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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

CÂMPUS GOIÁS
CURSO DE LICENCIATURA EM FILOSOFIA

ATIVIDADE AVALIATIVA II
O SENTIDO DA HISTÓRIA EM KANT

CIDADE DE GOIÁS
JULHO, 2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
CÂMPUS GOIÁS
CURSO LICENCIATURA EM FILOSOFIA

ATIVIDADE AVALIATIVA II
O SENTIDO DA HISTÓRIA EM KANT

Trabalho apresentado por José Octávio Abramo ao


curso de Licenciatura em Filosofia – 5º Período e à
disciplina de Filosofia Moderna II, ministrada pela
Prof.º Dr.º Pedro Jonas de Almeida.

CIDADE DE GOIÁS
ROTEIRO PARA O TRABALHO
Após a leitura dos textos “O que é esclarecimento?” e “Ideia de uma história
universal de um ponto de vista cosmopolita” de Immanuel Kant e do texto de
comentário de Ri-cardo R. Terra, responda às seguintes questões:

1. O esclarecimento [Aufklärung] depende menos dos conhecimentos que se


adquire do que de uma atitude. Explique.
2. Qual a distinção que faz Kant entre uso privado e uso público da razão?
3. Leia atentamente o trecho a seguir, extraído da quarta proposição do texto
“Ideia de uma história universal (...)” e o comente: “Sem aquelas
qualidades da insociabilidade – em si nada agradáveis – , das quais surge a
oposição que cada um deve necessariamente encontrar às suas pretensões
egoístas, todos os talentos permaneceriam eternamente escondidos, em
germe, numa vida pastoril arcádica, em perfeita concórdia, contentamento
e amor recíproco: os homens, de tão boa índole quanto as ovelhas que
apascentam, mal proporcionam à sua existência um valor mais alto do que
o de seus animais; eles não preencheriam o vazio da criação em vista de seu
fim como natureza racional”.
4. Segundo Ricardo R. Terra, “a tensão entre o inteligível e o sensível, o
idealismo político e a ‘antropologia política’, o direito político e as
instituições políticas efetivas exige a filosofia da história” (p. 162). Por quê?

1) Para Kant o esclarecimento está associado primeiro à noção de menoridade,


ou seja, "a incapacidade de servir-se do próprio entendimento sem direção alheia"
(Kant, n/i, p. 8). A menoridade seria, grosso modo, a comodidade do ser humano em se
deixar guiar por outrem. É mais fácil acreditar numa doutrina sem questioná-la; aceitar
as prescrições médicas para uma vida saudável ou mesmo aceitar as respostas
dogmáticas da Filosofia para as questões metafísicas, do que pensar por si próprio. Ou
seja, se deixar guiar sem ser por sua própria razão.
Dessa forma o esclarecimento deve depender mais dessa mudança de atitude, de
não se deixar guiar por ideias alheias, do que dos conhecimentos adquiridos. Portanto,
em meu entendimento, o esclarecimento para Kant está associado a ideia do uso
individual da liberdade e da razão, imprescindível para o crescimento humano
individual e coletivo.
Questão ainda pertinente atualmente, quando tantos "coachs" indicam,
categoricamente, caminhos para se alcançar a prosperidade, a felicidade e, enfim,
resolver os problemas existenciais humanos com um simples manual, indicando faça e
não pense.
2) Kant distingue o uso público da razão com o uso privado da razão, em meu
entendimento, como uma obrigação moral. Deve-se obedecer quando em um cargo
público ou mesmo privado, as normas e ordens dispostas por essa instituição, sem
questioná-las na ação, isto sendo o uso privado da razão, mas, ao mesmo tempo, deve-se
questioná-las, caso assim se entenda, publicamente, quanto aos seus supostos erros,
autoritarismos ou injustiças, o uso público da razão.
Assim, por exemplo, um membro das forças armadas não deve questionar uma
ordem superior, mas obedecê-la, sendo esse o uso privado da razão, mas, caso entenda a
mesma como errada, deve, publicamente fazer sua crítica, dessa forma se valendo do
uso público da razão.

3) Kant entende que a evolução humana está ligada ao conceito da insociável


sociabilidade, "...ou seja, sua tendência a entrar em sociedade que está ligada a uma
oposição geral que ameaça constantemente dissolver essa sociedade" (Kant, 2022, p. 7).
Dessa forma, caso não houvesse esse antagonismo natural entre os homens, suas
aptidões e talentos ficariam adormecidos pois não seriam necessários para sua vida, que
seria idílica e quase perfeita, sem a necessidade de mudanças que ocorrem somente pelo
embate entre os homens. O homem, para Kant, teria a inclinação ao isolamento, ao
egoísmo, ao medo do outro, mas, ao mesmo tempo, percebe a necessidade de
socialização para o desenvolvimento de suas aptidões e talentos, levando da rudeza à
cultura e ao iluminismo.
Kant credita isso a um criador sábio, que faz com que a natureza, mesmo através
de tantos males, conduza essa oposição geral entre os homens para seu crescimento
enquanto espécie. "O homem quer a concórdia, mas a natureza sabe mais o que é
melhor para a espécie: ela quer a discórdia." (Kant, 2022, p. 8).

4) Em meu entendimento, segundo o autor e a forma kantiana exposta na "Ideia


de uma História Universal de um ponto de vista cosmopolita", a filosofia da história se
faz necessária pois, se a natureza conduz a mesma através de um fio condutor a priori,
visando a evolução da espécie, a filosofia da história irá buscar o sentido desse devir,
menos do que no acúmulo de informações sobre os costumes, fatos e ações dos povos.
Assim ela procura entender, segundo um fio condutor lógico, o que virá para as
próximas gerações, e não apenas a entender os fatos passados. Assim, Kant irá pensar o
homem real, como protagonista dessas ações, sempre atreladas ao conceito da
insociável sociabilidade, e a filosofia da história como um "pequeno motivo" (Kant,
2022, p. 18) para a tentativa na qual essa lembrança será legada à posteridade.

REFERÊNCIAS
Kant, Immanuel. Ideia de uma História Universal de um ponto de vista cosmopolita.
São Paulo/SP: Editora WMF Martins Fontes Ltda., 2022.

Terra, Ricardo R.. A Política Tensa - Ideia e realidade na filosofia da história de


Kant. São Paulo/SP: Editora Iluminuras Ltda, 1995.

Kant, Immanuel. Resposta à questão: "O que é Esclarecimento?”. Introdução,


tradução e notas por Vinicius de Figueiredo. N/i.

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