois inverte o ônus da prova, sempre difícil para o autor da ação em casos
Estado-membro e o Município não podem legislar sobre crimes funcionais, como o descrito pela norma. Nessa hipótese, quando desproporcional, o
porque tal matéria é de Direito Penal e constitui reserva constitucional da enriquecimento é presumido como ilícito, cabendo ao agente público a
União (CF, art. 22, I). prova de que ele foi lícito, apontando a origem dos recursos necessários à
A maioria dos crimes contra a Administração Pública está definida aquisição.
no tít. XI, caps. 1 (arts. 312 a 326) e II (arts. 359-A a 359-H), do Código Para os fins previstos na Lei 8.429/92, reputa-se agente público
Penal; este último com o nome de “Crimes Contra as Finanças Públicas”, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração,
foi acrescentado pela Lei 10.028, de 19.10.2000, que instituiu novos crimes por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma
em decorrência da Lei de Responsabilidade Fiscal, mas nada impede que de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em
lei especial federal estabeleça outras infrações, visando a proteger entidades da Administração direta, indireta ou fundacional ou de empresa
determinados interesses administrativos. incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou
Considera-se servidor público, para efeitos penais, quem, embora custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinquenta por
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função cento do patrimônio ou da receita anual (art. 2º, c/c O art. 1º).
pública (art. 327 do CP). O parágrafo único desse art. 327, na redação Os responsáveis por atos de improbidade praticados contra o
dada pela Lei 9.983, de 14.7.2000, equipara a “funcionário público quem patrimônio de entidade que receba subvenção ou qualquer beneficio do
exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal e quem trabalha Poder Público ou para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou

Direito Administrativo 38 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
concorra com menos de cinquenta por cento também estão sujeitos às processos de perdimento, a requerimento do Ministério Público ou da
penalidades dessa lei (art. 1º, parágrafo único). O art. 52 da Lei pessoa jurídica interessada (art. 16 da Lei 8.429/92). O pedido pode incluir,
10.527/2001 (Estatuto da Cidade) diz que, pelas condutas ali relacionadas, ainda, a investigação, o exame e o bloqueio de bens, contas bancárias e
o “Prefeito” pode incorrer em improbidade administrativa, nos termos da Lei aplicações financeiras mantidas pelo indiciado no Exterior, nos termos da
8.429/92. Embora essa norma mencione apenas o “Prefeito”, é claro que lei e dos tratados internacionais (art. 16, § 2º). É evidente que tais medidas
outros agentes públicos que também participarem ou concorrerem para podem envolver contas e aplicações existentes no território nacional.
aquelas condutas poderão cometer improbidade administrativa, só que esta O perdimento dos bens que constituem produto de crime ou
deverá se enquadrar nas espécies previstas pela Lei 8.429/92. proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso, em favor da
O § 2º do art. 84 do CPP, na redação que lhe dava a Lei União, é um dos efeitos da condenação, nos termos do art. 91, II, “b”, do
10.268/2003, foi julgado inconstitucional pelo STF na ADI 2.797-DF. Assim, CP. Por isso mesmo, na hipótese de crime comum, a Administração
quer se cuide de ocupante de cargo público, quer se cuide de titular de interessada deverá promover o sequestro, na forma do Dec.-lei 3.240/41, a
mandato eletivo, a ação de improbidade de que trata a Lei 8.429/92 será fim de garantir o ressarcimento com os referidos bens.
proposta em primeiro grau. Em qualquer hipótese, porém, é cabível ação autônoma visando à
Meios de punição decretação da perda dos bens, a qual, caso tenha havido medida cautelar,
A responsabilização e a punição dos servidores públicos fazem-se deve ser proposta dentro de trinta dias, contados da efetivação da medida
por meios internos e externos. Aqueles abrangem o processo administrativo (Lei 8.429/92, art. 17).
disciplinar e os meios sumários, com a garantia do contraditório e da ampla Enriquecimento ilícito
defesa; estes compreendem os processos judiciais, civis e criminais. Os Enriquecimento ilícito, no que tange a servidores públicos, é o que
meios internos, como o nome está indicando, desenvolvem-se e se decorre da prática de crime contra a Administração definido no CP, arts.
exaurem no âmbito da própria Administração; os meios externos ficam a 312 a 327.
cargo exclusivo do Poder Judiciário e se realizam como prestações
Abuso de autoridade
jurisdicionais comuns, quando requeridas pela própria Administração
(ações civis) ou pelo Ministério Público (ações criminais e ação civil O abuso de autoridade, definido na Lei 4.898, de 9.12.65, alterada
pública). Ao Direito Administrativo só interessam os meios internos como pela Lei 6.657, de 5.6.79, sujeita o agente público federal, estadual ou
formas especificas de proteção ao serviço público e de repressão às municipal à tríplice responsabilidade civil, administrativa e penal.
infrações funcionais dos servidores. A apuração da responsabilidade civil faz-se por ação ordinária,
Conforme a gravidade da infração a apurar e da pena a aplicar, a perante a Justiça Comum federal ou estadual, conforme seja a autoridade.
Administração disporá do meio de responsabilização adequado, que vai A responsabilidade administrativa e a penal apuram-se através dos
desde o processo administrativo disciplinar até a apuração sumária da falta, processos especiais estabelecidos pela própria lei, mediante representação
através de simples sindicância, ou mesmo pela verdade sabida, mas, em da vítima à autoridade superior ou ao Ministério Público competente para a
qualquer hipótese, com a garantia de ampla defesa (CF, art. 5º, LV). ação criminal.
Para a demissão dos vitalícios, entretanto, o meio único é o Os abusos de autoridade puníveis nos termos dessa lei são
processo judicial (CF, arts. 95, I, e 128, § 5º, I, “a”); para os estáveis poderá somente os indicados em seus arts. 3º e 4º, relativos à liberdade individual,
ser utilizado o processo administrativo disciplinar (CF, art. 41, § 1º) e para à inviolabilidade do domicílio e da correspondência e aos direitos de
os instáveis bastará a sindicância, despida de maiores formalidades, desde locomoção, de culto, de crença, de consciência, de voto e de reunião, bem
que por ela se demonstre a falta ensejadora da pena demissória. Em como os concernentes à incolumidade física do indivíduo.
qualquer caso, porém, é necessário que se faculte ao processado ou ao Para os efeitos dessa lei, considera-se autoridade todo aquele que
sindicado a possibilidade de ampla defesa. exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil ou militar, ainda
Por ampla defesa deve-se entender a vista do processo ou da que transitoriamente ou sem remuneração.
sindicância ao servidor acusado, com a faculdade de resposta e de As penas por abuso de autoridade vão desde a advertência administra-
produção de provas contrárias à acusação. Essa defesa poderá ser feita tiva até a demissão, e no processo penal escalonam-se em multa, deten-
pessoalmente pelo servidor ou por advogado regularmente constituído, sem ção, perda do cargo e inabilitação para função pública, aplicadas isolada ou
que os autos saiam da repartição em que tramitam. Não se exigem para a cumulativamente.
punição disciplinar os rigores do processo criminal, nem do contraditório da Os procedimentos decorrentes dessa lei são autônomos em
ação penal, mas é necessário que se conceda ao acusado oportunidade de relação à responsabilização civil e administrativa da própria Administração,
ilidir a acusação. Sem esta possibilidade de defesa a punição administrativa visto que o legislador deu legitimidade às vitimas para chamarem a juízo
é nula, por afrontar uma garantia constitucional (CF, art. 5º, LV). diretamente seus ofensores. Isto não impede, entretanto, que a
Dada sua importância como meio de punição interno, o processo Administração tome a iniciativa da ação regressiva prevista no art. 37, § 6º,
administrativo disciplinar, espécie do gênero processo administrativo, está da CF, independentemente de qualquer representação do ofendido (Lei
examinado exaustivamente no item 3.3.6 do cap. XI, a que remetemos o 4.619, de 28.4.65).
leitor, para evitar repetições. Militares
Sequestro e perdimento de bens Como acentuado, a EC 18 alterou a denominação da seç. III do
O sequestro e o perdimento de bens são cabíveis contra os cap. VII do tít. III da Constituição para “Dos militares dos Estados, do
servidores que enriqueceram ilicitamente com o produto de crime contra a Distrito Federal e dos Territórios” e deslocou o tratamento dos militares das
Administração, ou por influência ou com abuso de cargo, função ou Forças Armadas para o cap. II do tít. V. De servidores públicos, passaram a
emprego público. O sequestro é providência cautelar, enquanto o ser denominados exclusivamente de militares, quando membros das Forças
perdimento é medida definitiva, respaldada no art. 5º, XLV, da CF, que Armadas; e de servidores policiais ou, ainda, de militares, quando
resulta do reconhecimento da ilicitude do enriquecimento do servidor. O integrantes das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros (cf. art. 42, do art.
perdimento, quando não decorre de sentença criminal condenatória (CP, 144, § 9º, e art. 142, § 3º)
art. 74, II), pode ser declarado judicialmente, através de procedimento Os não integrantes das Forças Armadas estão tratados no tít. III,
próprio. cap. VII, que cuida “Da Administração Pública”, apenas separados dos
O sequestro dos bens adquiridos pelo indiciado com o produto da servidores civis, em seção diversa. Já os membros das Forças Armadas
infração penal está genericamente disciplinado no CPP, arts. 125 a 144. estão tratados no cap. II (“Das Forças Armadas”) do tít. V, que cuida “Da
Todavia, quando a vítima é a Fazenda Pública, o procedimento é o previsto defesa do Estado e das instituições democráticas”.
no Dec.-lei 3.240, de 8.5.4 1, expressamente revigorado pelo Dec.-lei O ingresso no serviço público militar dá-se, normalmente, por
359/68 (art. 11). Nesse caso, é requerido pelo Ministério Público, por recrutamento e, excepcionalmente, por concurso, na forma regulamentar da
representação da autoridade policial ou da administrativa, dependendo sua respectiva Arma ou serviço. Os militares têm por base a hierarquia e a
subsistência da instauração da ação penal no prazo de noventa dias (arts. disciplina, no que diferem dos servidores civis. A estrutura do serviço militar
6º, I, e 20, §1º). consiste em patentes (para os oficiais) e graduação (para os praças).
O sequestro é cabível, também, como medida preliminar, nos Os direitos e deveres dos militares constam dos respectivos

