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Ou seja, o cérebro possui a função de determinar o que fazer com os estímulos recebidos.
Portanto, não pode-se dizer que o sistema nervoso, em sua totalidade, funcione para o
conhecimento, pois se resume em torno dos movimentos, na função de organizar ou realizar
ações.
Sabendo disso, agora o autor mostra como o fato de nosso sistema nervoso superior é
capaz de fazer surgir a percepção. Em organismos inferiores o estímulo de algum objeto em
seu corpo é necessário para que exista uma reação, mas como o ser humano possui diversos
jeitos de absorver as imagens do mundo material, sejam elas a audição, a visão ou olfato, isso
torna cada vez maior a hesitação possível na hora de agir, da mesma forma que aumenta a
quantidade de estímulos e a distância que são possíveis serem percebidos. Portanto, surge
essa zona de indeterminação, que pode ser medida pela distância dos objetos que podem
provocar estímulos no centro de ação e onde o indivíduo consegue agir, de certa forma,
livremente. Por isso, podemos chamar o corpo de centro de indeterminação. “a percepção
dispõe do espaço na exata proporção em que a ação dispõe do tempo.”(BERGSON, 1999,
p.29).
2- Após concluir sua ideia de como o sistema nervoso não é construído em prol da
representação e sim da ação, Bergson segue o texto explicando como a consciência, ou a
percepção exterior, baseia-se em uma escolha. Primeiramente, o filósofo irá criar um
exemplo em que abre mão das lembranças pois, para que seu argumento seja mais claro e
objetivo, retirar as lembranças da equação torna a tarefa mais simples, já que não existe
percepção que não possua dados de experiências passadas, dessa forma, irá apresentar uma
percepção pura.
A partir disso, explica que uma imagem pode existir, sem que seja percebida e que,
precisamente essa distância, entre a existência e a representação, é a medida da percepção
consciente que possuímos da matéria. As imagens do mundo material se apresentam ao
indivíduo, em sua zona de indeterminação, não em sua totalidade, mas apenas refletindo as
funções possíveis do centro de ação nelas. Dessa forma, não conseguimos enxergar as
relações de um objeto com os outros que o cercam sendo que o mesmo é solidário com estes
pelas leis naturais da física. Retiramos dele apenas o contorno das ações que interessam ser
executadas no momento em que o estímulo é recebido pelo corpo. Ou seja, nesse processo,
certas características da imagem serão ignoradas para fazer gerar a representação, por isso os
objetos não são representados integralmente como existem no mundo material, o que é
representado pode ser comparado com um “quadro”.
“Ora, se os seres vivos constituem no universo ‘centros de indeterminação’,
e se o grau dessa indeterminação é medido pelo número e pela elevação de suas
funções, concebemos que sua simples presença possa equivaler à supressão de todas
as partes dos objetos nas quais suas funções não estão interessadas.” (BERGSON,
1999, p. 34).
O pensador chega a comparar isso com o efeito de refração da luz. Pois, quando um
certo ângulo da luz torna impossível a refração, é formada uma imagem virtual, isso é
basicamente como a nossa representação é formada, são produzidas imagens virtuais que
refletem as possíveis ações do corpo na imagem, mas apenas as que interessam ao ser. Entre a
imagem “ser e ser conscientemente percebida”, não existe diferença de natureza, apenas no
sentido de que só percebemos aquilo que escolhemos perceber a partir do que nos é
apresentado pelos estímulos exteriores.