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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

CÂMPUS GOIÁS
CURSO DE LICENCIATURA EM FILOSOFIA

ENSINO DIRIGIDO I
TÓPICOS ESPECIAIS DE FILOSOFIA I

CIDADE DE GOIÁS
SETEMBRO, 2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
CÂMPUS GOIÁS
CURSO LICENCIATURA EM FILOSOFIA

ENSINO DIRIGIDO I
TÓPICOS ESPECIAIS DE FILOSOFIA I

Trabalho apresentado por José Octávio Abramo ao


curso de Licenciatura em Filosofia e à disciplina de
Tópicos Especiais de Filosofia I, ministrado pelo
Prof.º Dr.º Pedro Jonas de Almeida.

CIDADE DE GOIÁS
ROTEIRO PARA O TRABALHO
Após a leitura dos textos indicados de René Descartes, responda às seguintes
questões:
1. Qual a compreensão que possui Descartes do ato de julgar, de acordo com a
quarta meditação? E qual é o vínculo entre esse ato e a ação humana?

2. De acordo com o nono parágrafo da quarta meditação, a indiferença de


equilíbrio ou de eleição é “o mais baixo grau de liberdade”. Por quê?

3. A carta de Descartes endereçada a Mesland, de 9 de fevereiro de 1645, parece


modificar essa tese no primeiro parágrafo. Examine a polêmica resumida por
Geisa Mara Batista, tome uma posição e a justifique.

4. Descartes defende que a virtude deve ser considerada como a firme e constante
resolução de executar tudo quanto a razão nos aconselhar, sem que nossas pai-
xões ou nossos apetites nos desviem. Explique.

1- Para Descartes o ato de julgar, em sua forma mais perfeita, seria a decisão
tomada pela vontade ou pelo livre-arbítrio, baseada no conhecimento verdadeiro de
algo. Porém ele também considera o conhecimento muito mais limitado e finito do que
a vontade que, para ele, seria a coisa existente mais ampla e perfeita que Deus nos
haveria dado, sendo a vontade, dessa forma, o que mais nos aproximaria da imagem e
semelhança de Deus. Porém muitas vezes julgamos sem o entendimento absoluto e
correto de algo, pois Deus nos deu um conhecimento de discernir o verdadeiro do falso
finito, e colocamos assim a vontade à frente do conhecimento e, naturalmente, erramos,
pois, para Descartes, o ato de julgar (vontade) deveria ser precedido do conhecimento
verdadeiro e indubitável, mas, por ser mais ampla, extensa e indiferente, a vontade se
estende mesmo por coisas não conhecidas, incorrendo assim em erro.

2- Segundo Descartes, quando decidimos por algo que sabemos ser o correto, ou
seja, quando nossa vontade pende para essa melhor escolha, quer pelo conhecimento do
verdadeiro, quer por influência divina, nós atingimos um alto grau de liberdade. Ao
contrário, se formos indiferentes na escolha, não importando qual dos lados seja o
correto dessa decisão, essa indiferença demonstraria mais nossa ignorância de
conhecimento do que o poder da vontade, sendo assim o mais baixo grau de liberdade.
Como exposto no início, ao escolhermos sempre o correto, o bom e verdadeiro baseado
no real conhecimento da questão, nunca teríamos dúvidas dessa escolha, não
incorreríamos em erros e, portanto, seríamos inteiramente livres sem sermos
indiferentes.

3- Apesar de parecer paradoxal, a meu ver essa carta a Mesland apenas inclui
novas observações, mais práticas, de Descartes sobre a liberdade e a indiferença na
escolha de algo. É claro que da forma colocada na Quarta Meditação, Descartes teoriza
sobre uma maneira de escolha ou julgamento que, se seguida como o filósofo expõe,
transformaria o ser humano em algo quase perfeito pois seus julgamentos e escolhas
seriam feitos pela vontade apenas baseados em conhecimentos verdadeiros e absolutos,
ou seja, sempre corretos e, em caso da menor dúvida, essa escolha não seria feita, logo
não haveriam erros. A realidade não é essa, mas a exposta na carta, em que podemos,
mesmo sabendo algo errado ou falso, nós positivamente, efetivamente, o escolhermos,
por nossa própria vontade ou liberdade. Porém, como explicado pela filósofa e
demonstrado pelas inúmeras interpretações, a carta ainda será motivo de muita
discussão acadêmica. Ainda bem.

4- Descartes considera que o melhor julgamento da vontade seria o baseado no


prévio conhecimento que a razão nos dá do bom e verdadeiro, a capacidade de
diferenciar o falso do verdadeiro, o bom do mau, conhecimento esse que nos é dado de
forma finita por Deus. Se, ao contrário, nossas decisões forem baseadas apenas na pura
vontade, ou seja, nas paixões e apetites, que, apesar de serem para Descartes maiores e
mesmo infinitos, podem incorrer em julgamentos errôneos, ao contrário do
conhecimento, a chance do erro e, mesmo, do pecado, serão muito maiores. No
parágrafo 15 da Quarta Meditação ele discorre que a virtude de jamais falhar seria nossa
capacidade de não julgarmos algo que nossa razão não conhece em sua totalidade.
Portanto, para Descartes, a virtude seria julgarmos seguindo nossa vontade apenas
baseados em nosso conhecimento completo e verdadeiro de algo.

REFERÊNCIAS
DESCARTES, René. Meditações Metafísicas. Lê Livros.

BATISTA, Geisa Mara; CARRARA, Daniel. A carta a Mesland de 9 de fevereiro de


1645: tradução e comentários.

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