Direito Administrativo 39 A Opção Certa Para a Sua Realização


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regulamentos, atendidos os preceitos constitucionais pertinentes (art. 42, valor máximo e ideal para a remuneração e os proventos dos servidores
§§1º e 2º, para os Estados; e art. 142, § 3º, para as Forças Armadas), públicos, do naipe, por exemplo, do art. 37, XI, haverá sempre uma postura
ressaltando-se que “ao militar são proibidas a sindicalização e a greve”, voltada para o ideal e outra para o cumprimento dos mandamentos
aplicando-se-lhes o disposto no art. 7º, VIII, XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no constitucionais, ainda que isto não corresponda ao ideal. Preferimos, como
art. 37, XI, XIII, XIV e XV, bem como no art. 40, §§ 4º, 5º e 6º, da CF (art. se verá, flcar com a segunda hipótese, única cabível no Estado de Direito,
142, § 3º, IV e VIII). Vale destacar que para as punições disciplinares mesmo porque, acreditamos, o sistema constitucional instituído pela Carta
militares não é cabível habeas corpus (CF, art. 142, § 2º). de 1988 contém mecanismos que podem levar àquele ideal, como, a título
Os militares em atividade, como ocorre com os servidores civis, de exemplo, a correta aplicação dos princípios da razoabilidade e da
podem passar para a inatividade remunerada, mediante reforma, nos moralidade administrativo, mesmo porque, no mesmo precedente acima
termos da Constituição Federal e da legislação ordinária correspondente, referido, o STF consignou que a incidência da garantia da irredutibilidade,
ou, ainda, manter-se na reserva não remunerada, como ocorre com os como direito adquirido, pressupõe a licitude da aquisição do direito a
oficiais provenientes do Centro e Núcleos de Preparação de Oficiais da determinada remuneração.
Reserva —CPOR e NPOR, os quais, em tempo de guerra, podem ser Perfilhando o entendimento dominante entre os publicistas, o STF
convocados para a ativa de sua patente. assentou a possibilidade de emenda constitucional ser submetida ao
O art. 42, § 1º, da CF, na redação dada pela EC 20/98, manda controle concentrado ou difuso de constitucionalidade. Assim, qualquer
aplicar aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além emenda constitucional pode ser objeto de controle de constitucionalidade
do que vier a ser fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8º (militar no pertinente às limitações decorrentes da própria Carta Magna. Segundo
alistável e elegível), do art. 40, § 9º (contagem de tempo de contribuição), e Michel Temer, essas limitações são de três espécies: procedimentais,
do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo à lei estadual específica dispor sobre as materiais (explícitas e implícitas) e circunstanciais. No caso, o exame do
matérias do art. 142, § 3º, X, sendo as patentes dos oficiais conferidas direito adquirido à irredutibilidade envolve limitação de natureza material
pelos respectivos Governadores. Esse inc. X do § 3º do art. 142, na explícita, uma vez que advém do art. 60, § 4º, da CF.
redação dada pela EC 18, prevê um regime jurídico peculiar para os Com efeito, ali está consignado que não será objeto de deliberação
militares, inclusive sobre a remuneração, as prerrogativas e outras a proposta de emenda tendente a abolir, dentre outros, os direitos e
situações especiais, “consideradas as peculiaridades de suas atividades”. garantias individuais. Como ensina o acatado constitucionalista José
Quanto aos pensionistas, o § 2º do art. 42, na redação da EC 41, determina Afonso da Silva, é “claro que o texto não proíbe apenas emendas que
a aplicação do que for fixado em lei específica de cada Estado, do Distrito expressamente declarem: ‘fica abolida a Federação ou a forma federativa
Federal e dos Territórios. Registre-se que a aplicação do disposto no art. de Estado’, ‘fica abolido o voto direto (...)‘, ‘passa a vigorar a concentração
40, § § 7º e 8º, da CF, prevista pelo inc. IX do § 3º do art. 142 da CF, foi de Poderes’, ou ainda ‘fica extinta a liberdade religiosa, ou de comunicação
excluída, por força de sua revogação pelo art. 10 da EC 4 1/2003. (...), ou o habeas corpus, o mandado de segurança (...)‘. A vedação atinge
Direito adquirido a pretensão
A EC 19 determina, pelo seu art. 29, que os “subsídios, de modificar qualquer elemento conceitual (...) ou indiretamente
vencimentos, remuneração, proventos de aposentadoria e pensões e restringir a liberdade religiosa, ou de comunicação ou outro direito e
quaisquer outras espécies remuneratórias adequar-se-ão”, a partir da sua garantia individual; basta que a proposta de emenda se encamINhe, ainda
publicação, “aos limites decorrentes da Constituição Federal, não se que remotamente, ‘tenda’ (emendas tendentes, diz o texto) para sua
admitindo a percepção de excesso a qualquer título”. Já a EC 20, no art. abolição”.
30, caput e seus §§ 2º, 3º e 4º, após assegurar o direito adquirido quanto Nessa linha, por força dessa cláusula pétrea, a garantia do direito
ao regime jurídico anterior para os já aposentados ou os pensionistas dos adquirido há de ser respeitada e preservada mesmo pelo chamado poder
já falecidos ou para os que já tenham cumprido os requisitos para a constituinte derivado. Vale dizer, nenhum pessoa — e, portanto, nenhum
aposentadoria e/ou para a concessão da pensão com base na legislação servidor — poderá ter seu direito adquirido desrespeitado ou afrontado,
então vigente, determina que seja observado o disposto no art. 37, XI (cf ainda que remotamente, por qualquer emenda constitucional. Nas palavras
parte final do referido § 4º). Por seu turno, o art. 90 da EC 41 determina a do STF — nosso maior guardião e intérprete da Constituição —, as
aplicação do disposto no art. 17 do ADCT da CF/88, aos vencimentos, “limitações constitucionais explícitas, definidas no § 4º do art. 60 da
remunerações e subsídios, bem como aos proventos, pensões e outra Constituição da República, incidem diretamente sobre o poder de reforma
espécie remuneratória percebidos cumulativamente ou não, incluídas as conferido ao Poder Legislativo da União, inibindo-lhe o exercício quanto às
vantagens pessoais ou de qualquer natureza. categorias temáticas ali referidas”.
Em razão dessas normas, pode-se pensar que a EC 41 teria Não se afirma, aqui, que há direito adquirido ao regime jurídico; o
imposto uma redução do valor percebido quando este for superior ao que se sustenta é o direito adquirido de ordem individual, isto é, os efeitos
resultante da aplicação do art. 37, XI, na redação por ela dada, mesmo nos jurídicos produzidos no passado (facta praeterita) e já incorporados ao
casos em que esse quantum decorra de ato legítimo, ou seja, conforme aos patrimônio jurídico do servidor, ativo e inativo, e de seus pensionistas. Por-
princípios constitucionais e à lei. Assim seria porque, como aquele valor tanto, os limites remuneratórios decorrentes da EC 19 da EC 20 e, agora,
estaria sendo percebido em desacordo com a Constituição, haveria a da EC 41 aplicam-se a partir da entrada em vigor de cada uma, e, quanto à
incidência do disposto no art. 17 do ADCT da Carta de 1988. Como última, para o futuro, não podendo retroagir para colher efeitos que ocorre-
veremos, esse raciocínio não é admitido pela ordem jurídica, mesmo ram em momento anterior ao da respectiva publicação. Registre-se: os
porque recentemente o colendo STF voltou a proclamar que a garantia efeitos jurídicos já produzidos, não as meras expectativas de direito, na
constitucional de irredutibilidade de vencimentos ou do valor dos benefícios medida em que estas não caracterizam direito adquirido, justamente
(arts. 37, XV, e 194, parágrafo único, IV, da CF) é “modalidade qualificada porque, por serem expectativas, ainda não se concretizaram e, por não
da proteção ao direito adquirido”. terem se concretizado, não produziram efeitos anteriormente à norma nova.
Por isso, a exemplo do que dissemos nas edições anteriores a Comensurando o exposto, temos que o servidor, o inativo ou o
respeito das EC 19 e 20, para evitar numerosos conflitos entre servidores e pensionista que percebia quando da publicação da EC 41 remuneração,
a Administração Pública, cremos que o art. 90 da EC 41, na sua parte final, proventos ou pensão superior ao teto geral previsto no art. 37, XI, da CF,
deveria ter o acréscimo da locução “salvo os direitos adquiridos”, em na sua nova redação, não poderá ter redução desse valor. A diferença
especial o da garantia da irredutibilidade do quantum percebido. Note-se entre esse valor e o do teto geral deverá ser absorvida por alterações
que essa proteção decorre também do princípio da segurança jurídica. Isso futuras do subsídio, da remuneração ou do beneficio.
sem falar que somente dessa forma é que se assegura a preservação da É manifesto que somente o que foi adquirido de conformidade com
dignidade dos servidores, aposentados ou pensionistas. Aqui, desde logo, a ordem jurídica constitucional e legal então vigente é que tem a garantia
deve-se frisar que a garantia da irredutibilidade refere-se ao montante do direito adquirido. Nessa linha, no nosso entender, remunerações que
global de remuneração, obstando à diminuição do quanto já percebido. estejam em valores notoriamente desproporcionais aos limites máximos
Assim sendo, desde que não haja redução, não é vedada a alteração de estabelecidos pelo art. 37, Xl, da CF, inclusive com as vantagens pessoais
critérios legais de fixação do valor da remuneração ou do regime legal de incorporadas, não guardam razoabilidade e moralidade. Vale dizer, re-
cálculo ou reajuste de vencimentos ou vantagens funcionais. velam-se destituídas do necessário coeficiente de razoabilidade e, assim,
Na aplicação de norma constitucional que tem por objetivo fixar um lesivas à cláusula do substantive due process of law, objeto de expressa

Direito Administrativo 40 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
proclamação pelo art. 50, LIV, da CF (cf Ministro Celso de Melo, RTJ 160/ Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio
143, STF, Pleno). Portanto — e considerando que, como visto, o douto público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá a autoridade administrativa
Plenário do STF proclamou que a incidência da garantia da irredutibilidade responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a indis-
pressupõe a licitude da aquisição da remuneração —‘ as remunerações ponibilidade dos bens do indiciado.
ilegítimas, ou seja, não conformes com a lei e os princípios constitucionais,
podem e devem ser revistas. Dessa forma, o caminho está no exame da Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput deste
razoabilidade e da moralidade entre as vantagens pessoais, antes não artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento do dano,
sujeitas ao cálculo do teto, e os valores computados nesse cálculo. E, pois, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.
possível alcançar a aplicação da ordem jurídica sem ofensa às garantias Art. 8° O sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio público ou
individuais e, portanto, aos mandamentos constitucionais e ao real e se enriquecer ilicitamente está sujeito às cominações desta lei até o limite
legítimo direito adquirido. do valor da herança.
Obviamente, cada situação individual ou cada carreira poderão ser
CAPÍTULO II
objeto dessa revisão. Porém, quando o exame do caso indicar a ilicitude da
Dos Atos de Improbidade Administrativa
remuneração, a Administração Pública deverá instaurar processo
administrativo e observar o devido processo legal, com o direito de defesa e Seção I
contraditório, devendo a decisão pela redução ou pela manutenção ser Dos Atos de Improbidade Administrativa que Impor-
amplamente motivada e comunicada ao respectivo Tribunal de Contas. tam Enriquecimento Ilícito
Fonte: DIREITO ADMINISTRATIVO BRASILEIRO – Hely Lopes
Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando enri-
Meirelles – 33ª edição, Malheiros Editores Ltda., 2007, SP
quecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida
em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade
5. Lei de Improbidade Administrativa (Lei Federal nº 8429, de 02 de nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente:
junho de 1992).
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou
qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comis-
LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992. são, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto
Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão
enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função decorrente das atribuições do agente público;
na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras provi-
II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a
dências.
aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, Faço saber que o Congresso de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por preço superior ao valor
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei: de mercado;

CAPÍTULO I III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a


Das Disposições Gerais alienação, permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de servi-
ço por ente estatal por preço inferior ao valor de mercado;
Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente públi-
co, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equi-
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos pamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposi-
Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou ção de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como
de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concor- o trabalho de servidores públicos, empregados ou terceiros contratados por
ra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual, essas entidades;
serão punidos na forma desta lei. V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou
Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades desta lei os indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocí-
atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba nio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qualquer outra ativida-
subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem de ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem;
como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou
concorra com menos de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita indireta, para fazer declaração falsa sobre medição ou avaliação em obras
anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do públicas ou qualquer outro serviço, ou sobre quantidade, peso, medida,
ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. qualidade ou característica de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer
Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;
que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo,
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura emprego ou função pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja
ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades menciona- desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda do agente público;
das no artigo anterior.
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria
Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse
que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente
do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou das atribuições do agente público, durante a atividade;
indireta.
IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou
Art. 4° Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obri- aplicação de verba pública de qualquer natureza;
gados a velar pela estrita observância dos princípios de legalidade, impes-
soalidade, moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou
afetos. indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declaração a que
esteja obrigado;
Art. 5° Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou omissão,
dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarci- XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas,
mento do dano. verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencio-
nadas no art. 1° desta lei;
Art. 6° No caso de enriquecimento ilícito, perderá o agente público ou
terceiro beneficiário os bens ou valores acrescidos ao seu patrimônio.

Direito Administrativo 41 A Opção Certa Para a Sua Realização


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XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores inte- I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso
grantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta daquele previsto, na regra de competência;
lei.
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;
Seção II
Dos Atos de Improbidade Administrativa que Causam Prejuízo ao Erário III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das
atribuições e que deva permanecer em segredo;
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão
ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda IV - negar publicidade aos atos oficiais;
patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens V - frustrar a licitude de concurso público;
ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao
patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro,
ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou econômica
no art. 1º desta lei; capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço.

