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Universidade Federal de São Carlos

Política I
Gabriel Randi Donadelli
RA: 771596
14/09/2020

Resposta à pergunta: o que é esclarecimento*? (Aufklärung*) - estrutura


do texto

O trabalho terá como objetivo construir a estrutura do texto de Kant por parágrafos, de
modo a identificar os principais argumentos e sintetizar o conteúdo usado para responder a
pergunta do título.

(§1) Kant define de forma geral o esclarecimento: “é a saída do homem de sua menoridade”.
E explica a menoridade como sendo a incapacidade do homem de pensar por si mesmo, de
servir-se de si, em que o próprio homem é o culpado de tal situação.

(§2) O filósofo fala da preguiça e da covardia e as aponta como as principais causas do


homem continuar menor1 mesmo depois de a natureza o ter libertado de uma direção
estranha. Também culpa elas do fato de o homem permanecer cômodo e permitir que
terceiros comandem diversos aspectos de sua vida, sem que ele consiga pensar por si só,
como exemplo: pagar um médico que decida sua dieta.

(§3) O autor ressalta nesse parágrafo como é difícil para o homem sair dessa menoridade e
começar a pensar por si próprio, já que isso nunca lhe foi permitido e ele não está acostumado
a ser livre, por isso são muito poucos aqueles que realmente conseguem atingir a maioridade
pela transformação do espírito.

(§4) a) Aqui, Kant diz que é possível um público se esclarecer e que, se lhes for dada a
liberdade, é inevitável;
b) Fala também sobre como existem aqueles que pensam por si mesmos (inclusive, dentre os
tutores do povo) e pregam o jugo da menoridade no povo, que acaba se revoltando e os
punindo, por isso nesse ponto o filósofo critica a implantação de preconceitos;
c) Termina explicitando que atingir o esclarecimento só pode ocorrer de forma lenta, já que
sempre são plantados novos preconceitos para conduzir o “povo-não-pensante” e uma
revolução até pode acabar com o “despotismo pessoal ou da opressão ávida de lucros e
domínios.” mas não é possível chegar em uma verdadeira reforma no pensar.

(§5) Nesse parágrafo Kant nos conta o principal fator para o esclarecimento: a liberdade.

1 “Naturaliter maiorennes”. “Menor” tem o sentido de não ir para a maioridade natural, continuar na
menoridade.
a) A liberdade ainda em forma simples: conseguir usar sua razão publicamente2 e sem
limitações. O autor também fala do uso privado3 e como não atrapalha o
esclarecimento, embora seja um uso limitado;
b) Em seguida, é apresentado como várias profissões exercidas em benefício da
sociedade se comportam de forma mecânica para manter uma certa “unanimidade
artificial”, como o próprio autor diz. Esses são casos em que aqueles que realizam o
trabalho não são impedidas de raciocinar, porém devem obedecer. Como por exemplo
o militar que não concorda com determinadas práticas do exército mas deve cumpri-
lás, pois ao aceitar exercer tal cargo, é sua obrigação cumprir com o que lhe é
ordenado;
c) Porém Kant também diz que, embora essa pessoa seja parte da máquina, enquanto
membro da sociedade ativa, não é impedido de pensar, já que seu próprio
entendimento não prejudica o processo em que ele é um membro passivo. E não
existe mal em refletir sobre a situação que não concorda, mesmo encontrando-se
inserido nela, e apontar para o resto das pessoas julgarem, na sua condição de sábio,
os problemas que ali enxerga.

(§6) Desse modo, agora o autor diz que nenhuma sociedade, seja ela de clérigos ou uma
respeitada classe, deveria poder jurar proteger certa fé invariável, tornando-se também fiscais
do povo participante da sociedade para que mantenham os mesmos costumes.
a) O filósofo argumenta aqui, que tal situação autoriza a qualquer cidadão o direito de
escrever sobre os erros em que ele mesmo está inserido e apresentar aos demais;
b) Em seguida, segue seu raciocínio e diz que para o maior interesse da humanidade
devem ser proibido instituições pregarem o mesmo credo sem a possibilidade de
dúvida ou questionamento de seus fiéis, pois um homem sem dúvida não é um
homem esclarecido, e segundo kant, isso fere os direitos da humanidade.
c) Termina, dizendo que não é lícito para uma população decidir abdicar do
esclarecimento, muito menos seu monarca. Pois já que seu trabalho consiste no
interesse geral do povo, ele deve deixá-los livres para tomar as decisões que julgarem
melhores para o próprio esclarecimento.

(§7) O pensador segue com uma pergunta: “vivemos agora em uma época esclarecida?” e
logo a responde negativamente, porém afirma que estavam, na verdade, em uma época do
esclarecimento. Os homens não haviam atingido a maioridade natural, mas tinham aberto-
lhes as portas para tal caminho.

(§8) Nesse parágrafo Kant pinta a imagem de um príncipe que acha correto não prescrever
nada de matéria religiosa ao seu povo. Dessa forma toda a população é livre para emitir
juízos sobre os possíveis defeitos da sociedade ou governo, sem amarras de fé, impedindo-os
de se expressarem verdadeiramente.

2 Kant entende pelo uso público da razão “aquele que qualquer homem, enquanto sábio, faz dela
diante do grande público do mundo letrado.”
3 O uso privado para o filósofo é definido como o exercício da razão em um cargo confiado à pessoa
que fará o uso.
(§9) O pensador ressalta aqui o porquê de sua ênfase na matéria religiosa, pois os senhores
das artes e ciências não estão interessados em controlar seus súditos, apenas a matéria
religiosa prega valores que mantém o homem na menoridade, da qual ele mesmo tem culpa.

(§10) Kant termina seu texto explicando como conceder um grau maior de liberdade às
pessoas pode parecer bom, porém gera limites muito difíceis de atravessar, pois quando se
tem menos liberdade para o espírito, o desejo por expansão do conhecimento é maior do que
quando lhe fornecem um grau confortável de liberdade, em que você pode raciocinar, mas
sempre deve obedecer.

Referências Bibliográficas:

KANT, Immanuel. Textos Seletos. Editora Vozes, 1974. Tradução Raimundo Vier.

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