II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada CAPÍTULO III
utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial Das Penas
das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrati-
formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; vas previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonali- improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas
zado, ainda que de fins educativos ou assistências, bens, rendas, verbas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato: (Redação
ou valores do patrimônio de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º dada pela Lei nº 12.120, de 2009).
desta lei, sem observância das formalidades legais e regulamentares I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicita-
aplicáveis à espécie; mente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem inte- da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos,
grante do patrimônio de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial
lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas, por preço inferior ao de e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou
mercado; incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou dez anos;
serviço por preço superior ao de mercado;
II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos
VI - realizar operação financeira sem observância das normas legais e bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta
regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea; circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de
VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do
formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios
ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevida- intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de
mente; cinco anos;
IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver,
lei ou regulamento; perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco
anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração
X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou
como no que diz respeito à conservação do patrimônio público; receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indireta-
XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas perti- mente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
nentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular; majoritário, pelo prazo de três anos.
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz levará
ilicitamente; em conta a extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial
obtido pelo agente.
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos,
máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade CAPÍTULO IV
ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta Da Declaração de Bens
lei, bem como o trabalho de servidor público, empregados ou terceiros Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam condicionados à
contratados por essas entidades. apresentação de declaração dos bens e valores que compõem o seu patri-
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objeto a mônio privado, a fim de ser arquivada no serviço de pessoal competen-
prestação de serviços públicos por meio da gestão associada sem observar te. (Regulamento) (Regulamento)
as formalidades previstas na lei; (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005) § 1° A declaração compreenderá imóveis, móveis, semoventes, di-
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem suficiente e nheiro, títulos, ações, e qualquer outra espécie de bens e valores patrimo-
prévia dotação orçamentária, ou sem observar as formalidades previstas na niais, localizado no País ou no exterior, e, quando for o caso, abrangerá os
lei. (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005) bens e valores patrimoniais do cônjuge ou companheiro, dos filhos e de
outras pessoas que vivam sob a dependência econômica do declarante,
Seção III excluídos apenas os objetos e utensílios de uso doméstico.
Dos Atos de Improbidade Administrativa que Atentam Contra os Princípios
da Administração Pública § 2º A declaração de bens será anualmente atualizada e na data em
que o agente público deixar o exercício do mandato, cargo, emprego ou
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra função.
os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole
os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às insti- § 3º Será punido com a pena de demissão, a bem do serviço público,
tuições, e notadamente: sem prejuízo de outras sanções cabíveis, o agente público que se recusar a

Direito Administrativo 42 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
prestar declaração dos bens, dentro do prazo determinado, ou que a pres- § 7o Estando a inicial em devida forma, o juiz mandará autuá-la e
tar falsa. ordenará a notificação do requerido, para oferecer manifestação por escrito,
que poderá ser instruída com documentos e justificações, dentro do prazo
§ 4º O declarante, a seu critério, poderá entregar cópia da declaração de quinze dias. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)
anual de bens apresentada à Delegacia da Receita Federal na conformida-
de da legislação do Imposto sobre a Renda e proventos de qualquer natu- § 8o Recebida a manifestação, o juiz, no prazo de trinta dias, em
reza, com as necessárias atualizações, para suprir a exigência contida no decisão fundamentada, rejeitará a ação, se convencido da inexistência do
caput e no § 2° deste artigo . ato de improbidade, da improcedência da ação ou da inadequação da via
eleita. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)
CAPÍTULO V
Do Procedimento Administrativo e do Processo Judicial § 9o Recebida a petição inicial, será o réu citado para apresentar
contestação. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)
Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autoridade administra-
tiva competente para que seja instaurada investigação destinada a apurar a § 10. Da decisão que receber a petição inicial, caberá agravo de
prática de ato de improbidade. instrumento. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)
§ 1º A representação, que será escrita ou reduzida a termo e assina- § 11. Em qualquer fase do processo, reconhecida a inadequação da
da, conterá a qualificação do representante, as informações sobre o fato e ação de improbidade, o juiz extinguirá o processo sem julgamento do
sua autoria e a indicação das provas de que tenha conhecimento. mérito. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)
§ 2º A autoridade administrativa rejeitará a representação, em despa- § 12. Aplica-se aos depoimentos ou inquirições realizadas nos pro-
cho fundamentado, se esta não contiver as formalidades estabelecidas no § cessos regidos por esta Lei o disposto no art. 221, caput e § 1o, do Código
1º deste artigo. A rejeição não impede a representação ao Ministério Públi- de Processo Penal.(Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)
co, nos termos do art. 22 desta lei.
Art. 18. A sentença que julgar procedente ação civil de reparação de
§ 3º Atendidos os requisitos da representação, a autoridade determi- dano ou decretar a perda dos bens havidos ilicitamente determinará o
nará a imediata apuração dos fatos que, em se tratando de servidores pagamento ou a reversão dos bens, conforme o caso, em favor da pessoa
federais, será processada na forma prevista nos arts. 148 a 182 da Lei nº jurídica prejudicada pelo ilícito.
8.112, de 11 de dezembro de 1990 e, em se tratando de servidor militar, de
acordo com os respectivos regulamentos disciplinares. CAPÍTULO VI
Das Disposições Penais
Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao Ministério
Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da existência de procedimen- Art. 19. Constitui crime a representação por ato de improbidade contra
to administrativo para apurar a prática de ato de improbidade. agente público ou terceiro beneficiário, quando o autor da denúncia o sabe
inocente.
Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou Conselho de
Contas poderá, a requerimento, designar representante para acompanhar o Pena: detenção de seis a dez meses e multa.
procedimento administrativo. Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante está sujeito a
Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão indenizar o denunciado pelos danos materiais, morais ou à imagem que
representará ao Ministério Público ou à procuradoria do órgão para que houver provocado.
requeira ao juízo competente a decretação do sequestro dos bens do Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos
agente ou terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano ao só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória.
patrimônio público.
Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa competente
§ 1º O pedido de sequestro será processado de acordo com o disposto poderá determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo,
nos arts. 822 e 825 do Código de Processo Civil. emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se
§ 2° Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, o exame e o fizer necessária à instrução processual.
bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações financeiras mantidas pelo Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei independe:
indiciado no exterior, nos termos da lei e dos tratados internacionais.
I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo quanto à
Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo pena de ressarcimento; (Redação dada pela Lei nº 12.120, de 2009).
Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta dias
da efetivação da medida cautelar. II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle interno
ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas.
§ 1º É vedada a transação, acordo ou conciliação nas ações de que
trata o caput. Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta lei, o Ministério
Público, de ofício, a requerimento de autoridade administrativa ou mediante
§ 2º A Fazenda Pública, quando for o caso, promoverá as ações representação formulada de acordo com o disposto no art. 14, poderá
necessárias à complementação do ressarcimento do patrimônio público. requisitar a instauração de inquérito policial ou procedimento administrativo.
§ 3o No caso de a ação principal ter sido proposta pelo Ministério CAPÍTULO VII
Público, aplica-se, no que couber, o disposto no § 3o do art. 6o da Lei Da Prescrição
no 4.717, de 29 de junho de 1965. (Redação dada pela Lei nº 9.366, de
1996) Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções previstas
nesta lei podem ser propostas:
§ 4º O Ministério Público, se não intervir no processo como parte,
atuará obrigatoriamente, como fiscal da lei, sob pena de nulidade. I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo
em comissão ou de função de confiança;
§ 5o A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas
as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir II - dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas
ou o mesmo objeto. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001) disciplinares puníveis com demissão a bem do serviço público, nos casos
de exercício de cargo efetivo ou emprego.
§ 6o A ação será instruída com documentos ou justificação que conte-
nham indícios suficientes da existência do ato de improbidade ou com CAPÍTULO VIII
razões fundamentadas da impossibilidade de apresentação de qualquer Das Disposições Finais
dessas provas, observada a legislação vigente, inclusive as disposições Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
inscritas nos arts. 16 a 18 do Código de Processo Civil. (Incluído pela
Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)

Direito Administrativo 43 A Opção Certa Para a Sua Realização


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Art. 25. Ficam revogadas as Leis n°s 3.164, de 1° de junho de 1957,
e 3.502, de 21 de dezembro de 1958 e demais disposições em contrário. 07- Assinale a opção que elenque dois princípios norteadores da Adminis-
tração Pública que se encontram implícitos na Constituição da República
Rio de Janeiro, 2 de junho de 1992; 171° da Independência e 104° da Federativa do Brasil e explícitos na Lei n. 9.784/99.
República. a) Legalidade / moralidade.
PROVA SIMULADA b) Motivação / razoabilidade.
DIREITO ADMINISTRATIVO c) Eficiência / ampla defesa.
d) Contraditório / segurança jurídica.
01- São formas de extinção do ato administrativo, exceto: e) Finalidade / eficiência.
a) A revogação.
b) A rescisão. 08. É inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição, em
c) A contraposição. especial
d) A cassação. (A) na contratação de fornecimento ou suprimento de energia elétrica e gás
e) A anulação. natural com concessionário, permissionário ou autorizado, segundo as
normas da legislação específica.
02- Relativamente à vinculação e discricionariedade dos atos administrati- (B) quando não acudirem interessados à licitação anterior e esta, justifica-
vos, correlacione as colunas apontando como vinculado ou discricionário damente, não puder ser repetida sem prejuízo para a Administração, man-
cada um dos elementos do ato administrativo e assinale a opção correta. tidas, neste caso, todas as condições preestabelecidas.
(1) Vinculado (C) quando a União tiver que intervir no domínio econômico para regular
(2) Discricionário preços ou normalizar o abastecimento.
( ) Competência. (D) nas compras de hortifrutigranjeiros, pão e outros gêneros perecíveis, no
( ) Forma. tempo necessário para a realização dos processos licitatórios correspon-
( ) Motivo. dentes, realizadas diretamente com base no preço do dia.
( ) Finalidade. (E)) para contratação de profissional de qualquer setor artístico, diretamen-
( ) Objeto. te ou através de empresário exclusivo, desde que consagrado pela crítica
a) 1 / 1 / 2 / 1 / 2 especializada ou pela opinião pública.
b) 2 / 2 / 1 / 1 / 2
c) 1 / 1 / 1 / 2 / 2 09. Considere as assertivas a respeito dos atributos do ato administrativo:
d) 2 / 2 / 2 / 1 / 1 I. Os atos administrativos, qualquer que seja sua categoria ou espécie,
e) 1 / 2 / 2 / 1 / 2 nascem com a presunção de legitimidade, independentemente de norma
legal que a estabeleça.
03- Assinale a opção que contemple uma forma de vacância comum aos II. A imperatividade existe em todos os atos administrativos, sendo o atribu-
cargos efetivos e em comissão. to que impõe a coercibilidade para seu cumprimento ou execução.
a) Promoção. III. A possibilidade que certos atos administrativos ensejam de imediata e
b) Demissão. direta execução pela própria Administração, independentemente de ordem
c) Exoneração. judicial, consiste na auto-executoriedade.
d) Readaptação. Está correto o que se afirma APENAS em
e) Redistribuição. (A) I e II.
(B)) I e III.
04- Assinale a opção que contemple um exemplo de licença não remunera- (C) II.
da do servidor público. (D) II e III.
a) Licença para capacitação. (E) III.
b) Licença para tratamento da própria saúde, por seis meses.
c) Licença para o desempenho de mandato classista. 10. Observe as seguintes proposições:
d) Licença à adotante. I. A faculdade de que dispõe a Administração Pública de ordenar, coorde-
e) Licença por motivo de acidente em serviço. nar, controlar e corrigir suas atividades decorre do poder disciplinar.
II. Dentre os atributos do poder de polícia, a autoexecutoriedade permite à
05- São penalidades disciplinares, exceto: Administração, com os próprios meios, decidir e executar diretamente suas
a) A destituição de cargo em comissão. decisões, sem intervenção do Judiciário.
b) A cassação de aposentadoria. III. O poder normativo da Administração Pública se expressa por meio das
c) A suspensão. resoluções, portarias, deliberações, instruções e dos decretos.
d) O afastamento preventivo. IV. O poder discricionário permite ao administrador editar atos que exorbi-
e) A advertência. tem os ditames legais, desde que convenientes e oportunos.
Está correto o que se afirma APENAS em
06- Correlacione as infrações disciplinares com as penalidades a ela apli- (A) I e II.
cáveis e assinale a opção correta, considerando os artigos 117 e 132 da Lei (B) I e IV.
n. 8.112/90. (C) I, II e III.
(1) Demissão com incompatibilidade para nova investidura pelo prazo de (D)) II e III.
cinco anos. (E) III e IV.
(2) Demissão com proibição de retorno ao serviço público federal.
( ) Crime contra a Administração Pública. 11. Com o objetivo de punir determinado servidor público, o superior hierár-
( ) Valer-se do cargo para lograr proveito pessoal em detrimento da digni- quico, ao invés de instaurar regular processo disciplinar, já que possuía
dade da função pública. competência para tanto, valeu-se do instituto legal da remoção ex officio
( ) Improbidade administrativa. que, contudo, somente poderia ser utilizado para atender a necessidade do
( ) Corrupção. serviço público. Em virtude deste fato, a remoção, que culminou com a
( ) Atuar junto às repartições públicas como procurador de terceiros sem transferência do servidor para outra unidade da federação, será nula em
qualquer grau de parentesco. virtude da inobservância do requisito do ato administrativo denominado
a) 2/2/1/1/2 (A) objeto.
b) 1/2/1/2/1 (B) forma.
c) 2/1/1/2/2 (C) imperatividade.
d) 1/1/2/2/2 (D) auto-executoriedade.
e) 2/1/2/2/1 (E)) finalidade.

Direito Administrativo 44 A Opção Certa Para a Sua Realização


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suas ofertas e disputar a venda do objeto em questão, os preços costumam
12. No que tange à licitação, é correto afirmar: chegar a patamares bem mais baixos do que os conseguidos com as
(A) Para a compra e alienação de bens imóveis, a Administração Pública demais modalidades. Também a redução do tempo em que se transcorre a
pode se valer do tipo de licitação denominado pregão. licitação é menor, e isto viabiliza contratações mais rápidas e eficientes.
(B)) A concorrência é a modalidade de licitação obrigatória nas concessões
de direito real de uso. 20. Atualmente, a modalidade Pregão eletrônico é a que mais cresce, e as
(C) Havendo interesse público, a autoridade competente pode substituir a suas inovações e benefícios estão sendo estendidos para as outras
tomada de preços pelo convite. modalidades, como o uso de internet para registro de ata, e afins. O projeto
(D) O concurso destina-se à escolha de trabalho técnico, científico, artístico de lei que pode vir a mudar a Lei 8.666/93 traz estas inovações.
ou contratação de serviço ou fornecimento de bens.
(E) O leilão é o tipo de licitação entre quaisquer interessados para a venda Quanto aos poderes da Administração, podemos afirmar que:
de bens sem utilidade para a Administração.

13. Com relação aos poderes administrativos, é INCORRETO afirmar que o 21. Poder Discricionário - No poder discricionário a lei deixa uma
poder certa margem para que o agente público possa agir. Nele o agente
(A) disciplinar é o que cabe à Administração Pública para apurar infrações e visando o interesse público, aplica a conveniência e oportunidade na
aplicar penalidades aos servidores públicos e demais pessoas sujeitas à execução do ato administrativo. O agente público escolhe a melhor
disciplina administrativa. possibilidade que se aplica ao caso concreto. Como esse poder segue
(B) regulamentar é inerente ao chefe do Executivo para, mediante decreto, os ditames da lei, ele poderá ser revisado no âmbito da própria
expedir atos normativos compatíveis com a lei e visando desenvolvê-la. administração ou mesmo na via judicial. O Judiciário não avalia o
(C)) discricionário vincula o administrador público à competência, forma e mérito (conveniência e oportunidade), mas apenas os aspectos de
objeto do ato, deixando livre a opção quanto ao juízo de mérito. legalidade. Entretanto, há na doutrina e jurisprudência entendimento
(D) hierárquico tem por objetivo ordenar, coordenar, controlar e corrigir as (não consolidado) de que o Poder Judiciário pode, sim, examinar os
atividades administrativas, no âmbito da Administração Pública. motivos do ato, e declarar sua nulidade. Outros entendem que o juiz
(E) Legislativo, no exercício do poder de polícia que compete ao Estado, não pode substituir o administrador público. Não se pode confundir
cria, por lei, as chamadas limitações administrativas ao exercício das liber- discricionariedade com arbitrariedade. Na arbitrariedade o agente atua
dades públicas. fora dos limites da lei (ato ilegal) e na discricionariedade sua conduta
é legal, ele utiliza apenas os critérios da conveniência e oportunidade.
14. O leilão é uma modalidade de licitação
(A) adequada para a venda de bens móveis inservíveis para a administra-
22. Poder Vinculado - No poder vinculado a lei ao conferir determinada
ção ou de produtos legalmente apreendidos ou penhorados, a quem ofere-
atribuição ao administrador público, faz de forma que não lhe deixa
cer o maior lance, independentemente do valor da avaliação.
margem para escolha. Não deixa espaço para liberdade de atuação da
(B) adequada somente para a alienação de bens imóveis, a quem oferecer
administração. Não há interpretação subjetiva do agente público.
o maior lance, igual ou superior ao valor da avaliação.
Importante lembrar que todos os atos administrativos são vinculados
(C) que a Administração Pública pode utilizar para a alienação de qualquer
quanto à competência, forma e objeto. Esses elementos, no momento
bem imóvel, a quem oferecer o maior lance, igual ou superior ao valor da
de sua aplicação, não podem ser valorados. Cabe ao agente apenas a
avaliação.
sua aplicação.
(D) que a Administração Pública pode utilizar para a alienação de bem
imóvel, a quem oferecer o maior lance, independentemente do valor da
avaliação. 23. Poder Regulamentar - No poder regulamentar o Estado tem a
(E) adequada para a venda de bens móveis inservíveis para a administra- prerrogativa de editar atos gerais para completar e dar aplicabilidade
ção ou de produtos legalmente apreendidos ou penhorados, a quem ofere- às leis. Ele não tem o poder de alterar ou revogar a lei que é uma
cer o maior lance, igual ou superior ao valor da avaliação. função legislativa. Caso cometa esse abuso o Congresso Nacional
poderá sustar o ato regulamentar (art. 49, V, CF/88). Na doutrina há
Nas questões que se seguem, assinale: dois entendimentos sobre o poder regulamentar – um amplo e outro
C – se a proposição estiver correta restrito. No restrito, entende que é a prerrogativa do chefe do Poder
E – se a mesma estiver incorreta Executivo, prevista no artigo 84, V, da Constituição Federal. Poder de
editar regulamentos e decretos. Já no sentido amplo, são os atos
15. Pregão é uma das 6 modalidades de licitação utilizadas no Brasil,
expedidos pelas autoridades administrativas de editar atos normativos
considerada como um aperfeiçoamento do regime de licitações para a
que explicam e auxiliam na aplicação de normas gerais e abstratas.
Administração Pública Federal. Esta modalidade possibilita o incremento da
Dentre esses atos destaca-se: as instruções normativas, resoluções e
competitividade e ampliação das oportunidades de participação nas
portarias. Importante destacar que o poder regulamentar não pode
licitações, por parte dos licitantes que são Pessoas Jurídicas ou Pessoas
existir sem lei e, além disso, ato normativo não pode contrariar a lei.
Físicas interessadas em vender bens e/ou serviços comuns conforme os
Dessa forma, pode haver controle judicial de legalidade, mas no
editais e contratos que visam o interesse público.
entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) não haverá controle
16. Também chamado de Leilão Reverso ou Holandês, o Pregão é de controle de constitucionalidade desses atos pela via da Adin (ação
realizado em lances sucessivos e decrescentes, no chamado "quem dá direta de inconstitucionalidade).
menos" (NBS). Desta forma, a Administração Publica que está comprando,
gera economia significa o bom uso do dinheiro público.
24. Poder Hierárquico - O poder hierárquico é caracterizado pelo poder
17. O pregão pode ser Presencial (onde os licitantes se encontram e de comando de agentes administrativos superiores sobre seus
participam da disputa) ou Eletrônico (onde os licitantes se encontram em subordinados. Nele o superior tem a prerrogativa de ordenar,
sala virtual pela internet, usando sistemas de governo ou particulares). O fiscalizar, rever, delegar e avocar as tarefas de seus subordinados.
designado responsável pelo pregão tem o nome de Pregoeiro. Essa subordinação é de caráter interno e não se confunde com
vinculação que é de caráter externo.
18. O pregão é caracterizado por inverter as fases de um processo A administração pública é toda organizada, em observância ao
licitatório comum regido pela lei 8.666/93. Ou seja, primeiro ocorre a princípio constitucional da legalidade, em uma estrutura hierárquica
abertura das propostas das licitantes e depois é procedido o julgamento da que lhe possibilita executar suas finalidades. Não existe hierarquia
habilitação dos mesmos. O Pregão é regido pela Lei Federal Brasileira entre agentes que exercem funções estritamente jurisdicional (o juiz é
nº10.520/200 livre para decidir) e legislativa ( sua competência é delineada pela
19. Outro grande diferencial do Pregão em relação as demais modalidades Constituição).
de licitação é a sua economicidade, pois, como os licitantes podem baixar

Direito Administrativo 45 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
25. Poder Disciplinar - O poder disciplinar é uma especialização do moralidade, ensejando sua omissão comprometimento ético contra o bem
poder hierárquico. A administração tem o poder de fiscalizar as comum, imputável a quem a negar.
atividades exercidas por seus servidores e demais pessoas a ela VIII -Toda pessoa tem direito à verdade. O servidor não pode omiti-la ou
ligadas, exigindo-lhes uma conduta adequada aos preceitos legais. O falseá-la, ainda que contrária aos interesses da própria pessoa interessada
não-cumprimento sujeita esses agentes a sanções disciplinares. ou da Administração Pública. Nenhum Estado pode crescer ou estabilizar-
Essas sanções devem obedecer ao princípio da proporcionalidade, se sobre o poder corruptivo do hábito do erro, da opressão ou da mentira,
devendo a sanção ser adequada a conduta ilícita praticada pelo que sempre aniquilam até mesmo a dignidade humana quanto mais a de
agente. Sua aplicação está sujeita ao processo administrativo uma Nação.
disciplinar, em observância ao princípio constitucional do devido IX - A cortesia, a boa vontade, o cuidado e o tempo dedicados ao serviço
processo legal (art. 5º, LIV, CF/88) e aos princípios constitucionais do público caracterizam o esforço pela disciplina. Tratar mal uma pessoa que
contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LV, da CF/88). paga seus tributos direta ou indiretamente significa causar-lhe dano moral.
Da mesma forma, causar dano a qualquer bem pertencente ao patrimônio
público, deteriorando-o, por descuido ou má vontade, não constitui apenas
26. Poder de Polícia - O poder de polícia é a faculdade de dispõe a uma ofensa ao equipamento e às instalações ou ao Estado, mas a todos os
administração pública para condicionar e restringir a liberdade e homens de boa vontade que dedicaram sua inteligência, seu tempo, suas
propriedade individual em prol do interesse público. Nesse sentido, esperanças e seus esforços para construí-los.
ela é denominada de polícia administrativa. Infere-se do conceito X -Deixar o servidor público qualquer pessoa à espera de solução que
acima, que princípio norteador da aplicação do poder de polícia compete ao setor em que exerça suas funções, permitindo a formação de
administrativa é o princípio da predominância do interesse público longas filas, ou qualquer outra espécie de atraso na prestação do serviço,
sobre o interesse privado. São atributos do poder de polícia a não caracteriza apenas atitude contra a ética ou ato de desumanidade, mas
discricionariedade, a auto-executoriedade e a coercibilidade. principalmente grave dano moral aos usuários dos serviços públicos.
Importante distinguir polícia administrativa de polícia judiciária XI - 0 servidor deve prestar toda a sua atenção às ordens legais de seus
(polícia federal e polícia civil) e polícia de manutenção da ordem superiores, velando atentamente por seu cumprimento, e, assim, evitando a
pública (polícia militar). Na polícia administrativa o poder incide sobre conduta negligente. Os repetidos erros, o descaso e o acúmulo de desvios
bens, direitos e atividades; ela fiscaliza e pune o ilícito administrativo. tornam-se, às vezes, difíceis de corrigir e caracterizam até mesmo impru-
Já na polícia judiciária e de manutenção da ordem pública incide dência no desempenho da função pública.
diretamente sobre pessoas, preocupando-se com a ocorrência de XII - Toda ausência injustificada do servidor de seu local de trabalho é fator
delitos penais. A doutrina entende que o poder de polícia é de desmoralização do serviço público, o que quase sempre conduz à
discricionário, mas como expresso anteriormente deve seguir o desordem nas relações humanas.
princípio constitucional da legalidade. Como todo ato administrativo o XIII - 0 servidor que trabalha em harmonia com a estrutura organizacional,
poder de polícia deve observar os requisitos de validade que são: respeitando seus colegas e cada concidadão, colabora e de todos pode
competência, forma, finalidade, motivo e objeto. A princípio não pode receber colaboração, pois sua atividade pública é a grande oportunidade
se delegado e não poderiam ser praticados por particulares. Pode o para o crescimento e o engrandecimento da Nação.
particular, excepcionalmente, praticar ato material preparatório ou
sucessivo de poder de polícia. Entendo, que o particular nunca pode 28. São deveres fundamentais do servidor público:
aplicar sanção administrativa. a) desempenhar, a tempo, as atribuições do cargo, função ou emprego
público de que seja titular;
Quanto ao Decreto nº 1.171/94: b) exercer suas atribuições com rapidez, perfeição e rendimento, pondo
27. Das Regras Deontológicas fim ou procurando prioritariamente resolver situações procrastinatórias,
I - A dignidade, o decoro, o zelo, a eficácia e a consciência dos princípios principalmente diante de filas ou de qualquer outra espécie de atraso na
morais são primados maiores que devem nortear o servidor público, seja no prestação dos serviços pelo setor em que exerça suas atribuições, com o
exercício do cargo ou função, ou fora dele, já que refletirá o exercício da fim de evitar dano moral ao usuário;
vocação do próprio poder estatal. Seus atos, comportamentos e atitudes c) ser probo, reto, leal e justo, demonstrando toda a integridade do seu
serão direcionados para a preservação da honra e da tradição dos serviços caráter, escolhendo sempre, quando estiver diante de duas opções, a
públicos. melhor e a mais vantajosa para o bem comum;
II - O servidor público não poderá jamais desprezar o elemento ético de sua d) jamais retardar qualquer prestação de contas, condição essencial da
conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o gestão dos bens, direitos e serviços da coletividade a seu cargo;
justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportu- e) tratar cuidadosamente os usuários dos serviços aperfeiçoando o
no, mas principalmente entre o honesto e o desonesto, consoante as regras processo de comunicação e contato com o público;
contidas no art. 37, caput, e § 4°, da Constituição Federal. f) ter consciência de que seu trabalho é regido por princípios éticos que
III - A moralidade da Administração Pública não se limita à distinção entre se materializam na adequada prestação dos serviços públicos;
o bem e o mal, devendo ser acrescida da ideia de que o fim é sempre o g) ser cortês, ter urbanidade, disponibilidade e atenção, respeitando a
bem comum. O equilíbrio entre a legalidade e a finalidade, na conduta do capacidade e as limitações individuais de todos os usuários do serviço
servidor público, é que poderá consolidar a moralidade do ato administrati- público, sem qualquer espécie de preconceito ou distinção de raça, sexo,
vo. nacionalidade, cor, idade, religião, cunho político e posição social, absten-
IV- A remuneração do servidor público é custeada pelos tributos pagos do-se, dessa forma, de causar-lhes dano moral;
direta ou indiretamente por todos, até por ele próprio, e por isso se exige, h) ter respeito à hierarquia, porém sem nenhum temor de representar
como contrapartida, que a moralidade administrativa se integre no Direito, contra qualquer comprometimento indevido da estrutura em que se funda o
como elemento indissociável de sua aplicação e de sua finalidade, erigindo- Poder Estatal;
se, como consequência, em fator de legalidade. i) resistir a todas as pressões de superiores hierárquicos, de contratan-
V - O trabalho desenvolvido pelo servidor público perante a comunidade tes, interessados e outros que visem obter quaisquer favores, benesses ou
deve ser entendido como acréscimo ao seu próprio bem-estar, já que, como vantagens indevidas em decorrência de ações imorais, ilegais ou aéticas e
cidadão, integrante da sociedade, o êxito desse trabalho pode ser conside- denunciá-las;
rado como seu maior patrimônio. j) zelar, no exercício do direito de greve, pelas exigências específicas da
VI - A função pública deve ser tida como exercício profissional e, portanto, defesa da vida e da segurança coletiva;
se integra na vida particular de cada servidor público. Assim, os fatos e atos l) ser assíduo e frequente ao serviço, na certeza de que sua ausência
verificados na conduta do dia-a-dia em sua vida privada poderão acrescer provoca danos ao trabalho ordenado, refletindo negativamente em todo o
ou diminuir o seu bom conceito na vida funcional. sistema;
VII - Salvo os casos de segurança nacional, investigações policiais ou m) comunicar imediatamente a seus superiores todo e qualquer ato ou
interesse superior do Estado e da Administração Pública, a serem preser- fato contrário ao interesse público, exigindo as providências cabíveis;
vados em processo previamente declarado sigiloso, nos termos da lei, a n) manter limpo e em perfeita ordem o local de trabalho, seguindo os
publicidade de qualquer ato administrativo constitui requisito de eficácia e métodos mais adequados à sua organização e distribuição;

Direito Administrativo 46 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
o) participar dos movimentos e estudos que se relacionem com a melho- co, preste serviços de natureza permanente, temporária ou excepcional,
ria do exercício de suas funções, tendo por escopo a realização do bem ainda que sem retribuição financeira, desde que ligado direta ou indireta-
comum; mente a qualquer órgão do poder estatal, como as autarquias, as funda-
p) apresentar-se ao trabalho com vestimentas adequadas ao exercício ções públicas, as entidades paraestatais, as empresas públicas e as socie-
da função; dades de economia mista, ou em qualquer setor onde prevaleça o interesse
q) manter-se atualizado com as instruções, as normas de serviço e a do Estado.
legislação pertinentes ao órgão onde exerce suas funções;
r) cumprir, de acordo com as normas do serviço e as instruções superio- 31) Quanto à anulação ou invalidação dos atos administrativos, é correto
res, as tarefas de seu cargo ou função, tanto quanto possível, com critério, afirmar, à vista da jurisprudência sumulada do Supremo Tribunal Federal:
segurança e rapidez, mantendo tudo sempre em boa ordem. a) Revoga-se ato administrativo ilegal e anula-se ato administrativo
s) facilitar a fiscalização de todos atos ou serviços por quem de direito; válido;
t) exercer com estrita moderação as prerrogativas funcionais que lhe b) A revogação do ato administrativo é prerrogativa exclusiva do
sejam atribuídas, abstendo-se de fazê-lo contrariamente aos legítimos Poder Judiciário, uma vez que a Administração Pública não pode revogá-lo
interesses dos usuários do serviço público e dos jurisdicionados administra- "ex officio";
tivos; c) A revogação do ato administrativo pode ser levada a efeito tanto
u) abster-se, de forma absoluta, de exercer sua função, poder ou autori- pela própria Administração Pública como pelo Poder Judiciário;
dade com finalidade estranha ao interesse público, mesmo que observando d) A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados
as formalidades legais e não cometendo qualquer violação expressa à lei; de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou
v) divulgar e informar a todos os integrantes da sua classe sobre a revogá-los, por motivos de conveniência ou oportunidade, respeitados os
existência deste Código de Ética, estimulando o seu integral cumprimento. direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial;

29. E vedado ao servidor público; 32) Sobre a noção de Administração Pública, analise as afirmativas a
a) o uso do cargo ou função, facilidades, amizades, tempo, posição e seguir:
influências, para obter qualquer favorecimento, para si ou para outrem; I. A função administrativa do Estado será desempenhada por órgãos e
b) prejudicar deliberadamente a reputação de outros servidores ou de agentes de todos os poderes, ainda que predominantemente pelo Poder
cidadãos que deles dependam; Executivo.
c) ser, em função de seu espírito de solidariedade, conivente com erro ou II. No sentido material, considera-se Administração Pública o desempenho
infração a este Código de Ética ou ao Código de Ética de sua profissão; da função administrativa, como por exemplo, a gestão de bens e de servi-
d) usar de artifícios para procrastinar ou dificultar o exercício regular de ços públicos.
direito por qualquer pessoa, causando-lhe dano moral ou material; III. Através da desconcentração administrativa é possível atribuir a particu-
e) deixar de utilizar os avanços técnicos e científicos ao seu alcance ou do lares, por ato administrativo, ou por contrato, a execução de serviços públi-
seu conhecimento para atendimento do seu mister; cos.
f) permitir que perseguições, simpatias, antipatias, caprichos, paixões ou São verdadeiras somente as afirmativas:
interesses de ordem pessoal interfiram no trato com o público, com os a) I e II
jurisdicionados administrativos ou com colegas hierarquicamente superiores b) I E III
ou inferiores; c) II e III
g) pleitear, solicitar, provocar, sugerir ou receber qualquer tipo de ajuda d) I, II e III
financeira, gratificação, prêmio, comissão, doação ou vantagem de qual-
quer espécie, para si, familiares ou qualquer pessoa, para o cumprimento 33) Analise as frases abaixo:
da sua missão ou para influenciar outro servidor para o mesmo fim; A- o poder disciplinar é considerado discricionário, uma vez que caberá ao
h) alterar ou deturpar o teor de documentos que deva encaminhar para superior hierárquico decidir pela punição ou não do servidor público, bem
providências; como pela instauração ou não da sindicância/processo administrativo.
i) iludir ou tentar iludir qualquer pessoa que necessite do atendimento em Todavia, decidindo pela aplicação da pena não lhe será facultado eleger a
serviços públicos; sanção cabível, uma vez que as leis estatutárias, em geral, são taxativas e
j) desviar servidor público para atendimento a interesse particular; inflexíveis a este respeito.
l) retirar da repartição pública, sem estar legalmente autorizado, qualquer B- as agências reguladoras detêm poder de inovar a ordem jurídica, criando
documento, livro ou bem pertencente ao patrimônio público; obrigações para as pessoas físicas e jurídicas submetidas à sua fiscaliza-
m) fazer uso de informações privilegiadas obtidas no âmbito interno de seu ção, independente da existência de lei anterior que fixe o referido dever. É
serviço, em benefício próprio, de parentes, de amigos ou de terceiros; o que se chama poder normativo.
n) apresentar-se embriagado no serviço ou fora dele habitualmente; C- os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade são fundamentais
o) dar o seu concurso a qualquer instituição que atente contra a moral, a para o correto exercício do poder de polícia e do poder disciplinar.
honestidade ou a dignidade da pessoa humana; D-o princípio da motivação, assim como da segurança jurídica, assumem
p) exercer atividade profissional aética ou ligar o seu nome a empreendi- importância no processo administrativo.
mentos de cunho duvidoso. a) apenas a alternativa A é falsa
b) apenas a alternativa B é falsa
30. Das Comissões De Ética c) apenas as alternativas A e B são falsas
- Em todos os órgãos e entidades da Administração Pública Federal direta, d) apenas as alternativas C e D são falsas
indireta autárquica e fundacional, ou em qualquer órgão ou entidade que
exerça atribuições delegadas pelo poder público, deverá ser criada uma 34) Assinale a alternativa incorreta:
Comissão de Ética, encarregada de orientar e aconselhar sobre a ética a) O poder discricionário confere ao administrador certa liberdade
profissional do servidor, no tratamento com as pessoas e com o patrimônio para a prática de atos administrativos, no que se refere á escolha se sua
público, competindo-lhe conhecer concretamente de imputação ou de oportunidade e conveniência.
procedimento susceptível de censura. b) Os chefes do Executivo pode regulamentar a lei por decreto.
- À Comissão de Ética incumbe fornecer, aos organismos encarregados da c) Poder de polícia é a faculdade de que dispõe a administração
execução do quadro de carreira dos servidores, os registros sobre sua pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividade e
conduta ética, para o efeito de instruir e fundamentar promoções e para direitos individuais, em benefício da sociedade ou do Estado.
todos os demais procedimentos próprios da carreira do servidor público. d) Considerando a natureza e os efeitos da atuação da polícia admi-
- A pena aplicável ao servidor público pela Comissão de Ética é a de censu- nistrativa, os atos administrativos praticados nesse esfera são estritamente
ra e sua fundamentação constará do respectivo parecer, assinado por vinculados.
todos os seus integrantes, com ciência do faltoso.
- Para fins de apuração do comprometimento ético, entende-se por servidor
público todo aquele que, por força de lei, contrato ou de qualquer ato jurídi-

Direito Administrativo 47 A Opção Certa Para a Sua Realização


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35) O servidor público Theobaldo morreu, sendo certo que estava investi- a) Poderá ser concedida licença ao servidor por motivo de doença do
do em cargo de direção. Sabendo-se que o regimento interno não dispõe a cônjuge ou companheiro, dos pais, dos filhos, do padrasto ou madrasta e
respeito, ele será substituído pelo servidor enteado, ou dependente que viva às suas expensas e conste do seu assen-
a) mais idoso da repartição onde trabalhava, conforme preceitua a tamento funcional, mediante comprovação por perícia médica oficial.
jurisprudência majoritária. b) A licença será concedida, sem prejuízo da remuneração do cargo efeti-
b) mais antigo do órgão ou entidade, por expressa previsão legal. vo, por até trinta dias, podendo ser prorrogada por até trinta dias e, exce-
c) previamente designado pelo dirigente máximo do órgão ou entida- dendo estes prazos, sem remuneração, por até noventa dias.
de. c) Não será concedida nova licença em período inferior a dezoito meses do
d) que vier a ser designado, escolhido sempre entre os três mais término da última licença concedida.
antigos do órgão ou entidade. d) Poderá ser concedida licença ao servidor para acompanhar cônjuge ou
companheiro que foi deslocado para outro ponto do território nacional, para
36) Acerca do ato administrativo, assinale V para o VERDADEIRO e F o exterior ou para o exercício de mandato eletivo dos Poderes Executivo e
para o FALSO. Legislativo.
( ) ato jurídico, editado pelo Estado, em matéria administrativa, é denomi- e) O servidor terá direito a licença, sem remuneração, durante o período
nado ato institucional; que mediar entre a sua escolha em convenção partidária, como candidato a
( ) ato que o Estado edita como senhor e como detentor de potestade cargo eletivo, e a véspera do registro de sua candidatura perante a Justiça
pública, é denominado ato de império e gestão; Eleitoral.
( ) a motivação do ato administrativo, no estado de Direito, em regra é
obrigatória; 43. Assinale a alternativa incorreta: Sem qualquer prejuízo, poderá o
( ) todo ato administrativo é espécie do gênero ato jurídico; servidor ausentar-se do serviço:
( ) auto-executoriedade do ato administrativo é o traço peculiar ao ato, pelo a) por 1 (um) dia, para doação de sangue;
qual a Administração concretiza imediatamente as decisões tomadas, sem b) por 2 (dois) dias, para se alistar como eleitor;
recorrer, para isso, ao Judiciário. c) por 10 (dez) dias consecutivos em razão de casamento
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta: d) por oito dias consecutivos em razão de falecimento do cônjuge, compa-
a) V - V - V - V - F; nheiro, pais, madrasta ou padrasto, filhos, enteados, menor sob guarda ou
b) V - F - V - V - V. tutela e irmãos.
c) F - V - V - V - V;
d) F - F - V - V - V; 44. A respeito dos princípios básicos da Administração Pública, considere:
I. Conjunto de princípios ou padrões morais que norteiam a conduta dos
37) Ato administrativo inexistente é: agentes públicos no exercício de suas funções e a prática dos atos admi-
a) Ato administrativo que não foi praticado; nistrativos.
b) Ato administrativo que não chega a entrar no mundo jurídico por II. Adequação entre meios e fins, vedada imposição de obrigações, restri-
falta de um elemento essencial e que, em consequência, não é passível de ções e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao
convalidação; atendimento do interesse público.
c) Ato administrativo que embora padeça de graves vícios na sua Os itens I e II referem-se, respectivamente, aos princípios da
formação é passível de ser objeto de convalidação; (A) finalidade e adequabilidade.
d) Ato praticado com defeito de forma; (B) legalidade e finalidade.
(C) continuidade e moralidade.
38) A espécie de ato administrativo compatível com a licença é: (D) moralidade e proporcionalidade.
a) Ato enunciativo; (E) eficiência e proporcionalidade.
b) Ato negocial;
c) Ato ordinatório; 45. Sendo um dos requisitos do ato administrativo, o objeto consiste
d) Ato discricionário; (A) na criação, modificação ou comprovação de situações jurídicas concer-
nentes a pessoas, coisas e atividades sujeitas à ação do Poder Público.
39) A revogação de um ato administrativo, quando parcial, chama-se: (B) na situação de direito ou de fato que determina ou autoriza a realização
a) Repristimação; do ato administrativo.
b) Cassação; (C) no revestimento exteriorizador do ato administrativo.
c) Retificação; (D) no resultado específico que cada ato deve produzir, conforme definido
d) Derrogação; na lei.
(E) no poder conferido pela lei ao administrador para que ele, nos atos
40) A atividade negativa que sempre impõe uma abstenção ao administra- discricionários, decida sobre a oportunidade e conveniência de sua
do, constituindo-se em obrigação de não fazer, caracteriza o poder: prática.
a) Hierárquico;
b) Normativo; 46. Nas hipóteses de danos causados a terceiros, o servidor que o causou
c) Discricionário; responderá perante
d) De polícia; (A) ao Poder Legislativo.
(B) à Fazenda Pública, em ação direta e progressiva.
41. Assinale a alternativa incorreta (C) ao órgão em que atuava, em ação administrativa.
a) Nenhum servidor receberá remuneração inferior a 2 salários mínimos. (D) ao Tribunal de Contas.
b) O auxílio-moradia não será concedido por prazo superior a 8 (oito) anos (E) à Fazenda Pública, em ação regressiva.
dentro de cada período de 12 (doze) anos.
c) O valor mensal do auxílio-moradia é limitado a 25% (vinte e cinco por 47. Na prática de ato de improbidade administrativa que importe enriqueci-
cento) do valor do cargo em comissão, função comissionada ou cargo de mento ilícito, o agente público está sujeito à pena de suspensão dos direi-
Ministro de Estado ocupado. tos políticos com duração de, no mínimo,
d) O valor do auxílio-moradia não poderá superar 25% (vinte e cinco por (A) cinco anos e, no máximo, dez anos.
cento) da remuneração de Ministro de Estado. (B) dois anos e, no máximo, quatro anos.
e) Independentemente do valor do cargo em comissão ou função comissio- (C) três anos e, no máximo, seis anos.
nada, fica garantido a todos os que preencherem os requisitos o ressarci- (D) oito anos e, no máximo, dez anos.
mento até o valor de R$ 1.800,00 (mil e oitocentos reais). (E) oito anos e, no máximo, doze anos.

42. Assinale a alternativa incorreta: 48. Sobre dispensa e inexigibilidade de licitação, considere as hipóteses
abaixo, previstas na Lei de Licitações:

Direito Administrativo 48 A Opção Certa Para a Sua Realização


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I. Casos de guerra ou grave perturbação da ordem.
II. Quando não acudirem interessados à licitação anterior e esta, justifica- 53. A investidura do servidor em cargo de atribuições e responsabilidades
damente, não puder ser repetida sem prejuízo para a Administração, man- compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física e
tidas, neste caso, todas as condições preestabelecidas. mental verificada em inspeção médica, decorre da forma de provimento
III. Contratação de profissional de qualquer setor artístico, diretamente ou derivado denominada
através de empresário exclusivo, desde que consagrado pela crítica espe- (A) reintegração.
cializada ou pela opinião pública. (B) recondução.
Estas hipóteses correspondem, respectivamente, a casos de (C) aproveitamento.
(A) inexigibilidade, dispensa e dispensa. (D)) readaptação.
(B) dispensa, inexigibilidade e dispensa. (E) reversão.
(C) dispensa, dispensa e dispensa.
(D) inexigibilidade, inexigibilidade e dispensa. 54. A vacância do cargo público decorrerá, dentre outras hipóteses, de
(E) dispensa, dispensa e inexigibilidade. (A) reversão.
(B)) posse em outro cargo inacumulável.
49. Na sessão pública para recebimento das propostas do pregão eletrôni- (C) nomeação.
co, o autor da oferta de valor mais baixo e os das ofertas com preços até (D) aproveitamento.
10% (dez por cento) superiores àquela poderão fazer novos lances verbais (E) recondução.
e sucessivos, até a proclamação do vencedor. Não havendo pelo menos
três ofertas nestas condições, 55. Com relação ao disposto sobre as férias observe as seguintes proposi-
(A) poderão os autores das melhores propostas, até o máximo de três, ções:
oferecer novos lances verbais e sucessivos, quaisquer que sejam os preços I. Dentre outras hipóteses, as férias poderão ser interrompidas por motivo
oferecidos. de convocação para serviço eleitoral.
(B) todos os proponentes presentes, independentemente do número, pode- II. As faltas ao serviço poderão ser levadas à conta de férias até o máximo
rão oferecer novos lances verbais e sucessivos. de dez dias.
(C) o pregoeiro reabrirá prazo para que novos concorrentes apresentem III. O servidor poderá acumular suas férias, até o máximo de três períodos,
propostas. no caso de necessidade do serviço.
(D) a sessão será suspensa e o processo encaminhado à autoridade com- IV. As férias poderão ser parceladas em até três etapas, desde que assim
petente para decidir sobre o prosseguimento ou não do pregão. requeridas pelo servidor, e no interesse da administração pública.
(E) o pregoeiro declarará encerrada a sessão e prejudicado o pregão. Estão corretas APENAS
(A) I e II.
50. De acordo com a Lei no 9.784/99, que regula o processo administrativo (B) I e III.
no âmbito da Administração Pública Federal, a competência (C)) I e IV.
(A) é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a que foi atribu- (D) II e III.
ída como própria, salvo os casos de delegação e avocação legalmente (E) III e IV.
admitidos.
(B) para decisão de recursos administrativos é delegável. 56. É certo que, o servidor poderá, diante de novos argumentos, interpor
(C) não pode ser delegada para órgão que não seja hierarquicamente pedido de reconsideração perante a autoridade
subordinado ao órgão delegante. (A) que houver expedido o ato, que deverá decidir o pleito dentro do prazo
(D) para edição de atos normativos pode ser delegada. improrrogável de 60 dias.
(E) pode ser feita por ato interno, desnecessária a sua publicação. (B) competente, dentro do prazo de 15 dias, a contar da publicação ou da
ciência do ato impugnado.
51. Os candidatos aprovados em concurso público na esfera federal, cujo (C) imediatamente superior àquela que tiver expedido o ato, que decidirá
prazo de validade não expirou, aguardam a respectiva nomeação. Contudo, em até 15 dias.
foram surpreendidos com a abertura de novo concurso para o preenchi- (D) imediatamente superior à que tiver expedido a decisão, que decidirá
mento dos mesmos cargos. Esta decisão do órgão responsável pelo certa- dentro do prazo legal de 10 dias,
me podendo ser renovado uma única vez.
(A) somente é válida se todos os aprovados no concurso posterior alcança- (E)) que houver expedido o ato ou proferido a primeira decisão, que deverá
rem notas superiores às dos concursados anteriores. decidir dentro do prazo de 30 (trinta) dias, não podendo ser renovado.
(B)) é vedada, uma vez que não se admite a abertura de novo concurso
enquanto houver candidato aprovado em concurso anterior, com prazo de 57. Sobre o vencimento e a remuneração, é INCORRETO afirmar:
validade não expirado. (A)) As faltas justificadas decorrentes de caso fortuito poderão ser compen-
(C) é válida, desde que os cargos postos em disputa sejam de livre nomea- sadas a critério da chefia imediata, mas não serão consideradas como
ção e o interesse público justifique a necessidade de novo concurso. efetivo exercício.
(D) é permitida, desde que os classificados no concurso posterior não (B) O servidor que for demitido em débito com o erário terá o prazo de
sejam nomeados antes dos concursados sessenta dias para quitar seu débito.
anteriores com direito à nomeação. (C) Remuneração é o vencimento do cargo efetivo, acrescido das vanta-
(E) atende ao interesse público e possibilita que os aprovados em ambos gens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei.
os certames integrem uma única lista classificatória que será considerada (D) O servidor perderá a remuneração do dia em que faltar ao serviço, sem
para efeito de ordem de aproveitamento. motivo justificado.
(E) O vencimento não será objeto de arresto, sequestro ou penhora, salvo
52. No que concerne à posse e ao exercício, é correto afirmar que: nos casos de prestação de alimentos resultantes de decisão judicial.
(A)) O prazo para o servidor empossado em cargo público entrar em exer-
cício é de quinze dias, contados da data da posse. 58. No que tange à acumulação remunerada de cargos públicos, é correto
(B) A posse ocorrerá no prazo de quinze dias contados da publicação do afirmar que
ato de provimento. (A) é totalmente vedada a percepção de vencimento de cargo efetivo com
(C) O servidor será demitido do cargo se não entrar em exercício dentro do proventos de inatividade.
prazo de trinta dias, contados do ato de provimento. (B) a proibição de acumular não se aplica às empresas públicas nem às
(D) Ao entrar em exercício, o servidor estável nomeado para cargo de sociedades de economia mista.
provimento efetivo ficará sujeito a estágio probatório por período de doze (C) o médico pode acumular a remuneração de dois cargos junto ao mesmo
meses. hospital municipal, independentemente da compatibilidade de horários.
(E) A promoção interrompe o tempo de exercício, que passa a ser contado (D)) é permitida a acumulação remunerada de dois cargos de professor,
novamente para efeitos do estágio probatório. havendo compatibilidade de horários.

Direito Administrativo 49 A Opção Certa Para a Sua Realização


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(E) não se admite, em nenhuma hipótese, a acumulação remunerada de requisitos exigidos para o cargo, a Administração Pública deverá adotar a
cargos públicos. seguinte providência:
a) demitir o servidor após instaurar processo disciplinar
59. Em virtude de um mesmo ato comissivo praticado no desempenho de b) demitir o servidor de forma sumária
suas funções, constatou-se a responsabilidade administrativa, civil e penal c) exonerar o servidor após instaurar processo disciplinar
do servidor público, que poderá d) exonerar o servidor após assegurar o direito de defesa, não havendo
(A) ser processado apenas na esfera penal, uma vez que esta, pela sua necessidade de instauração de processo administrativo disciplinar
natureza, absorve as demais.
(B)) responder cumulativamente pelas sanções oriundas das três esferas, já 65) Segundo a Lei 8.429/92, pode-se afirmar que:
que independentes entre si. a) somente o servidor público pode enquadrar-se como sujeito ativo da
(C) sofrer somente a penalidade administrativa, visto ser infração tipicamen- improbidade administrativa
te administrativa. b) os membros da Magistratura, do Ministério Público e do Tribunal de
(D) ser passível apenas das penalidades decorrentes das esferas adminis- Contas não podem ser incluídos como sujeitos ativos, por desfrutarem da
trativa e penal, por ser falta disciplinar. prerrogativa da vitaliciedade
(E) responder cumulativamente somente pelas sanções administrativa e c) mesmo um particular que induza ou concorra para a prática do ato de
civil, restando a penal absorvida pela primeira. improbidade ou dele de beneficie direta ou indiretamente sofre a incidência
da lei
60. Nos termos do disposto na Lei no 8.112/90, a reversão d) os mesários em eleição e os jurados não podem figurar no rol dos sujei-
(A) constitui forma de provimento derivado que culmina com o retorno à tos ativos da conduta tida por atentatória da probidade
atividade do servidor posto em disponibilidade.
(B)) é o retorno à atividade do servidor aposentado por invalidez, quando, 66) Um servidor público já ocupa, remuneradamente, um cargo público de
por junta médica oficial, forem declarados insubsistentes os motivos da professor em universidade federal constituída sob forma de autarquia e
aposentadoria. outro cargo público de médico junto à Administração direta de um Estado.
(C) é o deslocamento do servidor, a pedido ou de ofício, no âmbito do Considerando que haja compatibilidade de horários, esse servidor:
mesmo quadro, com ou sem mudança de sede. a) Poderá ainda ocupar remuneradamente um emprego público qualquer
(D) resulta da investidura do servidor estável em cargo de atribuições e em uma sociedade de economia mista municipal;
responsabilidades compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua b) Poderá ainda ocupar remuneradamente um cargo público de médico
capacidade física. junto à Administração direta de um Município;
(E) constitui ato administrativo discricionário pelo qual o agente exonerado c) Poderá ainda ocupar remuneradamente um emprego público qualquer
reingressa no serviço público. em uma empresa subsidiária de uma empresa pública federal;
d) Não poderá ocupar remuneradamente nenhum outro cargo ou emprego
61. Tendo em vista a Lei no 8.112/90, e em relação às férias dos servidores público, seja junto à Administração direta, seja junto às entidades da admi-
públicos civis da União, é INCORRETO afirmar que nistração indireta, suas subsidiárias ou sociedades controladas pelo Poder
(A) para o primeiro período aquisitivo de férias serão exigidos 12 meses de Público, de qualquer nível da Federação.
exercício.
(B) as férias, dentre outras hipóteses, poderão ser interrompidas por motivo 67) Ao servidor público civil é assegurado o direito à livre associação
de calamidade pública ou comoção interna. sindical e aos seguintes direitos, dela decorrentes:
(C) é permitido o parcelamento das férias em até três etapas, desde que a) Ser representado pelo sindicato, inclusive como substituto processual;
assim requeridas pelo servidor, e no interesse da administração pública. b) Inamovibilidade do dirigente sindical até o final do mandato, exceto se a
(D)) o servidor terá direito a 30 dias de férias, que podem ser cumuladas pedido;
por até 3 períodos, no caso de necessidade do serviço. c) Desconto em folha, sem ônus para a entidade sindical a que for filiado,
(E) é vedado levar à conta de férias qualquer falta ao serviço. do valor das mensalidades e contribuições definidas pela diretoria do sindi-
cato;
62. O servidor que NÃO entrar em exercício dentro do prazo legal de d) Ser nomeado para cargo em comissão após o mandato sindical, prete-
(A)) 15 dias, contados da data da posse, será exonerado do cargo. rindo servidor não sindicalizado;
(B) 30 dias, contados do ato de provimento, será afastado provisoriamente
do cargo. 68) Com referência ao concurso público:
(C) 60 dias, contados da publicação do ato de provimento, poderá ser posto a) Somente pode ser de provas e títulos;
em disponibilidade. b) É obrigatório somente para os órgãos da administração direta, autárqui-
(D) 15 dias, contados da data da nomeação, poderá ser afastado do cargo. ca e fundacional;
(E) 30 dias, contados da data da posse, será posto em disponibilidade. c) Obriga a nomeação do aprovado, observado o número de vagas decla-
radas no edital de concurso;
63. No que tange às penalidades disciplinares, considere: d) É dispensado para ingresso de ex-combatentes no serviço público, para
I. Configura abandono de cargo punível com suspensão, a ausência inten- contratação temporária de excepcional interesse público e outras hipóteses
cional do servidor ao serviço por mais de 30 dias consecutivos. previstas na Constituição Federal;
II. Ao servidor que faltar ao serviço, sem causa justificada, por 60 dias,
intercaladamente, durante o período de 12 meses, será aplicada a pena de 69) Assinale a alternativa CORRETA:
demissão. a) A prática de atos de improbidade administrativa pelo servidor público
III. Quanto às infrações puníveis com destituição de cargo em comissão, a poderá acarretar a suspensão de seus direitos políticos;
ação disciplinar prescreverá em até 10 anos. b) O sequestro dos bens do servidor público, devido a danos por ele cau-
IV. Será cassada a aposentadoria ou a disponibilidade do inativo que sados ao patrimônio público, somente poderá ser decretado após o trânsito
houver praticado, na atividade, falta punível com a demissão. em julgado da sentença prolatada no processo respectivo;
Está correto APENAS o que se afirma em: c) A ação principal, no tocante à improbidade administrativa, terá rito ordi-
(A) I, II e III. nário e poderá ser proposta exclusivamente pelo Ministério Público;
(B) I e III. d) O ressarcimento ao erário, em caso de improbidade administrativa,
(C) I e IV. poderá vir a ser dispensado quando ocorrer o reconhecimento, pelo servi-
(D) II, III e IV. dor público, dos atos praticados indevidamente, caracterizando-se em tal
(E)) II e IV. hipótese a transação;

64) O servidor público, nomeado para cargo de provimento efetivo, será 70) Com relação à lei nº8.112/90, pode-se afirmar que:
submetido a estágio probatório, oportunidade em que será avaliado pela
Administração Pública. Quando constatar que o servidor não preenche os

Direito Administrativo 50 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
a) de acordo com as regras constitucionais em vigor, em que a obrigatorie- c) Finalidade;
dade do regime jurídico único foi abolida, a lei nº 8.112/90 aplica-se às d) Razoabilidade;
empresas públicas e sociedades de economia mista da União;
b) trata-se de legislação que pode ser aplicada também para os Estados e 76) Na administração pública, aos atos praticados devem atender à finali-
para os Municípios, pois a União tem competência para estabelecer, por lei, dade legal, atendendo ao princípio da:
normas gerais sobre as questões relativas aos servidores públicos; a) Abrangência;
c) a lei nº 8.112/90 somente se aplica para a Administração Direta, autár- b) Disponibilidade;
quica e fundacional da União. c) Impessoalidade;
d) a lei estabelece o regime contratual para disciplinar as relações jurídicas Hierarquia administrativa.
entre a União e seus servidores, não adotando o regime estatutário.
__________ 77) São consideradas pessoas jurídicas de direito público que executam
71. Julgue os itens abaixo, relativos à administração indireta. atividades típicas da Administração Pública:
I. As empresas públicas e as sociedades de economia mista não se sujei- a) Autarquias e empresas públicas;
tam a procedimentos licitatórios por terem o mesmo tratamento jurídico das b) Autarquias e fundações públicas;
empresas privadas. c) Empresas públicas e sociedades de economia mista;
II. As sociedades de economia mista só podem adotar a forma de socieda- Autarquia, empresas públicas e fundações públicas.
de anônima.
III. O capital de empresa pública é todo estatal. 78) As pessoas jurídicas que integram a Administração Pública Federal
IV. Não é permitido às autarquias desempenhar atividades econômicas. indireta têm em comum:
V. As fundações públicas são, exclusivamente, pessoas jurídicas de direito a) somente a criação por lei específica;
público. b) sua natureza jurídica;
A quantidade de itens certos é igual a c) apenas o fato de possuírem personalidade e patrimônio próprios;
A) 1. d) criação por lei específica, personalidade e patrimônio próprios;
B) 2.
C) 3. 79) Sobre os poderes da Administração Pública, é INCORRETO afirmar
D) 4. que:
E) 5. a) os atos administrativos relativos ao poder de polícia têm como caracte-
__________ rística a auto-executoriedade
72. Com relação aos órgãos e agentes públicos, assinale a opção correta. b) o poder regulamentar será exercido pelo chefe do Poder Executivo ao
A) A CF admite a investidura derivada de cargo público para servidores expedir decretos explicando o conteúdo das leis
civis, mediante a realização de concurso interno. c) o poder disciplinar permite que o chefe do Poder Executivo, se houver
B) Os órgãos administrativos não têm personalidade jurídica. previsão na lei, aplique punições aos servidores de todos os poderes
C) Como decorrência do poder hierárquico, o agente público pode editar d) o poder hierárquico permite a uma autoridade rever os atos praticados
atos regulamentares. por seus subordinados tanto no aspecto de mérito quanto no aspecto de
D) Os tribunais de contas estaduais são órgãos independentes, mas só legalidade
podem ir a juízo por meio da procuradoria geral da assembléia legislativa,
por não possuírem personalidade judiciária. 80) O Processo Administrativo é o conjunto de procedimentos utilizados
E) Os agentes públicos só podem prover seus cargos por concurso público. pela Administração para o adequado registro de seus atos, controle de
seus agentes e solução de controvérsias com os administrados.
73. No que se refere ao servidor público civil, segundo a CF, assinale a No âmbito do Processo Administrativo, é correto afirmar:
opção correta. a) É formal, obedecendo a uma processualística determinada;
A) Somente após regular sindicância, o servidor público estável que partici- b) Obedece ao princípio inquisitorial;
pa de greve da categoria e, portanto, comete falta grave, fica sujeito à c) Não admite dilação probatória;
aplicação da pena de demissão. d) Está vinculado ao princípio da ampla defesa;
B) É permitida a acumulação do cargo de médico com o de professor de
música da rede municipal de ensino. 81) O ingresso no serviço público depende:
C) É permitido ao servidor afastado para o exercício de cargo eletivo contar a) Do preenchimento da condição de brasileiro nato;
o tempo de mandato para fins de tempo de serviço. b) Da prestação de concurso público de provas, ou de provas e
D) O servidor público que é eleito prefeito, em caso de haver compatibilida- títulos, para quaisquer cargos;
de de horário, perceberá as vantagens do cargo efetivo, sem prejuízo da c) Da prestação de concurso público de provas, ou de provas e
percepção do cargo eletivo. títulos, salvo para os cargos ou empregos regidos pela C.L.T.;
E) Todo concurso público deve conter, em seu edital, reserva de vagas d) Da prestação de concurso público de provas, ou de provas e
para pessoas portadoras de necessidades especiais. títulos, salvo para os cargos cujos titulares sejam demissíveis "ad nutum" e
outros indicados em lei;
74. Assinale a opção correta acerca dos atos administrativos.
A) Quando o agente público explicita a motivação do ato administrativo 82) A Administração Pública pode anular seus próprios atos quando eiva-
discricionário, os motivos implicam vinculação apenas quanto aos funda- dos de ilegalidade, bem como revogá-los por motivo de conveniência ou
mentos de direito. oportunidade, no exercício do princípio da:
B) O ato administrativo pode ser revogado por ter perdido sua utilidade. a) Autotutela;
C) A competência para a prática do ato administrativo, seja vinculado, seja b) Discricionariedade;
discricionário, é condição para a sua validade, mas admite-se a delegação c) Razoabilidade;
do seu exercício por vontade do delegante. d) Auto-executoriedade;
D) O ato administrativo discricionário pode ser motivado após sua edição.
E) A presunção de legitimidade do ato administrativo transfere à adminis- 83) A rescisão do contrato administrativo ocorre:
tração o ônus de provar que o ato administrativo é legítimo. a) Por exigência do contratado;
__ b) Somente quando houver acordo entre a Administração Pública e o
75) Afirmando que "as competências administrativas só podem ser vali- contratado;
damente exercidas na extensão e intensidade proporcionais ao que seja c) Por ato próprio e unilateral da Administração em razão de inadim-
realmente demandado para cumprimento da finalidade de interesse público plência do contratado ou por interesse do serviço público;
a que são atreladas", referimo-nos ao princípio do(a): d) Exclusivamente em decorrência de decisão judicial;
a) Proporcionalidade;
b) Interesse público;

Direito Administrativo 51 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
84) A modalidade de licitação necessária para o contrato de concessão de 90) Empresa concessionária, prestadora de serviço público causa danos a
direito real de uso é: particulares. Configura-se sua responsabilidade objetiva desde que:
a) A concorrência; a) A prestação do serviço seja a causa única do dano;
b) O leilão; b) O dano tenha ocorrido por omissão na prestação do serviço e a
c) O convite; vítima não tenha culpa concorrente;
d) A tomada de preço; c) O agente do concessionário, causador do dano, tenha agido com
culpa;
85) Celso Antônio Bandeira de Mello distingue as empresas públicas e as d) O Poder Público concedente não seja responsabilizado solidaria-
sociedades de economia mista em duas categorias: as prestadoras de mente;
serviços públicos e as exploradoras de atividade econômica. Com relação
aos regimes jurídicos dessas empresas, marque a alternativa correta: 91. “Administração Pública, em sentido formal, é o conjunto de órgãos
a) Os bens das empresas públicas e sociedades de economia mista instituídos para consecução dos objetivos do Governo; em sentido material,
exploradoras de atividade econômica são penhoráveis e prescritíveis. é o conjunto das funções necessárias ao serviços públicos em geral: em
b) De acordo com preceito constitucional, é livre a acumulação de acepção operacional, é desempenho perene e sistemático, legal e técnico,
emprego nestas entidades com um outro em empresa controlada direta ou dos serviços próprios do Estado ou por ele assumidos em benefício da
indiretamente pelo poder público. coletividade. Numa visão global, a Administração é, pois, todo o aparelha-
c) A responsabilidade da Empresa Pública por atos de seus prepos- mento do Estado preordenado à realização de seus serviços, visando à
tos é sempre de natureza objetiva, conforme determinada a Constituição da satisfação das necessidades coletivas. A Administração não pratica atos
República. do governo; pratica, tão-somente, atos de execução, com maior ou menor
d) As empresas públicas e sociedades de economia mista, que autonomia funcional, segundo a competência do órgão de seus agentes.
desempenham atividades de instituição financeira, não sujeitas à liquidação São os chamados atos administrativos.”
extrajudicial determinada pelo Banco Central. Quanto à definição de “Administração Pública” acima enunciada, podemos
afirmar que:
86) Quando, em licitação sujeita à Lei nº 8.666/93, duas ou mais empresas está totalmente correta
participam reunidas em consórcio, é: está parcialmente correta
a) obrigatória a adoção da modalidade de concorrência. está inorreta
b) permitido o somatório de quantitativos e/ou valores das empresas nada podemos afirmar com tais dados
participantes, para efeito de qualificação, observados condicionamentos
legais. 92. São características da Administração Pública:
c) necessária a constituição do consórcio por meio de instrumento 1) As pessoas que exercem as atividades de administração pública são
público, arquivado na Junta Comercial. agentes de Direito Público, especialmente designados, podendo também
d) permitida a liderança de empresa brasileira ou de empresa es- serem designados por delegação.
trangeira, se o consórcio for formado pelas duas. 2) Os objetivos perseguidos pela Administração Pública são sempre esta-
belecidos por lei, ou seja, são sempre vinculados e não discricionários.
87) É regra própria do regime jurídico do pregão, nos termos da legisla- 3) Os interesses são sempre públicos, isto é, visando a coletividade como
ção federal pertinente: um todo, segundo o princípio da isonomia.
a) o prazo fixado para a apresentação das propostas, contado a 4) As atividades administrativas e seus atos em geral gozam de executori-
partir da publicação do aviso, não será superior a oito dias úteis. edade prática, ou possibilidade imediata de serem realizados.
b) no curso da sessão pública para recebimento das propostas, 5) A natureza da Administração é munus público (encargo que alguém de
todos os interessados ou seus representantes presentes poderão fazer exercer), ou seja, o que procede de natureza pública ou da lei, obrigando o
novos lances verbais e sucessivos, até a proclamação do vencedor. agente ao exercício de certos encargos visando o benefício da coletividade
c) para julgamento e classificação das propostas, será adotado o ou da ordem social.
critério de menor preço, ou técnica e preço, observados os prazos máximos Estão corretas:
para fornecimento, as especificações técnicas e parâmetros mínimos de todas as proposições estão corrretas
desempenho e qualidade definidos no edital. estão corretas somente 1, 2 e 5
d) encerrada a etapa competitiva e ordenadas as ofertas, o prego- estão corretas somente 1, 3, 4 5
eiro procederá à abertura do invólucro contendo os documentos de habilita- estão corretas 1, 2, 4 e 5
ção do licitante que apresentou a melhor proposta, para verificação do
atendimento das condições fixadas no edital. 93. Quanto aos enuncioados a seguir:
1. A Natureza da Administração Pública é a de um munus público para
88) Administração Pública é um conjunto de órgãos: quem a exerce, isto é, a de um encargo de defesa, conservação e aprimo-
a) Em que se dividem os poderes do Estado; ramento dos bens, serviços e interesses da coletividade, impondo ao
b) Instituídos para a consecução dos objetivos do Governo; administrador público a obrigação de cumprir fielmente os preceitos do
c) Que demonstram a soberania posta em ação; Direito e da Moral administrativa que regem sua atuação, pois tais precei-
d) Que praticam atos de governo; tos é que expressam a vontade do titular dos interesses administrativos - o
povo - e condicionam os atos a serem praticados no desempenho do
89) A Constituição Federal estabelece o princípio da ampla acessibilidade munus público que lhe é confiado.
aos cargos, funções e empregos públicos. 2. Os Fins da Administração Pública resumem-se num único objetivo: o
Pode-se afirmar corretamente que: bem comum da coletividade administrativa; toda atividade deve ser orien-
a) Nas regras do concurso público não podem ser feitas discrimina- tada para esse objetivo; sendo que todo ato administrativo que não for
ções entre brasileiros natos ou naturalizados, excetuando-se alguns cargos praticado no interesse da coletividade será ilícito e imoral.
que são privativos de brasileiros natos previstos na Carta Magna; 3. No desempenho dos encargos administrativos o agente do Poder Públi-
b) Via de regra, as normas para a acessibilidade e concurso público co não tem a liberdade de procurar outro objetivo, ou de dar fim diverso do
são impositivas para todo o universo da Administração, salvo as socieda- prescrito em lei para a atividade; descumpri-los ou renunciá-los equivalerá
des de economia mista e empresas públicas; a desconsiderar a incumbência que aceitou ao empossar-se no cargo ou
c) A contratação excepcional sem concurso público está terminan- função pública.Em última análise, os fins da Administração consubstanci-
temente proibida pela Constituição Federal atual; am-se em defesa do interesse público, assim entendidas aquelas aspira-
d) Faz-se mister novo concurso público para elevação nos níveis de ções ou vantagens licitamente almejadas por toda a comunidade adminis-
uma determinada carreira pública ou nas linhas de ascensão funcional trativa, ou por parte expressiva de seus membros; o ato ou contrato admi-
preestabelecidas para esta carreira; nistrativo realizado sem interesse público configura desvio de finalidade.
É/Estão correta(s):
somente a 1

Direito Administrativo 52 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
somente 1 e 2 d) a responsabilidade civil do agente público é subjetiva, condicionada à
somente 1e 3 demonstração de culpa ou dolo;
todas estão corretas e se complementam e) a fixação da remuneração dos servidores públicos dos Estados e do
Distrito Federal é feita por ato do Governador, sendo obrigatório o reajuste
94 - Sobre as entidades da Administração Pública Indireta, analise as geral anual.
afirmativas:
I. A empresa pública será criada, mediante autorização do Poder Legislati- 99. A Administração Pública, por meio do regular uso do poder disciplinar,
vo, para desempenhar atividade considerada típica do Estado. (A) distribui, ordena, escalona e revê a atuação de seus agentes, de modo
II. As entidades da Administração Indireta estão sujeitas ao controle hierár- que as atividades por eles desempenhadas obedeçam ao princípio da
quico próprio do ente estatal a que estão vinculadas. eficiência.
III. A empresa pública integra a Administração Indireta e tem personalidade (B) apura infrações e aplica penalidades aos servidores públicos e demais
jurídica de Direito Privado. pessoas sujeitas à disciplina administrativa.
É/são verdadeira(s) somente a(s) afirmativa(s): (C) edita normas complementares à lei, que disponham sobre organização
a) I; administrativa ou relações entre os particulares que estejam em situação de
b) II; submissão especial ao Estado.
c) III; (D) condiciona e restringe o uso e gozo de bens, atividades e direitos
d) I e III; individuais em benefício da coletividade ou do próprio Estado.
e) nenhuma. (E) pratica atos administrativos de sua competência, com liberdade de
escolha quanto à sua conveniência, oportunidade, forma e conteúdo.
95 - Sobre a noção de Administração Pública, analise as afirmativas a
seguir: 100 - De acordo com as normas constitucionais em vigor, se for extinto o
I. A função administrativa do Estado será desempenhada por órgãos e cargo ocupado pelo servidor estável, a Administração deverá adotar a
agentes de todos os poderes, ainda seguinte providência:
que predominantemente pelo Poder Executivo. a) exonerar o servidor em razão da extinção do cargo;
II. No sentido material, considera-se Administração Pública o desempenho b) demitir o servidor, sem justa causa;
da função administrativa, como c) colocá-lo em disponibilidade remunerada;
por exemplo, a gestão de bens e de serviços públicos. d) reintegrá-lo em outro cargo semelhante;
III. Através da desconcentração administrativa é possível atribuir a particu- e) promover a sua aposentadoria com proventos proporcionais ao tempo de
lares, por ato administrativo, ou por serviço.
contrato, a execução de serviços públicos.
São verdadeiras somente as afirmativas: RESPOSTAS
a) I e II;
b) I e III;
01. B 11. E 21. C 31. D 41. A
c) II e III;
02. A 12. B 22. C 32. A 42. C
d) I, II e III;
03. C 13. C 23. C 33. C 43. C
e) nenhuma.
04. C 14. E 24. C 34. D 44. D
05. D 15. C 25. C 35. C 45. A
96 - Sobre o poder de polícia, analise as afirmativas a seguir:
06. E 16. C 26. C 36. D 46. E
I. O poder de polícia não se confunde com a polícia judiciária. A polícia
07. B 17. C 27. C 37. B 47. D
administrativa tem finalidade preventiva e a policia judiciária atua de forma
08. E 18. C 28. C 38. B 48. E
repressiva.
09. B 19. C 29. C 39. D 49. A
II. Todos os entes estatais são competentes para exercer o poder de polícia
10. D 20. C 30. C 40. D 50. A
sobre as atividades submetidas ao
seu controle.
51. B 61. D 71. B 81. D 91. A
III. A licença é exemplo de ato administrativo que pode refletir o exercício
do poder de polícia. 52. A 62. A 72. B 82. A 92. A
São verdadeiras somente as afirmativas: 53. D 63. E 73. C 83. C 93. D
a) I e II; 54. B 64. D 74. B 84. A 94. C
b) I e III; 55. C 65. C 75. A 85. A 95. A
c) II e III; 56. E 66. D 76. C 86. B 96. D
d) I, II e III; 57. A 67. A 77. B 87. D 97. C
e) nenhuma. 58. D 68. D 78. D 88. B 98. E
59. B 69. A 79. C 89. A 99. B
97 - De acordo com a classificação que divide os órgãos públicos conforme 60. B 70. C 80. D 90. A 100. C
a sua posição estatal, as Secretarias de Estado são consideradas órgãos:
a) independentes; ___________________________________
b) colegiados;
c) autônomos; ___________________________________
d) superiores; ___________________________________
e) coletivos.
___________________________________
98) Sobre as normas constitucionais relativas à Administração Pública, é ___________________________________
INCORRETO afirmar que:
a) de acordo com a Constituição, as autarquias serão criadas por lei e _______________________________________________________
estão sujeitas às mesmas regras de responsabilidade civil aplicáveis à
_______________________________________________________
Administração Direta;
b) uma das sanções aplicadas ao agente público que praticar atos de _______________________________________________________
improbidade administrativa é a suspensão de direitos políticos;
c) de acordo com as normas constitucionais em vigor, os concessionários _______________________________________________________
de serviços públicos responderão objetivamente pelos danos resultantes de _______________________________________________________
atos praticados por seus agentes nessa qualidade;
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Direito Administrativo 53 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
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